• Nenhum resultado encontrado

VOLUME 10 NÚMERO JUNTA EDITORIAL EDITOR-EXECUTIVO JOSÉ OSMAR CARDEAL ALBERTO ALAIN GABBAI ESPER ABRÃO CAVALHEIRO FERNANDO MENEZES BRAGA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "VOLUME 10 NÚMERO JUNTA EDITORIAL EDITOR-EXECUTIVO JOSÉ OSMAR CARDEAL ALBERTO ALAIN GABBAI ESPER ABRÃO CAVALHEIRO FERNANDO MENEZES BRAGA"

Copied!
76
0
0

Texto

(1)

VOLUME 10

NÚMERO 2

2002

Universidade Federal de São Paulo

Disciplina de Neurologia

JUNTA EDITORIAL

EDITOR-EXECUTIVO

JOSÉ OSMAR CARDEAL

EDITORES

ASSOCIADOS

ALBERTO ALAIN GABBAI ESPER ABRÃO CAVALHEIRO FERNANDO MENEZES BRAGA

CONSELHO EDITORIAL

ACARY DE SOUZA BULLE DE OLIVEIRA

CARLOS JOSÉ REIS DE CAMPOS GILBERTO MASTROCOLA MANZANO

HENRIQUE BALLALAI FERRAZ JOÃO ANTONIO MACIEL NÓBREGA

JOÃO BAPTISTA DOS REIS FILHO LUIZ CELSO PEREIRA VILANOVA

MARCIA MAIUMI FUKUJIMA PAULO HENRIQUE FERREIRA BERTOLUCCI

SUZANA MARIA FLEURY MALHEIROS

Neurociências

revista

(2)

46

NORMAS

PARA PUBLICAÇÕES

A Revista Neurociências é voltada à Neurologia e às ciências afins. Publica artigos de interesse científico e tecno-lógico, feitos por profissionais dessas áreas, resultantes de estudos clínicos ou com ênfase em temas de cunho prático. Os artigos devem ser inéditos e fica subentendido que serão publicados exclusivamente nesta revista, com o que se comprometem seus autores. A Junta Editorial da revista reserva-se o direito de avaliar, aceitar ou recusar artigos. Quando aceitos, sugerir modificações para aprimorar seu conteúdo, se neces-sário, aperfeiçoar a estrutura, a redação e a clareza do texto. São aceitos artigos em português e inglês. Para publicação, será observada a ordem cronológica de acei-tação dos artigos. Provas tipográficas serão fornecidas em casos especiais. Poderão ser oferecidas separatas dos artigos, responsabilizando-se os autores pela despesa de sua tiragem. Os artigos são de responsabilidade de seus autores. Para avaliação, devem ser encaminhados ao Editor Executivo em disquete e pode-rão ser utilizados editores de texto “Word” para “Windows 95”, fonte Times New

Ro-man, tamanho 12 e espaço duplo;

alter-nativamente no formato “texto.txt”. De-verá também ser enviada uma cópia do texto original conforme digitado. Adotar as recomendações abaixo.

Título: em português e em inglês,

sintético e restrito ao conteúdo, mas contendo informação suficiente para catalogação.

Autor(es): referir nome(es) e

sobre-nome(s) do modo como preferir para indexação, seu grau e posição. Referir a instituição em que foi feita a pesquisa que deu origem ao artigo e referir o título maior de cada autor ou grupo de autores,

ex.: * Professor-adjunto, ** Pós-graduan-do, *** Residente. Identificar o endereço para correspondência.

Resumo e Summary: devem permitir uma

visão panorâmica do trabalho, contendo objetivos, métodos, resultados e con-clusões. Nos artigos com casuística, não exceder 250 palavras. Nas comunicações breves ou relato de casos, não exceder 150 palavras.

Unitermos e Keywords: referir após o

Resumo e o Summary, respectivamente.

Texto: apresentar a matéria do artigo

seqüencialmente: introdução, material (casuística) e métodos, resultados, comentários (discussão e conclusões), referências bibliográficas, eventualmente agradecimentos, suporte financeiro. Não repetir no texto dados que constem em tabelas e ilustrações, bem como de suas legendas. O texto deverá ser redigido em espaço duplo; a cada início de parágrafo, dar cinco espaços. Numerar as páginas no alto e à direita.

Tabelas: até cinco, apresentadas em

páginas separadas. Não separar com linhas horizontais ou verticais os dados que contêm. De cada uma, devem constar seu número de ordem, título e legenda.

Ilustrações: até duas figuras (gráficos ou

fotos), com tamanho não superior a 6 cm x 9 cm cada uma. Gráficos devem ser encaminhados, de preferência suas fotos.

Fotos em preto e branco bem contrastadas;

eventuais detalhes com setas, números ou letras. Identificar cada ilustração com seu número de ordem, nome do autor e do artigo, com etiqueta colada no verso e nela marcada na parte superior. Não grampear e nem colar as ilustrações, embalar cada uma em separado. Encaminhar separada-mente as respectivas legendas. Ilustrações

reproduzidas de textos já publicados devem ser acompanhadas de autorização de reprodução, tanto do autor como da publicadora. Ilustrações em cores podem ser publicadas; dado seu custo elevado, a despesa será de responsabilidade dos autores, assim como o custo por número de tabelas e ilustrações acima dos men-cionados e desde que sua publicação seja autorizada pela editora. As fotos não serão devolvidas aos autores. Manter os ne-gativos destas.

Referências: até cerca de 30, restritas à

bibliografia essencial ao conteúdo do texto. Numerar consecutivamente as referências na ordem de ocorrência no texto. O padrão de disposição das refe-r ê n c i a s s e g u e a s n o refe-r m a s d o I n d e x

Medicus.

Artigos: Autor(es). Título. Periódico,

volume: página inicial-página final, ano.

Livros: Autor(es) ou editor(es), título,

edição, se não for a primeira; se for o caso, tradutor(es). Cidade, publicadora, ano, páginas inicial e final.

Capítulos de livros: Autor(es), título,

demais dados sobre o livro como no item anterior.

Resumos: Autor(es), título, publicadora,

ano, páginas inicial e final e, entre parênteses, abstr.

Tese: Autor, título, cidade, ano, páginas

inicial e final, nível (mestrado, doutorado etc.), instituição.

Endereçar os trabalhos a:

(3)

47

ÍNDICE

Editorial... 48

Artigos

Proposta de Classificação das Crises e Síndromes Epilépticas. Correlação Videoeletrencefalográfica ... 49

Elza Márcia Targas Yacubian

Epilepsia Refratária: Conceito e Contribuição das Novas Drogas Antiepilépticas e de Outras Modalidades Terapêuticas ... 66

Eliana Garzon

Avaliação Neuropsicológica de Pessoas com Epilepsia. Visão Crítica dos Testes Empregados na População Brasileira ... 83

Maria Helena Silva Noffs Maria Cristina Magila Ana Regina dos Santos Carolina M. Marques

Avaliação de Epilepsia por Neuroimagem Estrutural. Protocolos ... 94

Henrique Carrete Júnior

Ressonância Magnética Funcional em Epilepsia ... 99

Maria da Graça Martin Edson Amaro Jr. Luiz A. Portela

Qualidade de Vida nas Epilepsias Refratárias... 105

(4)

48

As equipes das disciplinas de Neurologia e Neurologia Experimental da Escola Paulista de Medicina (UNIFESP) tornam público o seu agradecimento à FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo –, cujo apoio continuado às pesquisas do grupo foi fundamental na implantação da Unidade de Pesquisa e Tratamento das Epilepsias.

EDITORIAL

(5)

49

ARTIGO

* Doutora em Medicina, Coordenadora da UNIPETE, Professora Visitante do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da UNIFESP – Escola Paulista de Medicina.

Introdução

Uma crise epiléptica é a manifestação de um distúrbio cerebral subjacente e deve ser avaliada considerando-se, além de suas características semiológicas, outros fatores como idade do paciente quando de sua ocorrência, dados do exame físico, padrões eletrencefalográficos e resultados de estudos de imagem. Essas informações devem ser reunidas para possibilitar o diagnóstico sindrômico, funda-mental para a determinação do prognóstico, bem como para orientar a necessidade de outros procedimentos diagnósticos e a programação terapêutica. O conhecimento da síndrome epiléptica permite ao clínico formular uma hipótese racional sobre a necessidade do tratamento com medicação antiepiléptica e se assim for, qual delas deve ser escolhida. Portanto, o primeiro passo na avaliação da doença de uma pessoa com crises epilépticas, é a

classificação do(s) tipo(s) de crise(s) e em seguida, a classificação sindrômica.

Proposta de Classificação das Crises e Síndromes Epilépticas.

