Doenças Ocupacionais do Cirurgião Dentista
Urubatan Medeiros BDS, MsC, PhD,PDc
Resumo de Aula
Doenças Ocupacionais
Doença ocupacional é toda e qualquer manifestação mórbida que é decorrente da atividade de trabalho do indivíduo.
Todas as profissões apresentam riscos, de maior ou menor severidade e na Odontologia esses riscos podem levar à doenças, invalidez e até a morte.
O trabalho odontológico é extremamente desgastante e exige conhecimento e raciocínio, coordenação motora, paciência, tranquilidade na realização, segurança, discernimento, delicadeza, objetividade, firmeza e habilidade.
As doenças ocupacionais são resultantes do efeito contínuo de um agente agressor e, na maioria das vezes, demoram longo tempo para se manifestar, pois representam o efeito de um somatório de pequenas agressões.
O ambiente de trabalho, suas instalações, equipamentos e materiais associados ao tipo de atividade desenvolvida, no caso, o controle, tratamento e prevenção de doenças, expõem o profissional de saúde a manifestações patológicas do tipo infectocontagiosas; manipulação de metais pesados;
contato com radiação, com drogas farmacológicas, bem como, com agentes potencialmente alergênicos
Classificação Agentes Biológicos:
Doenças Infecciosas virais ou bacterianas Agentes Químicos:
Irritações ou contaminação por produtos odontológicos Agentes Mecânicos:
LER ou DORT Distúrbios posturais Agentes Psíquicos:
Stress
Agentes eventuais:
Acidentes no trabalho Agentes Físicos:
Radiações Ionizantes e não ionizantes Iluminação
Temperatura Ruído
Agentes Biológicos
Os agentes biológicos são causa comum de diversas doenças advindas da atividade laboral. O Cirurgião Dentista pode contrair desde um resfriado comum até formas agressivas de Tuberculose, Pneumonia, Herpes, Hepatite e AIDS.
Outras doenças infectocontagiosas de interesse para a Odontologia são a mononucleose, transmitida por secreções orais; a rubéola e o sarampo, transmitidas por meio de secreções nasofaríngeas; a conjuntivite, pelo contato direto com pessoas contaminadas e a gripe ou influenza
Prevenção Imunizações:
Influenza, hepatite B, tuberculose, difteria, tétano, rubéola, sarampo, meningite e parotidite virótica (caxumba).
Utilização adequada de EPI:
Luvas, máscaras, protetores oculares, roupas de proteção, sobresapatos descartáveis, touca ou gorro.
Desinfecção de equipamentos, superfícies e moldagens.
Esterilização de instrumental
Agentes Químicos
O risco químico ocorre pela exposição a agentes químicos (poeiras, névoas, vapores, gases, mercúrio, e produtos químicos em geral).
Os principais causadores desse risco são amalgamadores, desinfetantes químicos (álcool, glutaraldeido, hipoclorito de sódio, ácido paracético, clorexidina, etc...) e os gases medicinais (óxido nitroso e outros).
Os profissionais de Odontologia também podem apresentar sensibilidade a agentes químicos, como os materiais odontológicos (resinas, ionômeros, luvas, máscaras, etc...) sendo necessária a detecção de alergias a partir de testes específicos.
Uma das doenças profissionais mais observadas é o eczema de contato, que se expressa pela sensibilidade da pele à exposição a diferentes materiais.
Um deles é o latex da luva, que neste caso deve ser substituída por luvas de vinil, com a pele devidamente protegida por hidratantes.
Não é necessário a testagem dos demais materiais odontológicos visto que sua manipulação deve ser sempre realizada com o uso de luvas, sem contato com a pele.
Agentes Mecânicos
1 – Cifoescoliose
A cifoescoliose é uma escoliose associada a um aumento da cifose torácica sendo, assim, o resultado de duas lesões da coluna vertebral associados: a escoliose e a cifose.
A primeira é uma curvatura da coluna vertebral no plano frontal, sendo sempre patológica.
A segunda é uma curvatura da coluna vertebral no plano sagital, de convexidade posterior, sendo normal a nível torácico dentro de certos limites.
As duas lesões e sua associação possuem diversas causas como, por exemplo, congênita, idiopática e postural.
2 - Lesões por esforços repetitivos/distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho -
LER/DORT
São lesões musculares e/ou tendões de fáscias e/ou nervos dos membros superiores, cintura escapular e pescoço, principalmente, ocasionadas pela utilização biomecanicamente incorreta dessas estruturas, acompanhada ou não por alterações objetivas, e que resultam em dor, fadiga, queda de desempenho no trabalho, incapacidade temporária, e, conforme o caso, podem evoluir para uma síndrome dolorosa crônica, nesta fase agravada por todos os fatores psíquicos, no trabalho ou fora dele, capazes de reduzir o limiar de sensibilidade dolorosa do indivíduo
Prevenção
1 – Correção da postura.
