P
a u l o
D
i ó g e n e s
Trajetória de riso e disposição para o
trabalho fortalece o humor no Ceará
Oscilando entre momentos cómicos e dramáticos
,Paulo Diógenes fez a
turma embarcar na história de vida dele.
E n t r e v i st a c o m P a u l o O sm a r d o s Sa n t o s D i ó g e n e s, d i a 0 2 / 0 5 / 2 0 0 5 . P r o d u ç ã o , r e d a ç ã o , e d i ç ã o e t e x t o f i n a l : Gab r ie l Bo m f im , Giselle Dut r a, N a t á l i a Paiv o e Ra q u e l M o u r õ o . T e x t o d e a b e r t u r a : Gab r iel Bo m f im . P a r t i c i p a ç ã o : A m a n d a Be ze r r a, Erikc M e n e se s, Gab riel Bo m f im , Gise lle Dut r a, J u l i a n a So u sa , Nat álio Pa i v a e Ra q u e l M o u r õ o .
Fo t o : Ig o r G r o zia n o .
i t o calen d ário estav a m arcado o d ia 12 de
l\ I
abril de 1961 e S ueli dos S antos estava/ Y em m eio a um a crise de ch oro. N ascera
* P au lo O sm ar dos S antos D iógenes. E le
diz que não sabe se o ch oro foi de alegria ou de dor, m as o s m ais de 40 anos d e co n v iv ên cia não deixaram dúvida quanto ao sentim ento que a mãe tinha po r Pau lo: um a grande paixão. E la era a com panheira nos m om entos de alegria e d e d ifi cu ldade, que podia, às vezes, ser su rp reen d id a p arad a ad m iran d o seu garoto, fa e ídolo ao m es m o tem po.
O filho preferid o de dona Sueli já nasceu a r tista. N ão era m enino palh aço - quando p eq u e no, fu g ia na hora d a fo to g rafia e se escondia d eb aix o d a cad eira se era levado ao circo. S im p lesm en te se sen tia artista. N o co lég io , co m e çou a fazer teatro. N ão im aginava o que o destino lhe re servava. N em poderia: não desco b rira a in d a su a “varize artística” para o hum or, nem o hu m o r co n h ecera a ten d ên cia que P au lo ainda viria a consolidar.
N o p assad o d esse h o m em q u e não tem o hábito de reco rd ar está parte im p o rtan te da h is tória do hu m o r cearen se e, p rin cip alm en te, da firm ação d a im ag em do C eará co m o terra do hu mor. A história d esse carioca que tem um p ro fu n d o am or po r esse E stad o , que vê no p o v o daqui um a alegria ex traordinária e na sua arte um a fo r m a de d ar m ais vida às vidas d e q u em o vê, in co rp o ra a arte, q u e é um a o b rig ação d o viver.
E sse apaixonado pelas m ulheres daria à luz R aim undin ha L oyola, um a espalhafatosa senho ra sem m uito daq uilo que uns cham am elegância. E ssa m ulher m udaria a vida de P aulo a p artir do seu nascim ento, que, se depender da m em ória dele, vai ficar sem data exata, lá por volta de 1986. Ela seria um a das grandes responsáveis po r m u dar tam bém a form a de fazer hum or, consolidando com o novos palcos os bares e restaurantes.
S ua relação afetiva com as m ulheres, no e n tanto, nunca foi d e tanta co m p reen são , nem tão d u rad o u ra, q u an to à relação que tem com essa m u lh er d en tro d ele m esm o. A p ersonagem p as sou por um a lo n g a g estação até ad q u irir a vida em toda a p lenitude q u e tem hoje, num pro cesso de am ad u recim en to , au to co n h ecim en to e q u e bra de p reco n ceito s de todos os lados, inclusive d o pró prio P au lo.
O s casam entos, por outro lado, du raram pou co s anos. H oje vê que as c oisas teriam sido d ife re n te s com m ais m atu rid ad e. M as para e le o verdad eiro am or é o am or de filho, am or eterno, e se sen te feliz sem a n ecessid ad e d c ter “ um al g u ém ” : o im p o rtan te é scr feliz con sig o , se en co ntrar, am ar a si m esm o.
Im p o rtan te é fazer as coisas bem feitas. P a u lo acredita q u e o resto vem daí: p reocupe-se com o agora e d eix e o d estin o lev á-lo ao nde você d ev e ir. A ssim tem sido sua vida. P erso n alid ad e e carreira so lid am en te co n stru íd as sem planos m u ito fechados para o p o rv ir e sem o lh ar para trás com von tad e d e re escrev er o q u e passou.
1
On o m e de Paulo Diógenes
foi o único escolhid o pela t ur m a na prim eira vot ação. Pora os out ros ent revist ados, f oi p reciso r e alizar m ais d u a s vot ações.
Nu m prim eiro m om ent o, f oi d if ícil p ara a e q u ip e d e p r o d u ç ã o e n t r a r em cont at o com ele por t elefo ne, j á q ue o celular dele h av ia sid o r o u b ad o um o se m a n a ant es.
R a q u e l - P a u lo Dió g e n e s, v o c ê é f i l h o d e u m p o l í t i c o
c o n s e r v a d o r; t r a d i c i o n a l, q u e p a s s o u 1 6 a n o s c o m o d e p u t a d o e s t a d u a l ( O s m a r M a ia D ió g e n e s, p re s id e n te d o P a itid o R e p u b lic a n o P ro g re s s is t a ) . S u a f a m í l i a , c o m o v o c ê m e s m o d i z , n ã o t e m
'v e ia a r t í s t i c a \ m a s “v a r iz e s
a r t í s t i c a s ”. A l é m d is s o , v o c ê
e r a b a n c á r i o ( tr a b a lh o u n o B a n c o d o E s ta d o d o C e a rá , B E C , d e 1980 a 198 6), c a s a d o e j á lin h a u m f i l h o .
C o m o u m a p e s s o a q u e
t i n h a a v i d a n e s s e s m o l d e s
r e s o lv e l a r g a r tu d o p a r a s e
g u i r a c a r r e i r a d e h u
m o r i s ta ? A i n d a m a i s n u m a - é p o c a e m q u e o m e r c a d o
d e h u m o r p r a t i c c i m e n t e n ã o e x i s t i a n o C ea rá.. D e o n d e v e io e s s a v o n ta d e d e s e r a r t i s t a ?
P a u lo - D e s d e p e q u e no. E u a c h o q u e a a rte n a s- - c e ( c o m a p e s s o a ) . S e m p re tiv e v o n ta d e d e se r a rtista . N ã o h u m o rista , ( a v o n ta d e d e s e r ) h u m o rista foi c o m o te m po. D e sd e p e q u e n o eu b rin c a v a d e te a tro , na ru a, c o m os m e n in o s. A g e n te e n s a ia v a a s e m a n a in te ir a e n o s á b a d o m o n ta v a o e sp e tá c u lo c c h a m a v a a v iz in h a n ç a . E u a c h o q u e eu j á nasci a rtista . A p e s so a n a sce artista, n in g u ém vira a rtista . T em a lg u n s q u e v ira m h o je em dia. M as eu a c h o q u e eu já n asci c o m e sse d o m . O ( d o m ) d o h u m o r n ã o . O d o h u m o r, re a lm e n te , foi d e p o is q u e eu v im d e s c o b rir q u e eu tin h a o d o m p a ra o hum or.
M a s e m re la ç ã o ao pai p o lítico , n a é p o c a e le a in d a era d e p u ta d o , foi u m a b arra m u ito g ra n d e . P rim e iro p o rq u e sa í d o s m o ld e s f o rm a is e v ire i h u m o rista , u m a c o isa q u e F o r ta le za n ã o tinha. S e g u n d o p o r q u e m eu p rim e iro p e rso n a g e m foi a R a im u n d in h a (c r ia d a n o
f i n a l d a d é c a d a d e 8 0 , e n tr e
1 9 8 6 e 1 9 8 8 . P a u lo , n ã o re
c o r d a a d a t a c o m p r e c i s ã o ) . V estir-se a in d a d e m u lh e r foi p ra q u e b ra r m il b a rre ira s m esm o . Q u e b ra r a b a rre ira de se r a rtista , q u e b ra r a b a rre ira d e fa z e r um p ap el fe m in in o , q u e , na é p o c a , as p e s so a s n ã o e sta v a m a c o stu m a d a s a ver. O b o m d a v id a é isso: v o c ê q u e b ra r b a rre ira s.
R a q u e l - P o r q u e v o c ê e s c o l h e u s e v e s t i r d e m u l h e r ? E u s a r m a q u i a g e m , r o u p a s e s p a l h a f a t o s a s ?
P a u lo - O lan c e d e se v e s tir de m u lh er foi m u ito p o r
aca-"(. . . ) f oi u m a b a r r a m u i t o gr a n d e .
