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ACÇÃO DE DIVISÃO DE COISA COMUM CONSORTE FALECIDO

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Academic year: 2021

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Tribunal da Relação de Lisboa

Processo nº 20403/19.6T8SNT.L1-6 Relator: ANTÓNIO SANTOS

Sessão: 25 Fevereiro 2021 Número: RL

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: PROCEDENTE

ACÇÃO DE DIVISÃO DE COISA COMUM CONSORTE FALECIDO REPRESENTAÇÃO

Sumário

4.1 - A acção de divisão de coisa comum ,porque tem por desiderato dissolver uma relação de compropriedade, tem de reunir - para que a sentença nela proferida produza o seu efeito útil normal - entre o lado activo e passivo da lide a totalidade dos consortes.

4.2 - Se o único consorte não demandante já faleceu e a respectiva herança permanece ainda por partilhar, então há-de a acção ser instaurada contra a herança do referido consorte falecido.

4.3 - Se entre os demandantes e demandados comproprietários se encontram todos os herdeiros do consorte pré-falecido, então a respectiva herança

mostra-se devidamente representada nos termos do artº 2091, nº1, do CC, não se exigindo que previamente à divisão de coisa comum se proceda

necessariamente à sua partilha.

Texto Integral

Acordam os Juízes na 6ª Secção Cível do Tribunal da Relação de LISBOA

1. - Relatório.

A [ M. MARGARIDA ... ] e B [ JOÃO .... ] , intentaram em 19/12/2019 e contra C [ LUIS .... ] , acção com processo especial de divisão de coisa comum,

requerendo que :

1) Uma vez a presente acção julgada inteiramente provada e procedente, seja ,em consequência e por via dela, o prédio urbano sito em Marinhais, limites da

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Praia das Maçãs, descrito na 2ª Conservatória do Registo Predial de Sintra sob o nº 5900 da freguesia de Colares e inscrito na matriz predial urbana da freguesia de Colares sob o artº 2190 , adjudicado ou vendido, com repartição do respectivo valor, nas proporções indicadas na p.i.

1.1. – A justificar a pretensão deduzida, alegam ambos os requerentes, na petição inicial e em síntese, que :

- Os A.A. e o Réu, por si e em comunhão, sem determinação de parte ou

direito, são comproprietários do prédio urbano supra identificado em sede de pedido;

- Mais exactamente, a Autora A é proprietária de 1/9 do identificado prédio, o Autor B é proprietário de 1/18 do mesmo prédio e já o Réu C é também

proprietário de 1/18 do prédio em questão;

- Por último, a já falecida D [ Maria ...] - falecida em 11/2/2019, no estado de viúva, tendo-lhe sucedido como únicos e universais herdeiros, a filha e ora Autora A, e os netos, o Autor B e o ora Réu C, ambos como filhos da sua pré-falecida filha M.João...- era proprietária de 7/9 do identificado prédio ; - Permanecendo a herança deixada por óbito de D ainda por partilhar,

mantendo-se portanto indivisa, certo é que relativamente à mesma foi a ora Autora A e por testamento outorgado a 5 de Novembro de 1999 instituída como herdeira da quota disponível ;

- Perante tudo o referido, nos termos dos artºs 2156º, 2159º, nº 2, 2139º, nº 2, e 2140º, todos do Código Civil e no tocante à herança deixada por óbito de D, é assim a ora Autora A titular de uma quota correspondente a 4/6, o Autor B titular de uma quota correspondente a 1/6 e o Réu C titular de uma quota correspondente a 1/6 ;

- Ocorre que pretendendo os A.A. pôr termo à indivisão do supra identificado prédio urbano sito em Marinhais, certo é que nos termos do artº 1412º do Cód. Civil, assiste-lhes esse direito, porquanto não há entre os

comproprietários convenção de indivisão e o prédio em causa não pode ser dividido em substância;

- Destarte, nos termos do artº 925º do Cód. Civil, fixadas as quotas dos A.A. e do Réu, nos termos descritos – a A. A, 1/9, o A. B, 1/18, o Réu C 1/18, e a herança indivisa aberta por óbito da falecida D, 7/9 – deverá pôr-se termo à indivisão, mediante a adjudicação ou a venda do prédio, com repartição do respectivo valor.

1.2. – Remetidos os autos à distribuição pela Instância Local Cível, por ser a competente e conclusos os autos para DESPACHO, foi em 13/2/2020 proferida a seguinte DECISÃO :

“ De acordo com a petição, a quota da senhora A é de 1/9, a do senhor B é de 1/18 e a do requerido é de 1/18. O mais, isto é, a quota de 7/9, pertenceu à

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falecida senhora D, sendo que a respectiva herança ainda não foi partilhada. Tendo em conta que o objecto do pedido de divisão é um prédio urbano do qual a quota de 7/9 faz parte de uma herança indivisa, desde logo se coloca a questão da adequação desta acção.

Na verdade, tanto a jurisprudência como a doutrina apontam para a

necessidade de haver partilha prévia dos bens da herança entre os herdeiros para que estes possam posteriormente dividir os bens que tenham ficado em compropriedade para alguns deles ou em que subsista a compropriedade por uma parte desses bens já pertencer a titular diverso.

Ou seja, considera a jurisprudência e doutrina que a contitularidade que existe entre os herdeiros não corresponde a um direito de propriedade comum e só quando este exista é legítimo lançar mão da acção de divisão de coisa comum. Veja-se, por exemplo, o decidido pelo STJ em 30/1/2013, em acórdão relatado pelo senhor juiz conselheiro Álvaro Rodrigues, disponível em www.dgsi.pt: « I - Tanto a jurisprudência, como a mais abalizada doutrina da especialidade, apontam decisivamente no sentido de que só se pode dividir os bens da

herança de que se seja proprietário, ou seja, que tenham sido atribuídos aos herdeiros em partilha previamente realizada.

II - A ratio de tal solução é muito simples: é que, até à partilha, os co-herdeiros de um património comum, adquirido por sucessão mortis causa, não são donos dos bens que integram o acervo hereditário, nem mesmo em regime de

compropriedade, pois apenas são titulares de um direito sobre a herança (acervo de direitos e obrigações) que incide sobre uma quota ou fracção da mesma para cada herdeiro, mas sem que se conheça quais os bens concretos que preenchem tal quota.

