ARQUTVO
ORSTED E
A
DESCOBERTA DO ELETROMAGNETISMOROBERTO DE A. MARTINS
Universidade Estadual de Campinas
I
TNTRODUçAOAtribui-se normalmente a @rsted a descoberta da interação entre eletricidade e
magne-tismo, no infcio do
séculoXIX.
Apesarda
enormeimportáncia
desse fenômeno, acontribuição de Qrsted ao eletromagnetismo costuma ser minimizada, por dois motivos principais:
(1)
seu trabalho é geralmente descrito como uma descoberta casual (algumoutro
que tivesse a sorte de colocarprimeiro
uma bússola perto de um condutor teria ganhoa
fama de descobridordo
eletromagnetismo);(2)
os aspectos quantitativos do fenômeno nãoforam
desenvolvidospor
@rsted, e simpor
Ampère,Biot,
Savart eou-tros. A
arúlise
cuidadosa desse episódiohistórico
mostrano
entanto
se¡ necessdriomuito
maisdo
que sorte para a descoberta do eletromagnetismo, e que mesmo oestu-do
qualitativo
do
fenômeno, desenvolvidopor
@rsted,foi
dificuitado por
uma série de idéias pré-concebidas existentes: as próprias propriedades de simetria do fenômeno eram extremamente revolucioruírias,no
contexto
da época, como se tentará mostrar adiante.No
estudo da história da ciência, nada podesubstituir
o contato com as fontes;as-sim, aleitura do
presente artigo deve ser complementada peio estudo da memória de @rsted, de 1820, cuja tradução é publicada logo após este trabalho.2
FORMAçÃO
ECARREIRA
DE øRSTEDHans Christian
@rsted nasceuem Rudk{bing,
na
Dinamarca,em
14de
agosto deW7r
. Contendo cerca de 1.000 habitantes,Rudk{bing,
nailha
de l-angeland, podia ser consideradoum
vilarejo isolado da civiliza ção.No
entanto, nessemeio totalmente adversoao
desenvolvimentocultural,
HansCh¡istian
e
um de
seus irmã'os (Anders Sand{e) adquiriram uma notável formação básica. Os vizinhos que deies tomavamcon-ta,
enquanto seus pais trabalhavam, ensinaram-lhes aler
e escrever em dinamarquês eI
A principal fonte de informações sobre a vida de @rsted é sua biografia cncontradâ em: Meyer,
K. (ed.). H.
c.
Qrsted-Naturvidenskabelige sleriften,3 vols. Kþbenhavn, A. F. Host 86on, 1920-obra.que não tivea
ultar.
indicaçõcs biográfìcas cm enci-clopédias e emlivro
ncia,
fonte de dados-biogrâficos foi:FRANKSEN,
Ørf¿d
espec
ucìa S. pedersen, DJpartamentode Relações
Públicas
Bang90
Roberto de Andrade Martinsalemão.
Um
gravadorlocal,
antigo
estudante de teologia, ensinouJhes grego elatim;
o
delegadoda provihcia completou
sua baselingüßtica,
com francês e inglês. Iændotodos
oslivros
que conseguiram encontrar, adquiriram uma boa forma@o humanísti-ca;na farmdcia do pai e através de seusliwos,
aprenderam quimica e fì'sica.Após esses estudos bastante caóticos, @rsted paratiu para Copenhagen, aos 17 anos, sendo
aceito
na Universidade. Seubrilhantismo
e a diversidade de seus interesses po-dem ser avaliados por alguns episódios desse peribdo. Em 1795, obteve da Universidadeum
prémio de
Estética,pelo trabalho
intitulado
"Sobre como
a linguagem prosaica pode sercorrompida
por
suaprofmidade à
poética, e
quais são as fronteiras entre as expressões poética e prosaica". Dois anos depois, graduou-se como farmacêutico, eem
seus examesfinais
superou todos os resultados até então registrados nos anais daUniversidade
(feito
que
seriarepetido
por
seuirmão,
no
ano
seguinte,ao
tornar-se advogado).Em
1799 doutorou-se em Filosofìa com uma teseintitulada
"Dissertatio deforma
metaphysices elementaris naturae externae", em que fazia uma descriçãocrilica
das idéias deKant
sobre afìlosofìa natural. Literatura,
ciência efilosofia
permearamtoda
suavida.
Desde essa época, Hans Christiane
seuirmão
AndersSand{e
(que,posteriormente,
chegariaa
ser
famosojurista
e
primeiro ministro da
Dinamarca) ligaram-se aos mais importantes cüculos de Copenhagen nas áreas cientifica, arti'stica epolilica.
Em
1800
@rsted começou a trabalhar natradicional
"Farmáciado
Iæão",
de Co-penhagen.No
mesmo ano, um de seus ex-professores, Manthey,o
convidou para tor-nar-se farmacêuticoadjunto
da Faculdade de Medicina (sem salário algum), o que@rs-ted
aceitou
prontamente.Ma
mesma época, apósa
ampladivulga$o
dos
trabalhosde Volta,
@rsted começoua
fazer
experiências sobrea pilha
e
sobre eletricidade.Logo
em seguida, @rsted obteveuma
espécie debolsa de
estudosno exterior
(o"stipendium
cappelianum") quelhe permitiu,
de 1801a
1803,visitar
Alemanha,Ho-landa
e
França.Em todos
os lugares, estabeleceu importantes contatos pessoais com cientistas e intelectuais de renome. Particularmente, tornou-se amigo de expoentes da"Naturphilosophie"
germânica,como
Schelling eRitter,
cujainfluência
perdurou portoda
suavida e
permeou seutrabalho cientifico.
Durante esse peribdo,publicou
emBerlim
o livro:
"Ideen
zu
einer neuenArchitektonik
derNaturmetaphysik"
(1802). Em Paris, @rstedficou
fortemente impressionado ao visitar a École Polytechnique, onde, para seu espanto,viu
os primeiros laboratórios fì'sicos públicos do mundo-até
entÍÍo,
a
norma
era que cadacientista
fizesse suas experiências,por
conta
própria,em
suaprópria
casa. Desde essa época, @rsted audaciosamente prometeu-se ajudar acriar
umainstituiSo
semelhante, na Dinamarca, qr¡ando fosse possfuel-
o
queocor-reu
em 1829, tornando-se @rsted o primeirodiretor
da Escola Politécnic¿ de Copenha-gen.Retornando à Dnamarca, em 1804, @rsted começou a lecionar Física na Universi-dade, da ''qual se
tornou
professorextraordinário em
1806, e professorordindrio
em 1817. Realizou pesquisas experimentais sobre fìguras acústicas (linhas nodais emcor-pos vibrantes),
quetiveram
ótima recep$o,
valendolhe
a
eleição paraa
Academiade
Ciênciasde
Copenhagen.Em
1809, isolou
o
alcalóideativo
da pimenta, ao qual daria(em
1820) o nome de"piperidina".
