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PRISÃO PREVENTIVA: UM MAL NECESSÁRIO

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Academic year: 2021

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PRISÃO PREVENTIVA: UM MAL NECESSÁRIO

Karina Melissa Cabral1

Este artigo tem como área de concentração o Direito Processual Penal, e assim como o título já esclarece, trata do assunto da Prisão Preventiva. Aliás, um instituto que possui inúmeras críticas dos juristas brasileiros com relação à forma como vem sendo utilizado em nosso país e à sua constitucionalidade.

Historicamente, foi com a evolução da sociedade que surgiram as atuações ilícitas que prejudicavam as demais pessoas, e para protegê-las houve a necessidade de um controle através de regras que eram seguidas por sanções. Ao Estado foi dada a incumbência de aplicar essas regras, objetivando assim a segurança da sociedade, a tranqüilidade social.

A partir do momento em que a lei é violada pela atuação negativa de uma ou de algumas pessoas o Estado é obrigado a punir os responsáveis por essa violação trazendo novamente a paz à sociedade.

Com o passar do tempo os atos ilícitos foram ficando cada vez mais graves, e com isso causando grandes conseqüências sociais, a partir daí o Estado foi obrigado a tirar do convívio social estas pessoas que estavam causando mal-estar à sociedade, através das prisões.

Na realidade, encontramos em um passado muito remoto indícios da existência de prisões, muitas vezes com outros nomes, tal como cárceres.

*

Advogada, Membro da Comissão da Mulher Advogada da Subsecção da OAB/SP de Osvaldo Cruz/SP; autora do livro “Direito da Mulher: de acordo com o Novo Código Civil”; pós-graduada (lato sensu) em Docência do Ensino Superior pelo Centro Universitário Toledo de Araçatuba/SP. E-mail

kmelcab@hotmail.com.

¹ ESPÍNOLA FILHO,Eduardo, “código de Processo Penal Brasileiro Anotado”, vol. 03, Campinas: Bookseller, 2000.

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Objetivamente, até hoje a paz social é buscada pelo Estado, porém, este nunca conseguiu realmente efetiva-la, mesmo aplicando as medidas restritivas da liberdade humana.

Hoje, existem duas espécies de prisões: a prisão penal e a prisão sem pena. Nesta última, uma de suas subespécies, denominada prisão provisória ou cautelar, é aplicada antes da condenação irrecorrível do acusado, elas podem ser classificadas em: prisão em flagrante delito, prisão preventiva, prisão temporária, prisão decorrente de decisão de pronúncia e prisão decorrente de sentença penal condenatória passível de recurso.

Portanto, a prisão preventiva é uma subespécie de prisão cautelar.

Eduardo Espínola Filho¹ (pág. 363) traz uma definição de prisão cautelar que nos parece bem precisa, dizendo: “é a prisão determinada antes do julgamento, como medida garantidora da permanência do indicado à disposição da justiça, contribuindo, consideravelmente, para que o processo possa assegurar-se marcha normal, perfeita e rápida”, tendo como finalidade, portanto, a proteção da ordem pública e a garantia da aplicação da lei penal.

Porém, mesmo com a observação destas finalidades, a prisão cautelar somente se justificará antes do julgamento, ou da sentença irrecorrível quando o indivíduo for encontrado na flagrância de crime ou contravenção; ou se a prisão for determinada, por escrito, por autoridade competente, isto é, o juiz ou tribunal a que dor afeto o processo contra o indicado, quer já esteja em curso a ação penal, quer para isso seja remetido o inquérito, prevenindo a competência.

A prisão preventiva vem inserida entre os artigos 311 e 316 do Código de Processo penal, e é uma medida fundamentada por despacho judicial, que pode ser intentada e qualquer fase do inquérito policial ou da ação penal, antes de transitar em julgado a sentença penal condenatória, podendo ser decretada de ofício pelo Juiz ou a pedido do Ministério Público, do querelante ou por representação da autoridade policial.

