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Fronteira e reestruturação produtiva na Amazônia brasileira (2003-2013) : um estudo sobre a mudança na hierarquia urbana do município de Araguaína (TO) na Amazônia oriental

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EVALDO GOMES JÚNIOR

Fronteira e reestruturação produtiva na Amazônia

Brasileira (2003-2013): um estudo sobre a mudança na

hierarquia urbana do município de Araguaína (TO) na

Amazônia Oriental.

Campinas

2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

EVALDO GOMES JÚNIOR

Fronteira e reestruturação produtiva na Amazônia

Brasileira (2003-2013): um estudo sobre a mudança na

hierarquia urbana do município de Araguaína (TO) na

Amazônia Oriental.

Prof. Dr. Humberto Miranda do Nascimento – Orientador

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico, área de concentração em Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Econômico, área de concentração em Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL

DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO

EVALDO GOMES JÚNIOR E ORIENTADA PELO PROF. DR. HUMBERTO MIRANDA DO NASCIMENTO.

CAMPINAS 2015

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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

EVALDO GOMES JÚNIOR

Fronteira e reestruturação produtiva na Amazônia

Brasileira (2003-2013): um estudo sobre a mudança na

hierarquia urbana do município de Araguaína (TO) na

Amazônia Oriental.

Defendida em 23/02/2015

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Para meus primeiros mestres: minha mãe, Zeile; e meu pai, Evaldo.

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AGRADECIMENTOS

À Unicamp e à Capes, por permitirem que eu tenha mantido meus estudos em uma universidade pública. Enquanto isso ainda for exceção, será necessário o agradecimento. Também agradeço à Capes pela concessão de uma bolsa de estudos pelo período de 24 meses.

A todas as professoras e professores que conheci na Unicamp e que tiveram uma grande influência em minha formação acadêmica. Agradeço especialmente meu orientador Humberto Miranda, pela contribuição em minha formação acadêmica, pela paciência ante meus deslizes e pela amizade. Ao professor Fenando Macedo, tanto pelas críticas, que enriqueceram minha dissertação e minha formação acadêmica, quanto pela amizade que temos. Ao professor Wilson Cano, por sua resistência em manter uma boa formação acadêmica no Instituto de Economia. À professora Mariana Fix, pelos comentários feitos em meu exame de qualificação. Aos professores Vicente Eudes Alves e Carlos Toledo pela esclarecedora disciplina ministrada no Instituto de Geociências. Também agradeço ao professor Carlos pelas tardes de discussão sobre Marx, Ricardo e Smith. Aos professores da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp, André Campos e Marcos Barbieri, pela oportunidade de fazer estágio em docência em suas disciplinas.

À banca avaliadora, que além dos já citados Humberto Miranda e Fernando Macedo, foi completada pela professora Karina Oliveira Leitão. Agradeço a ela pelos comentários e por levar uma boa discussão em sua arguição. Agradeço também o membro suplente da banca, professor Roberto do Carmo, pela presença na defesa e pelos comentários feitos.

Às companheiras e companheiros de jornada no Instituto de Economia, e também aos que conheci no Instituto de Geociências, muito obrigado pela convivência. Agradeço especialmente algumas pessoas: Bia Mioto, Pietro Aruto e Lilian Pellegrini, companheiros de apartamento; Armando Fornazier, Felipe Quagliato e Lucas Lima, que estão entre as primeiras pessoas que conheci em Campinas, na primeira república em que morei; Bruno Spadotto, Carlos Eduardo Nobre, Carol Pereira, Carol Bueno, Débora Lima, Edinalva Felix, Lima Jr., Patrícia Andrade e Raphael Curioso, ótimas e ótimos companheiros de boteco; Ana Paula Biachi, Carlos Penha, Mariana Magalhães e Raul Ventura, amigos que conheci no CEDE; Camila Lins, Cassiano Trovão, Gustavo Cavarzan, Juliana Bacellar, Luciana Portilho, velha guarda do Instituto de Economia que conheci por intermédio da Bia. À linda Rebecca Gendler, que já me aturou algumas vezes em Sampa.

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Àqueles que conheci de forma indireta, fora das salas da Unicamp, mas que também sou muito grato por tê-los comigo. Ao Carlos Mioto e Regina Mioto. A minha amiga [Graci]lene dos Santos, pelas conversas, pela confiança e pela convivência junto a sua família que, além do já citado Fernando Macedo, é completada por seus dois filhos, Marco Antônio e Júlio Cézar.

Aos que sempre recordo quando estou longe do Tocantins. A meus amigos que conheci na Universidade Federal do Tocantins. A minha comadre Mariza Ramalho, a meu afilhado André, Bruno Cícero, Wesley Cardoso e Railene Veloso. À baianinha Milena Oliveira, que ainda me deve uma visita. A meus familiares que sempre me incentivam a estudar. Agradeço, principalmente, meus pais, Evaldo e Zeile, pela cumplicidade entre ambos, e pelas consequências disso em minha vida. A minha irmã caçula, Haline, pela preocupação de sempre. A seu companheiro, e meu amigo, Dóris Júnior. A meus demais irmãos, primos e primas, tias e tios, avô e avós, pela confiança de sempre. Enfim, a todas e todos os amigos.

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Quem é esse menino negro Que desafia limites? Apenas um homem Sandálias surradas Paciência e indignação Riso alvo Mel noturno Sonho irrecusável Lutou contra cercas Todas as cercas As cercas do medo As cercas do ódio As cercas da terra As cercas da fome As cercas do corpo As cercas do latifúndio. Trago na palma da mão Um punhado da terra que te cobriu. Está fresca. É morena, mas ainda não é livre Como querias.

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RESUMO

A presente dissertação tem como objetivo geral analisar a centralidade da cidade de Araguaína, no estado de Tocantins, na borda oriental da Amazônia. A análise concentra-se nas transformações produtivas regionais, por meio da expansão da fronteira do capital. Para tanto, considera-se como hipótese que o processo recente da expansão da fronteira agromineral, entre 2003-2013, realça a importância das cidades intermediárias como catalizadoras dos principais processos econômicos em curso. Desse modo, a pesquisa articula o papel das cidades de Araguaína (TO), Marabá (PA) e Imperatriz (MA) com as formas mais dinâmicas de desenvolvimento capitalista nas áreas de expansão da fronteira nacional, em função do fortalecimento do segmento exportador de commodities, especialmente, a agricultura moderna e a extração mineral. Além de apresentar a análise de alguns dados estatísticos e fazer uma breve discussão teórica sobre o processo de transformação produtiva da fronteira na borda oriental da Amazônia, argumenta-se que a centralidade de Araguaína logo emerge com o avanço dessa fronteira, sendo exercida de modo compartilhado com as cidades de Imperatriz e Marabá sobre a região de influência. A partir disso, analisa-se a expansão de alguns setores produtivos, de comercialização, de serviços, das formas de integração com outras regiões, os reflexos Demográficos e a maneira como o Estado operou no incentivo à essa expansão econômica, com rebatimentos importantes sobre Araguaína. Chega-se, portanto, ao entendimento de que, apesar dessas cidades terem passado por uma importante diversificação do setor terciário, com destaque para Araguaína, as bases especializadas de geração de valor impedem um desenvolvimento econômico maior para aquela região.

Palavras-chave: fronteira do capital, centralidade regional, cidades intermediárias, Araguaína (TO).

