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Trajetórias da internacionalização da Universidade Pública: avaliação do Programa Ciência sem Fronteiras à luz da experiência da Universidade Federal do Ceará

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

MESTRADO PROFISSIONAL EM AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

MÁRCIA MONALISA DE MORAIS SOUSA GARCIA

TRAJETÓRIAS DA INTERNACIONALIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE PÚBLICA: AVALIAÇÃO DO PROGRAMA CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS À LUZ DA

EXPERIÊNCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FORTALEZA 2020

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TRAJETÓRIAS DA INTERNACIONALIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE PÚBLICA: AVALIAÇÃO DO PROGRAMA CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS À LUZ DA

EXPERIÊNCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

Dissertação apresentada ao Mestrado Profissional em Avaliação de Políticas Públicas da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Alcides Fernando Gussi.

FORTALEZA 2020

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TRAJETÓRIAS DA INTERNACIONALIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE PÚBLICA: AVALIAÇÃO DO PROGRAMA CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS À LUZ DA

EXPERIÊNCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

Dissertação apresentada ao Mestrado Profissional em Avaliação de Políticas Públicas da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre. Área de Concentração: Desenho das Políticas Públicas de Caráter Social.

Aprovado em: _____/_____/________.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________ Prof. Dr. Alcides Fernando Gussi (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_______________________________________________________ Profª. Drª. Alba Maria Pinho de Carvalho

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_______________________________________________________ Prof. Dr. Breynner Ricardo de Oliveira

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A Deus, a minha família e a todos aqueles que acreditam em um mundo melhor por meio da Educação.

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comigo nessa jornada.

Primeiramente, agradeço de todo o meu coração a Deus, minha fonte de amor, alegria, paz, quem traçou meus caminhos para que eu pudesse cursar o melhor mestrado, o MAPP.

Agradeço a minha família pelo amor, incentivo e cumplicidade, pois vocês sempre acreditaram no meu sonho e me deram todo o apoio para que eu pudesse realizá-lo.

Toda minha gratidão e honra ao meu marido, Ademar, às minhas filhas Sophia e Liz, minha alegria nos momentos de angústia e aconchego nos momentos de cansaço. Agradeço por me fortalecerem na busca pelo crescimento e por toda compreensão nos momentos de ausência. Meus agradecimentos especiais a minha irmã, que foi meu braço forte nesse meu tempo de dedicação ao trabalho e aos estudos.

Igualmente, agradeço aos meus pais e meus sogros, que foram uma rede de apoio imprescindível, mesmo distantes.

Agradeço ao meu orientador, Prof. Alcides Fernando Gussi, por me conduzir nos caminhos do conhecimento e por todas as sementes de saber plantadas no meu coração a cada aula e a cada orientação.

Meus sinceros agradecimentos aos professores Alba Carvalho e Breynner Oliveira por terem contribuído significativamente para a realização desta pesquisa.

Agradeço a todos os professores do MAPP pelos preciosos ensinamentos. Você todos estão eternizados em meu coração.

Agradeço também aos professores que participaram desta pesquisa, disponibilizando-se a conceder entrevistas. A pesquisa de campo trouxe momentos de muito enriquecimento, onde pude me identificar com muitas trajetórias de vida e me emocionar com os relatos sobre as condições do Ensino Superior.

Também demonstro gratidão a todos os meus colegas do MAPP, que fizeram dessa jornada do conhecimento um imenso prazer.

Agradeço de todo coração às minhas amigas de trabalho que me deram palavras de apoio, incentivo e motivação e que compartilharam da intensidade que foi conciliar o trabalho com o mestrado.

Agradeço à UFC pelas oportunidades de crescimento. Mais do que palavras, a todos minha gratidão.

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“We must try to expand the boundaries of human wisdom, empathy and perception, and there is no way of doing that except through education."

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A internacionalização tem sido um tema em evidência nas discussões em torno da educação superior do Brasil, especialmente com a criação do Programa Ciência sem Fronteiras (CsF), implementado de 2012 a 2016. Partindo do pressuposto de que o Programa CsF teria impulsionado a internacionalização da Universidade Federal do Ceará (UFC), esta pesquisa avaliativa teve como objetivo geral avaliar o Programa CsF e seus desdobramentos na institucionalização da internacionalização da UFC. Para tal, foram analisadas as intencionalidades que nortearam o CsF; o contexto político nacional e institucional em que o Programa foi implementado; a forma como o CsF foi implementado na UFC, bem como os significados que o Programa trouxe na percepção de seus gestores. Para avaliá-lo, esta pesquisa fundamentou-se na perspectiva da avaliação em profundidade, de Rodrigues (2008), fundada no paradigma hermenêutico de Lejano (2012), que ofereceu os elementos necessários para a realização de uma avaliação multidimensional. Metodologicamente, foi realizada uma pesquisa de abordagem qualitativa, com aportes quantitativos, além de pesquisa bibliográfica, documental e entrevistas semiestruturadas com os reitores, pró-reitores de graduação, coordenador de assuntos internacionais e coordenadores de nove cursos de graduação da Universidade, contemplando o período de implementação do Programa. Por meio dos eixos analíticos da avaliação em profundidade (análise de conteúdo, análise de contexto, análise da trajetória institucional), com os aportes analíticos de Lejano (2012), observou-se que, embora os objetivos do CsF denotem uma caracterização técnico-científica, a concepção de internacionalização que norteia o Programa é pautada no atendimento das demandas de mercado, conforme estabelecido pela OMC. Contudo, contraditoriamente, a concepção de internacionalização pautada na solidariedade, conforme estabelecido pela UNESCO, aparece nas trajetórias do CsF, no caso analisado, institucionalmente, na UFC. A partir das noções de coerência e topologia das instituições de Lejano (2012), encontraram-se distintas interpretações acerca do CsF na UFC e sua relação com a internacionalização. A pesquisa avaliativa e seus resultados constroem indicadores sobre o Programa na Universidade ao compreender as mudanças de contextos político-institucionais e as percepções dos gestores, que afetaram e modificaram as trajetórias do CsF, evidenciando contradições resultantes de disputas entre diferentes projetos políticos de Estado e sociedade, que circunscrevem o CsF e a internacionalização da UFC. Com isso, conclui-se que, a partir do CsF, a internacionalização foi assumindo novos percursos dentro da UFC, revelando as contradições e o campo de disputas

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Palavras-chave: Avaliação de Políticas Públicas. Internacionalização. Ciência Sem Fronteiras.

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Brazil, especially with the creation of the Ciência sem Fronteiras Program - CsF (Science without Borders), launched by the Dilma Rousseff Government (2011-2016) and closed for undergraduate students during the Michel Temer Government (2016-2018). Based on the assumption that the Science without Borders Program would have boosted the internationalization of the Federal University of Ceará (UFC), this evaluative research had the general objective of evaluating the CsF Program and its developments in the institutionalization of UFC internationalization. To this end, the intentions that guided the CsF were analyzed; the national and institutional political context in which the Program was implemented; the way CsF was implemented at UFC, as well as the meanings that the Program brought to the perception of its managers. To this end, this research was based on the perspective of in-depth evaluation, by Rodrigues (2008), founded on the hermeneutic paradigm of Lejano (2012), which offered the necessary elements (content analysis, context analysis, analysis of the institutional trajectory and analysis of the temporal and territorial spectrum) to carry out a multidimensional assessment of CsF at UFC. Methodologically, a qualitative research was carried out, with quantitative contributions, in addition to bibliographic, documental research and semi-structured interviews with the rectors, undergraduate deans, coordinator of international affairs and coordinators of nine undergraduate courses at the University, covering the implementation period of the Program. Through the analytical axes of in-depth evaluation (content analysis, context analysis, analysis of the institutional trajectory), with the analytical contributions of Lejano (2012), it was observed that, although the objectives of the CsF denote a technical-scientific characterization , the concept of internationalization that guides the Program is based on meeting market demands, as established by the WTO. However, contradictorily, the concept of internationalization based on solidarity, as established by UNESCO, appears in the trajectories of the CsF, in the case analyzed, institutionally, in the UFC. From the notions of coherence and topology of the institutions of Lejano (2012), there are distinct interpretations about the CSF in the UFC and its relationship with internationalization. The evaluative research and its results build indicators about the Program at the University by understanding the changes in political-institutional contexts and the perceptions of the managers, which affected and modified the trajectories of the CSF, evidencing contradictions resulting from disputes between different political projects of State and society, which circumscribe CsF and UFC internationalization. With that, it is concluded that, from the CsF, the internationalization took new paths in the UFC, revealing the contradictions and the field of disputes of interests existing

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Keywords: Evaluation of Public Policies. Internationalization. Science without Borders.

