Comorbidade em Dependencia Quimica: Transtorno de
Personalidade Personalidade
Guilherme Galant Vollmer Guilherme Galant Vollmer
UDQ Hospital Mãe de Deus
Introdução
• As comorbidades psiquiátricas vem sendo um crescente campo de pesquisa, cujo os dados mostram uma alta prevalência entre mais de um diagnóstico psiquiátrico.
• Nas duas últimas décadas, autores vem
• Nas duas últimas décadas, autores vem
destacando a crescente comorbidade entre dependência química (DQ) e transtornos
psiquiátricos em geral.
Introdução
• Os Transtornos de Personalidade (TP)
apresentam uma importância cada vez maior depois que estudos recentes constataram que eles são muito mais expressivos em usuários eles são muito mais expressivos em usuários de álcool e drogas do que na população em geral e alteram substancialmente o curso da DP.
(Laranjeira, 2006)
Objetivos
• Objetivo desse trabalho é revisar artigos recentes publicados em revistas indexadas que tratam do assunto através de dados empíricos.
empíricos.
• Serão revisados conceitos de: comorbidade, DQ e de duas das principais patologias de personalidade envolvidas com DQ
Métodos
• Revisão de artigos científicos nos sites
Medline e PubMed de 1995 a 2008, bem
como capítulos de livros sobre psiquiatria em geral. Palavra-chaves: dependência química, geral. Palavra-chaves: dependência química, comorbidades, transtornos de personalidade
Definições
Comorbidade: é a ocorrência de duas entidades diagnósticas em um mesmo indivíduo.
Estudos demonstram que o abuso de
substâncias é o transtorno coexistente mais substâncias é o transtorno coexistente mais freqüente entre portadores de transtorno mental. Os mais freqüentes são: os
transtornos do humor, transtorno de
ansiedade, transtorno de déficit de atenção e a esquizofrenia.
(Laranjeira, 2006)
Definições
Abuso de substância ou uso nocivo: é o consumo já associado a algum tipo de prejuízo ( biológico, psicológico ou social).
• Uma DQ ocorre quando há uma relação
disfuncional entre um indivíduo e seu modo de disfuncional entre um indivíduo e seu modo de consumir uma substância, quando esse consumo torna-se compulsivo e destinado a evitação de sintomas de abstinência, cuja a intensidade é capaz de ocasionar problemas sociais, físicos e/ou psicológicos.
(CREMESP/AMB, 2001)
Definições
• Um TP é um padrão persistente de vivência íntima ou comportamento que se desvia
acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo. É invasivo e inflexível, tem seu do indivíduo. É invasivo e inflexível, tem seu início na adolescência, é estável ao longo do tempo e provoca sofrimento ou prejuízo.
(DSM-IV, 1994)
Definições
• Este padrão manifesta-se em duas(ou mais) das seguintes áreas:
• 1. Cognição(i.é,modo de perceber e
interpretar a si mesmo, outras pessoas e interpretar a si mesmo, outras pessoas e eventos.
• 2. Afetividade(i.é,variação, intensidade, labilidade e adequação da resposta emocional
• 3. Funcionamento interpessoal
• 4. Controle de impulsos
Definições
• O padrão persistente é inflexível e abrange uma ampla faixa de situações pessoais e sociais.
• Provoca sofrimento significativo ou prejuízo
• Provoca sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento social ocupacional ou em outras áreas da vida.
• É estável e de longa duração, podendo seu início remontar a adolescencia.
Definições
• Este padrão não é explicado por manifestação ou consequência de outro transtorno mental ou dos efeitos fisiológicos diretos de uma
substância.
Definições
• Essa patologia divide-se em três agrupamentos.
Agrupamento A: paranóide, esquizóide e esquizotípico.
esquizotípico.
Agrupamento B: anti-social, borderline, histriônico e narcisista.
Agrupamento C: esquivo, dependente e obsessivo-compulsivo.