Já nesse peribdo, graças a seus antigosconta-tos,
@rsted conseguiu publicar alguns trabalhosno
exterior,
inclusive umliwo
("An-Qrsted c a Descoberta do
Eletrontagtcttsmo
9l
siclrt
der
chemischen Naturgesetze,durch dic
neueren Entdeckungen gewontren",Berlin,
1812)do
qual uma versão modificadafoi
publicada na França no ano seguinte¡'R.rít.t.tt.t
surI'identité
des force chimiques et életriques". Paris, 1913)' Dedicou-seio
estuclo de classificação de elementos qui nicos e escrevcu sobreo
assunto umlivro
lu,
t.u.
boa
acolhidá também
no exterior:
"Tentamen
nomenclatura chemicae", ôopen¡agen, 1814. Nenhum desses trabalhos era particularmente importante, mas suaintànsa
uiiuidud.
acabou valendo a @rsted, em1815,anomeaøo
como SecretárioVi-talibio
cla Academia de Ciências de Copenhagen-
o
que lhe deu a oportunidade de a-cessoao
Rei, e
d.cmantet
correspondênciacom
sociedades e cientistasdo
exterior. pouco depois, o Reinomeou{
como cavaieiro da ordem de Danneborg.Embora sem ser
um
cientista deprimeiro
ni'vel, internacionahtteute,tudo
issomos-tra
que @rsted não eraum
pesquisadortotalmente
obsculoou
incompetente' Após adescoberta
do
eletromagnriir.ì, em
1820, eleainda
rcalizaú. trabalhos científicos variados, como estudos f,uantitativos de complessibilidade da água, a partir de18232', apartir
âa argila, elefoi
ò primeiro a obter o cioreto dealumiîio,
e, depois, a alumina, ãuì'.^truindol
finalmente,ã
alumihio
metdlico,em
18253. Mas, provavelmente, nada dissoteria
sido sufìciente paraimortalizar
seu uome, se não se incluisse entre suas pes-quisas a descoberta do efeito magnético da corrente elétrica'3 PRECEDENTES
DA
DESCOBERTAEm certo
sentido, a rela@o entre a eietricidade eo
magnetismo era conhecida desdeo
séculoXVIIL
Pelo menos três séculos antes de @rsted,já
se observara que as bússolaseram perturbadas, durante tempestades, e que
por
ação de raios sua polaridade podiaaté
seì invertida.No
injtio
do
séculoXVIII,
documentou-se nos PhilosophicølTran-sactions.of
t!ry.Royal
Society de
Londres c¡ueraios elam
capazes de imantarferro,
meslro
sematingir
os objetos
em questão. Com a descoberta que os raios eram fenô-menos de descarga elétrica, esses fatos foram interpretados como umarelaSo
ent¡e aeletricidade e
o
magnetismo. Guiando-sepol
essaidéia, Franklin,
em 1850,foi
capaz2Os primciros trabalhos de @rsted sol¡rc a comprcssibilidade da rígua datarh de 1823. Para
seus estudos, ele inventou um dispositivo até hoje utilizado, dcnominado piezômeÛo (@RSTED. 1823
b).
Nessas experiôncias, @rstedmida - um efeito que Procisava ser I
rie posterior de estudos, com o apoio 40), estudou esse fenômeno com o au cias, e o contato com @rsted, que ìn
vação da energia (MARTINS, 1984).
I
92
Roberto de Andrade Martinsuma análise detalhada dos estudos de
Franklin.
Em
uma
qrla
a Peter Collinson, datada de 27 dejulho
de 1750, e enviada de Phila-delplria ($PARKS, Iúorksof
Franklin,v.5,pp.223-6),
Franklin
comenta que, durante umä teÀpestade, as bussolas do navio decerto
capitão Waddeltivelam
suas polarida-des inveriidas-
a pontanorte
da agulha passando aindicar
o sul, e vice-versa. Emse-guida,
Franklin
fala sobre suas experiências:of Franklin, v. 5, pp. 224-5).
A
última
fiase sugere queFranklin
deveriatentar
repetir a experiência com descar-gas mais fortes. Ele não o fez, provavelmente, porque, como ele mesmo descreve nessaóafta,
a
descargade
quatro
garrafasde
Leyden
freqüentementederretia
as agulhas-
detalhe que será significativo, depois.Em
dezèmbrode
1851,
um
amigode
Franklin, Kinnersley,
aotentar
reproduzirBoston, só
foi
cap
agulhas quandoo
norte-sul.No
cas
orria (SPARKS,5, p. 264).
Pouco
a a JamesBow-do
u erro,admitindo
que aPo-lar
ua Posiçãoinicial.
Elesuge-re
uzido Pela eletricidade,nes-SE
Por
fim,
percebeu-se quea
descarga elétricanão
era a causa direta da imantação das agulhas, nesse caso.O
que produzia a magnetização erao
próprio
campomagné-aÉ
¿ifíAt
entender o que Franklin quer dizer por "extremidade penetrada pela descargaelé-trica".
Talvez ele colocasù uma das eitremidades em contato com a armadura da garrafa deLeyden, c depois, ao aproximar à outra ponta um ho ligado a outro pólo dagarrafa,saltasseuma
Qrstecl e a Descoberta clo
Eletrornagrtetismo
93Franklin
cscrcve:',Em rclação ao magnetismo, que parece ser produzido peta eletricidade, minha opinião real ó cluc cssós dois podcrcs da niturczr não possuem ahnidade mútru, e que a aparente produ-çãó tlo magnctismo [pclas descargas elétrìcas] é puramcute acidental" (SPARKS' ll/orks
of
Franklin, pp.450-1)Não sc podia,
poltanto, conclui¡
dessas observações qualquel conexãomaisiîtima
entrc
clctricidade e magnetismo. Retrospectivamente, poderiãmos pensar que o estudo dos casosdc
magnetização por raios, em que os objetos não elam tocados pela descar-ga, e (lucnÍo
obedeciam às reglas do fenômcnodc
Frankiin, poderiamter
conduzido àdescobcrta do eletromagnetismo. Mas
tal
não ocorleu.Mcsmo sem resultados claros,
no
initio
do
séculoXIX a
posi@o dos fi'sicosescla-reci{os
cra algo assim:é
claro
que h¿íuma relaçlo
entre eletricidade e magnetismo, masnão
sc sabe exatamentequal
é
essa relação. O problema estimulava,por
isso, arealizaçao <le experiências mais
ou
menosao
acaso, proculando-Se novas interações entrc clctricidade e magnctismo. Masa
procura não eratotalmente cega:guiava-a uma suposiçiIo sobre as semelhançasentre
as simetrias dos fenômenos elétricos emagné-t ico s.
Na época, cra
natu
os pólosnorte
e sul de umimã
e cárgaselét¡icas
de mesmotipo
se repelem.e de
tipos
opostosse
porcionais ao quadrado dadistâncìa,
como
havia
Coulomb, em 1795(COU-LOMll, Mémoire).Isso
levava a assimilar umimã
a umdipolo
elétrico, e a procurar-senão só
intcraçõesentre
os mesmos, mas também gerar comum
deles os efeitos pro-duzidos pelooutro.
Guiaclos
pof
essetipo
de analogia,Hatchctt
e
Desormesploculalam
verifìcar, em1805, sc
unrapilha
voltaic¿,com
o circuito
aberto,
aapaz de girar liwemente, seriaorientada pelo
magnetismoterlestle, como
uma bússola. Não obtendo resultadopo-sitivo
com
pilhas pequenas, acabarampor construil
uma seqüéncia com 1480 placasde cobrc
c
zinco,
c
colocandoo
conjunto em um
pequenobote,
mais uma vez não observaranÌ cfeito algum(HATCHETT,
1821). Outras tentativas de se produziratra$o
entre
pólos magnéticos e cargas elétricas em circunstâncias variadas tambémfracassa-ram.
A
confusão tornou-se aindamaior
com resultados positívosobtidos por Ritter,
na
meslì1a ópoca,de efeitos
"tnagneto-químicos" análogos à eletrólise. O episódio étão
curioso, que valeà
pena desc¡evê-lo em detalhes. Utilizaremos a descrição que opróprio
Qrstedfaz
desses trabalhos, uma vez que, PaIa nossosfins,
éimportante
do-cumentar aquilo que podeluver
influenciado as suas Pesquisas.94
Roberto de AndmdeMøtitts
por
tintua
de tomassol, nos três frascos, ,ìão acompanhadas por uma mudança deroporcionãl a cada oxidaçÍÍo. . ." (0RS-TED,1828).
4
ASIDÉIAS
DIRETORAS DE ORSTEDAlém
dos motivos cientilìcos da
época, @rstedtinha
motivos filosóficos
para acre'ditar
na
unidadeO* iãìç"r
naturais(STAUFFER 1957).
