UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL
ALIENAÇÃO PARENTAL: UMA EXPLICAÇÃO PAUTADA EM TRAÇOS DE
PERSONALIDADE E NOS VALORES HUMANOS
Mestrando: Thayro Andrade Carvalho
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL
ALIENAÇÃO PARENTAL: UMA EXPLICAÇÃO PAUTADA EM TRAÇOS DE
PERSONALIDADE E NOS VALORES HUMANOS
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Psicologia Social, da Universidade
Federal da Paraíba, por Thayro Andrade
Carvalho, sob a orientação da Profª. Drª. Patrícia
Nunes da Fonsêca, como requisito parcial para a
obtenção do grau de Mestre em Psicologia
Social.
C331a Carvalho, Thayro Andrade.
Alienação parental: uma explicação pautada em traços de personalidade e nos valores humanos / Thayro Andrade Carvalho.- João Pessoa, 2015.
191f. : il.
Orientadora: Patrícia Nunes da Fonsêca
Dissertação (Mestrado) - UFPB/CCHL
1. Psicologia social. 2. Alienação parental. 3. Práticas maternas alienantes. 4. Traços de
ALIENAÇÃO PARENTAL: UMA EXPLICAÇÃO PAUTADA EM TRAÇOS DE
PERSONALIDADE E NOS VALORES HUMANOS
Banca Avaliadora:
Profª. Drª. Patrícia Nunes da Fonsêca (UFPB,
Orientadora
)
Profª. Drª. Maria da Penha Lima Coutinho (UFPB,
Membro interno
)
Prof. Dr. Emerson Diógenes de Medeiros (UFPI,
Membro externo
)
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a Deus por toda a força e saúde que me permitiu ter em
mais esta jornada. Obrigado, meu Deus. Por ter me permitido seguir em frente, sempre
de cabeça erguida, por não me deixar desistir diante dos obstáculos.
Agradeço também a meus pais, Dionísio Carvalho Filho e Telma Maria Pereira
de Andrade, que tanto me ensinaram e ensinam. A vocês, meus amados, nem todo
agradecimento do mundo será suficiente para demonstrar todo carinho e respeito que
tenho. Em especial, à minha mãe, mulher guerreira que, com muita coragem, conseguiu
superar o câncer e me mostrou o quanto precisamos ter força de vontade para vencer na
vida. Aproveito também este ensejo para agradecer a outro membro de minha família
que me deu todo apoio, estimulou-me, encorajou-me e me deu suporte, meu irmão
Dionísio Carvalho Neto. Esta vitória é nossa, minha família, amo vocês.
À minha noiva, Ana Raquel de Oliveira, com quem tenho o prazer de conviver
diariamente, dividir angústias e problemas, mas, principalmente sonhos, amor, força e
carinho. Você, meu amor, é, sem sombra de dúvidas, meu ponto de equilíbrio, a melhor
parte de mim, meu orgulho, minha amiga e companheira.
“
Amo tu!
”
Obrigado por me
permitir estar ao seu lado.
honesto e sincero. Agradeço a este casal pelo exemplo profissional e, principalmente,
pela amizade a mim dedicada.
Agradeço também à Profª. Drª. Maria da Penha por ter dedicado tanta atenção e
carinho à minha dissertação. Todas as considerações foram sempre pertinentes, pela
postura profissional incontestável, mas, sobretudo, por sempre estar dispostas a, com
um sorriso cativante, tirar minhas dúvidas, quando requisitada. Obrigado, professora!
Hoje, vejo que todos os elogios aos quais meus professores dirigiam a senhora desde a
graduação são pertinentes, pois fazem referência à profissional robusta que a senhora
representa.
Ao meu primeiro orientador, Prof. Emerson Diógenes, por ter aceito ser leitor
externo desta dissertação. A presença do senhor em minha banca significa muito para
mim, vejo, hoje, que todos os ensinamentos que tive com o senhor foram fundamentais
para chegar nesta etapa acadêmica. Destaco também que sua amizade é fonte de muito
orgulho para mim, deste modo, darei o melhor, sempre, para corresponder à confiança
em mim depositada. Da mesma forma, cabe um agradecimento à sua esposa, Profª.
Paloma Medeiros, amiga, companheira e sempre tão atenciosa. Obrigado por tudo!
Aproveito também para agradecer aos professores do corpo docente do
Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social
–
UFPB, que de alguma forma
colaboraram com esta pesquisa: Prof. Dr. Bernadino, de Métodos de Pesquisa em
Psicologia; Profª. Drª. Maria da Penha, Técnicas em Análises de dados Qualitativos e
Psicologia Social, como também a Profª. Drª. Patrícia Fonsêca, que ministrou a
disciplina Técnica em Análise de Dados. Saudade dessas aulas.
e aprender muito. Aproveito, também, para agradecer a todos os integrantes do Núcleo
de Estudos do Desenvolvimento Humano, Educacional e Social (NEDHES), Patrícia,
Jérssia, Bia, Juliana, Bel, Jaqueline, Andrezza e Rosy. De maneira especial, agradeço à
Jaciara (Jaci), por ser amiga e companheira sempre, como também agradeço aos meus
amigos e companheiros de luta Aline Carvalho, Gildevan Estrela, Tamíris Brasileiro e
Grabriel Lins, que sempre estiveram presentes, tanto nos momentos bons, quanto nos
ruins. Obrigado mesmo, meus amigos. Hoje, tenho respeito, admiração e carinho por
todos vocês.
Meu amigo Arthur Munis que não tinha como ser esquecido, seu
companheirismo e apoio foram fundamentais para chegar ao fim dessa jornada. Assim
como Rafaela Rocha, representante Discente, obrigado pela amizade apoio e
companheirismo. Outra figura basilar aqui é Luann Glauber, meu grande amigo de São
Maméde, filho de Deza e Tia Aparecida, obrigado por me permitir seu amigo.
Agradeço, também, a amigos de núcleos diversos na UFPB, como Lidiane, José
Andrade, Shirley e Inayara, orientandos da Profª. Drª. Penha; Thiago Francisco,
Frankleudo (Obrigado, companheiros, pelas grandes contribuições em meu trabalho) e
Rômulo, orientandos do Prof. Dr. Julio Rique; Iara Maribondo, orientanda da Profª. Drª.
Ana Raquel; Daniele, orientanda da Profª. Drª. Ana Alayde. Agradeço também ao
suporte oferecido pelo Prof. Dr. Valdiney Gouveia e suas alunas Ana Karla e Rebecca
Athayde, que sempre deixaram as portas do núcleo Bases Normativas do
Comportamento Social (BNCS) abertas para esclarecimento de possíveis dúvidas, sou
muito grato a todos. Muito obrigado!
