• Nenhum resultado encontrado

Qualidade microbiológica de alimentos oriundos do comércio ambulante e intervenção educativa / Microbiological quality of foods from ambulant trade and educational intervention

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "Qualidade microbiológica de alimentos oriundos do comércio ambulante e intervenção educativa / Microbiological quality of foods from ambulant trade and educational intervention"

Copied!
19
0
0

Texto

(1)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3,p.14979-14997 mar.. 2020. ISSN 2525-8761

Qualidade microbiológica de alimentos oriundos do comércio ambulante e

intervenção educativa

Microbiological quality of foods from ambulant trade and educational

intervention

DOI:10.34117/bjdv6n3-393

Recebimento dos originais: 25/02/2020 Aceitação para publicação: 25/03/2020

Sandra Maria Oliveira Morais Veiga

Doutor em Ciências dos Alimentos, pela Universidade Federal de Lavras, UFLA

Instituição: Universidade Federal de Alfenas

Endereço: Rua Gabriel Monteiro da Silva, 700 – Centro - Laboratório de Microbiologia de Alimentos da UNIFAL, localizado no Campus Sede, prédio B, salas 101 e 102.

E-mail: smveiga@gmail.com

Natacha Rocha Antonacio

Farmacêutica pela Universidade Federal de Alfenas, UNIFAL

Instituição: Universidade Federal de Alfenas

Endereço: Rua Gabriel Monteiro da Silva, 700 – Centro - Laboratório de Microbiologia de Alimentos da UNIFAL, localizado no Campus Sede, prédio B, salas 101 e 102.

E-mail: natacharantonacio@hotmail.com

Mariana Gonzaga Belmonte

Farmacêutica pela Universidade Federal de Alfenas, UNIFAL

Instituição: Universidade Federal de Alfenas

Endereço: Rua Gabriel Monteiro da Silva, 700 – Centro - Laboratório de Microbiologia de Alimentos da UNIFAL, localizado no Campus Sede, prédio B, salas 101 e 102.

E-mail: marigbelmonte@gmail.com

RESUMO

A Segurança Alimentar é um tema que ganha importância a cada dia, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. A ocorrência de casos e surtos de doenças transmitidas por alimentos é grande e traz prejuízos tanto à saúde quanto à economia. O presente trabalho avaliou a qualidade microbiológica de alimentos oriundos do comércio ambulante e realizou intervenção educativa. Foram coletadas quarenta e cinco amostras de alimentos, sendo: nove amostras de cachorros quentes, sendo três de cada ambulante do município; 18 amostras de picolé comercializadas por carrinhos de picolé, sendo nove de frutas (limão) e nove de leite (chocolate) de cada vendedor; nove amostras de salgados e nove amostras de churros. As amostras foram acondicionadas em caixas isotérmicas e imediatamente levadas ao laboratório de microbiologia de Alimentos da UNIFAL-MG, onde foram analisadas conforme metodologias oficiais. Foram realizados os seguintes ensaios microbiológicos: cachorro-quente e salgados: Salmonella sp., quantificação de coliformes a 35°C (coliformes totais), coliformes a 45ºC (E. coli), Bacillus cereus, Fungos filamentosos e Leveduras, Clostrídios

(2)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3,p.14979-14997 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 sulfito redutores e Estafilococos coagulase positiva (Staphylococcus aureus); picolé de Leite (Chocolate) e Churros (Doce de leite): Salmonella sp., quantificação coliformes a 45ºC (E. coli) e Estafilococos coagulase positiva; picolé de fruta: Salmonella sp. e quantificação coliformes a 45ºC (E. coli). De acordo com as análises, o presente trabalho encontrou resultados insatisfatórios nas amostras de cachorro-quente, salgados comercializados na feira-livre, churros e picolés de leite (Chocolate). O único alimento adequado para o consumo humano foram os picolés de fruta (limão). Adicionalmente, no momento da coleta de amostras, foram aplicados questionários, para avaliar as condições higiênicas e sanitárias do comércio ambulante de alimentos e posteriormente, realizou-se intervenção por meio de minicurso sobre higiene e boas práticas em serviços de alimentação para os interessados.

Palavras-chaves: Comércio ambulante, Higiene, Microbiologia, Educação.

ABSTRACT

Food safety is a subject matter whose importance has been increasing these days in a worldwide scope. The occurrence of cases and outbreaks of diseases transmitted by contaminated food is enormous and causes problems to both health and economy. This study has evaluated the microbiological quality of food from informal street sellers and has held educational intervention. Forty five food samples were collected as follows: nine samples of hot dogs, three of which were from different street sellers of the city; eighteen popsicle samples marketed from ice cream carts, the first half of which were fruit (lemon) popsicles and the second half were milk (chocolate) popsicles; nine samples of savoury snacks and nine samples of churros. All samples were stored in cooler boxes and taken immediately to the Food Microbiology Laboratory of UNIFAL-MG, where they were analyzed according to official methodologies. The following microbiological assays were performed: quantification of total coliforms (at 35°C) and fecal coliforms (at 45°C - E. coli) and detection of Salmonella sp., Bacillus cereus, filamentous fungi and yeasts, Clostridium sulfite reducers and coagulase-positive Staphylococci (Staphylococcus aureus) in hot dogs and savoury snacks; detection of Salmonella sp. and quantification of fecal coliforms (at 45°C - E. coli) and coagulase-positive Staphylococci in milk (chocolate) popsicles and churros (dulce de leche flavor); detection of Salmonella sp. and quantification of fecal coliforms (at 45°C - E. coli) in fruit popsicles. According to the analyses conducted in this study, the hot dog, the savoury snacks, churros and milk (chocolate) popsicles samples were negligently contaminated. The only food adequate for human consumption was the fruit (lemon) popsicles. In addition, at the time of sampling, questionnaires were administered to assess the hygienic and sanitary conditions of food from street trading, and later intervention was conducted through a mini-course on hygiene and good practices in food service for those street sellers who were interested in taking it.

Keywords: Street trading, Hygiene, Microbiology, Education.