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Figura 2- Paradigma hermenêutico ... 34

Figura 3 – Círculo Hermenêutico ... 35

Figura 4 – Esquema de entrevistas para avaliação da trajetória do CsF na UFC ... 44

Figura 5 – Delineamento da pesquisa ... 46

Figura 6 – Variação dos repasses do Governo às Universidades Federais de 2008 a 2018 ... 59

Figura 7 – Avaliação da Internacionalização pela CAPES ... 64

Figura 8 – Prioridades Plano Plurianual 2012-2015 ... 75

Figura 9 – Valores investidos pelo setor privado ... 77

Figura 10– Distribuição de bolsas implementadas por país de destino ... 79

Figura 11 – Alunos da UFC no CsF. ... 89

Figura 12- Distribuição de bolsas implementadas por modalidade na UFC ... 91

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... 81 Gráfico 2 – Alunos da UFC no exterior de 2008 a 2018 ... 94 Gráfico 3 – Número de convênios com universidades estrangeiras ... 106

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Quadro 2 – Comparativo entre a perspectiva de avaliação técnico-gerencial e a avaliação em

profundidade ... 33

Quadro 3 - Documentos analisados para avaliação do CsF na UFC ... 38

Quadro 4 - Síntese do Roteiro de Entrevistas ... 39

Quadro 5 – Meta de distribuição de bolsas para o Programa Ciência sem Fronteiras ... 76

Quadro 6 – Alunos da Graduação da UFC no Programa Ciência sem Fronteiras de 2012 a 2016. ... 90

Quadro 7 – Síntese: trajetórias pessoais e experiência internacional ... 114

Quadro 8 – Síntese: contexto nacional e institucional ... 119

Quadro 9- Síntese: concepções sobre a internacionalização ... 131

Quadro 10- Síntese: a percepção dos gestores sobre o Programa CsF ... 152

Quadro 11-Síntese: o Programa CsF e a internacionalização da UFC ... 157

Quadro 12 – Trajetórias institucionais do Programa CsF e a internacionalização da UFC: indicadores ... 157

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ANDIFES BM CAI CAPES CCT CONSUNI CNI CNPQ CsF CT&I ENADE E-SIC FEBRABAN FIES FHC FMI

Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior Banco Mundial

Coordenadoria de Assuntos Internacionais

Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática Conselho Universitário

Confederação nacional da Indústria

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Ciência Sem Fronteiras

Ciência, Tecnologia e Inovação

Exame Nacional de Desempenho de Estudantes Serviço de Informação ao Cidadão

Federação Brasileira de Bancos

Programa de Financiamento Estudantil Fernando Henrique Cardoso

Fundo Monetário Internacional GATS

IBGE IES

Acordo Geral sobre Comércio de Serviços Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Instituições de Ensino Superior

IFES IFPB

Instituições Federais de Ensino Superior Instituto Federal da Paraíba

INEP LABOMAR MAPP

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira Instituto de Ciências do Mar

Mestrado em Avaliação de Políticas Públicas MCTI MDIC MEC MF MIC MPOG MRE

Ministério das Comunicações, Tecnologia e Informação Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Ministério da Educação

Ministério da Fazenda

Ministério da Indústria e Comércio

Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão Ministério das Relações Exteriores

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PBM PD&I PMDB PNB PPA PROGRAD PROINTER PRONATEC PROUNI

Plano Brasil Maior

Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Partido do Movimento Democrático Brasileiro Produto Nacional Bruto

Plano Plurianual

Pró-Reitoria de Graduação

Pró-Reitoria de Relações Internacionais

Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego Programa Universidade para Todos

REUNI SBPC SESu UECE UFC UFCA UFPE UFSCAR UNESCO UNICAMP UNILAB

Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Públicas Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

Secretaria da Educação Superior Universidade do Estado do Ceará Universidade Federal do Ceará Universidade Federal do Cariri Universidade Federal do Pernambuco Universidade Federal de São Carlos

Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura Universidade de Campinas

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2 BASES TEÓRICO-METODOLÓGICAS DA PESQUISA AVALIATIVA ... 28

2.1 Pressupostos epistemológicos da avaliação de políticas públicas ... 28

2.2 Perspectiva avaliativa do Programa Ciência sem Fronteiras na UFC: uma avaliação em profundidade ... 31

2.3 Caminhos metodológicos de construção da pesquisa avaliativa: métodos e técnicas de pesquisa ... 37

2.3.1 Procedimentos metodológicos e análise dos dados ... 38

2.3.2 O contexto da pesquisa de campo ... 42

2.3.3 Sujeitos da pesquisa ... 43

2.3.4 Triangulação da análise ... 45

3 O PROGRAMA CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS COMO POLÍTICA DE INTERNACIONALIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR ... 47

3.1 Avaliação do Programa Ciência sem Fronteiras: revisão da literatura ... 47

3.2 As universidades no Brasil contemporâneo: o pêndulo de valores do ensino superior ... 55

3.3 A internacionalização entre as fronteiras da cooperação mútua e da mercantilização da educação superior ... 63

3.4 A internacionalização sob a égide do mercado no contexto do neoliberalismo ... 68

4 A VIAGEM DE IDA: ANÁLISE DE CONTEÚDO DO PROGRAMA CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS ... 73

4.1 Paradigmas orientadores e dinâmicas de implantação do Programa Ciência sem Fronteiras 73 4.2 Mecanismos de efetivação do Programa Ciência sem Fronteiras na Universidade Federal do Ceará ... 84

4.3 Sobre o conteúdo: entre os discursos da política e sua implementação ... 92

5 A VIAGEM DE VOLTA: ANÁLISE DE CONTEXTO POLÍTICO INSTITUCIONAL DO PROGRAMA CSF ... 96

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6 O ITINERÁRIO: A TRAJETÓRIA INSTITUCIONAL DO PROGRAMA CIÊNCIA SEM

FRONTEIRAS SOB O OLHAR DOS GESTORES DA UFC ... 112

6.1 Trajetória pessoal e experiência internacional dos gestores ... 113

6.2 Contextos nacional e institucional ... 119

6.3 Concepções de internacionalização ... 125

6.4 Percepção sobre o Programa Ciência sem Fronteiras ... 133

6.5 Relação entre o Programa Ciência sem Fronteiras e a Internacionalização da UFC ... 154

6.6 Sobre as trajetórias institucionais: entre a política e suas ressignificações ... 157

7 ENTRE CONTEÚDO, CONTEXTOS E TRAJETÓRIAS DO CsF: UMA AVALIAÇÃO EM PROFUNDIDADE ... 164

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 173

APÊNDICE A – RELAÇÃO DOS GESTORES ENTREVISTADOS ... 192

APÊNDICE B – PESQUISAS SOBRE O PROGRAMA CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS NOS CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO NO BRASIL ... 197

APÊNDICE C – ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS GESTORES DA UFC ... 221

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1 INTRODUÇÃO

“Nosso objeto é uma janela para vermos o mundo”. (Alba Carvalho)

Esta pesquisa tem como objeto de avaliação o Programa Ciência sem Fronteiras (CsF) na Universidade Federal do Ceará como política de internacionalização do ensino superior. Partindo da inquietação de querer conhecer os desdobramentos do Programa CsF no processo de internacionalização da UFC, busca, a partir da perspectiva da avaliação em profundidade, desenvolvida por Rodrigues (2008), compreender a relação entre o CsF e o processo de internacionalização da UFC por meio da apreensão de seu contexto político-institucional, da visão de internacionalização na Universidade, da forma como ocorreu o CsF e os sentidos do Programa CsF e da internacionalização na percepção de gestores da UFC.

