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Hist. cienc. saudeManguinhos vol.17 suppl.1

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Academic year: 2018

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Os hospices e o s pro gram as de

v o lu n tariad o p ara o cân cer

Hospices and volunteer cancer program s

MORAES, Marcos. Os h osp ices e os p rogram as d e volu n tariad o p ara o cân cer. En trevista con ced id a a Clau d ia Ju rberg, Jaim e L. Ben ch im ol, Lu iz An ton io Teixeira e Ru th B. Martin s. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio d e Jan eiro, v.17, su p l.1, ju l. 2010, p .203-221.

Re su m o

En trevista com o ciru rgião Marcos Fern an d o d e Oliveira Moraes, p resid en te d a Fu n d ação d o Cân cer n o Rio d e Jan eiro, en tid ad e p rivad a q u e ap óia p esq u isas e ações d e con trole d a d oen ça e fu n cion a em p arceria com o In stitu to Nacion al d o Cân cer, d o q u al foi d iretor-geral. Narra su as ativid ad es d e m éd ico e gestor, abord a a im p ortân cia d a p reven ção e d o d iagn óstico p recoce e ap resen ta d ad os sobre a m u d an ça d e h ábitos, com o o d e fu m ar em p ú blico. En fatiza a recen te

organ ização d o p rim eiro hospice n a cid ad e, “u m lu gar p ara on d e as p essoas vão p ara ap roveitar d a m elh or m an eira p ossível o resto d e vid a q u e têm ”. Aten ta p ara a im p ortân cia d os p rogram as d e volu n tariad o, fu n d am en tais p ara o tratam en to m ais h u m an izad o d a d oen ça.

Palavras-ch ave: Marcos Fern an d o d e Oliveira Moraes; Fu n d ação d o Cân cer n o Rio d e Jan eiro; In stitu to Nacion al d o Cân cer; trabalh o volu n tário e cân cer; hospice.

A b st ra ct

Interview with the surgeon Marcos Fernando de Oliveira Moraes, chairm an of Rio de Janeiro’s Cancer Foundation, a private organization that provides support for cancer research and control initiatives, in partnership with the National Cancer Institute (Instituto Nacional do Câncer, or Inca), of which Moraes was director general. Dr. Moraes narrates his activities as a physician and adm inistrator, addresses the im portance of prevention and early diagnosis, and presents data on changing habits, like sm oking in public. He highlights the recent creation of the city’s first hospice, “a place where people go to spend the rem ainder of their lives as well as they can.” He stresses the im portance of volunteer program s, which are essential to providing m ore hum anized treatm ent.

Keywords: Marcos Fernando de Oliveira Moraes; Rio de Janeiro Cancer Foundation; National Cancer Institute; volunteerism and cancer; hospice.

Entrevista com/Interview with

Marcos Moraes

Concedida a/Interview given to

Claudia Jurberg

Jornalista, Instituto Oswaldo Cruz/ Fiocruz e Instituto de Bioquímica Médica/UFRJ

cjurberg@bioqmed.ufrj.br

Jaim e L. Benchim ol Luiz Antonio Teixeira

Pesquisadores da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz

jben@coc.fiocruz.br teixeira@ coc.fiocruz.br

Ruth B. Martins

Jornalista, Casa de Oswaldo Cruz/ Fiocruz

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S

ão m ú ltip las as fren tes com q u e o ciru rgião Marcos Fern an d o d e Oliveira Moraes lid a n o u n iverso d a on cologia, seja com o m éd ico, seja com o gestor d e in stitu ições n esse cam p o d a saú d e. Nesta en trevista ele con ta h istórias sobre a lu ta in cessan te con tra o cân cer t ravad a p o r d o en t es, m éd ico s, seu s fam iliares e o s vo lu n t ário s d o s p ro gram as q u e o co m b at em .

Marcos Moraes p resid e o Con selh o d e Cu rad ores d a Fu n d ação d o Cân cer, in stitu ição p rivad a q u e ap oia a p esq u isa e as ações d e con trole d a d oen ça, e q u e tam bém visa an gariar recu rsos, fu n cion an d o em p arceria com o In stitu to Nacion al d o Cân cer, d e on d e ele foi d iretor-geral en tre 1990 e 1998.

Ultim am en te, o alagoan o d e Palm eira d os Ín d ios vem -se d ed ican d o à organ ização d o p rim eiro hospice n a cid ad e, “u m lu gar p ara on d e as p essoas vão p ara ap roveitar d a m elh or m an eira p ossível o resto d e vid a q u e têm ”. Ele con ta q u e já obtiveram p arte d os recu rsos n ecessários p ara su a im p lan tação: “O lu gar d eve ser bon ito. Tem q u e ter p lan tas, flores”, acen t u a.

Foi tão forte o en volvim en to d e Marcos Moraes com u m a p acien te term in al, q u e a fez p erson agem d e u m con to seu , “Marta”. Su a h istória: a p obre m u lh er p rotelou p or d ois an os a id a ao m éd ico, d ep ois d e d escobrir u m n ód u lo n o seio. Su a id eia era evitar a p erd a d o em p rego d e d om éstica, n o Flam en go. Ela tin h a q u atro filh os: Pau la, d eficien te física; Jo ão , q u erid o p ela vizin h an ça, n o bairro d o Caju o n d e m o ravam , t in h a u m p ro blem a grave – bebia d em ais; Maria era p rostitu ta e Cid a, telefon ista. Qu an d o Marta foi aten d id a n o Ho sp it al d e Ip an em a, já n ão h avia o q u e fazer. Dali, fo i t ran sferid a p ara a Casa d e Rep ou so, q u e abriga p acien tes sem p ossibilid ad e d e cu ra.

Tem p os d ep ois, ap reen siva, volt o u p ara casa q u an d o so u be q u e seu s filh os est avam d isp o st o s a p art icip ar d e u m p ro gram a su p ervisio n ad o p elo In ca. Jo ão e Maria fo ram trein ad os e cu id aram d a m ãe d u ran te 47 d ias. Dou tor Marcos con ta q u e esteve d u as vezes com Marta, q u an d o viven ciou m om en tos gratifican tes. Fin aliza assim su a h istória:

Du ran t e as visit as, ch o ran d o d e felicid ad e, ela d izia q u e est ava viven d o o s d ias m ais im p o rt an t es d e su a vid a. Seu s filh o s Jo ão e Maria, p o r q u em t in h a gran d e p reo cu p ação , ago ra eram p esso as am o ro sas e cap azes d e d em o n st rar am o r e carin h o . Mo rreu feliz.

Mesm o p erceb en d o q u e o t rab alh o vo lu n t ário ain d a é in cip ien t e em n o sso p aís, o m éd ico é otim ista e acred ita n o au m en to d o n ú m ero d e p essoas a se in teressar p or essa form a d e p articip ação. Com o exem p lo d esse p oten cial, ele d escreve u m ‘h otel’ n o Rio, p arceria d o In ca com o McDon ald ’s, q u e d isp õe d e 65 leitos p ara crian ças em tratam en to d e rád io e q u im io t erap ia e co n t a co m 4 0 0 fu n cio n ário s, d o s q u ais ap en as u m t em rem u n eração: “a h u m an id ad e tem u m p oten cial en orm e d e d oar ao p róxim o ... p recisa ser estim u lad a p ara isso”.

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Em âm bito global, as taxas d e m ortalid ad e tam bém assu stam : o World Can cer Rep ort d e 2008, relatório d a Agên cia In tern acion al p ara Pesq u isa sobre o Cân cer d a Organ ização Mu n d ial d e Saú d e (Iarc/ OMS), registra q u e n os ú ltim os 30 an os os ín d ices d e in cid ên cia d a d oen ça m ais d o q u e d u p licaram . A estim ativa d a Iarc n aq u ele an o era a d e q u e seriam co n t ab ilizad o s algo em t o rn o d e 12,4 m ilh õ es d e caso s n o vo s d e cân cer, e a d o en ça p rovocaria ap roxim ad am en te 7,6 m ilh ões d e óbitos. Com o en velh ecim en to e o con tín u o crescim en to p op u lacion al, a exp ectativa é d e q u e o m aior im p acto d o cân cer recairá sobre os p aíses d e m éd io e baixo d esen volvim en to. Ain d a segu n d o a m esm a agên cia, m etad e d os casos n ovos e cerca de 2/ 3 das m ortes p or cân cer ocorrerão n essas regiões.