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ABSTRACT

This present dissertation has as main objective to analyze the centrality of the city of Araguaína in the state of Tocantins, on the eastern edge of the Amazon forest. The analysis focuses on regional productive transformations through the expansion of the capital frontier. Therefore, it is considered as hypothesis that the recent process of expansion of agromineral frontier, between 2003-2013, emphasize the importance of intermediate cities as catalysts of the main economic processes underway. Thus, the research focuses on the role of cities Araguaína (TO), Marabá (PA) and Imperatriz (MA) with the most dynamic forms of capitalist development in the areas of expansion of the national frontier, due to the strengthening of the exporting sector of commodities especially modern agriculture and mineral extraction. Besides presenting an analysis of some statistical data and make a theoretical discussion of the productive transformation process of the frontier on the eastern edge of the Amazon forest, it is argued that the centrality of Araguaína soon emerges with the frontier advance, being exercised in a partnership with the cities of Imperatriz and Marabá on the area of influence. From this, is analyzed the expansion of some productive sectors, commerce, services, forms of integration with other regions, the demographic consequences and how the state operated in encouraging this economic expansion, with important repercussions on Araguaína . One arrives, therefore, to understand that, despite these cities have gone through a major diversification of the tertiary sector, especially Araguaína, specialized productive bases prevent further economic development to the region.

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Índice de Tabelas

Tabela 01. Participação (%) de lavouras temporárias e permanentes no total das áreas dos estabelecimentos agropecuários – Brasil e grandes regiões ... 15

Tabela 02. Participação (%) de pastagens plantadas no total das áreas dos estabelecimentos agropecuários – Brasil e grandes regiões ... 15

Tabela 03. Participação (%) de matas naturais no total das áreas dos estabelecimentos agropecuários – Brasil e grandes regiões ... 16

Tabela 04. Participação (%) de pastagens naturais no total das áreas dos estabelecimentos agropecuários – Brasil e grandes regiões ... 16

Tabela 05. Média da área dos estabelecimentos agropecuários em hectares– Brasil e grandes regiões ... 17

Tabela 06. Média da área dos estabelecimentos agropecuários em hectares– estados da região Norte ... 17

Tabela 07. Número de municípios por tamanho da população – região Norte ... 20

Tabela 08. Taxa média geométrica (%) de crescimento Demográfico anual para municípios por classes de tamanho da população – vários cortes espaciais ... 22

Tabela 09. Taxa média geométrica (%) de crescimento Demográfico anual para cidades por classes de tamanho da população – vários cortes espaciais ... 23

Tabela 10. Porcentagem (%) da população dos municípios por classes de tamanho da população – região Norte ... 27

Tabela 11. Participação (%) do valor adicionado dos setores e da arrecadação de impostos no Produto Interno Bruto dos municípios... 36

Tabela 12. Evolução da população dos conjuntos de municípios inseridos nas regiões de influência das capitais regionais ... 37

Tabela 13. População dos municípios e taxa média geométrica (%) de crescimento demográfico anual entre os censos. ... 38

Tabela 14. Taxa média geométrica (%) de crescimento Demográfico anual entre os Censos Demográficos... 40

Tabela 15. Pessoas que em 2010 residiam há menos de 10 anos ininterruptos no município por lugar de residência anterior... 41

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Tabela 16. 20 maiores saldos migratórios absolutos dos municípios do estado do Tocantins entre 2003 e 2013 ... 43

Tabela 17. Valor das exportações dos 10 municípios com maior participação percentual na pauta exportadora do estado do Tocantins em 2013* ... 47

Tabela 18. Principais atividades em Araguaína segundo o número de vínculos formais ... 48

Tabela 19. Número de vínculos formais no município de Araguaína por setor da economia – exceto administração pública... 51

Tabela 20. Participação relativa (%) dos vínculos formais no município de Araguaína por setor da economia – exceto administração pública ... 51

Tabela 21. Taxa média geométrica (%) de variação anual dos vínculos formais no município de Araguaína entre 2000 e 2012 – exceto administração pública ... 52

Tabela 22. Participação (%) de Araguaína no Produto Interno Bruto do estado do Tocantins, na arrecadação de impostos sobre produtos e no valor adicionado dos setores ... 54

Tabela 23. Participação percentual (%) do PIB, a preços correntes, das microrregiões geográficas selecionadas, no PIB da região Norte ... 55

Tabela 24. Participação percentual (%) do PIB, a preços correntes, das microrregiões geográficas selecionadas, no PIB de suas respectivas unidades da federação ... 56

Tabela 25. Pessoal ocupado em estabelecimentos agropecuários ... 61

Tabela 26. Taxa média geométrica (%) de variação anual do pessoal ocupado em estabelecimentos agropecuários ... 62

Tabela 27. Número de tratores existentes nos estabelecimentos agropecuários (unidades) 62

Tabela 28. Taxa média geométrica (%) de variação anual do número de tratores nos estabelecimentos agropecuários ... 62

Tabela 29. Participação relativa (%) dos estados no crédito rural de todas as fontes para a pecuária – 2012 ... 65

Tabela 30. Participação relativa (%) dos estados no crédito rural de todas as fontes para a agricultura – 2012 ... 66

Tabela 31. Participação relativa (%) do município de Araguaína no montante de crédito rural ofertado no estado do Tocantins – Pecuária ... 67

Tabela 32. Participação relativa (%) do município de Araguaína no montante de crédito rural ofertado no estado do Tocantins – Agricultura ... 68

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Tabela 33. Participação relativa (%) do município de Araguaína no montante de crédito rural ofertado no estado do Tocantins – Total ... 68

Tabela 34. Participação relativa (%) do estado do Tocantins no montante de crédito rural ofertado no Brasil ... 69

Tabela 35. Investimentos aplicados e previstos no Tocantins por meio PAC em milhões de reais ... 75

Tabela 36. Investimentos aplicados e previstos no Tocantins por meio do PAC em transportes em milhões de reais ... 75

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Índice de Figuras

Figura 01. Biomas e armazéns de grão no Brasil em 2010 ... 25

Figura 02. Região de influência de Manaus segundo dados de 1973 ... 28

Figura 03. Região de influência de Belém segundo dados de 1973 ... 29

Figura 04. Municípios importantes que compõem a borda amazônica. ... 30

Figura 05. Armazéns de grão e usinas de álcool no Brasil em 2010 ... 64

Figura 06. Plano de expansão ferroviária no Brasil – destaque para o trecho do extremo norte da ferrovia Norte-Sul ... 74

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Índice de Gráficos

Gráfico 01. Crédito rural concedido no Brasil entre 1969 e 1979 ... 58 Gráfico 02. Crédito rural concedido no Brasil entre 1980 e 2002 ... 58 Gráfico 03. Crédito rural concedido no Brasil entre 2003 e 2012 ... 59

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Índice de Quadros

Quadro 01. Algumas referências teóricas sobre o estudo de fronteiras econômicas ... 8

Quadro 02. Municípios que demandam insumos agropecuários em mais de uma cidade nas regiões de influência de Araguaína, Marabá e Imperatriz ... 39

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 1

CAPÍTULO 01 – A URBANIZAÇÃO NA FRONTEIRA DO CAPITAL E AS CIDADES NA EXPANSÃO CAPITALISTA ... 7

1.1 A fronteira do capital e sua manifestação urbana ... 7 1.2 Evolução urbana na Amazônia ... 19 1.3 O fortalecimento da centralidade de Marabá, Imperatriz e Araguaína ... 32 Considerações parciais do capítulo primeiro ... 43

CAPÍTULO 02 - AS FUNÇÕES DA CIDADE PARA A AGROPECUÁRIA MODERNA: CONSIDERAÇÕES SOBRE AS CIDADES INTERMEDIÁRIAS DA FRONTEIRA DO CAPITAL E O CASO DE ARAGUAÍNA ... 45

2.1 Fatores de diferenciação econômica de Araguaína ... 45 2.2 Crédito rural e modernização agrícola... 56 2.3 Planejamento e modernização da infraestrutura logística ... 69 2.4 Cidades dinâmicas e modernização agrícola ... 76 Considerações parciais do capítulo segundo ... 79

CAPÍTULO 03 – A CENTRALIDADE URBANA NAS ÁREAS DE FRONTEIRA: AS

ESPECIFICIDADES DE ARAGUAÍNA-TO NO CONTEXTO DE

SUBDESENVOLVIMENTO ... 81 3.1 Aspectos da urbanização no capitalismo e suas implicações nos países periféricos ... 81 3.2 Subdesenvolvimento e urbanização na fronteira do capital ... 85 3.3 O lugar das cidades intermediárias no atual contexto de acumulação ... 91 Considerações parciais do capítulo terceiro ... 95 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 97 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 101

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INTRODUÇÃO

A fronteira de expansão do capitalismo sempre foi alvo de estudos nas ciências sociais. Suas características atuais continuam a chamar nossa atenção. Urbanização acelerada e forte expansão de base especializada são duas das principais. Afirmar que ainda existe fronteira é considerar que nem o subdesenvolvimento foi superado em nosso país, e muito menos que nosso processo de integração nacional está consolidado. São duas faces da mesma moeda: não completamos nosso projeto de nação no âmbito do sistema capitalista.