Inserindo'se na corrente daQrstecl e a Descoberta do Eletromagnetismo 95
descreve essa concepção que o
dirigiu:
@rsted
não
estavasozinho
nessa visãoda
unidade de todos os
fenômenos' Em 1810, por exemplo, seu amigo Prechtl escreve:Como @ rsted, Prechtl também não possuia boas evidências empäicas parajustifìcar
sua ampla visão. De que modo se podiá mostlar que o magnetismo._era um efeito deri-vado då eletricidade? Era preciso descobrir novos fenômenos que ilustrassem essa
co-especial.
No inibio do
séculoXIX,
os
físicos sedividiam
entre adeptosda
concepção dofluiCo
elétrico único e
cla concepção dos doisfluidos
elétricos. @rsted acreditava na96
Roberto de AndradeMøtins
Na Çpoca, voltava-se a favorecer modelos ondulatórios para a
luz
eo
calor.@rsted
aceitava essa concepção,
e
utilizava
suaidéia
do ,,conflito
elétrico',
associando-a a".
. . em uma dupt'"";
ã;-;;-'p"'"
iii#[i.i"rî
que os dois fluìdo ro
em uma parte qo clrcullo, e sao
.".i¡t",
åi¿ãäi*
rte do mesmo,¿ril
tricos atravesam o condutor em direções opostas por meio de umadesde
å
i?i.i,'ff:""i"å"#""
ii,1iï".ä'rJl.gin:g:rl.*l'lg
(AMP
Embora ainda não se houvesse produzido a imantação de agulhas de aço pera cor-l9n^t9-
99
uma
pilha
vortaica
-
o
que só
foi
obtido
apósï
truburho'oe
@rsted(BOISGIRAUD,
l82o)
-
admitia-se comumente-que
haia
up.ru,
uma
diferença
quantitatiu
entre descargas elétricas de uma garrafa àe Iæyden e a corrente galvânicä. Assim sendo, tambémo
magnetismo poderia éstar relacionadoao .,conflito
elétrico,,. Bsa idéia orientou, desde oinício,
a pàsquisa de @rsted.Qualitativamente,
o
que elepoderia
esperar encontrar?As
idéias mais plausiîeis ma corrente, se tornasse algo semèlhante a gnéticos correspondendo âs extremidadeso
magnético (uma hipótese não totalmente devemter
norteado os trabalhos de @rsted rrsão dopróprio
@rsted sobre a descoberta).ora,
se ele
de fato
fossedirigido
por
idéiascomo
essas, quetipos
de
experiência deveria fazer? Ê, fácil adivinhar.-Ele te¡rtaria:Qrsted e a Dercoberta do
Eletromagnetismo
97(l)
Colocar
um
fìo
condutor acima
de
uma
agulha magnetizadamóvel
(bússola), perpendicular a ela, emum
planohorizontal,
examinando se a agulha'seria deslocada de sua posição ao passar-se uma corrente pelofio;
esperar-se-ia neste caso que a agulha girassepara um lado
ou
parao
outro,
conforme
o
sentido
da corrente, tendendo atornar-se paralela ao
fio
(Fig.
1a);(2)
colocar umfio
condutor
vertical,próximo
a uma das extremidades de uma agulha magnética, e observar seo pólo
magnético seria atraídoou
repelido pelofio,
quandopass¿sse uma corrente por ele
(Fig.
lb).
Ora, nos dois casos, como sabemos atualmente, nÍio ocorreria aquilo que se poderia esperar que ocolfesse.
No primeiro
caso, os pólos da agulha sofrerão forças verticais, ea
agulha sofre¡á uma pequena declinação vertical, sem girarno
planohorizontal.
No segundb caso, dependendo da posição exatado
fìo,
poderá surgir uma pequena com-ponentede força
tendendoa
gbara
agulha, para umlado ou
parao outro
-
o
que daria a impressão deum
erro experimentalincontrolável
-
mas o efeito principal seráo
de uma força sobre a agulha em direção paralela a seu comprimento-
o que não será observável, em uma bussola.5 ADESCOBERTA
A
versão mais conhecida pelos historiadores, sobre a descoberta do eletromagnetismopor
@rsted, é a que sedifundiu
apartir
de uma carta de Hansteena
Faraday, escritamuito
apósa
experiência crucial (3011211857). Hansteen assistiu ao curso sobreele-tricidade
e
magnetismoque
@rstedministrou na
Universidadede
Copenhagen noinverno
de
1819-1820. Nesse,como
emoutros
cursos anteriores, ele falava de süasidéias sobre
a
unidade de todas as forças da natureza, e emparticular
de uma presu-mi'vel relação entrea
eletricidadee
o
magnetismo; mas,como
não havia evidências experimentais a respeito, ilustrava sua exposição com uma demonstraSo experimental danão
observabilidadedesa
relação.No
entanto,
aofinal
de uma aula noturna, no ini'cio deAbril
1820, ao tratar sobre o problema, durante a conferência, fez sua desco-berta:'p¡sted sempre colocou o fìo conduto¡ de sua pilha em ángulo reto sobre a agulha magré-tica, sem notar movimentos perceptíræis. Uma vez, após sua aula, em que empregüa uma forte pilha para outras experiências, disse-nos: "Experimentemos colocar o fio paralelamente
à agulha". Fazendo isto, ficou perplexo ao ve¡ a agulha oscilar com força (quase em ângulo reto com
o
meridiano magnético). "Invertamos-
disse depois-
a direção da corrente". E entäo a agulha se desviou na direção contrária. Deste modo foi feita a grande dercoberta.Há, razão em dizer-se que trcpeçou com sua descoberta por acaso. Assim como os outros, n:io teve idéia alguma de que a força poderia ser t¡ansve¡sal" (Hansteen, carta a Faraday, apzd CREW, l?ße of Modem Physics).
Ilí
bons motivos para duvidar da fidelidade de quase tudo o que Hansteen descreve-
e que setornou
a versão quaseoficial
da descoberta. Felizmente, no_artigojri
citado de @rsted sobretermo+letricidade,
publicado na Enciclopédia de Edinburgh apenas ? anos após a descoberta, ele próprio descreve sua versão, bem mais plausível:<>
98
Roberto de Andrade Martinsö
-+N
+N
(a) (lr) + (c)Fígurø
1.
De
acordo com as conjeturas nlais naturais da época defrsted,
podel'se-ia.ri.ro,
qu.
a agulha de uma búsiola girasse,.por efeito de ulna corrente elétrica,quan-do
o fio
estivessep.rp.ndicular
à búisola(aj
ou
quando fosse aproximado de um dospãfã,
ã"
bússola,'htì.ut.n.nt., perpendiiuLr
aieu
plano de
rotação(b)'
O
efeito sófoi
observado, no entanto, colotando-se ofio
paralelo à agulha (c).-Qrsted e a Descoberta do
Eletromagnetismo
99"No inve¡no de 1819-1820, ele (@rsted) apßsentou um curso dc conferôncias sobre
cleti-cidade, galvanismo e magnetismo, diante dc uma audiência previamente familia¡izada comos princípios da hlosofia natural. Ao preparar a conferôncia na qual versaria sobre a analogia
entre magnetismo
c
eletricidade, conjecturou que, sc fossc possívcl produzir a.lgum cfeito magnético pela eletricidade, isso não poderia ocorrer na dircção da corrcnte, pois tal havia sido freqüentemente tcntado em vão; mas que devcria ser produzido por uma ação lateral. . ."Assim como os efeitos luminosos e caloríficos da co¡rente elét¡ica saem de um condutor em todas as direções, quando este transmite uma grande quantidade dc eletricidadc;assim, imaginou ser possível que o efeito magnético seirradiasse de fo¡lna semelhante. As obse¡la-ções registradas acima, de efeitos magnéticos produzidos por raios em agulhas que não
foram diret¿mente atingidas, confi¡ma¡am-no em sua opiniâo. [,le estava longe de esperar
um grande efeito magnético da pilha galvânica; supôs que poderia scr exigido um podcr suficicnte para tornu incandescente o fio condutor.