Correlação Videoeletrencefalográfica

Elza Márcia Targas Yacubian*

RESUMO

Um dos mais importantes aspectos em epileptologia é a classificação das crises e das síndromes epilépticas que norteia a investigação etiológica e a instituição e programação terapêutica. Um grupo da Liga Internacional contra epilepsia trabalha na complexa questão de classificar fenômenos cujas bases fisiopatogênicas são ainda pouco conhecidas. Discutimos aqui a proposta deste grupo de trabalho, publicada na revista Epilepsia em junho de 2001. Unitermos: Crises epilépticas, síndromes epilépticas, classificação.

Classificando as crises epilépticas

(6)

50

crises e ocorrência de déficits focais, bem como na descrição dos sintomas durante o período de recuperação. O esclarecimento do paciente e de seus familiares da necessidade de informações sobre a semiologia das crises possibilitará, ainda, a clas-sificação mais precisa dos eventos em consultas subseqüentes e, com ela, maior possibilidade de ade-são ao tratamento pelo paciente. É recomendado o registro em calendário dos efeitos da medicação, tanto sobre o controle das crises como a ocorrência d e e f e i t o s c o l a t e r a i s . E s s a c o n d u t a s i m p l e s contribuirá significativamente para o sucesso terapêutico.

Classificação Internacional das Crises Epilépticas e de Epilepsias

Durante o 24o Congresso Internacional de Epilepsia, realizado em Buenos Aires, Argentina, entre 13 e 18 de maio de 2001, Jerome Engel, como presidente do comitê executivo da Liga Internacional contra Epilepsia, apresentou à assembléia geral a nova proposta das comissões de classificação daquele órgão. Quatro subgrupos de especialistas elaboraram um esquema para a Classificação Internacional das Pessoas com Crises Epilépticas e das Epilepsias subdividido em cinco eixos.

O eixo 1 compreende a classificação da feno-menologia ictal e consta de um glossário no qual são definidos os termos a serem aplicados à descrição dos diferentes tipos de crises epilépticas. O eixo 2, que compreende a classificação das crises epilépti-cas, consta de uma lista dos tipos de crises após sua caracterização por meio da aplicação dos conceitos propostos no eixo 1. No eixo 3 figuram as síndromes epilépticas e no eixo 4, intimamente relacionado ao eixo anterior, a classificação etiológica das doenças freqüentemente associadas a crises ou síndromes epilépticas. Finalmente, no eixo 5, está a classifi-cação do grau de comprometimento psicossocial das pessoas com epilepsias, segundo um esquema baseado em proposta da Organização Mundial da Saúde (International Classification of Functioning and Disability, WHO, 1999)1.

Esse esquema de classificação em cinco eixos atualiza os conhecimentos na caracterização das crises epilépticas e epilepsias, após pelo menos uma década de contribuição da videoeletrencefalografia, dos estudos estruturais e funcionais do sistema nervoso como ressonância magnética, tomografia por emissão de fóton único, tomografia por emissão de pósitrons e da aplicação de técnicas genéticas2.

Classificação das crises epilépticas

Crise epiléptica é definida como a manifestação

excessiva e/ou hipersíncrona resultante da atividade epiléptica, usualmente autolimitada de neurônios cerebrais. Quando estas não apresentam curso autolimitado são denominadas crises contínuas e configuram o quadro de status epilepticus. Status

epilepticus é definido como uma crise duradoura, que

não mostra sinais clínicos de interrupção após o tempo habitual da maioria das crises daquele tipo na maioria dos pacientes, ou ainda a ocorrência de crises recorrentes sem que a função do sistema nervoso central retorne ao período interictal.

As crises epilépticas cursam com graus diferentes de envolvimento muscular. O evento motor consiste de um aumento ou diminuição da contração muscular, o que define um fenômeno positivo e negativo, respectivamente. O aumento da contração muscular pode ser do tipo tônico (significando contração muscular mantida com duração de poucos segundos a minutos), clônico (no qual cada contração muscular é seguida de relaxamento, originando abalos musculares sucessivos) ou mioclônico (contrações musculares muito breves, semelhantes a choques). Diminuição da contração muscular caracteriza as mioclonias negativas e as crises atônicas. Enquanto nas primeiras há interrupção da contração muscular tônica por menos de 500 ms, nas crises atônicas ocorre perda ou diminuição abrupta do tônus muscular por dois ou mais segundos.

Segundo a Classificação Internacional das Crises Epilépticas de 1981 há três grupos de crises: as parciais ou focais, as generalizadas e as crises não classificáveis. As crises parciais ou focais, clínica e eletrencefalograficamente, são caracterizadas pela ativação de uma parte do cérebro, sendo subdivididas em crises parciais simples, quando há preservação da consciência e crises parciais complexas, quando há comprometimento da mesma. As crises

genera-lizadas são aquelas em que há envolvimento, desde

o início, de amplas áreas de ambos os hemisférios cerebrais. São consideradas não classificáveis, as crises que não se enquadram nos dois subtipos acima (Commision on Classification and Terminology of the ILAE, 1981)3.

De acordo com a nova proposição da ILAE de 2001, a classificação passa a ser uma lista dos dife-rentes tipos de crises que são agora consideradas entidades diagnósticas2. Isso significa que sua classificação se baseia simplesmente nas

caracterís-ticas semiológicas dos eventos, os quais deixam de

apresentar qualquer conotação anatômica ou

(7)

51 patofisiológica4. O quadro 1 contém os três

subgrupos de crises epilépticas, considerando as crises isoladas ou autolimitadas, as repetidas configurando status epilepticus e os fatores precipitantes envolvidos nas crises reflexas, que podem desencadear crises focais ou generalizadas. No quadro 2 está a lista dos diferentes tipos de crises.

Quadro 1 Classificação das crises epilépticas (2001)2

* Crises autolimitadas - Crises generalizadas - Crises focais * Crises contínuas

- Status epilepticus generalizado - Status epilepticus focal

* Fatores precipitantes envolvidos nas crises reflexas

Quadro 2 Classificação das crises epilépticas (2001)2

Tipos de crises autolimitadas

Crises generalizadas

Crises tônico-clônicas (incluindo as iniciadas com fase clônica ou mioclônica)

Crises clônicas (com e sem manifestações tônicas) Crises tônicas

Crises de ausências típicas Crises de ausências atípicas Crises de ausências mioclônicas Espasmos

Crises mioclônicas

Mioclonias palpebrais (com e sem ausências) Crises mioclono-atônicas

Mioclonias negativas Crises atônicas

Crises reflexas nas síndromes de epilepsias generalizadas

Crises focais

Crises neonatais

Crises focais sensitivo-sensoriais

- com sintomas sensitivo-sensoriais elementares - com sintomas experienciais

Crises motoras focais

- com sinais motores elementares clônicos - com sinais motores tônicos assimétricos

- crises com automatismos típicos do lobo temporal - crises com automatismos hipercinéticos

- crises com mioclonias negativas focais - crises motoras inibitórias

Crises gelásticas Crises hemiclônicas

Crises secundariamente generalizadas

Crises reflexas em síndromes de epilepsias focais

Crises contínuas

Status epilepticus generalizado Status epilepticus tônico-clônico Status epilepticus clônico Status epilepticus de ausência Status epilepticus tônico Status epilepticus mioclônico Status epilepticus focal

Epilepsia partialis contínua de Kojevnikov

Aura contínua

Status epilepticus límbico (status psicomotor) Status hemiconvulsivo com hemiparesia

Estímulos precipitantes de crises reflexas

Estímulos visuais - Luz intermitente - Padrões

- Outros estímulos visuais Pensamento Música Alimentação Praxia Estímulos sensitivo-sensoriais Estímulos proprioceptivos Leitura Água quente Sobressalto Crises generalizadas

Crises generalizadas são aquelas cuja semiologia inicial indica o envolvimento de áreas encefálicas amplas de ambos os hemisférios cerebrais. Segundo a nova proposta de classificação, o termo convulsão, significando episódios de contração muscular excessiva e anormal, mantida ou interrompida, usualmente bilateral, não deve ser utilizado desde que se trata primariamente de um termo leigo e usado inapropriadamente em muitas situações de crises com fenômenos motores5.

Crises tônico-clônicas

As crises tônico-clônicas (também chamadas crises de grande mal) são caracterizadas por contração tônica simétrica e bilateral seguida de contração clônica dos quatro membros usualmente associadas a fenômenos autonômicos como apnéia, liberação esfincteriana, sialorréia e mordedura de língua, durante cerca de um minuto. Na fase de contração tônica, o ar pode ser expulso através da glote fechada, o que resulta no grito epiléptico. O período pós-crítico é caracterizado por confusão mental e sonolência.

(8)

52

Crises clônicas

Crises clônicas são caracterizadas pela ocorrência de mioclonias repetidas a intervalos regulares, rítmicas, na freqüência de 2 a 3 c/s ocorrendo durante vários segundos a minutos.