Pr i m e i r o p o r q u e sa í d o s m o l d e s
f o r m a i s e vi r e i h u m o r i st a . (...)
Se g u n d o p o r q u e m e u p r i m e i r o
p e r so n a ge m f oi a Ra i m u n d i n h a . "
so. E u m o n te i o e sp e tá c u lo “O q u e v o c ê s n ã o v ã o p e n s a r ” ( c o m é d ia e s tr e a d a e m 1 9 8 6 ), q u e tin h a a N e id in h a C a ste lo B ra n c o ( a t r i z c e a r e n s e ) , m i n h a e x -m u lh er. E la fa z ia um a m ã e q u e le v a v a a filh a p a ra u m c a b aré . E , de re p e n te , e la ( N e i d i n h a ) d e s is tiu d o e s p e tá c u lo ( p o r c a u s a d e u m a d i s c u s s ã o d e c a s a l) e e u reso lv i f a z e r a m ã e . M a s fo i tu d o m u ita c o in c id ê n c ia . E u d isse: “ V o u f a z e r is s o , v o u f a z e r aq u ilo ” . T u d o aconteceu. A cho q u e tu d o foi o d e stin o .
E u c o m e c e i a f a z e r e s s e e sp e tá c u lo , a d o n a d o C a sb a r ( a n t i g o b a r l o c a l i z a d o n a
a v e n i d a A b o l i ç ã o ) , A n a R iz a to , foi a s sis tir e m e c o n v id o u p ra fa z e r ( q u a d r o s d a p e ç a ) to d a q u in ta -fe ira lá. N a é p o c a , isso em 1986, p o r aí, n ã o e x is t ia h u m o r is ta , n ã o e x is tia n a d a . F o i u m a c o isa q u e e u d isse : “E u v ou, n ã o te
n h o n a d a a p e rd e r” . E fu i c o m a N e id in h a ( n e s s a a l tu r a , o c a s a l j á h a v i a s e r e c o n c i l i
a d o e a a t r i z to p a r a f a z e r o
p a p e l d a f i l h a n a p e ç a ) . E eu f a z ia a m ã e , a d ita m ãe. D e p o is, a N e id in h a d e sistiu e c o m e ç o u a fa z e r p a rte a p e n a s d a p ro d u ç ã o . E u , e n tã o , fiq u e i fa z e n d o (a p e ç a ) s ó . N isso um a s sistiu , o u tro a s sis tiu , e foi c h a m a n d o , foi c h a m a n d o ...
G is e lle - P a u lo , e o p r o c e s s o c r i a t i v o e m g e r a l : c o m
é q u e v o c ê c r ia s e u s p e r s o
n a g e n s ?
P a u l o - O p e r s o n a g e m v o c ê c ria d e tu d o q u e é e n g ra
çad o . U m o lh ar e n g ra ç a d o de - u m a pesso a, um a b oca e n g ra
ç a d a d a o u tra , u m a n d a r e n g ra ç a d o , e v o c ê fa z u m a p e s soa só. Q u a n d o eu id e a liz e i a R a im u n d in h a , e u id e a liz e i aquela m u lh er d o p o vo, a q u e la m u lh e r ig n o ra n te n o p é da - p a la v ra, q u e d iz o q u e tem
v o n tad e de dizer, que n ão fica m e lin d ra n d o p ra d iz e r as c o i sas. A R a im u n d in h a é m u ito isso: é a q u e la m u lh e r q u e d iz o q u e te m v o n tad e , e la n ã o tem b a rre ira s n ão , o q u e q u is e r fa lar, e la fala.
J u li a n a - P a u lo, v o c ê d iz q u e c a d a p e r s o n a g e m t e m
s u a v id a p r ó p r ia . C o m o v o c ê
d á v i d a p r a c a d a p e r s o n a
g e m ? Q u a l é o p o n t o p r i n c i
p a l ? A K a t i t a ( p e r s o n a g e m cria d a p ara o “B c c o do R is o ” , p ro g ra m a que P a u lo id ea liz o u e p ro ta g o n izo u p o r c in c o a n o s na T V D iário), p o r e x e m p l o , v a i s e r a K a tita p o r q u ê ?
P a u lo D ió g e n e s
so as. E a K a tita n ã o , j á é c a re n te . E x is te u m a d ife r e n ç a su p e rle g a l. A s p e sso a s q u a n d o v ê e m a R a im u n d in h a têm a re a ç ã o d e n ã o tocar, e n q u a n to c o m a K a tita e las têm a r e a ç ã o de a b ra ç a r.
( C r i o ) v e n d o as p e s s o a s , a n a lis a n d o . A s v e z e s v o c ê o lh a u m a c o isa e d iz: “ A c h o q u e isso vai d a r um p e rs o n a g e m ” . E n isso o p e rso n a g e m vai a m a d u re c e n d o c o m o te m po. A R a im u n d in h a q u a n d o c o m e ç o u n ão e ra d e s se je ito , o visu al n ão e ra d a q u e le je ito . Isso eu a c h o q u e é tip o u m parto.
R a q u e l - M a s e la n ã o e r a d e s s e j e i t o , v o c ê a r e f o r m u l o u p o r e x i g ê n c i a d o p ú b l i c o ?
P a u lo - N ão . A c h o que é u m a g e s ta ç ã o . V ocê vai v e n d o o m elh o r. T an to q u e a R a im u n d in h a d e d e z a n o s
p ra c á tem o m esm o visu al. -
H o je cm d ia a p e s s o a vê um a m u lh e r c o m a b o c a g ra n d e, c o m o c a b e lo alto , c o m um p e ito e um a b u n d a ( d e e n c h i m e n t o ) e s a b e q u e é a R a i m u n d in h a . E x is te m as m arcas d o p e rso n a g e m .
G is e lle - V o c ê s e i d e n t i f i c a d e a l g u m a f o r m a c o m o s
p e r s o n a g e n s o u e l e s s ã o
m a i s v is t o s n o s o u t r o s ? R a q u e l - E s ó c o m p l e m e n t a n d o : q u a l d e l e s v o c ê
m a i s g o s ta d e i n te r p r e t a r ? P a u lo - A c h o m u ito e n g ra ç a d o p o rq u e os p e rs o n a g e n s s ã o m u ito d ife re n te s d e m im . A té e u m e s m o , q u a n d o e ra m e n o r, a s s is tia a O s T r a p a lh õ es ( p r o g r a m a h u m o r í s ti c o d a R e d e G l o b o e x i b i d o e n
tr e 1 9 7 7 e 1 9 9 5 , c u j o e l e n
c o e r a f o r m a d o p e l o s a r t i s t a s D e d é S a n t a n a , M u s s u m , Z a c a r i a s e o c e a r e n s e R e n a
to A r a g ã o ) e a c h a v a q u e os q u a tr o m o ra v a m ju n to s , n a m esm a c a sa . A g e n te se m p re
te m e ssa im a g e m . V ê o p e r so n a g e m , a té n u m a n o v e la , e ac h a q u e e le é d a q u e le je ito . M as os p e rs o n a g e n s sã o to ta l m e n te d ife re n te s d e m im . O b o m é isso.
G e r a lm e n t e , a s p e s s o a s a ssistia m ao sh o w e q u a n d o eu tira v a a ro u p a d a R aim u n d in h a d izia m assim : “G ente, q u e lo u c u ra , é o u tra c o is a to ta lm e n te d ife re n te !” . Isso ta m b é m é o m ark e tin g d a h istó ria . N ã o te r ia g r a ç a n e n h u m a se v o c ê s u b is s e n o p a lc o , d e s c e s s e e fo sse a m e sm a c o isa . A s v e zes eu m e v e jo e fico: “ S erá q u e so u e u m e s m o ? ” . A té o
" 0 p
e r so n age m você cria de t ud o que
é e ngr açad o. Um o l h a r e n gr aç ad o de
u m a pessoa, u m a boca e n gr açad a da
out r a, u m a n d a r e ngr açad o, e você
f az u m a p essoa só. "
m e n in o q u e tra b a lh a c o m ig o d isse: “E u te n h o im p re ssã o d e q u e é u m e sp írito , sa b e ? P o r q u e a g e n te o lh a p ra ti e até teu o lh ar m uda, q u a n d o tu olha p ra g e n te em c e n a ” .
( P e r s o n a g e m ) é ig u al a f i lho. Q u a l é o q u e v o cê g o sta m a is? C a d a u m te m su a c a- ra c te rístic a , c a d a u m te m sua m a n e ira d e ser, n ã o e x is te o q u e v o c ê g o sta m ais. E x iste é um a m o r d ife re n te p a ra ca d a u m . M a s to d o s cu a d o ro . E c o m o se fo ssem filh o s m esm o. F ilh o , à s v e z e s , a c h a q u e a m ã e o u o pai te m u m p re fe ri d o , m as n ão tem .