III - É pela partilha (extrajudicial ou judicial e, neste caso, através do processo de inventário-divisório) que serão adjudicados os bens dessa universalidade que é herança e que preencherão aquelas quotas.

Por isso, assim se ponderou no aresto deste Supremo Tribunal, de 4/2/1997 supra citado: « A compropriedade pressupõe um direito de propriedade comum sobre uma coisa ou bem concreto e individualizado, ao invés do que sucede na contitularidade do direito à herança que recai obre uma

universalidade de bens, ignorando-se sobre qual ou quais deles o direito hereditário se concretizará».

IV - O Ilustre Professor de Coimbra, Doutor Rabindranath Capelo de Sousa assim ensina nas suas Lições de Direito das Sucessões: « Nos casos em que haja lugar à partilha da herança, segundo a opinião dominante, o domínio e posse sobre os bens em concreto da herança só se efectivam após a partilha, uma vez que até aí a herança constitui um património autónomo nada mais tendo os herdeiros do que o direito a uma quota parte do património

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hereditário» ( Lições de Direito das Sucessões, pg. 185 ).

V - Por sua vez, outro Professor de Coimbra, o Doutor Pereira Coelho, assim escreveu na sua obra de Direito das Sucessões: « Não se trata uma vulgar compropriedade entendida como participação na propriedade de bens

concretos e determinados. Pelo contrário, contitularidade do direito à herança significa tanto como um direito a uma parte ideal, não de cada um dos bens de que se compõe a herança, mas sim da própria herança em si mesma

considerada» ( Pereira Coelho, Direito das Sucessões, 2ª ed. 1966-1967 ). » No mesmo sentido, decidiu o Tribunal da Relação de Lisboa em 3/5/2018, por acórdão relatado pelo senhor juiz desembargador Vaz Gomes, disponível na mesma base de dados:

« I - Ocorrendo comunhão hereditária existe um património comum a vários herdeiros, no caso o património comum resultante da abertura da herança do mencionado JC... de que faz parte a referida ½ indivisa do imóvel e,

relativamente a essa herança, não é possível efectivar a divisão de um imóvel do mesmo património ( que não será o único bem ao que resulta dos

documentos a fls. 40/43 relativo ao inventário respectivo ), porquanto da

aceitação sucessória apenas decorre directamente para cada um dos herdeiros o direito a uma quota hereditária, não a titularidade no direito de propriedade dos respectivos bens que lhes advirá pela partilha; a solução da acção de divisão de coisa comum é reservada para a compropriedade que até pode advir, na sequência do desfecho do inventário, mas que também pode não advir e ser adquirida por um dos interessados herdeiros ou terceiro. II - Se a Autora não pretende a divisão da ½ do prédio que lhe coube

juntamente com os referidos AE... e Joaquim Miguel em legado e em partes iguais, se o que pretende é a divisão de todo o imóvel, sobre cuja ½ incide registo de legado a favor a requerente e de outras duas pessoas que são co-réus na acção, e sobre a ½ restante o registo a favor da Autora e dos Réu sem determinação de parte ou direito nos termos dos art.ºs 37 e 49 do CRgP, terá de aguardar o desfecho do inventário que corre, para se saber quem será(ão) o(s)respectivo(s) titular(es) »

Em conclusão, a presente acção de divisão de coisa comum não é meio

processual próprio para proceder à divisão do prédio identificado na petição inicial, o que consubstancia a nulidade prevista no artigo 196.º do Código de Processo Civil, a qual é insanável, na situação em presença, e acarreta o indeferimento liminar da petição, nos termos das disposições conjugadas dos artigos 193.º, 196.º, 278.º, n.º 1, alínea b), 576.º, n.º1 e 2, 577.º, alínea b), 578.º e 590.º, n.º 1, do Código de Processo Civil.

Decisão: por todo o exposto, indefere-se liminarmente a petição.

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e 3 do Código de Processo Civil.

O valor da causa corresponde ao indicado na petição, isto é, a 189.794,85€, nos termos do n.º 2 do artigo 302.º do Código de Processo Civil.”

1.3. - Inconformados com a decisão indicada em 1.2, vieram de seguida os AA A e B da mesma apelar, aduzindo então as seguintes conclusões :

1ª. Segundo estabelece o nº 1 do artº 1412º do Cód. Civil, nenhum dos comproprietários é obrigado a permanecer na indivisão, salvo convenção de indivisão.

2ª. Por outro lado, dispõe o nº 1 do artº 1413º do Cód. Civil que a divisão é feita amigavelmente ou nos termos da lei do processo, ou seja nos termos regulados pelos artºs 925º e seguintes do Cód. Proc. Civil.

3ª. No caso, e como se verifica da certidão do registo predial junta à p.i. como doc. nº 1, o prédio dos autos é compropriedade, na proporção de 1/9, de A, a A., aqui Apelante, na proporção de 1/18, de B, o co-A., na proporção de 1/18, de C, o R., e , na proporção de 7/9, da herança indivisa aberta por óbito de D. 4ª. Por outro lado, do certificado da certidão da escritura de habilitação de herdeiros de 14 de Maio de 2019 e testamento nela reproduzido e a ela anexo, junto à p.i. como doc. nº 3 junto, conjugado com os artºs 2156º, 2159º, nº 2, 2139º, nº 2, e 2140º, todos do Cód. Civil, resulta que, relativamente à herança indivisa aberta por óbito de D, são seus únicos e universais herdeiros A, a A., aqui Apelante, B, co-A., e C, R., titulares de uma quota correspondente,

respectivamente, a 4/6, a 1/6 e a 1/6.

5ª. Assim, tendo a acção sido intentada por A e B, como A.A., e tendo como Réu C, verifica-se que são partes os únicos e universais herdeiros da Senhora D e os únicos interessados, na qualidade de herdeiros, na herança indivisa aberta por seu óbito.

6ª. Pelo que ocorre legitimidade das partes, já que são partes na acção quer os comproprietários pessoas físicas quer a totalidade dos herdeiros interessados, nessa qualidade, na comproprietária herança indivisa aberta por óbito da Senhora D.