Uma fronteira do capital numa época tão avançada do desenvolvimento capitalista torna-se uma síntese muito fiel de todos os mecanismos de manutenção de nossa economia periférica. A acumulação primitiva, como a grilagem e a superexploração da mão-de-obra, além da apropriação dos fundos públicos, resulta do subdesenvolvimento e é encontrada em todas as partes do país. Mas expandir o uso do território com a permanência desses mecanismos mostra o quanto estes são funcionais para a manutenção do poder de nossas elites. Buscam-se novas terras com velhas (e também novas) práticas.

Expandir a fronteira com esses mecanismos é admitir que ainda há espaço para mantê-los. É admitir também que nossas elites muito perdem caso os mesmos desapareçam. É importante assumir que, mesmo com o surto de modernização das forças produtivas e dos padrões de consumo e com a intensificação da urbanização na região de fronteira, encontram-se novas formas ou mantém-se velhas práticas de espoliação da força de trabalho, de apropriação fácil dos recursos do estado, dada a forma dependente da inserção externa brasileira.

Nos últimos anos, assistiu-se a uma expansão da produção agrícola voltada para o mercado externo e da extração mineral e vegetal para o mesmo fim. Os preços das commodities passaram por um período de valorização (inclusive fictícia) que garantiu altas receitas para os produtores e para a indústria montada em torno desses setores. Espacialmente vimos mudanças importantes na configuração socioeconômica da fronteira. Esta teve que incorporar as características dessa modernização produtiva. Por exemplo, mesmo com uma agricultura mais mecanizada e com menos mão-de-obra, as cidades que atendem a essa produção passaram a oferecer uma rede de comércio e serviços voltados para montar a atual plataforma espacial de produção.

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2

É aqui que entra a importância das cidades intermediárias1 nesse contexto. São elas que melhor propiciam uma internalização mais adequada de necessidades da agricultura e da mineração atualmente em expansão econômico-espacial? Lembremos que estamos tratando de uma região, a Amazônia, que, até há bem pouco tempo, era considerada isolada economicamente e com uma rede urbana pouco adensada. Dessa forma, a emergência de cidades intermediárias em áreas de fronteira como a da Amazônia Oriental pode ser assimilada, pois, por um lado, muitos municípios dessa região não terão condição alguma de exercer individualmente qualquer tipo de influência regional por causa das precárias condições econômicas que os caracterizam; e, por outro lado, os mesmos municípios dependem dos condicionamentos econômicos ou das relações de produção que emanam daquelas cidades que exercem, de fato, e em alguma medida, uma centralidade naquele contexto regional e urbano.

É sob esse movimento de expansão acima descrito que buscamos entender o papel que as cidades intermediárias têm no atual contexto de expansão da fronteira. Nesse sentido, Bertha Becker (2013, p. 18) chama a atenção para a maneira como as cidades influenciam na dinâmica do desenvolvimento da região. Segundo sua hipótese, as cidades devem ser entendidas como o espaço em que se encontram os requisitos necessários para a criação de trabalho novo que, segundo a autora, “é trabalho de desenvolvimento: além de promover o crescimento da economia, ainda cria novas divisões de trabalho capazes de mudar essas últimas características”. Portanto, são essas cidades dinâmicas que garantirão o desenvolvimento de determinada região. São cidades que possuem uma estrutura produtiva e econômica mais diversificada2.

De forma mais esquematizada, o objetivo geral desse trabalho é analisar a centralidade da cidade de Araguaína, situada no Estado do Tocantins, na borda regional da Região Amazônica. Para alcançá-lo, foi necessário estabelecer alguns objetivos específicos. Partimos da análise da dinâmica dos capitais que incidem sobre Araguaína e sua região de influência imediata, com ênfase na base regional de geração de valor. Analisamos, também, os mecanismos da ação estatal na região e como eles contribuíram para o fortalecimento da

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Para além dos aspectos Demográficos, que não são descartados, as cidades intermediárias são elos das cadeias de transferência de valor entre regiões; entre pequenas localidades e metrópoles; e entre a produção moderna do campo para as cidades. São cidades que alcançam um nível de centralidade na rede urbana a ponto de estabelecerem uma região de influência. Porém, estão hierarquicamente abaixo das metrópoles.

2

A base da discussão de Becker (2013) está no texto de Jacobs (1975). É importante ressaltar que partiremos das hipóteses de Becker sobre o policentrismo exercido por Araguaína, Imperatriz e Marabá, na borda amazônica, para desenvolver nossas análises sobre as cidades intermediárias na fronteira do capital e, mais especificamente, sobre Araguaína. Ou seja, este trabalho não partirá das teses de Jacobs (1975) sobre a importância das cidades, mas da contextualização de Becker (2013) dessa discussão para o caso da Amazônia.

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competitividade dos capitais ali localizados. Caracterizamos as relações entre a região de influência imediata de Araguaína em duas frentes: relação campo-cidade e hierarquia urbana da região. Nesses dois casos, a análise pauta-se na região de influência imediata, não só a adjacente ao perímetro municipal, mas, principalmente, através de comparações com outras duas zonas de influência: as de Marabá, no estado do Pará e Imperatriz, no estado do Maranhão. Depois, descrevemos os efeitos da expansão econômica sobre os aspectos Demográficos da região e como estes respondem a uma lógica própria e funcional do capital na fronteira ou da “fronteira do capital”. Finalmente, discutimos os efeitos da formação subdesenvolvida sobre as características urbanas do município num contexto de expansão da fronteira.

A nossa hipótese específica é a de que Araguaína (TO) tem manifestado um avanço qualitativo superior às duas outras cidades da Amazônia Oriental acima citadas. Ou seja, na frente pioneira, o município tem condições de continuar a exercer uma centralidade importante diante das transformações em curso. Portanto, a escolha de Araguaína se justifica por apresentar, um ganho relativo maior de desenvolvimento de centralidade e de diversificação produtiva ao longo das últimas décadas. Não que as demais cidades intermediárias aqui consideradas tenham uma estrutura econômica menos consolidada. O que queremos discutir é que, nessa nova fase de avanço da fronteira, Araguaína tem incorporado de maneira mais rápida estruturas econômicas já existentes em outras cidades intermediárias, além das novas estruturas econômicas que passam a ocupar esses espaços simultaneamente.

Para aferir tais processos, a metodologia, por meio de dados secundários disponíveis, buscou caracterizar Araguaína como uma cidade que possui centralidade num ambiente de expansão da frente pioneira do país. Verificamos como a importância das mudanças pelas quais passa sua economia, do ponto de vista da expansão de alguns setores produtivos, de comercialização e de prestação de serviços. Observamos também o crescimento relativamente acelerado de sua população e de sua produção. Esses dados descritivos, aliados às abordagens desenvolvidas por meio do corpo teórico aqui selecionado, nos permitiu realizar análises mais efetivas sobre os padrões de desenvolvimentos das forças produtivas na região estudada e os efeitos que essas bases de geração de valor promovem sobre o espaço regional em questão. Optamos por não descrever de forma mais detalhada as demais cidades aqui consideradas por entendermos que trata-se de ciclos de crescimento da centralidade distintos. Por isso, para o caso

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da expansão mais recente da fronteira agrícola, Araguaína é a que mostra mais claramente seus efeitos.