"O
plano da primeira experiôncia consistia em faze¡ a corrente de um pequeno aparelho galvânico de ftascos, comumente usado em suas confe¡ências, passar através de umfio
deplatina muito fino, colocado sob¡e uma bússola coberta com vid¡o. A experiência foi
prepa-rada, mas como acidentalmente ele foi impedido de ensaiá-la antes da aula, planejou adiá{a para outra oportunidade; no entanto, durante a conferôncia, pareceu{he mais forte a proba-bilidade de seu suceso, e assim rcalizou a primeira experiência na presença da audiôncia.
A agulha magnética, embora fechada em uma caixa,
foi
perturbada; rnå.s, comoo
efeito era muito fraco, e deveria parecer muito irregular, antes da descoberta de sua lei, aexpe-riência não impressionou fo¡temente o público. Pode parecer estranho que o descobridor não tenha realnado mais experiências sobre o assunto durante três meses; ele prôprio acha
difícil conceb&lo; mas pode ter sido levado a postergar suas pesquisas até uma época mais
conveniente, pela extrema fraqueza e aparente confusão dos fenômenos na primeira
expe-riência, pela lembrança de numerosos er¡os cometidos nesse assunto.por filósofos anteriores (particularmente seu amigo Ritter) e porque tal assunto tem o direito de ser t¡atado com atençâo e cuidado.
'l.Io
mês de julho de 1820, ele novamente retomou a experiência, utiliza¡do um aparelho galvánico muito mais poderoso. O sucesso foi agora evidente, embora os efeitos fossem ainda fracos nas primeiras repetições do experimento, pois empregou apen¿rs fios muito finos, supondo que o efeito magnético nâo ocorreria quando a corrente galvânica não produzise calor e luz; mas logo descob¡iu que condutotes de um riiâmetro maior proporcionam um maior efeito; eentb
descobriu, por experiências continuadas durante alguns dias, a lei fundamental do eletromagnetismo,a
slber, queo
efeito nugtêtico da conente elëtrica tem um movimento circuJar em torno dela".Percebe-se cla¡amente
por
essa descrição queos
seguintes aspectosda
descrição deHansteen estão errados:
(a)
@rstednão
usou urnapilha
forte
em
suas experiências preliminares, durante a aula, (b) a agulha magnética não oscilou com força ("quase emângulo
reto com
o
meridiano"):
moveu-se fracamente;(c)
durante essas primeiras experiências, @rsted n¿io encontrou a regularidade descritapor
Hansteen (a corrente elétrica desvia a agulha para um lado ou para ooutro
conforme o sentido da corrente)-
isso sófoi
notado nas experiências posteriores;(d)
não se percebe, na descrição de @rsted, qualquer indicação sobre a direção dofio
condutor, e talvez ele não tenh¿ sido colocado inicialmente paralelo à agulha magnética; (e) seja qualfor
a direçãoutilizzda,
ela
não
foi
o
resultadodo
acaso, masde
uma mudança deatitude
@rsted, que seconvenceu de que o efeito magnético não poderia ser paralelo ao
fio.
Note-se que @rsted, ao preparar suÍì aula, imaginou que o efeito magnético poderia
irmdiø-se
do fio,
como
a luz
e
o
c¿lo¡. Ou
seja, aparentemente ele imaginouo fio
100
Roberto de AndradeMøtins
colocar
o
fio
condutor
acimada
agulha,e
paralelarnenteà
mcsma, nãoteria
sido omelhor
arranjo experimental possiîel. Se confiarmos na inteligência de @rsted, pode-remos imaginar que ele planejaria a cxperiência da seguinteforma:como
utilizava uma bússola comum,dcntro
de urna caixa (para evitar movimentos dcvidos a correntes dear, etc.),
o
melhor modo de aproximar
o fio
condutor da
agulha seria colocando-o sobreo vidro
da bússola, lnas se ele fosse colocado imediatamer.rte acims da agulha,o
efeito
esperado seriaque
um
dos
pólos fosse atrai'do(e
subisse)e
o
outro
fosse repelido (e descesse),produzindo
uma pequena declinação vertical,difi'cil
de observa¡. Seriaportanto
muito
mais conveniente coloca¡o fìo
paralelamente à agulha, masdes-locado
a
lesteou
oeste,pois então
ele esperaria que, com a atração de Ìrmpólo
e arepulsão
do
outro,
surgisse uma pequena rotaçãohorizontal
da agulha. Ele esperaria, também, que,ao
passaro
fio
parao outro
lado da agulha, a deflexao se invertesse. Ora,ao
fazera
experiência, ele deveter
confirmado a primeira antecipação, e não ascgunda,
o
que
seriapara ele
inexpìicável,e
exigiria um
grandenúmero
de novas experiênciasantes
da
descobertadefinitiva
das propriedadesdo
fenôrneno.E
essadescoberta
final
exigirá
de
@rsted
um
eno¡me esforço para livrar-sede
idéiaspré-concebidas, e aceitar as propriedades completamente novas de assimetria do lenômeno eletromagnético. Para nós, que estamos acostumados a aceitar sem espanto a edstência de
um
campo magnéticocircula¡
emtorno
de umfio
conduzindo uma correnteelétri-ca,
é
extremamentedifibil
entender quão
absurdoisso
pareceria aosolhos de
um @rsted. Mas tentemosreconstituir
sua reação.Tomemos a hipótese de que o
fio
condutor se t¡ansformou em um pólo magnético. Comotal,
ele deverá sempre atrair um dos pólos da agulha magnética, e sempre.repeliro
outro.
Se, colocadoà
direita
da agulha, fìzercom
que e1a gireno
sentido horá¡io, deveú, fazercom
que ela gire no sentido anti-horário colocado à esquerda, e produzirá apenas uma declinação vertical colocado exatamente acima da agulha. Mas não é isso que ocorre: em qualquer das posições (até mesmocom
ofio
acima da agulha) ela gira parao
mesmolado.
Portanto, a hipótese está errada. Qual a alternativa? Supor que ofio
se transformou
em um dipolo
magnéticolongitudinal.
Nesse caso, seos
pólosdo
fio
estivessem emscntido oposto
aos da aguiha, esta seria atrai'da parao fio,
em qualquer posição,e
poderia tender a sair de seu suporte-
o
que não era observado. Se, pelocontrário,
os pólosdo
fìo
e da agulha estivessemno
mesmo sentido, surgiria uma repulsão agindo sob¡e os dois extremos da agulha magnética. Se ofio
fosse agora colocado extamente sobre a agulha, ela seria defletida com igual probabilidade para umlado
e
parao
outro;
seo
fìo
fosse ligeiramente deslocado paraa
di¡eita,
a rotação seria anti-horária, e vice-versa. Mas isso também não era observado! Como
fio
exata-mente acima,ou
ligeiramente àdireita ou
à esquerda da agulha, a deflexão era sempreno
mesmosentido.
O
fenômeno observado eraincompatiÎel
com essas duas alterna-tivas teóricas.Através de uma análise mais geral, sem a
limitação
das duas possibilidadesante-riores,
também se podenotar
qr¡ao estranho erao
fenômeno descobertopor
@rsted.De fato, na
situaçãoem
queo efeito
se manifestou,com
o
fio
paralelo à agulha, pareceria queo
plano vertical
que contivesseo
fio
e a agulha deverÍa sero
plano desimetria
do
sistema. Ora, nessas condições, dever-se-ia esperar quea
agulha poderiasofrcr
algumaaSo
em direção pertencente aopróprio
plano vertical em que seencon-Qrsted e a Descoberta do
Eletromtgnetismo
l0l
trava, masjamais
poderia ser esperadoum efeito
rcgular, sistem¿ítico, semple para o mesmolado do
plano, pois não haveria motivo algum para que a agulha girasse em umsentido de
preferência aooutro (por
simetria). Assim sendo, concepções gerais sobresimet¡ia
(que
eram
efetivamente empregadas desdeAristóteles,
embora só tenhamencontrado
suaformulação mais clara
com
Pierre Curie,
ao final do
séculoXIX)
poderiam assegutar, ø
priori,
quea
agulhanão
poderia girar para lado algum. E, no entanto, ela girava!A
mera descoberta de que, de alguma forma, a corrente elétrica atuava sobre o ilmã, não era suficiente para suíl divulgação. Como cientista cuidadoso que era, @rsted pre-cisava determinar as propriedadesdo
fenômeno, antes de publicar algo sobre ele; e,dentre
as propriedadesa
serem determinadas, aprincipal
seriao tipo
de simetria doefeito.