G is e lle - V o c ê f a l o u n o s T r a p a lh õ e s . T e r ia a lg u m í d o l o, a l g u m a in s p i r a ç ã o q u e o le v o u a c r i a r e s s e s p e r s o n a
g e n s , a e n t r a r n o h u m o r ? P a u lo - O R e n a to { A r a g ã o ) 6 m eu íd o lo d e sd e p e q u e n o e ach o que de to d o m u n d o d a m in h a g e ra ç ã o . O C h ic o
A nysio, da ép o ca d o C h ico C ity ( p r o g r a m a d e h u m o r d a T V
G l o b o e x i b i d o n a s d é c a d a s
d e 7 0 e 8 0 ) . . . ( p a u s a ) M a s n ão , n ão a c h o q u e tev e n e n h u m a relação d e in sp iração .
O q u e m e m arc o u m u ito é q u e e u m o ra v a n o R io e fui a s sis tir a u m e s p e tá c u lo c h a m a d o D zi C ro q u e te , n o q ual seis b ailarin o s faziam p erso n a g e n s fem in in o s. ( D z i C r o q u e te f o i u m g r u p o f o r m a d o p o r a t o r e s e b a i l a r i n o s c o m o
C i r o B a r c e l l o s , C l á u d i o
T r o v a r e L e n n y D a le , f o r m a
d o e m 1 9 7 2 e d i s s o l v i d o e m
1 9 8 1 . C o m o le m a “a f o r ç a d o m a c h o e a g r a ç a d a f ê - ~ m e a ”, e l e s f a z i a m u m a s á
-tir a a o s t r a d i c i o n a i s b l o c o s
d o s s u j o s d o c a r n a v a l c a
r i o c a ) A q u ilo m e c h a m o u m u ito a a te n ç ã o , a c h e i su p e r d ife re n te e fic o u n a m in h a c a b e ç a a ( id é i a ) d e m o n ta r - um a c o m p a n h ia d a q u e la m a
n e ira e, n ã o sei p o r q u e , n a q u e le s m o ld e s.
R a q u e l - V a m o s v o l t a r s ó u m p o u q u i n h o : C o m o f o i a
s u a f o r m a ç ã o t e a t r a l ? N o
c o lé g io , v o c ê c o m e ç o u a d o
l e s c e n t e . . .
P a u lo - ( I n t e r r o m p e n d o ) Eu c o m e c e i n o C o lé g io B a tis ta. D e p o is, fiz p a rte d o g ru p o d a E r o tild e H o n ó r io ( a t r i z , m é d i c a e c o o r d e n a d o r a d o
c u r s o d e J o r n a l i s m o d a
U n ifo r, n a é p o c a , p r o f e s s o r a ) d a U n iv ersid ad e F ederal d o C e a rá . F a lta r a m p e s s o a s d o e le n c o e e u e n tre i. ( F a z i a m p a r t e d o g r u p o ) o N o n a to A lb u q u e rq u e ( jo r n a l is t a , r a d i a l i s t a e a p r e s e n t a d o r d o
p r o g r a m a B a r r a P e s a d a d a
T V J a n g a d e i r o), a R ita T e i x e i r a (j o r n a l i s t a), o M a r- q u in h o s M o u ra , q u e h o je e m d ia é can to r. T in h a u m b o c a d o d e g e n te q u e e stá h o je se d e s ta c a n d o n o jo rn a lis m o . ( E u ) tin h a u ns 17, 18 anos.
0 prim eiro cont at o ocorreu n u m a q u in t a-f e ir a a n o i te, a p ó s o sh o w d a Ra i m u n d i n h a em u m a b ar roca d a Pr aia d o Fut uro. 0 encont ro foi rápido, p ois os f ã s e sp e r a va m por a u t ógr af os.
1
Ao sa b e r q u e su a irm ã, Gl ó r i a D i ó g e n e s, h a v i a sid o ent r evist ad a no n ú m ero ant erior d a revist a, Paulo brincou: " É b om que t u d o fica em f a m íl i a ".
Enq u an t o Raquel e Giselle f oram conferir o 'sh o w de b ar7 de Paulo, Gabriel foi a o Teat ro Sã o José para assist ir a peça
Três Donzelos
em Busca da Fama.
M as q u a n d o eu ain d a e s tu d a v a n o C o lé g io B a tista, q u e m m e c o lo c o u n o te a tr o fo i o W a ld e n L u ís ( d r a m a t u r g o ), q u e é p ro fe s s o r d e te a tro do C o l é g io C e a r e n s e . E le f o i q u e m ta m b é m m e c o lo c o u n o g ru p o d a E ro tild e , q u e r d izer, n o g ru p o d e le , p a ra e n c e n a r a p e ç a c h a m a d a “ O P a d re c O P o d r e ” ( 1 9 7 8 ) . (A p e ç a ) e ra d o p e s s o a l d a u n iv e rs id a d e , m as foi o W ald en q u e m fez o c a n a l p a ra q u e e u e n tr a s s e . E n tã o , fiq u ei tra b a lh a n d o c o m o W a ld e n e c o m a E r o tild e H o n ó r io , q u e e ra d o g r u p o O p ç ã o (g r u p o d e te a tr o d i r i g i d o p o r E r o t il d e ), até q u e eu p arei o te a tro e fui p ro - R io ( d e J a n e ir o ) .
L á , fiz c u rso s, fui a o te a tro , fiz o q u e eu p u d e fa z e r. F iz c u r s o d e te a tr o , p a rtic ip e i d c a lg u n s e s p e tá c u lo s n o R io. E u tra b a lh a v a n o B a n c o d o E s ta d o d o C e- - a rá , m as o te a tro e ra a q u ilo q u e s e m p r e e s ta v a d o m e u lad o , n u n c a c o n s e g u i largar.
R a q u e l - E v o c ê n ã o g o s t a v a d e s e r b a n c á r i o ?
P a u lo - N ã o , n u n c a g o s tei. E a c h o q u e n ã o te m q u e m g o ste . ( R is o s )
G i s e l l e - S o b r e e s s a q u e s t ã o d a r e l a ç ã o c o m o s p e r s o n a g e n s , d e a R a i m u n - d i n h a s e r u m a m u lh e r . V o c ê p o d e r i a f a l a r u m p o u c o
d e s s a c o i s a d a c o m p a r a
ç ã o q u e a s p e s s o a s t ê m d e
h o m e n s q u e s e v e s t e m d e
m u l h e r ?
P a u lo - É , isso foi m u ito sério, p o rq u e q u a n d o eu c o m e c e i a s p e s s o a s tin h a m u m a im a g e m d o p e rs o n a g e m e m r e la ç ã o à p e s s o a . ( A s s o c i a
v a m ) o c ria d o r à c ria tu ra . S ó q u e eu ten te i m o stra r às p e s so a s q u e a q u ilo e ra um a p ro fissã o , q u e a q u ilo e ra o m eu tra b a lh o . T en h o c e rte z a de q u e fui um d ife re n c ia l e m re la ç ã o
a isso , à q u e b ra d e p re c o n c e i to s m esm o . P o rq u e a té o la n ce d a R a im u n d in h a , a p e sso a só em se r a to r j á e ra m a rg in a lizad a; v e stid o d e m u lh e r, e n tão , d e z m il v e z es m ais. E as p e sso a s p a ssa ra m a re sp e ita r m uito . T anto q u e hoje, q u an to s e x iste m v e stid o s d e m u lh e r? E to d a s as p e sso a s resp e ita m .
A s p e sso a s fa la m d o m a c h is m o c e a re n s e , e e u a c h o q u e n ã o ( e x is te ) . P e lo q u e eu m ostrei, com o tem p o a c h o que isso a c ab o u . Você c h e g a fo ra, n o S u l, as p e sso a s têm m ais p re c o n c e ito d o q u e o p ró p rio c e a r e n s e . A g o r a , p o r q u ê ?
"Ac h o m u i t o e n gr a ç a d o p o r q u e os
p e r so n a ge n s sã o m u i t o d if e r e n t e s
de m im . (...) N ã o t e r ia gr aç a
n e n h u m a se você su b i sse n o palco,
d esce sse e f o sse a m e sm a c o i sa. "
E le s ( c e a r e n s e s ) s a b e m d a tra je tó ria , sa b e m da h istó ria . M a s se eu c h e g a r a m a n h ã no P a ra n á , as p e sso a s v ão v e r a R a im u n d in h a e dizer: “A h , é u m a d ra g ” ( r e fe r ê n c ia à s d rag q u e e n s) a té s a c a r q u e é um a p e r s o n a g e m . A s p e s s o a s q u a n d o a ssiste m ao sh o w , d e p o is d e d ez m in u to s v ê e m q u e é u m a m u lh e r q u e e stá fa la n do, é um a m u lh e r que e stá c o n ta n d o a v id a d e la . E le s q u e b ra m e ssa h istó ria .