Desse total d e casos con tabilizad os, o cân cer d e p u lm ão atin giu 1,52 m ilh ão d e casos n ovos; o d e m am a afetou 1,29 m ilh ão d e m u lh eres; e os casos d e cân cer d e cólon e reto ch egaram a som ar 1,15 m ilh ão. O cân cer d e p u lm ão tam bém foi o vilão em n ú m ero d e m ortes, fazen d o 1,31 m ilh ão d e vítim as, segu id o p elo cân cer d e estôm ago, com 780 m il óbitos, e o cân cer d e fígad o, com ou tras 699 m il m ortes. Para a Am érica d o Su l, Cen tral e Caribe, a agên cia d a OMS p revia, em 2008, ap roxim ad am en te u m m ilh ão d e casos n ovos d e cân cer e 589 m il óbitos.

No Brasil, ain da segun do essas m esm as estim ativas para o an o de 2010, a expectativa é de q u e ocorram 489.270 casos n ovos d e cân cer. Os tip os m ais in cid en tes, à exceção d o cân cer d e p ele d o t ip o n ão m elan o m a, serão o s cân ceres d e p ró st at a e d e p u lm ão , n o sexo m ascu lin o, e os cân ceres d e m am a e d e colo d o ú tero, n o sexo fem in in o.

No artigo “Forty years’ war: ad van ces elu sive in th e d rive to cu re can cer”, veicu lad o n o The New York Tim es em 23 d e abril d e 2009, a jorn alista Gin a Kolata ap resen ta som bria sín tese sobre a situ ação d a d oen ça n os EUA. Ela d estaca q u e a d oen ça p assou a ser u m a “prioridade cara” para o país quan do o presiden te Rich ard Nixon an un ciou que tin h a com o objetivo a cura do cân cer até 1976: “o an o ch egou e se foi, e a data para um a cura, ou pelo m en os algu m p rogresso su bstan cial, con tin u ou sen d o p ostergad a. Acon teceria em 2000, depois em 2015. Agora, ... Barack Obam a ... prom eteu en con trar ‘um a cura’ para o cân cer em n osso tem po” – iron iza.

Segu n d o a rep órter, a m aior in stitu ição p ú blica d e p esq u isa d os EUA, o Nation al In stitu te of Can cer, com q u atro m il fu n cion ários, n aq u ela d ata já h avia gasto 105 bilh ões d e d ólares. Fo ra o s “in co n t áveis bilh õ es” d esp en d id o s p o r o u t ras agên cias p ú blicas e filan t ró p icas, u n iversid ad es, in d ú stria farm acêu tica. E, m esm o assim , as taxas d e m ortalid ad e p ela d oen ça n os Estad os Un id os caíram ap en as 5% en tre 1950 e 2005. Verifiq u e o con traste en tre a red u ção d o n ú m ero d e m ortes p or ou tros m ales n o m esm o p eríod o: as taxas d e m ortalid ad e p rovocad as p or d oen ças card iovascu lares caíram 64%, e p or grip e e p n eu m on ia a q u ed a atin giu 58%.

No q u e d iz resp eito à p reven ção, os avan ços ain d a são len tos, ressalta Gin a Kolata. “Ap en as algu m as coisas – p arar d e fu m ar, p or exem p lo – fazem d iferen ça. Dietas ricas em fibras, baixas em gordura ... fracassaram em en con trar um efeito”. No en tan to, o artigo traz algu m as boas n ovas p ara q u em tem o d iagn óstico p recoce e p od e viver algu n s an os com q u alid ad e.

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u u u UUU

Você poderia falar um pouco sobre o problem a do câncer hoje no Brasil?

O cigarro é respon sável por m ais ou m en os 30% das m ortes por cân cer n o m un do. Aqui n o Brasil, m ostram os, em 1994, em u m a gran de rep ortagem n a revista Veja, q u e a Sou za Cru z ad icio n ava am ô n ia à m ist u ra d o cigarro p ara liberar m ais n ico t in a e au m en t ar a depen dên cia. Ach o qu e esse foi o prim eiro gran de im pacto con tra a credibilidade qu e até en tão os dirigen tes dessas em presas possuíam . As com pan h ias de cigarro utilizam m uito as crian ças e os ad u ltos joven s p ara tran sform á-los em n ovos fu m an tes. Mostram os q u e a So u za Cru z n ão era a san t a p ro ved o ra, aju d an d o as u n iversid ad es, at u an d o em o u t ro s setores d a socied ad e em q u e os joven s estavam . A p artir d aí, com eçam os a gan h ar u m a batalh a que, n o Brasil, era im possível. Era im possível im agin ar que um dia o cigarro seria ban ido dos voos, de am bien tes fech ados e tam bém que a propagan da fosse proibida. A luta era tam bém con tra a m ídia, que devia, n aquela época, gran de parte de seu faturam en to à in dústria de fum o. As com pan h ias in vestiram , por décadas a fio, n a associação de cigarro ao glam our, à beleza, à m aior capacidade física, ao m aior desem pen h o n os esportes fin an ciados. No cin em a, especificam en te n os film es produzidos a partir dos an os 1940, m ulh eres e h om en s fum avam sem parar. Casablanca é um bom exem plo; com o se fum a n aquele film e! Muitos atores acabaram m orren do de cân cer de pulm ão, e Hum prey Bogart foi um deles.

As com p an h ias d e cigarro d esen volveram cen ten as d e estratégias ao lon go d o tem p o. Um a d elas foi criar m ecan ism os p ara torn ar a ad ição d a n icotin a m ais forte. Um a abord a-gem errad a ain d a é recorren te: in fan tilizar o fu m an te – “Se ele sabe q u e faz m al à saú d e, p or q u e n ão d eixa d e fu m ar?”. Em vez d essa p ostu ra, d evem os en cam in h á-lo ao tratam en to p ara d ep en d ên cia q u ím ica, p ois a relação d e q u em fu m a com a d oen ça já é estabelecid a, e a d ep en d ên cia à n icotin a é m ais forte d o q u e a q u alq u er ou tra d roga. A ação con tra o fu m o ou con tra o tabagism o tem várias fren tes d e com bate: p assa p elo in d ivíd u o, p ela in d ú stria, m as, sem n en h u m a d ú vid a, a coisa m ais efetiva p ara a red u ção d o con su m o é taxar. Qu an to m ais caro o cigarro, m en or o con su m o. É diretam en te p rop orcion al. Nesse sen tid o, é fu n d am en tal a in terven ção d o Estad o.

Com o é essa briga com as indústrias? Sabe-se que, em relação à Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, ainda tem os grandes problem as com os plantadores de fum o no Sul.

Estão m u d an d o, graças ao p ap el d e lid eran ça d a Organ ização Mu n d ial d a Saú d e (OMS) e d e reu n iões com o a Con ven ção-Qu ad ro, q u e d efin em regras em relação à p rop agan d a, à visan d o ao con forto d o d oen te. Ele en volveu os p rofission ais, q u e p assaram a p articip ar d a im p lan t ação d e u m Pro gram a d e Gest ão p ela Q u alid ad e To t al, e lo go a in st it u ição tin h a n ova estru tu ra – p assou a ser u m d ep artam en to d o Min istério d a Saú d e – e torn ou -se referên cia n acion al p ara o con trole d o cân cer n o Brasil.

À en trevista!