Durante as férias de verão, com a ajuda de alguns amigos, @rsted fez um gandenúmero
de variaçõesda
experiência,utilizando
baterias voltaicas mais potentes. Emjulho
de 1820 sentiu-se sufìcientemente seguro para divulgar sua descoberta. Agora elesabia
como uma
corrente elétrica atuava sob¡e uma agulha magnética, emtodas
asposições
e
direções imagináveis, e também formulara uma explicação dos efeitos ob-servados,Compreendendo
a
importância do seu trabalho, ele nãooptou por
publicá-lo, por exemplo, nos Anais da Academia de Ciências de Copenhagen-
procedimento quese-ria
maisfácil
para ele,por
ser Secretário dainstituição.
Pelo contrário, como era pte-cisoatingir
rapidamentetodo
o
mundocientilco,
garantindo sua prioridade, redigiu seutrabalho em
latim
(não em
dinamarquês), fazendo com que fosse impresso rapi-damente sob forma defolheto
(apenas quatro páginas em tamanho quarto'), enviandoo diretamente a grande número de cientistas famosos de vários pai'ses, editores de revis-tas cientificas, sociedades científìcas e culturais-
um método de divulgação que seriatambém
utilizado
em 1895,por
Röntgen, paranoticiar
a descoberta dosraiosX,
comidêntico
sucesso. Nesse opusculo (@RSTED, 1820 a), em que descreve resumidamente cerca de 60 séries de experiências, de váriostipos,
prsted estabelece que a influência dacorrente elétrica sobre a bussola
não
depende da natu¡eza dofio
condutor, e que oefeito
não é reduzido quando se interpõem materiais condutoresou
isolantes entre ofìo
e a agulha magnética; que o efeito só atua sobre agulhas imantadas, e não sobre ou-tras agulhas metátcas; estudao
efeito
para várias posições relativas dofio
e da agulha, procurando sempreexprimir
seus resultados daforma
mais geral possiîel (de modo aincluir
em cada enunciadoa
reunião de várias generalizações experimentais); e, porfim,
procura explicaro
fenômeno observado, supondo que emtorno
do
fio
quecon-duz
a
correnteo "conflito
elétrico"
se manifesta sob a forma de dois turbilhões que circulam emtorno
do
fio,
em sentidos opostos-
um
deles atuando sobre o pólonor-te,
eo
outro
atuando sobre o pólo sul da agulha imantada..Esse era o aspecto mais im-portante e revolucionário do trabalho de prsted:o
efeito magnético de uma corrente elétrica não é paralelo à corrente. Embora a corrente elétrica seja pensada como um fe-nômenolongitudinal no
fio
condutor,
seuefeito
apresenta um aspecto de rotação oucircula$o
emtorno do fìo.
Essa conclusão era inevitável, dadoo
cuidadoso estudoque
@rsted fìzerado
fenômeno; ela acaboupor
ser aceitapor
todos; mas, como ve-remos, sua aceitaøofoi
envolta em muita discussão e incompreensão.lO2
Roberto de AndradeMartins
6
A
REPERCUSSÃO TIA DESCOBERTAPode-se
verifìcar
o
caráterrevoluciondrio da descoberta
de ørsted estudando-se suarecep$o
imediata
na
França, uma vez queld
surgiram as primeiras reações significa-tivas à descoberta.o
¡nimeiro
fì'sico francés atomar
conhecimento da memória deprsted
foi
fuago, Secretário Perpétuo da Academía de ciências dehris,
e que estava na ocasião em ce-nebra.Lá,
Marc-Augustin Pictet recebera uma cópiado
trabalho, e a discutiu edivul-gou
entre outros fi'sicos.Ao
serinformado
sobre a descrição do efeito observado por @rsted,Arago
declarou queaquilo
eraimpossivel;e
só se convenceu da realidade dofenômeno
após assistirà
repetição
das
a
19 de
agosto por Auguste dela
Rive,auxiliado
por
Pictet,
De Saussure, Marõet,de
Candollee
outros.
Ocorrendo asuges
-se de um fenômeno espúrio,produzido
pelo aquecimento dofio
e por correntes de ar, dela
Rive repetiu asexperiências
dentro de um recipiente
evacuado, verifìcando que ele não se ãlterava(PICTET,
DE I*A RIVE,
1820;
ver também anota
de Arago, em @RSTED, 1g20-ediSo
em francês).Retornando
a
Paris, Aragopublicou
nos Annalesde
qual era editor, juntamente com Gay-Lussac) uma traduçãodo
a porPictet).
No
dia
4
de
setembro,comunicou
à
Academia
novadescoberta,
enede todas
as
Decarta
a
Berz
tradas
ìnicialm
Asum
novodelirio
germánico". De acordocom
Ampère, quando Arago descreveu os no-vos fenômenos à Academia, "as pessoas os rejeitaram da mesmaforma
como haviam rejeitado as pedras caídasdo
céu (meteoritos) na época em que pictet 1eu umamemó-ria
sobre essas pedrasno
Instituto.
Todos decidiram queaquilo
era impossi'vel',(cA-NEVA'
1980)'
ue se julgasse impossi:
-
comojá foi
dito,
Qrsted e a Descoberta do
Eletromagtzetísmo
103Não
conseguindo aceitara
explica@ode
@rsted(de
queo
calnpo magnético cmlorno do
fio
é
circular),
Berzelius estudouos efeitos
magnéticos defitas
metálicas condutoras,e
acaboupor
formular
a
hipótese de que cada seção reta dafita
corrcs-ponderia a dois fìnos imãs com seus pólos em oposição(Fig.
2). A lúpótese deBerzc-lius
se¡ia defato
sufìciente para explicar-se qualitativamente os efeitos acima e abaixo dafita,
mas falharia ao ser aplicada a posições laterais, pois o sentido do campomagné-tico
previstopor
seu modelo, nessas posições, éo
opostodo
observado. De qualqucrforma,
é importante notar que a idéia do campo magnético circulando emtorno
dofio
en
tão
inverossi'mil, que tentativas como as de Berzelir¡s eram aceitas e escapavanr àcrítica mesmo de um Ampère (AMPÈRE,
l82la).
É
importante
assinalar que a proposta de Berzelius não constituiu um caso isolatlo, mas ocorreu independentemente a vários outros fi'sicos, ao mesmo tempo, o quenros-tra
quão pouconatural
era a idéiado
campo magnéticocircular. Humphry
Davydes-cÍeve que,
ao
estudü
os fenômenos eletromagnéticos, primeiramente imaginou t1ue,em cada
se$o
reta dofio,
haveriaum
certo número de dipolos magnéticos formandoum
poh-"gonona
superfì'cie dofio;
depois, acaboupor concluir
que podia explicar osfenômenos considerando apenas
quatro
¡rolos magnéticos em cada seção retado
l'io(ou
seja,um
modelo idêntico
ao
de
Berzelius). Elenão
percebeuinicialmente
queesse
tipo
de modelo era incompati'vel com a experiência(DAVY,
1821).Há
uma interessante série de artigos anônimos sobre ahistória do
eletromagnetis-mo,
publicadosem 1821
e1822,
e deautoria
deum certo
"M",
que provavelmente era Michael Faraday. Nesses artigos, Faraday descreve a teoria de Berzelius, e mostra claramentesua invalidade, confrontando-a
com
suas conseqüências experimentais(FARADAY,1822).