7ª. Na verdade, nos precisos termos do artigo 925.º do Cód. Proc. Civil ” todo aquele que pretenda pôr termo à indivisão de coisa comum requer, no

confronto dos demais consortes, que, fixadas as respectivas quotas, se

proceda à divisão em substância da coisa comum ou à adjudicação ou venda desta, com repartição do respectivo valor, quando a considere indivisível, …”. 8ª. É um direito potestativo, bastando a acção ser instaurada pelo consorte (ou consortes) que não pretenda mais manter-se na indivisão, já que basta a sua vontade – unilateral e mesmo que oposta à vontade dos restantes consortes – de pôr termo à indivisão para impor aos demais consortes a obrigação de procederem à divisão.

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9ª. Tal como entendido pelo Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 17.06.2015 proferido no proc. nº 3834/13.2TBFUN.L1-2, “A acção de divisão de coisa comum, tendo como fim específico a dissolução da compropriedade, fundamenta-se na qualidade de comproprietário do requerente, ao qual assiste o direito de não continuar na situação de indivisão.

10ª. “Conhecendo-se os comproprietários, independentemente do conteúdo do seu direito, não se encontra qualquer utilidade, prática ou jurídica, para que, previamente à divisão do imóvel, se proceda à partilha dos bens deixados pelos comproprietários falecidos.”

11ª. “Tendo os requerentes expresso a pretensão de pôr termo à indivisão do imóvel comum, confrontando os demais consortes, e tendo seguido os termos da acção de divisão de coisa comum, esta é a forma processual apropriada ao pedido formulado.”

12ª. “A compropriedade pressupõe um direito de propriedade comum sobre uma coisa ou bem concreto e individualizado, ao invés do que sucede na contitularidade do direito à herança que recai sobre uma universalidade de bens, ignorando-se sobre qual ou quais deles o direito hereditário se

concretizará.” – Ac. STJ de 04.02.1997, relatado pelo Conselheiro Silva Paixão. 13ª. “ Na compropriedade existe uma situação de concurso entre direitos reais da mesma natureza, ou seja, de direitos reais iguais que recaem

simultaneamente sobre uma coisa. O objecto do direito real em comunhão é a totalidade da coisa e não a quota. Os direitos dos consortes oneram-se

reciprocamente, limitando o exercício de cada um deles no respeito pelo conteúdo de aproveitamento dos outros.”

14ª. “ No caso da comunhão hereditária, a mesma cessa pela partilha de bens entre os interessados, por forma a ficar determinado quais os patrimónios individuais em que tais bens passarão a estar integrados.”

15ª. Enquanto a causa de pedir no inventário é a existência de comunhão hereditária integrada por bens a partilhar deixados pelo de cujus, traduzindo-se o pedido na partilha de tais bens pelos interessados, na acção de divisão de coisa comum a causa de pedir consiste na compropriedade de certo bem que se quer dissolver, sendo o pedido ou de adjudicação ou venda desse bem.” 16ª. Pode ocorrer que a herança indivisa seja, ela própria, comproprietária (a par de terceiros) de um imóvel. Sendo interposta uma acção de divisão de coisa comum de tal imóvel por terceiro, antes da partilha, deverão ser demandados todos os herdeiros, os quais agirão como representantes da

herança e não em nome próprio ( cf. Artigo 2091º, nº 1, do Código Civil).” - cfr. Juiz Desembargador Luís Filipe Pires de Sousa, in ob. citada.

17ª. Assim, como entendido pelo Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 17.06.2015 proferido no proc. nº 3834/13.2TBFUN.L1-2, o pedido formulado

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nesta acção, baseado na pretensão de pôr fim à compropriedade, adequa-se perfeitamente à forma de processo especial de divisão de coisa comum, como resulta do disposto no artº. 925.º do Cód. Proc. Civil.

18ª. Na verdade, sendo a herança indivisa comproprietária de um prédio, pode o comproprietário que pretenda pôr termo à indivisão, lançar mão da acção especial de divisão de coisa comum – cfr. Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 26.09.2019 proferido no proc. nº 26487/17.2T8STS_A.P1,

19ª. De modo que, face à adequação do pedido à forma de processo escolhida na petição inicial, não há erro na forma de processo, ao contrário do que se entendeu na decisão recorrida, pois a acção de divisão de coisa comum é a forma processual apropriada ao pedido formulado, não ocorrendo erro na forma do processo.

20ª. E, inexistindo o erro na forma do processo, não há fundamento para declarar a nulidade de todo o processo e indeferir liminarmente a petição inicial.

21ª. Ao assim se não ter entendido, no despacho recorrido, violaram-se, designadamente, as disposições legais citadas nesse despacho bem como na presente alegação.

22ª. Deve, por conseguinte, dar-se provimento ao presente recurso com a revogação do despacho recorrido e a substituição por citação do R. para, nos termos do nº 1 do artº 926º do Cód. Proc. Civil, contestar, querendo, seguindo-se os ulteriores trâmites legais. O que, com o benévolo suprimento de Vossas Excelências, se espera seja feito, por ser de inteira Justiça !

1.4. – Citado o Réu C, quer para os termos da acção ,quer da apelação, nos temos do disposto no n.º 7 do artigo 641.º do Código de Processo Civil, veio mesmo contestar [ terminando o articulado por impetrar que : sejam os AA. convidados a indicar o valor do imóvel, para depois ser atribuído igual valor à acção ; b) Seja o A. B notificado para regularizar o mandato ; c) Seja julgada procedente a excepção da ilegitimidade e, em consequência, ser a acção julgada improcedente e o R. absolvido da instância ] e, concomitantemente, contra-alegar, sendo que nesta última peça veio aduzir que a decisão recorrida julgou com total acerto, logo, a apelação deve ser julgada improcedente.