Crises tônicas

Trata-se de crises nas quais ocorre contração muscular mantida com duração de poucos segundos a minutos. Em geral, as crises tônicas duram de 10 a 20 segundos e podem comprometer apenas a musculatura axial (crises tônicas axiais) ou também a das raízes dos membros (crises tônicas axori-zomélicas) ou então todo o corpo, configurando a crise tônica global.

Crises de ausências típicas

Crises de ausência típica consistem de breves episódios de comprometimento de consciência acompanhados por manifestações motoras muito discretas como automatismos orais e manuais, piscamento, aumento ou diminuição do tônus muscular e sinais autonômicos. Duram cerca de 10 a 30 segundos e apresentam início e término abruptos, ocorrendo, em geral, várias vezes ao dia. São desencadeadas por hiperventilação; ativação de tal forma importante que a não observação da crise clássica durante a hiperventilação por 3 a 5 minutos em um paciente não tratado, coloca em dúvida esse diagnóstico.

Crises de ausências atípicas

Nessas crises o comprometimento da consciência é menor, o início e término são menos abruptos e o tônus muscular mostra-se freqüentemente alterado. Em geral, não são desencadeadas pela hiperpnéia.

Crises de ausências mioclônicas

Crises de ausências acompanhadas de perda de consciência e manifestações motoras importantes que incluem abalos mioclônicos bilaterais dos ombros, braços e pernas associados à contração tônica discreta a qual ocasiona elevação dos membros superiores, os mais acometidos pelo fenômeno motor.

Espasmos

Também denominados espasmos epilépticos, são caracterizados por contração tônica rápida, com duração de 1 a 15 segundos, da musculatura do pescoço, tronco e membros podendo assumir caráter em flexão ou em extensão. Essa contração é

usualmente mais demorada do que as mioclonias, mas não tão prolongada como nas crises tônicas (sua duração é de cerca de 1 s). Podem ocorrer formas limitadas com contração da musculatura facial ou queda da cabeça. Ocorrem em salvas, especialmente ao despertar e durante sonolência. No lactente, são freqüentemente acompanhados de choro, e quando não presenciados pelo médico podem ser confundidos com cólicas, um diagnóstico que pode retardar a terapêutica adequada comprometendo o prognóstico.

Crises mioclônicas

Mioclonias são contrações musculares súbitas, breves (< 100 ms), que se assemelham a choques. Podem afetar a musculatura facial, o tronco, uma extremidade, um músculo ou um grupo muscular e podem ser generalizadas, ocorrendo de forma isolada ou repetida. As crises mioclônicas são freqüentemente precipitadas por privação de sono, despertar ou adormecer.

Mioclonias palpebrais

Consistem em contrações rápidas das pálpebras ao fechamento dos olhos, o que ocasiona piscamento rápido, acompanhado de desvio dos globos oculares para cima. Esse fenômeno pode aparecer de forma isolada ou ser acompanhado de crises de ausências muito breves com duração de apenas alguns poucos segundos.

Crises mioclono-atônicas

Encontradas principalmente em epilepsias da infância, essas crises são caracterizadas por abalos mioclônicos nos membros superiores, geralmente em flexão, seguidos de perda do tônus muscular com queda da cabeça e flexão dos joelhos.

Mioclonias negativas

São episódios curtos (< 500 ms) de atonia muscular provavelmente decorrentes de inibição súbita da inervação tônica dos motoneurônios alfa. Na maioria dos casos descritos na literatura, o fenômeno de mioclonias negativas generalizadas esteve presente em anormalidades cerebrais difusas, como na doença de Lafora e nas encefalopatias mitocondriais, enquanto as mioclonias negativas focais ocorrem em distúrbios da região perirrolândica, como nas displasias corticais e na síndrome de Rasmussen.

Crises atônicas

Caracterizadas por perda ou diminuição súbita do tônus muscular envolvendo a cabeça, tronco,

(9)

53 mandíbula ou membros, as crises atônicas são

decorrentes de perda do tônus postural, podendo promover queda lenta se o indivíduo estiver em pé.

Crises focais

Crises focais são aquelas cujas manifestações clínicas indicam o envolvimento inicial de apenas uma parte de um hemisfério cerebral. As crises focais podem, com a propagação das descargas, evoluir para crises tônico-clônicas generalizadas. É o que se chama crise focal com generalização secundária. Os sinais subjetivos que antecedem uma crise observável e que o paciente é capaz de descrever constituem a

aura . A aura pode ocorrer de forma isolada

constituindo uma crise sensitivo-sensorial5.

Crises focais sensitivo-sensoriais

Incluem sintomas simples, ou seja, aqueles que envolvem apenas uma modalidade sensorial primária (elementares) e mais elaborados (complexos).

Com sintomas sensitivo-sensoriais elementares

Neste grupo o fenômeno epiléptico é representado por auras (uma vez que tratam-se de manifestações subjetivas, que não são detectáveis por um observador). Entre elas figuram crises sensitivas (parestesias, dor e sensações viscerais, como a sensação epigástrica) e as crises sensoriais (visuais, auditivas, olfatórias, gustativas).

Com sintomas experienciais

Consistem de alucinações multissensoriais que configuram “experiências” e incluem fenômenos perceptuais afetivos (medo, depressão, alegria e, mais raramente, raiva) e manifestações mnemônicas envolvendo ilusões e alucinações cuja qualidade é similar àquelas experimentadas normalmente, porém reconhecidas pelo indivíduo como algo que ocorre fora do contexto real e às vezes de conteúdo extraordinariamente vívido. Nesse grupo encon-tramos fenômenos como déjà e jamais vu, déjà e

jamais entendu, déjà e jamais vécu (sensação de

familiaridade e estranheza de cenas, sons e expe-riências de vida), estados de sonho e alucinações complexas.

Crises motoras focais

Crises motoras são aquelas nas quais os fenô-menos motores constituem a manifestação predo-minante na semiologia crítica.

Com sinais motores elementares clônicos

São caracterizadas por contrações musculares que recorrem de forma regular a intervalos menores do que 1 a 2 s. Crises com sinais motores elementares clônicos são originadas, quase sempre, pela ativação do córtex motor primário contralateral.

Crises motoras tônicas assimétricas

São crises em que a contração desigual ou assíncrona de grupos musculares de ambos os lados do corpo produz posturas assimétricas decorrentes da contração tônica de um único membro, de um hemicorpo ou dos quatro membros. Usualmente breves, durando 10 s a 40 s, têm início abrupto e podem ser acompanhadas por grito ou murmúrio. A consciência em geral é preservada e não há confusão pós-crítica.

Crises com automatismos típicos do lobo temporal

Automatismos são movimentos coordenados e repetitivos que se assemelham a movimentos voluntários. Em geral, nas crises do lobo temporal, os automatismos envolvem as partes distais dos membros, particularmente os dedos, mãos, língua e lábios (oro-alimentares) e freqüentemente, mas não sempre, são associados a comprometimento da consciência.

Crises com automatismos hipercinéticos

Nestas, o movimento afeta principalmente a parte proximal dos membros, o que resulta em movimentos importantes, os quais, quando rápidos, parecem violentos. Incluem movimentos como pedalar, de impulsão pélvica e de balanceio de todo ou de parte do corpo.

Crises com mioclonias negativas focais

Caracterizam-se por breves períodos de atonia focal com perda do tônus postural que podem ser evidenciados quando o paciente exerce uma atividade tônica com a parte do corpo afetada pelo fenômeno motor negativo.

Crises motoras inibitórias

Embora raramente observados como manife-stações críticas, paresia de membros ou períodos de afasia (crises afásicas) podem ser decorrentes de descargas epilépticas repetitivas envolvendo o córtex motor.

Crises gelásticas

Nessas crises o riso, de caráter incomum, estereotipado e inapropriado, constitui o fenômeno

(10)

54

complexo mais importante das manifestações críticas. Classicamente associadas aos hamartomas hipo-talâmicos, podem também ser verificadas em epilepsias dos lobos frontal ou temporal.

Crises hemiclônicas

Apresentam todas as características clínicas das crises generalizadas tônico-clônicas, porém as manifestações motoras são observadas unicamente ou de modo predominante em um só lado do corpo. Quando essas crises são prolongadas podem cursar com dano hemisférico, configurando a síndrome da hemiconvulsão-hemiplegia-epilepsia.

Crises secundariamente generalizadas

Consistem de crises tônico-clônicas generalizadas geralmente assimétricas precedidas pela versão da cabeça e dos olhos para o lado contralateral ao início crítico.

Classificação das síndromes epilépticas

Uma síndrome epiléptica é definida como um distúrbio epiléptico caracterizado pela presença de sinais e sintomas que usualmente aparecem em conjunto. Os sinais e sintomas podem ser clínicos (como história, tipos de crises e modo de apa-recimento destes, achados neurológicos e neuropsi-cológicos) ou achados de exames complementares, como EEG e estudos de neuroimagem.