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p roteção d o fu m an te p assivo e a u m a série d e asp ectos. E n ão é p reciso an álise cien tífica. Tod os n ós p ercebem os, on d e vivem os, q u e o cigarro em p ú blico d im in u iu m u ito. Nu m a festa h oje, olh e a su a volta. As p essoas n ão se sen tem bem fu m an d o.

Mas tem os q u e oferecer algu m a altern ativa p ara o su jeito q u e vive d o p lan tio. E h á várias op ções n o p róp rio local, n o p róp rio p lan tio, d e se ap roveitar a terra d e m an eira m u ito m ais lu crativa. Um bom exem p lo acon tece n o Rio Gran d e d o Su l, m aior p rod u tor brasileiro , n a cid ad e d e San t a Cru z d o Su l, co n sid erad a a m aio r p ro d u t o ra d e fo lh a d e fu m o n o m u n d o. Há m ais d e 15, 20 an os, a Arq u id iocese e a Secretaria d e Agricu ltu ra têm ad otad o estratégias p ara estim u lar o agricu ltor a sair d o ram o. Ain d a assim , essa in d ú stria é m u ito forte e segu e fazen d o ofertas im ed iatas q u e fascin am e estim u lam o agricu ltor a p erm an ecer n o cu ltivo d o fu m o. Qu an d o an alisam os d ocu m en tos q u e an tes eram secretos e h oje estão disp on íveis em vários sites de organ izações con tra o fu m o, vem os estratégias criad as p ara m an ter as p essoas p lan tan d o e p ara estim u lar o con su m o d e in d ivíd u os cad a vez m ais joven s. É u m a gu erra.

Mas isso rep resen ta 30%. E o q u e acon tece com o resto? Com o é o p an oram a d o cân cer n o Brasil? Com o p odem os tratá-lo? A m elh or form a é p reven ir com m u d an ças n os h ábitos d e viver. A segu n d a m elh or form a é d iagn osticar p recocem en te. E p ara isso é p reciso ed u car a p op u lação tan to leiga q u an to m éd ica e d ar su p orte ad eq u ad o p ara q u e, aos p rim eiros sin ais, o in d ivíd u o seja exam in ad o, m esm o q u e ele n ão ten h a q u eixa, m esm o sem n en h u m sin al, p orq u e m u itas vezes são d oen ças q u e ap arecem em d eterm in ad as p artes d o organ ism o d e m an eira silen ciosa. Exem p lo d o q u e já vem sen d o feito é o trabalh o d e p reven ção d o cân cer d e co lo d o ú t ero . Trat a-se d e p ro gram a a lo n go p razo , p elo q u al o s p aíses m ais d esen volvid os levaram 15, 20 an os p ara obter im p acto sobre a m ortalid ad e d a p op u lação. Os p aíses m en os d esen volvid os ain d a n ão estão organ izad os. A d oen ça ain d a m ata m u ita gen te n o Brasil.

No Brasil, os índices aum entaram nos últim os anos, não?

Não d igo q u e estejam am p lian d o, m as n ão estão d im in u in d o. Diferen te d o q u e ocorre com algu m as d oen ças.

Para a p reven ção d e q u alq u er cân cer, d e colo, d e p róstata, tod as as estratégias d evem ser p rogram ad as. Você lê u m a cam p an h a: “Qu an d o com p letar 50 an os, faça seu p róp rio exam e de p róstata”. No in terior d o Nord este já é u m p recon ceito en orm e o h om em ser exam in ado e su bm eter-se ao toq u e retal. E en tão, com q u em vai fazer? On d e vai? Prin cip alm en te em u m p aís com a p op u lação com o a n ossa, com en orm e carên cia em d eterm in ad as regiões. Essas são as barreiras q u e en fren tam os p ara ter u m resu ltad o m elh or n o tratam en to d o cân cer.

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estarem exp ostas à m íd ia d o d ia a d ia, têm m u ito p recon ceito. São m u lh eres cu jo m arid o n ão p erm ite q u e elas façam u m exam e gin ecológico, p or m otivos sociais, p or d ificu ld ad es d e locom oção, p or acesso. O p roblem a com eça n o recru tam en to. Aq u i n o In ca, h á algu n s an os oferecem os o exam e a m u lh eres d e faixa etária e gru p o social d e m aior risco. Qu an tas d elas vieram p ela m íd ia, p elas cam p an h as, esp on tan eam en te? Em torn o d e 11%. Eu d igo n a fase d e p reven ção p rim ária, n o exam e an u al. Se a p rop agan d a é feita com u m a m u lh er fam osa, com o a Cássia Kiss, p or exem p lo, d izen d o q u e o exam e gin ecológico é im p ortan te, as m u lh eres p en sam : “Eu n ão sou aq u ela m u lh er; eu sou feia, eu vivo em con d ições m u ito ru in s d e h igien e...”. Ela n ão se id en tifica com aq u ela im agem . En tão, m ais d e 80% d as m u lh eres n ão aten d em a esse ap elo. Essas m u lh eres são in flu en ciad as p elos líd eres locais, os visitad ores sociais, ou p elas lid eran ças religiosas, p or p olíticos... Líd eres com u n itários, d e algu m a form a, in flu en ciam . Os am igos...

Na p rim eira et ap a d o recru t am en t o , vo cê t em q u e p rep arar as p esso as. Na segu n d a p arte, com o será o exam e? Dep ois d e colh er vai m an d ar p ara on d e? O exam e d em an d a, além d a facilid ad e d o kit, p esso as n a co m u n id ad e, t écn ico s cap azes d e exam in ar co m segu ran ça. É p reciso p rep arar os citotécn icos d o p aís in teiro. Para q u e o exam e seja feito com acu rácia, é p reciso q u e você ten h a algu m a m an eira d e ch ecar a q u alid ad e d os lau d os d esses citotécn icos. Faz-se n ecessária u m a red e n acion al. O resu ltad o d esse exam e tem q u e ch egar à m u lh er. E q u an d o h á u m d iagn ó st ico d e ad vert ên cia, o n d e essa m u lh er será tratad a? Pois ela p recisa d e tratam en to. En tão tem -se q u e p rep arar a in fraestru tu ra p ara, recebid o o d iagn ó st ico , a m u lh er ser en cam in h ad a a algu m lu gar em q u e será t rat ad a ad eq u ad am en te. Na m aioria d as vezes, com o d iagn óstico d a d oen ça in icial, o tratam en to d eve ser n o am bu latório. A con ização d e colo d o ú tero é p roced im en to extrem am en te sim p les, m as a p acien te p recisa ser acom p an h ad a d u ran te algu n s an os. Essas etap as, p orém , ap aren tem en te m u ito sim p les, levaram 10, 15 an os n os p aíses ad ian tad os. No Brasil, fazem os u m n ú m ero d e exam es an u ais q u e eu con sid ero su ficien te p ara cobrir a faixa etária d e risco.

Com o ocorre o controle do câncer cervical hoje? E as cam panhas, são efetivas?

Com o já com en tei, cam p an h as n ão valem n ad a; é p reciso u m p rogram a a lon go p razo. Cam p an h as já tivem os q u in h en tas m il, e os ín d ices n ão m elh oraram . Nin gu ém faz m ilagre n esse cam p o.

Existe um bom program a no Brasil hoje?

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Dep ois d e fazer os exam es, vai fazer o q u ê com eles? Nad a. As m u lh eres já estão acostu m ad as, coitad as, a fazer exam es e d ep ois, n ad a. Um d iagn óstico p recoce p assa p ela elaboração d e p rogram as p erm an en tes.

É d iferen te d o cân cer d e m am a, q u e req u er ou tra abord agem . Com relação ao d e colo d o ú tero, é p ossível, d e m an eira m u ito sim p les, cu id ar d as alterações p ré-m align as. Já com o cân cer d e m am a é d iferen te: trata-se o tu m or, m as n ão h á com o fazer su a p reven ção. Trata-se a doen ça p recoce.

E em relação a outros tipos de câncer?

