Cronicadas
Criança
alheia
e
uma
avó
com
fogo
do
nordestino,
entre
temas
familiares
ou
não
Manda-chuva
Delfim
Pádua
declara que
não é cartola
mas
comunista
e
foge
das
acusações
Do
samba
No dia
em
que
Nega
Tide
morreu,
todos
os
tamborins,
surdos
e
repeniques
calaram
-i"
L
••
editorial
A Zero
Revista
é o resultadoda
produção
dos alunos dadisciplina Redação
V duranteo
primeiro
semestre de 20 II. Orientadospelo professor
Mauro César
Silveira,
produzimos
doisperfis
jornalísticos,
umacrítica
musical
edezenas
decrônicas,
com temas bastantevariados.
Essa
diversidade
de conteúdos,
que vocépoderá
comprovar nas
páginas
aseguir
ena
ilustração
da capa feita emconjunto pelos próprios repór
teres,
representou
umgrande
desafio
para asequipes
de edição
ediagramação
-compostas
somente por estudantes -, que
tentaram
solucionar
o"proble
ma" da
aleatoriedade
temáticae,
assim,
conferir
unidade àpublicação.
A
subjetividade
está presente em
todos
ostextos,
emtodas
as
escolhas
editoriais,
e não tivemos a menorpretensão
de
negá-la.
Ordenamos
os textos não apenas com o intuito deproporcionar
umaleitura levee prazerosa, mas
também
paraevidenciar os vários
ângulos
elentes
sob
osquais
uma mes marealidade
pode
ser vista eanalisada.
Agradecemos
aoDeparta
mento de
Jornalismo
da UFSCe a todos os
alunos,
professo
res e
ilustradores
que contribuíram para a
publicação
da ZeroRevista.
o
•
...-4
Boa leitura a todos!
Universidade Federalde Santa Catarina
Centro deComunicaçãoe Expressão
DepartamentodeJornalismo Zero Revista
RevistaLaboratóriodo Curso de Jornalismo daUFSC,
produzida nadisciplina RedaçãoV AnoI- N° 1 - Novembrode 2011
REDAÇÃO
DanielGiovanaz,DanielaNakamura,GianKOjikovski, Ingrid Fagundez,IsadoraMafra,LeonardoLima,LuisaPinheiro,MariliaLabes,MaílaDiamante,MilenaLumini,MoniqueNunes,PauloJunior,ThayzaMelzer,ThiagoMoreno,
Willian Reis
EDiÇÃO
DanielGiovanaz,IngridFagundez,MariliaLabes,Paulo JuniorDIAGRAMAÇÃO
JulianaFerreira,LuisaPinheiro,MilenaLumini,Nathale EthelFragnani, ThiagoMoreno,StephaniePereiraARTEAndré LucasPaes,David PereiraNeto,DharlanLacerdaSilvano,FelipeParucci,FelipeTadeu,FernandoGoyret,LeonardoLima,RafaelAlves,Ray
saMüllerSpaniol,StephaniePereira
COORDENAÇÃO
Professor Mauro César SilveiraIMPRESSÃOAzulEditoraeIndústriaGráfica Ltda
CIRCULAÇÃO
NacionalTIRAGEM 5,000exemplares2
crítica
perfil
,... .cronica
1
1
1
1
1
1
Meteoro
oumeteorito?
Paulo Junior
1
Nega
Tide é
umafesta
Willian Reis
o
mercado
de
cada
umMilena Lumini
Eu não
soucartola
Daniel P. Giovanaz
I
Futebol
emmaiúsculas
Gian
Kojikovski
Trocando
ospapéis
Thayza
Melzer
São
Valentim da terceira idade
Maíla
Diamante
Minha
casaé
sua casa,mãe
Monique
Nunes
Pelo bem do coletivo
Isadora Mafra
Bom
dia,
motora!