G iselle - E s s e p r e c o n c e ito a o q u a l v o c ê s e refere s e ria a o
h o m o s s e x u a lis m o e m si? P a u lo - A o h o m o ss e x u a lism o, lógico. P o rq u e se o cara e stá v e stid o de m ulh er, as p e s soas j á vão logo a sso c ia n d o à im ag em d o ho m o ssex u al. A qui n ão , as p esso as vêem c o m o um tra b a lh o p ro fis s io n a l. C o m o te m a R a im u n d in h a , te m a K atita, tem o Jo sim ar, tem o u tro s p erso n ag en s.
É r i k a - I s s o c h e g o u a
i n t e r f e r i r n a v i d a s o c i a l e m
a l g u m m o m e n t o ?
P a u lo - N ã o ... N o c o m e ço d o tra b a lh o , sim . M as ( s ó ) a té q u e eu m o stra s s e p a ra as pesso as q u e a q u ilo e ra um p e r s o n a g e m , e r a u m tra b a lh o . Isso foi c o m o te m p o m esm o . E u n ã o tiro a ra z ã o d a s p e s s o as, ló g ic o . C o m o te m p o as p e sso a s viram : “ N ã o , a q u ilo é um tra b a lh o d e le ” . E ta n to q u e o n ú m e ro d o p a lh a ç o foi um diferen cial m u ito g ran d e ( P a u lo f a z u m n ú m e r o ‘d r a m á t i c o '* n o f i n a l d e s e u s h o w d e h u m o r . E le r e tir a o f i g u r i n o
d a R a i m u n d i n h a e v e s t e - s e
- d e p a l h a ç o , e n q u a n t o u m a m ú s i c a é r e p r o d u z id a ) . A té ali, e ra o h u m o r, e ra a R a i m u n d in h a , a q u e la c o isa e n g ra ç a d a . N o fin a l d o show , d o p a lh a ç o p ara lá, e ra o se r h u m a n o , e ra o a to r q u e e ra o - P a u lo D ió g e n e s. T e v e um d i
fe re n c ia l m u ito g ran d e . G ise lle - N u m a o u tr a c o n v e r s a q u e a g e n t e t e v e a q u i (d u ran te a p ro d u ção d a e n tre vista), v o c ê f a l o u q u e a s p i a d a s s a e m m u ito d o im p r o v iso . C o m o é q u e a c o n te c e is s o ?
P a u l o - E u a c h o o a to r um a c o isa tão m á g ic a . A s v e zes eu d igo: “ D e o n d e eu tirei isso ? C o m o eu c rie i? ” Eu m e s in to m u ito m a is se g u ro em cim a d o palco d o q u e fora dele. E n g ra ç a d o , n é ? E u e n fre n to m u ito m ais as c o isa s em c im a d o p a lc o d o que n o m eu d ia-a- dia. E é to ta lm e n te ao c o n trá rio d e to d o m undo. A s p e sso a s e m c im a d o p a lc o ficam to ta l m e n te p e rd id a s , e n o d ia - a - dia... P ra m im é to ta lm e n te o co n trário . O p a lc o é m eu p o rto seg u ro , ali eu esto u p ro teg id o .
R a q u e l - V o c ê j á f a l o u t a m b é m , p a r a a e q u i p e d e
p r o d u ç ã o , q u e n ã o v i v e d o
p a s s a d o . Q u e o i m p o r t a n t e
P a u lo D ió g e n e s
P a u lo - ( I n t e r r o m p e n d o ) É o a g o ra , v o cê fazen d o o a g o ra b em feito , o fu tu ro é c e rto . O a g o ra e o futu ro.
R a q u e l - E s s a f o r m a i n s ta n tâ n e a d e l i d a r c o m o t e m
p o le r ia a l g u m a r e la ç ã o c o m e s s e im p r o v is o , c o m o f a t o d e v o c ê n ã o s e g u i r r o te ir o , n ã o
g o s t a r d e e n s a i a r ?
P a u l o - A c h o q u e d e v e ter. T o d a v id a , a c h o q u e fui m u ito irre sp o n sá v e l, m as irres p o n sá v el d e u m a m a n e ira boa, d e um a m a n e ira leg al. C la ro q u e eu sou s u p e r re sp o n sá v e l, s u p e rp o n tu a l n a s m in h a s c o i s a s . M a s e s s a m in h a ir r e s p o n s a b ilid a d e m e n ta l e u a c h o q u e c o n trib u i m u ito - p a ra q u e o tra b a lh o ...
E ssa se m a n a , n o te a tro ( r e fe r in d o - s e à p e ç a “T r ê s D o n z e l a s e m b u s c a d a
F a m a ”, e s t r e l a d a p o r P a u l o D i ó g e n e s, L u i s A n t ô n i o e L u c i a n o L o p e s . E l a e s u a a n t e c e s s o r a , “T r ê s D o n z e l a s e u m a c o m é
d i a ”, s o m a m q u a s e s e i s
a n o s d e te m p o r a d a s e tu r n ê s p e l o p a í s ) , a L u a n a ( d o C r a to , p e r s o n a g e m d e L u c i a n o L o p e s ) falto u e a M a rila c (F u tr ic a , p e r s o n a g e m d o p a r a i
b a n o R e n é D u a r t e c r i a d a
p a r a o B e c o d o R i s o ) fo i su b stitu ir e fic o u m u ito e n g ra ç a d o . E u d isse: “C a ra , se e n tre g a , s a b e ? E s s e é o ú n ic o lu g a r e m q u e v o c ê p o d e se r rid ículo” .
E a g e n te riu , riu , q u e caía n o c h ã o , p o rq u e e le fa z ia tu d o e r r a d o . M a s e u d is s e : “ V á n u m a b o a ” . E é isso q u e é le g al, o h u m o r é isso . T an to q u e v o c ê vai fa z e r um c o m e rc ia l d e h u m o r e te m q u e sa ir o c o m e rc ia l n a p rim e ira o u na s e g u n d a vez, p o rq u e , n a te rc e i ra, já n ã o s e rá m ais n a tu ra l, se rá m e c â n ic o .
G is c lle - E s s a c o i s a d e n ã o q u e r e r d e c o r a r t e x t o
t a m b é m e s tá i n s e r i d o a í, n e s
s e g r u p o d o i m p r o v is o ? P a u lo - O h u m o r é a única profissão n a vida q u e você pode ser rid ículo , q u e te dá o direito d e ser ridículo. E p o r que você vai se p reo cu p ar? A n atu ralid a d e é a m aio r c aracterística de um b o m hum orista. À s vezes, um h u m orista q u e está c o m e çan d o n ão d á ce rto p orque ele
faz tanta careta, q u e perdeu (a
n a t u r a l i d a d e ) , e n te n d e u ? E natural ser espontâneo.
N a tá lia - O s p e r s o n a g e n s m a i s f a m o s o s , c o m o a K a tita
e a R a i m u n d i n h a , t ê m u m a
a l m a f e m i n i n a , t ê m u m a f e
-"
Eu e n f r e n t o m u i t o m a i s a s coisas
e m cim a d o p alc o d o q u e n o m e u
d i a - a - d i a . E é t o t a l m e n t e ao
c o n t r ár i o de t o d o m u n d o . (...) 0
p al c o é m e u p or t o se g u r o . "
m i n i l i d a d e m u i t o f o r t e , e f a
z e m m u i t o m a i s s u c e s s o d o
q u e o s p e r s o n a g e n s m a s c u
lin o s . A q u e s e d e v e is s o ? O
f e m i n i n o é c ó m i c o ?
P a u lo - N ã o , eu n ã o sei. E u te n h o u m a lig a ç ã o m u ito g ra n d e c o m o fe m in in o . É im p re ssio n a n te c o m o eu m e s in to m u ito m ais à v o n tad e fa z e n d o um p a p e l fe m in in o d o q u e um m ascu lin o . E , n ão sei, acho q u e fo i a m in h a f o r m a ç ã o . C o m o e u c o m e c e i c o m a R a im u n d in h a , is s o m a r c o u m u ito . A c h o o m u n d o fe m in i n o m u ito in te r e s s a n te , a c h o s u p e r leg a l tra b a lh a r c o m ele.
R a q u e l - J á q u e n ó s e s t a m o s f a l a n d o s o b r e m u
lh e r e s , c o n ta p r a g e n te c o m o
f o i q u e c o m e ç o u a R a i m u n
d i n h a , c o m o f o i q u e v o c ê
c r i o u .