2 – Exercícios de relaxamento a cada hora de trabalho.
3 – Prática de esportes ou exercícios para reforçar a musculatura.
Agentes Psíquicos 1 – Stress
Nos últimos anos vários estudos foram realizados relacionando stress e atividade profissional.
O stress contínuo no ambiente de trabalho pode acarretar prejuízos à integridade física, psicológica, e ao convívio social e familiar dos profissionais.
O stress na Odontologia pode ser devido a diversos fatores, tais como:
pressões econômicas, pressões com o tempo, trabalho com pacientes ansiosos e pouco cooperativos, causar dor aos pacientes, limitação do campo visual, ruídos do equipamento, radiação, exposição a efeitos do trabalho prolongado em determinada posição física, trabalho repetitivo, passar o dia todo confinado em um consultório, competição profissional, auxiliares pouco cooperativos, etc...
Sintomas
1 – Reações emocionais
Irritabilidade, ansiedade, depressão, histeria, distúrbios do sono, etc...
2 – Reações comportamentais
Alcoolismo, tabagismo, dependência química, aumento do absenteísmo ou atrasos contínuos, negligência, comportamento de alto risco, suicídio etc...
3 – Reações fisiológicas
Alterações hormonais e farmacológicas responsáveis por taquicardia, sudorese, hipertensão arterial, etc...
Prevenção
1 – Respeitar o horário de trabalho não ultrapassando intervalos, horário de almoço e final do expediente;
2 – “Desligar-se” do consultório/trabalho no horário de intervalo/almoço;
3 – Treinar seus auxiliares;
4 – Não “contaminar” o ambiente familiar com os problemas de trabalho.
Agentes Eventuais Acidentes de trabalho
É o acontecimento casual e imprevisto, que acontece pelo desempenho do trabalho diário e que podem produzir a redução da capacidade de trabalhar, temporária, indefinida ou permanente; perda da capacidade de trabalhar (temporária, indefinida ou permanente); perturbação funcional; lesão corporal ou até mesmo a morte.
Os principais acidentes em Odontologia relacionam-se a exposição ocupacional a material biológico.
Prevenção
1 – Utilização de EPI;
2 – Utilização das imunizações disponíveis;
3 – Manuseio adequado de instrumentos pérfuro cortantes;
3 – Cuidado e higienização das mãos;
4 – Desinfecção de superfícies, moldagens e equipamentos;
5 – Esterilização de instrumental;
6 – Correta utilização dos protocolos para acidentes ocupacionais.
Agentes Físicos
1 – Radiações Ionizantes e Não Ionizantes Existem dois tipos de radiações:
a) as ionizantes – raios alfa, beta, gama e raios-X;
b) as não-ionizantes, ou que produzem calor – infravermelho e ultravioleta.
Como os efeitos da radiação são cumulativos, o Cirurgião-Dentista e sua equipe devem se proteger das exposições desnecessárias.
Radiação Ionizante
O aparelho de raios-X constitui um importante recurso no consultório odontológico.
A radiografia, como exame complementar auxilia o cirurgião-dentista na confirmação de diagnóstico.
Apesar da evolução dos equipamentos e filmes radiográficos, o que preocupa os profissionais que utilizam frequentemente a radiação ionizante é o seu efeito cumulativo.
De acordo com a Comissão Internacional de Proteção à Radiação a dosagem máxima anual permitida para trabalhadores expostos é de 5000 mrem e para a população de maneira geral esta taxa é de 500 mrem.
Radiação Não Ionizante
As resinas compostas, os adesivos, primers, alguns selantes e cimentos reagem mediante o processo de
fotopolimerização, emitindo assim a radiação não-ionizante.
O fotopolimerizador originariamente usava a luz ultravioleta e recentemente a maioria passou a utilizar a luz azul, entre 400 e 500 nm.
Os raios ultravioletas podem causar catarata e problemas na retina, especialmente quando utilizados na faixa de frequência entre 320 e 400 nm.
O laser é atualmente uma alternativa para o tratamento odontológico. Sua utilização é ampla, dependendo do modelo realiza restaurações indolores, cirurgias com diminuição do sangramento, traumas e melhor cicatrização, além de tratamentos endodônticos e raspagens mais eficazes.
Existe ainda o laser exclusivamente terapêutico, com ação anti-inflamatória e relaxante muscular e o laser utilizado para clareamento e polimerização de resinas.
Sabe-se que o uso do laser, sem as devidas precauções recomendadas pode ocasionar queimaduras ou alterar os tecidos e que este não deve ser direcionado através dos olhos ou em superfícies que refletem a luz.
Prevenção
1 – Correta utilização de EPI;
2 – Utilização de óculos específicos para fotopolimerização e laser;
3 – Revisão periódica do equipamento.
2 - Iluminação
A iluminação do consultório é outro agente físico que pode causar grandes transtornos aos profissionais, quando o projeto não é adequado.