O cân cer é d iferen te d e algu m as d oen ças. Posso d ar o exem p lo d as d oen ças card iovas-cu lares. Nos ú ltim os 40 an os, a red u ção d a m ortalid ad e p or d oen ças card iovasiovas-cu lares foi m aravilh osa. A red u ção d a m ortalid ad e p or cân cer n os ú ltim os 40 an os é p raticam en te u m a lin h a, se com p ararm os os 4% d o cân cer em 50 an os aos 50% d e red u ção d as d oen ças card iovascu lares. Esp era-se q u e a m ortalid ad e p or cân cer vá d im in u ir n os p róxim os d ecên ios, n os p aíses m ais desen volvid os e au m en tar m u ito n os p aíses m en os d esen volvid os.

Observe o gráfico com o n ú m ero d e testes citológicos feitos n o Brasil en tre 1996 e 2006; veja com o au m en tou ; agora olh e a cu rva d a m ortalid ad e p ela d oen ça.

Fonte: Inca, 2010.

Gráfico comparativo entre mortalidade por câncer do colo uterino e número de exames citopatológicos realizados entre 1996 e 2006

Isso por quê? Os testes não tiveram consequência?

Co m o falei, n ão ad ian t a au m en t ar o n ú m ero d e exam es e a cu rva d e m o rt alid ad e con tin u ar a m esm a. Para q u e a am p liação d os testes tivesse a con seq u ên cia d esejad a, teriam d e vir con ju gad os, obrigatoriam en te, o tratam en to e o acom p an h am en to d a p acien te n o lon go p razo. Retorn an d o ao cigarro, h ou ve d eclín io d o n ú m ero d e fu m an tes en tre 1980 e 2004.

No caso do tabagism o, as cam panhas funcionaram ?

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O d e colo d o ú tero im p lica u m a su cessão d e etap as: você tem q u e recru tar, fazer u m exam e, acom p an h ar. Deixar d e fu m ar é con ven cer o in d ivíd u o sobre u m a coisa q u e lh e fará m al. Não é d ifícil con ven cer u m a m u lh er a fazer o exam e; m as e d ep ois? E o acom p an h am en to?

E o câncer de pulm ão dim inuiu?

Nos h om en s, a in cid ên cia está estabilizad a, m as n as m u lh eres está au m en tan d o, p orq u e as m u lh eres, com a liberação fem in in a, p assaram a fu m ar m ais. No geral, p orém , o au m en to d a p op u lação e d a vid a m éd ia d essa p op u lação com o u m tod o faz com q u e a d im in u ição d o n ú m ero d e cân ceres n ão atin ja a p rop orção esp erad a.

Gráfico comparativo da mortalidade por câncer de traqueia, brônquios e pulmões em homens e mulheres, ajustado por idade, pela população mundial, por 100.000, Brasil, entre 1996 e 2006

Fonte: Inca, 2010.

Em relação ao tratam ento da doença, o que existe de novo?

Gastou -se bastan te em p esq u isas, e m u itas ain d a estão em an d am en to. Mas tem os u m gran d e p roblem a h oje n o tratam en to d o cân cer, q u e se relacion a às n ovas d rogas com base em en gen h aria gen ética, biologia m olecu lar. Descobriram a terap ia-alvo, q u e trata d iretam en te as célu las d oen tes. São rem éd ios extrem am en te caros, e o efeito n a sobrevid a d o in d ivíd u o, n o p rolon gam en to d a vid a e n a q u alid ad e d e vid a ain d a é m u ito p eq u en o. A gen te p od e d ar algu n s exem p los, com o o an ticorp o m on oclon al, q u e é u tilizad o p ara com bater o cân cer do in testin o. O tratam en to cu sta m ais ou m en os em torn o d e sete, oito m il d ólares p or m ês, e o resu ltad o global d e au m en to d a sobrevid a é em torn o d e u m m ês, p ara u m tratam en to d e seis a oito m eses.

Os transtornos sociais dessas terapias continuam iguais aos da quim ioterapia?

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possibilidade d e cu ra, m as q u e p recisam ser tratad as p ara elim in ar a d or, p ara m elh orar a q u alid ad e d e vid a, sem p recisar receb er o s efeit o s co lat erais d e m ed icaçõ es q u e são q u estion áveis. Há in d ivíd u os q u e p assaram p or m ilagres, com o Lan ce Arm stron g, o su jeito q u e gan h ou sete vezes o circu ito d e bicicleta d a Fran ça. Ele teve u m cân cer q u e evolu iu m al, tom ou u m a d essas d rogas e ficou bom . Deu sete voltas n a Fran ça e gan h ou as sete. Terá sid o d evid o à d roga? Pod e ser. Mas esse é ap en as u m caso.

Questionam até se foi um m ilagre.

Com o se pode provar se foi a droga ou n ão? Você pode provar se in vestigar m il in divíduos com d oen ça id ên tica e tiver bom resu ltad o com u m n ú m ero razoável. Se com p arar m il in divíduos que tom aram aquela droga com m il in divíduos que n ão tom aram , a m ortalidade é m ais ou m en os a m esm a. É m uito pouco provável que se possa con siderar aquela droga o ún ico fator daquele m ilagre. Acon tece que existem poucos estudos. Não é ceticism o, n ão é falta de esperan ça. Acon tece que em qualquer país, do pon to de vista de política de Estado, é m uito m ais im portan te gastar n as outras etapas do que tratar um in divíduo só para evitar efeitos colaterais que ele n ão precisava ter n o fin al de sua vida. O q u e é p reciso fazer com as p essoas q u e têm u m tu m or n ão m ais tratável? Há q u em d iga: “Não tem m ais o q u e fazer” – m as h á, sim , m u it o a fazer! Po d em o s o ferecer t rat am en t o co m d ign id ad e, resp eit o à p essoa, q u e d eve ser aten d id a em seu s d iferen tes sin tom as, às d em an d as d a d oen ça. Dor é sin t o m a im p o rt an t íssim o p ara o t rat am en t o fin al d o cân cer. O in d ivíd u o t em q u e t er ap oio. Aq u i n o In ca h á u m p rogram a d esen volvid o n u m a u n id ad e p ara p acien tes fora d e p ossibilid ad es terap êu ticas com 60 leitos. Lá, as p essoas são tratad as e estim u lad as a ir p ara casa, q u an d o p ossível, a fim d e ser tratad as p ela fam ília. Nós m an d am os rem éd ios, u m a visita em casa, u m a cesta básica p ara a fam ília q u an d o n ecessário. E essas p essoas certam en te m orrem com m u ito m ais d ign id ad e d o q u e se estivessem sen d o in vad id as p or rem éd ios, tu bos... Hoje, em tod o o m u n d o, está su rgin d o essa p rática. São os hospices, lu gares p ara on de as pessoas vão n o in tuito de aproveitar da m elh or m an eira possível o resto de sua vida. Às vezes, a p essoa en tra em u m a UTI e com eça a ser in vad id a, sem n in gu ém exp licar n em p ergu n t ar n ad a: u m cat et er n a veia, u m cat et er n a bexiga. At acam o p acien t e d e d iversas fo rm as, e ele n ão t em d ireit o n em d e saber o q u e est á aco n t ecen d o . En t ão , o hospice é exatam en te p ara evitar q u e isso acon teça, p ara en sin ar à p essoa q u e, m esm o n o cu rso d aq u ela d o en ça, é p o ssível ap ro veit ar seu s ú lt im o s d ias. Às vezes, vo cê at en d e a p eq u en os d esejos q u e são m u ito im p ortan tes p ara o p acien te. São p eq u en os p roblem as; em algu n s casos, o su jeito q u e está in tern ad o p reocu p a-se em p agar R$300,00 p elo barraco d ele ao grileiro, sen ão o p erd e. São coisas p eq u en as.

