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Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa

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Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa

Processo: 6641/2006-2

Relator:

ANA PAULA BOULAROT

Descritores:

PROVIDÊNCIA CAUTELAR REQUISITOS

TRADIÇÃO DA COISA PEDIDO

Data do Acórdão: 24-07-2006 Votação: UNANIMIDADE Sumário:

I – Em sede de providência cautelar não especificada, requerida por apenso a uma acção onde se pede a declaração de resolução de um contrato promessa, por incumprimento definitivo do promitente comprador, o requisito da probabilidade da existência do direito em causa (fumus boni juris), não é a mera constatação de que o promitente vendedor, Requerente da providência, é o dono do imóvel, mas antes a verificação, ainda que sumária, da mora do devedor (promitente adquirente).

II – Visando-se com a providência a entrega do imóvel, objecto do contrato promessa celebrado com tradição da coisa, invocando-se para o efeito que a ocupação causa prejuízos diários à Recorrente (quer pelos rendimentos que deixa de auferir, quer pela diminuição do valor patrimonial da fracção, o qual será tanto maior quanto o uso que lhe é dado pelos promitentes compradores diariamente e que o único património conhecido aos mesmos é uma quota social de valor bastante inferior aos prejuízos já sofridos pela Requerente não sendo garantia bastante para acautelar a indemnização devida pelos danos directamente decorrentes do uso indevido do imóvel, nem os lucros cessantes), o ressarcimento do dano pelo valor da coisa, continua a depender da alegação e prova de factos consubstanciadores do conceito de incumprimento definitivo do contrato.

III – O que está em causa não é o desapossamento da coisa da esfera jurídica do seu titular, mas antes a detenção autorizada desta por banda do promitente comprador que venha a ser declarado faltoso, devendo neste caso compensar o promitente vendedor, pelo valor da coisa, ao tempo do incumprimento, de onde, necessária se tornar uma declaração resolutiva por incumprimento definitivo dos Agravados.

IV – Tendo a Requerente alegado que a ocupação da fracção está a ser feita por força da autorização que foi dada aos Agravados por via do contrato havido entre estes e aquela a resolução do contrato, se vier a ser declarada por incumprimento dos Agravados, implicará a sua condenação, além do mais (v.g o ressarcimento do dano pelo valor da coisa à data do incumprimento) a restituir àquela a fracção prometida vender, de onde se conclui que se a presente providência viesse a ser decretada, dar-se-ia parcial satisfação ao direito material da Agravante, não sendo essa a finalidade dos procedimentos cautelares.

(APB)

Decisão Texto Integral:

ACORDAM EM CONFERÊNCIA NO TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

I A…, instaurou procedimento cautelar não especificado contra RR…, pedindo que fosse ordenada a entrega imediata da fracção AB, correspondente ao 1º andar direito do bloco B, com a arrecadação nº11 e dois espaços de estacionamento, com os nº 5 e 6, do prédio sito na Rua …, alegando, em síntese, ser dona de tal imóvel, tendo prometido vendê-lo aos Requeridos, sendo que estes entraram na posse do mesmo pouco depois da celebração do contrato-promessa, encontrando-se a

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habitá-lo até hoje. Todavia, os Requeridos não procederam ao pagamento dos montantes estipulados para o reforço do sinal e inviabilizaram a realização da escritura definitiva, apesar de marcada por diversas vezes. A Requerente vê-se privada, desde Agosto de 2003, da posse do imóvel, sofrendo prejuízos por tal facto, a que acrescem os resultantes da sua desvalorização. A Requerente peticiona dos Requeridos, em sede de acção principal, o montante de € 31 218,14, tendo fortes razões para crer que aqueles não tenham condições económicas para pagar tal montante, por não lhes ser conhecido património, encontrando-se a habitar o imóvel em virtude de terem tido necessidade de vender a anterior casa e não terem outro local onde viver, e assim, só com a imediata entrega da casa a Requerente poderá ver minorados os seus prejuízos.

Foi a presente providência indeferida liminarmente, uma vez que se entendeu não terem sido alegados factos que permitissem considerar que o recurso à mesma se justificaria neste momento, uma vez que os prejuízos invocados já estavam, no essencial, verificados, podendo e devendo ser acautelados na acção principal.

Inconformada com esta decisão, recorreu a Requerente, apresentando as seguintes conclusões:

- A Recorrente é titular do direito de propriedade da fracção em causa, tendo acedido ao pedido dos Recorridos de nela habitar, sempre com vista à celebração da escritura de compra a venda entre ambos.

