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A Prevenção do Abuso Sexual

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Academic year: 2021

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A Prevenção do Abuso Sexual

Guilherme Schelb, membro do Ministério Público da União desde 1991, Promotor de Justiça da Infância em Brasília (1992-1995), Procurador da República e coordenador de diversas investigações criminais de repercussão nacional e internacional como: operação Anaconda, operação Vampiro e Guerrilha do Araguaia. Especialista em segurança pública. Palestrante em temas de infância e juventude há 20 anos.

O objetivo desta palestra é despertar as pessoas de bem para a defesa da infância, contra o abuso sexual, a pedofilia e a pornografia. Apresento orientações práticas para identificar, prevenir e encaminhar situações suspeitas envolvendo crianças e adolescentes. É importante salientar, que não apenas estas situações de violência, mas muitas outras questões (envolvimento com drogas ou criminalidade, por exemplo) podem ser identificadas com muito maior rapidez se treinarmos nosso olhar para observar o comportamento e atitudes de crianças e adolescentes. As orientações se destinam, principalmente, a evitar que os abusos sexuais ocorram.

Advirto que o texto contém o relato de histórias reais muito tristes, em que o só mencionar a violência sexual praticada será um constrangimento ao leitor. Mas é necessário fazê-lo para melhor compreensão do tema.

1. O ambiente familiar

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família. Os autores de abuso mais frequentes são o pai, padrasto, tios, amigos do pai ou de irmão, primos mais velhos e vizinhos. Embora o homem seja autor mais frequente da violência sexual, é preocupante a crescente prática e participação de mulheres em abusos contra crianças e adolescentes, especialmente mãe, madrasta, tia, babás e empregadas domésticas.

É preocupante também, o crescente registro de abusos sexuais praticados por adolescentes contra crianças, especialmente quando se permite que crianças permanecem sem nenhum acompanhamento com adolescentes. Por exemplo, em acampamentos permite-se que jovens fiquem responsáveis por crianças de 4 a 12 anos de idade. Em famílias, primos adolescentes cuidam de crianças bem mais novas durante longo tempo, sem a presença dos responsáveis. Infelizmente, este longo convívio sem a supervisão de adultos permite a prática de muitos abusos sexuais contra as crianças, ao possibilitar que pessoas imaturas sejam responsáveis pelo cuidado dos mais novos.

Caso real - Ao lavar as roupas do filho, a mãe percebeu uma marca diferente na parte detrás da cueca. Analisando melhor, identificou que era esperma. Descobriu que o filho de 8 anos de idade era abusado pelos amigos da rua, adolescentes de 14 a 16 anos de idade, com quem convivia sem nenhum acompanhamento, e com anuência dela.

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2. A vítima

Não há uma idade mínima para sofrer abusos sexuais. Já lidei com casos de bebês que foram vítimas de violência. Meninos e meninas são igualmente abusados, embora as estatísticas revelem uma maior incidência de casos contra meninas. É preciso considerar que muitas crianças não são vítimas diretas do abuso, mas presenciam ou percebem algo de estranho ocorrer com irmão ou amiga, por exemplo. A criança ou adolescente exposto a uma situação de violência, mesmo não sendo vítima direta, pode sofrer transtornos psicológicos e mudar o seu comportamento natural em decorrência da situação vivida. Por isto, é muito importante estar atento ao comportamento de crianças e adolescentes.

3. Formas de abuso sexual

O abuso sexual pode ser praticado com violência ou não. Considera-se violento tanto o caso de submissão física forçada da vítima, quanto o de ameaça, mesmo sem agressão física real.

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“carinhos” e até mesmo a pedir por eles. Este é um dos motivos

que pode explicar porque muitos adultos não têm memória de abuso sofrido na infância, embora possuam comportamento alterado. Infelizmente, até os 4 anos de vida muitas coisas podem acontecer sem que a pessoa se lembre.

Caso real – O adolescente de 16 anos de idade abusou sexualmente da irmã de 4 anos, sem violência. Por ser deixada a seus cuidados, o adolescente começou a acariciar a vítima em suas partes íntimas como uma brincadeira, até que chegou à penetração consentida pela própria criança. Mesmo após identificada a situação, e colocada em local protegido, a criança insistia em introduzir objetos na vagina, como forma de buscar prazer.

Caso real – A criança de 9 anos foi corrompida a tal ponto pelo pedófilo – um adulto de 33 anos – que pedia ao abusador para penetrá-la e sorria enquanto sofria o abuso. Tudo filmado pelo criminoso.

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Caso real – A criança de 8 anos de idade apresentava precoce e intensa erotização, verbalizando e estimulando o próprio corpo. Ao investigar o caso, descobrimos que a filha adolescente de uma vizinha mostrava filmes pornográficos para a menina, o que a corrompeu.