1 INTRODUÇÃO

A manipulação artesanal e de vendedores ambulantes de alimentos deve exigir uma preocupação intensa e constante de fiscalização, uma vez que as matérias-primas geralmente

(3)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3,p.14979-14997 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 são de origens duvidosas e as condições de trabalho, precárias. Vários casos de surtos de intoxicação alimentar foram associados a este tipo de serviço, devido ao local de venda e preparo improvisado sem condições higiênicas e sanitárias (GERMANO; GERMANO, 2008).

A contaminação dos alimentos pode ocorrer tanto no recebimento, durante o processamento, bem como na sua distribuição, isso ocorre devido às matérias-primas contaminadas e às práticas inadequadas de manipulação. Em todo o processo, os alimentos se encontram em condições favoráveis para o desenvolvimento dos micro-organismos (MACHADO, 2009).

O preparo e/ou venda de alimentos em ruas públicas representa uma forma de alimentação rápida e barata e pode ser observado em nível mundial. Por outro lado, constitui alto risco à saúde dos comensais, pois, na maioria das vezes, o preparo, armazenamento e o comércio desses alimentos não obedecem às boas práticas de manipulação, favorecendo a contaminação, sobrevivência e multiplicação de micro-organismos patogênicos e deteriorantes (FREITAS, 2012).

O problema está relacionado à falta de conhecimento e preparo dos comerciantes, bem como à deficiência de higiene ambiental, instalações sanitárias (incluindo água potável), ausência de controle de vetores e destinação inadequada de resíduos sólidos e líquidos orgânicos (MALLON, 2005).

Este estudo foi fundamentado na Resolução nº216, de 15 de setembro de 2004, da Agência Nacional da Vigilância Sanitária (ANVISA), que dispõe sobre o Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação, incluindo os comerciantes ambulantes (BRASIL, 2004).

Diante do exposto, este trabalho teve como finalidade avaliar a qualidade microbiológica dos alimentos oriundos do comércio ambulante de Alfenas, MG e realizar intervenção educativa. Paralelamente, foi levantado junto a esses manipuladores, o conhecimento sobre boas práticas e regras básicas de higiene em serviços de alimentação e, posteriormente, realizada a intervenção educativa.

2 METODOLOGIA

2.1 ANÁLISES DOS ALIMENTOS COMERCIALIZADOS POR AMBULANTES 2.1.1Amostragem

A amostragem dos alimentos comercializados por ambulantes foi composta por 45 (quarenta e cinco) amostras, dentre elas: nove amostras de cachorros quentes, sendo três de

(4)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3,p.14979-14997 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 cada ambulante; nove amostras de picolé de limão e nove amostras de picolé de chocolate comercializadas em carrinhos de picolés, três de cada vendedor. Para os cachorros quentes e picolés utilizou-se um pool das três amostras de cada vendedor, de modo a obter apenas um resultado médio. Utilizaram-se nove amostras de salgados, (três quibes, três coxinhas e três pasteis de carne), de diferentes ambulantes e nove amostras de churros, três de chocolate (pool), três de doces de leite (pool) e três de frango com catupiry (pool) do mesmo vendedor ambulante.

2.1.2 Coleta das amostras

A coleta das amostras foi realizada de acordo com as boas práticas de manipulação, ou seja, manipulador devidamente paramentado, utilizando avental, touca, máscara e luvas. As amostras foram colocadas em sacos plásticos estéreis tipo “ziplock” e, então, vedados, identificados e acondicionados em caixas isotérmicas com gelos recicláveis para transporte até o Laboratório de Microbiologia de Alimentos da UNIFAL-MG, onde as análises foram realizadas.

2.2 ENSAIOS MICROBIOLÓGICOS

Os ensaios microbiológicos foram realizados conforme os padrões microbiológicos recomendados pela ANVISA - RDC12/2001. As análises realizadas para cada tipo de alimentos podem ser observadas no Quadro 1.

Quadro 1: Micro-organismos para análise microbiológica de alimentos segundo a RDC 12/2004. CACHORRO QUENTE SALGADOS PICOLÉ CHURROS Limão Chocolate SALMONELLA sp. X X X X X COLIFORMES 35°C/E. coli X X X X X FUNGOS FIL. E LEVEDURAS X X - - - CLOSTRÍDIOS SULFITO REDUTORES X - - - - ESTAFILOCOCOS COAGULASE POSITIVA X X - X X BACILLUS CEREUS X - - - -

Como mostrado no quadro acima, para as amostras de cachorros quentes e de salgados foram realizados ensaios microbiológicos para detectar Salmonella sp, coliformes a 35°C, E.

(5)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3,p.14979-14997 mar.. 2020. ISSN 2525-8761

coli, Bacillus cereus, Fungos e Leveduras, Clostrídios sulfito redutores e Estafilococos

coagulase positivo (Staphylococcus aureus). As amostras do Picolé de chocolate e de Churros foram submetidos aos ensaios de Salmonella sp, coliformes a 35°C, E. coli, e Estafilococos coagulase positivo. Para o picolé de limão, não há parâmetros para Estafilococos coagulase positiva na legislação e, portanto, não se incluiu esta análise na pesquisa.

A metodologia para os ensaios microbiológicos foi fundamentada no Manual de Métodos para Análises Microbiológicas de Alimentos (SILVA et al, 2010), o qual fundamenta-se em metodologias recomendadas por órgãos oficiais: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), American Public Health Association(APHA), Food and

Drug Administration (FDA), Food Safety and Inspection Servicedo United States Departament of Agriculture (FSIS/USDA), Association of Official Analytical Chemists

(AOAC) e International Organization for Standardization (ISO).

2.2.1 Pesquisa de Salmonella sp

De acordo com Silva et al. (2010), a técnica tradicional de diagnóstico de Salmonella sp em alimentos é desenvolvida com a finalidade de garantir sua detecção mesmo em situações extremamente desfavoráveis. Assim, pode ser aplicada para alimentos com número reduzido de Salmonella sp ou contendo células injuriadas devido ao processo de preservação (calor, congelamento, secagem). A metodologia recomendada seguiu basicamente quatro etapas: pré-enriquecimento em caldo não seletivo, pré-enriquecimento em caldo seletivo, plaqueamento seletivo diferencial e confirmação bioquímica e/ou sorológica

Pré-enriquecimento em caldo não seletivo: foram homogeneizados 25g de cada alimento com 225mL de solução Salina Peptonada Tamponada (SPT) e o material foi incubado a 35ºC, por 18 a 24h.