A Classificação Internacional das Epilepsias e Síndromes Epilépticas de 1989 (Commission on Classification and Terminology of the ILAE, 1989)6, considera quatro grupos de epilepsias:

1. Epilepsias e síndromes relacionadas à localização, parciais ou focais

- idiopáticas - sintomáticas - criptogênicas

2. Epilepsias e síndromes generalizadas - idiopáticas

- criptogênicas ou sintomáticas - sintomáticas

- etiologias não específicas - etiologias específicas

3. Epilepsias e síndromes indeterminadas se focais ou generalizadas

- com sinais e sintomas de crises generalizadas e focais

- sem sinais inequívocos de crises generalizadas ou focais

4. Síndromes especiais

- crises relacionadas a situações

Quanto à etiologia, esta classificação definiu as

epilepsias idiopáticas, ou seja, aquelas sem

substrato lesional, provavelmente relacionadas à predisposição genética. Idiopático é um termo que significa que a própria epilepsia é a doença e não um sintoma de alguma outra condição. Para definir uma epilepsia como idiopática devemos não apenas excluir achados da história clínica, dos exames f í s i c o e n e u r o l ó g i c o , b e m c o m o d o s t e s t e s neurofisiológicos e de neuroimagem sugestivos de natureza sintomática, como também são neces-sários sinais eletroclínicos altamente sugestivos da natureza idiopática. O diagnóstico desse grupo será baseado tanto em elementos positivos como em negativos.

As formas idiopáticas se contrapõem às

epile-psias sintomáticas, nas quais as crises representam

um sintoma de lesão estrutural do sistema nervoso. O diagnóstico desse grupo exige a constatação de sinais clínicos que documentem a patologia cerebral subjacente à epilepsia e será baseado em elementos positivos.

A classificação de 1989 considerou ainda as

epilepsias criptogênicas, termo que significa que a

etiologia da epilepsia é desconhecida ou indeterminada mediante os métodos de diagnóstico atualmente disponíveis, porém há dados que sugerem que elas são provavelmente relacionadas a um substrato lesional.

No transcorrer da última década, houve neces-sidade da configuração dos conceitos de síndrome e de doença epiléptica. Uma síndrome epiléptica compreende vários sinais e sintomas que definem uma condição epiléptica única que pode apresentar etiologias diferentes, enquanto as doenças epilépticas são condições patológicas que apresentam etiologia única e bem definida. Quando, por exemplo, uma síndrome idiopática tem seu gene reconhecido, transforma-se numa doença epiléptica. Nesse momento parece mais provável, entretanto, que vários genes poderão de manifestar com o mesmo fenótipo, e, neste caso, o distúrbio epiléptico continuará sendo considerado uma síndrome; por outro lado, um único gene pode promover mani-festações de epilepsia idiopática fenotipicamente diferentes numa mesma família e nesse outro caso o distúrbio genético único poderia ser considerado

(11)

55 uma doença epiléptica com manifestações clínicas

múltiplas7. O novo esquema de classificação con-templa os dois conceitos, contidos respectivamente nos eixos 3 e 4, ou seja, a classificação das síndromes epilépticas e a classificação etiológica das doenças freqüentemente associadas a crises ou síndromes epilépticas.

Esses conceitos estão contidos no novo esquema para a classificação das síndromes epilépticas, um exemplo do qual está apresentado no quadro 3, uma vez que o Comitê Executivo da Liga Internacional contra Epilepsia nesse momento ainda aguarda o pronunciamento dos interessados para a adoção do formato final do esquema da nova classificação.

Nesta nova proposição, o termo focal substitui os termos parcial e relacionado à localização da classificação de 1989. Nela figuram as epilepsias idiopáticas, ou seja, aquelas com predisposição genética e as epilepsias sintomáticas, ou seja, as relacionadas a lesões estruturais estão agora subdividas em epilepsias límbicas e neocorticais.

Quadro 3 Um exemplo de classificação das síndromes epilépticas (ILAE, 2001)2

Grupos de síndromes Síndromes específicas

Epilepsias focais idiopáticas Crises neonatais benignas (não-familiares)

do lactente e da criança Epilepsia benigna da infância com descargas centrotemporais Epilepsia benigna da infância com paroxismos

Occipitais de início precoce (tipo Panayiotopoulos)

Epilepsia com paroxismos occipitais de início tardio (tipo Gastaut) Epilepsias focais familiares Crises neonatais benignas familiares

(autossômicas dominantes)

Crises benignas familiares do lactente

Epilepsia do lobo frontal autossômica dominante noturna Epilepsia do lobo temporal familiar

Epilepsia focal familiar com focos variáveis* Epilepsias focais sintomáticas Epilepsias límbicas

(ou provavelmente sintomáticas) • Epilepsia mesial do lobo temporal com esclerose hipocampal • Epilepsia mesial do lobo temporal definida por etiologias específicas • Outros tipos definidos segundo a localização e etiologia

Epilepsias neocorticais • Síndrome de Rasmussen

• Síndrome de hemiconvulsão-hemiplegia

• Outros tipos definidos segundo a localização e etiologia • Crises parciais migratórias da infância precoce* Epilepsias generalizadas Epilepsia mioclônica benigna do lactente

idiopáticas Epilepsia com crises mioclono-astáticas Epilepsia ausência da infância

Epilepsia com ausências mioclônicas

Epilepsias generalizadas idiopáticas com fenótipos variáveis • Epilepsia ausência juvenil

• Epilepsia mioclônica juvenil

Epilepsia com crises generalizadas tônico-clônicas

No último grupo aparece ainda o novo conceito de

e p i l e p s i a s p r o v a v e l m e n t e s i n t o m á t i c a s q u e

substitui o termo criptogênico da classificação hoje utilizada. Todas as formas de epilepsias reflexas, t a n t o f o c a i s c o m o g e n e r a l i z a d a s , a p a r e c e m agrupadas, enquanto oficialmente é reconhecido o c o n c e i t o d a s e n c e f a l o p a t i a s e p i l é p t i c a s r e -presentadas por formas de epilepsia que se instalam em geral em crianças previamente normais e que cursam com deterioração cognitiva e déficits neurológicos progressivos. Nelas, acredita-se que a anormalidade persistente da atividade elétrica cerebral ao promover modificações sinápticas seja r e s p o n s á v e l p o r a l t e r a ç õ e s p e r m a n e n t e s n o s circuitos cerebrais. Finalmente, foram agrupados

f e n ô m e n o s e p i l é p t i c o s q u e n ã o o b r i g a m o diagnóstico de epilepsia como as crises febris

(termo que substitui convulsão, termo leigo não específico por vezes aplicado de forma inapropriada n a d e s c r i ç ã o d a f e n o m e n o l o g i a c r í t i c a n e s t a situação).

(12)

56

Seguem as características fundamentais da maioria das síndromes epilépticas listadas acima, citadas como exemplo na Classificação das Síndromes Epilépticas (Epilepsy Classification Working Group, 1999)8.

Epilepsias focais idiopáticas do lactente e da criança

Crises neonatais benignas não familiares

• Também denominadas crises neonatais benignas idiopáticas ou crises do quinto dia.

• Crises clônicas focais breves, autolimitadas, focais, multifocais ou com caráter migratório. • Ocorre em neonatos normais.

• EEG interictal normal; em alguns casos, presença de ritmo teta pontiagudo alternante.

• EEG ictal: descargas na região centrotemporal. • Etiologia desconhecida.

• Ausência de seqüelas ou epilepsia após o período neonatal.

Epilepsia benigna da infância com descargas centrotemporais

• Início entre 2 e 13 anos.

• Ausência de déficits neurológico ou intelectual. • Crises parciais motoras precipitadas pelo sono.

• Descargas centrotemporais, muitas vezes envol-vendo áreas vizinhas (a morfologia, e não a localização, constitui o critério fundamental para a caracterização eletrográfica); atividade de base normal (Figura 1).

• Tratamento: carbamazepina, sultiame. • Remissão espontânea na adolescência. Quadro 3 (continuação)

Grupos de síndromes Síndromes específicas

Epilepsias reflexas Epilepsia idiopática do lobo occipital fotossensível Outras epilepsias sensíveis a estímulos visuais Epilepsia primária da leitura

Epilepsia do sobressalto Encefalopatias epilépticas Encefalopatia mioclônica precoce

Síndrome de Ohtahara Síndrome de West

Síndrome de Dravet (previamente conhecida como epilepsia mioclônica severa da infância)

Status mioclônico nas encefalopatias não-progressivas*

Síndrome de Lennox-Gastaut Síndrome de Landau-Kleffner

Epilepsia com ponta-onda contínua durante sono lento Epilepsias mioclônicas progressivas Doenças específicas

Crises que não exigem Crises neonatais benignas necessariamente o diagnóstico Crises febris

de epilepsia Crises reflexas

Crises da retirada do álcool

Outras crises induzidas por drogas ou substâncias químicas Crises pós-traumáticas imediatas ou precoces

Crises únicas ou grupos isolados de crises Crises de repetição rara (oligoepilepsias)

* Síndromes em desenvolvimento

Figura 1 Descargas centroparietotemporais no hemisfério direito em crianças de 8 anos. Atividade de base dentro dos limites da normalidade para a idade.