Daniela Nakamura
o
etnólogo
supermoderno
que
meperdoe
Marilia Goldschmidt
Labes
Soy antropóloga
Luisa
Pinheiro
Sobre
o serinconstante
Thiago
Moreno
Vaidades
que
aterra
há de
comerJéssica
Butzge
Meio-termo
Leonardo Lima
Fones de ouvido
Ingrid Fagundez
crítica
••
Meteoro
ou
nteteorito?
á cercade
quatro
anos,quando
César Menottie Fabiano faziam o lei
láo de seus
corações
eVictor e Léo
apresenta
vam sua fada
querida,
o
sertanejo
ressurgia
no cenaria musical brasileiro. Mui
tos pensa m que esse novo sertane
jo,
quenãf:>dtem
nada deuniversitário,
seria só uma marolinha. Mas agora seobserva que ele se transformou num
tsunami,
oumelhor,
paralembrarumadas músicas do
gênero,
caiu como um meteoro(estrela cadente)
para uns emeteorito
(resto)
para outros. O chamado
sertanejo
universitário está associado ao
ressurgimento
do estilomusical nas festas acadêmicas. Assim
como nem todos os universitários gos tam do
gênero,
grande
parte
dos cantorestambém não
atingiu
esse grau deescolaridade.
As muitas
duplas
e cantores solos começaram a infestar asrádios,
seexibir nos programas de
TV,
fingir
que cantavam emsupostos
shows e ganharam cada vez mais investimentos de
gravadoras
que o transformaramem POP. Os
chapéus
decowboy
foram
abandonados,
as violas deixadasde lado e as
canções
começaram a seempobrecer.
Asapresentações
não sãosomente em rodeios e em deterrnina
das casas noturnas. Eles invadiram
outras
baladas,
passando
pelos
pagodes,
micaretas e até no carnaval daBahia.
Algo
quaseinimaginável.
Tudo paraagradar
o mercado.Quem
ouviu Tonico e
Tinoco,
Milionário e JoséRico,
Sérgio
Reis e outrossertanejos
mais de
raiz,
agora têm que aturarunsaspirantes
a cantor.O nível está tão baixo que
princi
palmente
nasduplas
é difícil distinguir
uma das outras.Nessas,
a divisão de
primeira
esegunda
voz estáclara.
Porém,
faltauma identidade vocale belezamelódicatanto paraas du
plas,
quanto
para os solos. Fora a desafinação,
que na maioria das vezes éresultado de
forçação
de barra.Afinal,
muitos deles querem terum
agudo
quenão têm e acabam não o
atingindo.
Chegam
a serridículos,
pois
parecemque se excedem para fazer o "número
2". O ideal é achar um tom
adequado
e se sentir confortável cantando nesse tom. Mas é claro quequando
prepara dospodem
atingir
outras escalas. Emgeral,
o que salva esses cantores sãoos
arranjos
razoáveis, presentes
nasgravações
e nos quase shows. Mas oque adiantaterbelas bandas acompa
nhando,
com uma ótimaparte
rítmica eharmónica,
se amelódica,
que fica a cargo doscantores,
deixaadesejar?
Luan Santana em seu último DVD
Luan Santana Ao vivo no Rio
quis
realmente dar uma de estrela. Mesmo
descendo poruma cordae fazendo um
jogo
cênico que também não foi tudoaquilo,
continua horrível. Para completar
ainda tem aparticipação
nadaespecial,
medesculpem
ostietes,
deZERO Revista
I
Novembro de 2011Ivete
Sangalo.
Se Luan Santana sonha em ser um cantor de
verdade,
ele vai ter que mudar e muito. Não bastasó tentar ser um
galãzinho
e dar unsgritinhos
paraagradar
menininhas
ingênuas
e enfim ser POP. E claro queo retorno financeiro é ótimo. Mas e a
arte? Ou
melhor,
amúsica,
onde está?Nota-se que além de ele não ter uma
boavoz, nem se
esforça
paraconquis
tá-la. O mais
provável
é queesteja
umpouco
perdido
e sem um bom referencial musical.
Em sua fase mais
caipira,
as letrassertanejas
contavam verdadeiras histórias,
destacando amores,angústias
e a
própria
vida dosertanejo.