*

Thema decidendum

1.5. - Colhidos os vistos, cumpre decidir, sendo que , estando o objecto do recurso delimitado pelas conclusões [ daí que as questões de mérito julgadas que não sejam levadas às conclusões da alegação da instância recursória, delas não constando, têm de se considerar decididas e arrumadas, não

podendo delas conhecer o tribunal ad quem ] das alegações dos recorrentes ( cfr. artºs. 635º, nº 3 e 639º, nº 1, ambos do Código de Processo Civil, aprovado

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pela Lei nº 41/2013, de 26 de Junho , e tendo presente o disposto no artº 5º, nº1 e 7º,nº1, ambos deste último diploma legal ), e sem prejuízo das que o tribunal ad quem possa ou deva conhecer oficiosamente, a questão a apreciar e a decidir resume-se à seguinte :

A) Aferir se a decisão recorrida, porque incorre em error in judicando, merece ser revogada, devendo determinar-se o prosseguimento da acção;

*

2.- Motivação de facto.

A factualidade provada é a seguinte:

A) Fixada por este tribunal de recurso, e por força do disposto nos artºs 5º, nº2, alínea c), II parte e 662º,nº1, ambos do CPC.

2.1 – Na 2ª Conservatória do Registo Predial de Sintra, no Livro nº 89 e sob o nº 5900/19981019, mostra-se descrito o Prédio Urbano situado em Marinhas, limites da Praia das Maças, e inscrito na matriz predial urbana da freguesia de Colares sob o artº 2190, sendo o mesmo composto por tereno para construção, com 6.000 m2,onde em parte se mostra construída uma casa de Rés-do-chão e 1º andar, de 150 m2, duas dependências com 48 m2 e logradouro de 5.800 m2;

2.2 – O Prédio urbano identificado em 2.1 mostra-se inscrito na 2ª Conservatória do Registo Predial de Sintra, no Livro nº 89 e sob o nº

5900/19981019, a favor [ por aquisição/partilha de herança de Joaquim ... ] de D ( na proporção de 7/9 ), de B (na proporção de 1/18 ), de C (na

proporção de 1/18 ), e de A ( na proporção de 1/9 ), o que acontece desde 22/2/2000 ( AP 96 );

2.3. - D , identificada em 2.2. faleceu a 11/2/2019, no estado de viúva, tendo-lhe sucedido como seus únicos e universais herdeiros, a filha A, e os netos, o Autor B e o Réu C , os dois últimos filhos da sua pré-falecida filha M.João ... ;

2.4. - A herança aberta por óbito de D permanece ainda não por partilhar, mantendo-se indivisa, mas, por testamento outorgado a 5 de Novembro de 1999, a falecida D instituiu a ora Autora A e sua filha como herdeira da quota disponível ;

*

3.- Motivação de Direito.

3.1.- Se a decisão recorrida, porque incorre em error in judicando, merece ser revogada, devendo determinar-se o prosseguimento da acção.

Como vimos supra ( item 1.3 ), e partindo do pressuposto de que in casu o objecto do pedido – deduzidos pelos autores - de divisão diz respeito a um prédio urbano do qual uma sua quota de 7/9 pertence ainda a uma herança indivisa, concluiu o primeiro Grau que a presente acção de divisão de coisa

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comum não é meio processual próprio para proceder à sua divisão, logo, verifica-se a excepção de nulidade prevista no artigo 196.º do Código de

Processo Civil [ erro no meio processual ], a qual, sendo insanável, obrigava ao indeferimento liminar da petição [ nos termos das disposições conjugadas dos artigos 193.º, 196.º, 278.º, n.º 1, alínea b), 576.º, n.º1 e 2, 577.º, alínea b), 578.º e 590.º, n.º 1, do Código de Processo Civil ].

Dissentindo do entendimento que se mostra subjacente ao decretado ao

indeferimento liminar da petição, vêm os AA/apelantes aduzir essencialmente duas razões que obrigam à revogação da decisão apelada.

A primeira, a de que sendo verdade que o prédio dos autos é compropriedade dos AA, Réu e de herança indivisa aberta por óbito de D, certo é que

relativamente a esta última - herança indivisa – os respectivos e seus únicos e universais herdeiros são também os AA e o mesmo réu , logo, verifica-se que como partes estão nos autos todos os “interessados” na relação material controvertida, não existindo assim qualquer necessidade/utilidade, prática ou jurídica, para que, previamente à divisão do imóvel, se proceda à partilha da quota do imóvel deixada pela comproprietária falecida.

Tal possibilidade/admissibilidade, de resto, acrescentam os apelantes, é perfilhada por Luís Filipe Pires de Sousa, explicando o mesmo que “pode ocorrer que a herança indivisa seja, ela própria, comproprietária (a par de terceiros) de um imóvel” e, verificando-se tal situação, e “sendo interposta uma acção de divisão de coisa comum de tal imóvel por terceiro, antes da partilha, deverão ser demandados todos os herdeiros, os quais agirão como representantes da herança e não em nome próprio”.

A segunda, a de que in casu o pedido formulado pelos apelantes e tendo por desiderato pôr fim à compropriedade, adequa-se perfeitamente à forma de processo especial de divisão de coisa comum, logo, não há erro na forma de processo, ao contrário do que se entendeu na decisão recorrida.

Apreciando.

In casu, pacifico é que em causa está um processo de divisão de coisa comum, o qual mostra-se regulado/previsto nos artigos 925.º a 930.º do Código de Processo Civil, tendo o mesmo por desiderato o exercício do direito a que se refere o artigo 1412.º do Código Civil, o qual reza no seu nº 1, que “Nenhum dos comproprietários é obrigado a permanecer na indivisão, salvo se houver convencionado que a coisa se conserve indivisa “.

Dispondo o nº 1, do artº 1413, ainda do CC, que “ A divisão é feita

amigavelmente ou nos termos da lei do processo”, a acção pelos apelantes intentada mostra-se assim deduzida com base no artigo 925.º do CPC , ex vi do nº1, in fine, do referido artº 1413, do CC, rezando ele – artº 925º - que “ Todo aquele que pretenda pôr termo à indivisão de coisa comum requer, no

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confronto dos demais consortes, que, fixadas as respectivas quotas, se

proceda à divisão em substância da coisa comum ou à adjudicação ou venda desta, com repartição do respectivo valor, quando a considere indivisível, indicando logo as provas”.