A internacionalização tem sido um tema recorrente nas discussões sobre educação superior no Brasil, principalmente com a introdução do neoliberalismo no Brasil nos anos 1990, cujas políticas públicas, especialmente em educação, passaram a ser fomentadas por organismos multilaterais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Entretanto, foi em 2011 que as estratégias para internacionalizar as IES brasileiras ganharam incrementos significativos através do Programa Ciência sem Fronteiras. (ALMEIDA, 2014).

O Programa CsF foi criado no primeiro mandato do Governo Dilma Rousseff (2011-2014), através do decreto nº 7642, de 13 de dezembro de 2011, nos seus termos, com a finalidade de impulsionar a internacionalização do ensino superior por meio da capacitação de pessoas com elevada qualificação em universidades de excelência, além de atrair para o Brasil jovens talentos e pesquisadores estrangeiros de elevada qualificação, em áreas de conhecimento definidas como prioritárias1 (BRASIL, 2018). No entanto, a crise política e econômica, iniciada no segundo mandato do Governo Dilma (2014-2016) e que culminou com seu impeachment, em maio de 2016, afetou a continuidade do Programa.

Logo após o impeachment, em julho de 2016, no Governo do presidente interino Michel Temer, a CAPES anunciou por meio de nota oficial a suspensão da concessão de bolsas a alunos da graduação, alegando o alto custo do programa. (CAPES, 2016).

1 Segundo a CAPES (2011), essas áreas prioritárias, que se restringem às ciências exatas, como engenharia e demais setores que envolvem tecnologia, foram estabelecidas de acordo com estudos do Ministério da Educação (MEC), Ministério da Indústria e Comércio (MIC), e pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), que identificaram as necessidades de prioridades de treinamento de pessoal para o país, considerando o cenário de investimentos atuais e futuros.

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Com a suspensão, o programa passou a conceder um quantitativo de apenas 5 mil bolsas por ano a alunos da pós-graduação, resultando em uma redução significativa no número de bolsas, já que a proposta inicial era de 101 mil (G1, 2017).

Para se compreender a magnitude do CsF, no período de 2012 a 2016, dados do painel de controle do Programa demonstram que foram implementadas 92.880 mil bolsas a alunos da graduação e pós-graduação de todo o Brasil, das quais 78,97% foram destinadas a alunos da graduação (CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS, 2018).

Embora haja divergência de dados, a Universidade Federal do Ceará (UFC), lócus desta avaliação, despontou como uma das 10 universidades brasileiras que mais enviaram alunos ao Programa. Os dados do painel de controle informam que, no caso específico do Ceará, a UFC foi a instituição que mais concedeu bolsas, totalizando 2.123, sendo 87% destinadas a alunos da graduação. Em segundo lugar, vem a Universidade de Fortaleza (UNIFOR), com 384 bolsas e em seguida a Universidade Estadual do Ceará (UECE), com 206 bolsas concedidas (CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS, 2018).

Apesar de números tão expressivos, faz-se necessário entender o que esses dados significam para a internacionalização da UFC, especialmente ao se considerar que há duas vertentes de concepções sobre a internacionalização, uma de viés acadêmico-institucional, nos moldes sugeridos pela Organização das Nações Unidas para a Educação (UNESCO), cujas ações são voltadas para a cooperação solidária, remetendo-nos a uma visão mais acadêmica e sociocultural do processo; e outra com viés mercadológico, voltada para a formação de recursos humanos para atender ao mercado de trabalho global, como propõem o Banco Mundial (BM) e a Organização Mundial do Comércio (OMC)2.

Essas concepções distintas no campo teórico acerca da internacionalização revelam a disputa de interesses existente no âmbito da educação superior que impõe um valor muito tênue sobre a educação como bem social ou como mercadoria (SOBRINHO, 2004). Observa-se, portanto, que a internacionalização é marcada contraditoriamente por princípios entre a transferência de conhecimentos por razões economicistas materializadas por meio da mobilidade acadêmica e a cooperação internacional. Por essa razão, entender sob que perspectivas as universidades públicas têm desenvolvido sua internacionalização torna-se relevante para se compreender os rumos da educação superior.

Nesse contexto, por se configurar como um processo complexo, esta avaliação do Programa CsF na UFC parte da seguinte questão central: quais foram os desdobramentos do

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Programa Ciência sem Fronteiras para o processo de internacionalização da UFC? Outras indagações surgem a partir dessa questão: Quais as concepções de internacionalização dos sujeitos institucionais que nortearam a implementação do Programa CsF na UFC? Em que medida essas concepções se relacionam à base conceitual acerca de internacionalização do CsF? Qual o contexto político, econômico, social e cultural em que o Programa foi elaborado? Especificamente, qual o contexto institucional de sua implementação na UFC?

A partir dessas questões, partindo do pressuposto orientador de que o Programa CsF teria impulsionado o processo de internacionalização da UFC, esta dissertação tem como objetivo geral avaliar o Programa CsF e seus desdobramentos na institucionalização da internacionalização da Universidade Federal do Ceará.

A fim de compreender a relação do CsF com a internacionalização da UFC, foram definidos os seguintes objetivos específicos: analisar as intencionalidades, as concepções que nortearam a elaboração e implementação do Programa CsF com vistas à internacionalização do ensino superior; analisar o contexto da implementação do Programa CsF a nível nacional e institucional; compreender de que forma o Programa CsF foi implementado na UFC; e apreender os significados que o Programa CsF trouxe na percepção de seus gestores.

Apesar da dimensão do Programa e da relevância do tema, encontram-se poucos estudos avaliativos sobre seus efeitos. Em 2015, foram realizadas duas avaliações por órgãos governamentais como a CAPES e o Senado. No entanto, essas avaliações, de viés tradicional3, concentraram-se na apresentação de dados quantitativos, como número de bolsas implementadas, instituições participantes, nível de satisfação em relação ao programa etc., e tiveram como objetivo principal a identificação de falhas e recomendações de melhorias para as futuras edições do Programa. (BRASIL, 2015).

Além disso, há uma baixa quantidade de estudos acadêmicos que avaliam o Programa. No Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES, por exemplo, do total de 88 pesquisas que abordam o CsF, foram localizadas 9 dissertações que tratam sobre a avaliação do CsF, realizadas entre o período de 2012 a 2018. Em relação à UFC, no repositório institucional, até este ano, não constam estudos sobre o tema.

Como se verá, esta dissertação se afasta dessa concepção instrumental de avaliação. O que se pode afirmar desde já é que as discussões sobre o Programa necessitam de maior

3 As avaliações de políticas públicas tradicionais são pautadas no paradigma gerencialista que é marcado por uma “concepção instrumental da avaliação, cuja função é medir, acompanhar e ‘avaliar’ o êxito das reformas administrativas norteadas pelos princípios e valores neoliberais” (RODRIGUES, 2011, p. 42). Isso será discutido ao longo deste trabalho.

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compreensão avaliativa, bem como compreender suas reverberações no processo de internacionalização do ensino superior, pois há uma abundância de dados quantitativos, mas, em contrapartida, há uma ausência de avaliação de cunho qualitativo, e menos instrumental, que permita compreender o significado dessa experiência internacional para a instituição.

