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POLÍCIA PENAL: Entenda sua importância e papel na estrutura da segurança pública brasileira.

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Academic year: 2022

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POLÍCIA PENAL: Entenda sua importância e papel na estrutura da segurança pública brasileira.

Autor: Romilson José Vicente.

Advogado licenciado (OABMG: 123.919).

Policial Penal do Distrito Federal.

A criação da Polícia Penal representa um dos maiores avanços no combate ao crime organizado e uma verdadeira revolução no sistema de execução penal brasileiro. Significa um alinhamento do que já existe nos principais e mais evoluídos países de primeiro mundo.

A primeira mudança refere-se ao nome de Polícia Penal e não Polícia Penitenciária, já que este dava a entender que a atuação seria apenas em penitenciárias, ao contrário dos debates que fundamentaram a criação da nova instituição policial. O nome Polícia Penal deixa claro que o âmbito de atuação será bem mais abrangente, envolvendo todas as áreas referentes ao sistema de execução penal brasileiro.

A Emenda Constitucional 104, de 4 de dezembro de 2019, criou as polícias penais federais, estaduais e distrital. A Constituição Federal de 1988 passou a prevê em seu art. 144, que a segurança pública é um dever do Estado e será exercida através dos seguintes órgãos:

I - Polícia Federal;

II - Polícia Rodoviária Federal;

III - Polícia Ferroviária Federal;

IV - Polícias Civis;

V - Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares.

VI - Polícia Penal Federal, Polícia Penal Estadual e Polícia Penal do Distrito Federal.

Referida Emenda Constitucional é classificada como Norma Constitucional de Eficácia Plena, não necessitando de lei posterior para que surta efeitos, conforme as lições do saudoso jurista José Afonso da Silva e também do Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Com a publicação da referida Emenda Constitucional a POLÍCIA PENAL passa a existir de fato e de direito. Será preciso apenas a sua regulamentação administrativa, que se dará mediante Lei Federal ou Estadual.

Trata-se de mais de uma instituição do ramo de Polícia Civil, do qual também fazem parte a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, a Polícia Ferroviária Federal, Polícia Penal Federal, Polícia Penal Estadual e Polícia Penal do Distrito Federal, bem como, a própria Polícia Civil Estadual.

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Importante frisar, que todas as polícias, exceto a militar, são instituições de polícia civil.

A Lei Maior também prevê no parágrafo 7º do mesmo art. 144, que a lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.

A Lei Federal 13.675, de 11 de junho de 2018, veio regulamentar o parágrafo 7° do art. 144, disciplinando a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública e institui o Sistema Único de Segurança Pública - Susp, que é composto pelos seguintes órgãos operacionais:

1 - Polícia Federal;

2 - Polícia Rodoviária Federal;

3 - Polícias Civis;

4 - Polícias Militares;

5 - Corpos de Bombeiros Militares;

6 - Guardas Municipais;

7 - Polícia Penal Federal, Polícia Penal Estadual e Polícia Penal do Distrito Federal (Órgãos do Sistema Penitenciário);

8 - Institutos oficiais de criminalística, medicina legal e identificação;

9 - Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp);

10 - Secretarias estaduais de segurança pública ou congêneres;

11 - Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec);

12 - Secretaria Nacional de Política Sobre Drogas (Senad);

13 - Agentes de Trânsito;

14 - Guarda Portuária.

Diante da complexidade que é garantir a segurança pública, é que foi previsto um número extenso de instituições policias, cada uma com um campo específico de atuação. Veja que o Sistema Único de Segurança Pública não se atem apenas ao nome de polícia, incluindo diversas instituições que são policiais independente de sua nomenclatura ter ou não o nome policial, como é o caso dos guardas municipais, agentes de trânsito, guarda portuária, bombeiros militares, institutos de criminalística, medicina legal e identificação.

A Polícia Penal, como o seu próprio nome deixa claro, tem como competência todas as atividades de execução penal, tais como, policiamento das unidades prisionais, policiamento de prisão domiciliar, policiamento de monitoração eletrônica, policiamento de medidas restritivas da lei Maria da Penha, policiamento de quaisquer outras medidas cautelares diversas da prisão, assim como, atividades de inteligência e investigação de crimes que envolvam diretamente ou indiretamente as unidades prisionais.

O Código de Processo Penal em seu art. 4°, parágrafo único, estabelece que o inquérito policial não é competência exclusiva da polícia judiciária.

Diversas autoridades administrativas também realizam investigações no exercício de suas atribuições legais. É o caso dos auditores e fiscais tributários,

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auditores e fiscais trabalhistas, da Unidade de Inteligência Financeira - UIF (antigo Coaf), do Conselho Administrativo de Defesa Concorrência - Cade, bem como, do próprio Ministério Público Estadual e Federal.