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Sua finalidade é impedir que ocorram novos crimes por parte do indiciado ou acusado, garantindo assim, a ordem pública, evitando a violação ou grave ameaça da economia, ou seja, garantindo a ordem econômica, mantendo estável e regular a produção de provas, com a conveniência da instrução criminal e, finalmente, efetivando a aplicação da lei penal.

Todavia, ela não é definitiva, devendo o encarceramento durar somente enquanto o curso do processo e até a decisão final, pois havendo a condenação, e sendo esta definitiva, não se pode mais falar em prisão, e sim, em reclusão ou detenção como pena privativa de liberdade. Ela também pode, a qualquer tempo, ser revogada pelo juiz, desde que haja justificativa para isso.

E justificando o título do trabalho, acompanhamos o mestre Júlio Fabbrini Mirabete2 (pág. 384), quando denota que “a prisão preventiva é um ato de coação processual, e, portanto, medida extremada de exceção, só se justifica em situações específicas, em casos especiais onde a segregação preventiva, embora um mal, seja indispensável”.

Os pressupostos para a admissibilidade da prisão preventiva vêm contidos no artigo 312 do CPP, onde descreve ”quando houver prova da existência do crime e indícios suficientes da autoria”, portanto, percebe-se que o primeiro pressuposto refere-se à materialidade do crime, devendo haver prova da existência do fato criminoso, que podem ser, por exemplo, laudos de exame de corpo delito, documentos, provas testemunhais e outros. Mas, é necessário a “prova” da existência do crime, não bastando meros indícios para a decretação da prisão preventiva do acusado.

O segundo pressuposto para a decretação da prisão preventiva, é contrário ao primeiro, pois agora a lei se contenta com meros indícios da autoria, não necessitando assim de uma certeza plena, contentando-se com elementos probatórios menos robustos do que os necessários para o primeiro pressuposto. Neste segundo requisito o

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legislador confiou no prudente arbítrio do magistrado, não definindo regras gerais ou padrões para a decretação desta forma de prisão.

Também pode o juiz decretar novamente, ou redecretar, a prisão preventiva quando achar necessário, observando todos os pressupostos, fundamentos e condições de admissibilidade desta, isto a qualquer momento do processo ou do inquérito policial.

Sobre a constitucionalidade da prisão preventiva podemos dizer que a liberdade é um dos direitos fundamentais do homem sendo consagrada pela nossa Constituição Federal e pela Declaração Universal de Direitos Humanos.

Tentando preservar esta liberdade o legislador constitucional limitou a atuação dos órgãos detentores do poder público, por isso traz o artigo 5º, inciso LVII da CF: “Ninguém será considerado culpado até trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.

Esse inciso diz respeito ao Princípio da Presunção de Inocência, ou seja, enquanto não transitar em julgado a sentença penal condenatória, tornando-se a mesma irrecorrível, o acusado deve ser tido como inocente da prática do crime que a ele é imputado.

Alguns autores, entre eles Capez3, Mirabete4 e Luiz Flávio Gomes5, entendem que a prisão preventiva, assim como as demais prisões provisórias, devem ser aceitas, pois são necessárias; todavia, nem por isso deixam de ser injustas.

O próprio Superior Tribunal de Justiça em sua Súmula n. 9 estabeleceu que “a exigência da prisão provisória, para apelar, não ofende a garantia constitucional da presunção de inocência”6.

Mesmo antes da promulgação da Carta de 1988, qualquer estudante de direito mais aplicado sempre teve a obrigação de saber que a prisão preventiva, por sua própria natureza e destinação, é providência excepcionalíssima, a se empregar somente em casos em que o interesse público supere de muito a impostergável exigência de

3

CAPEZ, Fernando, “Curso de processo Penal”, São Paulo: Saraiva, 1999, pág. 226.

4

Ob. vit., pág 649.

5

GOMES, Luiz Flávio, “Reformas Penais (IX): liberdade provisória”, disponível em:

http://www.mundojurídico.adv.br/html/artigos/documentos/texto209.htm.

6

“A Constituição reservou ao legislador ordinário a tarefa de definir o cabimento, forma e exigência da liberdade provisória...” (RT 687/279).