Isto ocorre, segundo Minayo (2005), porque avaliações de programas sociais de abordagem qualitativa são recentes, tendo se desenvolvido nos últimos 20 anos. Esse tipo de avaliação busca compreender as relações, as visões e o julgamento dos diferentes atores sobre a intervenção na qual participam, pois entende que suas vivências e reações fazem parte da construção da intervenção e de seus resultados.

Por essa razão, este trabalho avaliará o Programa CsF na UFC, sob a perspectiva da avaliação em profundidade proposta por Rodrigues (2008), que compreende a avaliação como um processo multidimensional e interdisciplinar, pois contempla várias dimensões (sociais, culturais, políticas, econômicas, territoriais) envolvidas nas políticas públicas, não somente a dimensão econômica predominante nos modelos instrumentais e positivistas de avaliação.

A relevância da adoção dessa perspectiva avaliativa consiste no fato de que as políticas públicas são melhor compreendidas se considerarmos a configuração de Estado em que ela está inserida, sua interface com a sociedade, bem como as especificidades de cada local em que a política foi implementada, considerando suas relações com os diversos atores envolvidos nas políticas, os quais dão a elas sentidos e significados de acordo com seus contextos culturais institucionais, possibilitando assim uma avaliação extensa, detalhada, densa, ampla e multidimensional (GUSSI, 2015; RODRIGUES, 2008).

Metodologicamente, para alcançar os objetivos desta pesquisa, foi realizada uma pesquisa de abordagem qualitativa com aportes quantitativos, pois a abordagem qualitativa permite maior apreensão dos significados e da experiência dessa política na instituição, sendo primordial para realização de uma avaliação em profundidade.

A fim de desenvolver os eixos analíticos da avaliação em profundidade4, para a

coleta de dados foram utilizadas a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental e entrevistas semiestruturadas com gestores de diferentes níveis hierárquicos, de acordo com a estrutura organizacional, envolvidos tanto na institucionalização da internacionalização via CsF quanto na operacionalização do Programa.

A pesquisa bibliográfica contribuiu na construção das bases teóricas acerca do CsF, do contexto político, econômico e social que o circunscreve, bem como as concepções

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ideológicas que nortearam a formulação dessa política pública. Já a pesquisa em fontes documentais do Governo Federal, do Ministérios da Educação (MEC) e da UFC, subsidiou o levantamento e a análise do material institucional para o desenvolvimento da análise de conteúdo, de contexto e de trajetória, eixos da avaliação em profundidade (RODRIGUES, 2008).

As entrevistas, por sua vez, foram realizadas com os gestores envolvidos na implementação do Programa na UFC desde o início em 2012 até seu encerramento em 2016, e se apoiaram em um roteiro que permitiu flexibilidade nas conversas e absorção de novos temas relevantes trazidos pelo interlocutor, permitindo emergir categorias analíticas relativas ao Programa. (MINAYO, 2005).

Com a finalidade de conhecer como o Programa foi operacionalizado junto aos alunos, foram entrevistados coordenadores de 9 cursos que enviaram alunos para o Programa CsF, sendo eles 5 cursos das áreas de Ciência e Tecnologia, como Arquitetura e Urbanismo, Biotecnologia, Ciências Biológicas, Engenharia Civil e Engenharia de Produção Mecânica, que foram os cursos que mais enviaram alunos; bem como 4 cursos na área de Humanas, como Cinema e Audiovisual, Design de Moda, Jornalismo e Publicidade, que entraram no Programa pela área da Indústria Criativa, contemplada nos primeiros editais em 2012.

Também foram entrevistados os gestores da administração superior da UFC, sendo 2 reitores; 2 pró-reitores de graduação e o coordenador de assuntos internacionais. Com isso, pretende-se conhecer como esses gestores pensam a internacionalização e como o CsF foi representado na UFC.

A partir dessa proposta metodológica foi possível compreender os sentidos dado ao CsF na UFC ao longo de seu trânsito pelas vias institucionais, pois uma mesma política pública, gestada pelo Governo Federal, pode ter trajetórias distintas à medida que vai sendo implementada nas instituições (RODRIGUES, 2008).

Uma questão fundamental nesta pesquisa consiste na relação desta pesquisadora com este campo investigativo. Para tal, recorro a Peirano (1995) e Oliveira (1998) quando dizem que:

A pesquisa depende, entre outras coisas, da biografia do pesquisador, das opções teóricas presentes na disciplina, do contexto sócio histórico mais amplo, e, não menos, das imprevisíveis situações que se configuram entre pesquisador e pesquisado no dia-a-dia da pesquisa. (PEIRANO, 1995, p. 35)

Ademais, promover a consonância entre pesquisa e biografia é altamente estimulante, pois atribui vida ao estudo, retirando da produção intelectual “poeiras de artificialismo”, que recobrem parte da vida acadêmica ou contribuem para a representação social da universidade como redoma, imagem que ainda encontra ressonância na sociedade. (OLIVEIRA, 1998, p. 19)

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Portanto, partindo da ideia que não há como dissociar a trajetória de vida desta pesquisadora desta avaliação, pode-se afirmar que minhas motivações pessoais para investigar políticas públicas na área da educação, em especial o Programa CsF, precedem a vida acadêmica de mestranda do MAPP.

Fui estudante de escola pública e a primeira universitária da minha família em um contexto em que não havia tantas políticas públicas na área da educação, como políticas de democratização do acesso às universidades públicas, lei de cotas, Programa CsF. Também não havia estrutura, nem material, devido aos cortes sequenciais de verbas, tanto para infraestrutura como para as atividades de ensino, pesquisa e extensão, resultado das políticas neoliberalista do Governo Fernando Henrique Cardoso (1995 – 2002).

Paralelo ao curso superior e estágio em Secretariado, comecei a ensinar inglês em uma escola de idiomas para contribuir no orçamento familiar, despertando em mim o desejo por estudar no exterior. No entanto, por questões econômicas, o intercâmbio era inviável.

Graduada e com especialização, trabalhei como Secretária Executiva na iniciativa privada e em 2010 prestei concurso para Secretária Executiva na Universidade Federal do Ceará (UFC), no movimento do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), instituído pelo Decreto nº 6.096/2007 e elaborado com base no discurso da UNESCO que tem a educação como um bem público.

O interesse em avaliar o CsF se deu a partir do momento em que eu ingressei na UFC em 2011, mesmo ano de criação do Programa, em uma conjuntura de ampliação de programas sociais, especialmente na área da educação, a exemplo do REUNI, do Programa Universidade para Todos (PROUNI), da expansão da universidade para o interior, dentre outros.

Em 2012, na gestão do Professor Jesualdo Pereira Farias, fui removida para a Divisão de Apoio Administrativo do Gabinete do Reitor por onde tramitam vários tipos de convênios, dentre eles os de cooperação com universidades estrangeiras, assunto que sempre despertou meu interesse pessoal e que por isso, tornou-se um campo de estudo: compreender como se dá o processo de trocas e cooperação interculturais.

Inicialmente, o CsF chamou minha atenção por sua dimensão e pelos altos investimentos governamentais, possibilitando que alunos de diferentes classes sociais pudessem ter uma experiência internacional, algo que nos anos em que fiz minha graduação na Universidade do Estado do Pará, de 2002 a 2005, era algo impensável. No entanto, a estrutura organizacional da UFC, constituída por uma Coordenadoria de Assuntos Internacionais, era

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ainda tímida frente à grandiosidade do Programa. Tal problemática gerou meu interesse por esse objeto de estudo, que foi se desenvolvendo até chegar neste trabalho.