Enriquecimento em caldo seletivo: utilizaram-se os caldos Selenito Cistina (SC) e Tetrationato De Sódio (TT). Transferiu-se 1mL do caldo pré-enriquecido primário homogeneizado para um tubo de caldo SC e 1mL para o caldo TT, estes foram incubados em banho-maria a 43ºC por 24h.

Plaqueamento seletivo diferencial: agitaram-se os tubos de enriquecimento seletivo e estriou-se uma alçada de cada tubo em placas de Ágar Hecktoen, Ágar Salmonella Diferencial Modificado (Rajhans) e Ágar Salmonella Shigella e, posteriormente, incubaram-se as placas a 35ºC por 24h.

(6)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3,p.14979-14997 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 Ágar Hecktoen: colônias verdes com pontos pretos em sua superfície são típicas de Salmonella sp.

Ágar Salmonella Diferencial Modificado (Rajhans): as colônias de

Salmonella sp. podem ser incolores ou vermelhas.

Ágar Samonella Shigella: as colônias suspeitas de Salmonella sp são incolores, transparentes com ou sem um centro negro.

Confirmação bioquímica preliminar: com auxílio de uma agulha, uma porção da massa células do centro de uma colônia típica foi removida e inoculada em tubos inclinados de Ágar Lisina Ferro (LIA) e Ágar Tríplice Açúcar Ferro (TSI) por picada e estrias na rampa. Os tubos foram incubados a 35ºC por 24h.

Reação típica em TSI: a confirmação da presença de Salmonella sp. neste meio se dá pela rampa alcalina (vermelha) e fundo ácido (amarelo), com ou sem produção de H2S (escurecimento do ágar). Reações atípicas não deverão ser descartadas se as demais reações em LIA apresentar típicas.

Reação típica em LIA: fundo e rampa alcalinos (púrpura, sem alterações da cor do meio), com ou sem produção de H2S (escurecimento do meio). Reações atípicas de LIA, não devem ser descartadas se as demais reações em TSI se apresentarem típicas.

Provas complementares: a cepa isolada foi inoculada em caldo ureia e Ágar Citrato de Simmons, sendo o micro-organismo urease negativo e citrato positivo. Realizou-se também o teste VM/VP, para o qual o micro-organismo VM positivo e VP negativo.

2.2.2 Quantificação de Coliformes 35ºC e E. coli

Para tal análise, utilizou-se 25g do produto para 225 mL de diluente (solução salina peptonada), correspondendo à diluição 10-1. Em seguida, homogeneizou-se o material em mesa agitadora, tipo Shaker (300rpm / 5 minutos). A partir deste preparado, foi realizado as diluições subsequentes, 10-2 e 10-3, em tubos contendo 9,0 mL de solução salina.

Para a quantificação, empregaram-se duas séries de cada diluição, contendo substrato definido para os coliformes, adicionando-se 10,0 mL das referidas diluições, em placas de

(7)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3,p.14979-14997 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 2.2.3 Quantificação de fungos filamentosos e leveduras

A análise quantitativa para fungos filamentosos e leveduras foi realizada por plaqueamento em superfície. Para tal análise empregaram-se as diluições 10-1, 10-2 e 103.

Inoculou-se, em duplicata, na superfície do meio (placas contendo o meio de cultura) 0,1mL de cada diluição. Após a inoculação, espalhou o material com auxílio de uma alça de Drigalski estéril. Aguardou-se até que as placas estivessem secas (mínimo de 15 minutos) e incubou-as sem inverter, de 22° a 25ºC, por 3 a 5 dias (SILVA et al., 2010).

Para efetuar a contagem das colônias, selecionaram-se placas com 20 a 200 colônias. Para calcular o número de unidades formadoras de colônias (UFC) por grama ou mL da amostra, multiplicou-se o número encontrado pelo inverso do fator de diluição e, posteriormente, por 10, pois foi inoculado apenas 0,1mL de cada diluição (SILVA et al, 2010).

2.2.4 Quantificação de Clostrídios sulfito redutores

Foram inoculadas as diluições em placas de Ágar Triptose Sulfito Cicloserina (TSC) com sobrecamada, em duplicata. As placas foram incubadas sem inverter em estufa à 46ºC por 18 a 24hs, no sistema de geração anaeróbica.

As colônias típicas para Clostrídios sulfito redutores são pretas. Para a contagem, selecionaram-se placas com 20 a 200 colônias; e realizou-se a confirmação destas colônias, transferindo-as para tubos com Caldo Infusão Cérebro Coração (BHI), previamente desareados e incubaram-lhes à 35ºC/24hs; posteriormente, foi feito o teste da catalase. Os Clostrídios Sulfito redutores são bastonetes Gram positivos e catalase negativos.

2.2.5 Quantificação de Estafilococos coagulase positiva

Foram preparadas diluições seriadas nas concentrações 10-1, 10-2 e 10-3. Procedeu-se a inoculação de 0,1mL de cada diluição, em triplicata, utilizando o meio de cultura Baird Parker, suplementado com solução de gema de ovo e telurito de potássio. Com auxílio de uma alça de Drigalski, o material foi espalhado uniformemente sobre a superfície do meio. Após a secagem do inóculo, as placas foram incubadas, de forma invertida, a 35ºC, por 48h.

As colônias típicas de S. aureus são negras, com duplo halo transparente, lustrosas, convexas, com 1 a 5mm de diâmetro, rodeadas por um halo claro de 2 a 5mm de largura.

Para confirmação da presença de Estafilococos coagulase positiva, foram realizadas as provas bioquímicas auxiliares, como catalase e coagulase.

(8)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3,p.14979-14997 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 • Prova da coagulase: as colônias típicas foram repicadas para o caldo infusão cérebro coração (BHI), sendo estes incubados a 35ºC, por 24h. Utilizou-se 0,2mL da cultura e 0,5mL de plasma humano em tubo de ensaio estéril. Essa mistura foi incubada em banho-maria, a 37ºC, por 1 a 6 horas. Observou-se, a cada 30 minutos, a formação de coágulo.

