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CIRE LIQUIDAÇÃO SEPARAÇÃO DE BENS MEAÇÃO CONJUGAL

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Tribunal da Relação de Guimarães Processo nº 1150/13.9TBBRG-F.G1 Relator: ANTÓNIO SOBRINHO

Sessão: 14 Maio 2015 Número: RG

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: IMPROCEDENTE

CIRE LIQUIDAÇÃO SEPARAÇÃO DE BENS MEAÇÃO CONJUGAL

Sumário

1. A separação de meações entre cônjuges pressupõe que haja uma dissolução do matrimónio.

2. A separação de bens por via da insolvência de um dos cônjuges implica que tenham sido apreendidos os bens comuns (v.g. móveis ou imóveis) do casal, enquanto tal, e não o direito à meação sobre esses bens por parte do cônjuge insolvente.

Texto Integral

Acordam no Tribunal da Relação de Guimarães

I – Relatório;

Apelante(s): AA;

Apelados(s): BB;

*****

Nos autos de processo de liquidação com o nº 1150/TBBRG-C, em que é insolvente BB, veio o cônjuge deste, AA, aqui recorrente, requerer que se desse sem efeito o anúncio de venda, a suspensão das diligências em curso e que se notificasse a requerente para requerer a separação de bens, nos termos do artº 740º, do CPC.

Tal requerimento foi objecto do seguinte despacho judicial:

(2)

« Foi apreendida para a massa insolvente a meação do insolvente nos bens comuns do casal.

O cônjuge do insolvente tem o seu direito à meação nos bens comuns salvaguardado.

Assim, e nos termos do disposto no art. 159º do CIRE liquida-se no presente processo de insolvência o direito que o insolvente tenha sobre esses bens.

Não se aplica assim ao caso em apreço o disposto no art. 740º do CPC.

Indefere-se deste modo o requerido.

Notifique. »

Inconformada com tal decisão, a requerente interpôs o presente recurso de apelação, em cujas alegações formula as seguintes conclusões:

A) O despacho recorrido, para além de uma incipiente fundamentação, faz uma incorrecta interpretação do artigo 159ºdo CIRE, não fundamenta

minimamente a não aplicação no caso em apreço do disposto no artigo 740º do CPC, viola o disposto no artigo 1730°, nº 1 do Código Civil, os artigo 740° e 743º do CPC e artigos 1º e 17° do CIRE ..

B) A comunhão conjugal, no nosso direito matrimonial, a assume a feição de um propriedade colectiva - os bens e direitos que as integram subsumem-se a um único direito, pertencente aos dois cônjuges em bloco.

C) O direito à meação é único e indiviso e, pelo menos, enquanto não estiver dissolvido ou enquanto não for decretada a separação de pessoas e bens entre os cônjuges, é um bem indisponível e, portanto, não é um bem alienável em si mesmo.

D) A necessidade de partilha dos bens comuns, a fim de por via dela se obter a concretização, em bens certos e determinados, da meação do cônjuge

insolvente, não tem, porém, de impedir que o administrador proceda à imediata apreensão, para a massa, do direito à meação de. bens certos e

determinados compreendidos na comunhão - significa tão-somente que de tais bens não deve prover-se à liquidação sem que previamente se promova, ou se dê aos cônjuges ( e designadamente ao cônjuge estranho á declaração de insolvência) a oportunidade de promover a separação.

E) Nos termos do artigo 1730, nº 1 do Código Cível, os conjugues participam no activo e no passivo da comunhão, sendo nula a estipulação em sentido diverso e, como consideram Francisco Pereira Coelho e Guilherme de Oliveira, in curso de Direito de Família, 2º ed. 2001, pág, 510, "não se trata de cada cônjuge ter direito a metade de cada bem concreto do património comum"; "o direito a metade é ( ... ) um direito ao valor de metade"

F) Para o cálculo do valor de metade há-de concorrer o valor do activo e do passivo comum do casal.

(3)

F) Ora o anúncio de venda em questão limita-se a determinar a venda de

metade de determinados bens, não considerando sequer as dívidas comuns do casal que tais bens garantem.

G) O regime jurídico da venda previsto para o processo executivo constitui a matriz de toda a venda judicial.

H) O disposto no artigo 740º do CPC é aplicável ao Processo de insolvência.

I) A apreensão dos bens comuns que tenha lugar na insolvência de um só cônjuge, embora licita, deve no entanto ser seguida da citação do cônjuge que não seja parte no processo para este venha requerer a separação dos bens, em conformidade com o disposto no atual artigo 740º do CPC, disposição que se entende subsidiariamente aplicável (cfr artigo 170º do CIRE).