Ele
tambémindica que
Schweigger -o inventor do
galvanônre-tro
debobina
fixa
-
também propôs a mesma idéia. Porfim,
podemosindicar
quc opróprio
Prechtl,
quepartilhava
de tantas idéias de @rsted,foi
incapaz de aceitar suahipótese sobre
o
campo magnéticocircular,
e também propôs a existência de cluatro pólos em cada seção reta dofìo
condutor (PRECHTL, 1821b).Mesmo depois que todos esses fì'sicos convenceram-se da.impossibilidade da hip(rte-se dos qtratro pólos, outros novamente aventaram a mesma suposição, e por isso,
cotr-forme
nos contao próprio
@rsted, elefoi
levado a desenvolver uma experiência cuioúnico propósito
eramostrar que,
emtorno
deum condutor,
o
campo magnético érealmente circular
(øRSTED,
1823a).A
experiência émuito
simples. @rsted colocouum condutor
vertical, conectado ao resto docircuito
através de cubas de mercúrio co-locadasem
su¿rs extremidades, detal
forma
que podia girar emtorno
de seu próprioeixo,
sem interromperou modificar
a corrente elétrica. Colocando em suaproirnida-de uma agulha imantada, e girando
o
fio,
@rsted mostrou que todos os pontos da cir-cunferênciado condutor
exercem uma ação igual sobre a agulha-
o que éinconrpati'-vel com
a
suposiçãode
uma distribuiçâ'o descontihua de polos sobre a superfibic dofio.
Além
do
aspectode
quebrade
simetria,um outro motivo
dificultava a aceitaçoo da hipótesedo
campo magnéticoci¡cular
emtorno
do
fio.
Essa oposiçãofoi
exprcssa pela primeira vezpor
Schweigger: se existisse esse campo magnético circular em tornodo condutor, um pólo
magnético seria empurrado continuamentee
seria levado alrtlu-lO4
Roberto de Andrade MartinsB
aA
IB
tlIV
B
, (a) a a ,V
I t(b)
a I I a , , a IB
fa
(c)B
Figwa
2.
De
acordocom
a interpretação de @rsted (e que aceitamos atualmente), ofio
percorrido
por
uma corrente elétrica é circundadopor um
campo magnético que circula emtorno
do
mesmo(a).
Berzelius eoutros
autores supuzeram que a corrente elétrica produzia,no
fio,
doisou
rnais pares de pólos magnáticos(b).
Isso produziria, acima e abaixodo
fio,
campos clue pareceriamcircular
emtorno do
mesmo (c); mas, emoutros
pontos,o
sentidodo
campo seriao
oposto aodo
modelo de Qrsted, o quepermitiu
distinguir os dois modelos pela experiência.¡ I
Qrsted e a Descoberta rlo
Eletrotnagtetismo
105vesse consumo de energia na bateria galvánica, pensava-se que, em
princiþio,
uma pilha eletroqui'mica poderiafuncionar
por
um
tempoindefinido;assim,
a corrente elétrica poderiaproduzir
ummoto contínuo
de primeira espécie-
o que parecia absurdo. Em seuartigo
da Enciclopêñia deEdinburgh,
Qrsted se refere a essa objeção, mas não dis-cute seus aspectos teóricos:"A
idéia de rotações magnéticas em tomo dofio
de conexão gerou muita oposição ao serpublicada pela primeira vez.
o
professor Schweigger objetou a ela que, se tais rotaçõescxis-tissem, seria possível fazer um ímã girar em tomo do fio dc conexão.
o
D¡. wollaston ti-rou a mesma concluSo, mas com atitude oposta: considerando provável esse resultado, eleinventou um instrumento para demonst¡á-lo. A cxperiência
foi
interrompida por acidente, eo
Sr. Faraday a retomou, realizando um extensa sórie dc experiências sobre o assunto, conduzidas com a mesma destreza que exibiu em tantas outras investigações. Ele descobriu que não só o imã pode girar em tomo do condutor, mas que da mesmã fo¡ma um conduto¡ móvel pode girar em torno do imã" (@RSTED, 1 827) .Mais adiante
voltaremosa
discutir
essa conseqüênciada
descobertade
@rsted. Apesar dos aspectos estranhosdo
efeito
descritopor
@rsted, os pesquisadoresfe-lizmente
não se fecharam em sua incredulidade. Não houve a repetiçãodo
episódio dos astrônomos que se recr¡saram aolha¡
pelo telescópio de Galileo por estaremsegu-ros da impossibilidade de existência das.luas de
Júpiter.
Em Paris, ao desc¡ever otra-balho
de @rsted, Aragofoi
imediatamente desafiado a repetir as experiências diante daAcademia, e assim
o
fez, na semana seguinte(ll19ll820).
Area@o
foi
de espanto econsternação. O
efeito
descritopor
@rsted existia, e eratal
e qual havia sido descrito.Algo
semelhante ocorreupor toda
parte. Os cientistas que dispunham de bussolas e baterias voltaicas puseram-sea repetir
e
confìrmar todos os detalhes das experiên-ciasde
@rsted. Nas semanas seguintes, as sociedades cientiïicas mais importantes daEuropa
discutiramo
fenômeno.Em pouco tempo,
@rsted se tornara famoso. Aindaem 1820, foram
publicadas traduções de seuprimeiro
trabalho sobre eletromagnetis-mo em inglês, alemão, italiano e dinamarquês (@RSTED, 1820a).A
rápida difusão e reconhecimento da importância do trabalho de @rstedfoi
umafaca de dois
gumes.Por um lado,
o
fì'sico dinamarquês, até então pouco conhecidono
exterior,
obteve famamundial,
e estabeleceu sua prioridade (depois questionada, como será descrito na Seção8)
sobre a descoberta do eletromagnetismo. Poroutro
la-do,muitos
outros pesquisadores, alguns com melhores laboratórios e recursos de todosos tipos,
puseram-se imediatamentoa
pesquisaro
assunto.o
resultadofoi
a
rápida superaçãodo
trabalho
de @rsted. Seu nome cedo tornou-se apenaso
do
descob¡idor"casual"
de um efeito qualitativo, cabendo omérito
do desenvolvimento das leis mate-máticas do eletromagnetismô a Ampère e outros.Antes,
porém,
dediscutir
os trabalhosde outros
autores, é importantecitar
queprsted
publicou ainda em 1820, dois meses apóso
primeiro trabalho, um segundoar-tigo
(@RSTED,1820b) em
que descreve novas experiências. Nesseartigo,
ainda deforma
puramente qualitativa, ele mostra que alei
de ação e reação é válida para a inte-ração entreo
fio
condutor
e o i'mã: da mesma forma que a corrente elétricafaz
gfuar aagulha magnética,
um
ilmã em posição adequada produz sobreo
conduto¡
um torqueoposto,
que tendc também a girá-lo. Essa verificação era indispensável, dados oslO6
Roberto de Andrade Martins7
DESEIWOLVIMENTOS POSTERIORESDescrever
a
seqüência de trabalhos detonada pela descoberta de @rsted seria esboçar toda ahistória do
eletromagnetismo-
o
que nâ'o é o objetivo desie estudo. l,{as é im-portante citar os primeiros desses trabalhos.rincípios da filosofia newtoniana, ¡eduzi o fenômeno obserrado por
@rs-age* lgT-qr:_ag longo da reta que une as duas partículas entre as quais são rças', (AtvIpERE, I 825).
Em
seumodelo,
Ampère basicamente transportaa
rotação,do
campo magnético dofio
condutor, para as correntes invisiîeis dentro do imâ..Qrsted e a Descoberta do
Eletromagnetismo
107deu-se que e1a dependia não só do sentido da corrente, mas também do modo como o
fio
e¡a enroladoà volta
da agulha). Seguindo uma sugestão de Ampère, Aragocons-truiu
solenóides dextrógiros e sinistrógiros, e mostrou que com eles eraposiîel
iman-tar
fortemente as agulhas de aço (1611011820). As posições dos pólos podiam ser pre-vistas como auxilio
da teoria de Ampère (AMPÈRE, 1820b).Duas semanas depois
(30/10/1820), Biot
e Savart comunicam à Academia a medidada força
magnéticaproduzida
pelas correntes elétricas sobre uma agulha imantada(ARAGO,
1820b). Eles mostram que essa forçaé
onal à distân-ciado
fio.