Em todos estes casos, embora sem contato físico, há profunda corrupção e abuso moral (erotização da criança). Embora haja consenso social sobre a exposição de fotos e filmes pornográficos a crianças e adolescentes, o mesmo não ocorre quanto às músicas e literatura pornográficas.

Músicas pornográficas: o abuso sexual cantado.

A erotização precoce de crianças, por meio da pornografia não é apenas visual (filmes, desenhos ou fotos), mas também auditiva. Músicas, livros, histórias ou conversas de cunho sexual corrompem a moral e o desenvolvimento sadio da criança, estimulando-a a comportamentos erotizados não-espontâneos, induzidos ou sugeridos abusivamente.

Caso real – A tia de 30 anos tomava banho com a sobrinha de 9 anos de idade, e aproveitava para falar de temas picantes da sexualidade, enquanto estimulava o clitóris da criança. Ao ser pega em flagrante, justificou sua atitude, dizendo que apenas estava ensinando a menina a conhecer o próprio corpo.

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também à violência, ingestão de bebida alcoólica, etc.). A criança exposta a este tipo de música será abusivamente induzida a um comportamento incompatível com sua idade, e, até mesmo, à prática sexual precoce.

O caráter pornográfico pode não ser aferível diretamente na letra da composição. Há músicas ou textos em que a pornografia é resultado das figuras de linguagem utilizadas, ou pela forma de cantar a letra. É importante considerar outros aspectos. Imagine uma música cuja letra fosse apenas os gemidos ou palavras proferidas durante uma relação sexual agitada. Embora nenhuma palavra diretamente pornográfica possa ser proferida, haverá claro conteúdo erotizante e indevido para crianças e adolescentes. Um critério bem prático para identificar a natureza pornográfica de uma música é sua visualização em imagem. Assim, se transformarmos a música ou texto em filme, as imagens seriam apropriadas para uma criança ou adolescente ? Se a resposta for negativa, então a música é pornográfica.

Do mesmo modo em que uma imagem (vídeo ou filme), a música pornográfica provoca uma erotização precoce e abusiva de crianças e adolescentes, cujo comportamento passa a ser influenciado pelo conteúdo das letras, que inclusive passam a cantar espontaneamente. A pornografia ou estímulos eróticos às crianças não se incluem na classificação indicativa de diversões públicas, rádio e televisão1, pois se trata de grave violação ao

direito à dignidade humana especial da infância.

As crianças e adolescentes não devem ser expostas a músicas

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pornográficas ou de conteúdo erotizante, e constitui abuso sua veiculação em locais ou ambientes de frequência infantojuvenil.

4. Crianças erotizadas

Comportamentos erotizados de crianças e adolescentes devem ser observados com cuidado. A criança ou adolescente que é submetido a abuso sexual ou pedofilia pode se tornar precoce sexualmente. Não importa se o comportamento sexual é hetero ou homossexual. Em qualquer caso, deve ser investigado pela família, escola ou creche. Infelizmente, muitos líderes do

movimento gay2 no Brasil defendem a autonomia de vontade para

as crianças praticarem atos libidinosos. A Câmara dos Deputados sediou seminário nacional LGBT, no qual um dos eixos temáticos era a defesa “de uma infância e adolescência gay”. Os pedófilos também defendem esta autonomia de vontade para poderem se relacionar sexualmente com menores. Isto é um abuso contra a infância do Brasil.

2 É importante esclarecer que ao me referir ao movimento gay, não estou me referindo às pessoas homossexuais. Não! De fato, como palestrante e defensor dos direitos de crianças e adolescentes há mais de 20 anos, tenho muitos professores homossexuais como grandes aliados na defesa da infância. Honestos, sinceros, intransigentes com o abuso e admiradores da justiça, são algumas características marcantes que posso mencionar a seu respeito.

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5. Como prevenir e identificar situações de abuso

A primeira atitude é estar atento a todas as situações suspeitas já mencionadas. Duas outras medidas estratégicas devem ser adotadas:

1) Não permitir a permanência conjunta e sem acompanhamento de crianças com adolescentes; ou de menores com idades muito diferentes;

2) Ter cuidado ao permitir que terceiros – vizinhos, amigos – cuidem de crianças ou adolescentes.

Apresento a seguir alguns comportamentos ou atitudes suspeitas de crianças e adolescentes que merecem ser investigados:

1. Mudança repentina de temperamento. Criança ou

adolescente extrovertido que se tornam introvertido, ou vice-versa.

2. Palavrões ou palavras de conotação sexual. Jovem que fala

palavrões ou palavras de cunho sexual incompatíveis com sua idade. Palavras novas no vocabulário da criança podem revelar a influência de abusadores. É preciso ter cuidado para não reprimir a criança de imediato quando ela diz o palavrão ou palavras de conotação sexual. Muitos pais ou professores reprimem os filhos ou alunos nesta situação, sem perceber que o comportamento verbal pode estar revelando uma situação encoberta.