- Após incumprimento contratual por parte dos Recorridos, em 15 de Fevereiro de 2005, a Recorrente notificou-os, quer por carta simples, quer por Notificação Judicial Avulsa, para que procedessem à entrega do imóvel.

- Uma vez que a liberalidade concedida pela Recorrente para o seu uso tinha por base um contrato promessa de compra e venda que foi incumprido pelos Recorridos.

- Além disso, sendo a fracção em causa propriedade da Recorrente, e não tendo os Recorridos título para a sua permanência no imóvel, a não ser a boa vontade da Recorrente, deveriam estes ter entregue a fracção de imediato, o que não aconteceu.

- Desta forma, ao contrário do que é dito no despacho recorrido, a Recorrente não esperou dois anos e meio para requerer a presente providência cautelar.

- Pelo contrário, a Recorrente tentou, após o incumprimento contratual, resolver extrajudicialmente o presente litígio, não tendo sido bem sucedida, por continuarem os Recorridos a ocupar o imóvel sem qualquer titulo nem autorização do seu proprietário para tal.

- A referida ocupação causa prejuízos diários à Recorrente, quer pelos rendimentos que deixa de auferir, quer pela diminuição do valor patrimonial da fracção, o qual será tanto maior quanto o uso que lhe é dado pelos Recorridos diariamente.

- O único património conhecido aos Recorridos é uma quota social, no valor de € 4.987,99, quantia bastante inferior aos prejuízos já sofridos pela Recorrente na presente data.

- Pelo que, a referida quota não é garantia bastante que acautele a indemnização devida pelos danos directamente decorrentes do uso indevido do imóvel, nem os lucros que a Recorrente não auferiu neste período de tempo, nem tão pouco os danos que serão acumulados até termo da acção principal.

- Consequentemente, o indeferimento liminar da providência cautelar deve ser revogado, prosseguindo os presentes autos, pois só desta forma se evitará um prejuízo irreparável a Recorrente.

Nas contra alegações os Requeridos pugnam pela manutenção do despacho recorrido o qual veio a ser sustentado.

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II O único problema que se põe no âmbito do presente recurso é o de saber se havia ou não fundamento para o indeferimento liminar do presente procedimento e por falta dos respectivos pressupostos.

Vejamos, então.

1.1. Dos requisitos da providência cautelar não especificada.

Dispõe o artigo 381º, nº1 e 2 do CPCivil que constituem requisitos da providência cautelar não especificada a existência ou pelo menos a aparência do direito e o justo receio de que alguém venha a praticar actos capazes de causar lesão grave ou de difícil reparação nesse direito ou aparência de direito.

Isto é, para serem decretadas tais providências, inominadas ou atípicas, que a lei processual com a reforma substituiu por um «procedimento cautelar comum», exige-se, para além da circunstância de inexistir um procedimento típico, que o requerente mostre, com base em certos factos, um sério receio de que o futuramente (ou presentemente) demandado pratique actos ou violências susceptíveis de lesionar, grave ou irreparavelmente, o seu direito, cfr Rodrigues Bastos, Notas ao CPCivil II/256, J.A dos Reis, BMJ 3/58 e Relatório do DL 329-A/95 de 12 de Fevereiro.

No que tange ao primeiro pressuposto, a lei contenta-se com um juízo de verosimilhança ou probabilidade, no que toca ao segundo, necessário se torna um juízo de certeza, de verdade.

Por outra banda, há que ter em atenção que as providências cautelares não se destinam a dar imediata e directa realização ao direito substancial, mas tão só, a assegurar a eficácia da providência futura destinada a essa realização.

Acresce ainda a circunstância de o supra citado normativo nos falar em «fundado receio», de onde se dever concluir que o perigo de insatisfação do direito pressupõe que o seu titular se encontre perante simples ameaças de violação do mesmo. Se a ameaça já se consumou, então já não há perigo, mas sim violação efectiva.