Em alguns momentos a pesquisa parece que ultrapassaria o recorte temporal e espacial conforme exposto no objetivo geral. Mas todo esse esforço, quando observado em seu conjunto, mostrou a importância de a investigação levar em conta a totalidade dos processos socioeconômicos e espaciais, mesmo correndo o risco cometer imprecisões. Não podemos analisar a centralidade de Araguaína somente por meio da descrição das variáveis selecionadas convencionalmente. O que se espera desse estudo de caso, portanto, é que possamos estabelecer padrões de desenvolvimento produtivo e de espacialização que também sirva a outros casos similares.

Dada a perspectiva adotada, consideramos três eixos temáticos na análise: (i) as atividades econômicas que dinamizam os processos vigentes ao longo do tempo, com base na caracterização econômica regional, (ii) a composição do setor terciário e suas formas de diversificação, através da qual buscamos relacionar base regional de geração de valor com a urbanização em curso na região de fronteira e (iii) a dinâmica populacional e do mercado de trabalho, buscando, no caso da dinâmica demográfica, tanto as taxas de migração quanto as mudanças na composição da zona rural e urbana. E, no caso do mercado de trabalho, as atividades econômicas que os sustenta.

Não podemos deixar de lado o papel do Estado nos processos produtivos regionais. Os efeitos dos grandes projetos de infraestrutura levadas a cabo pelo Estado ao longo do tempo influem nos três eixos temáticos adotados, haja vista que a apropriação dos fundos públicos é um aspecto estrutural do subdesenvolvimento. Portanto, o papel do Estado entremeará, onde couber considera-lo de modo mais decisivo, a análise proposta.

É importante destacar também que, apesar de nosso objeto ser a cidade de Araguaína, essa é considerada a partir de sua centralidade no território e não a partir de seus próprios dados. Toda a região de influência foi analisada, inclusive outras cidades que também exercem centralidades parecidas na região, como Marabá-PA e Imperatriz-MA. Essa opção veio fortalecer nossos argumentos em torno da “fronteira do capital”. Por vezes também usamos de comparações com outras cidades ou regiões do país, mas a articulação entre Araguaína, Marabá e Imperatriz é estruturante.

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No tocante à periodização, devido à necessidade de caracterizar os diferentes ciclos de inserção da região nos processos gerais de acumulação, começamos pela década de 1960, por causa da construção da rodovia Belém-Brasília nos marcos da proposta de integração regional à época. Porém, o foco central da análise considera as diferenciações do período de 2003-2013, quando há uma intensificação da expansão produtiva e da diversificação do setor terciário, e por ser o período principal de estudo, implicou no seu maior detalhamento.

Além dessa introdução, a dissertação está dividida em três capítulos e as considerações finais. No primeiro capítulo discutiremos os processos históricos que desenvolvem as características econômicas atuais da região de estudo. A base teórica será importante nessa parte para discutir os processos apresentados. No segundo capítulo apresentaremos de forma mais descritiva as características econômicas de Araguaína. Porém, assim como no primeiro capítulo, sempre estaremos discutindo os casos de acordo com os processos mais gerais da economia nacional e internacional. No capítulo três há um esforço mais teórico de estabelecer as bases de expansão urbana no contexto regional subdesenvolvido e seus processos de continuidade e ruptura para o caso estudado.

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CAPÍTULO 01 – A URBANIZAÇÃO NA FRONTEIRA DO CAPITAL E AS

CIDADES NA EXPANSÃO CAPITALISTA

Este capítulo faz uma explanação teórica e histórica dos principais fatores que condicionaram a atual dinâmica da borda amazônica. Para tanto, na primeira parte do capítulo são apresentadas as considerações teóricas que serviram de base para a pesquisa. Na sequência apresenta-se uma discussão sobre as formas recentes de avanço da fronteira, com ênfase em sua urbanização. Para finalizar, são analisados três casos de cidades intermediárias que tiveram suas centralidades ampliadas em consonância com a chegada da agricultura moderna na região.

1.1 A fronteira do capital e sua manifestação urbana

Do ponto de vista teórico-conceitual, há uma extensa bibliografia sobre os processos econômicos, sociais e políticos na denominada região de fronteira interna brasileira. A terminologia utilizada, per si, é digna de um extenso debate. Fronteira agrícola, frente de expansão/frente pioneira, fronteira de expansão, fronteira interna e colonização interna são alguns dos termos utilizados para caracterizar a região móvel de expansão da acumulação capitalista.3 Cada termo anteriormente referido é derivado de conceitos que ora se complementam, ora são contrapostos.

Em geral, os estudos sobre fronteira que servem de base para essa pesquisa têm por aspecto comum o de relacionar o sentido da ocupação territorial, econômica e populacional num

país subdesenvolvido. Dada a articulação com o objeto aqui estudado, serão utilizados os

conceitos de frente pioneira e de fronteira do capital. Martins (1975) descreve “frente pioneira” como o avanço de novas formas de produção e de infraestrutura em espaços considerados vazios, do ponto de vista da acumulação capitalista. Já Corrêa (2006) descreve “fronteira do capital” como a incorporação mais efetiva das regiões Centro-Oeste e Norte, a partir do governo de Juscelino Kubitschek, no processo de integração nacional. Estes dois conceitos, de acordo com nossa abordagem, são os que melhor se adéquam aos processos recentes de ocupação econômica do norte do país.

3

Ver BECKER, B. K. Geopolítica da Amazônia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1982; CORRÊA, R. L. A. Estudos sobre a Rede Urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006; MARTINS, J. de. S. Capitalismo e tradicionalismo. São Paulo: Pioneira. 1975; SILVA, L. M. O. A fronteira e outros mitos. Tese de livre docência. Campinas, Unicamp, 2001.

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Quadro 01. Algumas referências teóricas sobre o estudo de fronteiras econômicas4

Autor Principais Teses Espaço considerado5

Frederick Jackson Turner

Descreveu a marcha para o Oeste estadunidense de forma romântica, nos termos do Destino manifesto daquela sociedade.

Estados Unidos da América no séc. XIX Lígia Maria

Osório Silva

Apresenta as distinções entre a mercadoria terra em contextos de desenvolvimento capitalista subdesenvolvido e desenvolvido.

Estados Unidos da América no séc. XIX e América Latina nos séc. XIX e XX

José de Souza Martins

Apresenta as formas de interação entre a sociedade dominante e os povos tradicionais. Mostra a violência econômica e cultural que a sociedade dominante impõe sobre estes.

Brasil no séc. XX Roberto Lobato

Corrêa

Seus estudos dão prioridade à formação e mudanças na rede urbana amazônica ao longo do tempo. Parte da hinterlândia de Belém até os processos de re-divisão regional da Amazônia.

Amazônia nos séc. XIX e XX

Orlando Valverde e Catharina Dias

Discutem os avanços do poder do Estado sobre territórios isolados por meio da construção de infraestrutura básica aliada a uma estratégia de integração nacional e desenvolvimento econômico.

Centro-oeste e Amazônia na segunda metade do séc. XX

Bertha Becker

Defende um desenvolvimento da Amazônia com ênfase em suas especificidades. Articula, de forma nebulosa, desenvolvimento regional com geopolítica regional (sic).

Amazônia, principalmente na segunda metade do séc. XX, mas também em períodos anteriores José Graziano da Silva

Afirma que já na década de 1970 há um “fechamento” da fronteira, devido às novas ocupações serem feitas, majoritariamente, por especuladores, e não mais por posseiros.

Brasil na segunda metade do séc. XX

George Martine

Discute as mudanças provocadas pela modernização técnica da agricultura a partir de 1970. Dá ênfase à urbanização dos novos espaços de acumulação, resultantes da manutenção da concentração de terras e pela substituição dos posseiros por especuladores nas frentes de ocupação.