Vale lembrar "BoateAzul",
"Menino da Porteira",
"Longa
estrada davida",
"Mo reninha Linda" e "Romaria". No atualcontexto,
com o êxodorural,
as canções
têm abordadoprincipalmente
o amor. As letrasgiram
em torno do casal,
dasseparações, traições
e coisasmoderninhas.
Algumas chegam
a serbanais,
com o uso degírias
como"Paga
pau",
dadupla
Fernando e Sorocaba.Outras entram no clima de discus
são da
relação,
como "A filaandou",
de Maria Cecília e Rodolfo. Embora as
letras acabem
registrando
umaépoca,
através de seus costumes e mudan
ças, as do atual
sertanejo
são de certa forma caricatas.A cantora Inezita Barroso
plantou
a semente da mulher no
sertanejo
deraiz.
Atualmente,
no alto de seus 86por Paulo
Junior
anos, continua na
ativa,
cantando ecomandando o programa
Viola,
minha Viola na TV
Cultura,
no ar desde1980. Uma ótima
representante
vemregando
essa semente: Paula Fernan des se destacaprincipalmente pelo
seubelo timbre. Da
legião
depéssimos
cantores
é,
semdúvida,
umaexceção.
Elatemumbom gravee consegue com
maestria outros tons. Um fator que contribui para seu sucesso é a
pita
da de
country.
Outro nome feminino é MariaCecília. O que seria interessanteagora é o
lançamento
deumadupla
demulheres.
Afinal,
elas estãoconquis
tando seus espaços emvárias áreas.A mistura do
sertanejo
com o pagode resultou em
algo
um tantoesquisi
to. Asíncope
-batucada
-do samba
com os demais elementos do
arranjo
sertanejo,
fezcomque ficasse meio parecido com um forró. Isso se observa
na música
"Troco", presente
noúltimoDVD de Maria Cecília e
Rodolfo,
com aparticipação
do grupo Exaltasamba.Já a mescla com a música
eletrônica,
seguindo
umalógica
demercado,
inovou timidamente. O CD Pista Sertane
ja, lançado
no início do ano, fez comqueum dos seus
produtores,
Mr.Jam,
cunhasse o novo estilo dehousenejo.
Pode-se considerar que a
experiên
cia bem mais sucedida de mescla do
gênero
é com oheavy
metal. A banda Comitiva do
Rock,
antes mesmo daatual ascensão do
sertanejo,
aposta
nessa
combinação,
acrescentada dedoses de humor. Isso faz com que a
banda,
além deousada,
por misturar estiloscompletamente
diferentes,
seja
também inovadora porparodiar
e satirizar músicas como a nossa
querida
"Meteoro". O grupo só peca na
orígi
nalidade,
pois
lembra um pouco osMamonas Assassinas. Em meio a toda
essa muvuca, entre trancos e barran
cos, infelizmente com mais altos do
que
baixos,
osertanejo
continua aí.'" E :::; o "E ro c
.§
3
•
mosaico
•
o
mercado
Nega
Tide
é
urna
festa
de cada
UID
por Milena Lumini por Willian Reis
do a
jornada
de 12 horas. Alvim não recla ma: "Costume de cachimbo é que deixa aboca
dura",
brinca.Há oito anos, Alvim estendeu a fiambre
ria para um bar.
Hoje,
ele senta no balcãoanotando os
pedidos
das mesas ejogan
do conversa fora com um cliente ou outro.
Tem
planos
para melhorar a infraestruturado local.
Quer
reformar opiso
eampliar
obox construindo uma cobertura de acrílico
retrátil na
parte
de fora domercado,
comoas que viu na
Europa.
Alvimjá
tentou fazer isso antes, mas aprefeitura proibiu, pois
oprédio
é tombado desde 1984.Ao lado do Bar do
Alvim,
onde era oaçougue de seu
pai,
ainda trabalha AurinoManoel dos Santos.