Tanto na clínica privada como nas clínicas de empresas, a “visão cansada” tem sido um problema frequentemente relatado pelos profissionais.
A presbiopia, uma inabilidade para focar objetos a curta distância, afeta muitos profissionais ao longo da vida profissional.
Outro aspecto importante é a ação dos raios ultravioleta.
Existe um componente dentro de muitos focos de luz que permite radiação nessa faixa, constituindo enorme fator de risco para o desenvolvimento ou a aceleração de catarata e degeneração macular (ponto central da retina).
A incidência de problemas de mácula é maior em quem se expõe sem proteção adequada.
A pupila dos olhos claros filtra menos os raios solares e protege menos, portanto inspira mais cuidado.
O míope também é tradicionalmente mais sensível.
Prevenção
1 – Projeto adequado de iluminação do consultório:
Na sala de tratamento a intensidade luminosa não deve ser inferior a 500 lux e a coloração da luz deve combinar com a luz ambiental geral;
Na zona de trabalho (1 m de raio tomando por base a cavidade bucal do paciente) a iluminação deve ser acima de 1000 lux;
Na cavidade bucal do paciente a iluminação deve ser de, no mínimo, 8000 lux;
2 – Proteger os olhos da intensidade luminosa fora do ambiente clínico.
3 - Temperatura
Os serviços odontológicos devem possuir ventilação natural ou forçada, para evitar o acúmulo de fungos (bolores), gases e vapores condensados, sendo que sua eliminação não deve causar danos ou prejuízos às áreas próximas.
Os equipamentos de ar condicionado de janela e minisplits apresentam o inconveniente de não efetuar a renovação do ar necessária para a manutenção de uma boa qualidade do ar ambiente de interiores, Esses equipamentos somente podem ser instalados nos serviços odontológicos acompanhados por um sistema de ventilação e/ou exaustão complementar, garantindo, dessa forma, a renovação de ar exterior necessária nesses ambientes.
O sistema de climatização para os serviços odontológicos deve ser adequadamente dimensionado, por profissional especializado, de modo a prover uma vazão mínima de ar exterior de 6 (m3/h)/m2 e uma vazão mínima de ar total de 18 (m3/h)/m2. A temperatura ambiente deve ser mantida entre 21ºC e 24ºC, e a umidade relativa do ar entre 40% e 60%. Os equipamentos devem possuir, no mínimo, filtros classe G3 no insuflamento.
As tomadas de ar exterior devem ser localizadas de forma a evitar a aspiração de descargas de exaustão de cozinhas, sanitários, laboratórios, lavanderia e também a evitar a proximidade a depósitos de lixo, centrais de gás combustível, grupos geradores, centrais de vácuo, estacionamentos, bem como de outros locais onde haja possibilidade de emanação de agentes
poluidores ou gases nocivos, estabelecendo uma distância mínima de oito metros desses locais.
Prevenção
1 – Manutenção adequada dos equipamentos, com seus respectivos filtros;
2 – Intercalar, entre os pacientes, a aeração natural.
4 – Ruído
Perda Auditiva Induzida por Ruído – PAIR
O Cirurgião Dentista está exposto a várias fontes de ruídos, tais como compressores de ar, sugadores de alta potência, turbinas de alta velocidade, na ordem de 70 a 88 dB de intensidade e 4.800 a 9.600 Hz de intensidade.
Some-se a isso os ruídos do meio ambiente.
Os níveis de ruído devem ficar situados entre 60 e 70 dB, para que não produzam danos à saúde.
Acima destes valores trarão uma sensação de desconforto.
Com valores acima de 140 dB poderão causar danos irreversíveis na membrana timpânica.
Um estudo com turbinas de alta rotação (peças de mão) revelou os seguintes níveis de ruído:
Dabi-Atlante: 68,87 dB Kavo: 71,57 dB
Rucca: 89,72 dB
Nível de Ruído dB(A)
Máxima exposição diária
permissível
85 8 horas
86 7 horas
87 6 horas
88 5 horas
89 4 horas
100 1 hora
110 15 minutos
115 07 minutos
Sinais e sintomas da PAIR 1 – Zumbidos
2 – Dificuldade de entendimento da fala
3 – Dificuldade na localização da fonte sonora 4 – Sensação de audição “abafada”
5 – Perda auditiva
Prevenção Controle do Ruído:
1 – Intervenção na fonte emissora: eliminação ou substituição com equipamento mais silencioso; modificação do ritmo de funcionamento do equipamento; aumento da distância e redução da concentração de equipamentos.
2 – Intervenção sobre a propagação: suportes antivibrantes, enclausuramento integral, barreiras, silenciadores, tratamento fonoabsorvente.
3 – Intervenção sobre o trabalho: isolamento em cabine acústica, redução do tempo de exposição, uso de EPI.
Exame audiométrico:
Realizado no início da vida profissional para estabelecer o padrão de audição.
Avaliação audiológica completa e periódica.