Brasil na segunda metade do séc. XX

Antônio Carlos Robert Moraes

Evidencia as estratégias do Estado “territorial” periférico em manter sua hegemonia por meio de um forte domínio dos fundos territoriais. Evidencia também que esta estratégia só pode vir de uma elite nacional associada. Porém, há uma grande dificuldade de estabelecer uma nação num país periférico. Por isso que o território passa a ser central para manter o poder.

Brasil desde o período colonial.

4

Este Quadro busca representar as diferenças e semelhanças entre as abordagens teóricas consideradas no trabalho. Para tanto, duas questões precisam ser esclarecidas. A primeira é que não buscou-se outros autores por não ser pretensão desse estudo a apreensão do “estado da arte” do tema. Elencamos esses autores nesse Quadro como forma de facilitar o entendimento sobre as abordagens aqui discutidas. Também devemos esclarecer que, e mostraremos ao longo do texto, que este estudo não concorda com todos os autores acima considerados. Em alguns casos concorda (ou discorda) em parte.

5

Isso não representa a totalidade dos estudos dos autores, mas tão somente os textos que foram utilizados nessa dissertação. Todos os textos que serviram de base para a construção desse Quadro estão referenciados no final. Para os casos de Turner e Lígia Maria Silva, ver Silva (2001). Os demais textos são: Martins (1975, 1986 e 2009), Corrêa (2006), Valverde e Dias (1967) e Valverde (1985), Becker (1982 e 2013), Graziano Silva (1982), Martine (1987) e Moraes (2005).

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9

Segundo Graziano da Silva (1982), “a fronteira não é algo externo ao ‘modelo agrícola’ brasileiro. Na verdade, a sua existência se faz presente no conjunto da sociedade brasileira, o que significa que muitas coisas mudarão caso essa fronteira desapareça”6. Nesse sentido, Wilson Cano destaca também “que a causa da itinerância dessa agricultura, no período recente [pós-1970], não foi a manutenção do atraso do setor e sim [um] conjunto de novos expedientes”7. O autor se refere à ampliação do “crédito rural, com incentivos à exportação e com os grandes investimentos públicos na fronteira agrícola, que valorizam as terras e aumentam a especulação e o ganho não produtivo”8

.

Desde então, quando a fronteira passou a ser parte das regiões Centro-Oeste e Norte, além de ganhos gerados pela superexploração da mão-de-obra, os grandes capitais ampliaram seus horizontes de valorização por meio da especulação sobre a terra e da absorção de subsídios e benefícios fiscais. Mesmo já tendo ocorrido anteriormente, há, a partir de 1960, alguns aspectos relacionados com a modernização agrícola que precisam ser destacados.

Entendemos que a fronteira do capital precisa ser analisada em suas especificidades e nos aspectos que resultam da estrutura subdesenvolvida do espaço de acumulação brasileiro. É o que José de Sousa Martins vai chamar de “espaço móvel”. Isto é, a fronteira não pode ser analisada como uma categoria, mas como um aspecto histórico da expansão territorial da sociedade dominante9. Do ponto de vista do desenvolvimento capitalista, a região pode ser entendida também, nos termos de Oliveira (1977), como um espaço onde há processos produtivos e relações de produção que detêm certas características específicas e processos políticos próprios.

Entretanto, para entendermos o avanço recente da fronteira do capital é necessário fazer uma breve menção às consequências da industrialização brasileira sobre a integração nacional. Mesmo que o processo de industrialização do país tenha mantido a centralidade dos antigos centros urbanos, a construção de Brasília e Goiânia no Planalto central e a formação de uma rede urbana mais densa e diversificada no Centro-sul foram fundamentais para a integração econômico-territorial e isso elevou São Paulo à categoria de Metrópole Nacional e de principal centro interno de acumulação capitalista.

6

Ver SILVA, J. G. A modernização dolorosa: estrutura agrária, fronteira agrícola e trabalhadores rurais no Brasil. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1982.

7

Ver CANO, W. Ensaios sobre a formação econômica regional do Brasil. Campinas: Editora UNICAMP, 2002, p. 140. 8

Ibid. 9

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10

No período de industrialização restringida (1933-1955)10, a Marcha para o Oeste promoveu poucos deslocamentos que resultaram na modernização dos territórios longínquos dos principais centros de acumulação do país. Até porque a própria política do governo não avançou de forma significativa. A expansão agrícola rumo às Minas Gerais, Goiás e Paraná, a partir de São Paulo, representou muito mais um ganho quantitativo de espaços para a produção agropecuária, segundo Martine (1987), que propriamente um avanço na urbanização11.

Os efeitos da industrialização sobre a urbanização e a rede urbana de algumas regiões do país são mais profundos da década de 1950 em diante, quando teve início a industrialização pesada (1955-1961). Ali se deu o início da metropolização, com destaque para as cidades São Paulo e Rio de Janeiro. Porém, ainda nesse momento, não podemos desconsiderar a geopolítica de manutenção do território nacional como forma de incentivo para o avanço da ocupação da Amazônia, que já era observada na Marcha para o Oeste. Segundo Martins (2009), essa também foi uma preocupação dos governos militares. Tanto o incentivo à ocupação territorial dos chamados “vazios Demográficos” quanto à forma de resolução dos conflitos fundiários no nordeste. Neste caso, houve um grande esforço de colonização dirigida como mostra o trabalho de Santos (1993) ao descrever alguns projetos efetivados pelo governo. A maneira, a nosso ver, mais adequada de descrever a necessidade geopolítica do avanço da fronteira passa pela definição de Orlando Valverde e Catharina Vergolino Dias:

A integridade de um país só está assegurada quando as fronteiras políticas coincidem com as fronteiras econômicas. Êste [sic] princípio de Geografia Política é válido tanto para os países desenvolvidos, como para os subdesenvolvidos. Nesta última hipótese, embora o conjunto da economia do país esteja na dependência de um ou mais mercados exteriores, é necessário que a drenagem econômica se faça através de centros localizados dentro dos limites do mesmo país. De outra maneira a coesão do país estará seriamente ameaçada (VALVERDE e DIAS, 1967, p. 341).

Essa preocupação geopolítica coloca diretamente a ação do Estado como responsável pelo avanço das formas de ocupação sobre os espaços internos de um país e nos termos de uma economia subdesenvolvida. Moraes (2005) descreve como a ideologia em torno do território nacional é alterada de acordo com as práticas vigentes no Estado.

10

Ver MELLO, J. M. C. de. O capitalismo tardio (tese de doutorado). Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, 1975.

11

Ver MARTINE, G. Êxodo rural, concentração urbana e fronteira agrícola. In: MARTINE, G.; GARCIA, R. C. (Org.). Os Impactos Sociais da Modernização Agrícola. São Paulo: Caetes/Hucitec, 1987, p. 59-79.

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11

Primeiro, devemos considerar que a ocupação territorial no Brasil foi realizada nos moldes de uma ocupação colonial. Moraes (2005) chama atenção para as dificuldades em se estabelecer um caráter nacional nessas condições. Segundo o autor “em face da dificuldade de delimitar a nação e de gerar uma justificativa nacional, o Estado que se forma no contexto periférico pode ser definido como ‘territorial’, mas dificilmente como ‘nacional’” (MORAES, 2005, p. 81). A falta de identidade nacional devido a todas as formas que torna a sociedade periférica tão heterogênea, leva o Estado a buscar a nação no território, e não no povo.

É aqui que prescinde estabelecer a ideia de fronteira. Com a necessidade da sociedade periférica de recorrer ao território para ser legitimada, tanto as fronteiras internas quanto os limites com outros países passam a ser mais importantes para a manutenção do poder político das elites. E isso sempre ocorreu em nossa história. Desde os bandeirantes do período colonial, passando pelos problemas da monarquia em manter as contradições sociais construídas ainda na sociedade colonial, pela Marcha para o Oeste do Estado Novo, pelos eixos nacionais de integração do Juscelino Kubistchek, até o autoritarismo do golpe de 1964, que via na integração nacional uma forma de acabar com os “inimigos internos”12

.