É, interessantenotar
que, na versãopos
pelos autores(BIOT
&SAVART,
1823), eles defendem aposiçã
ã de Ampère: "Essa hipótese[de
Ampère], queatribuiria
a correntes fluidas uma propriedade dea-tração depende
de
suas direções serem diferentesou
semelhantes, é, emprimeiro
lu-gar, completamente estranha às analogias apresentadas por todas as outras leis de atra-ção".Biot
e Savart consideram a interação entre correntes elétricas e ímãs como umfenô-meno complexo,
do
seguintetipo:
a corrente elétrica atuaria sobreo
materialdo
fio
condutor, nele criando uma
disposição complexade pólos
magnétìcoscom
caráterrotacional;
esses imãs,por
sr¡ÍI vez, atuariam sobrea
agulha magnética. Para tornarplausiîel
essaidéia,
apresentamuma
comparaçãocom o
fenômenode
polarizaçãorotatória,
profundamente estudado pelo mesmoBiot
nos anos anteriores. Nestefenô-meno,
observa-se que,-emum
meio aparentementeisotrópico
(uma solução de subs-táncias orgánicas,por
exemplo),o
plano daluz
polarizada sofre uma rotação, emsen-tido
determinado. Ora,a
aparente quebra desimetria
desse fenômeno é semelhante à que ocorre no caso do campo magnético da corrente elétrica, e por isso pareciaa Biot que não havia nada de fundamentalmente estranho na proposta de prsted.Como
já foi
citado
acima,outros
fì'sicos,como
Wollaston, aceitarama idéia
do campo magnético giratório emtorno
dofio
condutor.
Faraday também a aceitou, con-siderando que a ação entre correntes (que Ampère defendia como ações simples) era na verdadeum efeito
composto e complexo. Em defesa dessa sua opinião, Faradaya-presentou não apenas as belas experiências em que exibia a rotação de um imã em
tor-no
de
uma corrente elétrica(FARADAY,
1821), mas também argumentos de outrostipos:
em todos os fenômenos elétricos e magnéticos atéentlo
conhecidos, os iguais serepeliam e os opostos se atraiam;mas, nos fenômenos estudados por Ampère,ocorria
o
oposto: correntes de igual sentido se atraiam, e de sentidos opostos se repeliam. Para Faraday, isso seria umaforte
indicação de que se tratava de um fenômeno complexo. Faraday tambémindicou
que a posição dos pólos' em um ímãcirhdrico
não é equiva-lente à posição dos pólos de um solenoide percorrido pela corrente elétrica, o que mos-trava queo
modelo de Ampère não eraperfeito.
o
artigo de Faradayfoi
traduzido epublicado
nos Annslesde cltimie
et
Physique, acompanhadopor
uma extensa sériede
notas anônimas que sabe-se seremde autoria de
Ampère. Nessas notas, Ampère procura mostrar quetodos
os fenômenos descritospor
Faraday podem ser explicadospor
sua
teoria, e tenta
respondera
seus argumentosteóricos (AMpÈRE,
lg2lb).
Durante alguns anos, houve umaluta
entre os dois tipos de interpretação dosfenôme-108
Roberto
de Andrade Martinsnos eletromagnéticos; depois de certo tempo,
no
entanto, acabou-se por perceber queos
dois
tipos de
abordagem eram igualmente possiîeis,e
davamconta
detodos
os fenômenoss .8
PRIORJDADES: QRSTED OU ROMAGNOSI?recia
desdeo
inibio
pender parao
ladodo
"Físico
deTrento",
uma, vez que sr¡asex-sado
(HAMEL,
1860),
o autot
informa
que Romagnosi 1802; que,durante
1802 e 1803, @rsted esteve em Paris,Aldini
(um
dos divulgadores da descoberta de Romagnositeóricas.
sPoisrorr, por excmplo, opunha-se fortemente às idéias de Ampère, mantendo a antiga idéia dos
fluidos magnôticos. Em artilos sobre o magnetismo posteriores l9l_tltal¡^oj.fundamentais de
Qrsted e a Descoberta do
Eletronwgtetismo
109Desde o
final
do século passado, Romagnosifoi
esquecido até mcsmo pelos historia-dores da ciência;mas, recentemente, sua ptiôridadefoi
recordada. Aúltima
edição daEncyclopøedia
Britannica (ao contrário
das edições anteriores)cita
seu nome como predecessor de @rsted na descoberta do eletromagnetismo, aflrmando: "Este fenômeno haviasido
descoberto primeiramente pelojurista italiano
Gian Domenico Romagnosiem
1802,
mas sua comunicaçãofora
ignorada" (MICROPAEDIA,
y.'7,
p.596)6.
Na verdade, como
já foi
indicado, a comunicação de Romagnosi não havia sido ig-noráda.Além
disso, como se verá mais adiante, Romagnosi parece não haverdescober-to
o
mesmo fenômeno descrito por @rsted. A história é interessante, e merece ser con-tada.Gian Domenico Romagnosi nasceu em Salso-Maggiore
a
13 de dezembro de 1761 ,falecendo
em Corfu
a 8
dejunho
de 18357. Advogado, escreveu enorme número cleobras. O
primeiro
de seus livros a alcançar grande projeçãofoi
"Genesi deldiritto
pe-nale"
(1791), traduzido
eutilizado
em vários pai'ses europeus. Suas obras completas, publicadas em Florença de 1832 a 1835, abrangem 19 volumes, e foram reeditadas ou-tras duas vezes, o que mostra o interesse de sua obra, na época.De
I79l
a
L793, Romagnosifoi
pretor (chefe da justiça) em Trento, e mesmo após desligar-sedo
cargocontinuou
umafigura
de destaque na políticalocal. Em
7796 oTirol foi
dominado pelos franceses; em 1799retornou
à dominaçãoavlíaca,
e então Romagnosifoi
acusadode
delito
de
Estado, durante a ocupação francesa. Preso emInnsbruck
durante 15 meses,iniciou
na prisão, como passatempo,o
estudo da fisica, realizando experiências com a recém-descobertapiiha
deVolta.
Sua inocênciafoi
porfìm
reconhecida, e seu nome reabilitado. Pouco depois, em 1801 , como retorno
dos franceses,foi
eleito
Secretáriodo
Governo Provisório, emTrento.
A
3
de agosto de1802,
Romagnosipublicou
em umjornal
local,a
Gazzettadi
Trento,
uma curta des-crição sobre suas experiências a respeito da relação entre a corrente elétrica e omagne-tismo.
É a esse trabalho que se referem lzann eAtdini.
Mais adiante será fornecida uma tradução dessa comunicaça-o.A
partir
de dezembro de 1802, Romagnosi obteve uma colocação como professorde
Dreito
em Parma, lecionando posteriormente em Pavia e Milano. Por várias vezesfoi
conselheiro de Estado e colaborou naelabora$o
da legislação italiana. Em 1833foi
eleito como membro
estrangeiroda
Ac¿demia de Ciências de Paris,o
que atesta sua projeça-o internacional comojurista.
Embora não tenha publicado qualquer obra sobre fi'sica, nota-se que interessava-se bastante pelas ciências exatas, havendo publicado o-bras como "Delf insegnamentoprimitivo
delle matematiche" (2 vols., Milano,l82l-2),
"Vedute fondamentali sull'arte
logica"
(Milano,
1832) e artigos sobre estati'stica nosAruali
diStatistica.