A natureza jurídica dos procedimentos de investigação feitos pelos setores de inteligência policial ou demais agências de inteligência são equivalente à de “peças de informação”. Neste aspecto específico importante trazer a lume a lição do renomado jurista e membro do Ministério Público da União, Renato Brasileiro:

“O Código de Processo Penal, genericamente, dá o nome de peças de informações a todo e qualquer conjunto indiciário resultante das atividades desenvolvidas fora do inquérito policial, a exemplo de um procedimento investigatório criminal presidido pelo próprio órgão ministerial, um relatório de comissão parlamentar de inquérito, etc.” (LIMA, Renato Brasileiro. Código de Processo Penal comentado. 2ª ed., Salvador: Juspodivm, 2017, p. 162).

O Juiz Federal e Professor Márcio André Lopes Cavalcante, com todo brilhantismo, nos traz importantes lições sobre os motivos que levaram a necessidade de criação da Polícia Penal:

"Na última década, vários líderes de organizações criminosas foram presos e condenados a penas altíssimas.

Eles se encontram cumprindo pena em estabelecimentos prisionais, alguns deles considerados de segurança máxima. A despeito disso, percebe-se que muitos desses indivíduos continuam comandando a organização criminosa de dentro dos presídios, ordenando a execução de crimes que ocorrem fora das unidades prisionais.

Observa-se também que muitos desses líderes, para desestabilizar o sistema de segurança pública ou como forma de retaliação, comandam rebeliões dentro dos presídios, situações que geram a morte de detentos, funcionários e agentes de segurança pública.

Percebeu-se, portanto, há algum tempo, que o problema da segurança pública não se encerra com a prisão dessas pessoas. Ao contrário. Iniciam-se inúmeros outros que merecem também a devida repressão do Estado."

https://www.dizerodireito.com.br/2019/12/ec-1042019- cria-policia-penal.html?m=1

Em alguns locais no país, o crime organizado fez do sistema prisional o seu principal escritório, sendo que, a prisão inicial, muitas vezes acaba por

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fortalecer os próprios laços criminosos. Os grandes criminosos, após presos não encerram as suas "carreiras criminosas", pelo contrário, continuam a cometer crimes mesmo atrás das grades.

Podemos citar como exemplos da importância da criação da Polícia Penal alguns acontecimentos recentes de conhecimento público, amplamente divulgado pela mídia:

O primeiro deles foi uma sequência de rebeliões no Norte e Nordeste do país, principalmente nas penitenciárias de Pedrinhas em São Luís - MA e em Alcaçuz no Rio Grande do Norte, que juntas deixaram mais de 250 mortos.

Eram unidades prisionais gigantescas, em parte improvisadas, algumas construídas sem planejamento e com materiais inadequados para este tipo de construção. Salta aos olhos saber que parte foram construídas em cima de terreno arenoso e/ou dunas de areia.

A retomada, controle e domínio destas unidades foi uma verdadeira operação de guerra, sendo que, do outro lado tinham muitos presos armados, muitos inclusive até com armas de fogo.

Outro fator importante, amplamente divulgado pelos meios de comunicação, foi a transferência para a Penitenciária Federal de Brasília-DF de diversos lideres de organizações criminosas nacionais e internacionais.

Alguns desses lideres chegaram a contratar mercenários na Ásia e na África com ampla experiência em combate de guerra para planejar e executar ações de resgate destes criminosos. Uma destas organizações criminosas chegou a desembolsar mais de R$ 200 (duzentos milhões de reais), conforme noticiado pelos principais meios de comunicação do país.

Referida unidade prisional localizada complexo penitenciário do Distrito Federal montou uma verdadeira operação de guerra, passando a contar com diversos armamentos bélicos, até mesmo tanques e aeronaves do Exército Brasileiro. Tudo isso a fim de impedir qualquer tentativa de ataque e/ou resgate dos criminosos.

Dentro das unidades prisionais, os presos não ficam isolados da sociedade, tendo diversas formas de contato com o mundo exterior, seja com visitas sociais de parentes ou amigos, visitas íntimas, visitas de advogados, visitas religiosas e etc. Também tem direito de comunicação com o mundo exterior via cartas e aparelhos de televisão, sem contar com o acesso ilegal a aparelhos celulares entre outros.

No interior das unidades prisionais há uma movimentação constante dos presos, seja para banho de sol, recebimento de visitas, atendimento por advogados, atividades de ensino, atendimento de saúde, atividades de trabalho, transferências, audiências judiciais, entre outras. Portanto, são verdadeiras

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cidades criminosas em constante movimento. Manter o controle e a disciplina dentro das unidades prisionais é um constante desafio.

Grande parte das unidades prisionais são formadas por grandes construções, muitas vezes improvisadas ou que foram construídas sem planejamento estratégico. Quando há qualquer distúrbio no interior das unidades prisionais, toda esta gigantesca estrutura física vira arma nas mãos dos criminosos.

As intervenções neste ambiente são extremamente perigosas, necessitando de alto conhecimento técnico e operacional de atuação e combate neste ambiente bastante peculiar. Imagine como seria desastrosa uma invasão numa comunidade dominada pelo crime feita por um policial do interior do país e/ou sem experiência de combate neste ambiente. O policiamento operacional do meio urbano é bem diferente do feito nas unidades prisionais, necessitando cada um, de conhecimento técnico e operacional de combate diferente.