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asp as, d e ‘en sin ar a p essoa a m orrer’, d e viver com d ign id ad e o resto d a vid a q u e lh e cabe. Obter algum resultado com essa m udança de cultura exige um longo curso, não é?

Sim , p ara trabalh ar n isso a p essoa tem q u e se p rep arar, ter vocação, sen sibilid ad e. A partir do m om en to em que se assum e o com prom isso de tratar de um a pessoa dessas, tem -se que tratar da fam ília; é preciso se com prom eter, dar apoio às fam ílias depois da perda. É um a série de etapas que n ão podem ser quebradas, pois você in valida, desm oraliza sua ação.

Esse program a é do Ministério da Saúde?

É u m p rogram a n ovo d o In ca. Qu an d o o p acien te tem fam ília, p od e-se con ven cê-la. Mas h á fam ílias q u e trabalh am . A p rim eira u n id ad e q u e fizem os, agora com d ez an os d e exp eriên cia, era fo cad a n o d o en t e t erm in al, p o is ele p assa a ser u m p ária, m esm o n o h osp ital d o cân cer, on d e ele ch ega p ara ser rein tern ad o p ela d écim a vez e recebe u m olh ar d e rejeição. Qu an d o fizem os essa u n id ad e em Vila Isabel, n o Rio d e Jan eiro, visam os à d ed icação exclu siva a esse p acien te. Qu an d o ch egar lá, o lu gar é d ele. Ele n ão será rejeitad o. E ap ren dem os m u ito n esses dez an os.

Com o se cham a?

A u n id ad e d e m ed icin a p aliativa d o In ca é o HC IV, em Vila Isabel. O n ovo p rogram a, p rojeto d a Fu n d ação a ser in iciad o n este an o, é ch am ad o n os p aíses d e lín gu a in glesa d e Hospice, n om e d e origem latin a q u e sign ifica acolh id a, h osp ed agem . O term o rem on ta aos an tigos estabelecim en tos q u e acolh iam viajan tes, em su as jorn ad as, em bu sca d e u m lu gar m elh or p ara viver. E n o cam in h o h avia sem p re algu ém q u e oferecia com id a, lu gar p ara d orm ir p or u m a n oite e, p or q u e n ão, certa d ose d e con forto, carin h o.

Você está falando de diversas ações, em que hoje a atuação do Inca é central: hospices, voluntariado... O Inca tem essa característica, de um a atuação m ais hum anizada, m ais integrada à com unidade. Você poderia falar um pouco sobre isso, de um a form a m ais geral? Do voluntariado, por exem plo, que é um aspecto im portante.

Acred itam os q u e a h u m an id ad e h oje está m u ito egoísta, n ão p en sa n o p róxim o. E isso é o m aior en gan o. A h u m an id ad e tem u m p oten cial en orm e d e d oar ao p róxim o algu m a coisa. Ela p recisa ser estim u lad a a isso e acred itar q u e essa ação é gratifican te. Tem os u m h o t el, p o r exem p lo , em p arceria co m a em p resa McDo n ald ’s, q u e t em as casas Ro n ald McDo n ald ’s n o m u n d o in t eiro . São 65 ap art am en t o s, em q u e q u alq u er u m d e n ó s se h o sp ed a co m relat ivo co n fo rt o . Neles a crian ça p o d e ficar co m a m ãe o u co m o p ai, d u ran te o tratam en to d e q u im ioterap ia ou d e rad ioterap ia. Esse h otel d eve ter em torn o d e 400 fu n cion ários. Só u m recebe rem u n eração, q u e é o geren te. Tod os o ou tros são volu n tários. Nós in stitu ím os u m a m an eira d e lid ar com volu n tários, p orq u e ser volu n tário é ótim o, é m aravilh o so , m as ele t em o b rigaçõ es, co m o q u alq u er o u t ro fu n cio n ário . Se falt ar ao p lan t ão , ele é d em it id o o u ad vert id o . Po rq u e se faz isso d esarm a t o d o o esq u em a, cu id ad osam en te m on tad o, d essa form a m ais con sisten te d e con tribu ição volu n tária.

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o volu n tariad o faz aq u ilo p or p aixão. Não é o volu n tário q u e q u er ap arecer. Em bora tod a e q u alq u er d oação seja bem -vin d a, estam os falan d o d aq u ele trabalh o d e d oação con tin u ad a. Em t o d a s a s in st it u içõ es d o m u n d o q u e a p ro veit a m vo lu n t á rio s, o s resu lt a d o s sã o extrem am en te su p eriores em todas as etap as, até n o resu ltad o d o tratam en to. O crescim en to do sistem a de saú de n o m u n d o está ‘d esp erson alizan d o’ m u ito as p essoas. Em vez d e ser d on a Marta, é u m a m oça q u e tem u m cân cer term in al: “Qu al é o n om e d ela?”. “Está n a en ferm aria 13”. Não se sabe se tem filh o, se tem m ãe, q u ais são os p roblem as d o d ia a d ia. Isso tu d o é m u ito im p ortan te; n ão se p od e tratar a d oen ça, tem q u e tratar o in d ivíd u o, com tod os os elem en tos q u e com p õem a p erson alid ad e d ele.

Você acha que o Brasil, por nossa herança ibérica, é deficitário nesse ponto de vista, em com paração, por exem plo, com os Estados Unidos ou a Inglaterra? Som os um a sociedade sensível ao voluntariado?

Há d u as m an eiras d e en carar a q u estão. A p rim eira é a d oação. In d ivíd u os q u e têm fo rt u n a e q u e d o am . Isso aju d a m u it o . E, en t ão , h á o vo lu n t ariad o , q u e d o a d e o u t ra form a, d oa trabalh o, carin h o. Esse é o m ais im p ortan te. Há p essoas q u e d oam u m p ou q u in h o d o q u e p od em , ou trabalh o ou p eq u en a p arcela d o q u e gan h am . Trabalh ar com o volu n tário é gratifican te. Não h á n ad a m ais gratifican te p ara u m a p essoa q u e se d oa; n ão h á p rêm io m aior. E o volu n tário gan h a m ais d o q u e q u em d ele recebe. É u m gan h o em ocion al tão gran d e...

Com o gestor de planejam ento de políticas e program as, com o você atua para conquistar voluntários?

Com eça-se a recru tar volu n tários n o am bien te fam iliar d as p essoas com cân cer e, d ep ois, ju n to aos am igos. A m elh or estratégia é fazer com q u e eles viven ciem a situ ação, p orq u e as h ist ó rias são m o st rad as. Há vo lu n t ário s d e t o d o s o s t ip o s. Nas gran d es in st it u içõ es d e cân cer n a Eu rop a, n os Estados Un idos, h á volu n tários atu an do com o p orteiros do h osp ital, m o t o rist a d a am bu lân cia, cap elão ... O cap elão é t rein ad o p ara d ar co n fo rt o esp irit u al, resp eitan d o a cren ça religiosa, q u alq u er q u e ela seja, d aq u ele in d ivíd u o in tern ad o e d e su a fam ília. Em algu m as com u n id ad es m ais d esen volvid as q u e já têm hospices, resp eitam -se até algu n s m au s h ábitos d o p acien te.

Doutor Marcos, esse program a é enraizado pelo Inca?

Eu n ão d iria en raizad o p elo In ca. H á açõ es d e vo lu n t ário s esp alh ad as p o r vário s h osp itais. Um m aravilh oso p rogram a com crian ças caren tes in tern ad as, n o Hosp ital d a Lagoa, é tod o feito com volu n tários.

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Nós os aju dam os n a ép oca, m as p erd i o con tato. Acred ito, p orém , q u e p od em os en con trar volu n tários em tu d o q u an to é lu gar.