P a u lo - E u e sta v a n o te a tro , a g e n te m o n to u o e s p e tá c u lo “ O q u e v o c ê s n ã o v ã o
p e n s a r” , e a N e id in h a fa z ia o p ap el d e u m a m ã e q u e le v a v a a filh a p a ra u m c a b a ré . A m ãe m u ito d oida, a filha m u ito c re n te, e a í e la d e sistiu e eu reso lv i f a z e r e ssa m ãe.
R a q u e l - I s s o v o c ê j á c o n to u . M a s v o c ê n ã o d i s s e
q u e u m d ia , p e g o u u m ô n i- b u s e ...
P a u lo - ( I n t e r r o m p e n d o ) S im , aí eu c o m e c e i a fazer e a e n s a ia r e ssa m ãe. E u p e g u e i um ô n ib u s u m a v e z - p a ra ir d a C id a d e 2 .0 0 0 ( c o n j u n t o h a b i t a c i o n a l p r ó x i m o à P r a ia d o F u tu r o ) p a ra o B E C ( “B E C d o s P e i x i n h o s ”, n o
C e n t r o , s e d e o n d e t r a b a -- l h a v a ) - e v in h a u m a m u lh e r
n o ô n ib u s b e m e sp o n tâ n e a , c o n ta n to a v id a d e la : q u e ia p ro h o sp ita l, q u e ia n ã o sei o q u ê , q u e tin h a fe ito s a lg a d i n h o a té d e m a d ru g a d a . E n is so eu d ig o : “ M e u D e u s, q u e - leg a l, u m a p e sso a tão e s p o n tâ n e a , tã o n a t u r a l ” . T o d o m undo d o ônibus o lh an d o e p ra e la n ã o e ra nada.
E u d is s e q u e s e ria m u ito legal se e u fiz e sse u m p e rs o n a g e m d e s sa m a n e ira , d e s sa m u lh e r e s p o n tâ n e a , q u e n ã o tem p a p a s n a lín g u a , q u e n ã o deix a p ra b rig ar c o m o filho em c a sa , g rita m e sm o n o m eio d a ru a . U m a m u lh e r, c o m o eu d ig o , e sp o n tâ n e a .
N a t á l i a - M a s e a O z e - n i r a ? S e u i r m ã o , A n d r é
D ió g e n e s , f a l o u (e m p ré -e n - tre v ista ) q u e a R a i m u n d i n h a t i n h a u m a i n s p i r a ç ã o m u i t o
g r a n d e n u m a e m p r e g a d a
q u e v o c ê s t iv e r a m , O z e n ir a . P a u l o - N ã o , n ã o te v e m u ito n ão . F o i m ais e sse la n ce d a s m u lh e re s m e sm o . Q u e e u c o m e c e i a o b s e rv a r, p o r e x e m p lo , n o C e n tro , a m u lh e r b rig a n d o c o m o filh o . T u d o a ssim . O te a tro é m u ita o b s e r v a ç ã o , c h a m a -s e la b o ra tó rio . V ocê c o m e ç a a o b s e rv a r m u
i-P
q íg g a r a n t i r u m a b o avist a - al é m d e se livrar d e se r alvo d a s b r in cad e i r a s- G a b r i e l t rat ou d e se ac o m o d ar no m e zan in o.
Eles d e st acar am a s q u a l i d a d e s d o p r o f i ssi o n a l Pau lo Dióge n e s: um p r o f e ssor na art e d o h u m or com f o r m a ç ã o t e at r al e m a i s d e 2 0 a n o s d e exp e riência.
Fizeram quest ão t am b ém de e lo giá-lo com o pessoa, revelando o respeit o com que Paulo oferece conselhos n o s bast idores, sem fazer cob ranças ao s colegas.
to a q uilo q u e c h a m a a te n ç ã o e v o c ê c o m e ç a a an alisar. Foi ( in s p i r a d a ) m u ito m ais n e ssa s m u lh e res d e su b ú rb io , batalha- d o r a s e ig n o r a n te s , q u e eu d ig o , n o p é d a p a la v ra .
E r i k a - E s s a e s p o n t a n e i d a d e é u m a c a r a c t e r í s t i c a b e m c e a r e n s e . A R a i m u n - d i n h a t e r i a n a s c i d o n o S u l ?
P a u lo - N unca, im p o ssív e l! E la tem tu d o q u e u m a m u lh er c e a re n se tem , q u e é b atalhar, lu ta r , a c r e d i t a r , s o n h a r . A R aim u n d in h a é n ordestin a, é do interior. E c o m o to d a m u lh e r q u e sai d o in te rio r e q u e b a ta lha, q u e luta... A c h o m u ito le gal isso. T e m m u ita m u lh er com história m aravilhosa que - sai d o interior, q u e estu d a, q u e se d e sta c a . E u v e jo a R a im u n d in h a m u ito c o m o um a m u lh er nordestin a, com força, c o m garra.
G i s e l l e - N o R i o d e J a n e i r o v o c ê p a s s o u d o s -
1 9 a o s 2 2 a n o s . V o c ê te m
e m m e m ó r i a a l g u m p e r s o n a
g e m m a r c a n t e c ju e v o c ê t e
n h a c r i a d o l á ?
P a u lo - N ã o , lá n ã o tem n e n h u m p e rso n a g e m . L á, in c lu siv e , fo i a é p o c a em q u e eu m ais e s ta v a fa z e n d o c u rs o d e teatro . O h u m o r v e io a a flo ra r aq u i. A p e s a r d e q u e lá n o R io a c o n te c e u u m a c o is a m u ito e n g ra ç a d a . E u c o n h e c i o C iro S a n to s ( a t o r e h u m o r i s ta c a r io c a , d i v i d i u p o r s e i s a n o s
o p a l c o c o m P a u l o D i ó
g e n e s . O s d o i s f a z i a m o e s
p e t á c u l o “C a v i a r c o m R a p a
d u r a ”). ( P a u s a p a r a p e g a r
c ig a r r o d e n tr o d a c a s a ; n ã o
a c h a n d o , n a v o lta , e l e p e r c e b e q u e e s t a v a n o s o f á a o s e u la d o , o t e m p o to d o ).
E stáv am o s o n d e ? E n tão , no R io de Ja n e iro foi q u a n d o eu c o n h eci o C iro e a g e n te re so l v e u m o n ta r um esp etácu lo . E le j á e s ta v a tr a b a lh a n d o n u m a c a sa ( d e s h o w s ) . E s s e fo i o
e m b riã o d a histó ria, o c o m eço m esm o . E u co m e c e i a tra b a lh ar c o m ele e vi q u e tin h a um lance d e hum or. E u entrava pela p laté ia e b rin cav a c o m o p e s soal. M as u m a c o isa n u m bar, um a co isa bem ...
R a q u e l - F o i lá , e n tã o , o n d e c o m e ç o u e s s a e x p e r i ê n
c ia e m f a z e r te a tr o e m b a r ? P a u l o - F o i . E u e o C iro já faz íam o s lá. D a í foi q u a n d o eu v im p ra cá...
G is e lle - M a s is s o j á h a v ia s e c o n s o l i d a d o l á ?
P a u lo - N ã o , não. E le tra b a lh a v a n u m b a r e m e c h a m ou. E c o m o eu faz ia c u rso
" 0 h u m o r é a única p r o f i ssão na
v i d a q u e você p o d e ser rid ículo. (...)
E p or q u e você vai se p r e o c u p a r ? A
n at u r a l i d a d e é a m a i o r caract eríst ica
de u m b om h u m o r i st a . "
d e te a tro , eu fu i. N isso a g e n te fic o u em te m p o ra d a u m te m po. F o i só n u m b ar m esm o , foi um a co isa bem inform al. A í eu c o m e c e i a fa z e r um p e rs o n a g e m su p e re n g ra ç a d o e fui to m an d o a h istó ria d o sh o w pelo lad o d o hum or. F o i o c o m e ç o . D a í eu v im -m e e m b o ra.
Q uando eu voltei d o R io, vi que no C eará tin ha m uitos gru pos de teatro superinteressantes, c o m o o d o O s w a ld B a rro s o ( d r a m a tu r g o e j o r n a l i s t a c e a re n seJ, que eu participei (P a u lo f o i c o a d j u v a n t e n a p e ç a “O C a ld e ir ã o”), com o outros gru pos, m as não tinha a m olecagem cearense, u m grupo de com édia, de humor. A s coisas eram m uito intelectuais, m uito fortes. F ala vam d a pol ítica, d a seca, das não sei de quê, não sei de quê. D aí eu digo: “G ente, tem essa lacu na. Está faltando” .
F o i q u a n d o reso lv i m o n ta r o g ru p o , isso p o rq u e j á tin h a
v isto o D zi C ro q u e te e já tin h a tra b a lh a d o c o m o C iro . D a í eu p e g u e i a lg u m a s p e s s o a s d o C A D ( C u r s o d e A r t e D r a m á t ic a d a U F C ) e m o n te i e s s e g ru p o . F o i m ais ou m en o s p o r a í q u a n d o c o m e ç o u .