ALIENAÇÃO PARENTAL: UMA EXPLICAÇÃO PAUTADA EM TRAÇOS DE
PERSONALIDADE E NOS VALORES HUMANOS
Resumo: A presente dissertação teve como objetivo geral saber se os traços de
personalidade e os valores humanos são capazes de explicar as práticas maternas
alienantes. Especificamente, pretendeu-se:
(1) construir e conhecer os parâmetros
psicométricos do
Inventário de Práticas Maternas Alienantes
(IPMA); (2) verificar a
validade confirmatória do IPMA; e (3) testar um modelo explicativo em que os traços
de personalidade e os valores são preditores das práticas maternas alienantes. Para tanto,
foram desenvolvidos três estudos com delineamento correlacional,
ex post facto
, e
metodologia quantitativa. O Estudo 1 buscou construir e conhecer os parâmetros
psicométricos do IPMA. Participaram 200 mães divorciadas, com idades variando de 22
a 66 (
M
= 37,12 anos;
DP
= 9,06). Após testar o poder discriminativo dos 13 itens
iniciais por meio de um teste
t
de
Student
, permaneceram doze. Procedeu-se, então, uma
análise fatorial, identificando, a partir do critério da
AP,
uma estrutura composta por um
único fator, com todos os itens apresentando saturações superior a |0,30| e alfa de
Cronbach
de 0,83. No Estudo 2, realizou-se uma Análise Fatorial Confirmatória (AFC)
do IPMA. Contou-se com uma amostra por conveniência intencional de 189 mães
divorciadas, com idade variando de 20 a 70 anos (
M
= 37,8;
DP
= 10,69). Os resultados
da AFC, após a remoção de dois itens (6 e 11), apresentaram indicadores marginalmente
aceitáveis [χ² = 141,05, χ²/
gl
= 4,03,
GFI
= 0,87, AGFI = 0,80,
CFI
= 0,88 e
RMSEA
(
IC90%
= 0,12
–
0,10) = 0,14,
CAIC
= 265,89 e
ECVI
= 0,96], o índice de consistência
interna foi satisfatório
α = 0,
88, assim como a comunalidade composta (CC = 0,90) e
variância média explicada (VME = 0,50). Considera-se, portanto, que os objetivos dos
estudos supracitados tenham sido alcançados, haja vista a qualidade métrica do
instrumento desenvolvido. No Estudo 3, na tentativa de propor um modelo explicativo
das práticas maternas alienantes, buscou-se além de verificar a correlação entre estas
práticas e os traços de personalidade e valores humanos, verificar o poder preditivo
destes construtos frente a estas práticas. Participaram 188 mães divorciadas com idade
variando de 17 a 61 anos (
M =
32,2 anos;
DP
= 9,17). Foram realizadas análises
correlacionais de
Pearson,
regressão linear para avaliar poder preditivo, como também
foi proposto um modelo hierárquico por meio do programa
AMOS
. Os principais
resultados indicam que o traço de personalidade
amabilidade
e a subfunção valorativa
suprapessoal
apresentaram correlação com as práticas maternas alienantes (
r = -
0,18;
p
< 0,05 e
r
= -0,24;
p
< 0,05; respectivamente). A partir destes resultados, verificou-se o
poder preditivo destas variáveis frente às práticas maternas alienantes, constatando seu
potencial preditor frente às práticas de maneira satisfatória. Tendo estes resultados como
base, testou-se um modelo explicativo, no qual o traço amabilidade foi capaz de
predizer a subfunção
suprapessoal
que, de maneira conjunta, explicaram práticas
maternas alienantes. Assim, o modelo hierárquico traços de personalidade
→ valores →
práticas maternas alienantes apresenta índices de qualidade de ajustes satisfatórios,
evidenciados por meio de modelagem por equação estrutural. Concluindo, os objetivos
da presente dissertação foram alcançados, dando ênfase ao marco teórico utilizado que
permite identificar, de maneira robusta, que fatores associados a características
amorosas e equilíbrio emocional, podem, de maneira consistente, auxiliar a
compreender práticas maternas alienantes.
PARENTAL ALIENATION: AN EXPLANATION GUIDED BY PERSONALITY
TRAITS AND HUMAN VALUES
Abstract: This dissertation aimed to know if the personality traits and human values are
able to explain the maternal alienating practices. Specifically, we intended to: (1)
develop and know the psychometric parameters of the Inventory of Maternal Alienating
Practices (IMAP); (2) verify the confirmatory validity of IMAP; and (3) test an
explicative model, in which the personality traits and values are predictors of maternal
alienating practices. Thus, we developed three studies with correlational design, ex post
facto, and quantitative methodology. In study 1, we aimed to build and know the
psychometric parameters of IMAP. Participants were 200 divorced mothers, aged 22-66
(M = 37.12 years, SD = 9.06). After testing the discriminative power of 13 initial items
using a Student t test, remained Twelve. Then we proceeded to a factor analysis,
identifying, using the PA criterion, a structure composed of a single factor, with all
items showing loadings higher than |.30| and Cronbach's alpha of .83. In Study 2, we
carried out a Confirmatory Factor Analysis (CFA) of IPMA. Counted on a sample by
intentional convenience of 189 divorced mothers, aged 20-70 years (M = 37.8, SD =
10.69). The results of the AFC after removal of two items (6 and 11) showed marginally
acceptable indicators
[χ² = 141.05, χ²/gl = 4.03, GFI = .87, AGFI = .80, CFI = .88 and
RMSEA (IC90 % = .12
–
.10) = .14, CAIC = 265.89 e ECVI = .96], satisfactory level of
internal consistency α = .88, so as the composite commonality (CC = .90) and mean
variance explained (VME = .50). It is considered therefore that the objectives of the
previous studies have been achieved, given a quality metric of the instrument
developed. In Study 3, in an attempt to propose an explanatory model of maternal
alienating practices, we sought to identify the correlation between these practices and
the personality traits and human values, and also verify the predictive power of these
constructs against these practices. Participants were 188 divorced mothers, aged 17-61
years (M = 32.2 years, SD = 9.17). Were performed Pearsons correlation, linear
regression to assess predictive power, as has also been proposed a hierarchical model
through the software AMOS. The main results indicate that personality trait kindness
and values subfunction suprapersonal present correlation with the amaternal alienating
practices (r = -.18; p <.05 and r = -.24, p <.05, respectively). From these results, it was
found the predictive power of these variables towards the maternal alienating practices,
noting its predictor potential front practices satisfactorily. Taking these results as a
basis, we tested an explicative model, in which the kindness trait was able to predict the
suprapersonal subfunction which jointly explained maternal alienating practices. Thus,
the hierarchical model personality traits → values → maternal alienating practices
presents satisfactory quality at the adjustments indices, shown through structural
equation modeling. In conclusion, the present dissertation objectives were achieved,
emphasizing the theoretical framework used for identifying robustly that factors
associated with loving characteristics and emotional balance, can consistently help to
understand maternal alienating practices.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ... 17