• Prova da catalase: a partir da cultura em Ágar BHI, retiraram-se as colônias típicas com o auxílio de um swab, o qual foi introduzido em um tubo de ensaio, contendo 2mL de água oxigenada. O resultado positivo para o teste é caracterizado pelo desprendimento de bolhas.

2.2.6 Quantificação de Bacillus cereus

A análise quantitativa para Bacillus cereus foi realizada por plaqueamento em superfície. Para tal análise, também foi empregado as diluições de 10-1, 10-2 e 10-3.

Foram inoculados 0,1 mL de cada diluição, em duplicata, na superfície do meio (placas contendo o meio de cultura Agar Manitol Gema de Ovo Polimexina - MYP). Após a inoculação, espalhou-se o material com auxílio de uma alça de Drigalski estéril. Aguardou-se até que as placas estivessem secas (mínimo 15 minutos) e realizou a incubação em estufa a 30° a 32°C por 20-24h. Consideram-se colônias suspeitas de Bacillus cereus, aquelas que apresentaram manitol negativo e estiveram rodeadas por um grande halo de precipitação (SILVA, et al., 2010).

Para efetuar a contagem das colônias, selecionou-se placas com 20 a 200 colônias. Para calcular o número de unidades formadoras de colônias (UFC) por grama ou mL da amostra, multiplicou o número encontrado pelo inverso do fator de diluição e posteriormente, por 10, pois foram inoculados 0,1mL de cada diluição.

A confirmação bioquímica do Bacillus cereus foi realizada pelos seguintes testes (SILVA et al., 2010):

-Teste de utilização anaeróbia da glicose (+) -Teste de VP (+)

-Motilidade (+)

3 AVALIAÇÃO DAS BOAS PRÁTICAS DE MANIPULAÇÃO E INTERVENÇÃO

EDUCATIVA.

Para a avaliação das boas práticas de manipulação entre os ambulantes que preparam e comercializam alimentos, foi explicado aos mesmos, como a pesquisa seria realizada e

(9)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3,p.14979-14997 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 esclareceram-se as dúvidas. Em seguida, o manipulador de alimentos foi convidado a participar do estudo. E então, aplicou-se ao entrevistado, um questionário simplificado para avaliar as boas práticas de manipulação e temas relacionados a higiene dos alimentos (doenças transmitidas por alimentos; controle de temperaturas, contaminação cruzada; higiene pessoal e ambiental). Por fim, os entrevistados foram convidados a participar de um treinamento sobre higiene e boas práticas em serviços de alimentação, na UNIFAL-MG. O treinamento abrangeu os seguintes temas: contaminantes alimentares, doenças transmitidas por alimentos, higiene e boas práticas de manipulação e saúde ocupacional.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS DE ALIMENTOS COMERCIALIZADOS POR AMBULANTES

Na Tabela 1, estão apresentados os resultados obtidos das análises microbiológicas dos salgados comercializados na feira livre de Alfenas, MG. Os resultados foram avaliados seguindo-se as normas da Resolução RDC nº 12, de 02 de janeiro de 2001/ANVISA.

Tabela 1. Resultado das análises microbiológicas dos salgados da feira livre, Alfenas, MG, 2014.

Barra-cas da Feira Salga-dos MICRO-ORGANISMOS INDICADORES Situação confor-me legisla- ção Salmo- nella sp Coliformes NMP/g* B. cereus UFC/g* * F. F. e Lev. UFC/g C. sulf. Redutor a 46ºC UFC/g Estaf. coag. Positi-va UFC/g 35ºC 45ºC A

Coxinha Ausente >7,38x105 2,0 3,0x 10⁶ 2,0x10⁵ 1,5x10² 1,0x10² I*** Pastel Ausente >7,38x105 2,0 3,0x 10⁶ 2,0x10⁵ 1,0x10 1,0x10² I Quibe Ausente >7,38x105 2,0 3,0x 10⁶ 2,0x10⁵ 5,0x10 1,0x10² I B Coxinha Presente >7,38x105 2,0 3,0x 10⁶ 2,0x10⁵ 1,0x10 1,0x10² I Pastel Presente >7,38x105 2,0 3,0x 10⁶ 2,0x10⁵ 2,0x10² 1,0x10² I Quibe Ausente >7,38x105 2,0 3,0x 10⁶ 2,0x10⁵ 1,0x10 1,0x10² I C Coxinha Ausente >7,38x105 2,0 3,0x 10⁶ 2,0x10⁵ 1,0x10 1,0x10² I Pastel Ausente >7,38x105 2,0 3,0x 10⁶ 2,0x10⁵ 1,0x10 1,0x10² I Quibe Ausente >7,38x105 2,0 3,0x 10⁶ 2,0x10⁵ 1,0x10 1,0x10² I *NMP/g - Número Mais Provável / grama; **UFC (Unidade Formadora de Colônia); *** I- inadequado.

A partir dos resultados foi possível classificar dentre os salgados analisados, qual a melhor e a pior barraca. Para isso, utilizou os indicadores de contaminação, em função do

(10)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3,p.14979-14997 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 potencial de patogenicidade dos micro-organismos a eles associados, sendo respectivamente:

Salmonella sp, Estafilococos coagulase positiva, Clostrídios sulfito redutores, Bacillus cereus,

coliformes a 45ºC e Fungos Filamentosos e leveduras. Conforme analisados com a ferramenta escores, na barraca B foi encontrado Salmonella sp em dois dos três salgados analisados e nas outras barracas não encontrou-se esta bactéria. Foram encontradas as mesmas quantidades de Coliformes 45º, Bacillus cereus, Fungos filamentosos e leveduras e S. aureus para todos os salgados analisados, independente das barracas. No caso dos Clostrídios sulfito redutores, foi encontrado valores diferentes para cada salgado, em cada barraca; portanto, aplicou-se um teste não paramétrico de comparação de médias, “Kruskal-Wallis”; a estatística do teste foi: h=2,1020 com 2 graus de liberdade e valor p= 0,3496. As hipóteses testadas foram de igualdade das médias (hipótese nula) versus diferença das médias (hipótese alternativa), como o valor p é maior que 5%, não rejeita-se a hipótese nula, ou seja, há evidências de que as médias sejam iguais. Sendo assim, a única diferença entre as três barracas foi a presença de

Salmonella sp na barraca B, concluindo-se que essa, quando comparada com as demais

(barraca A e barraca C), se destaca como “pior”, pois a Salmonella sp dentre os micro-organismos analisados é a mais importante porque ela implica na possível presença de Salmonelas patogênicas no alimento analisado.