(13)

57

Epilepsia benigna da infância com paroxismos occipitais de início precoce (tipo Panayiotopoulos)

• Também denominada síndrome de Panayiotopoulos. • Início: 2 a 6 anos (pico aos 4 anos).

• Crises focais com desvio dos olhos e cabeça e vômitos com duração de poucos minutos a horas seguidas de hemigeneralização ou generalização secundária com duração de poucos minutos a horas.

• 2/3 das crises são noturnas e 1/3 das crianças apresentam crise única.

• Remissão em geral um ano após o início. • EEG: ponta-onda occipital com fenômeno de

fixation-off.

• Os paroxismos occipitais persistem a despeito da remissão clínica e desaparecem usualmente antes dos 13 anos.

Epilepsia com paroxismos occipitais de início tardio (tipo Gastaut)

• Idade de início: 3-16 anos (média 8 anos). • Crises de alucinação visual elementar constituída

por padrões circulares multicoloridos pequenos iniciados na periferia do campo visual, que se movimentam horizontalmente em direção ao outro lado. Duração de segundos a 1 a 3 minutos. • Sintomas occipitais: ilusão de movimentos ou dor

ocular, amaurose ictal.

• Cefaléia pós-ictal difusa, severa, indistinguível da enxaqueca em 1/3 dos pacientes. Em 10% deles é associada a náuseas e vômitos.

• Remissão em 2 a 4 anos em 50% a 60% dos casos. • Tratamento: carbamazepina proporciona bom

controle em 90% dos pacientes.

• EEG: padrão de ponta-onda occipital com fenômeno de fixation-off (Figura 2).

Epilepsias focais familiares autossômicas dominantes

Crises neonatais benignas familiares

• Classificada entre as epilepsias generalizadas idiopáticas em 1989.

• Não é uma epilepsia generalizada. • Neonatos normais.

• Igual distribuição entre meninos e meninas. • Início das crises: segundo e terceiro dias de vida

(80% dos casos). • Crises focais.

• EEG interictal normal.

• Desaparecimento das crises em dias a semanas. • 5% de risco de crises febris; 11% de risco de epilepsia. • Localização nos cromossomos 20 (20q13.2), 8q ou em nenhum dos dois. Genes já identificados KCNQ2 (90% das famílias) e KCNQ3 que ocasionam alteração em canais de potássio voltagem-dependentes.

Epilepsia do lobo frontal autossômica dominante noturna

• Início das crises no final da primeira década (média 8 anos).

• Crises agrupadas e breves durante o sono não-REM.

• Crises motoras posturais ou hipercinéticas. • Pode haver generalização secundária. • Exames físico e neurológico normais.

• EEG normal ou com descargas frontais em sono. • Estudos de neuroimagem normais.

• Penetrância: 70%; expressividade muito variada. • Família original: localização cromossômica: 20q; gene CHRNA4 que determina mutação da subunidade alfa 4 do receptor nicotínico da acetilcolina (Figuras 3 e 4).

• Outras famílias: CHRNB2; cromossomo 15.

Epilepsia do lobo temporal familiar

• Início na adolescência e idade adulta. • Não há antecedentes de crises febris.

• Crises sugestivas de início nas estruturas mediais temporais.

• Crises focais manifestadas principalmente como

déjà vu.

• Raras crises tônico-clônicas generalizadas. Figura 2 Traçado de paciente de 10 anos com episódios de

cegueira, tonturas, náuseas, vômitos e cefaléia. Observe o fenômeno de fixation-off ao fechamento das pálpebras.

(14)

58

• Variação da gravidade da epilepsia: desde casos com simples déjà vu familiar até casos de epilepsia refratária.

• Exame neurológico normal. • Descargas temporais no EEG.

• Exames de RM normais ou com esclerose mesial temporal.

• Outros membros da família podem apresentar outras epilepsias focais.

• Herança autossômica dominante. Penetrância de cerca de 60%.

• Análise de ligação e identificação de genes ainda em andamento.

Epilepsia focal familiar com focos variáveis*

• Síndrome epiléptica focal idiopática autossômica dominante.

• Crises noturnas, sugestivas de início frontal ou temporal (jamais vu), crises occipitais.

• Estudos de neuroimagem normais.

• EEG pouco ativo; descargas frontotemporais. • Localização cromossômica em uma família

austra-liana: cromossomo 2; em duas grandes famílias franco-canadenses: 22q11-q12; em 5 famílias fran-co-canadenses pequenas e uma espanhola: cromossomo 22.

Epilepsias focais sintomáticas (ou provavelmente sintomáticas)

Epilepsias límbicas

Epilepsia mesial do lobo temporal com esclerose hipocampal

• Início em geral na adolescência.

• Crises com automatismos típicos do lobo temporal.

• Auras viscerais ou experienciais.

• Disfasia pós-ictal e estado confusional prolongado em crises do lobo temporal dominante.

• Crises tônico-clônicas são raras em pacientes tratados. • Déficit progressivo de memória.

• Esclerose do hipocampo (perda celular em todos os campos, poupando CA2).

• História freqüente de crise febril nos primeiros anos de vida.

• Sinais de esclerose do hipocampo particularmente evidente em T2 e vários padrões de EEG ictal com campo máximo em eletrodos mediais (Figura 5). Figura 3 Na família original na qual foi caracterizada a epilepsia

do lobo frontal autossômica dominante noturna, uma grande família com 27 indivíduos afetados da cidade de Adelaide na Austrália, os genes responsáveis pela epilepsia estão localizados na região 20q13.2-q13.3, a mesma das crises neonatais benignas familiares e do EEG de baixa voltagem (Steinlein, 1999)9.

Figura 4 A substituição do aminoácido serina por fenilalanina na posição 248 do receptor nicotínico da acetilcolina promove a modificação da conformação do poro do receptor de acetilcolina, o que determina a hiperexcitabilidade frontal responsável pelas crises clínicas (Steinlein, 1999)9.

Figura 5 Esclerose mesial temporal esquerda. Redução volumétrica e hipersinal hipocampal em T2. Ritmo teta ictal predominando no eletrodo esfenoidal esquerdo.

(15)

59

Epilepsias neocor ticais

Síndrome de Rasmussen

• Início das crises epilépticas principalmente na infância, entre 3 e 6 anos.

• Deterioração neurológica progressiva: hemi-paresia, déficit de linguagem, disfunção cognitiva. • Atrofia cerebral hemisférica lentamente

progres-siva (Figura 6).

• Quadro anatomopatológico de infecção viral: nódulos microgliais, infiltrado linfomonocitário perivascular, áreas de colapso tissular.

• Curso em três estágios: 1a fase de crises epilépticas sob a forma de epilepsia partialis continua em 50% dos casos; fase de deterioração neurológica e 3a fase de estagnação.

• Etiologia provável: imunoalérgica.

• Tratamento: corticosteróides, imunoglobulina, plasmaferese, desconexão hemisférica.

Figura 6 Atrofia hemisférica direita em estudos seriados de imagem a partir dos 4 anos de idade em adolescentes de 14 anos com síndrome de Rasmussen. Observe o envolvimento predominante da região periinsular.

Síndrome de hemiconvulsão-hemiplegia

• Crianças previamente normais apresentam crise hemigeneralizada entre 6 meses e 2 anos de idade seguida de hemiplegia flácida.

• Epilepsia secundária instalada após intervalo de poucas semanas até 20 anos.

• Crises focais motoras (principalmente nas epilepsias iniciadas até um ano) ou crises com automatismos típicos do lobo temporal (nas instaladas após 3 anos ou mais após o evento inicial).

Outros tipos definidos segundo a localização e a etiologia

• Estão incluídas neste grupo todas as outras epilepsias focais sintomáticas (ou provavelmente sintomáticas) neocorticais incluindo as dos lobos temporais, frontais, parietais e occipitais.

Crises parciais migratórias da infância precoce*

• Síndrome ainda em definição, proposta pelo grupo de Olivier Dulac.

• Início das crises nos primeiros 6 meses de vida. • Crises multifocais, inicialmente isoladas, tornan-do-se depois muito freqüentes, agrupadas, quase contínuas, migrando de um ponto ao outro do córtex cerebral.

• No final do 1o ano, as crises tornam-se praticamen-te contínuas.

• Deterioração neuropsicomotora; hipotonia global, microcefalia progressiva, contacto pobre, que melhora um pouco nos raros intervalos sem crises. • Etiologia deconhecida.

• Não há tratamento específico. Drogas para trata-mento de crises focais parecem piorar esta condição.