PARTE I: MARCO TEÓRICO ... 21
CAPÍTULO I: FAMÍLIA ... 22
2.1 Marco histórico da família ... 24
2.2 Família na atualidade ... 26
2.3 Família à luz da legislação ... 29
2.4 Princípios jurídicos que regem a família ... 32
2.5 Da conjugalidade a separação ... 36
2.6 O poder familiar ... 39
2.6.1 Da titularidade
... 39
2.6.2 Em que consiste o poder familiar?
... 40
2.6.3 Extinção, suspensão e perda
... 41
2.6.4 Da guarda
... 43
2.2.5 Direito à visita
... 45
CAPÍTULO II: ALIENAÇÃO PARENTAL, DE QUE TRATA? ... 48
3.1 História ... 49
3.2 Conceitos ... 52
3.3 Legislação ... 56
3.4 Síndrome de Alienação Parental ... 59
3.4.1 Definição
... 59
3.4.2 Prevalência
... 61
3.4.3 Critérios de identificação
... 61
3.5 Panorama dos estudos sobre Alienação Parental ... 67
3.6 Instrumentos que tratam da Alienação Parental ... 71
CAPÍTULO III: TEORIAS DA PERSONALIDADE ... 77
4.1 Principais estudiosos e suas contribuições ... 80
4.1.1 Sigmund Freud
... 80
4.1.2 Burrhus F. Skinner
... 82
4.1.3 Carl Rogers
... 83
4.1.5 Abordagem dos Traços de Personalidade
... 85
4.1.6 Gordon Allport
... 85
4.1.7 Raymond Cattell
... 87
4.1.8
Hans Eysenck
... 88
4.1.10 Relação entre família e personalidade
... 93
CAPÍTULO IV: VALORES HUMANOS ... 96
5.1 Valores individuais ... 100
5.1.1 Milton Rokeach
... 101
5.1.2 Shalom H. Schwartz
... 103
5.1.3 Valdiney V. Gouveia
... 107
PARTE II: ESTUDOS EMPÍRICOS ... 117
CAPÍTULO VI: ESTUDO 1. PARÂMETROS PSICOMÉTRICOS DO INVENTÁRIO
DE PRÁTICAS MATERNAS ALIENANTES (
IPMA
) ... 118
6.1 Método ... 119
6.1.1 Delineamento
... 119
6.1.2 Amostra
... 119
6.1.3 Procedimento
... 120
6.1.4 Instrumentos
... 121
6.1.5 Tabulação e análises de dados
... 122
6.2 Resultados ... 122
6.1.1
Inventário de Práticas Maternas Alienantes
(
IPMA
)
: Evidências
psicométricas
... 123
6.1.1.1
Poder discriminativo dos itens do IPMA
... 123
6.1.1.2. Análise fatorial exploratória e consistência interna do IPMA
... 124
6.3 Discussão parcial ... 127
CAPÍTULO VII: ESTUDO II. VALIDADE CONFIRMATÓRIA DO INVENTÁRIO
DE PRÁTICAS MATERNAS ALIENANTES (
IPMA
) ... 129
7.1 Método ... 130
7.1.1 Delineamento
... 130
7.1.2 Amostra
... 130
7.1.4 Procedimento
... 131
7.1.5 Tabulação e análise dos dados
... 131
7.2
Resultados ... 134
7.2.1 Inventário de Práticas Maternas Alienantes
(
IPMA): Validade fatorial
confirmatória e consistência interna
... 134
7.3 Discussão parcial ... 135
CAPÍTULO VIII: ESTUDO III. EXPLICANDO PRÁTICAS MATERNAS
ALIENANTES POR MEIO DOS TRAÇOS DE PERSONALIDADE E VALORES
HUMANOS ... 138
8.1 Método ... 139
8.1.2
Amostra
... 141
8.1.3 Procedimento
... 142
8.1.4 Instrumentos
... 143
8.1.5 Tabulação e análises de dados
... 145
8.2
Resultados ... 146
8.3
Discussão geral... 150
8.4
Conclusão ... 160
Referências ... 162
ANEXOS ... 184
ANEXO I: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO... 185
ANEXO II: INVENTÁRIO DE PRÁTICAS PARENTAIS ALIENADORAS ... 186
ANEXO III: ESCALA DE PERCEPÇÃO DOS PAIS FRENTE AO EX-CÔNJUGE
... 187
ANEXO IV: QUESTIONÁRIO SOCIODEMOGRÁFICO ... 188
ANEXO V: ESCALA DE DESEJABILIDADE SOCIAL DE
MARLOWE-CROWNE (EDSMC) ... 189
ANEXO VI:
QUESTIONÁRIO DOS VALORES BÁSICOS - QVB ... 190
ANEXO VII: INVENTÁRIO DOS CINCO GRANDES FATORES DA
PERSONALIDADE (
BIG FIVE
) ... 191
Lista de Tabelas
Lista de Figuras
Figura 1
. Fatores que podem influenciar a resposta da criança frente às práticas
alienadoras, adaptado de Kelly e Johnston (2001). ... 64
Figura 2
. Estrutura das Relações entre os dez Tipos Motivacionais dos Valores... 106
Figura 3
. Facetas, dimensões e subfunções dos valores básicos ... 110
Figura 4
. Congruência das subfunções dos valores básicos. ... 115
Figura 5
. Ilustração Gráfica do Inventário de Práticas Maternas Alienantes ... 135
“
Meus valores morais básicos, para
ser preciso, foram moldados em casa.
A novidade é o horizonte intelectual e
INTRODUÇÃO
Família pode ser entendida como a base da formação moral, de personalidade,
valorativa, de crenças, comportamentos e normas sociais (Wagner, Tronco, & Armani,
2011). Desta forma, entende-se que os pais (pai/mãe) são os principais responsáveis
pela educação e socialização dos filhos (Fonsêca, 2008), transmitindo a esses, conceitos
e práticas possivelmente internalizadas e utilizadas no ajustamento do comportamento
social e na vivência da vida afetiva desses indivíduos na fase adulta (Bolsoni-Silva, Del
Prette, & Oishi, 2003).
Assim, os genitores devem proporcionar um ambiente no qual a criança possa se
desenvolver de maneira saudável (Rosa, 2012). A partir desta perspectiva, o fim do
matrimônio pode se configurar como um contexto de influência negativa para o
desenvolvimento de crianças e adolescentes (Reis & Reis, 2009). A propósito, pesquisas
apontam que filhos de famílias divorciadas tendem a apresentar problemas de
ajustamento, dificuldades acadêmicas e relacionais (Amato, 2001), como também a
diminuição da autoestima, aumento de autoculpa (Dunn, 2004; Goodman & Pickens,
2001) e diminuição do desempenho escolar (Baker & Ben-Ami, 2011; Parke & Buriel,
1998).
Logo, a separação dos pais pode ser apontada como um dos estressores
familiares mais associados a problemas de sobrevivência e adaptação em crianças e
adolescentes (Dreman, 2000). Em situações conflituosas desse gênero, as crianças
tendem a ficar confusas acerca do porquê do divórcio estar acontecendo, de quem é a
culpa, ou, o que vai acontecer depois que o divórcio acabar, qual o seu lugar nessa
história (Portes, Lehman, & Brown, 2013).
fenômeno presente na maioria dos casos envolvendo pais divorciados (Dreman, 2000);
isto é, quando a criança se alia fortemente a um dos pais, o
alienador
e,
consequentemente, rejeita o contato com o outro, o
alienado
, sem nenhuma justificativa
pertinente (Bernet, Boch-Galhau, Baker, & Morrison, 2010; Gardner, 1994).