Em 2015, na gestão do Reitor, Professor Henry de Holanda Campos, cuja trajetória profissional é marcada por experiências fora do País, o processo de internacionalização teve prioridade em sua gestão, quando foi criada em 2017 a Pró-Reitoria de Relações Internacionais (PROINTER), ganhando maior autonomia administrativa e orçamentária para a elaboração e execução das políticas.

A partir dessa retrospectiva, percebo o quanto minha trajetória de vida se relaciona com a produção deste trabalho. A Universidade representou em vários aspectos da minha vida um papel social muito relevante, uma possibilidade de reflexão que foge aos moldes definidos pelas competências exigidas pelo mercado. E ao olhar para trás, tenho a convicção de que minhas conquistas não foram resultado somente de um esforço pessoal, mas das ações de um Estado que interagiu com as necessidades da sociedade, materializadas por meio das políticas públicas, em especial na área de educação.

Ao fazer essa retrospectiva, encontro vestígios de um passado que influenciou significativamente na escolha da temática de estudo, de um presente de amplitude de olhares e novas descobertas e de um futuro de luta em prol da manutenção da educação como meio de transformação social e cultural.

Considerando o fato de a internacionalização ser um processo que ainda se encontra em movimento na UFC, apesar do fim do programa, esta avaliação torna-se ainda mais relevante, principalmente no atual momento de transformações políticas e econômicas que o Brasil está passando, com o aprofundamento do neoliberalismo e as políticas de ajuste fiscal, que ameaçam a universidade enquanto bem público.

Nos dois anos do Governo Temer (2016-2018), por exemplo, além da suspensão do Programa CsF, as universidades federais tiveram o menor repasse de verbas em relação aos sete anos anteriores, sofrendo uma redução de 28% no orçamento (MORENO, 2018). No atual Governo Bolsonaro, segundo Tenente e Fiqueiredo (2019), os cortes atingiram 30% dos gastos não obrigatórios (água, luz, terceirizados, obras, equipamentos e realização de pesquisas). Essa retirada de recursos, que traduz a perda de prioridade da educação nas políticas públicas, resulta na emergência de um mercado universitário como alternativa, tornando a internacionalização um caminho. (SOUZA SANTOS, 2011).

Dessa forma, entende-se que a internacionalização vai assumindo sentidos e trajetórias que transformam os paradigmas institucionais da universidade. Por isso, entender o que o Programa CsF representou, tanto do ponto de vista político quanto institucional, em um

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momento em que a discussão em torno da internacionalização está em evidência, principalmente no contexto neoliberal, justifica e torna relevante o desenvolvimento desta avaliação.

Para uma melhor organização, este trabalho está dividido em oito seções, sendo a primeira delas esta introdução, que apresenta a problemática, os objetivos da pesquisa, sua relevância e a relação desta pesquisadora com o tema.

Na segunda seção, intitulada “Bases teórico-metodológicas da pesquisa avaliativa”, é realizada uma retrospectiva dos marcos históricos que envolvem a avaliação de políticas públicas, os quais são prioritariamente pautados no modelo positivista de avaliação. Em seguida, apresenta-se a perspectiva avaliativa adotada para avaliar o CsF na UFC, qual seja, a avaliação em profundidade, proposta por Rodrigues (2008), fundamentada no paradigma hermenêutico de Lejano (2012), que propõe um distanciamento dos modelos tradicionais de avaliação, buscando avaliar uma política de forma densa, detalhada e multidimensional, considerando os sujeitos sociais envolvidos e os contextos onde essas políticas se desenvolvem. Dessa forma, nesta seção, apresenta-se como o CsF foi avaliado por meio dos eixos analíticos da avaliação em profundidade, bem como os conceitos de coerência e topologia das instituições de Lejano (2012), visando compreender o processo de implementação do CsF na UFC e suas defluências no seu processo de internacionalização. Ainda nessa seção, apresentam-se os caminhos metodológicos traçados para apresentam-se atingir os objetivos propostos na pesquisa, tendo em vista o desenvolvimento dos eixos da avaliação em profundidade.

A terceira seção, intitulada “O Programa Ciência sem Fronteiras como política de internacionalização do ensino superior”, apresenta inicialmente uma revisão de literatura sobre a avaliação do CsF nos cursos de pós-graduação das universidades brasileiras, discorrendo brevemente sobre as pesquisas avaliativas realizadas por Athayde (2016), Cruz (2016), Vieira (2016), Conceição (2017), Pinto (2017), Ribeiro (2017), Manços (2017), Moura (2018) e Granja (2018) com a finalidade de entender como o Programa CsF foi investigado, quais foram as abordagens de avaliação e quais as contribuições que uma nova pesquisa poderia trazer, mas também indicar lacunas que permitam analisar de forma mais profunda a temática.

Em seguida, a terceira seção baseou-se principalmente nas proposições de Souza Santos (2011), Chauí (2001), Sobrinho (2004), Knight (2003) e traz uma discussão sobre a configuração das universidades no Brasil contemporâneo, bem como sobre as concepções existentes em relação à internacionalização do Ensino Superior, uma voltada para a solidariedade, nos moldes da UNESCO e outra que a configura como um serviço educacional nos moldes definidos pela OMC. Nessa seção, discute-se também como a internacionalização

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se desenvolve nas universidades no contexto do neoliberalismo, submetendo-se à lógica do capital e aprofundando o modelo de educação superior tecnicista, principalmente nas áreas de Ciência e Tecnologia, as áreas prioritárias do CsF.

A quarta seção, “A viagem de ida: análise de conteúdo do Programa Ciência sem Fronteiras ”, apresenta o ponto de partida para a elaboração do Programa, analisando sua base conceitual, seus paradigmas orientadores, bem como os mecanismos de efetivação da política na UFC, buscando compreender através da análise dos documentos, como decretos, portarias, resumo executivo do programa, elaborado pela Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), plano de internacionalização da UFC, discursos institucionais do governo federal e da UFC e notícias veiculadas nos sites oficiais, as intencionalidades que permearam a elaboração do programa, relacionando-as ao referencial teórico.

A quinta seção, intitulada “A viagem de volta: análise de contexto político-institucional do Programa CsF”, faz uma retrospectiva acerca do momento político-econômico em que o programa foi criado no governo de Dilma Rousseff (2011-2016) até sua suspensão em 2016 no Governo Michel Temer (2016-2018). Apresenta-se, ainda, o contexto institucional da UFC nos reitorados de Jesualdo Pereira farias (2008-2015) e Henry de Holanda Campos (2015-2019), buscando compreender como o programa foi experienciado na UFC nessas gestões, que tiveram prioridades distintas.

A sexta seção, de título “O itinerário: a trajetória institucional do Programa Ciência sem Fronteiras sob o olhar dos gestores da UFC”, recompõe a trajetória do programa na UFC, apresentando em que medida as percepções dos gestores divergiram ou convergiram para a consecução do Programa CsF na UFC a partir de cinco eixos analíticos, relacionados aos objetivos desta pesquisa:

i) Trajetória pessoal e experiência internacional, pois a partir das trajetórias de vida, das vivências dos gestores, pode-se compreender os significados que eles atribuíram ao Programa CsF na UFC;

ii) Contextos nacional e institucional, uma vez que a UFC está no bojo das políticas públicas da educação superior e compreender essa configuração institucional possibilita entender os jogos de interesses e as ações dos sujeitos envolvidos na implementação do CsF na Universidade;

iii) Concepção de internacionalização, em que se buscou compreender as concepções de internacionalização dos sujeitos envolvidos na implementação do programa;

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iv) Percepção sobre o Programa Ciência sem Fronteiras, em que se buscou, a partir dos relatos, compreender a percepção dos gestores acerca do processo de formulação, planejamento, implementação e os resultados do programa para a Universidade;

v) Relação entre a internacionalização da UFC e o Programa CsF, em que foi possível analisar se os gestores veem relação entre o Programa CsF e a internacionalização da Universidade.