Na Tabela 2, estão apresentados os resultados obtidos das análises microbiológicas dos cachorros quentes, conforme as normas da RDC 12 de janeiro de 2001/ANVISA. A amostragem foi composta por nove cachorros-quentes, utilizaram-se três amostras de cada ambulante, obtendo-se a partir da média, três resultados, um para cada comerciante.

Tabela 2. Resultado das análises microbiológicas dos cachorros quentes

Cachorro quente MICRO-ORGANISMOS INDICADORES Situação conforme legislação Salmonellas p Coliformes NMP/g* Bacilluscer eus UFC/g** Fungos e Lev. UFC/g C. sulf. Red. à 46ºC UFC/g Estaf. coag. Positiva UFC/g 35ºC 45ºC Vendedor A Presente >7,38x10 5 2,0 1,0x10² 2,0x10⁵ 1,0x10 1,0x10² I*** Vendedor B Presente >7,38x105 2,0 7,0x10² 3,0x10⁴ 2,0x10² 3,0x10³ I Vendedor C Ausente >7,38x105 2,0 1,0x10² 2,0x10⁵ 1,0x10 1,0x10² I *NMP/g - Número Mais Provável / grama; **UFC (Unidade Formadora de Colônia); *** I- inadequado.

(11)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3,p.14979-14997 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 A legislação não estabelece limites para coliformes totais (35ºC), porém a contagem deste micro-organismo nas amostras de salgados e cachorros-quentes foi superior a 7,38x105 NMP/g, o que significa uma alta contagem. Os coliformes são um grupo de bactérias gram-negativas formadas pelos gêneros: Escherichia, Citrobacter, Enterobacter e Klebsiella. Este grupo de micro-organismos é considerado indicadores de más condições higiênico-sanitárias, de forma que sua contagem elevada significa má higiene do manipulador, ambiente e/ou utensílios; pode indicar também uma contaminação cruzada (MELLO et al, 2010).

A determinação de coliformes a 45ºC é importante, uma vez que esses micro-organismos são considerados indicadores sanitários. A presença deles nos alimentos indica más condições higiênicas, portanto, é necessário conscientizar e instruir os manipuladores quanto às boas práticas de higiene e segurança alimentar. Nos alimentos analisados, não foram encontrados contaminação por coliformes a 45ºC.

Os coliformes a 45ºC e a Salmonella sp são micro-organismos de origem fecal. Portanto, a falta de higiene no preparo dos alimentos, envolvendo desde o manipulador até as superfícies e utensílios utilizados para este fim, são as principais fontes de contaminação por essas bactérias. Além dos cuidados com a manipulação e a higiene do local, é necessário fornecer as condições de cozimento e armazenamento adequadas para o alimento, a fim de evitar também a multiplicação desses micro-organismos.

A pesquisa de Salmonella sp é importante, pois alimentos contaminados com este micro-organismo apresentam aparência e cheiro normais. A maioria deles é de origem animal, porém o micro-organismo pode contaminar todos os alimentos. Uma das fontes de contaminação dos alimentos por este micro-organismo se dá pela manipulação de alimentos por pessoas contaminadas que não higienizam as mãos corretamente. Considera-se alimento contaminado por Salmonella sp aquele que em 25 g de alimento for detectado a presença do micro-organismo, tornando-lhe impróprios para o consumo, pois ela é potencialmente capaz de causar toxinfecções alimentares (ARCARI et al., 2011), sendo um dos principais agentes causadores de Doenças Transmitidas por Alimentos em todo o mundo, ao lado de S. aureus,

B. cereus e E. coli (OLIVEIRA et al., 2010). Gandra e Gandra (2011), em seu estudo,

avaliaram as condições higiênicas e sanitárias de lanches comercializados por ambulantes e encontraram Salmonella sp em quatro das 16 amostras de lanches analisadas. Contudo, neste estudo, a contaminação foi relacionada à presença de molhos a base de maionese nos referidos lanches.

(12)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3,p.14979-14997 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 No presente estudo, observou-se contaminação por Salmonella sp nas amostras de coxinha e pastel da barraca B e nos cachorros-quentes de dois, dos três vendedores ambulantes. Acredita-se que esta contaminação possa estar relacionada com os produtos cárneos utilizados nos alimentos, visto que estes possuem um alto potencial de contaminação por esse micro-organismo. Esta contaminação também pode estar associada à má qualidade higiênica e sanitária dos estabelecimentos e ao despreparo de manipuladores, bem como à contaminação cruzada, decorrente da transferência de bactérias de um alimento para o outro.

Em um estudo realizado por Welker et al.,(2010), no qual se pretendia avaliar os surtos de DTA no Rio Grande do Sul, constatou que poucos surtos de intoxicação alimentar estão relacionados a amostras contaminadas com Bacillus cereus e Clostrídios sulfito redutores a 46 ºC, representando, respectivamente, 10% e 3% das contaminações. Gottardi; Souza e Schmidt, (2006) realizaram um estudo no município de Porto Alegre, de 1995 a 2002, verificando que e a incidência de surtos de DTA causados por esses micro-organismos também foi baixa. Entretanto, em um estudo realizado no Estado do Paraná, o Clostrídio sulfito redutor foi relacionado a 10% dos surtos de DTA notificados, no período de 1978 a 2000 (AMSON; HARACEMIV; MASSON, 2006).

No presente estudo, estes micro-organismos foram pesquisados nos salgados e nos cachorros quentes. Valores acima do estabelecido pela ANVISA (BRASIL, 2001) para

Bacillus cereus, foram encontrados nos salgados de todas as barracas pesquisadas; já os

cachorros quentes mostraram conformidade com a legislação para o micro-organismo acima citado. A quantidade permitida de Clostrídios sulfito redutores pela legislação é de 1,0 x 10³ UFC/g; portanto, os alimentos analisados não estão reprovados em relação a esta bactéria.