A Alienação Parental pode ser definida como esforços por parte de um dos pais
(pai/mãe) para estimular a criança a rejeitar o outro, muito embora este tema ainda seja
pouco evidenciado na literatura (Baker, 2010). Existe um consenso de que a pesquisa
em relação a tal fenômeno deve continuar, uma vez que afeta milhares de crianças e
famílias (Bernet et al., 2010). Segundo a Associação de Pais Separados (APASE, 2014),
das 60 milhões de crianças e/ou adolescentes brasileiros, 20 milhões são filhos de pais
separados, destes, 16 milhões sofrem Alienação Parental em algum grau.
Para se trabalhar com o construto traços de personalidade, destaca-se que os
comportamentos estabelecidos pelo alienador são definidos por Silva e Resende (2007;
pp. 31) como
“
patológicos, descontrolados e, principalmente, desconectados da
realidade
”
. Tais características não surgem com os desafetos do casal, e sim, remete a
uma estrutura mais rígida, psíquica, previamente estabelecida que é expressa quando
algo foge a seu controle, ou seja, fatores da personalidade, entendidos como traços.
Assim, considera-se que a influência dos traços de personalidade deve ser considerada
para avaliar emoções reguladoras ou características alienadoras (Gresham & Gullone,
2012; Hasking et al., 2010).
A presente dissertação adotará a Teoria Funcionalista dos Valores Humanos,
cujo conceito fundamenta-se em duas funções consensuais: (1) guiar as ações humanas
(
tipo de orientação social, central e pessoal
) e (2) expressar as necessidades (
tipo de
motivador-materialista e humanitário
). O cruzamento de suas funções permite a
identificação de seis subfunções específicas dos valores:
experimentação
,
realização
,
existência
,
suprapessoal
,
interacional
e
normativa
(Gouveia, 2003).
como base neste estudo, a dos Cinco grandes fatores de Personalidade (
Big Five
). No
Capítulo IV,
Valores Humanos
, faz referências às principais teorias que estudam os
valores humanos, priorizando a Teoria Funcionalista dos Valores, que embasa esta
pesquisa.
Na Parte II
–
Estudos empíricos
–
são apresentados os estudos empíricos
propriamente ditos, a saber o Estudo 1
–
Construir e conhecer os parâmetros
psicométricos do Inventário de Práticas Maternas Alienantes
;
o Estudo 2
–
Realizar
análise confirmatória do instrumento validado no Estudo 1
; por fim, o Estudo 3
–
Explicar práticas maternas de alienação por meio dos Traços de Personalidade e
Valores Humanos
.
Com base na literatura, parece razoável afirmar que não existe um conceito
absoluto de “família”. A propósito,
conforme assegura Gagliano e Pamplona Filho
(2012), é algo impossível delimitar a complexa e multifacetada gama de relações
socioafetivas que vinculam as pessoas, tipificando-as e estabelecendo categorias e
modelos. Logo, diante da impossibilidade de singularizar tal estrutura, estudiosos
chegaram a assinalar o conceito “famílias” (
Carter & McGoldrick, 2001), de modo a
abarcar a pluralidade de variáveis inseridas neste conceito (Wagner et al., 2011). A
partir deste entendimento, tentar-se-á compreender, a seguir, um pouco mais acerca
desta estrutura basilar tão importante e complexa na vida do indivíduo.
Inicialmente, Wagner et al. (2011) chamam atenção para a
“
crise do modelo
tradicional de famíli
a” (
pai-mãe-filhos
), tendo em conta as diferentes configurações
familiares que têm surgido com o passar dos anos. Por exemplo, no que se refere à
família brasileira, torna-se difícil traçar um só perfil para sua estrutura, entretanto,
algumas características podem ser destacadas, entre as quais se incluem: a diminuição
do número de pessoas na família, o aumento de divórcios e recasamentos, a maior
participação da mulher na manutenção econômica do lar, casais de dupla carreira, além
de diferentes maneiras de compartilhar papéis nas funções parentais.
Assim, evidencia-se que, com as mudanças econômicas, políticas, sociais e
culturais ocorridas ao longo do tempo, a sociedade está sendo obrigada a reorganizar
regras básicas para amparar a nova ordem familiar (Faco & Melchiori, 2009). Essas
modificações acerca da família e sua forma de organização, estrutura ou constituição
podem ser observadas a partir de seu passado histórico. Assim, tentar-se-á compreender
um pouco melhor a família a partir de seu marco histórico.
2.1 Marco histórico da família
Na Idade Média, o conceito de família passa pela forte determinação e influência
da Igreja. De acordo com Ariès (1981), o Direito Canônico passou a ter relevante
importância na sociedade, tendo em vista o domínio da Igreja neste período. Como o
poder laico enfraquecia pelo declínio do poder real, em consequência do feudalismo, a
jurisdição eclesiástica aumentava seu poder também em relação aos leigos. A Igreja
acabou sendo a única a julgar assuntos relativos a casamento, legitimidade dos filhos,
divórcio, etc. O casamento deixou de ser contrato para ser considerado um sacramento.
Na Grécia e Roma antigas, predominavam as microrreligiões. A família tinha,
portanto, seu próprio culto, sua justiça, seus costumes e tradições. O culto adotado era
uma escolha do chefe da família, denominado
pater.
Em Roma, o casamento era, por
essência, monogâmico, definindo-se como a união entre o homem e a mulher com o fim
de estabelecer uma comunhão de vida íntima e duradoura. Desta forma, pode-se
entender que o casamento jamais foi indissolúvel, pois desde o direito arcaico romano já
era previsto o divórcio. No início, o divórcio somente podia ocorrer por vontade do
marido. Com o passar do tempo, esta possibilidade foi estendida também às mulheres.
seguia o princípio da autoridade, em que o
pater
era, ao mesmo tempo, chefe político,
sacerdote e juiz, tendo mulheres e filhos submetidos a sua autoridade, exercendo sobre
estes o direito de vida e de morte (
ius vitae ac necis
), passou por inúmeras
transformações no decorrer da história.
Com o passar dos anos, o modelo tradicional de família evoluiu restringindo,
progressivamente, a autoridade do
pater
, que passou a ser assumida tanto pela mulher
quanto pelos filhos. Segundo Coulanges (1970), isto ocorreu porque os romanos
distinguiam duas espécies de casamento: o
cum manu
e o
sine manu
. No primeiro caso,
a mulher saía da dependência do
pater famílias
para a do marido e do
pater famílias
da
família do marido. O casamento
sine manu
não oferecia esta possibilidade de sujeição,
podendo a mulher continuar sob o poder de seu próprio
pater famílias
, conservando o
direito sucessório de sua família de origem. Para os romanos, o casamento era um ato
consensual de contínua convivência.
Assim, historicamente, mudanças de ordem religiosa, política, econômica, social
e cultural refletiram sobre os papéis e relações familiares, alterando sua estrutura no que
diz respeito à composição familiar (Dessen, 2010). Por exemplo, entre os povos
primitivos (800 a. C), a constituição das famílias mantinha estreita ligação com a
unidade de culto e liames místicos. Neste período, a formação da família era
determinada pela necessidade de subsistência, a qual regulava as uniões e o número de
filhos.
bem-estar familiar respaldado na manutenção de acúmulo dos bens, onde a noção de
intimidade não se mostrava presente.
Neste sentido, a família, enquanto instituição inserida no contexto social, reflete
as profundas transformações socioeconômicas e culturais advindas do acelerado
desenvolvimento tecnológico e da globalização (Fonsêca, 2008). Logo, sua evolução
histórica apontou para o emergir de novos modos de formação da família, o que será
explicitado nos subtópicos a seguir.