(DSM-IV, 1994)
Transtorno Anti-Social
• Padrão global de desrespeito e violação dor direitos alheios, que ocorre desde os 15 anos, indicado por ao menos 3 dos seguintes
critérios:
critérios:
• 1.incapacidade de adaptar-se as normas
sociais com relação a comportamentos lícitos
• 2. propensão a enganar, mentir, usar nomes falsos
• 3. impulsividade
Transtorno Anti-Social
• 4. impulsividade
• 5.irritabilidade e agressividade
• 6. desrespeito pela segurança própria ou de outros
outros
• 7.ausência de remorsos
Transtorno Borderline
• Um padrão global de instabilidade dos relacionamentos interpessoais, da auto- imagem e dos afetos e acentuada
impulsividade, que se manifesta no início da impulsividade, que se manifesta no início da idade adulta
• Esforços intensos para evitar um abandono, real ou imaginário
• Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos
Transtorno Borderline
• Perturbação da identidade: instabilidade da auto-imagem
• Impulsividade (p.ex. gastos excessivos, sexualidade, uso de substâncias, comer sexualidade, uso de substâncias, comer compulsivo)
• Gestos ou ameaças suicidas, auto-mutilação
• Sentimentos crônicos de vazio
Transtorno Borderline
• Instabilidade afetiva devido a uma acentuada reatividade do humor .
• Dificuldades em controlar a raiva
• Ideação paranóide transitória
• Ideação paranóide transitória
Epidemiologia
• Estudos recentes de Verheul e cols apontam para uma elevada prevelência entre TP e TUS.
Abuso de uma ou mais substâncias foi
relatado por 76% de pacientes com TPB e por 95% de pacientes com TPAs em adultos jovens 95% de pacientes com TPAs em adultos jovens internados.
•A prevalência durante a vida de um TP na população em geral foi estimada entre 10- 14% enquanto a prevalência de TP em uma população com TUS tem variado de de 11 a
Epidemiologia
população com TUS tem variado de de 11 a 100% (Thomas apud Weissman).
Epidemiologia
• Em um extenso estudo, Verheul e cols.
Encontraram uma prevalência média de
algum TP em 25 estudos de casos com TUS de cerca de 61%. Foi avaliado o diagnóstico de cerca de 61%. Foi avaliado o diagnóstico global de TP e específico para TPAS e TPB e diferenciados entre a substância utilizada e settings.
Epidemiologia
• Os resultados mostraram que há uma
prevalência de comorbidade que varia de 44 a 90%. Com relação ao tipo de
substância, os maiores percentuais de substância, os maiores percentuais de comorbidade com TP foram para o
consumo de opióides.
Epidemiologia
• Outros dados significativos foram que para os TPAs e TPB os maiores percentuais foram para o subitem consumo de mais de uma
droga (30 e 22%) e que o TPAs é o mais droga (30 e 22%) e que o TPAs é o mais frequentemente diagnosticado entre
homens com TUS do que qualquer outro transtorno psiquiátrico.
Epidemiologia
• Em um recente estudo (Skodol, 1999) foram entrevistados 200 pacientes com uso de
questionário estruturado para TUS e TP e entre os dados encontrados estão que 59%
entre os dados encontrados estão que 59%
apresentavam algum TP com uso atual de álcool e drogas e 55% entre aqueles com história de uso durante a vida.
Tabela IV : Freqüência e percentual de comorbidade de TUS em pacientes com transtorno de personalidade
Etiologia
Modelo Moral Século Passado Ênfase na Patologia de Personalidade
Mau ajustamento,
Modelo Farmacológico Não considera a Patologia de Personalidade na etiologia da drogadição
Mau ajustamento, Caráter neurótico
Imaturidade emocional infantilismo
Modelo Contemporâneo
Bio-behaviorista-diateses-stress
Indivíduo (inato) X Vulnerabilidade Biopsicológico X Psicosocial
Etiologia
Modelo do comportamento desinibitório
Comportamento desinibitório Socialização deficiente adição
Deficiência de serotonina
Exemplo: Personalidade Anti-social e Borderline
Etiologia
Modelo de redução do stress
Reação ao stress Ansiedade e instabilidade de humor
Substância como auto- medicação Eventos de vida
estressantes
Reação ao stress humor
Desregulação
GABAergic/glutamatergic
Exemplo: Personalidade evitativo, dependente, esquizotípico e borderline
medicação
Etiologia
Via da recompensa sensitiva
Recompensa sensitiva Processo de sensibilização adição
Abuso de substância
Recompensa sensitiva
Hiperatividade
Dopaminergic/opioidergic
Exemplo: Indivíduos com comportamentos de risco,indivíduos que buscam esportes radicais.