N a t á li a - M a s a c h o q u e h á u m a o b s c u r i d a d e e m r e
l a ç ã o a s e e x i s t i a u m m o v i
m e n to f o r t e d e h u m o r e m b a r n o R i o d e J a n e ir o . E r a s ó o C ir o S a n t o s ?
P a u lo - N ã o , n ã o tin h a . O C iro foi c o n v id a d o p a ra m o n tar u m e s p e tá c u lo n u m a c asa de sh o w s e m e c h a m o u p ara fa z e r c o m e le. M a s e ra um a c o isa q u e n e m tin h a n o R io , - e q u e a té h o je n ã o tem . A g o
ra é q u e e stá c o m e ç a n d o . F o i u m a c o is a m u ito a m a d o ra , m as m u ito leg a l, p o rq u e foi u m a g ra n d e e x p e riê n c ia e m re la ç ã o ao tra b a lh o m e sm o .
E r i k a - O i n í c i o d a s ■ s u a s a p r e s e n t a ç õ e s e m b a
re s f o i u m d o n o d e b a r q u e
c h a m o u (v o c ê ), q u e c o n h e c i a o s e u t r a b a l h o , o u f o i
v o c ê q u e a p r e s e n t o u ? P a u lo - E u e s ta v a n o te a tro c o m a p e ç a “O q u e v o c ê s n ão v ã o p e n s a r” e a d o n a d o C a sb a r, A n a R iz a to , a s sistiu e m a n d o u m e c h a m a r p ra p e r g u n ta r se eu n ão p o d ia fa z e r e sse tra b a lh o n o b a r d e la , às q u in ta s feiras. E ra u m q u a d ro d e d ez m in u to s. A í c o m e c e i a fa z e r c o m a N e id in h a .
-P a u lo D ió g e n e s
as assistiam , a í diziam : “pô, que le g a l, v o u le v a r p ro m e u b a r” . A s p e s so a s n ã o tin h a m n o ç ã o d o q u e era.
M a s u m a c o isa que eu s e m p re d iss e é q u e n a m in h a vida, tu d o a c o n te c e u , n a d a e u p ro g ram e i. A s c o isa s fo ra m a c o n te c e n d o e eu d e ix e i as c o isa s a c o n te c e re m . L ó g ic o q u e cu p l a n t e i p a r a q u e a s c o is a s a c o n te c e s s e m , n ã o e s p e r e i. M a s eu fui faz e n d o , fui v e n d o o q u e é q u e dava.
Q u a n d o c o m e c e i a fa z e r h u m o r, n ã o s a b ia fa z e r hum or. A c h o q u e n ã o . N ã o tin h a a m a líc ia d o hum or. E o p ú b lic o n ã o sab ia a s sis tir a hum or. E fo i m u ito le g a l p o r q u e - c re sc i ju n to c o m o p ú b lic o . O p ú b lic o foi a p re n d e n d o a a s s is tir a h u m o r e e u fui a p re n d e n d o a fa z e r hum or.
G a b r ie l - E m r e la ç ã o à s i n f l u ê n c i a s e s t é t i c a s p a r a , p r i n c i p a l m e n t e , a - p e r s o n a g e m R a i m u n -
d i n h a . T e m a l g u m a i n f l u ê n
c i a d o t r a n s f o r m i s m o , d a
q u e s t ã o d o f i g u r i n o e s p a
l h a fa t o s o , d o s e n c h i m e n t o s ? P a u lo - N ão. E engraçado; eu estav a c o m en tan d o o n tem lá no teatro q u e tin h a um p reco n ceito m uito g ran d e co m a per so n a g e m n o c o m e ç o p o rq u e (e u ) n ã o q u e ria c o lo c a r m eia. ( E u ) dizia: “N ão, eu sou u m ator fazen d o que estou fazendo u m papel fem inino. E u n ão vou b o tar m eia pra c o b rir o ca b elo da perna, co b rir o cabelo d o peito” . M as, esteticam ente, fica m uito feio o visual. F ica sujo.
A té m e c o n v e n c e r d isso foi m u ito d ifíc il. F o i n u m p ro g ra m a e leito ral q u e fiz - q u e acho q u e f o i o g r a n d e b o o m d a R a im u n d in h a - q u e tin h a a j a n e la ... N ã o se i se v o c ê s se le m b ra m , v o c ê s e ra m m u ito p e q u e n o s ... “ A b re a ja n e la , R a im u n d in h a !” . E ra um q u a d ro eleitoral q ue tinha em 1990.
N a tá lia - P a r a q u a l c a n d i d a t o ?
P a u lo - Eu nem m e lem bro ( O c a n d id a to e r a C iro G o m e s, a t u a l m e n t e m i n is tr o d a I n t e
g r a ç ã o N a c i o n a l , q u e s e r i a e le ito g o v e r n a d o r d o E s ta d o n a q u e la o c a s iã o ) . S ó sei q u e eram duas janelas, nas quais fi c a v a m a R a im u n d in h a e a M aristela. Isso foi o auge m es m o, que estourou n o C eará intei ro! A g ente foi para os interiores e foi um a confusão. Foi assim o q u e m arcou m uito m esm o, que deixou d e ser cm bairros - B eira M ar, Praia d o F u tu ro e A ldeota - e partiu para o C eará inteiro.
". . .
vi q u e n o Ce ar á t i n h a m u i t o s
g r u p o s d e t e at r o su p e r i n t e r e ssan t e s,
c o m o o d o Osw a l d Ba r r o so , (...) m a s
n ã o t i n h a a m o l e c a ge m ce ar e n se,
u m g r u p o d e c o m é d i a . "
F o i q u a n d o o C e a rá fic o u c o n h e c e n d o a R a im u n d in h a . E n isso , eu c o m o p e ito c a b e lu d o , o d ire to r d isse : “ T ap a e sse c a b e lo , q u e as p e s so a s d a te le v isã o e s tã o re c la m a n d o , as p e s s o a s q u e a s s is te m ” . E a í fo i q u a n d o ta m b é m eu fui ta p a n d o , v e n d o a p a rte e sté tic a m e sm o d a c o isa .
G a b r ie l - E a m a q u ia g e m , a p e r u c a , i s s o t u d o v e m d e
o n d e ?
P a u lo - O m ais e n g ra ç a d o é q u e n o c o m e ç o a m a q u ia g em e r a m a is s im p le s . P o r q u e , q u a n d o v o c ê ( a l g u é m ) c o m e ç a u m p e rso n a g e m de h u m o r, o m al é esse: p o rq u e , c o m o v o c ê e stá c o m e ç a n d o , v o c ê se e m p o lg a . A í v o c ê c h e g a n o c a m a rim e b o ta d ez m il c o isa s ern c im a d e v o c ê . V ocê n ã o tem o q u e fa z e r e vai se e m p o lg a n d o . O p e rso n a g e m vai se to rn a n d o inv iáv el p a ra v ocê fa z e r três sh o w s p o r d ia, p ra
eu v e stir a R a im u n d in h a três v e z e s p o r d ia ... T a n to q u e a K a tita é s u p e rs im p le s : u m a p e ru c a , u m b a to m , u m c o tto n e p ro n to .
A liá s , to d o s o s p e r s o n a g e n s já fo ra m m u ito m a is p e sa d o s, to d o s. E h o je e m d ia v o c ê vê q u e e le s e s tã o to d o s m ais lev es; a R o s sic lé ia e stá m u ito m ais lev e. E s tá m u ito m ais v iáv el. A R a im u n d in h a , in c lu s iv e , h o je , eu e s to u até to m a n d o m ais v iáv el. P o rq u e a g e n te vai se e m p o lg a n d o : “É su p e rle g a l de fa z e r e sse o lh o , ai, n ã o , vou ta p a r isso, v o u fa z e r...” . A té o p ro c e s s o d e c ri a ç ã o m e sm o , é m u ito leg al. - É a g e s ta ç ã o m e s m o . M a s
h o je eu a c h o q u e te m q u e se r m u ito m ais sim p les.