2.2 Família na atualidade
Diante das transformações ocorridas na sociedade, a família mudou, originando
múltiplos arranjos conjugais que vão desde os mais tradicionais, que se configuram
como o modelo mais comumente associado à família, um pai, uma mãe e filhos, aos
mais modernos, a exemplo das famílias homoparentais que são caracterizadas pela
união de duas pessoas do mesmo sexo (Freire, 2013). Além destes modelos, tem-se
também famílias do tipo monoparental, união estável, mosaico, anaparental, paralela,
poliamorosa, dentre outras (Maluf, 2012).
As famílias monoparentais têm-se tornado comum, e podem ser formadas por
pai ou mãe e filho(s). Esta forma de constituição familiar há muito já existia, no entanto,
seu reconhecimento e regulamentação por parte de vias legais somente surgiu com a
Constituição de 1988, por meio do Art. 266, parágrafo único, o qual prevê que uma
comunidade formada por qualquer dos pais com seus descendentes deve ser tida como
uma família, merecendo, assim, a proteção do Estado.
afeto entre o casal (Soares & Ferreira, 2012), superando o parâmetro do matrimônio
como base familiar, isto é, da família-matrimonial.
Com o advento da separação e dos recasamentos, têm-se também a formação de
famílias reconstruídas a partir das desmembradas, ou seja, ocorre quando um ou ambos
os indivíduos que constituem vínculo formal ou não, com ou sem filhos de matrimônios
prévios, reagrupam-se em uma nova família (Sandri, 2013). Desta forma, constituem-se
as famílias mosaico ou pluriparentais, originadas de indivíduos que estabelecem vínculo
com famílias distintas a fim de constituir outra.
Outra forma familiar que se constitui na atualidade são as famílias anaparentais,
formadas pelo convívio de indivíduos unidos por laços de sangue ou não, como irmão
(Sandri, 2013). Esta nova forma de arranjo familiar tem destaque no afeto, uma vez que,
seja qual for a comunidade formadora do vínculo familiar, aparentados ou não, são
unidos por laços naturais, afinidade e vontade própria (Soares & Ferreira, 2012).
Há ainda as famílias paralelas, que são definidas quando existe ao menos um
membro impedido, pelas vias legais, de constituir o matrimônio. No entanto, tal forma
de constituição familiar, muito embora ascendente, não é permitida no Brasil, uma vez
que é priorizada a monogamia (Sandri, 2013). Esta forma de família remete a outra
conjuntura familiar bastante contemporânea, a família poliamorosa, definida como uma
relação entre três ou mais parceiros conscientemente selecionados uns aos outros como
família, podendo viver juntos ou não. Estes possuem a liberdade de manter relações
sexuais com todos os membros envolvidos, muito embora não necessite manter relação
sexual para participar deste laço (Freire, 2013).
transformações chegaram a ser apontadas como a
“crise do casamento contemporâneo”
,
neste sentido Jablonski (2001, 2005, 2007) cita como fatores norteadores desse processo
de modificação o movimento de modernização da sociedade, o processo de
secularização, a expansão do individualismo, o aumento da longevidade e a forma como
o amor e a sexualidade são valorizados pela cultura atualmente.
Além destes fatores, Hintz (2001) menciona as inovações tecnológicas no campo
da fertilização e o ingresso da mulher no mercado de trabalho, acompanhado pelo seu
engajamento em atividades educativas, profissionais, culturais, artísticas e políticas.
Desta forma, é possível encontrar mulheres com níveis salarial e educacional mais
elevados do que seus companheiros, muitas vezes assumindo o papel de mantenedoras
da família, podendo lhes propiciar uma maior autonomia dentro de casa.
De tal modo, diferentemente da rigidez dos papéis estabelecidos nos modelos
tradicionais, as famílias contemporâneas são marcadas pela confusão e difusão de
papéis. No entanto, estas novas famílias ainda conservam alguns traços das famílias
tradicionais, tais como o controle sobre a sexualidade feminina e a preservação das
relações de classe (Oliveira, 2009).
Destarte, mesmo com a emancipação feminina e a equidade entre os gêneros,
principalmente no âmbito educacional e do trabalho, permanece o desejo de procriar das
mulheres, mesmo que para isso tenham que encarar a tarefa de conciliar carreira e
maternidade. Atrelado a isto, as mulheres que tiveram mais tempo de estudo e
construíram carreiras, acabam formando o contingente de mulheres que irão engravidar
mais tardiamente, fenômeno denominado parentalidade tardia (Travassos-Rodriguez
&
Féres-Carneiro, 2013).
articule os direitos e deveres do grupo, no sentido de respeitar a individualidade social e
cultural de cada membro, com o intuito de obter a plena satisfação de seus integrantes
(Souza, Beleza, & Andrade, 2012).
Neste sentido, o Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM) formulou
o Estatuto das Famílias, no ano de 2007, tendo por objetivo adequar o Direito de
Família às necessidades e à realidade da sociedade contemporânea, de modo a buscar
soluções para conflitos e demandas familiares, mediante novos parâmetros como o
afeto, o cuidado, a solidariedade e a pluralidade (Souza et al., 2012).
De todo modo, independentemente do padrão familiar constituído, a família foi e
continuará sendo família, na medida em que for preservada sua função básica, vínculo
matrimonial com o objetivo da satisfação sexual e a educação dos filhos. Assim,
permanece como o lugar de proteção, de socialização e de estabelecimento de vínculos,
tendo o afeto como o pilar de sustentação diante das crises (Hintz, 2001).
Contudo, para entender melhor a família brasileira, faz-se necessário conhecer
melhor as leis e princípios que a regem, a fim de nortear direitos e deveres na mesma.
Estes assuntos serão discutidos nos tópicos seguintes.
2.3 Família à luz da legislação
O termo família é bastante referenciado na Constituição Federal (CF; 1988), o
Art. 226 realça bem sua presença e importância, uma vez que aponta a família como a
base da sociedade, tendo especial proteção do Estado. Associado a esse dever do
Estado, tem-se no Art. 227 da mesma Constituição um dever solidário, a saber:
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão
(CF Art. 227, 1988)”
.
Assim sendo, fica notório que a família vem passando por inúmeras
transformações ao longo dos anos, e a CF tem acompanhado essas modificações,
principalmente, por ser esta a responsável por reger todos os direitos e obrigações dos
indivíduos. A princípio, pode-se citar o Art. 5º do parágrafo primeiro da CF em vigor,
de 1988, o qual prevê igualdade em direitos e obrigações a homens e mulheres, tido
como reflexo do papel que a mulher tem ocupado com o passar dos anos, em que deixa
de atuar somente nas atividades domésticas e de zelo pelos filhos para assumir tarefas
outras, como o sustento da casa.
Pode-se verificar a evolução da constituição por meio da leitura do Código Civil
de (CC) 1916, mais especificamente encontrada no Art. 233 da Lei nº. 3.071 (1916)
1,
que aponta o homem como chefe da sociedade conjugal, o único responsável por prover
a manutenção desta, além de ser o seu representante legal, ainda tinha controle sobre as
finanças da esposa, como também o direito de não permitir que esta trabalhasse.