Com relação à quantificação de fungos filamentosos e leveduras, a RDC 12/2001 não traz limite para os alimentos analisados. Entretanto, para doces em pasta, purês, geléias e doces em calda, esta legislação apresenta como tolerância uma contagem de até 1,0 x 104UFC/g. Observou-se grande quantidade deste micro-organismo em todas as amostras de salgados e cachorro quentes analisados.

Na Tabela 3, estão apresentados os resultados obtidos das análises microbiológicas dos churros de chocolate, doce de leite e frango com catupiry. Conforme a legislação vigente, RDC 12 de janeiro de 2001/ANVISA.

(13)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3,p.14979-14997 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 Tabela 3. Resultado das análises microbiológicas dos churros.

CHURROS BACTÉRIAS Situação conforme a legislação Salmonellasp coliformes 45ºC NMP/g* Estafilococos coag. positiva UFC/g**

Chocolate Ausente 2,0 3,0 x 10⁶ I***

Doce de Leite Ausente 2,0 1,0 x 10² A****

Frango com Catupiry Ausente 2,0 1,0 x 10² A

*NMP/g - Número Mais Provável / grama; **UFC (Unidade Formadora de Colônia); *** I - inadequado; **** A - Adequado.

Somaria; Bortoloni e Bampi (2013) também analisaram churros comercializados por ambulantes, porém não encontraram nenhum resultado insatisfatório, ou seja, todas as amostras analisadas estavam adequadas para consumo humano.

Segundo Lima (2006), geralmente as amostras de churros apresentam resultados satisfatórios, pois estes alimentos são submetidos ao processo de fritura, o que reduz a atividade de água do alimento através da evaporação; somando-se a isso, tem-se o efeito do calor, que irá diminuir a carga microbiana, favorecendo a qualidade do alimento. Um estudo realizado pela FDA (Food and Drug Administration) (2004) na Califórnia, no qual pesquisaram S. aureus em churros, os autores também identificaram que o processo de fritura, garante a qualidade do produto, o que comprova a afirmação de Lima.

Nas amostras analisadas, apenas o churros de chocolate apresentou uma quantidade de Estafilococos coagulase positiva maior que a permitida pela RDC 12/2001 ANVISA, sendo que a tolerância máxima estabelecida pela legislação é de 1,0 x 10² UFC/g. Porém, como todas as amostras de churros foram adquiridas do mesmo ambulante, pode-se associar a contaminação ao recheio, que é diferente dos demais, pois a massa passa pelo processo de fritura que favorece a qualidade do alimento, como anteriormente citado.

Nas Tabelas 4 e 5, foram apresentados os resultados obtidos das análises microbiológicas dos picolés comercializados por ambulantes. Considerando-se os paramentos conforme a RDC 12 de janeiro de 2001/ANVISA.

De acordo com a legislação vigente, as amostras de picolé de limão estão adequadas para consumo, como demonstrados na Tabela 4. Já os picolés de chocolate analisados apresentaram quantidades de Estafilococos coagulase positiva acima do permitido (valor máx. permitido pela ANVISA é 5,0 x 10² UFC/g), estando, portanto, impróprios para o consumo.

Pazianotti et al. (2010) avaliaram a qualidade microbiológica de sorvetes industriais e artesanais comercializados na região de Arapongas – PR, e não encontraram a presença de

(14)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3,p.14979-14997 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 coliformes totais e de termotolerantes estavam acima do limite estabelecido em todas as amostras, sendo consideradas impróprias para o consumo.

A necessidade da baixa temperatura para a conservação do sorvete/picolé não pode ser confundida com sua inocuidade. Por isso, é importante que a higiene do local de

comercialização do produto também possa garantir a manutenção de sua qualidade (SANTOS; CASTRO; BITTENCOURT, 2013).

Tabela 4. Resultado das análises microbiológicas dos picolés de fruta (limão). PICOLÉS DE

LIMÃO

BACTÉRIAS

Situação conforme a legislação

Salmonella sp. E.coli

NMP/g*

A Ausente 2 A**

B Ausente 2 A

C Ausente 2 A

*NMP/g - Número Mais Provável / grama; ** A - adequado.

Tabela 5. Resultado das análises microbiológicas dos picolés de leite (Chocolate). PICOLÉS DE LEITE BACTÉRIAS Situação conforme a legislação Salmonella sp. E.coli NMP/g* Estafilococos coag. Positiva UFC/g** A Ausente 2 1,8 x 10⁴ I*** B Ausente 2 1,1 x 10⁶ I C Ausente 2 1,2 x 10⁵ I

*NMP/g - Número Mais Provável / grama; **UFC (Unidade Formadora de Colônia); *** I – inadequado.

A contaminação por S. aureus foi observada nas amostras de Cachorro quente, Churros de chocolate e picolés de chocolate. Alimentos que ficam expostos à temperatura ambiente favorecem a contaminação por este micro-organismos, pois eles podem estar presentes no ar (SOMARIA; BORTOLONI; BAMPI, 2013). É importante ressaltar que o Staphylococcus

aureus é uma bactéria gram-positiva que produz enterotoxinas termorresistentes, capaz de

sobreviver a até quatro horas sob fervura.

Welker et al. (2010), em suas análises microbiológicas dos alimentos envolvidos em surtos de DTAs, observaram que os Estafilococos coagulase positiva é o segundo grupo de micro-organismos causador de toxinfecções alimentares, representando aproximadamente 28% dos alimentos contaminados.

(15)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3,p.14979-14997 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 4.2 Avaliação do conhecimento sobre higiene e boas práticas e intervenção educativa

Sabe-se que para evitar as contaminações em alimentos, é necessário manter o cuidado na manipulação dos alimentos, adotando as boas práticas de fabricação. Este trabalho aplicou um questionário do tipo “checklist” para avaliar os conhecimentos dos manipuladores sobre higiene e boas práticas e convidou-lhes para participarem de um treinamento sobre o tema.