A sétima seção traz uma triangulação analítica entre os três eixos da avaliação em profundidade, especialmente articulando-os à percepção dos gestores, e de forma ampla, relacionando-a com o referencial teórico estudado. A partir desses resultados foi possível não somente compreender o que o programa representou para a UFC, tanto do ponto de vista institucional quanto político, mas também produzir indicadores qualitativos multidimensionais, visando qualificar melhor a implementação de políticas públicas na Universidade, sobretudo no tocante à internacionalização.

Por fim, a oitava seção traz nas considerações finais os alcances, os limites e os desafios desta pesquisa avaliativa.

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2 BASES TEÓRICO-METODOLÓGICAS DA PESQUISA AVALIATIVA

“Política, assim como poesia, deve ser lida, interpretada, reinterpretada, mas sem que se determine de forma alguma seu significado exato.” (Lejano)

Como dimensão fundante desta pesquisa avaliativa, faz-se necessário circunscrever seus aspectos teórico-metodológicos, buscando articular as questões epistemológicas que envolvem o campo da avaliação de políticas públicas com os métodos e técnicas escolhidos para construir esta pesquisa.

Por isso, esta seção está dividida em três subseções, a saber: 2.1) Pressupostos epistemológicos da avaliação de políticas públicas, em que serão apresentados, de forma geral, os marcos históricos que constituem o campo da avaliação de políticas públicas; 2.2) Perspectiva avaliativa do Programa Ciência sem Fronteiras na UFC: uma avaliação em profundidade, no qual são apresentados os fundamentos da avaliação em profundidade do Programa CsF; e 2.3) Caminhos metodológicos para construção da pesquisa avaliativa, em que será descrito o passo a passo para realização da pesquisa em articulação com a perspectiva avaliativa adotada para atingir os objetivos propostos.

2.1 Pressupostos epistemológicos da avaliação de políticas públicas

A avaliação tal qual concebida atualmente “é consequência de um processo de evolução de construção e reconstrução que envolve inúmeras influências interatuantes.” (GUBA; LINCOLN, 2011, p. 28). Por isso, a avaliação é um campo de estudo ainda em desenvolvimento.

O campo da avaliação constituiu-se inicialmente no âmbito educacional nos últimos anos do século XIX e nas primeiras três décadas do século XX, marcado por aplicação de testes, como os coeficientes de inteligência (QI), e medições psicofísicas, ficando conhecido como a primeira geração da avaliação.

Nesse período, a aprendizagem era quantificada por meio de números e classificações. A avaliação era, portanto, concebida como medição e seu conceito era inserido no paradigma positivista próprio das ciências físico-naturais, centrado na determinação das diferenças individuais, nada tendo a ver ainda com programas escolares ou desenvolvimento do currículo. (SOBRINHO, 2003).

O segundo período da avaliação, que teve como precursor Ralph Tyler em 1934, trouxe importantes contribuições, pois houve uma ampliação do campo da avaliação, que

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passou a ser considerada um valioso instrumento para regulação do conhecimento e das formas de adquiri-lo e definia os comportamentos desejados, controlando seus cumprimentos e aplicando as sanções ou prêmios correspondentes aos resultados.

Segundo Guba e Lincoln (2011), essa abordagem, caracterizada pela descrição de padrões de pontos fortes e fracos em relação a determinados objetivos estabelecidos, foi denominada de segunda geração da avaliação. Desenvolveu-se também em conformidade com o paradigma de racionalização científica e com a ideologia da eficiência, colocando a escola como uma instituição útil ao desenvolvimento econômico, algo ainda muito sustentado atualmente quando se defende que a principal função da educação é ser útil à indústria.

A terceira geração (1958 a 1972) caracterizou-se por iniciativas que visavam alcançar juízos de valor, na qual o avaliador assume um papel de julgador. Nesse período, a avaliação se tornou um campo de estudo e passou a fazer parte obrigatória da educação com a justificativa de que as escolas eram culpáveis pelos baixos rendimentos e que os financiamentos públicos estavam sendo mal utilizados. Dessa forma, os pais deveriam saber como trabalhavam as escolas e os educadores deveriam prestar contas aos usuários. (SOBRINHO, 2003).

Nesse mesmo período, a avaliação passou a ser obrigatória também nos programas sociais federais, atrelada à avaliação dos programas de combate à pobreza, financiados pelo governo, cujo modelo buscava dimensionar o grau de sucesso ou fracasso das instituições nessa área social (SILVA, 2008).

No entanto, seu fortalecimento na gestão governamental se deu a partir nas décadas de 1980 e 1990, impulsionado pelo modelo de Estado neoliberal de Margaret Thatcher (1979-1990), na Inglaterra, e de Ronald Reagan (1981-1989), nos Estados Unidos, passando, assim, a assumir cada vez mais uma densidade política, sendo utilizada como instrumento de poder e estratégia de governo, mas também a incorporar práticas de mercado. (SOBRINHO, 2003; FARIA, 2005; PEREIRA & SPINK 2015).

Seguindo o modelo norte-americano, no Brasil, o campo da avaliação em políticas públicas intensificou-se no final da década de 1980 e início de 1990 no contexto da Reforma do Estado, que visava “enxugar” a máquina pública e, segundo Rodrigues (2008), surgiu para atender à agenda neoliberal, de dependência do Estado frente ao Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento – BIRD e Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, que passaram a exigir sistemas de monitoramento de avaliação mais criteriosos acerca dos projetos por eles financiados.

Esses marcos históricos explicam porque a avaliação das políticas públicas tem sido predominantemente pautada por perspectivas generalizantes aplicáveis a qualquer país ou

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situação; fundada ainda nos paradigmas positivistas de análise e predomínio de referenciais economicistas, instrumentais e/ou utilitaristas, baseando-se em critérios pré-definidos de eficiência, eficácia e efetividade5 dos programas, a partir de indicadores estatísticos que revelam a relação custo-benefício em relação ao investimento realizado, que buscam verificar em que grau os objetivos traçados foram atingidos ou até mesmo emitir um juízo de valor acerca de determinada política. (RODRIGUES, 2011).

Esse modelo positivista fundamenta-se no paradigma científico dominante, constituído basicamente no domínio das Ciências Naturais, originado a partir da Revolução Científica ocorrida na Europa no século XVI, quando o conhecimento passou a ser algo objetivo e prático, baseado na realidade tal qual ela é. (SOUSA SANTOS, 2008).

Nessa concepção da ciência moderna, só era considerada ciência aquilo que era quantifícável. O que não era convalidado pela ótica científica era considerado prejudicial ao progresso e crescimentos das sociedades (CARVALHO, 2005). No entanto, as leis da natureza não são as mesmas que regem a sociedade, pois a “ação humana não é apenas biologicamente determinada, mas se dá principalmente pela incorporação das experiências e conhecimentos produzidos e transmitidos de geração a geração” (ANDERY, 1988, p. 12).

Apesar de a comunidade científica estar vivenciando a emergência de novos paradigmas científicos, é perceptível que o paradigma positivista ainda predomina na construção do conhecimento científico na nossa sociedade, não somente no campo da avaliação, mas também no âmbito da educação e das políticas públicas, o que pode ser observado, inclusive, na configuração do Programa CsF, objeto desta avaliação, cujas áreas prioritárias definidas para concessão de bolsas, restringiram-se às áreas de engenharias e tecnologias.

Essa hegemonia, regida pela agenda neoliberal e o gerencialismo técnico (GUSSI, 2019), perpassa também o campo da avaliação e predomina dentro das Universidades, como ratifica Carvalho (2015, p. 16) quando diz que “a universidade é também um espaço de disputa de hegemonia entre diferentes perspectivas do fazer ciência”. Por conseguinte, perpassa também a internacionalização do ensino superior, como se vê no caso do Programa CsF, como ilustra a figura 1:

Figura 1 – Hegemonia do paradigma positivista no campo da educação e da avaliação.