Começou
no mercadocomo
empregado
de NelsonSpinoza
aostre ze anos.Hoje,
ele é dono dobox,
que comprou, em
parte,
com dinheiro de um bilhetede loteria
premiado.
Desossar
bois, cabritos,
ovelhasejavalis,
oferecer
pato,
coelho e porco, rechear matambre. Eisso o que seu Aurino sabe fazer.
"O que eu
aprendi
foi com avida. O mercado foi a minha
faculdade",
confessa ele queestudou até o terceiro ano do
antigo
primá
rio.
Nesses
tempos
desupermercados
e carne
embalada,
Aurino seorgulha
detercomoclientes três
gerações
de uma mesma família.
Pai,
filho e neto, todosjá
compraram no seu açougue. "Oprincipal
é ter carinho equalidade",
eleargumenta.
Entre um boi eoutro, Aurino conversa com os clientes an
tigos
e identificaos novatos do local.Aurino deixou
aflições
e saudades nosclientes e
colegas
de mercado cinco anosatrás,
quando
teve que passar três meses em Blumenau para tratar dofígado.
Disseram-lhe que não
passaria
de noventa dias. Passou pornovecirurgias
e está de voltaaomercado.
Ele se lembra com carinho de uma cer ta
quinta-feira
de 1999quando despertou
o Mercado Público com o cheiro de carne
assada. Paracomemorar 40 anos de traba
lho,
Aurinocumpriu
a promessa de assarum boi inteiro no vão central do
prédio.
Ospreparativos
começaram na noite anterior.Retiraram
alguns paralelepípedos
para ins talar orolete,
enfiaramo boi e acenderam ofogo.
O churrascão durou 12 horas e fez aalegria
doscolegas
do mercado.Aurino não pensa em comemorar as
pró
ximas décadas de trabalho. Está preocupa
do com os
planos
daprefeitura
de mudaro comércio local. Em meio a
protestos
doscomerciantes,
corre umalicitação
para areocupação
dosboxes,
e oAçougue
Aurinonão está concorrendo.
Um
dia,
elelembra,
aágua
do marbateuali do lado. TinhaaPraia do
Vai-quem-quer.
Os fornecedores
pernoitavam
na Pensãodo Kowalski. Havia feira no vão central às
quartas.
Bebida eraproibida
e o cheiro depeixe
afastava os transeuntes. Umdia,
vãodizer,
havia a donaMarlene,
o seuAlvim,
oAurino,
oZezinho,
oVidal,
oCarlos,
o Edemésio...
m um dia de chuva no Mer
cado Público de
Florianópo
lis,
Marlenepede
aos clientesdo Bazar Mansur que deixem
seus
guarda-chuvas
molhados no balde
próximo
à por ta. O zelo também se observa nasprateleiras
organizadas
daloja,
que exi;]tb��de
alumínioe diversos utensíliosere COZln a.
Atrás do
balcão, Marlene,
de roupas asseadas e cabelos bem
cuidados,
auxilia osclientes. Indica a melhor forma para fazer um
pudim
de claras e dá conselhos a umajovem
dona de casa. "Se você vai recebervisita em casa,
faça
uma sobremesa maissofisticada,
umpetit-gateau,
porexemplo".
A moça
pondera
asugestão
comalgumas
palavras
emfrancês,
e Marleneargumenta
na mesma
língua. Surgem
assuntos sobreos
tempos
decolégio,
as duas identificamconhecidos em comum
enquanto
separamos utensíliosnecessários para fazera
sobre-mesa.
Marlene
Mansur,
a terceira dos cinco filhos de
seu
Gedeão,
estudou noColégio
Coração
deJesus,
ondeaprendeu
o francês.Logo depois
deformada,
in gressou no curso de odontologia
da Universidade Federal de Santa Catarina. Nafaculdade,
conheceu omarido,
quehoje
trabalhacom ela no Bazar. Marlene
formou-se aos 22 anos, na
primeira
turmadesse curso da UFSC. Este ano, eles come
moram 50 anos de
profissão,
e Marlene seorgulha: "Naquele
tempo,
onegócio
era ca sar cedo...".Elasente falta dos dias de
cirurgiã
den tista.Quando
criança,
adorava brincar com os irmãospróximo
àloja
dopai,
mas nãoimaginava
estar no comando dosnegócios.