(Verheul, 2001)
Etiologia
• Os TUS frequëntemente ocorrem em paralelo com outros transtornos mentais, especialmente
transtornos do humor, transtornos de ansiedade e o transtorno de personalidade anti-social (TPAS). Até recentemente, estudos davam especial atenção ao recentemente, estudos davam especial atenção ao TPAS como principal comorbidade de Eixo II em
usuários de substâncias químicas. Crianças agressivas e impulsivas (isto é, com distúrbios de conduta) e a relação com os TUS tem sido encontrados.
(Thomas et al, 1999)
Etiologia
• Antes do desenvolvimento de instrumentos
diagnósticos estandarizados para Eixo II, o que havia disponível apontava apenas para o TAS como comorbidade principal. Começou a se como comorbidade principal. Começou a se perceber que as tendências impulsivas tão comuns nos TAS poderiam existir em outros TP, como no transtorno borderline.
(Van Horn, 1998)
Etiologia
• Estudos que compararam pacientes
dependentes químicos com e sem TP, aqueles com TP apresentavam um início mais precoce de uso, altas taxas de uso de múltiplas
de uso, altas taxas de uso de múltiplas
substâncias e mais sintomas psiquiátricos.
•Além disso, demonstraram ser menos
educados, menos propensos a casar, de ter mais problemas legais, de se acidentarem
Etiologia
mais problemas legais, de se acidentarem mais, de apresentarem mais problemas
médicos e de ter uma vida menos satisfatória do que pacientes sem TP. (Thomas, 1999)
Tratamento
• Diversos estudos sugerem que a comorbidade com TP prediz a um resultado negativo no
tratamento de indivíduos com TUS, especialmente os do agrupamento B.
especialmente os do agrupamento B.
• Esta dificuldade inclui:
Estabelecimento de aliança terapêutica Resistência a mudança de estágio
Redução da aderência
Abandono precoce do tratamento
(Laranjeira, 2007)
Tratamento
• Conclusões baseadas em evidências clínicas apontam que o Transtorno de Personalidade Anti-social (TPAS) era o que mais apresentava dificuldades em manutenção do tratamento dificuldades em manutenção do tratamento com repetidos abandonos.
•Apesar dessas evidências, estudos
recentes indicam que tais pacientes se beneficiam tanto quanto os que tem
Tratamento
beneficiam tanto quanto os que tem apenas diagnóstico em Eixo I, apesar de apresentarem recaídas mais
precoces.
(Laranjeira, 2007)
Tratamento
• A melhor abordagem para pacientes com comorbidades TP-TUS é o tratamento
integrado, ou seja, os que utilizam os
psicofármacos, a entrevista motivacional e a psicofármacos, a entrevista motivacional e a terapia cognitivo-comportamental.
(Laranjeira, 2007)
Tratamento
Tratamento farmacológico inclui:
Neurolépticos Neurolépticos Antidepressivos
Buspirona
Tratamento
Neurolépticos
Antidepressivos, Lítio
Borderline, Esquizóides ou Paranóides
Borderline e Anti-social
Antidepressivos, Lítio e Carbamazepina
Buspirona
Borderline e Anti-social
Esquiva e Ansiedade
Tratamento
• Estudos mais recentes mostram que o uso dos agentes naltrexona são úteis para reduzir
impulsividade e do acamprosato para reduzir reação ao stress. (Verheul, 2000)
reação ao stress. (Verheul, 2000)
• A entrevista motivacional deve ser aplicada na fase inicial e durante o curso do tratamento.
• Pacientes com TP demandam maior esforço por parte do terapeuta na busca de uma
aliança terapêutica .
Tratamento
aliança terapêutica .
Tratamento
• A terapia cognitivo-comportamental tem sido amplamente utilizada em TUS principalmente na prevenção a recaída.