5 No tocante à Avaliação de Políticas Públicas, Silva (2008) define eficiência ou rentabilidade econômica a relação entre os custos despendidos e os resultados do programa; eficácia como o grau em que os objetivos e metas foram alcançados na população beneficiária num determinado período de tempo; e efetividade como a relação entre resultados e objetivos (medida de impacto).

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Fonte: Elaborado pela autora (2019)

No entanto, esse modelo, ainda hegemônico, torna-se insuficiente quando se depara com a multiplicidade de valores, contextos e invariabilidades encontrados e vivenciados em uma comunidade, como afirma Sobrinho (2003, p. 27):

A avaliação se torna cada vez mais complexa à medida que considera insuficientes os procedimentos meramente descritivos e reclama a consideração de aspectos humanos, psicossociais, culturais e políticos, onde não há consensos prévios e os entendimentos precisam ser construídos. (SOBRINHO, 2003, p. 27).

Nesse mesmo sentido, Gussi e Oliveira (2015, p. 5), afirmam que o modelo de avaliação positivista “desconsidera os sujeitos sociais, envolvidos nas políticas, bem como os contextos sociopolíticos e culturais nacionais, regionais e locais onde essas políticas se realizam e as contradições neles inerentes”.

No Brasil, com o aumento de programas sociais promovidos a partir dos anos 2000, sobretudo na área de educação, os estudos em torno das políticas públicas e de sua avaliação aumentaram consideravelmente, ajustando-se às dinâmicas históricas e passando a demandar outras formas de avaliar, que se afastem dos modelos hegemônicos, regidos pelos marcos regulatórios do Estado e do mercado.

Em meio a essa complexidade no campo da avaliação, que não é meramente epistemológica, mas resultado de distintas concepções em torno do papel do Estado e da educação na sociedade, é que esta pesquisa se fundamenta em uma perspectiva contra hegemônica de avaliação, a avaliação em profundidade, delineada na próxima seção.

2.2 Perspectiva avaliativa do Programa Ciência sem Fronteiras na UFC: uma avaliação em profundidade

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Para avaliar o Programa CsF e seus desdobramentos na institucionalização da internacionalização da UFC, considerando o contexto em que a política foi formulada e implementada, seus paradigmas orientadores e os significados atribuídos a ela na Universidade, esta pesquisa adota a perspectiva da avaliação em profundidade, desenvolvida por Rodrigues (2008).

A adoção da avaliação em profundidade se justifica, pois essa perspectiva avaliativa se distancia do modelo gerencialista, uma vez que considera a avaliação um processo sócio-político e cultural, constituindo-se como um processo multidimensional ao contemplar várias dimensões envolvidas nas políticas públicas: social, cultural, política, econômica, territorial. (RODRIGUES, 2008).

Para tanto, esta avaliação do Programa CsF na UFC seguiu quatro eixos de análise propostos por Rodrigues (2008): i) conteúdo da política; ii) contexto de formulação; iii) trajetória institucional; e iv) espectro temporal e territorial abarcado pela política, conforme detalha o quadro 1:

Quadro 1 – Modelo da avaliação do Programa Ciência sem Fronteiras

Avaliação em Profundidade

Eixos Analíticos Detalhamento

Análise de conteúdo Análise dos objetivos, critérios, dinâmica de implantação,

acompanhamento e avaliação; bases conceituais: paradigmas orientadores e as concepções e valores que os informam, bem como os conceitos e noções centrais que sustentam o Programa CsF.

Análise de contexto Análise do momento político e condições

socioeconômicas em que o CsF foi formulado e encerrado, bem como apreensão do modelo político, econômico e social que sustentou a política à época de sua formulação.

Trajetória institucional Análise do grau de coerência/dispersão do CsF ao longo

do seu trânsito pelas vias institucionais da UFC, buscando perceber as mudanças nos sentidos dados aos objetivos do programa e à sua dinâmica conforme foi adentrando as

diferentes unidades acadêmicas e hierarquias

organizacionais.

Espectro temporal e territorial6 Apreensão da configuração temporal e territorial do

percurso do CsF de forma a confrontar as

propostas/objetivos gerais da política com as especificidades locais e sua historicidade.

Fonte: Rodrigues (2008)

6 Essa quarta dimensão analítica não será realizada com profundidade nesta pesquisa porque corresponde a um momento mais avançado de sistematização dos dados, exigindo mais tempo de pesquisa, e mais recursos metodológicos para uma melhor análise. (RODDRIGUES, 2008, p. 12). Assim, os aspectos referentes às questões locais e culturais e às relações de poder, que emergem nos discursos dos sujeitos entrevistados serão apresentados na análise das entrevistas na sexta seção.

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A avaliação em profundidade é fundada no paradigma hermenêutico de avaliação proposto por Lejano (2012), outro autor importante para esta avaliação do CsF, pois tem como foco a interpretação, buscando compreender os significados de uma política para aqueles que a vivenciam.

Em uma situação tão epistemológica, podemos começar a questionar o significado de nossas mais queridas instituições, ideais e programas. É por esta razão que descrevemos isto como o tratamento da política como texto. Quando o significado está em questão, a realidade é como um texto que está sujeito à análise e interpretação. Se ninguém puder legalmente declarar-se o autor, ou se a exata noção de autoria é questionada, então a política estará sujeita a uma série possivelmente interminável de interpretações. [...] Política, assim como poesia, deve ser lida, interpretada, reinterpretada, mas sem que se determine, de forma alguma, seu significado exato. (LEJANO, 2002, p. 114).

Dessa forma, na concepção hermenêutica de Lejano, não há como se chegar a um resultado exato acerca de uma política, pois a ela podem ser atribuídos diferentes significados. Para tal, faz-se necessário adentrar nos detalhes intrínsecos à realidade para conseguir apreender os significados que o CsF teve na UFC na percepção dos gestores envolvidos.

Por isso, segundo Rodrigues (2016), o argumento central de Lejano (2012) para utilização desse modelo avaliativo é de que os métodos hegemônicos, centrados na mensuração do objeto de estudo, constrangem a aprendizagem e o entendimento, impedindo a compreensão da política na forma como ela realmente ocorre e é vivida, experienciada por uma multiplicidade de atores.

Faz-se necessário clarear aqui as rupturas entre a avaliação em profundidade e o modelo gerencialista de avaliação, pois ela não se restringe apenas à averiguação do cumprimento de metas e resultados do CsF, mas centra-se na busca de significados da política para os que a formulam, executam ou vivenciam, dentro de um determinado contexto sócio-político-cultural, caracterizando-se como uma avaliação extensa, ampla, detalhada, e multidimensional (RODRIGUES, 2016), como mostra o quadro a seguir:

Quadro 2 – Comparativo entre a perspectiva de avaliação técnico-gerencial e a avaliação em profundidade

Avaliação Técnico-Gerencial Avaliação em profundidade

Baseada no paradigma positivista Baseada no paradigma

hermenêutico/pós-construtivista (Lejano, 2012) Preocupação com a “medida” e confronto de objetivos

x resultados (concepção instrumental)

Preocupação com a “compreensão” e apreensão de significados

Predomínio da dimensão econômica Considera várias dimensões (política, econômica,

cultural, territorial, social)

Emissão de juízos de valor Compreensão hermenêutica

Desconsidera os sujeitos sociais e seus interesses Considera a diversidade de atores sociais e institucionais e os contextos de implementação

Decorrente de uma agenda neoliberal Decorrente do crescimento das políticas sociais.