R a q u e l - O v i s u a l d a R a i m u n d i n h a l e m b r a u m
p o u c o o d e u m a d ra g queen. C o m o v o c ê d i s s e , b a s t a - s a i r d o C e a r á p a r a q u e a s
p e s s o a s c o m e c e m a c o m p a
r a r c o m d r a g q u e e n . E s s a
a s s o c i a ç ã o i n c o m o d a ? P a u l o — N ã o in c o m o d a n ã o , p o r q u e e u a c h o d r a g m a ra v ilh o so . In c o m o d a p o r q u e é u m tra b a lh o ... O q u e é a d r a g l A d r a g g e ra lm e n te n ão tem tex to ; a d r a g é visu al. O q u e m e in co m o d a é isso: é p o r q u e eu te n h o to d a u m a b a g a g e m d e h u m o r... M a s eu a c h o q u e c o m o eu c o n s e g u i q u e brar... E u e s ta v a a té p e n s a n d o n isso e ssa se m a n a , c o m o eu c o n se g u i q u e b ra r as b a rre i ra s d o C e a rá , eu c o n s ig o q u e 1 b ra r a d o B ra sil tam b é m . Isso é tu d o u m a q u e s tã o d e tem p o .
s
I ir ik a - E x i s t e u m a h i s t ó r i a d e v i d a d a R a i m u n
d i n h a ? U m a t r a j e tó r i a d e la ? P a u lo - N a s c im e n to ... O e n g r a ç a d o é q u e e la é d e C ra te ú s ( m u n i c í p i o d o s e r tã o c e n t r o - o e s t e d o C e a r á , a c e r c a d e 3 4 0 k m d e F o r t a l e z a ) e eu n ã o c o n h e c ia n e m
A p ré-enf r evisf o e a ent r e vist a f o r am f e it as n a resi d ê n c i a d e Pa u l o , u m a chácara n o m u n ic íp io d o Euséb io. A casa é cercada por ár vores e cant eiros de flores.
No d ia da ent revist a, h o u
ve a l gu n s percalços, o que at r aso u o en con t r o p ara 1 4 : 4 0 h ; est ava m ar cad o p ara 1 4 horas.
Logo q ue ent r am os na cosa d e Paulo, Raq u e l o b se r vou e q u ip am e n t o s d e gi nást ica corp oral. "L á em casa, a gent e com pr ou e vir ou cabide de r o u p as", c o m p ar o u a est ud ant e.
C ra te ú s . P o rq u e u m a a mig a m in h a e ra d e C r a te ú s , e eu b rin c a v a m u ito co m e la d iz e n d o q u e a R a im u n d in h a e ra (d e C r a te ú s ) . E la tra b a lh o u c o m i g o , h o je e m d ia e la m o ra n a A r g e n tin a . B r in c a v a m u ito c o m e la , d e q u e ( a R a i m u n d i n h a ) e ra d e C r a te ú s . M a s c h e g o u u m a h o ra q u e eu senti a n e c e s s id a d e d e ir a C ra te ú s.
A í eu d iz ia q u e e la e ra das C a b a ç a s, q u e até h o je eu digo, q u e é u m d istrito d e C ra te ú s. E u fu i lá, e s c o lh i a c a s a d a R aim undinha. T anto que, q u a n d o falo , eu v e jo to d a a cen a. E u v e jo a c a sa , e u v e jo a rua. Q u e te m q u e ter, p ra n ã o fic a r a q u e le v a z io , v o cê fa- - lan d o n o v azio . H o je te m a c a sin h a d e la lá, q u e eu e s co lh i, a rua em que ela m ora, tem to d o u m ...
É r i k a - E l a te m n a m o
r a d o ? E x i s t e m p e s s o a s
a l é m d e l a . . . ?
P a u lo - T em , tem . E la tem um n a m o ra d o q u e é a ta c a d ista : d á a ta q u e d e h o ra em h o ra. ( R is o s ) R a d ia lista , q u e c o n se rta rád io s. T u d o na c a b eça d ela.
R a q u e l - Q u a n d o c h e g a lá e m C r a te ú s o p o v o c o n fu n d e
o P a u lo c o m a R a im u n d in h a ? P a u l o - N ã o , o p e s s o a l c o n fu n d e m u ito é q u e eu sou d e C ra te ú s. É e n g ra ç a d o . E u, P a u lo , sou de C ra te ú s ( P a u lo n a s c e u n o R io d e J a n e ir o ) .
R a q u e l - M a s a s p e s s o a s n ã o tir a m b r in c a d e ir a , l i b e r
d a d e , c o m o P a u lo D ió g e n e s ? P a u lo - N ã o , a c h o tão e n g ra ç a d o ... E u a c h o m u ito e n g ra ç a d o . Q u a n d o eu c o m e c e i a R a im u n d in h a , tin h a e ssa h is tó ria m u ito d e as p e sso a s c h e g a re m ao c a m a rim ... Já a c o n t e c e u c o m i g o , q u a n d o e u c o m e c e i: “ A i, n ã o sei o q u ê , b ic h in h a !” . A í eu: “ O p a , b o a n o ite , p o is n ã o ” . Q u e r d izer, a q u e la c o isa de d ize r: “ O p s,
p e ra a í” . M a s d e u m a m a n e i ra m u ito leg al, d e u m a m a n e i ra e d u c a d a , q u e a s p e s s o a s re s p e ita s s e m .
G is e le - A c o n t e c e u rn a is a q u i o u f o r a ?
P a u lo - A q u i, n o c o m e ç o . M u ito . Já p a sse i m il c o isa s e m re la ç ã o a isso , a p re c o n c e ito , tu d o . M as o q u e eu a c h o legal h o je é cu p a ra r e dizer: P ô , q u e le g a l, né? E u c o n se g u i p a ssa r p o r cirna d iss o tu d o , c o n se g u i fa z e r co m q u e as p e sso a s re s p e ita sse m , m o stra r às p e s so as... É m u ito legal isso.
J u li a n a - P a u lo , v o c ê f a z te a tr o , bar, TV, r á d io...
"Eu est ava at é p e n sa n d o n isso essa
se m an a, com o eu con se gu i q u e b r a r
as b ar r e i r a s d o Cear á, eu c on sigo
q u e b r a r a d o Br asil t am b é m . Isso é
t u d o u m a q u e st ão de t e m p o ".
P a u l o - R á d io , liv r o ... ( R i s o s )
J u l i a n a - U m d e s s e s d á m a i s p r a z e r ?
P a u lo - O d e io te le v isã o . P o d e c o lo c a r aí. ( R is o s ) N ão g o sto d e tele v isã o .
R a q u e l - P o r q u ê ? P a u lo - E u a c h o m u ito le gal o p ro c e sso c ria tiv o d e te a tro. V ocê e s tá ali c o m o p ú b li c o , n a q u e la h o ra . P o r q u e a tele v isã o n ão d e p e n d e d e você. N ã o a d ia n ta a c h a r q u e vai g ra v a r u m p ro g ra m a - v o c ê q u e u m d ia p re te n d e r fa z e r te le v i s ã o - v o c ê v ai g r a v a r u m p ro g ra m a e vai achar... A í c h e g a em c a sa , v o cê a ssiste e n ão foi n a d a d aq u ilo q u e v ocê im a g in o u . P o rq u e o c a ra d o c o rte c o rto u e rrad o , a ilu m in ação foi m al fe ita , o so m fa lh o u um a h o ra ... V ocê n ã o sa b e o q u e vai d a r o tra b a lh o .
J u l i a n a - E n o s e s p e t á c u l o s a o v iv o ?
P a u lo - A í é m elh o r, p o r que d e p e n d e d e você. É v ocê e você. É m u ito legal q u a n d o v o c ê tem a te le v is ã o e v o cê tem c o m o arm a tu d o isso. Q ue não m o stra m u ito o teu talento . P o rq u e tem um a ‘p u ta ’ ilu m i nação, u m ‘p u ta ’ som , toda um a e stru tu ra q u e tira um p o u c o do te u ta le n to q u e m o s tra tu d o isso. M as eu não ( g o s to ) . N o p ro g ra m a d o T om ( C a v a l c a n
te , “S h o w d o T o m” , n a T V R e c o r d ), e u e s to u p a s s a n d o d ific u ld a d e s , p o rq u e eu n ã o gosto . O p esso al c h e g a o ( d iz ): “ P aulo, q u a n d o tu c h e g a na te lev isão , tu m u d a to ta lm e n te ” .
P o rq u e eu não gosto .
R a q u e l - M a s t o r n a o a r tis ta b e m m a i s c o n h e c id o . T e m e s s a v a n ta g e m , n é ?
P a u lo -T e m , é p o r isso que eu e sto u fazen d o (o p r o g r a m a ). M as eu preferiria não fa zer. E u faço há cin co anos no - B eco do R iso e fazia... P orque eu sou superprofissional, entra va no estúdio e “ vam os gravar! V am os!” E “p a ro u !” E... M as não é o que m e d á prazer, tanto q u e eu saí. ( C o m o o c o n tr a to p r e v ia q u e a s a íd a d e le s ig n i
f i c a r i a o f i m d o B e c o , a p e n a s
r e p ris e s s ã o v e ic u la d a s a tu a l m e n te ) D epois d e cin co anos do B eco e u d isse “O , gente, está bom , j á fo i” . Eu não gosto. O te atro eu acho m ágico.