Marlene assumiu a
loja depois
que ele faleceu e a irmãadoeceu.
Na
parede
doBazar,
o retrato do senhorGedeão,
deboina,
óculos e um sorriso gentil,
observa Marlene cuidando daloja
e seorgulhando
dopai.
Filho de libaneses masnascido no
Brasil,
Gedeão comprou o pon to em 1947 com bônus de guerra emitidos em títulos da dívidapública
Começou
vendendo armarinhos e
logo
passou para o comércio de
louças.
Foi oprimeiro
a venderalumínio no estado. Recebia a mercadoria
de São Paulo e vendia para comerciantes
do
interior,
de SãoJosé,
Biguaçu
e Antonio Carlos. "Eram 3 caminhões de alumínio pormês",
recorda Marlene.Assim como
ela,
Alvim Nelson Fernandesda Luz também deu continuidade aos
negó
cios do
pai.
Começou
a trabalhar no açougue do seu Nelson
Spinoza
assim que saiudo
exército,
no fim da década de 1970."Ih,
naquela
época
agente
trabalhava bastan te...",
lembra. A fiambreria fornecia carnespara o restaurante universitário da UFSC.
Abria por volta das seis da
manhã,
inician-dia era dia de festa.Mas,
nesse caso,era festa mesmo.
Enquanto
o sambarolava no
quintal,
mostrava seu talento na cozinha. "Ela herdou o dom
das baianas para a
culinária",
afirmaÂngela.
Gostava de preparartainha,
churrasco,
cozido,
feijoada,
sempreemgrandes
quantidades,
claro,
indepen
dente do número de pessoas.
"Pode vir que comida tem. Só traz a
cerveja",
assim,
semcerimônia,
estava feito o convite."Dali,
já
saía opagode",
lembra,
comsaudade,
MárciaVieira,
filha do músico Mazinho do Trombone
e uma das
grandes amigas
de Tide. Afesta não tinha hora para
acabar,
tan to que havia quem até dormisse por lá mesmo.
No
Hospital
dos Servidores,
ela trabalhavacomo
encarregada
deserviços geraís,
e o en tãogovernador
KonderReis
(1975-1979)
pre-cisou ser internado lá.Como
chegasse
sempre animada para fazer alimpeza,
chamou aatenção
dopolítico,
que apenas ouvira sua voz,sua
intensidade,
e decidiu:"Quero
aalegria
dessa mulher no meugabine
te". Tide acabou contratada como tele
fonistadele.
Além do
carnaval,
aEstação
Primeirade
Mangueira
e oAvaí,
apolítica
também era sua
paixão.
Filiada ao PMDB desde1979,
participou
de várias campanhas eleitorais,
entre elas aque reelegeu
DárioBerger
àprefeitura
da capital
em 2008. Foi tambémquando
seenvolveu numa
briga
com o candidatoda
oposição.
Os dois concorrentes faziam uma
passeata
pelo
centro da cidade. Tide carregavauma bandeira que tinha um canocomprido
de PVC como mastro.Ventava muito
naquele
diae, de repente,
o cano envergou para trás. "Porrr ra, quem foi que puxou minha bandei ra?" foi apenaso que disse.Impetuosa,
deu meia-volta e
atingiu
com opróprio
mastro o autor dasuposta
provocação.
EraEsperidião
Amin.Separada
do marido desde que o filho André
Visalli,
hoje
com 32 anos, eracriança,
Tide passou por dificuldades
quando
aaposentadoria
foi reduzida. Era hora de lucrar com
aquilo
quemelhor sabia fazer: boa comida e mui
tafesta.
Começou preparando
almoços
na
quadra
da Coloninha. A ideia deu certo e, em2005,
no dia em que faziaaniversário, lançou
a "Rabada daNega
Tide".