Tal situação nos remete à dinâmica espacial de nossa economia dependente definida por Caio Prado Jr. Não por acaso, essa dinâmica existe desde os tempos do Brasil Colônia. Nas palavras do autor:

Em cada um dos casos em que se organizou um ramo de produção brasileira, não se teve em vista outra coisa que a oportunidade momentânea que se apresentava. Para isto, imediatamente, se mobilizam os elementos necessários: povoa-se uma certa área do território mais conveniente com empresários e dirigentes brancos, e trabalhadores escravos. [...] continuar-se-á até o esgotamento final ou dos recursos naturais disponíveis, ou da conjuntura econômica favorável. Depois abandona-se tudo em demanda de outras empresas, outras terras, novas perspectivas (PRADO JR., 1965, p. 128).

E completa:

É assim que se formou e sempre funcionou a economia brasileira: a repetição no tempo e no espaço de pequenas e curtas empresas de maior ou menor sucesso (PRADO JR., 1965 p. 128).

12

Vale lembrar que, como mostra Moraes (2005), cada período o fortalecimento do poder sobre o território tinha uma justificativa distinta. Por exemplo, enquanto que no Estado Novo via-se a possibilidade de constituição de uma nação de acordo com as diversidades regionais do país, no período JK, o que se buscava era a homogeneização regional, pois as desigualdades regionais eram mais latentes.

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12

Parece até que Prado Jr. se refere aos nossos dias. A fronteira é expressão disso. É nada mais que uma oportunidade momentânea que continuará até seu esgotamento final ou mudança da conjuntura econômica. Macedo (2014, p. 20) cita que

No Brasil, o controle ferrenho do território, a superexploração da força de trabalho e os fundos públicos representam vetores determinantes na maneira como as regiões e as suas estruturas produtivas, em particular, são articuladas à lógica da acumulação capitalista em condições de dependência e subdesenvolvimento.

Todos esses condicionantes internos que levam às novas formas de expansão da fronteira a partir da década de 1960. Não podemos desvinculá-los, como será visto adiante, dos processos de modernização na agropecuária e, muito menos, dos determinantes externos aos quais estamos submetidos.

É somente com a política de integração nacional, via eixos rodoviários e a transferência da capital nacional para o Centro-Oeste, que a frente pioneira apresentou novas formas de inserção de espaços. Antes eram os pequenos produtores e posseiros que antecipavam os movimentos de deslocamento dos grandes capitais. Da década de 1960 em diante, estes últimos passaram a antecipar o avanço da produção como uma forma de controle mais efetiva dos territórios recém-incorporados à dinâmica de produção capitalista13.

Não era apenas uma nova condição de apropriação fundiária no país, como nos explica Silva (2001), salientando a importância da propriedade fundiária como mercadoria e o uso desta como reserva de valor que já ocorria no Brasil há tempos. Se, com a Lei de Terras de 1850 e a posterior abolição da escravidão em 1888, a terra passava, gradativamente, a ser cativa em lugar do homem14, as mudanças nos mecanismos de apropriação fundiária, a partir da década de 1960, representaram um novo salto qualitativo nessa lógica.

A década de 1960 representou, por um lado, o avanço da expropriação fundiária e da apropriação de terras devolutas e, ao mesmo tempo, permitiu a ampliação dos mecanismos de exploração e expulsão da mão de obra do campo nos moldes que se requeria o processo de modernização econômica em curso. Com a industrialização, o campo também foi modernizado e as formas antigas de ocupação, com os posseiros na linha de frente da exploração de novos territórios deixam de ser suficientes para manter a expansão da agricultura15.

13

Ver DELGADO, G. C. Capital financeiro e agricultura no Brasil. Campinas: Unicamp, 1982. 14

Ver MARTINS, J. de S. O Cativeiro da Terra. 3. ed. São Paulo: Ciências Humanas, 1986. 15

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13

Wenceslau Gonçalves Neto (1997) dá o devido destaque às mudanças na agricultura a partir da década de 1960, que influenciou tanto a industrialização quanto a ocupação espacial. Mais do que mera revolução produtiva, a própria política agrícola foi substancial para o desenvolvimento capitalista em curso no país. Não se tratava mais da hipótese de que o campo não era funcional à modernização produtiva.

Como dito anteriormente, mantêm-se as condições históricas de ocupação do campo apoiada em novas condições. Ou seja, as relações de produção típicas do subdesenvolvimento são realimentadas inclusive num período de intensificação da incorporação de capital fixo na agricultura. Por meio da grilagem, surgiram donos de terras de várias partes do país e inclusive de empresas nas áreas próximas da rodovia Belém-Brasília. Conforme Asselin (2009, p. 22):

Seria supérfluo assinalar o uso e a manipulação dos incentivos fiscais e das redes oficiais e particulares de crédito rural, mas é preciso mencioná-los também como fatores importantes de incentivo à grilagem.

[...] seguiram para o Norte os goianos do Sul, os mineiros, os fazendeiros paulistas e os chamados “gaúchos”, tanto do Rio Grande do Sul como do Paraná e, a partir da década de [19]70, as empresas vinculadas a bancos e grupos multinacionais, buscando terras para a remessa de investimentos arrancados do imposto de renda e para futura especulação. E, quando não havia caminho para se chegar a estas novas fronteiras, estradas foram rasgadas com o sacrifício de muitos posseiros e índios. Os que se encontravam ou se colocavam no caminho, foram expulsos ou esmagados. Com a invasão desenfreada do capital e da força do Sul, chegou, como seu melhor instrumento de domínio, a grilagem, que se tornará o meio privilegiado de incorporação ao capitalismo, das terras chamadas “livres”.16

Dois pontos importantes podem ser observados de outras passagens do livro de Asselin. Primeiro, o tamanho das terras griladas era grande para os padrões de terras apropriadas por posseiros. Em todo o livro são dados exemplos de porções de terras griladas com tamanhos acima de mil hectares. Segundo, o uso da terra como reserva de valor tem grande abrangência ao longo da rodovia Belém-Brasília.

Em outra passagem, Asselin (2009) mostra que na sequência do uso desses mecanismos, em geral, partes das terras deixam de ser reserva de valor e passam a incorporar a pecuária e a extração de madeira. Este é um exemplo do alargamento do uso da grilagem na expansão da fronteira. Por isso, o sentido da regionalização na Região Norte toma novas formas.

16

Nessa importante obra de Asselin estão descritos, por meio de dados primários, os mecanismos de grilagem de terras, os principais beneficiários e o tamanho das terras apropriadas, confrontando o avanço dos grandes latifúndios ante os posseiros. Cf. ASSELIN, V. Grilagem: corrupção e violência em terras dos Carajás. Imperatriz, MA: Ética, 2009.

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14

Com o asfaltamento da Belém-Brasília, surgiu outro tipo de economia: a exploração madeireira. Se a oligarquia local já tinha, a contragosto, transferido seu poder aos usineiros e comerciantes, prioritariamente aos de Anápolis, ficando apenas com algumas casas de comércio no ramo de tecidos e farmácias, desta vez apareceu a indústria madeireira, vinda do Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais. (ASSELIN, 2009, p. 29)

Valverde e Dias (1967) dão uma boa perspectiva para a periodização da ocupação do território brasileiro. Por meio disso é possível desmistificar a busca por características específicas das diferentes regiões do país, ao mesmo tempo em que coloca nos devidos termos suas diferenciações atuais. No caso da Amazônia e do Nordeste, os autores afirmam que “jaziam isolados do núcleo Rio-São Paulo até recentemente”17. Mais especificamente no caso da Amazônia, segundo os autores, a situação era mais difícil devido às barreiras naturais. Para eles, “a abertura da rodovia Belém-Brasília, em 1960, foi o primeiro e decisivo passo concreto para a integração da Amazônia na comunidade brasileira”18

.