• Alcançado o objetivo de prevenir a recaída,
• Alcançado o objetivo de prevenir a recaída, esforços devem ser objetivados em aspectos psicodinâmicos da personalidade visando
maior aderência ao tratamento e capacidade de enfrentamento de problemas.
(Laranjeira, 2007)
Considerações Finais
• Os TP são altamente prevalentes em pacientes com TUS. Evidências mostram que as
patologias de personalidade estão envolvidas na etiologia, no curso e no tratamento dos
na etiologia, no curso e no tratamento dos TUS.
• O entendimento da etiologia e do papel das patologias de personalidade no processo do tratamento são de vital importância para
prevenção à recaída e na prática clínica.
Considerações Finais
• Ao estudar o papel das patologias de
personalidade em drogadicção estamos mais aptos a heterogenicidade entre os indivíduos que procuram ajuda para problemas com
que procuram ajuda para problemas com drogas e indicar o tratamento específico.
•A criação de uma aliança terapêutica é
medida crucial para compreendermos melhor
Considerações Finais
medida crucial para compreendermos melhor a patologia de personalidade que altera de
diversas formas o seguimento e sucesso do tratamento.
Referências Bibliográficas
Van Horn,D. Substance-use situations and abstinence predictions in substance abusers with and without personality disorders, American Journal of Drug and Alcohol Abuse, August,
1998Rounsaville, B e cols. Personality Disorders in Substance Abusers: Relation to Substance Use. The Journal of Nervous and Menthal Disease, Vol 186(2), February, PP 87-95
Hasin, D. e cols. Diagnosis of Comorbid Psychiatric Disorders in Substance Users Assessed with the Psychiatric Research Interview for Substance and Mental Disorders for DSM-IV: American Journal of Psychiatry, 2006; 163:689-696
Verheul, R. e cols. Personality Disorders Predict Relapse in Alcoholic Patients: Adictive Behaviors,1998 Vol 23 pp 869-882
Verheul, R. e cols. Co-morbidity of Personality Disorders in Individuals with Substance Use Disorders: European Psychiatry, 2001: 16: PP 274-82
Verheul, R. e cols. Prevalence of Personality among Alcoholics and Drug Addicts: European Adicction Research, 1995, 1; 166-177
American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fourth Edition. Washington, DC, American Psychiatric Press ,1994
Laranjeira e cols. Aconselhamento em Dependência Quimica. Ed.Roca. São Paulo, 2004
Skodol, M.D. e cols. Axis II Comorbidity of Substance Use Disorders Among Patients Referred for Treatment of Personality Disorders: American Journal of Psychiatry, 1999;156:733-738
Exemplo Clínico
• Francisca, 25anos, solteira, estudante, procedente do interior do estado
• MP: Ansiedade e ideação suicida
• HDA: Paciente chega a Emergencia trazida por
• HDA: Paciente chega a Emergencia trazida por familiares que foram acionados por amigas da paciente que se preocuparam com o estado desta. Ao longo da entrevista admite ter
experimentado maconha, cocaína, ecstasy.
Exemplo Clinico
• Refere uso de álcool e anfetaminas com
frequencia. O uso de anfetaminas era devido aos seus problemas com auto-imagem,
fazendo constantemente dietas para controle fazendo constantemente dietas para controle do peso.
• Apresenta relacionamentos afetivos breves, irregulares com suspeita de gravidez ao
internar.
Exemplo Clinico
• Segundo familiares a paciente normalmente é calma e agradável até ser contrariada, quando subitamente se torna agressiva verbal e
fisicamente, com explosões de raiva, fisicamente, com explosões de raiva, quebrando objetos e por vezes se auto-
mutilando, queimando os braços com cigarro e arrancando os cílios. Chegou ao ponto de cortar partes do corpo somente para ver o sangue escorrendo.
Exemplo Clinico
• Após alguns dias de internação relatou o
consumo em grandes quantidades de drogas, chegando a roubar pertences dos seus
familiares para poder consumir.
familiares para poder consumir.
• HD: ?
• Tratamento: ?
Muito Obrigado!!!
guivollmer@hotmail.com