Clarificando/explicando a norma do artº 1412º, do CC, dizem PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA (1), que o direito de que trata o artigo 1412º é, no fundo, um direito de dissolução da compropriedade, que normalmente se opera

mediante a divisão em substância da coisa, mas que também pode realizar-se através da partilha do seu valor (ou preço)”.

Mais explicam PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA (2) , que o “ direito

potestativo do artº 1412º distingue-se, entre todas as formas de dissolução da comunhão ou compropriedade, pelo facto de se dirigir contra todos os

consortes e ter como fim prático a cessação da compropriedade”, sendo que , reforçam, “É exactamente para frisar a nota de que não se trata apenas de concretizar a quota do requerente na coisa comum, mas de dissolver a relação de compropriedade existente entre todos os consortes, que os tribunais

italianos acentuam o carácter universal da acção de divisão da coisa comum”, em suma “ No processo terão que intervir todos os consortes, seja na posição de autores, seja na de réus “.

Em conclusão, inquestionável é que a acção do artº 925.º do CPC , visa a dissolução da compropriedade, razão porque devem as respectivas partes terem a qualidade de comproprietários, assistindo-lhes - vg sendo eles os demandantes - o direito de não continuar na situação de indivisão, sendo que, portanto, sem compropriedade, não deve a mesma ter lugar.

No seguimento do acabado de expor, pacífico é também que a acção pelos apelantes intentada nada tem que ver – com a mesma não se confundindo -com qualquer acção de partilha, além de que, -como é outrossim consensual, na herança cada co-herdeiro é “apenas” titular de uma quota sobre o total da herança, enquanto na compropriedade há uma quota sobre um bem certo e determinado.

Dito de uma outra forma, “Na compropriedade existe uma situação de concurso entre direitos reais da mesma natureza, ou seja, de direitos reais iguais que recaem simultaneamente sobre uma coisa”. Ou seja, “ O objecto do direito real em comunhão é a totalidade da coisa e não a quota”, onerando-se os direitos dos consortes reciprocamente, “ limitando o exercício de cada um deles no respeito pelo conteúdo de aproveitamento dos outros “. (3)

Ao invés, na comunhão hereditária [ que apenas cessa pela partilha de bens entre os interessados, por forma a ficar determinado quais os patrimónios individuais em que tais bens passarão a estar integrados ], os respectivos herdeiros/interessados são apenas titulares de um direito sobre o conjunto da

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herança e não sobre bens certos e determinados, razão porque, “ enquanto não se fizer a partilha, os herdeiros têm sobre os bens que constituem a

herança indivisa um direito indivisível, recaindo tal direito sobre o conjunto da herança e não sobre bens certos e determinados desta”, ou seja, “ A

contitularidade do direito à herança implica um direito a uma parte ideal desta considerada em si mesmo e não sobre um dos seus bens que a compõem “.(4) Em face do acabado de expor, compreensível é assim que, não estando

rigorosamente em causa uma coisa comum de que sejam comproprietários, vedado está aos herdeiros instaurar uma acção de divisão de coisa comum com o desiderato de dividir um prédio que integre uma herança, só o podendo fazer após o referido prédio lhes ter sido atribuído em partilha .

O entendimento referido, sendo pacífico e consensual, mostra-se douta e judiciosamente reproduzido em expressivas conclusões de Acórdão do STJ (5) e nos seguintes termos;

I - Tanto a jurisprudência, como a mais abalizada doutrina da especialidade, apontam decisivamente no sentido de que só se pode dividir os bens da herança de que se seja proprietário, ou seja, que tenham sido atribuídos aos herdeiros em partilha previamente realizada.

II - A ratio de tal solução é muito simples: é que, até à partilha, os co-herdeiros de um património comum, adquirido por sucessão mortis-causa, não são donos dos bens que integram o acervo hereditário, nem mesmo em regime de

compropriedade, pois apenas são titulares de um direito sobre a herança (acervo de direitos e obrigações) que incide sobre uma quota ou fracção da mesma para cada herdeiro, mas sem que se conheça quais os bens concretos que preenchem tal quota.

III - É pela partilha (extrajudicial ou judicial e, neste caso, através do processo de inventário-divisório) que serão adjudicados os bens dessa universalidade que é herança e que preencherão aquelas quotas. Por isso, assim se ponderou no aresto deste Supremo Tribunal, de 04-02-1997 supra citado: «A

compropriedade pressupõe um direito de propriedade comum sobre uma coisa ou bem concreto e individualizado, ao invés do que sucede na contitularidade do direito à herança que recai obre uma universalidade de bens, ignorando-se sobre qual ou quais deles o direito hereditário se concretizará».

IV - O Ilustre Professor de Coimbra, Doutor Rabindranath Capelo de Sousa assim ensina nas suas Lições de Direito das Sucessões: «Nos casos em que haja lugar à partilha da herança, segundo a opinião dominante, o domínio e posse sobre os bens em concreto da herança só se efectivam após a partilha, uma vez que até aí a herança constitui um património autónomo nada mais tendo os herdeiros do que o direito a uma quota parte do património

(12)

V - Por sua vez, outro Professor de Coimbra, o Doutor Pereira Coelho, assim escreveu na sua obra de Direito das Sucessões: « Não se trata uma vulgar compropriedade entendida como participação na propriedade de bens

concretos e determinados. Pelo contrário, contitularidade do direito à herança significa tanto como um direito a uma parte ideal, não de cada um dos bens de que se compõe a herança, mas sim da própria herança em si mesma

considerada» (Pereira Coelho, Direito das Sucessões, 2ª ed. 1966-1967”.

Aqui chegados, em face dos contributos doutrinais e jurisprudenciais aduzidos e porque pacifico é que in casu o objecto do pedido – deduzidos pelos autores -de divisão diz respeito a um prédio urbano do qual uma sua quota -de 7/9

pertence ainda a uma herança indivisa, prima facie tudo aponta para que a decisão apelada não seja merecedora de qualquer critica, antes mostra-se a mesma devidamente amparada, máxime em Acórdão que por este Tribunal da Relação foi proferido em 3/5/2018 (6), e no qual se concluiu [ confirmando a decisão apelada que julgou verificado o erro na forma do processo por a acção usada de divisão de coisa comum não ser o meio próprio para proceder à divisão do prédio ] designadamente que “Se a Autora não pretende (apenas) a divisão da ½ do prédio que lhe coube juntamente com os referidos AE... e Joaquim Miguel em legado e em partes iguais”, mas pretende ao invés “ a divisão de todo o imóvel, sobre cuja ½ incide registo de legado a favor da requerente e de outras duas pessoas que são co-réus na acção, e sobre a ½ restante o registo a favor da Autora e dos Réu sem determinação de parte ou direito nos termos dos art.ºs 37 e 49 do CRgP, terá de aguardar o desfecho do inventário que corre, para se saber quem será(ão) o(s) respectivo(s) titular (es)”.