Curiosamente, a mulher era tida neste artigo do
CC como “consorte”, muito embora não
dispusesse dos mesmos direitos, poderes e deveres do marido, ela só poderia exercer
profissão após devida permissão por escrito do marido, não podendo nem mesmo
administrar ou receber herança sem o seu devido consentimento.
Ainda acerca do CC de 1916, destaca-se o casamento, concedido única e
exclusivamente perante oficial de registro civil (CC Art. 180, 1916), ou seja, somente o
casamento civil legitima esse laço matrimonial, na ótica desta constituição. Outra
peculiaridade desta constituição era que homens com idade inferior a 18 anos não
poderiam casar, mas as mulheres com idade igual ou superior a 16 tinham esse direito
(CC Art. 183, 1986), mas um direito que supostamente favorecia aos homens que
conseguiriam manter relações com mulheres mais novas.
Portanto, deve-se ressaltar neste ponto uma característica essencial do direito de
família, a sua natureza personalíssima, ou seja, são direitos irrenunciáveis e
intransmissíveis (Gonçalves, 2014). Assim, entende-se que:
“
Ninguém pode transferir ou renunciar sua condição de filho ou de pai/mãe.
Como também, o marido não pode transmitir seu direito de contestar a
paternidade do filho havido por sua mulher; ninguém pode ceder seu direito de
pleitear alimentos, ou a prerrogativa de demandar o reconhecimento de sua
filiação havida fora do matrimônio (CF
, 1988)”
O parágrafo 4º Art. 228º
2consolida a união estável como entidade familiar e
define a família como comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.
É, portanto, na família que o ser humano nasce, cresce desenvolve-se e constitui a sua
personalidade para integrar a sociedade. Em verdade,
“
a família é a escola do espírito,
onde se forja o caráter do ser humano preparando-o para o convívio social
”
(Viana,
1998, p.25).
Portanto, o conceito de “família” abarca tod
os os indivíduos que estão
interligados por vínculo sanguíneo, ou seja, a mesma árvore genealógica, assim como os
laços de afinidade e adoção (Gonçalves, 2012). O Direito de Família envolve as normas
que regulam o direito matrimonial, o direito parental, direito assistencial e o direito
relativo às entidades familiares, direitos da criança e do adolescente, direito do idoso
(Gagliano & Pamplona Filho, 2012; Lisboa, 2012), ou seja, para entender e abarcar a
complexidade que envolve o mundo familiar, deve-se ter em conta as várias vertentes e
princípios do direito (Viana, 1998).
2.4 Princípios jurídicos que regem a família
A família, como qualquer instituição, precisa de princípios para fins de
regulação, dentre eles: (1) a dignidade humana, (2) igualdade e respeito de todos, (3) a
solidariedade familiar, (4) da igualdade de todos os filhos, (5) o reconhecimento das
entidades familiares e (6) proteção à criança, ao adolescente e ao idoso (Lisboa, 2012).
Os princípios jurídicos podem ser considerados a base central de todo o sistema legal
(Noronha & Parron, 2012). Portanto, dado o grau de relevância destes princípios,
tentar-se-á explicitar o objetivo destes a seguir.
Princípio da Dignidade Humana
A
dignidade humana
pode ser tida como norte para os outros princípios, pois as
relações jurídicas privadas familiares devem sempre se orientar pela proteção da vida e
da integridade biopsíquica dos membros da família (Lisboa, 2012). A relevância deste
princípio é apontada desde o Art. 1º III (1988)
3, tendo como fundamento primordial a
dignidade da pessoa humana, que é, para muitos, o ponto de transformação do que até
então se tinha como paradigma do conceito de família (Noronha & Parron, 2012).
O grau de relevância do
princípio da dignidade da pessoa humana
é reafirmado
no Art. 226 § 7º (2010)
4, que assegura o Estado e a paternidade como defensores da
dignidade humana da prole. Sendo assim, a dignidade da pessoa humana pode ser vista
como uma meta permanente, tanto para o estado quanto para a família (Lobô, 2004).
Isso evidencia que todos os indivíduos que constituem a família tem que ser respeitados
3 Art. 1º III, da Constituição Federal do Brasil de 1988;
4 Art. 226º, § 7º, Capítulo VII; Discorre da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso;
com suas particularidades, faixas etárias ou mesmo limitações para que, assim, possam
usufruir de seus plenos direitos.
Princípio da igualdade e respeito de todos
A Constituição de 1988 explicita uma preocupação com a igualdade de todos os
cidadãos, esta assegura o bem destes, sem preconceito de raça, sexo, cor, idade, ou
qualquer outra forma de discriminação (Art. 3º IV, 1988)
5, o que em termos gerais
iguala todos os brasileiros. Isto posto, entende-se que este princípio repercute no
ambiente familiar, uma vez que homens e mulheres devem compartilhar dos mesmos
direitos e deveres de forma igualitária (CC Art. 266 § 5º, 1988).
Esta prerrogativa da igualdade entre todos repercute, inclusive, em outros
princípios, a exemplo da igualdade entre os filhos, ou mesmo o direito dos pais em
exercer a paternidade, ou a guarda da prole. Assim, se
“
todos são iguais perante a lei
”
(CF Art. 5º, 1998), deve-se assegurar que a igualdade e o respeito as diferenças devam
prevalecer. Portanto, é dever da família manter uma relação igualitária entre seus
membros sem qualquer tipo de diferenciação.
Princípio da solidariedade familiar
O princípio da solidariedade diz respeito a todos os membros que compõem a
família, estabelecendo que todos devem cooperar para a concretização mínima necessária aodesenvolvimento biopsíquico do outro
(Lisboa, 2012). Este princípio é tão relevante que
aparece no preâmbulo da Constituição Federal
com a seguinte denominação “
sociedade
fraterna
”, de forma mais espec
ífica o Art. 3º, I; II; III; IV (1988)
6constitui como
objetivo fundamental a construção de uma
sociedade “livre, ju
sta e
solidária”,
a fim de
constituir o desenvolvimento desta como um todo, erradicando a pobreza, a miséria e as
desigualdades.
5 Art. 3º, IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação; Constituição Federal do Brasil (1988).
Este princípio é de fundamental importância para a sociedade, pois a
colaboração mutua é basilar na manutenção das relações sociais. Assim, no ambiente
familiar não pode ser diferente, os indivíduos devem ser solidários uns com os outros.
Princípio da igualdade de todos os filhos
No que concerne ao
princípio da igualdade de todos os filhos
, tem-se como
ponto de partida a Lei nº 227º § 6º (2010)
7, que assegura aos filhos provenientes ou não
da relação matrimonial (adotados, frutos de outra relação ou traição) os mesmos direitos
e atribuições sem qualquer tipo de discriminação relacionada a sua filiação. Desta
forma, na atualidade, deve-
se utilizar apenas o temo “
filho
”, não devendo mais existir
distinção entre filhos legítimos e ilegítimos. A partir deste princípio, a ideia de
ilegitimidade filiar foi dissolvida, permitindo que todos os filhos comunguem dos
mesmos direitos, tanto filhos legítimos como ilegítimos da relação matrimonial.