Tudo isso mostra queo
presumido antecessor de @rsted não era6Além
desta menção no verbete anônimo "@rsted", encontram-se também ¡eferências
seme-ihantes nos verbetes "Electromagnetic radiation" (Macropaedia, v. 6 , p. 647) e "Magnetism" (i dem,
v. 11, p. 311). Seus respectivos auto¡es não são lústo¡iadores, e sim físicos: M. Phillips e B. Bleaney. TNfuitas
enciclopédias trazem
ver
utilizamos principalmente as informa-@es biográficas de: HOEFER,ly'¿¡¿
loped¡a ltaliana; c DI GIORGI ,Cenni-Hd um liv¡o de Ccsare CanÌù,
Vita
,
1835) que parece ser a sua melho¡ biografia, e que infelizmente não pudemos consultar.ll}
Roberto
de Andrade Martinsum
.,João-ninguém", em sua época, mas um intelectual de amplos interesses e bastante respeitado internacio nalmente.Vejamos agora a
descrigo
da experiência de Romagnosi, publicada na GazzettadiTierto.
da corrente.
"Fcito isso, tomou uma agulha imaltada o¡din:ária, do tipo de uma bússola náutica, que es-tava montada dent¡o de uma caixa de madeira quadrada, e, levantando o vidro que a cobria, colocou-a sobre um isolador de vidro, próxima à pilha acima citada.
,.Tomou
entlo
a cor¡ente de ptata, segurando-a pelo tubo de vidro descrito acima, e apli-cou sua cxtrcmidade ou botão À agulha magnética; mantendo-a em contacto pelo espaço depoucos
segun
adireçâo
Retirando acoÍen-ie
deprata,
nadireç
fora dada' Aplicounovamente
a.
,fazendo
inda mais da direçãopolar, obtendo sempre que a agulha permanecesse no lugar em que a havia deixado; de tal modo que a polaridade [tendência a adotar a direçdo polar] ficava completamente amorte-cida. Pira
uoin.at
depois ainda melhor esse resultado, aproximou à agulha imantada, àmaior proximidade possível (mas sem tocá-la) , ora um pedaço de mola de relógio, ora outros
instrurñentos de feiro, os quais inicialmente [antes da aplicação da co¡rente de p¡.ata à agulha imantadalatrâiam foilemente a própria agulha a uma diitáncia quatro vezes maior; mas, sob a ação galvánica, êles não tive¡am
o
poder de movèla sequer um fio dc cabelo. "Para recuperar depois a polaridade, eis comoo
senhor Romagnosi operou. Com ambasas mãos, ele prendeu entrc o polegar e o indicador a ext¡emidade da caixinh¿ de madeira isolada, sem sacudi-la, e a manteve assim por alguns segundos. Então viu*e a agulha imanta-da mover-se lentamente, e recob¡ar a polaridade, não de uma só vez, mas
pol
pulsações.sucessivas, de modo semelhante ao ponteiro de um relógio
que indica os segundos. ês de Maio, e foi
r
também facilmens
de seda banhadoprendeu a uma caneta de vidro; aproximou então a acima citada cor¡ente de prata ao fio, a
uma distância de cerca de uma linha [cerca de 2mm] e viu o
fio
voal etocff
o botão dacorrente e de¡rois recuar, como nas experiências elétricas.
6De acordo com Cesa¡e Cantì (apud DI GIORGI, Cenni),enconttou-se ent¡c os manuscritos de Romagnosi uma dissertdção "Sul yento caldo d'Innspruck", que se¡ia a memória cit¿da neste
último parágrafo. Essa dissertação não
foi
reproduzida nas Obras de Romagnosi, e permaneceinédita. Se ainda existir, será um documento precioso para eluqidar melho¡ a interpretação do
Qrstede aDescobertado
Eletromagnetismo
Ill
eE-
uma nota de rodapé da versão francesa de DAVY,1821, o editor (Joubert) também in-terp¡eta o efeito obse¡vado por Romagnosi como punmente elet¡ostdtico.
ll2
Roberto de Anclrade Martitts@rsted jamais comentou as acusações de
pligio
e as sugestões relativas a Romagnosi.As
discussões de prioridadeforam
realizadasà
sem pertur-bá-lo, e certamentJ sem prejudicar suareputação
riassbcieda-des
e
academiascientificas
européias,e
em,18
triunfal
porBerlin,
Munique, Paris,I¡ndres
e Edinburgo.Ao
retornar,
fundou na Dinama¡ca uma Sociedade parao
Desenvolvimentodo
Estudo da Ciência, provavelmente inspirada naBritish
Associationfor
the
Advancementof
Science. Em 1828foi
nomeadoconselhei-ro
de Estado (tornando-se depois conselheiro pessoaldo
Rei).
No ano seguinteconse-guiu obter a funda$o da
Escola Politécnicade
Copenhagen-
um
de
seus velhos sonhos-
que passou adirigir.
Em
1850 recebeu, comoúltima
honraria, pouco antes de suamorte,
a possetlo
Castelo de Fasanhof.prsted
faleceu em Copenhagen, a 9 de março de 1851.AGRADECIMENTO
-
Estetrabalho contou com o
apoiodo
Conselho Nacional de DesenvolvimentoCientlfico e
Tecnoló$co (CNPq),
cuja
permanenteajuda
a
meutrabalho
desejo agradecer.Sou também
reconhecidoà firma
dinamarquesa Bang&
Olufsen a.s., quegentilmente
forneceu para
a
rcalizafio
dopresentetrabalho
umacopia
do
livro
de FRANKSEN(Qnte$,
quefoi
extremamenteútil
-
principalmente nos aspectos biográficos.LISTÀ BIBLIOGRÁFICA
I
AMPÊRE, A.M. Mémoi¡e présenté à I'Académie Royale des Sciences, le 2 octobre 1820, où setrouve comprie le ¡6umé de ce qui avait été
lu
à la même Académie le 18 et 25 septembre 1820, su¡ les effets des courans électriques. Annales de Chimíe et Physiquel2l
15:.59-76,1 820(a).
2
-
. Suite du mémoirc sur I'action mutuelle entre deux courans électriques, entre un courarit électrique
et
un
aimant ou le globe tenestre, et entre deux aimans. Annales de Chimie et Physique [2]l5:
170-218, 1820(b).3
-
. Lett¡e de M. Arnpère à M. Arago. Annoles de Chimie et
Physiquel2l16:ll9-29,I82I
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. Notes relatives au mémoi¡e de M. Faraday. Annales de Chimie et Physique [2] 18:370-9,
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6
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. Note sur le magnetisme de la pile de Volta. AnnøIes de Chimie et mysique
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15:. 222-3, I 820(b).9
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BIOT,J.B.&Savart,F.Su¡l'aimantationimpriméeãuimétauxparl'électricitécnmouvement, hécis elémentaire de Physique,3.cd., Paris, 1823,v.2,p.7}
;reproduzido em: JOUBERT, Collection de métnoires , pp . 80-12'l .Qrsterl e a Descoberta do
Eletromagnetismo
Il3
11t2
l3
t4
15Tradução: JOUBERT, Collection de mé
16 ENCICLOPEDIA Italiana di Scienze, L
and on the theorY
of
magnctism'ido em: FARADAY, ExPeilmental électro-magnéticos et la theorie du
t2l
18: 337i.0, 1821' Tradução reimpressa em: 3.äi;:,!{#€"3{i'!i!f"if'åT^r^1,":;i,'i;?!;,t?"?;
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i.,
"rrui, ayant pour but de c1écomposer 1þau avec un atrî nt' Annales Romagnosi. Em: DI GIORGI' A'i. Milano, Perelli e Mariani' 1842,
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précipitation de I'arsent. Annales de33
lAnnalender Physík 68:208' 1821'34
,i{"";\.^,"',f,x{1,;i:
å¡2,:i:,";å
"rí#rTrTiäi;,
1820;tambémreproduzidocmFRANKSEN,.Qrstecl.]gduções:Expérienccssúrl'cffetdu conflict éiectrique