Sucede que, a mesma realidade factual subjacente pode ser sujeita a uma diferente abordagem jurídica, possibilitando e justificando a mesma uma diversa solução.

Senão ,vejamos.

Antes de mais, importa atentar que o vício do erro na forma de processo e que se mostra contemplado no artigo 193.º Código de Processo Civil, consistindo em ter o autor usado de uma forma processual inadequada para fazer valer a sua pretensão, prima facie há-de ser aferido em face do pedido formulado na acção.

Ou seja, e tal como o entende o Conselheiro RODRIGUES BASTOS (7), se “O erro na forma de processo consiste em ter o autor usado de uma forma

processual inadequada para fazer valer a sua pretensão”, então “ É pela

pretensão que se pretende fazer valer, e portanto, pelo pedido formulado, que se há-de aquilatar do acerto ou do erro do processo que se empregou...”. Já ABRANTES GERALDES (8), aduzindo que “…a forma de processo escolhida

(13)

pelo autor deve ser a adequada à pretensão que deduz e deve determinar-se pelo pedido que é formulado e, adjuvantemente, pela causa de pedir”,

considera também que “ É em face da pretensão de tutela jurisdicional

deduzida pelo autor que deve apreciar-se a propriedade da forma de processo, a qual não é afectada pelas razões que se ligam ao fundo da causa…”.

Isto dito, e tendo presente a pretensão/pedido formulado na acção pelos

apelantes [ser o prédio urbano sito em Marinhais, limites da Praia das Maçãs, descrito na 2ª Conservatória do Registo Predial de Sintra sob o nº 5900 da freguesia de Colares e inscrito na matriz predial urbana da freguesia de

Colares sob o artº 2190, adjudicado ou vendido, com repartição do respectivo valor, nas proporções indicadas na p.i ], prima facie a verificação do vício a que se refere o artº 193º, do CPC, é conclusão [ como assim o concluiu o primeiro Grau ] que não se impõe forçosa e manifestamente, isto porque na acção de divisão de coisa comum o respectivo pedido consiste precisamente no de “adjudicação ou venda do bem “. (9)

Ademais, adequando-se a forma do processo à pretensão formulada, e caso esta última não se mostra conforme aos fundamentos invocados, então o que se verifica é uma questão de mérito conducente à improcedência da acção (10), que não um vício de natureza meramente formal/adjectiva.

Mas, caso se entenda que em sede de aferição da adequação da forma de processo escolhida pelo autor se impõe atender ao pedido que é formulado, e adjuvantemente, também à causa de pedir”, e , se é vero que in casu aludem/ invocam os AA também a existência de uma herança indivisa [ a da

comproprietária falecida Maria José Diniz Nunes Garcia Laginha Serafim ], acontece que em rigor a referida herança é , ela própria, a efectiva

comproprietária do imóvel dos autos.

Ora, a propósito de uma situação algo parecida, diz-nos PIRES DE SOUSA (11) que “Pode ocorrer que a herança indivisa seja, ela própria,

comproprietária ( a par de terceiros) de um imóvel”. Então, acrescenta PIRES DE SOUSA “Sendo interposta uma acção de divisão de coisa comum de tal imóvel por terceiro, antes da partilha, deverão ser demandados todos os herdeiros, os quais agirão como representantes da herança e não em nome próprio ( cfr. Artigo 2091º,nº 1, do Código Civil ).

Já ao nível da jurisprudência, e servindo-nos dos muito úteis contributos/ elementos que nos fornece o Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 23/4/2020 (12), e como que na linha do entendimento de PIRES DE SOUSA referido, já em 2002 decidiu este Tribunal da Relação de Lisboa e em Acórdão de 17-12-2002 (13) que “ I - Integrando um prédio o acervo da herança por partilhar, os co-herdeiros não são ainda seus proprietários ou

(14)

termo à sua indivisão nos termos do art. 1052º e ss do CPC. II - Mas no caso de a herança indivisa ser, ela própria, comproprietária ( v.g. de metade

indivisa de um prédio), tem legitimidade para intervir em tal acção de divisão de coisa comum desde que representada por todos os herdeiros ( que agem como representantes e não em nome próprio ).

Ou seja, verificando-se a situação aludida em segundo lugar e por este mesmo Tribunal da Relação apreciada em Acórdão de 17-12-2002, tal possibilita ( no entender do Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 23/4/2020 ), que “ sabendo-se quem são os comproprietários, mesmo que um ou mais tenham falecido, os seus herdeiros ocupam a posição desse comproprietário falecido, assumindo essa qualidade, mesmo que não se tenha efectuado a partilha”. Mais claro - a propósito de situação que igualmente se aproxima da que

integra o objecto da presente apelação - a admitir a acção de divisão de coisa comum quando é a herança indivisa, ela própria, comproprietária , mostra-se todavia o Acórdão igualmente proferido por este Tribunal da Relação de

Lisboa, em 17/5/2015 (14) , o qual, debruçando-se sobre decisão recorrida que igualmente com fundamento em erro na forma do processo declarou a

anulação de todo o processo e absolveu os Requeridos da instância, veio a revogar esta última, concluindo no final que :

I . A acção de divisão de coisa comum, tendo como fim específico a dissolução da compropriedade, fundamenta-se na qualidade de comproprietário do

requerente, ao qual assiste o direito de não continuar na situação de indivisão. II. Conhecendo-se os comproprietários, independentemente do conteúdo do seu direito, não se encontra qualquer utilidade, prática ou jurídica, para que, previamente à divisão do imóvel, se proceda à partilha dos bens deixados pelos comproprietários falecidos.