Foi aplicado um total de 16 questionários, sendo que, dentre os participantes, a maioria era do sexo feminino (56,25%) e 43,75% eram do sexo masculino; 75% desses manipuladores tinham idades entre 30 e 50 anos. A metade deles (50%) possui o segundo grau completo, 31,25% o primeiro grau completo e 18,75% apenas primeiro grau incompleto, muitos formados pelo EJA, Educação de Jovens e Adultos, uma modalidade de ensino que nasceu da necessidade de oferecer uma melhor chance para pessoas que, por qualquer motivo, não concluíram o ensino fundamental e/ou o médio na idade apropriada.

Dos participantes, somente 31,25% relataram ter participado de treinamento sobre higiene e boas práticas para manipuladores de alimentos, como exigido pela RDC Nº 216, de 15 de setembro de 2004 da ANVISA. Sobre micro-organismos, 62,50% responderam que sabiam da sua importância; contudo, nenhum deles soube responder o que seria uma contaminação cruzada.

Quanto ao uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), 43,75% utilizavam Touca e luvas, 12,5% utilizavam apenas touca, os demais não utilizavam nenhum EPI ao manipular os alimentos, porém todos responderam que o uso dos mesmos é importante.

Dos ambulantes que participaram da pesquisa, 18,75% possuem acesso à água potável, 6,25% levava água de casa para higienização de mãos e equipamentos e 12,75% utilizavam álcool gel comum para higienização das mãos, porém o álcool gel comum não possui efeito antisséptico, este para que tenha esta propriedade deve estar na concentração de 70% v/v; os demais disseram não ter como fazê-la. Em casa, a maioria respondeu utilizar água e sabão para lavagem das mãos. Dall’Agnol (2014), em seu estudo, também obteve resultados semelhantes, ou seja, a maioria dos manipuladores respondeu lavar as mãos com água e sabão e higienizar com álcool gel.

Quanto aos exames periódicos de saúde, 87,50% responderam que fazem hemograma, sendo: 25% semestralmente, 31,25% anualmente e os outros (31,25%) quando conseguem pelo SUS. Apenas 37,50% realizam além do hemograma, os exames parasitológicos. Segundo, a Portaria CVS nº 18 (São Paulo, 2008), o manipulador de alimentos não deve ser portador

(16)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3,p.14979-14997 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 aparente ou inaparente de doenças infecciosas ou parasitárias e a periodicidade dos exames médicos e laboratoriais deve ser anual.

Para higienização de superfícies, 50% utilizavam a mesma esponja para higienizar diferentes superfícies. O armazenamento dos alimentos nas barracas/trailers, em sua maioria (56,25%) era feito em caixas de isopor; 25% armazenavam em bacias/recipientes plásticos a temperatura ambiente e apenas 6,25% possuíam freezer para manter os alimentos refrigerados.

As lixeiras de 93,75% dos ambulantes eram abertas e eles só retiravam o lixo quando elas ficam cheias, o que aumenta o risco de contaminação. Segundo Souza, et al (2013) é comum encontrar lixeiras destampadas e sem pedal no comércio ambulante, o que explica a presença de moscas em alguns locais, favorecendo a contaminação dos alimentos.

Apesar de todos (100%) os participantes da pesquisa relatarem ter consciência das consequências da má manipulação ou armazenamento incorreto dos alimentos, foi possível, por meio da checklist aplicada, analisar a importância da realização de treinamento para os ambulantes.

Segundo Jevsnik; Hlebe e Raspor (2008), um dos grandes problemas é que os manipuladores não reconhecem ou não aceitam a importância da implantação de Boas Práticas de fabricação. Além disso, a falta de equipamentos e estrutura colaboram para o não cumprimento de todos os requisitos de segurança dos alimentos.

Em relação ao treinamento, apenas a metade dos manipuladores convidados compareceu. Porém, foi bastante proveitoso e interativo. Percebeu-se o interesse dos presentes, visto que muitos fizeram perguntas, esclareceram suas dúvidas e relataram suas experiências.

5 CONCLUSÃO

De acordo com as análises, o presente trabalho encontrou resultados insatisfatórios em 66,67% das amostras de cachorro-quente, 100% dos salgados comercializados na feira-livre; 33,33% dos churros e 100% dos picolés de leite (chocolate). O único alimento que 100% das amostras apresentaram-se adequadas para o consumo humano, foram os picolés de fruta (limão).

Por meio dos questionários (checklist), observou-se que ainda faltam muitas informações aos ambulantes sobre as boas práticas de manipulação e que as condições de trabalho, na maioria dos casos, são precárias, principalmente por não ter acesso a água potável. A capacitação dos manipuladores, direta ou indiretamente, beneficiou a população que faz uso deste tipo de alimentação, que é rápida e bastante acessível.

(17)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3,p.14979-14997 mar.. 2020. ISSN 2525-8761

REFERÊNCIAS

AMSON, G. V., HARACEMIV, S. M. C. & MASSON, M. L. Levantamento de dados epidemiológicos relativos a ocorrências/ surtos de doenças transmitidas por alimentos (DTAs) no Estado do Paraná - Brasil, no período de 1978 a 2000. Revista Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.30, n.6 p.1139-1145, 2006.

BRASIL, Ministério da saúde. RESOLUÇÃO ANVISA - RDC Nº 12, de 2 de janeiro de 2001. Regulamento técnico sobre os padrões microbiológicos para alimentos. Brasília: ANVISA, 2001.

BRASIL, Ministério da saúde. RESOLUÇÃO ANVISA- RDC Nº 216, de 15 de setembro de 2004.Regulamento técnico de boas práticas para serviços de alimentação. Brasília: ANVISA, 2004.

SÃO PAULO CVS - CENTRO DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Portaria CVS nº 18 – Dispõe a necessidade de constante aperfeiçoamento das ações de controle sanitário na área de alimentos, visando a proteção à saúde da população. Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde do Estado de São Paulo. São Paulo. 09 de setembro de 2008. DALL’AGNOL, J.; Moura, P. N. de; Avaliação do conhecimento da satisfação de manipuladores de alimentos, no desempenho de suas funções. Higiene Alimentar,v. 28, n. 238/239, nov./dez.2014.

FDA (Food and Drug Administration). Growth of Staphylococcus aureus in churros

batter.Califórnia,2004. Disponível em:

<http://www.edeh.enr.state.nc.us/EHS/images/food/040810_ChurrosBatter.pdf>. Acesso em: 30 de maio de 2015.