Com a integração em curso, as trocas econômicas continuam favorecendo o Centro-sul. Segundo Valverde (1985), do Sudeste eram enviados produtos industrializados e produtos agrícolas carentes na Amazônia, enquanto que da floresta partiam produtos agrícolas e extrativos, rumo àquela região. É o início da articulação comercial entre essas regiões, conforme descrito por Guimarães Neto (1989). No caso da articulação comercial, a integração nacional ocorreu de forma parecida para a Amazônia e para o Nordeste, com a entrada da produção sudestina. No período de integração produtiva,19 aquelas regiões são inseridas de maneiras distintas.

No Nordeste, as políticas econômicas da recém-criada Superintendência de Desenvolvimento da Nordeste (Sudene)20 permitiram a transferência de capitais do Sudeste na região, inclusive no setor urbano industrial. Por outro lado, a estrutura agrária secularmente determinada pela indústria da cana-de-açúcar foi mantida. No caso da Amazônia, a novidade era a apropriação territorial de um novo espaço de acumulação. Grande parte das terras da região eram devolutas. Enquanto que a agropecuária ali estabelecida era bastante isolada e primitiva.

17

Ver VALVERDE, O. e DIAS, C. V. A rodovia Belém-Brasília: estudo de Geografia Regional. Rio de Janeiro: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia, 1967, p. 342.

18

Ibid. p. 343. Rodovia Belém-Brasília é a denominação do conjunto de rodovias federais que ligam a capital nacional à capital do estado do Pará. Na maior parte do trecho prevalecem a rodovia longitudinal BR 153 e a rodovia radial BR 010. Seu asfaltamento ocorreu entre os anos de 1967 e 1970.

19

Segundo Guimarães Neto (1989), a articulação comercial compreende o período de industrialização restringida, ou seja, entre 1930 e 1955. Daí em diante, as políticas do governo e o avanço da acumulação de capital da indústria, permitiram um salto qualitativo dos processos de integração nacional. Cf. GUIMARÃES NETO, L. Introdução à formação econômica do Nordeste. Recife: FUNDAJ, Editora Massangana, 1989.

20

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15

As informações estatísticas a seguir servem para respaldar esse argumento. Se as olharmos em seu conjunto21, perceberemos que a região Norte tinha pouca participação na produção de lavouras e na pecuária. E, ainda, as pastagens que ali existiam em décadas anteriores eram naturais em sua maioria. Ou seja, trata-se de uma pecuária atrasada. A região Centro-Oeste já apresentava uma participação relativa das pastagens naturais bastante representativa desde a década de 1970. Isso mostra as diferenças temporais do avanço da fronteira nas duas regiões.

Tabela 01. Participação (%) de lavouras temporárias e permanentes no total das áreas dos estabelecimentos agropecuários – Brasil e grandes regiões

1970 1975 1980 1985 1995 2006 Brasil 11,55 12,35 13,46 13,91 11,82 18,16 Norte 2,66 3,66 4,2 4,28 3,38 7,63 Nordeste 13,89 14,02 16,05 15,57 13,21 19,98 Sudeste 13,83 14,39 16,48 18,51 16,53 24,42 Sul 24,27 28,13 30,41 30,29 27,74 36,37 Centro-Oeste 2,95 4,63 5,72 7,11 6,06 11,91

Fonte: Censos Agropecuários/IBGE. Elaboração própria.

Tabela 02. Participação (%) de pastagens plantadas no total das áreas dos estabelecimentos agropecuários – Brasil e grandes regiões

1970 1975 1980 1985 1995 2006 Brasil 10,11 12,26 16,61 19,76 28,18 30,69 Norte 2,75 4,82 9,07 14,58 25,3 37,62 Nordeste 7,74 8,69 11,7 12,89 15,45 19,16 Sudeste 15,3 15,95 22,02 22,82 31,91 30,71 Sul 8 9,61 11,76 12,81 15,82 11,59 Centro-Oeste 11,11 16,27 21,74 30,52 41,77 42,93

Fonte: Censos Agropecuários/IBGE. Elaboração própria.

21

Os somatórios das porcentagens dessas Tabelas não chegam a 100% porque não foi incluída as “matas plantadas”. Esse caso é irrisório para todas as regiões.

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16

Tabela 03. Participação (%) de matas naturais no total das áreas dos estabelecimentos agropecuários – Brasil e grandes regiões

1970 1975 1980 1985 1995 2006 Brasil 19,11 20,95 22,79 22,14 25,14 28,56 Norte 59,88 65,94 62,67 47,25 43,7 40,23 Nordeste 22,11 22,19 22,17 21,23 24,77 33,62 Sudeste 9,57 8,91 10,89 10,57 12,04 17,81 Sul 12,57 10,81 10,44 10,48 11,97 16,08 Centro-Oeste 16,58 18,56 21,59 21,33 28,55 29,32

Fonte: Censos Agropecuários/IBGE. Elaboração própria.

Tabela 04. Participação (%) de pastagens naturais no total das áreas dos estabelecimentos agropecuários – Brasil e grandes regiões

1970 1975 1980 1985 1995 2006 Brasil 42,29 38,89 31,22 28,03 22,07 17,27 Norte 16,35 11,37 9,51 18,79 16,49 10,81 Nordeste 29,78 30,22 26,92 25,29 25,51 21,07 Sudeste 49,07 49,29 37,35 35,19 27,03 19,94 Sul 39,54 36,22 32,72 31,89 30,84 25,95 Centro-Oeste 56,8 48,98 37,91 29,25 16,08 13,11

Fonte: Censos Agropecuários/IBGE. Elaboração própria.

São as matas e pastagens naturais que caracterizavam as regiões Norte e Centro-Oeste até a década de 1990. E as participações relativas no caso das pastagens naturais, atualmente, são mais reduzidos para esta última região que para a primeira22. Ou seja, a expansão da fronteira ocorre de forma mais intensa e há mais tempo no Centro-Oeste que na região Norte. Ainda há muito a ser ocupado na região norte, caso essa lógica de expansão permaneça.

No Censo de 2006, as regiões Norte e Centro-Oeste detêm as maiores porcentagens de pastagens plantadas no total das áreas de seus respectivos estabelecimentos agropecuários, 37,62% e 42,93% respectivamente. Por outro lado, as percentagens para lavouras permanentes e temporárias são as menores, 7,63% e 11,91% respectivamente. Como se percebe, a pecuária avança antes das culturas agrícolas, antecipando os futuros espaços de intensificação produtiva.

A concentração fundiária, como foi dito pelos autores citados anteriormente, permanece como um traço marcante da expansão econômico-territorial brasileira, especialmente da expansão da atividade agropecuária. Analisando os dados das grandes regiões, vemos as duas

22

Como pode ser visto na Tabela 03, a participação das matas naturais aumenta ao longo dos anos tanto para a região Centro-Oeste quanto para a região Norte. Isso se explica pelo aumento da ocupação de terras. Lembremos que esses dados são relativos aos estabelecimentos agropecuários e não ao total do território de cada região.

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17

regiões que internalizaram a expansão da fronteira no período mais recente como aquelas que têm as maiores médias de tamanho das propriedades. A região Centro-Oeste, que em 2006 apresentou o valor de 331,82 ha, teve a maior média em todos os anos. O caso da região norte é mais emblemático por só aumentar essa média, que em 2006 foi de 116,73 ha. A primeira queda só ocorre em 2006, mas a região mantém sua segunda colocação em termos de tamanho das propriedades. Ou seja, na expansão das últimas décadas da fronteira do capital, a terra é cada vez mais concentrada nas mãos de poucos.

Tabela 05. Média da área dos estabelecimentos agropecuários em hectares– Brasil e grandes regiões 1970 1975 1980 1985 1995 2006 Brasil 59,74 64,87 70,71 64,62 72,76 64,47 Norte 88,77 96,72 101,82 115,07 130,80 116,73 Nordeste 33,67 33,47 36,14 32,90 33,66 31,00 Sudeste 74,82 82,47 82,51 73,69 76,14 59,58 Sul 35,68 39,92 41,82 40,00 44,22 41,52 Centro-Oeste 322,78 348,80 423,67 370,78 447,58 331,82

Fonte: Censos Agropecuários/IBGE. Elaboração própria.