1.2. Do direito da Requerente ora Agravante.

A Requerente/Agravante, in casu, plasmou o seu petitório no facto de ser dona de um imóvel, tendo prometido vendê-lo aos Requeridos, sendo que estes entraram na posse do mesmo pouco depois da celebração do contrato-promessa, encontrando-se a habitá-lo até hoje. Todavia, os Requeridos não procederam ao pagamento dos montantes estipulados para o reforço do sinal e inviabilizaram a realização da escritura definitiva, apesar de marcada por diversas vezes, vendo-se a Requerente privada, desde Agosto de 2003, da posse do imóvel, para cuja ocupação aqueles não têm qualquer título, sofrendo prejuízos por tal facto, prejuízos esses que se vão avolumando com o passar do tempo e que não poderão vir a ser ressarcidos uma vez que os Requeridos não têm possibilidades financeiras para o efeito.

E, insurge-se contra o despacho recorrido uma vez que é titular do direito de propriedade da fracção em causa, tendo acedido ao pedido dos Recorridos de nela habitarem, sempre com vista à celebração da escritura de compra a venda entre ambos, mas após incumprimento contratual por parte destes, em 15 de Fevereiro de 2005, notificou-os, quer por carta simples, quer por Notificação Judicial Avulsa, para que procedessem à entrega do imóvel, uma vez que a liberalidade concedida pela Recorrente para o seu uso tinha por base um contrato promessa de compra e venda que foi incumprido pelos Agravados. Além disso, sendo a fracção em causa propriedade da Recorrente, e não tendo os

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Recorridos título para a sua permanência no imóvel, a não ser a boa vontade da Recorrente, deveriam estes ter entregue a fracção de imediato, o que não aconteceu.

Quid inde.

O direito a que a Requerente se arroga, advém da celebração de um contrato promessa de compra e venda de uma fracção autónoma, tal como o mesmo nos vem definido pelo artigo 410º do CCivil, contrato esse que teria sido incumprido várias vezes pelos Requeridos.

Todavia, não obstante tal incumprimento, como alega a Requerente, ora Agravante, no artigo 25º do Requerimento Inicial, o negócio havido entre as partes «(…)continuou no tempo, uma vez que estes continuavam a mostrar interesse na compra do imóvel.», sendo que, nessa ordem de ideias, continuava a ser pertinente a ocupação do imóvel por banda dos Agravados, pois esta era uma consequência da concretização daquele, e teria deixado de haver qualquer prazo para o mesmo.

Queremos nós dizer, que a situação que nos é configurada nos autos, em termos de direito, não passa pela constatação de que a Agravante é a titular do direito de propriedade da fracção prometida vender (não é o direito de propriedade que está em discussão), mas antes pela verificação dos pressupostos que podem levar à resolução do contrato promessa celebrado entre Agravante e Agravados, em consequência de uma eventual mora, sendo certo que, a ocupação do imóvel proveio da tradição que foi feita do mesmo para os Agravados, promitentes compradores, por via da promessa e com vista à concretização do contrato prometido, como alega e conclui a Agravante.

Assim sendo, não se pode concluir como faz a Agravante, que haja falta de título para a ocupação do imóvel, porque houve a traditio rei, constituindo esta, para os Agravados, por um lado, um direito pessoal de gozo (neste sentido Antunes Varela, RLJ 124/347 e os Ac STJ de 31 de Março de 2004 (Relator Cons. Abílio de Vasconcelos) e de 3 de Março de 2005 (Relator Cons Oliveira Barros), in www.dgsi. pt) e um direito real de garantia na situação prevista no artigo 755º, alínea f) do CCivil, isto é, se o incumprimento do contrato promessa for imputável ao promitente vendedor (no caso a Agravante).

Todavia, o aporema daqui, não é o de saber se a Agravante é a titular do direito de propriedade sobre a fracção prometida vender, mas antes averiguar se o contrato promessa celebrado com os Agravados foi incumprido definitivamente por estes.

É esta a questão fulcral e é este o direito a que se arroga a Agravante, de ver declarado resolvido o negócio havido com os Agravados, por via do incumprimento definitivo destes.

Assim sendo, face à alegação da Agravante de que apesar das cláusulas contratuais que não foram cumpridas e que dariam lugar, conforme o convencionado, à imediata resolução contratual, foi convencionada a continuação do negócio traduzida nas sucessivas marcações de datas para a escritura definitiva, fica em questão se houve ou não incumprimento definitivo originador da resolução contratual, pois só a impossibilidade culposa confere este direito potestativo, cfr Antunes Varela, Ccivil Anotado, 3ª edição, vol II, 71, sendo certo que, neste particular a doutrina e a jurisprudência são controversas (remetemos neste ponto para o Ac STJ de 15 de Dezembro de 1998, BMJ 482/243, onde se dá conta da polémica e conclui que para a resolução contratual basta a mera mora, não obstante a posição jurisprudencial maioritária seja em sentido oposto, veja-se inter alia o Ac StJ de 1 de Julho de 2004 (Relator Cons Ferreira de Almeida), in www.dgsi.pt).