III. Tendo os requerentes expresso a pretensão de pôr termo à indivisão do imóvel comum, confrontando os demais consortes, e tendo seguido os termos da acção de divisão de coisa comum, esta é a forma processual apropriada ao pedido formulado.

E, para concluir como concluiu, mostra-se no Acórdão de 17/5/2015 e por este tribunal proferido , doutamente elucidado/clarificado que :

“(…)

Estando completo o universo dos comproprietários do imóvel a dividir, nada obsta, no âmbito da legitimidade, a que se proceda a essa operação, ainda que, por efeito das mortes de Maria José … e José ..., não se tenha realizado a partilha dos respectivos bens. Tendo estes sido comproprietários, juntamente com a Apelante, os seus herdeiros sucederam na sua posição jurídica,

assumindo a qualidade de comproprietários.

(15)

nenhum obstáculo legal existe à divisão judicial do imóvel.

Conhecendo-se os comproprietários, independentemente do conteúdo do seu direito, não se encontra qualquer utilidade, prática ou jurídica, para que, previamente à divisão do imóvel, se proceda à partilha dos bens deixados pelos comproprietários falecidos, onde se incluía a compropriedade do imóvel a dividir. Sabe-se a quem pertence o direito, por sucessão, e conhece-se

também a sua extensão, não advindo qualquer interesse prático na exigência da partilha, por decesso dos primitivos comproprietários. A divisão da coisa comum, assim como a venda antecipada antes da partilha, não prejudica o direito patrimonial dos respectivos interessados.

Por outro lado, o pedido formulado na acção, de divisão de coisa comum, nomeadamente de um imóvel, baseado na pretensão de pôr fim à

compropriedade, adequa-se perfeitamente à forma de processo especial de divisão de coisa comum, como resulta do disposto no art. 925.º do CPC.

Face à adequação do pedido à forma de processo escolhida na petição inicial, não há erro na forma de processo, ao contrário do que se entendeu na decisão recorrida.

Na verdade, tendo os Apelantes expresso a pretensão de pôr termo à indivisão do imóvel comum, confrontando os demais consortes, e tendo seguido os

termos da acção de divisão de coisa comum, esta é a forma processual apropriada ao pedido formulado, não se surpreendendo o erro na forma do processo.

Inexistindo o erro na forma do processo, não há fundamento para declarar a nulidade de todo o processo e absolver os Apelados da instância.

Não podendo subsistir o despacho recorrido, devem os autos prosseguir os seus trâmites normais.”

Também o Acórdão proferido pelo Tribunal da Relação do Porto, e de 23/4/2020, e já supra mencionado, em rigor vem igualmente sufragar o entendimento “facilitador e prático“ perfilhado por este tribunal da Relação em 17/5/2015, ao nele se explanar/elucidar que :

“(…)

Se o requerente da divisão do bem comum «só» é herdeiro, pensamos que efectivamente não pode recorrer a este tipo de acção pois ainda não é comproprietário como acima se referiu e consta na decisão recorrida; se o herdeiro, além dessa quota hereditária, é igualmente comproprietário e na acção já se encontram os restantes herdeiros (representando a totalidade da herança), pensamos que nada impede o comproprietário e herdeiro de querer fazer cessar a indivisão sem antes partilhar a quota hereditária.

Podendo o terceiro comproprietário (não herdeiro) fazer intervir a herança para se dividir o bem de que a herança é titular, não vemos motivo para que o

(16)

mesmo comproprietário, por também ser herdeiro, já não o possa fazer. A qualidade de herdeiro não afasta a qualidade de comproprietário, não fazendo nascer uma limitação ao exercício dos seus direitos, como pensamos que o recorrente afirma de modo correto.

Esse comproprietário, ao propor a acção, já está a representar a herança e ao propor a acção contra os outros comproprietários, incluindo a herança

representadas pelos herdeiros, faz com que todos os herdeiros estejam na acção de divisão de coisa comum ( é esta a decisão tomada pelo acima referido Ac., da R. P. de 26/09/2019 com a qual concordamos) e assim está assegurada a legitimidade.

Depois, importa analisar da divisibilidade ou indivisibilidade do bem e,

consoante o que se decida, o imóvel é dividido de acordo com os quinhões ou com a adjudicação do bem a algum ou alguns dos comproprietários,

preenchendo com dinheiro as quotas dos restantes – artigo 929.º, nºs. 1 e 2, do C. P. C. -.

Recebendo a herança o bem ou sua parte ou dinheiro, passa a ser titularidade da mesma herança o bem ou dinheiro, que depois podem ser partilhados entre os respectivos titulares.

Deste modo, para nós, a requerente podia propor a acção de divisão de coisa comum tal como o fez e intentando-a contra os requeridos que identificou. A habilitação que menciona não é, na nossa visão, aquela que decorrerá de um incidente de habilitação, com prolação de decisão a declarar que os

requeridos são o herdeiros de O…, mas antes a denominada

habilitação-legitimidade, ou seja, a requerente tem de alegar que os requeridos são partes legítimas por serem herdeiros daquele, prosseguindo os autos com a sua

citação para deduzirem o contraditório se assim o entenderem, incluindo quanto à sua qualidade de herdeiros.

Assim se concluindo, não existe a necessidade de se analisar qualquer situação de erro na forma de processo”.

Por último, e outrossim com utilidade para a questão decidenda , recorda-se que o mesmo Tribunal da Relação do Porto, em Acórdão de 26/9/2019 (15) , veio concluir que :

I - A acção de divisão de coisa comum tem de reunir entre o lado activo e passivo da lide a totalidade dos consortes.

II - Se o único consorte não demandante faleceu e a respectiva herança permanece por partilhar a acção deve ser instaurada contra a herança do consorte.

III - Se os demandantes são em simultâneo os herdeiros da herança

demandada, havendo apenas um herdeiro que não é demandante, a herança será representada apenas por este herdeiro pois a mesma pessoa/entidade não

(17)

pode ocupar em simultâneo, os lados activo e passivo de uma acção judicial. Aqui chegados, e descendo finalmente ao concreto, vemos que o Prédio urbano objecto da pretensão dos apelantes/autores [ em face da factualidade inserta em 2.2. e tendo presente o disposto no artº 7º, do CRP – presunção derivada do registo ], é compropriedade – desde 22/2/2000 - de D, de B ( Autor), de C (Réu ) e de A ( Autora).