Título,
aliás,
escolhido a dedo.André diz que servia para
homenagear
asfamosas
curvas do corpo da mãe eper�itia
umadebochadaambiguidade.
Pohbcamente
incorreto como tudo oque envolvia a "eterna
Cidadã
Samba".do carnaval de
Florianópolis
e rainhado
Berbigão
doBoca,
dona Erotides éNega
Tide.Aquela
que desceu o Morrodo Céu para desfilar
pela
primeira
vez naProtegidos
daPrincesa,
aos 11 anosde
idade,
e fez dapassarela
seupalco.
Aquela
que deixou a escola em 1968após
discutir com a diretoria e entroupara a
Copa
Lord. Foi desseepisódio
que nasceu uma de suas frases maísconhecidas:
"Nega
Tide éProtegidos
decoração
eCopa
Lord porconvicção".
Quando
se lembrava dostempos
emque não havia o sambódromo
Nego
Quirido, dizia, orgulhosa:
"Só eu conseguia
sambar nosparalelepípedos
daPraça
XV". Dona Nena(quer
dizer,
MarileneSantos),
que desfilavapela Protegidos,
portan
to concorrente
dela,
confirma: "Era difícil com
petir
com ela nospés,
tinha charme".
E coitado
daquele
quea contrariasse... Se é
que
alguém
ousaria tanto. Tide se impunha pelo
tamanho-1,80
metro -, mas tambémpelo
temperamento.
Fa lava(e gesticulava)
muito,
alto e firme.Não era de levar desaforo para casa e,
quando
se irritava(o
que não era difícil),
soltavapalavrão
sem nenhumpudor.
Aliás,
para falarpalavrão
nemprecisava
se irritar tanto. Eraparte
doseu
vocabulário,
assim como um singelo
"bom dia".Criada
pela
avópaterna
para queos
pais
pudessem
trabalhar duran-te o dia e vivendo emmeio a tios altamente
protetores,
teve que de senvolver desde cedoseu
jeito
enérgico,
tanto paraconquistar
espaçoquanto
para não se deixar
anular,
como boa leonina queera.Tal valen-tia devetersido também
uma forma encontrada para vencer a
pobreza, pois, já
naadolescência,
descia o morro para
ganhar
a vida comobabá e
empregada
doméstica nas casas do asfalto.
"N ega Tide era
exagerada
em tudono sentido de
intensa",
lembraÂnge
la sobre a
amiga,
a quem chamava de"autoridade". "Ela
olhava
porcima",
arremata. Mais
respeitada
por suafranqueza
do quetemida,
era tão boade
briga
que botava atéitraficante paracorrer. Se
algum
deles estivesse emfrenteàcasa
dela,
no morro NovaTrento,
não hesitava. E lá iam eles sem reação,
sob o olhardaquela
mulhercom"poorrrrte
de negacheguei" (era
assimcom
intensidade,
que elafalava).
'Acasa no altodo morrotinhaaalma
da
dona.
Não paravaquieta. Qualquer
o antever o dia em que o
tempo
-esse "tambor de todos os ritmos"
-mos
traráa suacontaaos que
ousam
desafiá-lo,
o sambista faz
poesia
e canta:"Quando
eu nãopuder
a
avenida,
quando
as mi-nhas perna ãopuderem
aguentar
levar meu corpo
junto
com meusamba,
o meu anel de bamba
entrego
a quemmereça usar". Estes versos também
são o
réquiem
que Erotides Helena daSilva escolheu para cantarem em sua
homenagem.
Dona Erotides se consagrou como
sambista. Dominava como poucos a
capacidade
de fazer arte com oginga
do do
próprio
corpo. E napassarela
do
carnaval,
lá no meio damultidão,
conseguia
monopolizar
para si todosos olhares. Só que os mesmos
pés
quea levaram ao
panteão
dosgrandes
no mes também foram o começo do seufim,
mas não os únicosculpados.