Trabalh ar com o volu n tário, p ara aq u eles q u e têm con d ições p ara isso, p od e ser m u ito bom . Agora é m eu foco: com eçam os a fazer o p rim eiro hospice. Vai ser em u m terren o bon ito, com reserva d e m ata origin al. E tem q u e ser u m lu gar bon ito, arborizad o e com flores. Não se p od e colocar o su jeito q u e está n o fim d a vid a em u m q u arto escu ro, em u m lu gar q u e ele n ão veja o céu . Um a clien te m in h a fez a d oação d e p arte d os recu rsos n ecessários p ara su a im p lan tação, e esse será o p rim eiro n ú cleo.

Você está apostando m ais nisso do que nas políticas de Estado?

Não; con sid ero as d u as im p ortan tes.

E com o você está vendo essas políticas de Estado?

Nesse m om en to, em relação ao In ca, ao Min istério d a Saú d e, à n ossa Fu n d ação, tem os u m a sit u ação ím p ar. O m in ist ro fo i d iret o r d o In ca; q u em t o ca a Fu n d ação d eles fo i d iretor d o In ca tam bém , e o atu al d iretor é m u ito ligad o a tu d o isso. É m u ito d ifícil ocorrer u m a con ju n ção assim . En tretan to, o fin an ciam en to p ara a saú d e n o Brasil ain d a é m u ito p recário. Qu an d o a p arte d e saú d e d o In am p s p assou p ara o Min istério d a Saú d e, in feliz-m en te os recu rsos n ão vierafeliz-m ju n to. Dep ois, o Ad ib Jaten e criou a CPMF, u feliz-m a forfeliz-m a d e se ter u m d in h eiro d estin ad o ao Min istério d a Saú d e, ain d a m u ito p recário. Se a CPMF n ão tivesse caíd o, o Min istério p od eria arrecad ar o d obro d o q u e recebe h oje. E tem a relação en tre a q u alid ad e d a p olítica e o p oten cial econ ôm ico p ara m an ter aq u ela q u alid ad e d e aten d im en to. A con cep ção d o Sistem a Ún ico d e Saú d e é m aravilh osa, m as ele n ão tem fin an ciam en to ad eq u ad o p ara execu tá-la.

Você está falando sobre saúde pública. Gostaríam os que abordasse sua passagem pelo Inca, onde ficou conhecido com o a pessoa que reorganizou a instituição depois de um período de crise. E quando você saiu, principalm ente depois da criação da Fundação do Câncer (antiga Fundação Ary Frauzino Para Pesquisa e Controle do Câncer – FAF), o Inca estava em situação financeira e adm inistrativa m uito m elhor. Além disso, passou a ser o gestor da política sobre o câncer no Brasil.

Eu n ão tin h a n en h u m a relação com p olítica. Sou ciru rgião, com form ação em ciru rgia d e cân cer. En tão u m con terrân eo m e ligou e d isse: “O p resid en te d a Rep ú blica m an d ou con vidá-lo p ara escrever o p rogram a d e cân cer d o p róxim o govern o”. Eu n u n ca o en con trara, a n ão ser n a cam p an h a. Mas, ten d o votad o ou n ão, con sid ero obrigação cívica p articip ar d isso. En tão, em d ois m eses reu n im os u m a eq u ip e p eq u en a p ara avaliar o p roblem a d o cân cer n o Brasil.

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u m a id eia, o d iretor d o In stitu to Nacion al d o Cân cer n a ép oca tin h a u m DAS2, o q u e sign ifica p erten cer ao q u in to escalão d o Min istério da Saú d e. O p rim eiro p on to foi p en sar a n ecessidade de ter u m a estru tu ra. Dep ois, com o su p rir o In stitu to – en tão u m h osp ital p ú blico caren te – com estru tu ra física e fu n cion al q u e p u d esse aten d er a essa d em an d a. En tão su rgiu a id eia d e criar u m a fu n d ação d e ap oio q u e p u d esse su p rir essas n ecessid ad es. Foi m u ito d ifícil, m as m e p arece q u e a gran d e m od ificação d o In ca ocorreu en tre as p essoas. Naq u ela ép oca, o govern o estabeleceu u m p rojeto d e q u alid ad e ad m in istrativa, com foco em u m a ad m in istração voltada para a qualidade, para os resultados. Existiam três in stituições n o Brasil que eram recon h ecidas por esse program a. Um a fun dação em São Paulo, um a em Belo Horizon te e um in stituto aqui n o Rio, que cuida da qualidade da in dústria n uclear, o In stituto Brasileiro da Qualidade Nuclear (IBQN). E o govern o in stituiu um fin an ciam en to para que as in stituições se can didatassem . En tão, im agin am os um projeto de adm in istração por qualidade. Nós e o In m etro gan h am os. Com eçam os a trein ar os fun cion ários, sem n ada lh es prom eter, o que, aliás, n em poderíam os, porque n ada tín h am os. O objetivo era trein á-los para que fossem respeitados e, depois, apren dessem a respeitar o local de trabalh o. Ser respeitado n o sen tido de ser recon h ecido, ter seu m érito n o trabalh o; q ue eles participassem do sucesso, que eles fossem in form ados corretam en te de tudo que se passava n a in stituição. Voltassem a ter orgulh o de trabalh ar n aquele lugar.

Isso era um a ação do governo?

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exem p los, bem im p ortan tes, d e com o ou vir aq u ele fu n cion ário q u e está trabalh an d o ali h á 10, 15 an os e ap roveitar a exp eriên cia d ele p ara fazer m u d an ças. O alm oxarifad o com p ra u m a caixa com cin co m il serin gas. Não d á p ara con tar, p orq u e 50, 100 caixas são en tregu es em u m d ia. Um as vêm com 890, ou tras com 700; n u n ca vem tu d o. Veja a id eia d o fu n -cion ário: reu n ir várias caixas e p esá-las. Assim , teríam os u m p eso m éd io. Dep ois, con taríam os as serin gas d as caixas q u e estivessem fora d o p eso m éd io. Com isso, tivem os u m a econ om ia en o rm e. E fo i id eia d e u m fu n cio n ário . O u t ro exem p lo : u sam o s m u it o cat et er p ara a q u im ioterap ia – coloca-se aq u ilo sob a p ele e vê se está p egan d o a veia, e é n ecessário m u d ar tod a h ora p ara a com od id ad e d o p acien te. E aq u ilo d em orava a ser en tregu e, e d em orava m ais ain d a até liberar p ara ch egar n a u n id ad e d e q u im ioterap ia. E q u em cu id ava d a com p ra n em sabia p ara q u e servia. En tão, ch am am os aq u eles fu n cion ários p ara olh ar o q u e com p ravam : “Olh a, isso aq u i salva u m a vid a; q u an to m ais ágeis vocês forem , m ais vid as serão salvas”. Sem p u n ir, sem n ad a, só d an d o con h ecim en to a eles d a im p ortân cia d o trabalh o realizad o n a cu ra d o in d ivíd u o. Eles n u n ca im agin aram q u e, com o trabalh o d eles, p u d essem salvar u m a vid a. Foi esse am bien te q u e m u d ou a in stitu ição, en volven d o as p essoas n o trabalh o. Qu alq u er in d ivíd u o, em q u alq u er área d e atu ação, é resp on sável pelo resultado fin al da in stituição com o um todo. Se você con seguir m ostrar isso, terá com o resultado m uito pouca gen te trabalh an do com o pé n o freio. Vai ter m uita gen te trabalh an do n o acelerad or, até aceleran d o d em ais. Isso realm en te é u m a gran d e m u d an ça d e atitu d e.

E esse trabalho com a iniciativa privada, com a Avon, o McDonald’s? Com o é esse em que as m ulheres da Avon vão de casa em casa, apresentando inform ações?

Essa é u m a in stitu ição q u e tem m ilh ares d e m u lh eres q u e visitam casas e são gran d es d ivu lgad oras d e ações d e saú d e, m ostran d o a im p ortân cia d os exam es p eriód icos. Trein am os tam bém essas m u lh eres; n ão p od em os trein ar tod as, m as é m u ito gratifican te. As ou tras em p resas q u e au xiliam d e algu m a form a são im p ortan tes tam bém .