Não sendo parte na acção de divisão de coisa comum intentada a 18/12/2019 a comproprietária D, porque já falecida a 11/2/2019 [ cfr. certidão de habilitação de herdeiros de 14/5/2019 e junta com a pi ], certo é que os seus - únicos e universais - herdeiros são A ( filha/Autora e cabeça-de-casal da herança aberta por óbito de D ), e os netos, o também Autor B e o Réu C .

Ora, porque os direitos relativos à herança [ in casu da consorte D ] só podem ser exercidos conjuntamente por todos ou contra todos os herdeiros [ artº 2091º, nº1, do CC ], e , para todos os efeitos, todos eles [ os herdeiros da consorte/falecida D ] são in casu também parte na acção de divisão de coisa comum [ e independentemente da posição que na mesma ocupam ], em rigor, no conjunto e em última análise, entre o lado activo e o lado passivo da nossa lide, encontram-se presentes todos os consortes do imóvel objecto da acção. Dito de uma outra forma (16), sendo verdade que o cabeça-de-casal não tem legitimidade para, por si só, intentar a acção de divisão de coisa comum de que seja contitular a herança, devendo a acção ser intentada por todos os herdeiros em litisconsórcio necessário activo ( artº 2091º,nº1, do CC ), ou , sendo proposta por um ou alguns dos comproprietários, deve então também ser proposta contra todos os restantes comproprietários em regime de

litisconsórcio necessário natural ( cfr artº 33º,nº2, do CPC ), então porque in casu todos eles [ uns do lado activo e outro do lado passivo , e todos eles enquanto consortes/comproprietários do imóvel em causa nos autos, sendo que relativamente à consorte/herança de D, mostra-se a mesma representada por todos os seus herdeiros - os quais, concomitantemente, agem em nome próprio e outrossim como representantes ] integram a instância da acção de divisão de coisa comum pelos apelantes intentada, nada obsta ao seu

prosseguimento, estando em suma criadas as condições necessárias para que no seu âmbito seja possível compor definitivamente a situação entre os

comproprietários.

Em conclusão: Porque in casu são 4 os consortes do imóvel objecto da acção de divisão de coisa comum [ estando três deles presentes na acção como partes, e o outro consorte, sendo é verdade uma herança aberta por óbito de comproprietário falecido, certo é que todos os seus herdeiros/representantes estão também presentes na acção, porque outrossim comproprietários, além de únicos herdeiros do comproprietário falecido ] e todos eles [ por si ou

(18)

devidamente representados ] integram a instância da presente acção especial, nada obsta ao prosseguimento da acção, para tanto não se revelando

necessário proceder previamente à partilha da herança do consorte “pré-falecido”.

Por conseguinte, a decisão recorrida tem de ser revogada, procedendo forçosamente o recurso, devendo assim a acção de divisão de coisa comum prosseguir os seus termos [ tendo em vista pôr-se termo à indivisão do prédio dos autos, e sendo o respectivo valor repartido entre os seus comproprietários nos termos alegados no artº 14º da pi, ou seja, cabendo à A. A, 1/9, ao A. B, 1/18, ao Réu C, 1/18, e à herança indivisa aberta por óbito da Senhora D, 7/9 ].

***

4.- Em conclusão ( cfr. artº 663º,nº7, do CPC ) : (acima transcrito) ***

5.- Decisão.

Em face de tudo o supra exposto, acordam os Juízes na 6ª Secção Cível do Tribunal da Relação de Lisboa, em, concedendo provimento ao recurso de apelação apresentado pelos requerentes A e B:

5.1. - Revogar a decisão recorrida ; 5.2 - Ordenar o prosseguimento da lide.

Custas na apelação a cargo do Apelado C [ cfr. artº 527º,nº2, do CPC ]. ***

(1) Em Código Civil Anotado, Coimbra Editora, 1972, Vol. III, página 343/4. (2) Ibidem, pág. 344.

(3) Cfr. José ALBERTO VIEIRA ( em Direitos Reais ,Coimbra Editora), apud Luís Filipe PIRES DE SOUSA, em Processos Especiais de Divisão de Cosa Comum e de Prestação de Contas, 2016, Almedina,pág.11.

(4) Cfr. Luís Filipe PIRES DE SOUSA, ibidem, pág.19.

(5) Acórdão de 30/1/2013, proferido no processo nº 1100/11.7TBABT.E1.S1, sendo Relator o Exmº Juiz Conselheiro ÁLVARO RODRIGUES e acessível em www.dgsi.pt

(6) Proferido no processo nº 4829/17.2T8LSB.L1-2, sendo Relator o Exmº Juiz Des. VAZ GOMES e acessível em www.dgsi.pt

(7) Em “Notas ao Código de Processo Civil ”, vol. I, Almedina, págs. 398 e 399.

(8) Em Temas da Reforma do Processo Civil, Almedina, vol. I, pág. 247. (9) Cfr. Luís Filipe PIRES DE SOUSA, ibidem, pág.19.

(10) PIRES DE SOUSA ,ibidem, pág.80. (11) Ibidem, pág. 19

(19)

Des. JOÃO VENADE e acessível em www.dgsi.pt.

(13) Proferido no processo nº 0098021, sendo Relator o Exmº Juiz Des. FERREIRA PASCOAL e acessível em www.dgsi.pt.

(14) Proferido no processo nº 3834/13.2TBFUN.L1-2, sendo Relator à data o “hoje” Exmº Juiz Conselheiro OLINDO GERALDES, e acessível em

www.dgsi.pt.

(15) Proferido no processo nº 487/17.2T8STS-A.P1, sendo Relator o Exmº Juiz Des. ARISTIDES RODRIGUES DE ALMEIDA e acessível em www.dgsi.pt. (16) Cfr. v.g. Luís Filipe PIRES DE SOUSA, ibidem, págs.72/73

***

LISBOA, 25/2/2021

António Manuel Fernandes dos Santos Ana de Azeredo Coelho

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