Em 18 de
janeiro
de2010,
ela saíade cena aos 64 anos. Não vítima do câncer no
pé esquerdo,
que apareceudepois
deumatorção
quando
descia deum carro eque não foi tratadadomodo que
exigia.
Oque alevou foiumaparada
cardiorrespiratória.
A cerca de ummês parao carnaval.
Quando
anotíciado seu falecimento se
espalhou
pela
cidade,
ostamborins,
surdos erepini
ques nas
quadras
das escolas de samba também pararam. A
quarta-feira
de cinzas tinhachegado
mais cedo.Um dia antes de
falecer,
dona Ero tidesparticipara
dojúri
do concurso que esco
lheu a rainha da escola
Coloninha. Era a
despe
dida
daquela
que desdejunho
de 2009 lutavacontra a
doença
à suamaneira. Mesmo
depois
das sessões de
quimiote
rapia,
não deixava de irao mercado. Abandonar o samba e a
cerveja?
Menos ainda.Religiosa,
buscou a cura também na fé. Rezou no
santuário de Santa
Paulina,
em NovaTrento. Submeteu-se à
cirurgia
espiri
tual. Epediu
aos orixás.Na
segunda-feira
em quefaleceria,
sentiu-se mal
pela
manhãenquanto
passava por um exame de
tomografia.
Chegou
a ser transferida dehospital,
masà
noite ocoração
parou. Ajorna
lista
Angela
Bastos foiumadasprimei
ras achegar
aoHospital
Universitário."Os enfermeirosme
entregaram
as roupas
dela,
uma blusa verde e uma calçajeans.
Elas aíndaestavamquentes",
contaÂngela,
com os olhosmarejados.
Mas a morte não é o fim para quem fi cou conhecida como "Eterna".
Seisvezes escolhidaaCidadãSamba
�"era
exagerada
em��,
nosentido de
intensa",
lembra
umaamiga
que
achamava
de
"autoridade"
E coitado
daquele
que
acontrariasse
...Tide
seimpunha
pelo
tamanho
etambém
pelo
temperamento
ILustraçãoeArte:StephaniePereira
por Daniel P. Giovanaz
•
futebol
Eu
não
sou
cartola
Manda-chuva
do futebol catarinense desde
1985,
ointocável Delfim
Pádua
Peixoto Filho
chega
aos70
anos com umatrajetória repleta
de controvérsias
ão há como percorrer a antessala que leva
ao escritório
presidencial
daFederação
Ca tarinense de Futebol(FCF),
nosegundo
andar do mais vistoso
prédio
da 6aAvenida,
em Balneário Camboriú(sq,
sem se deterpor
alguns
instantes para observar as dezenas de retratos
pendurados
nasparedes.
ã
sexta-feira,
naquelas
imagens
amareladas Delfim Pádua Peixoto Filho vê-seabraçado
apersonali
ades como JoãoHavelange,
Ricardo Teixeira eRonaldo,
homenscujas palavras,
canetas e chuteirasaju
daramaescrever a históriarecente do
esporte
maispopular
doplaneta.
Asfotografias
revelamsuaestreitarelação
com opoder,
mas também the recordam quejá
ostentaracabelos,
barbae
bigode
muito mais negros e abundantes do que atualmente. Por
isso,
seria naturalse aatmosfera da antessaladespertasse
nele umaespécie
de amargura,desconforto,
ouao menos
nostalgia.
Quem
conheceDelfim,
no entanto, sabeque nada disso o
aflige.
Nascido em
janeiro
de 1941 emItajai (sq,
ogaroto
quemais tarde seria eleito seis vezes consecutivas ao cargo de
presidente
da FCFdesejava
serjogador
de futebol. Aindahoje,
ele sente saudades dos dias em que atuava comocenter-half
-termo substituído por "volante" na déca
da de 1980 - nas
categorias
de base do Clube Náutico Marcílio Dias.O anseio de se tornarum atleta
profissional,
porém,
transformou-se em
decepção.