O p roblem a d o d oad or é q u e, n o Brasil, ele n ão tem in cen tivos igu ais aos d e ou tros p aíses, a ren ú n cia fiscal. A ren ú n cia fiscal, n os ou tros p aíses, estim u la a d oação p ara u m a fin alid ad e, p ara u m a in stitu ição n ão lu crativa. Mu seu s, bibliotecas, h osp itais, in stitu tos d e p esq u isa, u n iversid ad es n o m u n d o tod o têm gran d e p arceria com o p ú blico. Im agin a se a Un iversid ad e Fed eral d o Rio d e Jan eiro, a Fu n d ação Oswald o Cru z... se recru tássem os os ex-alu n o s. Tem m u it o ex-alu n o o cu p an d o p o siçõ es top n a in d ú st ria, n o co m ércio , n as in stitu ições d e p esq u isa. É p reciso ver esses ex-alu n os d oad ores d e seu trabalh o, d e su a ren d a. Assim é co m gran d e p art e d o o rçam en t o d as gran d es u n iversid ad es d o m u n d o tod o, Harvard , Ch icago, a Un iversid ad e d e Lon d res.

E tem um a história de tradição, não é? Países com o Estados Unidos e Inglaterra têm tradição nisso, nós não.

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p ossam ben eficiar m u ito. A p arceria p ú blico-p rivado é m u ito im p ortan te e é vitoriosa n o m u n d o tod o. O q u e n ão se p od e é fazer d o en sin o, p or exem p lo, algo lu crativo. Você até p od e lu crar com o en sin o, m as n ão p od e fazer u m a u n iversid ad e ap en as p ara lu crar. Um a u n iversid ad e p od e ser p rivad a, e a m aioria d as u n iversid ad es p rivad as n o m u n d o é até m elh or, m as com u m gran d e au xílio d o govern o. Harvard , Boston e a Un iversid ad e d e Ch icago são u n iversid ad es p rivad as com gran d e in tercom u n icação com o govern o, com p ro gram as d e co n t in u id ad e. Não h á n en h u m a fin alid ad e lu crat iva. Nin gu ém co lo ca d in h eiro n o bolso.

E a ação da filantropia?

Essa é u m a cu ltu ra q u e p recisa ser m ais d esen volvid a. Para se ter u m a id eia, h á algu n s an os, en com en d am os ao Ibop e u m a p esq u isa p ara con h ecer o p oten cial d e d oad ores n o Gran d e Rio. Por exem p lo, estam os p recisan d o d e u m laboratório d e biogen ética, q u e vai cu st ar R$10 m ilh õ es. Um gran d e d o ad o r, u m a em p resa, p o d e d ar esse valo r. E d ep o is? Com o vam os m an ter isso? O q u e p erm ite a u m a in stitu ição n ão lu crativa se m an ter é o p eq u en o d oad or, é aq u ele q u e d á p ou q u in h o sem p re. En tão, o objetivo d essa p esq u isa foi saber o q u e acon teceria, n o Rio d e Jan eiro, se organ izássem os u m p rogram a d e cap tação d e recu rsos, d e tal form a q u e con ven cesse cad a p essoa a d oar R$1,00 p or m ês. En con tram os algu m as coisas m u ito in teressan tes. Prim eiro, p alavras m ágicas p ara d oação, em relação a n osso h orizon te d e d oen ça: cân cer e crian ça são p alavras absolu tam en te m ágicas. Abrem p ortas; tocam o doador brasileiro, govern o, p essoas físicas, ju ríd icas. Isso foi feito da classe A à classe D. E en con tram os n a classe socioecon ôm ica m ais baixa u m gran d e n ú m ero d e in d ivíd u os q u e estão d isp ostos a d oar. Ou tro gran d e p roblem a d o d oad or n o Brasil é q u e, em vez d e d oar p ara u m a ação con tin u ad a, sobre a q u al tem con h ecim en to, ele d á u m a esm o la. E n u n ca t em in fo rm ação so b re o d in h eiro d ele, o q u e fo i feit o , o q u e aq u ela doação resu ltou em term os d e ben efício p ara a socied ad e. En tão, n esse asp ecto tem os u m a n orm a. Se você d oar R$50,00, vai ser in form ad o d o q u e foi feito d aq u ele d in h eiro, em q u e ação foi u tilizad o.

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con tin u ada. Algu n s p rogram as fazem m u ito su cesso d u ran te d eterm in ado tem p o e m orrem . Mo rrem p o r q u ê? Po r isso , p ela falt a d e in fo rm ação ao d o ad o r. O d o ad o r t em q u e ser in form ad o com o se ele fizesse u m d ep ósito ban cário. Su a ‘con ta’ com a in stitu ição q u e recebe seu s recu rsos deve con ter todas as in form ações sobre a ap licação daq u eles recu rsos. Isso é algo fu n d am en tal p ara se m an ter o d oad or vin cu lad o ao p rogram a.

Isso vale tanto para o pequeno com o para o grande doador?

Para q u alq u er u m . O cara q u e d á R$2,00 ou R$1,00 n a con ta d e lu z. Da m esm a form a q u e você p ed e n a con ta d e lu z, você in form a n a con ta d e lu z. Tem o exem p lo d o Mem orial Sloan Ketterin g Can cer Cen ter, em Nova York, ap aren tem en te d ifícil d e en ten d erm os n o Brasil. O Mem orial é o m elh or h osp ital d e cân cer d o m u n d o, in stitu ição filan tróp ica e n ão lu crat iva, q u e arrecad ava p o u q u íssim o ju n t o ao p ú blico . Recebia m u it a d o ação d e m ilion ários. Há u n s 10, 15 an os, resolveu fazer u m p rogram a d e cap tação d e recu rsos com o p eq u en o d o ad o r. Ch am aram a em p resa m ais p o d ero sa d e cap t ação d e recu rso s n o s Estad os Un id os e d isseram : “Qu eríam os q u e vocês d esen volvessem u m p rogram a d e cap tação d e recu rsos. Um p rogram a m u ito bem elaborad o, p ara ser ap resen tad o ao Con selh o d e Cu rad ores”. Na p rim eira reu n ião, eles q u ase foram en xotad os, p orq u e cobravam 39% d o q u e era cap tad o. Mas n esses 39% estava in clu íd o tu d o, tod o o cu sto d o p rogram a. Com eçava assim : avaliar tod a a p op u lação am erican a p ara ver q u an to p od eria ser d oad o; as p essoas q u e tin h am h eran ça e n ão tin h am h erd eiros; as p essoas q u e p od iam d oar u m a p eq u en a q u an tia. Dois an os d ep ois, eles recebiam d oações m en sais d e 1,5 m ilh ão d e am erican os.

Você está sugerindo que essa área ainda é pouco profissionalizada, ao contrário do que acontece na área da cultura, em que hoje em dia há até faculdade que ensina captação cultural?

A p rofission alização aq u i ain d a é zero. Nos p aíses d esen volvid os, existe u m a carreira com form ação u n iversitária. As p ossibilid ad es d a cap tação p ara a cu ltu ra via lei Rou an et n ão se ap licam à saú d e.

Eu tam bém ach o q u e o sistem a an terior, em q u e os gru p os d e trabalh ad ores tin h am seu fu tu ro d e p revid ên cia e assistên cia m éd ica organ izad os sep arad am en te, facilitava a criação d e u m a id en tid ad e. Qu an d o cresceu e virou In am p s, d esp erson alizou . Se você era ban cário, ia ser at en d id o n o p ró p rio am bu lat ó rio d o s ban cário s. Passo u a ser d e t o d o m u n d o . E com o o q u e é d e tod o m u n d o n ão é cu id ad o, p assa a ser d e n in gu ém . En tão, p erd eu -se aq u ela id en tid ad e, com o se está p erd en d o h oje a id en tid ad e com o m éd ico. Se você vai u m d ia em u m con su ltório, ou tro d ia em ou tro, ou tro d ia n u m terceiro, com q u al você terá u m a relação m ais p róxim a? Por isso é im p ortan te o p rogram a Méd ico d e Fam ília, q u e é o gran d e su cesso d e Cu ba com relação à m ortalid ad e in fan til. Cu ba é u m p aís p obre, com gran d es p roblem as econ ôm icos, m as saú d e e ed u cação são m od elos exp ortad os. É m arca d o p aís. Não se p od e im agin ar u m p aís com o Cu ba, com m ortalid ad e in fan til igu al à d e p aíses d esen volvid os.