Epilepsias generalizadas idiopáticas

Epilepsia mioclônica benigna do lactente

• Lactentes normais entre 6 meses e 3 anos. • Crises febris em 30% dos casos.

• Crises mioclônicas, várias vezes ao dia, principal-mente em sonolência.

• Não há outros tipos de crises.

• EEG pode ser normal. EEG ictal: polispícula-onda a mais do que 3 s, com duração de 1 s a 3 s, pode haver fotossensibilidade (Figura 7).

• Tratamento: VPA.

• Sem tratamento, persistência das mioclonias com DNPM normal ou retardado.

Epilepsia com crises mioclono-astáticas

• Início entre 2 e 5 anos.

• Predomínio no sexo masculino (2:1).

• Crises mioclônicas maciças, erráticas, tônico-clônicas, ausências.

Status mioclônico durando horas a dias.

• Atividade de base lenta (4-7 Hz) com complexos de espícula-onda e polispícula-onda generalizados (Figuras 8 e 9).

(16)

60

Epilepsia ausência da infância

• Idade de início: 4 a 10 anos.

• Discreto predomínio no sexo feminino.

• Ausências picnolépticas (até 100 episódios/dia). • EEG: complexos de espícula-onda generalizados

ritmados a 3 s.

• Tratamento: etossuximida, valproato ou lamotrigina.

Epilepsia com ausências mioclônicas

• Idade de início: 7 anos (2 a 12,5 anos). • Predomínio masculino (69%).

• Crises de ausência típica com abalos mioclônicos bilaterais e contração tônica dos ombros, braços ou pernas; duração 10 s a 60 s.

• 2/3 casos: crises tônico-clônicas generalizadas e crises de queda.

• EEG: atividade de base normal e complexos de espícula-onda generalizados, ritmados a 3 s. • Resposta à terapêutica pode não ser satisfatória;

deterioração cognitiva.

• Tratamento: doses elevadas da associação etossuximida e valproato.

• Outras drogas: fenobarbital, benzodiazepínicos, lamotrigina.

Epilepsia ausência juvenil

• Idade de início: 10 a 17 anos. • Distribuição igual entre os sexos. • Adolescentes normais.

• Ausências espaniolépticas (sutis e raras). • Crises tônico-clônicas generalizadas ao despertar. • Crises mioclônicas (15% a 20% dos casos). • EEG complexos de espícula-onda 3,5 s a 4,5 s. • Tratamento: etossuximida, valproato, lamotrigina.

Epilepsia mioclônica juvenil

• Início geralmente entre 12 e 18 anos.

• Mioclonias arrítmicas predominando nos membros superiores, ao despertar, precipitadas pela privação de sono.

• Crises tônico-clônicas generalizadas em 90% dos pacientes.

• EEG interictal: complexos de espícula-onda e polispículas generalizados.

• EEG ictal: polispículas-ondas (Figura 10). • Resposta a valproato em 90% dos casos. Possível

resposta a lamotrigina.

• Risco de recorrência elevado à retirada da medicação. Figura 9 Descargas generalizadas de espículas e polispículas em

paciente com epilepsia com crises mioclono-asiáticas.

• Deterioração cognitiva.

• Curso clínico: há dois tipos de evolução: 1. várias crises generalizadas durante 1 a 3 anos, crises tônicas (1/3 dos casos), poucas crises tônico-clônicas e recuperação; 2. status mioclônico, crises tônicas vibratórias no final do sono por semanas e meses e deterioração cognitiva.

Proposta de Classificação das Crises e Síndromes Epilépticas. Correlação Videoeletrencefalográfica

Figura 8 Ritmo da Dose.

(17)

61

Epilepsia com crises generalizadas tônico-clônicas

• Idade de início: segunda década da vida. • Adolescentes normais.

• Crises tônico-clônicas generalizadas como tipo de crise mais freqüente.

• Relação das crises com o despertar (matutino ou vespertino).

• Precipitadas por privação de sono e ingestão de álcool.

• EEG: atividade de base normal com complexos de espícula-onda > 3 s.

• Tratamento: valproato, fenobarbital. Carbamazepina e fenitoína podem piorar ausências e mioclonias.

Epilepsias reflexas

Epilepsia idiopática fotossensível do lobo occipital

• Há cerca de 50 casos descritos de pacientes com crises occipitais recorrentes desencadeadas pela luz (epilepsia focal reflexa).

• Predomínio no sexo feminino (4:1). • Indivíduos normais (epilepsia idiopática). • Início em torno da puberdade de crises focais

desencadeadas pela luz ambiental, televisão, videogame ou, mais raramente, padrões visuais. • Crises focais visuais iniciadas em geral com sintomas

positivos de visão de círculos ou manchas brilhantes, coloridas ou multicoloridas, fixas ou em movimento, que aparecem na periferia de um hemicampo visual e se movem para o hemicampo oposto; amaurose ictal; borramento visual; versão dos olhos e cabeça para o lado inicial da alucinação visual.

• Seguem-se desconforto epigástrico, não responsi-vidade, vômitos, cefaléia.

• EEG: descargas ictais no lobo occipital, espontâ-neas e com a fotostimulação.

• Potenciais evocados visuais “gigantes”; resposta occipital a lampejos de baixa freqüência durante a fotostimulação indicando hiperexcitabilidade do córtex occipital idade-dependente.

• Bom prognóstico, crises infreqüentes.

• Tratamento com valproato: fenobarbital, carbama-zepina e benzodiazepínicos em casos resistentes ao valproato.

Outras epilepsias sensíveis a estímulos visuais

Neste grupo, entre outras, figura uma síndrome de epilepsia fotossensível bem definida, a síndrome de Jeavons (síndrome das mioclonias palpebrais com ausências).

• Idade de início média: 6 anos (5 a 8 anos de idade). • Crises de ausências breves (3 s a 6 s) que ocorrem

principalmente ao fechamento dos olhos. • Mioclonias palbebrais rápidas associadas ao desvio

dos globos oculares para cima (Figura 11). • Crises tônico-clônicas generalizadas.

• EEG: paroxismos 3 c/s a 6 c/s desencadeados pelo fechamento dos olhos em ambiente iluminado (Figura 12). O escurecimento completo promove abolição das descargas.

• Fotossensibilidade que declina com a idade. • Tratamento: crises de difícil controle; valproato,

etossuximida, lamotrigina, benzodiazepínicos.

Figura 11 Capa do livro de John S. Duncan e C. P. Panayiotopoulos, publicado em 1996, ilustrando o desvio para cima dos globos oculares que acompanha o fenômeno de mioclonias palpebrais10.

Proposta de Classificação das Crises e Síndromes Epilépticas. Correlação Videoeletrencefalográfica

(18)

62

Figura 12 Complexos de espícula-onda generalizados ao fechamento das pálpebras.

Epilepsia primária da leitura

• Início entre 10 e 25 anos.

• Mioclonias da mandíbula e faringe durante a leitura que podem progredir para crises tônico-clônicas se a mesma não é interrompida.

• Mais freqüente com a leitura em voz alta e textos complexos.

• EEG em repouso usualmente normal. EEG ictal mostra descargas predominando no hemisfério dominante (Figura 13).

• Tratamento: valproato e clonazepam.

• Mioclonias erráticas, fragmentadas, maciças e crises focais.

• Crises tônicas; não há espasmos que podem aparecer mais tarde.

• EEG: padrão surto-supressão, caracterizado por períodos de supressão muito longos e surtos breves de atividade elétrica.

• Retardo acentuado no desenvolvimento; óbito precoce em 50% dos casos.

• Etiologia: desconhecida na maioria dos casos; alguns erros inatos do metabolismo como hiper-glicinemia não-cetótica, acidemia metilmalônica.

Síndrome de Ohtahara

• Início neonatal ou no primeiro mês de vida. • Deterioração progressiva.

• Crises tônicas breves, em grupos, constituem o tipo de crise principal.

• EEG: padrão de surto-supressão, freqüentemente assíncrono ou assimétrico, mais evidente em sono. • Crises clônicas, mioclônicas, focais,

tônico-clônicas generalizadas.

• Lesões estruturais focais, principalmente malfor-mações do sistema nervoso.

• Entre 3 e 6 meses de idade, evolução para síndrome de West.

• Tratamento: PB pode reduzir a freqüência de crises; não há benefício com corticosteróides; outras drogas: efeito desconhecido.

Síndrome de West

• Início, em geral, entre 3 meses e 1 ano (desde o nascimento até 4 anos).

• Espasmos repetidos em grupos. • Hipsarritmia (Figuras 14 e 15). • Deterioração cognitiva.

• Causas variáveis: malformações cerebrais difusas; lesões cerebrais multifocais; como esclerose tuberosa; lesões focais;

formas idiopáticas ou provavelmente sintomáticas.