Princípio do reconhecimento das entidades familiares
A família é conceituada como célula-mãe base da sociedade, amplamente
protegida pelo Estado (CF Art. 226, 1988). A família anteriormente se definia oriunda
do casamento, no entanto, com o advento da Constituição Federal de 1988, a
conceituação de família pode ser ampliada, o que possibilitou o reconhecimento de
entidades familiares diferenciadas da família matrimonializada, como por exemplo, a
família constituída a partir da união estável.
Este processo de evolução constitucional ao longo dos anos vem se adaptando às
novas necessidades e anseios da sociedade. Isso demonstra que o direito tem evoluído
de forma substancial, na busca por assegurar na sociedade um sistema legislativo
eficiente e que possibilite aos cidadãos dispor de todos os seus direitos.
Princípio da proteção à criança, ao adolescente e ao idoso
7 Art. 227º § da 6, da Constituição Federal do Brasil (1988); Capítulo VII: Da Família, da Criança, do
Uma vez que a família também é constituída por crianças, adolescentes e idosos,
faz-se necessário resguardar os direitos destes na constituição. Assim, o princípio da
proteção à criança e ao adolescente está previsto no Art. 227 da Constituição Federal do
Brasil de 1988, como também é apontado no Art. 3º do Estatuto da Criança e do
Adolescente, na Lei nº 8.069 (1990)
8. Aos idosos é assegurado o amparo, certificando
sua participação na comunidade, além do direito à dignidade e ao bem-estar,
garantindo-lhes o direito à vida, que deve ser assegurado pela família, pela sociedade e pelo Estado
(CF Art. 230, 1988).
Destarte, o princípio da proteção à criança, ao adolescente e ao idoso deve
garantir um desenvolvimento saudável, possibilitando livre acesso a lazer, alimentação,
educação, esporte, cultura, liberdade, convivência familiar, além de os proteger contra
qualquer forma de violência ou discriminação. Apesar disto, fica evidenciado no texto
da Constituição de 1988 uma especial atenção à figura do jovem, que aparentemente é
estimulado pelo poder público (CF Art. 227, 1988), enquanto o idoso deve ser
meramente amparado (CF Art. 230, 1988).
No entendimento da composição familiar o princípio da proteção à criança, ao
adolescente e ao idoso também se estende ao incapaz. Ressalta-se que este princípio
possui extrema relevância na manutenção das famílias, uma vez que todos os indivíduos
que compõem a família possuem seu valor e importância, não podendo ser desmerecido.
Contudo, tendo por base todos os seis princípios mencionados, fica clara a
prioridade atribuída pelo Estado à família. Deste modo, esta instituição pode ser
visualizada como um conjunto de princípios e normas de direito público e privado que
dispõem acerca das relações decorrentes de uma união ou de graus de parentesco entre
8Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990; Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras
indivíduos (Luz, 2009). Isto posto, faz-se necessário compreender melhor as relações de
conjugalidade e separação, discutidas no tópico seguinte.
2.5 Da conjugalidade a separação
O casamento pode ser definido como um contrato especial do Direito de Família,
desta forma, os cônjuges constituem uma comunidade de afeto e existência, a partir da
delegação de direitos e deveres relacionados à família, devendo regular suas relações
sexuais, cuidarem da prole, além de prestarem múltipla assistência (Rodrigues, 2008).
Assim, com o passar dos anos, o conceito de família tem evoluído, uma vez que no
Código Civil de 1916 o casamento era apontado como um ato solene entre duas pessoas
do mesmo sexo, todavia, com as peculiaridades da sociedade contemporânea, tal
conceito não mais se aplica, já que este pode ocorrer por meio de uma união estável (CF
Art. 226 § 3º 1988), assim como pode se dar entre sujeitos de sexos diversos entre si
(Lisboa, 2012).
Contudo, com a evolução da Constituição, tem-se também o advento do divórcio
(Lei nº 6.515, 1977)
9, que a partir da Ementa Constitucional n. 9, exclui o caráter
indissolúvel do casamento. A partir de então, a separação judicial, a dissolução do
casamento ou a cessação de seus efeitos civis passam a ser legítimos segundo os
critérios da lei anteriormente mencionada. Todavia, muito embora o divórcio seja um
advento da Lei nº 6.515 (1977), é notório que tais evoluções vêm ocorrendo desde
meados dos anos 1960, onde se destaca a Lei nº 4.121 (1962), mais conhecida como
Estatuto da Mulher Casada, que veio a dissolver muitas das discriminações que haviam
em relação à mulher, como, por exemplo, praticar quaisquer atos não vedados por lei
(Lei nº 4.121, Art. 249 VII, 1962), como atividades remuneradas. A mulher passa a ter,
9Lei nº 6.515, de 26 de dezembro de 1977:Regula os casos de dissolução da sociedade conjugal e do
nesse momento, o direito de trabalhar sem antes ter que contar com a prévia autorização
do marido. Isso garantiu à mulher assumir papéis de destaque no contexto atual, não
mais se limitando ao esposo.
Assim, com o passar dos anos e com o advento dessas evoluções legais, tem-se,
na atualidade, um cenário bastante peculiar. No ano de 2012, por exemplo, o censo
apontou no Brasil 341.600 divórcios concedidos em 1º instância (IBGE, 2012). Assim,
entende-se que, possivelmente, o advento do Art. 2º, parágrafo único da Lei nº 6.515
(1977)
10que trata da dissolução do casamento por meio do divórcio, associado à
remoção da Emenda Constitucional de nº 66
11que modificou o Art. 226 parágrafo 6º da
Constituição Federal de 1988, que dispõe sobre a remoção do pré-requisito da separação
prévia por um ano, ou da comprovação de separação por mais de dois anos, para a
realização do divórcio colaborou na realização mais rápida dos divórcios, o que
impulsionou as taxas de separação. Assim como a permissão da realização do divórcio
por meio do cartório, pois estas modificações diminuíram a interferência do Estado na
vida privada dos cidadãos.
Acerca de sua definição, o divórcio pode ser consensual ou litigioso (Lei de nº
6.515, 1977)
12. O divórcio consensual é meramente um acordo entre as partes, desta
forma não se configura como um litígio; é um negócio jurídico entre as duas partes,
onde ambos os cônjuges buscam a mesma solução (Gonçalves, 2014). Já o divórcio
litigioso, é permeado por desavenças entre o casal, em momentos como este o desejo de
encerrar o laço matrimonial é de um dos cônjuges, por meio de uma ação proposta ao
juiz, que tentará conciliação antes do início processual (Cardino, 2012). Contudo, em
10 Lei nº 6.515, de 26 de dezembro de 1977: Regula os casos de dissolução da sociedade conjugal e do
casamento, seus efeitos e respectivos processos, e dá outras providências
11 Emenda Constitucional nº 66, de 13 de julho de 2010. Dá nova redação ao § 6º do art. 226 da
Constituição Federal, que dispõe sobre a dissolubilidade do casamento civil pelo divórcio, suprimindo o requisito de prévia separação judicial por mais de 1 (um) ano ou de comprovada separação de fato por mais de 2 (dois) anos.