R a q u e l - E a K a t i t a é m a i s c o n h e c i d a d o q u e a R a i m u n d i n h a ?
P a u lo - M e n in a , d e p e n d e . E u a c h o m u ito e n g ra ç a d o . N a rua, é. P r o p o v ã o , é a K a tita . P o r c a u sa d a te le v isã o . O p o v ão , m esm o . M as a R a im u n d in h a, n o m eio im p re n sa , no m e io n ã o sei o q u ê , é m a is r e s p e ita d a . A K a tita é m a is popular.
G is e lle - C o m o v o c ê f a lo u a n t e r i o r m e n te , o s e u b e r
P a u lo D ió g e n e s
c o n s t r u ç ã o d o s p e r s o n a
g e n s ... Q u a l a d i f e r e n ç a d o
te a t r o p r o h u m o r d e b a r e s ? P a u lo - É outra escola. Po r e x e m p lo , a m aio r e sc o la que ex iste, eu acho, p ro h u m o r do C e a rá , é o bar. P o rq u e v ocê c h e g a n o b a r m e ia -n o ite ... E m uito difícil. Inclusive as pesso as de teatro ( d iz e m ) “ A h, p o r q u e faz shovv d e h u m o r cm bar, é coisa fácil” . É ao contrário.
A co isa m ais difícil q u e tem é v ocê en trar m eia-noite no bar, e p a ra r q u e as p esso as b eb am , p a ra r q u e as p e sso a s p a q u e rem , p a ra r q u e as p e sso a s c o n tem o p ro b le m a p ro o u tro e p re s te m a te n ç ã o e m vo cê. T e m q u e te r u m a e n e rg ia m u ito g ran d e. O q u e a c o n te c e ? Q u a n d o v o c ê c h e g a n o bar, v ocê tem q u e se r rá pido. E q u a n d o v ocê c h eg a n o teatro , é m u ito fácil. U m , q u e v o c ê já p a g o u , e n tã o a ssiste nem q u e n ão qu eira. - Se to rn a m u ito m ais fácil.
O h u m o r q u a n d o sai d o C e ará c viaja, c o m o a g e n te viaja, as p e sso a s fic a m d e s lu m b ra d a s p o rq u e v ocê p ega um tea tro e ‘p á p á p á p á ’, as p e sso a s, e m u m a h o ra e m eia, ficam : “ P ô , term in o u ? Q u e co isa rá p id a!” N ã o foi rápido, é p o rq u e v o c ê é rápido. T em q u e ter a d in âm ic a d o bar. Q u a n d o vem h u m o r de fora, você p eg a um h u m o rista até bom , q u e faz te a tro n o S u l, b o ta ele n u m bar aq u i, é um a m erda! N ã o ren d e d e m an eira n en h u m a.
A g o ra, assim : q u em e stá no bar, re n d e d e m a is n o te a tro . M a s q u e m fa z só te a tro e fo r p ro bar, p ro n to , a c ab o u . P o r q u e e le é m ais lento, é um o u tro tip o d e hum or. Eu a c h o a s sim : h u m o r d e te le v isã o u m , h u m o r d e rá d io o u tro , h u m o r d e b a r o u tro . S ã o e stilo s to ta l m e n te d ife re n te s; v o c ê fa z e r u m tea tro , v o c ê fa z e r u m a te le v isã o ... É o u tra co isa.
Q u a n d o eu c o m e c e i a fa z e r te le v isã o , eu: “ A a a a h , n ã o sei o q u e ” ( g r i t a n d o ) . E o d i reto r: “ O q u e c isso, m e n in o ? T u tá n u m a te le v isã o , fala b a i xo! D á p ra e s c u ta r” . N o te a tro , o m o v im e n to de te a tro é m u ito g ran d e . O d e te le v isã o é m u ito c o n tid o . V o c ê n ã o p o d e , cm te le v is ã o , e s ta r se a b rin d o to d o ( g e s t ic u l a n d o ) . V ocê a p re n d e , c o m o tem p o .
G i s e ll c - V o c ê f o i p i o n e i r o n o h u m o r d e b a r . C o m o a c o n t e c e u p r a v o c ê ?
F o i p o r f a l t a d e o p ç ã o ?
C o m o c o m e ç o u e s s a s u a
e n t r a d a n o b a r ?
"O d
e i o t e l e visão. (...) n ã o d e p e n d e
de você. (...) Você assist e e n ã o f oi
n a d a d a q u i l o q u e i m a gi n o u .
Po r q u e (...) a i l u m i n a ç ã o f oi m al
f eit a, o so m f a l h o u u m a h o r a . "
P a u lo - Q u an d o eu c o m e cei a fa z e r os e sp e tá c u lo s de te a tro , q u a n d o a m e n in a d o C a s b a r m e c h a m o u , a A n a R izato, eu vi q u e as pessoas não iam . T eatro , a n tig a m e n te , n a m in h a ép o ca, e ra um final de sem ana, quando iam os vizinhos e os am igos. E não ex istia críti ca, p o rq u e os vizinhos achavam legal, e os am igos tam bém , lógi co. P o d ia estar um a m erda, m as todo m undo elogiava.
E eu sen ti n e c e s s id a d e d e a n g a ria r p ú b lic o . C o m o d iz o M ilto n N a sc im e n to ( c a n to r ) , o artista tem d e ir ao n d e o p o v o está. E u d igo: e stá n o s b ares; v o u p ro s b ares. L e g a l, p o rq u e é a q u e la c o isa d e c o n h e c im e n to. E é u m p ro c e sso de e s ta r n os b a re s, d e a p e sso a c o n h e cer, p a ra d e p o is eu v o lta r p ara o tea tro . E ter o p ú b lico .
T u d o eu q u eria fazer, m as eu q u e ria fa z e r c o m a lg u é m v en d o . O a rtista só, e m c im a
d o palco, é doido, sem ninguém , fala n d o so z in h o . D a í q u a n d o tem p ú b lico , é artista. ( R is o s ) E u d izia sem pre: “ N ão, tem de ter público. A gora, (se ) n ão tem , eu v o u a trá s. Já q u e e le n ã o v em a m im , eu vou a e le ” .
J u l i a n a - O p ú b l i c o d o s b a r e s f o i s e m p r e r e c e p t i v o ?
S e m p r e c o n c o r d o u c o m a
R a i m u n d i n h a , g o s t o u d e s d e
o c o m e ç o d a s p i a d a s ? R a q u e l - O u r e je ita v a , s e
s e n t i a d e s r e s p e i t a d o ? P a u lo - N ã o , n ã o . A c h o m u ito e n g ra ç a d o , se m p re eu tiv e u m a s o rte m u ito g ra n d e co m os p e rso n a g e n s. T e v e ( r e
j e i ç ã o ) n o c o m e ç o , a té m es-- m o p e lo p re c o n c e ito . V ocê
te m q u e s a b e r c o m q u e m v o cê b rin c a . A s p e s so a s d i zem : “ A h , p o rq u e o h u m o r tem b rin c a d e ira c o m o p ú b li c o ! ” T e m . M a s v o c ê o lh a a n te s p a r a s a b e r a p e s s o a - c o m q u e m v o c ê vai brin car.
E u olh o . N u n c a p a sse i p ro b lem a p o rq u e eu sei c o m q uem eu p o sso b rin c a r e c o m q u e m eu n ã o p o s s o brincar.
N a t á l i a - C o m q u e m é q u e p o d e b r i n c a r e c o m
q u e m n ã o p o d e ?
P a u lo - V ocê o lh a a p e s so a q u e e s tá rin d o , a p e sso a q u e e stá m ais so lta . E o u tra c o isa , o ó b v io n o h u m o r n ão fu n cio n a. V ocê ir p a ra a pla- té ia e d iz e r q u e a p e s s o a é g o rd a , s e n d o g o rd a . U m a p e s soa: “ A h, o ‘v i a d o T ’, o c a ra s e n d o ‘v ia d o ’. Q u e g ra ç a tem em d iz e r is s o ? V ocê te m d e p e g a r o c a ra m ais h o m em , q u e e s te ja c o m m u lh e r e tu d o e d i zer: “ Ó , a b ic h a !” . A í é e n g ra ç a d o , p o rq u e o c a ra e stá c o m a e sp o sa . O ó b v io n o h u m o r, a c h o q u e n ã o fu n cio n a .
*
E r ik a - M a s is s o f o i u m fe e lin g q u e v o c ê t e v e d e s d e o in íc io o u f o i p r e c i s o e r r a r ? P a u lo - V ocê e rra , ló g ic o . M a s eu s e m p r e tiv e m u ito
For om q u ase d u a s h or as d e conversa, p e r m e a d a s p or v á r io s int err up ções e lat id o s d o s cach or r os d a r açayor k sh ir e : Su sy, W il l y e St ailone.