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grande núm ero de profissionais voltados para esse polo e, por outro, tem vários profissionais m ais voltados para a alta com plexidade, para cirurgias de alto custo. Houve em bate? Com o foi essa gestão?

A alta com p lexid ad e vai d os m ed icam en tos m ais caros até o abu so e d esp erd ício d e descartáveis. Com todo o recurso que se tem , com toda a qualidade dos exam es de im agen s, dos exam es de laboratório, n ada su bstitu i u m a boa en trevista e u m bom exam e m édico. In felizm en te, são poucos os que fazem isso h oje. Um con sultório m al equipado, sem otoscópio para olh ar o ouvido, sem oftalm oscópio, sem aparelh o de pressão, n ão dá con ta. Na periferia, a dificuldade m aterial de coisas pequen as é m uito gran de. Às vezes, veem -se paradoxos: um a u n idade de saú de com esse tipo de problem as está qu eren do u m aparelh o de resson ân cia m agn ética. Um otoscópio ou um oftalm oscópio seria m uito m ais útil à m aioria das pessoas que procuram o h ospital do que um a resson ân cia m agn ética, paradigm a de alto tratam en to, alt a q u alid ad e d e saú d e. Mas isso exist e. É m u it o d ifícil lid ar co m a m ed icin a d e alt a com p lexid ad e, tran sp lan tes, exam es sofisticad os, terap ias-alvo, an ticorp os m on oclon ais, pesq u isa. Ou tra q u estão, q u e é m u ito difícil p ara o adm in istrador de saú de en ten der, é a im p ortân cia d a p esq u isa. A m aioria d a coletivid ad e cien tífica, m éd ica, ou d e ou tro setor m éd ico , acred it a q u e p esq u isa é algo feit o p o r su jeit o s esq u isit o s q u e ficam d en t ro d o laboratório, sem que n in guém saiba o que estão fazen do. E aquilo resulta em quê? Depois p u blicam u m trabalh in h o. Há oito an os, u m a fu n d ação am erican a resolveu con tratar as cin co un iversidades m ais im portan tes do país. Suas faculdades de econ om ia deveriam fazer u m estu d o p ara in form ar o valor econ ôm ico d a p esq u isa, q u an to a p esq u isa resu lta em econ om ia. Um trabalh o in teressan te, que todo adm in istrador de saúde, todo m in istro deveria ler. Resu ltado: econ om izou -se m u ito com a p esq u isa de desen volvim en to de diagn ósticos m ais eficien tes, rem édios para h iperten são, redução da m ortalidade por doen ças cardiovas-culares, 40% n os últim os 40 an os. Quais são os valores disso? São bilh ões e bilh ões de dólares por an o. E n asceram de pesquisas de laboratórios.

Em sua avaliação, com o é o cenário da pesquisa de saúde no Brasil?

Com o o cen ário d a p esq u isa n o Brasil d e u m m od o geral. O atu al p resid en te d a Cap es, Jorge Gu im arães, p esq u isad or d e ban cad a, m od ificou com p letam en te a p esq u isa n o Brasil, en tre ou tros asp ectos d an d o ferram en tas ao p esq u isad or, com o o Portal Cap es, em q u e o p esq u isad or tem acesso a tod as as revistas im p ortan tes d o m u n d o n a casa d ele. Isso é d e u m a visão! O Brasil h oje ocu p a o 12o lu gar em p u blicações cien tíficas. Acim a d a Su íça, p or

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d ia d ele, além d o q u e ele recebe. Assim , con segu e-se m od ificar com p letam en te a p rod u ção d a p esq u isa, com esse in cen tivo. Você p erd e, às vezes, algo im p ortan te: você está fazen d o u m a p esq u isa, e o reagen te acabou , e você tem q u e com p rar n aq u ele d ia, p orq u e os an im ais têm d e tom ar n aq u ele d ia. E acaba, p orq u e n ão tem n en h u m m ecan ism o ágil d e com p ra. Mas o Brasil tem excelen tes p esq u isad ores. Hoje n osso p rogram a tem cerca d e 30 lin h as d e p esq u isa e m ais ou m en os 300 p esq u isad ores.

Com o você está vendo a prática e a form ação de novos oncologistas?

Há p ou cas in stitu ições, n o Brasil, cap azes de form ar n ovos on cologistas, m u ito p ou cas; são 31 h osp itais filan tróp icos d e cân cer, d os q u ais os d e p esq u isa são m eia d ú zia. Qu er dizer, p esq u isa p esada em cân cer existe em algu m as u n iversid ad es. Nós tem os in stitu ição d e cân cer aq u i, o Hosp ital An tôn io Pru d en te, em São Pau lo, o Hosp ital d e Clín icas d e Porto Alegre, q u e tem setor d e cân cer, e a San ta Casa d e Porto Alegre, ou tro exem p lo n o Brasil: u m p rogram a d e q u alid ad e m u d ou com p letam en te su a estru tu ra; é h oje o h osp ital m ais bem ad m in istrad o d o p aís, o m aior tran sp lan tad or d e p u lm ão, fígad o, rim d a Am érica Latin a, graças a u m p rogram a d e q u alid ad e, en volven d o a com u n id ad e.

O segred o é in vestir n as p essoas. Se tiver gen te en tu siasm ad a, d e q u alid ad e, trabalh an d o em u m barracão n a Un iversid ad e, você tem com o fazer. É esse o foco q u e os p olíticos p recisam descobrir: trabalh ar com as p essoas. As ou tras coisas são secu n d árias. As p essoas são fu n d am en tais, q u an d o estim u lad as. Você n ão p recisa ser p iegas, bon zin h o. Você tem q u e exercer a au torid ad e, fazer com q u e as p essoas p articip em d as con q u istas, façam p arte d a in stitu ição, se sin tam p arte d ela. O q u e ad ian ta você m an d ar o cara assin ar o p on to? Assin ar o p on to e ficar o d ia tod o n a em p resa sem fazer n ad a é fácil. Você tem q u e cobrar resu ltad os. Tem q u e estim u lar, p orq u e o resu ltad o é u m a d as con q u istas. Qu an tas p essoas ap osen tad as, com m ais d e 50, 60 an os d e id ad e, estão em casa se sen tin d o in ú teis e d ariam a vid a p ara t rab alh ar em u m a in st it u ição co m o a d e Po rt o Alegre, sem gan h ar n ad a? Mu itas. Só p ara serem resp eitad as e terem u m trabalh o d o q u al se orgu lh ar.

Com o você levou a experiência que teve no Inca para a sua gestão na Academ ia Nacional de Medicina, que se encerrou em julho de 2009? Com o essas coisas se aproxim am ?

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Ficha técnica: Data: outubro de 2009.

Local: Fundação do Câncer, Rio de Janeiro. Entrevistado: Marcos Fernando de Oliveira Moraes.

Entrevistadores: Claudia Jurberg, Jaime Larry Benchimol, Luiz Antonio Teixeira, Ruth B. Martins. Transcrição de fitas: Clarice Tenório.

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Gráfico comparativo entre mortalidade por câncer do colo uterino e número de exames citopatológicos realizados entre 1996 e 2006
Gráfico comparativo da mortalidade por câncer de traqueia, brônquios e pulmões em homens e mulheres, ajustado por idade, pela população mundial, por 100.000, Brasil, entre 1996 e 2006

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