Síndrome de Dravet

(Previamente conhecida como epilepsia mioclô-nica severa da infância)

• Início antes de 1 ano com crises febris e não febris: unilaterais, clônicas ou tônico-clônicas, de longa duração, sob a forma de status.

Proposta de Classificação das Crises e Síndromes Epilépticas. Correlação Videoeletrencefalográfica

Encefalopatias epilépticas

Encefalopatia mioclônica precoce

(19)

63

Figura 15 Hipsarritmia fragmentada durante o sono. Figura 14 Hipsarritmia.

• Entre 1 e 4 anos, crises parciais (48%), ausências atípicas (40%) e mioclonias maciças ou segmentares. • Deterioração neuropsicomotora; comportamento

hipercinético.

• Alterações neurológicas: ataxia, sinais piramidais. • Estudos de neuroimagem normais.

• EEG: pode ser normal no início do quadro. Seguem-se surtos de complexos de espícula-onda generalizados ativados pela sonolência ou, em alguns casos, pela fotostimulação e descargas multifocais. Alentecimento da atividade de base. • Três a quatro anos após o início, ocorre interrupção

da deterioração neurológica com tendência ao desaparecimento das crises parciais, das ausências e das mioclonias.

Status mioclônico nas encefalopatias não-progressivas*

Status de ausência com mioclonias ( status

epilepticus minor) erráticas e assíncronas, que

desaparecem durante sono e são acentuados na sonolência.

• Reconhecido, geralmente, em torno dos 17 meses (entre 4 meses e 5 anos).

• Predomínio no sexo feminino (2:1).

• Retardo mental severo, hipotonia, distúrbio do movimento como tremor intencional.

• Início das crises aos 12 meses (entre 1 dia-5 anos).

• Crises mioclônicas, parciais motoras, ausências mioclônicas, crises tônico-clônicas generalizadas ou clônicas unilaterais.

• Regressão no DNPM com o aparecimento do

status mioclônico.

• Metade dos casos descritos são decorrentes de anormalidades cromossômicas (síndrome de Angelman, síndrome 4p-); 1/5 dos casos: insultos anóxico-isquêmicos pré-natais; outros: etiologia desconhecida.

• Tratamento: benzodiazepínicos, valproato, etos-suximida, corticosteróides.

Síndrome de Lennox-Gastaut

• É o protótipo das encefalopatias epilépticas. • Início entre 1 e 10 anos de idade.

• Crises tônicas, principalmente durante sono, ausências atípicas, crises tônico-clônicas, mioclônicas e parciais.

• EEG: atividade de base lenta, complexos de ponta-onda ritmados a menos do que 3 s, surtos de ritmo recrutante epiléptico durante sono, que podem ou não corresponder a crises clínicas (Figura 16). • Deterioração neuropsicológica.

• Tratamento: valproato, benzodiazepínicos, felba-mato, topirafelba-mato, lamotrigina.

Figura 16 Ritmo recrutante durante o sono interrompendo o padrão de ponta-onda lenta generalizado, registrado em um menino de 8 anos.

Síndrome de Landau-Klef fner

• Idade de início: 3 a 8 anos.

• Crises epilépticas em 70% a 80% dos pacientes. • Característica principal: afasia adquirida de forma

progressiva, insidiosa. • Agnosia auditiva.

Proposta de Classificação das Crises e Síndromes Epilépticas. Correlação Videoeletrencefalográfica

VIGÍLIA

(20)

64

• EEG: descargas temporais ou temporoccipitais, simétricas ou não, com aparecimento de padrão de ponta-onda 1,5 Hz a 5 Hz ocupando pelo menos 85% do traçado de sono NREM.

• Crises controladas com drogas antiepilépticas: valproato, etossuximida, sultiame, corticosteróides, imunoglobulinas.

• Déficit de linguagem permanente em metade dos pacientes.

Epilepsia com ponta-onda contínua durante sono lento

Esta síndrome é intimamente relacionada à síndrome de Landau-Kleffner, provavelmente representando duas facetas de uma mesma entidade. • Primeira crise noturna, unilateral em quase

metade dos casos relatados. • Crises de ausência e de quedas.

• Crises autolimitadas que desaparecem na metade da segunda década.

• EEG: padrão de ponta-onda ocupando pelo menos 85% do traçado de sono NREM. • Deterioração constante e severa das funções

neuropsicológicas, principalmente da linguagem. • Comprometimento motor: mioclonias negativas,

dispraxia, distonia, ataxia, déficit motor. • Evidências sugerem que o estado de mal elétrico

(EME) durante sono é o responsável pela deterioração: há associação temporal entre o EME e a regressão neurológica; a duração do EME é correlacionada com o prognóstico; há associação entre o padrão do distúrbio neu-ropsicológico e a localização principal das descargas interictais (linguagem–lobos tempo-rais; comportamento autístico–lobos frontais). • Tratamento: quadro usualmente refratário, responde parcialmente a corticosteróides e, e m b o r a a s c r i s e s t e n d a m a d e s a p a r e c e r, a recuperação neuropsicológica será sempre p a r c i a l d a d o s s u g e s t i v o s d e e n c e f a l o p a t i a epiléptica.

Classificação das doenças epilépticas

No eixo 4 estão classificadas as doenças freqüen-temente associadas a crises ou síndromes epilépticas ou seja, as etiologias das epilepsias, como: 1. Epilepsias mioclônicas progressivas (como a doen-ça de Lafora, a doendoen-ça de Unverricht-Lundborg);

2. Distúrbios neurocutâneos (como o complexo da esclerose tuberosa, a neurofibromatose); 3. Mal-formações do desenvolvimento cortical (como a displasia cortical focal, as heterotopias corticais, a esquizencefalia e polimicrogiria); 4. Outras malfor-mações corticais (distúrbios de malformalfor-mações complexas, como a síndrome de Aicardi); 5. Tumores (como os tumores indolentes do sistema nervoso – ganglioglioma, tumor neuroepitelial disembrioplás-tico); 6. Anormalidades cromossômicas (como a sín-drome do cromossomo 15 em anel); 7. Doenças mendelianas monogênicas com mecanismos patogê-nicos complexos (como as síndromes de Angelman e Rett); 8. Doenças metabólicas hereditárias (como a hiperglicinemia não-cetótica); 9. Encefalopatias não progressivas de natureza isquêmica ou lesões anóxicas ou infecciosas pré ou perinatais; 10. Outros fatores pós-natais como traumatismo craniano, abuso de álcool e drogas, acidentes vasculares; e 11. Miscelânea como doença celíaca, doença de Alzheimer entre outras.

As informações referentes à nova proposta d e c l a s s i f i c a ç ã o p o d e m s e r e n c o n t r a d a s n o endereço eletrônico http://www.epilepsy.org/ctf.

SUMMARY

A proposal for epileptic seizures and syndromes classification. Video-electroencephalographic correlation

One of the most important aspects in epileptology is the classification of seizures and epileptic syndromes, which guides the etiological investigation and the therapeutical approach. A group of experts of the International League against Epilepsy is working on the complex issues of classification of phenomena whose physiopathogenic mechanisms are still far from being completely understood. We discuss the proposal of Classification of the ILAE Task Force published in Epilepsia on June 2001 issue.

Keywords

Epileptic seizures, epileptic syndromes, classification.

Referências

1 . International Classification of Functioning and Disability, Beta-2 Draft, Full Version. Geneva: World Health Organization, July 1999.

(21)

65

Report of the ILAE Task Force on Classification and Terminology. Epilepsia, 42(6):796-803, 2001.

3. Commission on Classification and Terminology of the International League Against Epilepsy. Proposal for revised clinical and electroencephalographic classification of epileptic seizures. Epilepsia, 22:489-501, 1981.

4. Lüders H, Acharya J, Baumgartner C, Benbadis S, Bleasel A, Burgess R, Dinner DS, Ebner A, Foldary N, Geller E, Hamer H, Holthausen H, Kotagal P, Morris H, Meencke HJ, Noachtar S, Rosenow F, Sakamoto A, Steinhoff BJ, Tuxhorn I, Wyllie E. Semiological seizure classification. Epilepsia, 39:1006-13, 1998.

5. Blume WT, Lüders HO, Mizrahi E, Tassinari C, van Emde Boas W, Engel J. ILAE Commission Report. Glossary of descriptive terminology for ictal semiology: report of the ILAE Task Force on Classification and Terminology. Epilepsia, 42(9):1212-8, 2001.

6. Commission on Classification and Terminology of the International League Against Epilepsy. Proposal for revised classification of epilepsies and epileptic syndromes. Epilepsia, 30:389-99, 1989.

7. Engel J Jr. International Classification: implications for neocortical epilepsies. In: Williamson PD, Siegel AM, Roberts DW, Thadani

VM, Gazzaniga MS (eds). Neocortical epilepsies. Philadelphia, Lippincott Williams & Wilkins, 2000, pp. 119-24.