Ora, dispõe o normativo inserto no artigo 808º, nº1 do CCivil que «Se o credor em consequência da mora, perder o interesse que tinha na prestação, ou esta não for realizada dentro do prazo que razoavelmente for fixado pelo credor, considera-se para todos os efeitos não cumprida a obrigação.».

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Quer dizer, este normativo pressupõe, em primeira linha, a existência de mora, de onde o credor poder vir a obter a resolução do contrato, caso em consequência daquela, perca o seu interesse na prestação, acrescentando o seu nº2 que tal perda de interesse é apreciada objectivamente.

No caso sub juditio, para além da matéria alegada não traduzir a mora dos Agravados face às vicissitudes posteriores ao primeiro incumprimento (e que levaram no dizer da Agravante à continuação do negócio), dos autos também não resultam quaisquer factos que nos permitam aferir da falta de interesse do Agravante na efectivação do contrato definitivo.

E, dispondo o normativo inserto no artigo 792º, nº2 do CCivil que «A impossibilidade só se considera temporária enquanto, atenta a finalidade da obrigação, se mantiver o interesse do credor.», e se é certo que esta impossibilidade é a que se refere à demora no cumprimento quando existe um termo essencial para o cumprimento da obrigação, o conceito de termo poderá transcender a simples noção de prazo, traduzindo-se então numa impossibilidade definitiva de cumprimento, isto é, de satisfação do interesse do credor, pela perda reconhecível do seu interesse na prestação, cfr Pires de lima e Antunes Varela, in CCivil Anotado, vol II/46.

Existem situações de incumprimento ligadas ao escopo ou fim primário da mesma prestação, ou seja, ao fim do programa obrigacional, entre outras, que originaram o surgimento de um conceito alargado de «prestação», «Nestes casos em que a prestação é uma «prestação de fim infungível» ou «prestação finalizada» e em que, portanto, o devedor aceita vincular-se a uma prestação individualmente talhada em função de um escopo único (ou em que a prestação, de sua natureza, só pode servir a um fim determinado e único), dir-se-ia que as partes compartilham entre si o risco de o plano negocial se frustrar, por contingências que não sejam imputáveis a qualquer delas.», cfr Baptista Machado, in Risco contratual e mora do credor, RLJ 116/171 e nota de pé de página (16)

Esta hipótese poderá configurar uma situação de «impossibilidade de efectivação do resultado da prestação («ou impossibilidade de cumprimento»)», ibidem, 194.

Ora, o Tribunal só pode servir-se dos elementos factuais articulados pelas partes, nos termos do artigo 664º do CPCivil e em parte alguma do articulado da Agravante consta a alegação do seu eventual desinteresse na prestação por força do decurso do prazo (pelo contrário, apesar da carta com intenção resolutiva inicial, datada de 6 de Outubro de 2003, cfr artigos 19º e 20º do Requerimento Inicial, a Agravante e Agravados continuaram a desenvolver esforços para a efectivação da escritura, veja-se a matéria alegada no artigo 25º daquele articulado) não se podendo, assim, sem mais, concluir oficiosamente, por um eventual desinteresse, quando a Lei impõe, para a verificação deste, objectividade e esta, tem de estar plasmada em factos.

Queremos nós dizer, contentando-se a Lei, aqui, com um juízo de verosimilhança ou probabilidade (traduzido no incumprimento definitivo por parte dos Agravados), da matéria alegada não se pode concluir pelo mesmo.

As conclusões falecem neste conspectu.

1.3. Do prejuízo grave e de difícil reparação.

Alega ainda a Agravante que a referida ocupação causa prejuízos diários à Recorrente, quer pelos rendimentos que deixa de auferir, quer pela diminuição do valor patrimonial da fracção, o qual será tanto maior quanto o uso que lhe é dado pelos Recorridos diariamente e que o único património conhecido aos Recorridos é uma quota social, no valor de € 4.987,99, quantia bastante inferior aos prejuízos já sofridos pela Recorrente na presente data, não sendo garantia bastante para acautelar a

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indemnização devida pelos danos directamente decorrentes do uso indevido do imóvel, nem os lucros que a Recorrente não auferiu neste período de tempo, nem tão pouco os danos que serão acumulados até termo da acção principal.