Por muitos anos o Estado abandonou o controle das prisões e o crime organizado tomou conta. Em boa parte do país a segurança e a disciplina estão sobre controle da Polícia Penal. No entanto, há muitos estados e unidades prisionais em quase total controle do crime organizado. Os desafios são gigantes, e a coragem tem que ser maior ainda!

Dentro das unidades prisionais os presos tentam a todo custo manter o controle e o contato com suas organizações criminosas. Homicídios, tráficos, extorsões são comuns dentro deste ambiente. O criminoso não fica bonzinho atrás das grades como sugerem alguns "especialistas em segurança pública".

Ao contrário, um individuo enjaulado tende a ser até mais perigoso.

A Polícia Penal é desafiada o tempo inteiro a impedir o cometimento de crimes dentro e fora das unidades prisionais.

O policial penal tem de ter coragem de olhar diariamente no olho de diversos criminosos e dizer não o tempo inteiro, às vezes por muitos anos.

Tentativas de intimidação e ameaça é uma realidade constante, principalmente por parte lideres de organizações criminosas. As demais forças policiais têm um contato inicial e por vezes muito pequeno com os presos, ao contrário dos policiais penais que têm uma rotina diária de contato com grandes lideres de organizações criminosas.

Diariamente os policiais penais realizam diversas prisões em flagrante, tanto por crimes cometidos por presos dentro do sistema prisional, por crimes cometidos por visitantes, por violação de prisão domiciliar, violação de liberdade condicional, bem como, recaptura de fugitivos das unidades prisionais.

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A Constituição Federal de 1988, informa em seu art. 5°, inciso XLVI, que no Brasil haverá, entre outras, as seguintes penas: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa e; e) suspensão ou interdição de direitos.

O Código de Processo Penal em seu art. 282, § 6º, prevê que a prisão é medida excepcional e somente será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar, previstas no art. 319.

O art. 319 do Código de Processo Penal prevê um número extenso de medidas restritivas cautelares diversas da prisão, as quais deverão ser fixadas pelo juiz e, somente no caso de impossibilidade de aplicação de alguma das medidas restritivas é que o juiz poderá determinar a prisão.

O policiamento das medidas restritivas cautelares também atribuição da Polícia Penal, vez que, indubitavelmente fazem parte do sistema de execução penal.

Uma interpretação sistemática dos diplomas legais citados deixa claro que o sistema de execução penal brasileiro é muito amplo, indo muito além do sistema das unidades prisionais.

O art. 301 do Código de Processo Penal estabelece que "qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito."

Importante ressaltar, que o modelo de polícia adotado pelo Congresso Nacional é também um grande avanço institucional. A Polícia Penal é uma polícia de ciclo único, ou seja, não há concursos para os altos cargos de gestão e comando, como ocorre com a Polícia Militar, Polícia Civil e Polícia Federal.

Todos os cargos superiores poderão ser alçados por qualquer integrante da Polícia Penal de acordo com seu mérito e competência na carreira.

Portanto, a Polícia Penal representa uma revolução no complexo sistema de execução penal brasileiro, fechando um ciclo da justiça criminal, tratando-se de uma polícia com funções de polícia judiciária e administrativa.

A Polícia Penal passa a ser uma das principais instituições policiais de combate ao crime organizado, completando um ciclo da segurança pública que sempre esteve aberto. É uma policia ostensiva e preventiva, com funções também de polícia judiciária.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BRASIL. Constituição da República Federativa Do Brasil (1988).

BRASIL. Emenda Constitucional nº 104, de 4 de dezembro de 2019.

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BRASIL. Código de Processo Penal, Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941.

BRASIL. Código Penal, decreto-lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940.

BRASIL. Lei Federal 13.675, de 11 de junho de 2018.

LIMA, Renato Brasileiro. Código de Processo Penal comentado. 2ª ed., Salvador:

Juspodivm, 2017, p. 162.

https://www.dizerodireito.com.br/2019/12/ec-1042019-cria-policia- penal.html?m=1.

https://veja.abril.com.br/brasil/apos-ameaca-de-resgate-do-pcc-exercito-e- escalado-para-proteger-presidio/

https://veja.abril.com.br/blog/maquiavel/presidio-no-df-chefoes-do-pcc- mafiosos-italianos-e-na-mira-de-ministro/

https://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2019/07/30/interna_nacional ,1073310/massacres-em-presidios-deixaram-mais-de-250-mortos-no-norte- desde-2017.shtml

https://planaltoempauta.com.br/pcc-veja-detalhes-da-prisao-do-homem-que- queria-resgatar-marcola/

https://www.metropoles.com/distrito-federal/seguranca-df/resgate-de- marcola-pago-pelo-pcc-aumenta-para-r-200-milhoes

Referências

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