Termos em que deve revogar-se o douto despacho recorrido, substituindo-se por outro que ordene a notificação da recorrente, para, nos termos e no prazo previsto no artigo 740º do CPC, requerer a separação de bens ou juntar

certidão comprovativa da pendência de acção em que a separação já tenha sido requerida e, consequentemente, ordenar-se a suspensão da liquidação do direito à meação do cônjuge insolvente.

Houve contra-alegações, pugnando-se pela confirmação do julgado.

II – Delimitação do objecto do recurso; questão a apreciar;

O objecto do recurso é delimitado pelas conclusões das alegações, nos termos do artº 639º do Código de Processo Civil (doravante CPC).

A única questão que importa aqui apreciar e decidir, nomeadamente à luz das razões apresentadas pela recorrente, é se deve ordenar-se a notificação da recorrente, para, nos termos e no prazo previsto no artigo 740º do CPC, requerer a separação de bens ou juntar certidão comprovativa da pendência de acção em que a separação já tenha sido requerida e, consequentemente, ordenar-se a suspensão da liquidação do direito à meação do cônjuge

insolvente, como pretende a apelante.

Colhidos os vistos, cumpre decidir:

III – Fundamentos;

Os factos a ter em conta são os referidos no relatório I) supra,

complementados pelo teor constante da certidão judicial de fls. 23 a 63 destes

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autos (requerimentos de 06.11.2014 e de 17.112014, do Sr. Administrador de insolvência, anúncio da venda e auto de abertura de propostas) e certidão de fls. 64 a 92 [petição inicial de separação de meações (apenso B), rectificação do auto de apreensão de bens, passando a constar a apreensão do direito de meação do insolvente e sentença transitada a declarar extinta a instância, relativa à separação de bens, por via da dita apreensão dessa meação do insolvente nos bens comuns do casal – vide fls. 92 destes autos].

*****

A questão recursiva cinge-se à pretendida notificação da recorrente, enquanto cônjuge do insolvente, para, nos termos e no prazo previsto no artigo 740º do CPC, requerer a separação de bens ou juntar certidão comprovativa da

pendência de acção em que a separação já tenha sido requerida e,

consequentemente, ordenar-se a suspensão da liquidação do direito à meação do cônjuge insolvente.

Salvo o devido respeito não lhe assiste razão.

É que o que se mostra apreendido para a massa insolvente – vide auto de apreensão rectificado de fls. 89 a 92 – é o direito à meação do insolvente nos bens comuns do casal, na sequência, aliás, do pedido formulado pelo cônjuge do insolvente, ora apelante.

Logo, não faz sentido ordenar-se que se proceda à separação de meações, quando o que se mostra apreendido para venda já é tão só esse direito de meação do cônjuge insolvente. Nesta perspectiva, nada há a separar ou dividir.

Tal separação de bens impunha-se (e pode impor-se, aliás, numa perspectiva de tramitação jurídica correcta), caso tivesse sido ordenada e decretada a apreensão dos bens comuns, no seu todo, enquanto tal, e não a meação sobre os mesmos.

Daí que, em tese (não fora a dita apreensão rectificativa, quanto ao direito de meação do insolvente sobre os bens do casal), são válidos os argumentos da apelante de que o direito de meação pressupõe a dissolução do matrimónio.

Noutra vertente, sempre se dirá, a latere, que essa separação de bens, por via da insolvência de um dos cônjuges, processa-se agora nos termos do artº 81º, da Lei nº 23/2013, de 05.03, que define o regime jurídico do processo de inventário, e não nos termos do citado artº 740º do CPC.

Em suma, no caso em apreço, tendo-se efectuado a apreensão do direito à meação do insolvente sobre os bens do casal, mostra-se prejudicada a

pretendida notificação do cônjuge não insolvente para a separação de bens, por nada haver a dividir, sem embargo de poder vir a ser repristinada a apreensão de bens comuns qua tale, como acima ficou ajuizado.

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Sintetizando:

1. A separação de meações entre cônjuges pressupõe que haja uma dissolução do matrimónio.

2. A separação de bens por via da insolvência de um dos cônjuges implica que tenham sido apreendidos os bens comuns (v.g. móveis ou imóveis) do casal, enquanto tal, e não o direito à meação sobre esses bens por parte do cônjuge insolvente.

IV – Decisão;

Em face do exposto, acordam os Juízes desta 1ª secção cível em julgar improcedente a apelação, confirmando-se a decisão recorrida.

Custas pela apelante.

Guimarães, 14.05.2015 António Sobrinho

Isabel Rocha Jorge Teixeira

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