3. Uso de roupas incompatíveis com o clima e que escondem o corpo. Jovem que usa casacos ou roupas que escondem o

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4. Autoflagelação. Jovem que fere o próprio corpo

espontaneamente. Por exemplo, uma criança que corta os braços com gilete, rói as unhas de forma excessiva ou arranca compulsivamente os cabelos da cabeça, puxando-os com as mãos (casos reais).

5. Ideias ou tentativas de suicídio. Tentar suicídio ou

mencionar o tema com frequência com amigos ou em redações na escola. Incluo também neste perfil, menores que mencionam ou falam sobre a morte, espontaneamente e com frequência fora do comum.

6. Terror noturno. Sono agitado e frequente, caracterizado

pelo fato da criança ou adolescente acordar chorando ou gritando. A frequência pode ser diária, semanal ou mensal.

7. Perda repentina da vaidade. Jovem que perde os cuidados

que tinha com a aparência, ou apresenta severo desleixo com a higiene pessoal.

8. Comportamento sexual incomum. Criança erotizada ou

com comportamento sexual impróprio para sua idade.

9. Maldade extrema com animais. Jovem que pratica

mutilações ou grave abuso físico com animais. Por exemplo, matar pintinhos puxando as asas do animal ou furar os olhos de um pássaro e depois cortar suas asas com tesoura (casos reais). Incluo também neste perfil, a insensibilidade com o sofrimento alheio.

10.O olhar entristecido. A criança muda o olhar, perde sua

vivacidade e alegria.

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convivem com a vítima (mudança de comportamento, perda da vaidade, olhar entristecido). Por isto, é muito importante ouvir a família, professores e amigos da criança ou adolescente investigada.

6. Cuidados Especiais

Ao investigar situações suspeitas de pedofilia ou abuso sexual siga estes cuidados especiais:

1. Não revele a suspeita para a vítima ou sua família. Se houver dúvidas sobre o comportamento da família da vítima, não revele a suspeita para os pais ou responsáveis, até que se constate seu real interesse na proteção da criança.

2. Mulheres são melhores investigadoras do que homens. É sempre aconselhável que uma mulher investigue casos de abusos contra crianças, pois há melhor empatia das vítimas com mulheres (lembre-se que o abusador, na maioria dos casos, é um homem)

3. Somente converse sobre a suspeita com pessoas que vão

cuidar do caso. Infelizmente, muitas pessoas comentam

sobre o caso de abuso com amigos e familiares e expõe a intimidade da vítima e sua família. É um novo abuso que a criança sofre, ao ter sua intimidade exposta a terceiros.

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pessoas. Lembre-se a situação ainda está sendo investigada, e a suspeita pode não se confirmar. É preciso ter cuidado para não acusar inocentes injustamente. O fundamental é proteger a criança ou adolescente da situação de risco, até que tudo possa ser melhor esclarecido.

5. Não acuse suspeitos ao encaminhar um caso de abuso às

autoridades. Ao encaminhar uma situação de abuso às

autoridades, a ênfase deve ser dada à situação de risco da criança ou adolescente e às provas ou indícios obtidos: marcas no corpo, alterações no comportamento, depoimento da vítima ou testemunhas, imagens ou fotos, etc.. Não aconselho acusar prováveis suspeitos, especialmente por escrito, pois esta função é das autoridades (polícia e ministério público). Agindo assim, quem encaminha o caso fica protegido, em especial, contra retaliações dos envolvidos.

7. Casos de Emergência

Caso de emergência é aquele em que há um sério risco de que criança ou adolescente possa sofrer (ou estar sofrendo) abuso sexual.

Caso real – A adolescente de 17 anos narrou para a professora haver sido vítima de abuso sexual praticado por seu pai biológico, há 2 anos. Revoltada, decidiu denunciar o genitor porque agora ele estava assediando a irmã mais nova, de 11 anos de idade. A mãe confirmou as declarações da adolescente.

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havia uma forte suspeita de que a criança poderia sofrer abuso, se permanecesse na companhia do pai. Em casos assim, é necessário buscar o auxílio das autoridades (conselho tutelar, delegado de polícia ou promotor de justiça) para uma imediata intervenção. Quando as autoridades não se interessarem pelo caso, ou houver uma demora na intervenção, é possível tomar algumas atitudes muito eficazes.

No caso mencionado, a atitude inicial foi proteger a criança, apresentando uma desculpa para sua permanência com tios com quem estivera no final de semana. Ao mesmo tempo, buscamos o auxílio de conselheiro tutelar interessado, que acompanhou a família nos contatos com a polícia.

Dissemine este conhecimento em sua família, entre seus amigos ou na escola de seu filho. A ideia é orientar as pessoas a ter atitudes práticas e eficazes para proteger melhor crianças e adolescentes contra a pedofilia e a pornografia.

Referências

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