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A contraposição ao modelo técnico-gerencial, pautado no positivismo, se dá, segundo Gussi (2019, p. 172), porque esse modelo “desconsidera os sujeitos sociais envolvidos nas políticas, bem como os contextos sociopolíticos e culturais nacionais, regionais e locais onde as políticas se realizam e as contradições neles inerentes”. Dessa forma, esse modelo torna-se insuficiente quando se depara com a multiplicidade de valores, contextos e invariabilidades encontrados em uma instituição.

A figura 2 ilustra a multiplicidade de fatores, considerados no paradigma hermenêutico, que incidem sobre a implementação de uma política, nesse caso específico, do Programa CsF na UFC, os quais são considerados no paradigma hermenêutico:

Figura 2- Paradigma hermenêutico

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

Na perspectiva hermenêutica, Lejano (2012, p. 123) afirma que não há análise de texto fora de contexto, pois “o contexto nos permite conectar essa parte ao todo”. Para tal, faz-se necessário buscar consistências do texto com elementos do contexto. Esfaz-se processo é denominado de círculo hermenêutico, conforme a figura 3:

(37)

Figura 3 – Círculo Hermenêutico

Fonte: Lejano (2012)

Por essa razão, não se pode avaliar o CsF na UFC sem considerar suas intencionalidades políticas, suas contingências de contexto, os sujeitos envolvidos nessa implementação e as especificidades locais.

A avaliação em profundidade permite apreender as percepções dos sujeitos como referência primordial para a construção da trajetória do Programa CsF na UFC, pois uma mesma política pode ser implementada de forma distinta em diferentes instituições, o que Lejano (2012) denomina de “coerência institucional”, quando uma política precisa, de alguma maneira e em diferentes aspectos, “encaixar”-se em uma instituição, como define Lejano (2012):

Coerência, até certo ponto, significa que o texto original deveria ser adaptado a cada lugar. Assim, essencialmente, ao mesmo tempo em que política é, afinal, texto e é, afinal levada de um lugar a outro pelos detentores de poder, ainda requer ser posta fisicamente em cada lugar, e isso significa, em virtude da necessidade de ao menos certo grau de coerência, que a política não será idêntica em cada situação. Ou seja, o engajamento do texto com o real induz mudanças na maneira pela qual a política é posta em ação. O que resulta não é isomorfismo, mas poliformismo (LEJANO, 2012, p. 229).

Assim, coerência descreve o nível que uma política é incorporada em determinado lugar. Por isso, ao avaliar uma mesma política em contextos diferentes, encontrar-se-á uma diversidade de interpretações, pois, como corrobora Gonçalves (2008, p.18), “tais políticas são ressignificadas segundo a visão de mundo das populações-alvo de tais políticas, e esta visão de mundo engendra-se nas relações que se tecem entre indivíduo e sociedade”.

Para explicar a noção de coerência de uma política, Gussi (2008) busca em Bordieu (1996), em seu ensaio “A ilusão biográfica” o aporte fundamental para orientar a trajetória institucional de uma política, pois Bordieu (1996, p. 81) entende trajetória como “uma série de posições sucessivamente ocupadas por um mesmo agente ou um mesmo grupo em um espaço

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ele próprio em devir e submetido a transformações incessantes”, isto é, a vida não segue uma ordem lógica, mas se desloca no espaço social e está vinculada a distintos agentes sociais.

Da mesma forma, ocorre com as políticas públicas quando adentram os espaços institucionais: elas estão circunscritas a ressignificações e vão se modificando à medida que vão sendo implementadas, de acordo com a ação dos agentes sociais, gerando o que Lejano denominou “polimorfismo institucional”.

Sobre essas ressignificações, Ball (2008) citado por Rosa (2019, p. 7), um sociólogo inglês e referência em implementação de políticas públicas, diz que

Políticas são contestadas, interpretadas ou encenadas em uma variedade de arenas da prática e a retórica, os textos e os significados dos formuladores de políticas nem sempre se traduzem diretamente e de forma óbvia em práticas institucionais. (BALL apud ROSA, 2019, p.7)

Portanto, a compreensão acerca da coerência institucional de Lejano proporciona o suporte necessário para traçar a trajetória do CsF na UFC, principalmente porque a duração do programa abrangeu distintas gestões na universidade, o que resulta em múltiplas significações, de distintos atores em seu contexto institucional.

Além disso, quando se adentra em uma instituição para buscar compreender o desenvolvimento de uma política, é preciso atentar que seu funcionamento vai além das fronteiras do modelo formal, porque “as instituições reais não são apenas regras e estruturas organizacionais, mas se encontram entrelaçadas com cultura, histórias, personalidades e outras contingências de contexto” (LEJANO, 2012, p. 261).

A essa teia de relações que fogem do modelo formal de uma instituição, Lejano (2012) denominou “topologia das instituições”. Portanto, para se compreender a implementação do CsF na UFC, faz-se necessário apreender como esta Universidade se organiza, quem são e como pensam os responsáveis pela sua execução e que relevância o programa teve no processo de internacionalização da UFC.

Ainda sobre essa teia de relações, recorre-se a Lipsky (1980), um dos principais pesquisadores sobre implementação de políticas públicas, para quem a discricionariedade é uma característica central na atuação de gestores, uma vez que estes produzem grande impacto sobre as políticas implementadas em decorrência da autonomia que possuem no exercício de suas funções. Essa discricionariedade não acontece destituída de culturas, valores e afiliações teóricas. (OLIVEIRA, 2014; LOTTA; PAVEZ, 2010).

Diante do exposto, encontraram-se na avaliação em profundidade os elementos necessários para a realização de uma avaliação melhor fundamentada, pois proporcionou entender as bases conceituais do Programa CsF, fornecendo maior clareza quanto às concepções

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ideológicas que o nortearam; situá-lo em um contexto, permitindo apreender o modelo político, econômico e social que sustentou a política à época de sua formulação, apresentando as inconsistências de sua formulação e dificuldades em sua implementação; traçar a trajetória do programa na UFC, proporcionando maior compreensão das relações de poder e rede de interesses e confrontando os objetivos gerais da política com as especificidades institucionais de internacionalização da UFC e sua historicidade, a partir da utilização de métodos e técnicas apresentados na próxima seção.

2.3 Caminhos metodológicos de construção da pesquisa avaliativa: métodos e técnicas de pesquisa

A forma como a avaliação é concebida teoricamente e operacionalizada pode variar de acordo com a perspectiva avaliativa assumida. Por isso, para realização desta pesquisa avaliativa na UFC amparou-se na perspectiva da avaliação em profundidade, desenvolvida por Rodrigues (2008) e fundamentada no modelo de avaliação experiencial do Lejano (2012).

Sob essa perspectiva, buscou-se desenvolver o método mais apropriado, o caminho mais seguro, como diria Oliveira (1998), para compreender como se deu a experiência do Programa CsF na UFC, perceber os valores e sentidos que circunscrevem essa política, o contexto político, econômico, social e cultural em que esse programa foi criado, bem como a forma que esse programa foi sendo implementado na Universidade. (GUSSI, 2008, 2016; RODRIGUES, 2008).

Por isso, para abordar o problema foi realizada uma pesquisa qualitativa, com aportes quantitativos, pois esta abordagem, segundo Minayo (2005, p. 82), “atua levando em conta a compreensão, a inteligibilidade dos fenômenos sociais e o significado e a intencionalidade que lhe atribuem os atores”, permitindo maior apreensão dos significados e da experiência dessa política na universidade, sendo primordial para realização de uma avaliação em profundidade.

Além disso, a interação das duas abordagens traz resultados mais fidedignos, pois as estatísticas são confrontadas com o subjetivo. Conforme Pereira (2012 p. 88), “o emprego das duas abordagens na pesquisa de um mesmo problema, em geral, tende a apresentar um resultado mais consistente”.

Destarte, esta pesquisa seguiu um percurso metodológico que permitiu interpretar com a maior coerência possível as questões propostas neste estudo, conforme a perspectiva da avaliação em profundidade.

Referências

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