8. Epilepsy Classification Working Group. Syndromic Classification of Seizures and Epilepsies. Verona, Itália, 4-6 maio de 1999. 9. Steinlein G. Molecular biology in autosomal dominant

nocturnal frontal lobe epilepsy. In: Berkovic SF, Genton P, Hirsch E, Picard F (eds). Genetics of focal epilepsies. London, John Libbey & Co., 1999, 179-86.

10. Duncan JS, Panayiotopoulos CP. Eyelid myoclonia with absences. London, John Libbey & Co., 1996.

Endereço para correspondência: Elza Márcia Targas Yacubian Secretaria de Neurologia

Rua Pedro de Toledo, 650 – Térreo, sala 1 CEP 04139-002 – São Paulo, SP

(22)

66

ARTIGO

* Doutora em Neurologia. Médica da Unidade de Pesquisa e Tratamento das Epilepsias (UNIPETE) da Escola Paulista de Medicina – UNIFESP.

Introdução

Há estimativas de que 50 milhões de pessoas no mundo têm epilepsia e somente entre 25% e 45% estão completamente livres de crises após 12 meses de tratamento1.

As crises epilépticas focais são as mais comuns tanto em crianças como em adultos. As drogas antiepilépticas (DAE) constituem o tratamento de eleição para as pessoas com epilepsia. Ainda que venham ocorrendo avanços no diagnóstico, na indicação e nas técnicas cirúrgicas para o tratamento das mesmas, a intratabilidade é um dos pré-requisitos absolutos para a indicação de cirurgia. Portanto, um candidato a cirurgia deve ter documentação sistemática e comprovada intratabilidade.

Intratabilidade

A definição de intratabilidade torna-se relevante apenas no contexto de seleção de candidatos à cirurgia de epilepsia. Assim, seria útil a existência de uma

Epilepsia Refratária: Conceito e Contribuição das Novas Drogas

Antiepilépticas e de outras Modalidades Terapêuticas

Eliana Garzon*

RESUMO

O tratamento farmacológico para as epilepsias em geral produz o controle absoluto das crises epilépticas em apenas uma parcela de pacientes. Dependendo da etiologia e da síndrome, entre 35% e 75% destas, a despeito do tratamento clínico, continuam a apresentar as crises epilépticas. Neste artigo abordamos as definições de intratabilidade assim como outras opções de tratamento clínico, discutindo as principais indicações e efeitos colaterais das novas drogas e as formas alternativas de tratamento clínico, a dieta cetogênica e o uso do estimulador do nervo vago.

Unitermos: Epilepsia refratária, novas drogas antiepilépticas, dieta cetogênica, estimulador do nervo vago.

definição prática, mas em termos absolutos não é possível definir intratabilidade medicamentosa2. Ainda que houvesse tal definição, ela não seria estática, mas periodicamente mudada à medida que novas drogas fossem surgindo.

(23)

67 Estudos em adultos e crianças sugerem que a

probabilidade de remissão completa de crises não adequadamente controladas, após o uso de duas ou três DAE consideradas potencialmente eficazes, é de 5% a 10%3.

O conceito de intratabilidade pode ser influenciado pelas chances de indicação de cirurgia. Assim, um paciente pode se beneficiar mais do que outro com a cirurgia dependendo do tipo de crise, se focal ou generalizada, da localização da zona epileptogênica, da presença ou ausência de lesão estrutural. Naqueles pacientes em que a cirurgia poderá oferecer grande benefício com baixo risco, a comprovação da intratabilidade pode não ser tão rigorosa quanto em um paciente em que o tratamento cirúrgico é o último recurso.

Deve-se ainda considerar que a cirurgia é uma alternativa de tratamento irreversível e, portanto, deve-se julgar se para um determinado paciente é melhor indicar a abordagem cirúrgica ou se poderia ainda haver perspectivas com novas tentativas medicamentosas.

Diante das considerações acima, quando propor cirurgia de epilepsia considerando a definição de intratabilidade medicamentosa? Em termos gerais, toda vez que um paciente não puder alcançar controle aceitável de crises a despeito do uso de DAE potencialmente eficaz, que tenha sido usada até níveis ou doses máximas sem ocorrência de efeitos colaterais ou, na presença destes, quando forem considerados mínimos e aceitáveis2.

Esta definição exige a conceitualização dos termos: controle aceitável, efeitos colaterais aceitáveis e quantas tentativas com drogas isoladas e combinações devem ser feitas.

Quando a cirurgia de epilepsia é a única opção de tratamento, o controle aceitável de crises não necessariamente é igual a controle completo. O limite do aceitável pode variar de um caso para outro. Alguns pacientes, por exemplo, vão escolher a opção tratamento cirúrgico, quando tiverem uma ou duas crises por ano, enquanto outros chegarão à conclusão de que sua qualidade de vida não apresentará mudanças significativas na ocorrência de uma crise por mês. O tipo de crise e o horário da ocorrência desta também podem ser fatores importantes para definir o termo controle aceitável. Finalmente, a antecipação exata da probabilidade de sucesso com a cirurgia é um fator importante para se decidir a melhor opção terapêutica.

Da mesma forma, a aceitação dos efeitos co-laterais das DAE pode variar em cada caso. O

impac-to da sedação, das alterações cognitivas, incoor-denação motora ou tremor nas mãos na qualidade de vida de um paciente, varia muito de acordo com o nível basal de funcionamento, a atividade social e profissional.

A utilização das DAE nos limites terapêuticos constitui um critério cada vez menos aceito. A tendência atual é considerar uma droga não foi eficiente quando as crises persistem a despeito do uso de dose máxima tolerada (ou subtóxica). Esse conceito tem sido incorporado às definições mais recentes de epilepsia intratável4.

Quanto ao tempo de tratamento, a duração da utilização de cada DAE em dose máxima tolerada também será variável em função da freqüência das crises antes da utilização da droga em questão. Se um paciente tem uma crise por mês ou a intervalos um pouco maiores, a DAE deverá ser utilizada por vários meses até se tornar evidente que sua resposta não foi satisfatória. No entanto, um ou dois meses são suficientes para aqueles que apresentarem uma ou mais crises por semana, sem nenhuma mudança na freqüência delas, apesar da utilização da DAE em dose máxima tolerada. Ao contrário, se houver uma diminuição da freqüência das crises, um período maior de observação poderá ser necessário.

Como regra geral, o período de utilização de cada DAE, em dose máxima tolerada, deveria ser cinco a dez vezes o intervalo médio entre a ocorrência das crises antes do início desta2.

Uma outra questão seria se as drogas deveriam ser tentadas somente em monoterapia ou se algumas combinações também seriam necessárias para se demonstrar a intratabilidade.

De um modo geral, após uma monoterapia não ter ocasionado controle ideal das crises, a chance de eficácia de uma segunda DAE em monoterapia é somente de 10%3. Não há nenhum estudo que demonstre que um número considerável de pacientes obteve resposta satisfatória com combinação de drogas, após algumas já terem sido usadas em monoterapia sem controle satisfatório de crises. Em um estudo que envolveu pacientes nos quais a monoterapia já havia sido ineficaz, foi verificado que apenas 11% dos mesmos ficaram livres de crises com combinações variadas de carbamazepina, fenitoína, fenobarbital e primidona5.

Em decorrência de riscos cirúrgicos, o controle completo das crises com DAE na ausência de efeitos colaterais, ainda é a primeira opção para o tratamento das epilepsias.

O sucesso do tratamento cirúrgico em muitos pacientes é dependente da precocidade de indicação

Referências

Documentos relacionados

Em seguida, considerando o diálogo intercultural como uma proposta que supera as fraquezas enfrentadas pelo multiculturalismo, rebate de forma crítica a hegemonia que tenta

Avô: Bem, bem… a Equipa dos Resíduos e Equipamentos Elétricos e Eletrónicos (REEE), liderada pelo Capitão Fluxo é um dos mais importantes projetos de banda desenhada que se

Considerando que as formações customizadas são aquelas que nascem de uma proposta da gestão escolar, a partir da vontade de aprender dos próprios professores, procuramos, com o Plano

• Crises mioclônicas, parciais motoras, ausências mioclônicas, crises tônico-clônicas generalizadas ou clônicas unilaterais. • Regressão no DNPM com o

Relativamente ao valor padrão da “Galega vulgar” que se situa nos 0,4 (% em ácido oleico), verifica-se que todos os genótipos resultantes de cruzamento

Dentre os motivos para a retomada da dieta cetogênica no tratamento de epilepsia na infância, incluem-se a refratariedade de síndromes epilépticas mesmo a tratamentos invasivos,

De acordo com a Classificação Internacional de Epilepsia (1981), 101 (48,1%) apresentavam crises generalizadas primarias, 66 (31,4%) crises parciais secundariamente generalizadas,

Todos os anos os observadores POPA participam numa ação de formação teórico-prática específica sobre os objetivos e metodologias a usar durante o programa de monitorização da