O Tocantins também chama atenção nesse aspecto. Só com a inclusão de sua área na região Norte que podemos explicar o aumento da média da região Norte nos anos recentes. Esse estado apresentou uma média de área dos estabelecimentos de 366,75, 373,29 e 254,35 hectares nos Censos de 1985, 1995 e 2006 respectivamente. E o estado mantém a maior média da região, mesmo com a redução entre 1995 e 2006.

Tabela 06. Média da área dos estabelecimentos agropecuários em hectares– estados da região Norte 1970 1975 1980 1985 1995 2006 Rondônia 230,39 120,95 107,99 74,83 115,53 96,85 Acre 178,43 171,66 207,50 149,36 133,81 119,68 Amazonas 52,50 70,06 69,66 50,38 39,89 54,93 Roraima 816,38 608,22 658,23 336,44 398,18 166,59 Pará 76,04 86,47 91,38 97,65 109,11 103,25 Amapá 260,67 185,08 170,80 250,83 209,03 247,74 Tocantins - - - 366,75 373,29 254,35

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Em todo o caso, essas alterações nos tamanhos das propriedades ocorrem concomitante com as mudanças no uso do solo. Como vimos, nas primeiras décadas observadas, a apropriação fundiária, principalmente na região Norte, não prescindia de uma produção agrícola ou criação pecuária. Só nos anos mais recentes esse quadro se alterou com maior clareza na região Norte.

Junto com mudanças na utilização do solo e no tamanho das propriedades, a Amazônia já toma contornos de uma nova divisão regional do trabalho a partir da década de 1960. Antes, toda a floresta e parte de outros territórios eram, ou dependentes da grande hinterlândia de Belém, ou totalmente isolados de qualquer forma de integração com os centros econômicos do país. Durante o período do asfaltamento da rodovia Belém-Brasília, entre 1967 e 1970, a integração entre a porção oriental da região amazônica e o Centro-Sul do país foi ampliada, dado que antes o tráfego só era possível em período de seca23.

O significado disso é que, como bem ressaltou Martine (1987), a fronteira na região amazônica já surge urbanizada. Nem tanto pela diferença entre populações situadas em zonas urbanas e rurais. Muito mais pela nova dinâmica que essas cidades geraram na região. Antes, toda a população que vivia na Amazônia Oriental dependia diretamente de serviços e da concentração de redes de comercialização de grandes cidades fora da região. A partir do avanço da fronteira do capital, a rede urbana da região torna-se cada vez mais adensada e diferenciada. Os estudos de rede urbana do IBGE de 1972 e 1987 já mostram essas alterações. Essas cidades que surgem ao longo da rodovia passam a centralizar comércio e serviços que antes só eram encontrados nas metrópoles regionais.

Por outro lado, é necessário advertir que, apesar da baixa densidade demográfica e da importante participação relativa da população rural no total da população da região amazônica, a ocupação territorial sempre foi feita nessa região por meio do avanço de pequenas localidades urbanas, como advertem Becker (2013) e Corrêa (2006). Com os investimentos em infraestrutura de transporte, as cidades passam a ter um papel muito marcante na expansão econômica da região, coisa que vem se repetindo atualmente e requerendo maior centralidade dos municípios naquele contexto territorial.

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Bertha Becker ressalta como a urbanização se fez presente em movimentos anteriores de colonização e ocupação da Amazônia, mesmo que tenham ocorrido sobre condições históricas distintas. Segundo a autora,

Embora cerca de 70% da população amazônica vivam em núcleos urbanos, a urbanização é negligenciada nos estudos sobre a região. E as cidades têm sido cruciais para a ocupação e as tentativas de desenvolvimento ali experimentadas. [...] Os núcleos urbanos foram as pontas de lança para a ocupação do território, pequenos aglomerados com poder mais simbólico do que efetivo mas que garantiram sua posse.24

Corrêa (2006), em seus estudos sobre a urbanização na Amazônia, afirma que a constituição de uma rede urbana regional esparsa, fragmentada e dendrítica garantiu por muito tempo à Belém o posto de principal cidade da região. Mas em vários momentos o autor cita o avanço da ocupação por meio de pequenas localidades para atender aos ciclos econômicos dominantes (drogas do sertão, ciclo da borracha etc.).

Castro (2008) também corrobora essa interpretação ao afirmar que “a experiência de urbanização na Amazônia não se restringe aos processos decorrentes do avanço da fronteira a partir do final dos anos 60 e início dos 70, e muito menos se trata apenas de núcleos urbanos surgidos na fronteira”25

. Para a autora, “a fronteira é um espaço em construção, em movimento, transformado ao longo dos anos”.

Com base nessas observações iniciais, podemos dizer que tanto as novas formas de avanço da fronteira do capital quanto as formas históricas de ocupação da Amazônia permitiram que o processo de modernização agrícola brasileiro incorporasse a borda amazônica, como explicitamos, por meio de processos de urbanização mais intensos que em outros momentos de deslocamento da fronteira no país. Claro, isso teve consequências. No tópico seguinte, descreveremos as condições socioespaciais que essa expansão levou a formar nas últimas décadas. Especificamente, trataremos da evolução urbana da região.

1.2 Evolução urbana na Amazônia

Os dois últimos Censos Demográficos elaborados pelo IBGE mostram um aumento expressivo de municípios com mais de 50 mil habitantes que, em geral, respondem pela intermediação comercial e produtiva entre a Amazônia e outras regiões. Se antes, os únicos dois

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Ver BECKER, B. K. A urbe amazônida: a floresta e a cidade. Rio de Janeiro: Garamond, 2013, p. 11. 25

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centros regionais de maior importância – Manaus e Belém – tinham uma distância considerável em relação a outros municípios, em termos de economia e população, atualmente, as cidades intermediárias proporcionam uma hierarquização econômica melhor distribuída.

As cidades intermediárias são as responsáveis pela intermediação entre as metrópoles regionais, metrópole nacional e cadeias globais de produção e comercialização de um lado; e suas regiões de influência imediata, que compreendem cidades com baixos níveis de centralidade de outro. São cidades responsáveis pela organização dos processos de geração e transferência de valor em suas regiões. As cidades de Ji-Paraná-RO, Marabá-PA, Imperatriz-MA, Gurupi-TO e Araguaína-TO cumprem, em grande medida, esse papel.

Tabela 07. Número de municípios por tamanho da população – região Norte

População/Ano 1970 1980 1991 2000 2010 Acima de 1 milhão 0 0 2 2 2 500 mil ⊢ 1 milhão 1 2 0 0 0 200 mil ⊢ 500 mil 1 0 2 6 8 100 mil ⊢200 mil 1 6 7 6 10 50 mil ⊢100 mil 6 19 28 29 43 20 mil ⊢ 50 mil 37 55 78 104 111 Até 20 mil 149 123 181 302 275 Total 195 205 298 449 449

Fonte: Censos Demográficos/IBGE. Elaboração própria.

Os dois últimos Censos Demográficos mostram alterações importantes nas classes inferiores, conforme nos mostra a Tabela 07. A quantidade de municípios com população de até 20 mil habitantes teve um aumento expressivo. Porém, a participação dessa classe no total da população da região sofreu uma queda, principalmente se compararmos com os dados de 1970. No caso das classes que compreendem os municípios que têm entre 20 mil e 200 mil habitantes, há um crescimento considerável tanto em número de municípios quanto em participação no total da população.

É importante perceber o quão são distintas as dinâmicas de urbanização da fronteira em relação ao resto do país. As Tabelas 08 e 09 mostram a variação demográfica anual por classes de municípios e de cidades, respectivamente. Para o conjunto do país, o crescimento anual entre 2000 e 2010 é inferior em relação às taxas anuais entre 1970 e 2010 para todas as classes de município e de cidades. Há, inclusive, redução populacional para o conjunto dos municípios com

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