FREITAS M. Análise microbiológica de salsichas comercializadas a granel no município de Uberaba, Minas Gerais. Rev. Higiene Alimentar, v.26, n206/207, Mar/Abr 2012.

GANDRA, E. A de; GANDRA, T. K. V. et al. Condições higiênicossanitárias de lanches no comércio ambulante de alimentos de Umuarama, PR. Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 25, n. 2, p. 148-152, set. 2011.

GERMANO, P. M. L.; GERMANO, M. I. S. Aspectos gerais da vigilância sanitária. Higiene e vigilância sanitária de alimentos. 3 ed. 2008, Barueri, SP: Manole, 2008.1032p.

GOTTARDI, C. P. T., SOUZA, C. A. S. & SCHMIDT, V. 2006. Surtos de toxinfecção alimentar no município de Porto Alegre/ RS, no período de 1995 a 2002. Revista Higiene Alimentar, v.8, n.1, p44/48, jan/mar.2010.

JEVSNIK, M; HLEBE, V; RASPOR, P. Food safety knowledge andepratices among food handlers is Slovenia. Foodcontrol, v.18, p. 1107-18, 2008.

LIMA, J. R. Processamento de manga e melão por fritura associada à osmose. Embrapa, Fortaleza, CE, dez.2006.

(18)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3,p.14979-14997 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 MACHADO, M. R. M. Avaliação das condições de higiene na manipulação de alimentos do restaurante universitário da universidade estadual de Londrina – PR.2009. 15f. Monografia. INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO PARANÁ, Universidade Federal de Londrina, Londrina,2009.

MALLON, C.; BORTOZOLO, E. A, F. Q. Alimentos comercializados por ambulantes: uma questão de segurança alimentar. UEPG: Ciências Biológicas e da Saúde, v10, n.3, p.65-76,set./dez.2004.

MELLO, A. G. et al. Conhecimento dos manipuladores de alimentos sobre boas práticas nos restaurantes públicos populares do Estado do Rio de Janeiro. Brazilian Journal of Food Technology, Campinas, v. 13, n. 1, p. 60-68, jan. /mar. 2010.

OLIVEIRA, A. B. A. et al. Doenças transmitidas por alimentos, principais agentes etiológicos e aspectos gerais: uma revisão. Revista HCPA, v.30, p.279-285, 2010.

PAZIANOTTI, L. et al. Características microbiológicas e físico-químicas de sorvetes artesanais e industriais comercializados na região de arapongas-PR. Rev. Inst. Latic. “Cândido Tostes”, n. 377, v.65, p.15-20, Nov./Dez. 2010.

SANTOS, M. H. R. dos; CASTRO, L. A. de; BITTENCOURT, J. V. M. Avaliação da qualidade microbiológica em gelados comestíveis comercializados na região dos Campos Gerais – PR. 8º encontro de engenharia e tecnologia dos Campos Gerais-PR. Ago. 2013.

SANTOS, A. L. dos, et al. Staphylococcus aureus: visitando uma cepa de importância hospitalar. Rev. BrasPatolMedLab, v. 43, n. 6, p. 413-423.Dez./2007.

SILVA, A. R. et al. Projeto Qualidade Ambulante: uma proposta de melhoria ao empreendedor informal. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL PROCESSO CIVILIZADOR – TECNOLOGIA E CIVILIZAÇÃO, 9., 2005, Anais. Ponta Grossa: UTFPR, 2005. Disponível em: http://www.pg.utfpr.edu.br/ppgep/Ebook/cd_Simposio/artigos.html. Acesso em: 07. Jun. 2015.

SILVA, N.; JUNQUEIRA, V. C. A.; SILVEIRA, N. F. A. TANIWAKI M. H.; SANTOS, R. F. S.; GOMES, R. A. R. Manual de métodos de análise microbiológica de alimentos e água. São Paulo , Livraria Varela, 2010.

SILVA JÚNIOR, E. A. Manual de controle higiênico-sanitário em serviços de alimentação. 6. ed. São Paulo: Varela, 1995.

SILVA, L. F. das. FUNGOS: um estudo sobre a sua ocorrência nos alimentos.2008. Monografia.Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte 2008.

SOUZA, C. S. et al. Avaliação higiênicossanitária dos lanches comercializados na Praça da República em Bélem, PA. Higiene Alimentar, vol.27, n. 216/217, p.47-56, jan./fev.2013.

(19)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3,p.14979-14997 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 WELKER, C. A. D. et al. Análise microbiologia dos alimentos envolvidos em surtos de doenças transmitidas por alimentos (DTA) ocorridos do estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 8, n. 1, p. 44-48, jan./mar. 2010.

Imagem

Tabela 1. Resultado das análises microbiológicas dos salgados da feira livre, Alfenas, MG, 2014
Tabela 2. Resultado das análises microbiológicas dos cachorros quentes
Tabela 4. Resultado das análises microbiológicas dos picolés de fruta (limão).

Referências

Documentos relacionados

Na Farmácia São Gonçalo estes produtos são muitas vezes solicitados, sendo que existe uma grande variedade dos mesmos, como material de penso, produtos para controlo da

To quantify temporal variance in population growth, we used stochastic demographic models based on at least 5-year study periods (four annual transition matrices) for marine

Médias seguidas da mesma letra minúscula, em cada agrupamento de colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey 5% de probabilidade.. Médias mm do teste de comprimento das

excessive precipitation over the Ama-.. zon would be expected during March and April. As not all Amazonian states show negative pre­ cipitation anomalies under the simul­

Conclusão: Após o processo de adaptação transcultural, a versão brasileira da PEM-CY pode ser considerada um instrumento válido e confiável para medir a

A levedura metilotrófica Pichia pastoris representa uma opção de sistema heterólogo, eficiente e de baixo custo para a produção de altos níveis de proteínas

No Estado do Pará as seguintes potencialidades são observadas a partir do processo de descentralização da gestão florestal: i desenvolvimento da política florestal estadual; ii

Os Papelistas, por outro lado, alinhavam-se às idéias defendidas pela Banking School. Sua maior preocupação era com o nível de atividade econômica e para isso a oferta de moeda