12 Lei nº 6.515, de 26 de dezembro de 1977. Regula os casos de dissolução da sociedade conjugal e do
casos de divórcios litigiosos, dificilmente há conciliação, especialmente, no que diz
respeito à pensão alimentícia e à guarda dos filhos (Gagliano & Pamplona Filho, 2012).
O divórcio litigioso segue o rito ordinário e deve ser proposto pelo cônjuge
inocente (o cônjuge que sofre o processo de alienação), por meio de processo
contencioso. Proposta a ação, o juiz, antes de despachar a inicial, deve tentar a
conciliação das partes, ouvindo-as pessoalmente (separadamente ou em conjunto) e, em
caso negativo, o processo prossegue, de acordo com o parágrafo único do Art. 447 do
Código de Processo Civil (Lei nº 5.869, 1973)
13.
No Brasil, tendo-se em conta o número de divórcios judiciais concedidos e o de
matrimônios realizados, constata-se uma queda no tempo médio transcorrido entre a
data do casamento e a sentença de divórcio, ou seja, os casais estão se formando mais
cedo e se desmembrando mais rápido (IBGE, 2012). Ainda segundo o IBGE, outro dado
alarmante é que no período de 2007 a 2012, constatou-se um aumento nas dissoluções
conjugais em que haviam filhos, passando de 20,3% para 37%, o que significa mais
crianças sofrendo com o processo de separação dos pais.
Assim, em muitos casos em que a união afetiva fracassa, encontra-se ao centro
da mesma uma prole que inegavelmente é prejudicada pela crise do casal (Reis & Reis,
2012). Isso consolida a ideia de que o divórcio é geralmente uma vivência associada ao
estresse em crianças, tendo em vista as circunstâncias que modificam sua rotina e
costumes, tais como: possíveis conflitos entre os pais acerca de visitação e custódia,
mudanças de residência e escola, perda de amigos e parentes, podendo ainda diminuir
os recursos econômicos (Dreman, 2000).
Contudo, sabe-se que a separação dos pais não deve modificar os direitos e
deveres destes em relação aos filhos (CC Art. 1.579, 2002)
14. Assim, entende-se que o
matrimônio pode ter fim, mas os laços paternos não, de tal modo faz-se necessário
discutir acerca do poder familiar, o qual rege a relação dos pais com seus filhos.
2.6 O poder familiar
2.6.1 Da titularidade
As relações familiares passaram por diversas transformações com o passar dos
anos, isso pode ser verificado a partir das reformulações do Código Civil (CC)
brasileiro. O CC de 1916 (Lei nº 3.071), por exemplo, atribuía única e exclusivamente
ao marido a
patria potestas
, o pai assumia o cargo de chefe familiar, onde só na falta
deste o poder poderia ser exercido pela mulher. Neste contexto, nos casos de
divergência entre pai e mãe, sempre prevalecia a opinião paterna (Gonçalves, 2012).
O CC de 1916 previa a mulher como mera colaboradora da rotina familiar,
durante o casamento, contudo, nesta mesma constituição, passa a ser competência dos
pais o pátrio poder
, “exercendo
-o o marido com a colaboração da
mulher”
. Assim, a
mulher sai da função de submissa para a função de colaboradora. Isso é confirmado na
leitura dos Art. 240, 247 e 251 do mesmo documento. Nessa perspectiva, foi conferido
o exercício do até então denominado pátrio poder aos dois pais, muito embora a mulher
surja neste momento apenas como mera colaboradora.
Posteriormente, a igualdade completa, no que concerne à titularidade e ao
exercício do que se conhece na atualidade como poder familiar dos cônjuges, foi
concretizada na Constituição Federal de 1988, conforme disposto no Art. 226 § 5º
: “Os
direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem
e pela mulher”.
Como também, admite-se que a família pode ser constituída por um dos
pais e seus descendentes (Art. 226 § 4º, 1988)
15. Faz-se cogente ressaltar que essa
constituição estabelece uma harmonia com o Estatuto da Criança e do Adolescente,
confirmado na Lei nº 8.069 Art. 21(1990)
16:
“O pátrio poder deve ser exercido, em igualdade de condiç
ões, pelo pai e pela
mãe, na forma que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o
direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente
para a solução da divergência.
”
Já no CC de 2002, tem-se um momento histórico para a família brasileira, o
estabelecimento da igualdade de condições, ou seja, o poder familiar passa a ser
exercido por ambos os pais (ver Art. 1.631 do referido Código). A partir de então, os
filhos estão sujeitos ao poder familiar dos pais, até alcançar a maioridade (ver Art. 1.630
da CC de 2002).
2.6.2 Em que consiste o poder familiar?
O Poder Familiar é o conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais, em
relação aos filhos menores e seus bens, de forma irrenunciável, originalmente,
indelegável e imprescritível (Lisboa, 2012). Assim, nem mesmo a separação ou o
divórcio anulam o poder familiar, com exceção da guarda, que representa uma pequena
parcela desse poder e fica com um deles (Art. 1.632, 2002)
17, assegurando-se ao outro o
direito de visita e de fiscalização da manutenção e educação por parte do primeiro,
guarda unilateral (Lisboa, 2012). Isso pode ocasionar um prejuízo na relação do pai que
não possui a guarda, enfraquecendo os poderes por parte do genitor detentor da guarda,
uma vez que o outro exercerá esta função de forma quase soberana (Gonçalves, 2012).
16 Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990.Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras
providências.
Em relação aos filhos menores, é de competência dos pais: assegurar a criação e
educação; dá-lhes companhia e guarda; dar ou não consentimento para casamento;
atribuir um tutor a partir de testamento e/ou documento de igual significado; representar
legalmente o menor até a sua maioridade, em atos da vida civil, assim como devem
assisti-los; após essa idade, defendê-los caso sejam detidos de maneira ilegal (Art.
1.635, 2002)
18.
Com as mudanças no CC de 2002, Lei nº 10.406 (2002) e o advento de novos
tipos de família, intensificaram-se as discussões processuais em torno da
regulamentação da convivência dos filhos com o(a) genitor(a) que deixa o lar conjugal.
Contudo, este não se desvincula da gama de direitos e deveres que compõem o poder
familiar, como previsto no Art. 1.632 da Lei nº 10.406 (2002), que dispõe acerca do
exercício da paternidade, em caráter igualitário, para ambos os pais, para que possam
exercer os encargos que a norma jurídica lhes impõe, tendo como objetivo maior o
interesse e proteção do filho (Reis & Reis, 2010).
Tais prerrogativas fazem surgir um questionamento, o poder familiar pode ser
extinto, suspenso ou perdido?
2.6.3 Extinção, suspensão e perda
O poder familiar, segundo o CC (2002), pode sim ser extinto, suspenso ou até
mesmo perdido, caso haja prerrogativa prevista em Lei para isso. Para um melhor
entendimento, faz-se necessário discutir cada uma destas possibilidades a seguir.
A extinção do poder familiar se dá (I) pela morte dos pais, (II) pela emancipação
dos filhos (quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil; Lei
nº 10.406 Art. 5º parágrafo único, 2002), (III) maior idade, (IV) adoção e (V) por meio
18Lei nº10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 1.635, Capítulo V: Do poder familiar; Seção III: Da