Em primeiro lugar, veja-se que tal como a Agravante alega, a fracção está a ser ocupada pelos Agravados desde data que não pode precisar, mas que se situa em Agosto de 2003, cfr artigo 15º do Requerimento Inicial, sendo certo que, não obstante os sucessivos incumprimentos imputados a estes, a presente providência só veio a ser instaurada em 27 de Fevereiro de 2006, isto é mais de dois anos e meio após tal ocupação e conforme deflui do despacho recorrido, após a contestação da acção principal, o que significa que a própria Agravante deixou avolumar os prejuízos e, só agora, quando a acção principal já está adiantada, os vem apelidar de graves e de difícil reparação.

In casu, a Lei não dispensa a Agravante da alegação concreta dos factos constitutivos do

«periculum in mora», e este não se retira automaticamente da circunstância de a Agravante ser proprietária da fracção, de dela se encontrar privada (com o seu consentimento), sendo certo poderá vir a ser ressarcida em sede própria pelos prejuízos causados, prejuízos esses, que, como se diz na decisão recorrida, nem sequer demonstrou que não pudessem vir a ser colmatados, maxime, através da quota social que diz ser o único bem conhecido ao Requerido, o que não quer dizer que este e a Requerida, não sejam titulares de outros bens.

Todavia, neste conspectu, a Lei não se basta com meras preposições, antes exigindo a alegação concreta de factos de onde se possa concluir a certeza da existência de uma lesão grave ou de difícil reparação do direito, factos esses que não foram carreados para os autos.

Mas, veja-se ainda que, neste preciso particular, o do ressarcimento do dano pelo valor da coisa (alternativa do artigo 442º, nº2 do CCivil), está dependente da aferição do incumprimento definitivo, pelo que, se aplicam, mutatis mutandis, todas as considerações feitas supra: o que está em causa não é o desapossamento da coisa da esfera jurídica do seu titular, mas antes a detenção autorizada desta por banda do promitente comprador que venha a ser declarado faltoso, devendo neste caso compensar o promitente vendedor, pelo valor da coisa, ao tempo do incumprimento, de onde, necessária se tornar uma declaração resolutiva por incumprimento definitivo dos Agravados.

Ora, esse comportamento faltoso dos Agravados, mesmo em termos meramente indiciários (fumus boni juris), não resulta da matéria alegada, face a todas as perplexidades subsequentes ao prazo inicialmente fixado, pelo que, não se mostram verificados os requisitos, no que tange ao ónus de alegação, para o proseguimento da presente providência, pelo que, as conclusões estão condenadas ao insucesso.

Contudo, mesmo que assim não se entendesse, o peticionado na presente providência, nunca poderia proceder.

Se não.

O que está em causa não é o desapossamento da coisa da esfera jurídica do seu titular, mas antes a detenção autorizada desta por banda do promitente comprador que venha a ser declarado faltoso, devendo neste caso compensar o promitente vendedor, pelo valor da coisa, ao tempo do incumprimento, de onde, necessária se tornar uma declaração resolutiva por incumprimento definitivo dos Agravados.

Quer dizer, a ocupação da fracção não está a ser feita sem qualquer título, como alega a Agravante, mas antes por força da autorização que foi dada aos Agravados por via do contrato havido entre estes e aquela: é que houve tradição da coisa, implicando a resolução do contrato, se vier a ser declarada por incumprimento dos Agravados, a sua condenação, além do mais (v.g o ressarcimento do

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dano pelo valor da coisa à data do incumprimento) a restituir à Agravante a fracção objecto daquele, cfr artigos 442º, nº2 e 433º do CCivil (a resolução é equiparável à nulidade do negócio jurídico, com as especificidades do disposto no artigo 442º, no que à economia dos presentes autos diz respeito).

Ora, daqui se assaca que, se a presente providência viesse a ser decretada, dar-se-ia parcial satisfação ao direito material da Agravante, não sendo essa a finalidade dos procedimentos cautelares.

Também por aqui sempre faleceria a razão à Agravante.

III Destarte, nega-se provimento ao Agravo, e embora com fundamentação algo diversa, mantém-se o despacho recorrido.

Custas pela Agravante.

Lisboa, 24 de Julho de 2006

(Ana Paula Boularot)

(Lúcia de Sousa, com dispensa de visto) (Luciano Farinha Alves, com dispensa de visto)

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