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manutenção da liberdade, indicando a necessidade de encarceramento antes de decisão condenatória com trânsito em julgado. Não é por acaso que ela, a prisão preventiva, é conhecida no jargão jurídico como medida vexatória (COELHO, Félix Valois, “Prisão Preventiva e Obrigatória: crueldade u tolice”? “in”: Boletim IBCCrim de

janeiro de 2001. Disponível em:

http://www.internext.com.br/valois/artfvcj.2.htm).

Luiz Flávio Gomes7 (2000, pág. 72) também acrescenta “Ninguém contesta que o acusado (ou mesmo indiciado) pode ser preso no curso do processo (ou da investigação) e que essa prisão não viola a presunção de inocência, porém, desde que presentes motivos concretos justificadores do encarceramento “ante tempus”, cabendo ao juiz demonstra-los em sua decisão”.

Portanto, a prisão preventiva, como as demais prisões cautelares, de forma alguma colide com os princípios da presunção da inocência ou da liberdade da pessoa humana, desde que esta prisão seja decretada com base na garantia da ordem pública, da ordem econômica, na conveniência da instrução criminal e no asseguramento da aplicação da lei penal, e que possua natureza cautelar, processual, instrumental e provisória, somados com a prova da existência do crime por meras suspeitas, quando não por simples caprichos.

Portanto, acreditamos que o erro, o inconveniente, está no ser humano, nas atitudes deste e não no instituto da prisão preventiva.

Vamos apresentar alguns inconvenientes causados pela decretação da prisão preventiva e que justificam seu uso minimizado, o fazendo somente em casos excepcionais, como salientam a majoritária corrente doutrinária:

• Cerceamento de Liberdade: ela consiste não na violação de um direito, mas no estreitamento deste, pois priva licitamente o cidadão de sua liberdade.

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GOMES, Luiz Flávio, “Penas e Medidas Alternativas à Prisão”, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000.

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• Mácula: o réu preso preventivamente que obtém uma sentença absolutória pode até mesmo adquirir maus hábitos em virtude de tudo o que viveu e presenciou dentro do cárcere.

• Desonra: quando há a decretação da prisão preventiva de um cidadão, mesmo que este seja julgado inocente, quando colocado em liberdade a sociedade o descrimina, não há como deixar a prisão sem uma mancha da desonra.

• Inconveniente Financeiro: sob o aspecto econômico a decretação da prisão provisória impede que o réu produza o que iria produzir se estivesse solto, sendo este um dos males mais caros ao Estado.

• Problema Carcerário: como é notório em nosso país o problema carcerário assola tanto Cadeias Públicas quando Penitenciárias, há muito mais presos do que instituições para recolhê-los, e por isso, as pessoas presas provisioramente que deveriam ficar separadas dos presos condenados de forma definitiva (artigo 300 do CPP) são presas conjuntamente, o que acarreta inúmeros males a um réu que futuramente for considerado inocente.

Hélio Tornaghi8 (pág. 09) sobre estes inconvenientes acrescenta que “a verdade, a verdade verdadeira e insofismável, é que o povo liga à prisão a um caráter ultrajante. E o preso sai dela difamado. Pode não perder a estima, a consideração dos homens esclarecidos quanto à natureza do encarceramento provisório, sabedores do resultado do processo e da honradez do liberado. Mas no espírito de muitos, menos informados a respeito de tanta cousa, não deixa de permanecer a dúvida, muito razoável”.

A prisão preventiva, por sua própria natureza e destinação, é providência excepcionalíssima, a se empregar somente em casos em que o interesse público supere de muito a impostergável exigência e manutenção da liberdade, indicando a necessidade de encarceramento antes de decisão condenatória cm trânsito em julgado.

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Não há como negar que a prisão preventiva em alguns casos é um mal, porém, um mal necessário que tem como finalidade evitar um mal muito maior.

Posto isso, acredito, talvez até utopicamente, que o ideal seria que somente houvesse a privação da liberdade de um indivíduo após a sentença penal condenatória transitada em julgado, mas infelizmente para que haja o com andamento processual, e também, para que muitas vezes salvaguarde a sociedade é necessária a decretação da prisão preventiva como uma providência para proteger o bem comum.

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