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Quím. Nova vol.21 número4

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Academic year: 2018

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538 QUÍMICA NOVA, 18(4) (1995) CARTA AO EDITOR

"Ilmo Sr. Editor,

Durante meu recente estágio de pós doutoramento na University of British Columbia (Vancouver, Canadá), tive a oportunidade de ler o livro "A Devotion to Their Science -Pioneer Women of Radioactivity", organizado por Marelene F. Rayner-Canham and Geoffrey W. Rayner-Canhan. O traba-lho, além de ser excelente, me pareceu importante pelo seu caráter informativo e didático. Apesar desta revista contar com inúmeras contribuições a respeito da história da química, não tenho conhecimento de artigos que tenham discutido o impor-tante papel de pesquisadoras para o desenvolvimento da quími-ca. O livro em questão narra episódios de importância funda-mental não somente para o entendimento da história do desen-volvimento da química, como também para o desendesen-volvimento da ciência moderna como um todo.

Assim, julgo ser o livro em questão extremamente interes-sante para a comunidade de pesquisadores e estudantes de química e, portanto, tomo a liberdade de sugerir sua leitura àqueles que se interessam, pela história da química. Na rese-nha em anexo, faço uma breve apreciação do livro para que nossos colegas possam apreciar a natureza de seu conteúdo."

Resenha

A Devotion to their Science - Pioneer Women of Radioactivity

Marelene F. Rayner-Canham and Geoffrey W. Rayner-Canham McGill-Queen’s University Press Montreal & Kingston, 1997, ISBN 0-941901-15-7, 307 pp.

Se perguntarmos a colegas e estudantes de graduação em química “qual mulher recebeu um Prêmio Nobel científico, ou seja, nas áreas de química, física ou medicina?”, sem dúvida a grande maioria responderá sem titubear: Marie Curie. Se for-mos adiante, porém e levantarfor-mos a questão “qual mulher ga-nhou dois Prêmio Nobel científicos?”, possivelmente a grande maioria não saberá responder. No entanto, trata-se da mesma Marie Curie (Nobel de Física em 1903 junto com seu marido Pierre Curie, e Nobel de Química em 1911, sozinha). Ainda uma terceira questão possivelmente levantaria ainda mais dú-vida: “qual foi a mulher ganhadora de Prêmio Nobel científico cuja filha também recebeu o mesmo Prêmio?” Novamente, Marie Curie, cuja filha Irène Joliot-Curie dividiu o Prêmio Nobel de Química (1940) com seu marido Frédéric Joliot. Uma última questão a ser então levantada: “Seriam os Curie a única família cujas mulheres se destacaram cientificamente na histó-ria da ciência?”. Absolutamente, não.

É o que nos conta o excelente livro A Devotion to Their Science - Pioneer Women of Radioactivity, organizado por Marelene F. Rayner-Canham e Geoffrey W. Rayner-Canham (ambos da Sir Wilfred Grenfell College, Memorial University, Newfoundland, Canadá). Publicado em 1997, o trabalho reúne 22 capítulos dedicados a descrever o empenho de pesquisadoras

que participaram ativamente nas descobertas de elementos quí-micos, do fenômeno da radioatividade, da fissão atômica e dos raios cósmicos, em uma época durante a qual a maior qualida-de para uma mulher era ser excelente esposa e dona-qualida-de-casa. Fundamentado em extensa pesquisa bibliográfica, os capítulos reúnem dados instigantes e anedotas, mas sobretudo relatam as enormes dificuldades para as pesquisadoras de então poderem trabalhar e serem devidamente reconhecidas por sua contribui-ção científica. O livro apresenta 17 biografias completas, ainda que resumidas, bem como 6 capítulos curtos, sobre a vida de mulheres que se dedicaram muitas vezes integralmente a um trabalho árduo, sob condições de discriminação, de extrema in-salubridade, tendo muitas vezes que exercer ainda papel de mãe e esposa devota.

O livro se divide em quatro partes. Na primeira parte do livro, os organizadores situam a época em que a química e a física praticamente revolucionaram a ciência, com a descoberta da estrutura atômica e das propriedades dos átomos. As desco-bertas foram realizadas por três grupos principais de pesquisa-dores, notadamente o “grupo inglês”, coordenado por Ernest Rutherford, o “grupo francês”, coordenado pelo casal Marie e Pierre Curie, e o “grupo austro-germano”, que teve como figu-ra centfigu-ral Otto Hahn, ainda que se tribute o crédito das desco-bertas deste grupo à brilhante Lise Meitner.

A segunda parte descreve os trabalhos realizados pelas pes-quisadoras que tomaram parte no “grupo francês”: Marie Curie, Irène Joliot-Curie, Ellen Gleditsch, May Sybil Leslie, Catherine Chamié, Stefania Maracineanu, Alicia Dorabialska e um pe-queno capítulo sobre aquelas das quais se obteve poucas infor-mações (Eva Ramstedt e Irén Gotz).

O “grupo inglês” é assunto da terceira parte, na qual os autores apresentam dados biográficos a respeito de Harriet Brooks, Fanny Cook Gates, Jadwiga Szmidt, Ada Hitchins e outras menos conhecidas.

Por fim, a quarta parte se dedica ao “grupo austro-germano”, no qual o destaque é a biografia de Lise Meitner. Por ser judia, Meitner exilou-se “voluntariamente” durante a 2a Guerra Mundial e com isso distanciou-se do grupo ao qual

foi ourtorgado o Prêmio Nobel de Física pela descoberta da fissão atômica. Além de Meitner, destacaram-se Stefanie Horovitz, Marietta Blau, Elizaveta Karamihailova, Elizabeth Tóna, Ida Tacke Noddacke e outras. Recentemente a vida de Meitner também foi assunto de artigo publicado na Scientific American (1998, 278, 80-85).

Os capítulos são escritos por diferentes autores, o que não diminui o brilho do relato vívido sobre a vida destas mulheres excepcionais, algumas das quais certamente contribuíram defi-nitivamente não somente para o desenvolvimento da ciência atômica, mas também para a evolução de uma sociedade mais justa e menos preconceituosa.

Roberto G. S. Berlinck Instituto de Química de São Carlos - Universidade de São Paulo CP 780 - CEP 13560-970 - São Carlos-SP.

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