O insucesso levou-o àcapital
doestado,
onde segraduou
em Direitopelo
Instituto Politécnico de
Florianópolis.
Namesmaépo
ca, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro(PCB)
eparticipou
da diretoria da União Nacional dos Estu dantes(UNE)
em Santa Catarina. Não raramente, eleutiliza-se disso para
desqualificar
as criticas relacionadas à sua
postura
antidemocrática no comando daFederação.
"Fui preso nostempos
daditadura,
entãoacho que não
preciso
dizer maisnada",
reage.Após
um breveperíodo
comoprofessor
universitário,
o ex-militanteelegeu-se
vereador deItajai
pelo
MovimentoDemocrático Brasileiro
(MDB)
em 1966 edeputado
estadual,
pelo
mesmopartido,
três vezesconsecutivas,
exercendo afunção
entre 1970 e 1982. Durante oprimeiro
mandatonaAssembleia
Legislativa,
subiu ao altar para casar-se comIlka
Aparecida
LabesPeixoto,
sua esposa atéhoje.
"Foradisso,
élógico
que eu tive muitasnamoradas",
intervém ocartola,
sem ao menos ter sidoperguntado
sobre o assunto.Rapidamente adaptado
às nuances que permeavam a atmosfera
política,
o ambiciosodeputado
ainda mantinhauminesgotável
interessepelo
futeboleporseusbastidores. Elei topresidente
do Marcílio Dias em 1981 e, dois anosdepois,
vice-presidente
daFederação,
eleaproximou-se
novamentedo
esporte
e começou atrilharum caminho que, comodes cobriria maistarde,
não teriavolta.As
funções
desempenhadas
em ambientesprotocolares,
como escritórios e salas de aula deuniversidades,
não apenas tornaram o futuro
presidente
da FCF consciente da importància
deaparentar
civilidadeehonestidadenasrelações
interpessoais,
mas tambêmpossibilitaram
a ele exercitarcotidianamente sua
capacidade
de elaborarestratégias.
Por outrolado,
o contato com esse novo habitat nãoimpediu
que ele conservasse a
malandragem
e a astúciaaprendidas
desde ainfàncianaruae nos campos de várzea. O seucom
portamento
evidencia essa mistura: em poucos minutos deconversa, a
polidez
e a formalidade se esvaem e fica claro que, aos 70 anos deidade,
DelfimPádua Peixoto Filho ainda éumlegítimo
boleiro.Em meio à candura da
fumaça
produzida
pelo
charutocubano que segura cuidadosamente entre os dedos da mão
direita,
ele revela que nãoaprecia
osjornalistas
que se referem aos
dirigentes
de clubes efederações
como 'cartolas'.Delfim acredita que o
jargão
"foi criado por membros da imprensa marrom, que só querem criar
polêmica".
Sobre osrepórteres
e colunistas de SantaCatarina,
ele afirma que não tem do que reclamar."Sempre
temaquelas
brincadei ras,dizendo que estánahorade eusair etal,
mas são todosmeus
amigos.
Afinal,
oSarney
é senador há muitos anos eninguém
ousa tirar ele delá",
arremata odirigente,
oferecendoum
argumento
que parece considerar irrefutável.Pertencer ao conselho consultivo da
Confederação
Bra Novembrode 2011I
ZERO Revistasileira de Futebol
(CBF)
e seramigo
íntimo dopresidente
da
instituição,
RicardoTeixeira,
são motivos de muito orgu lho para Delfim. Baseada emfrequentes
trocas defavores,
essa
relação
proporciona
a ele certosprivilégios,
como porexemplo,
aoportunidade
de assumirocargo de chefeda delegação
brasileira no MundialSub-20,
disputado
naColômbiaentre
julho
eagosto
de 2011.Sintomaticamente,
menos deuma semana
apôs
o término dotorneio,
a FCF emitiu umanota oficial
proibindo qualquer manifestação
contráriaaTeixeira no estádio Orlando
Scarpelli
durante o clássico entreFigueirense
eAvaí,
pelo Campeonato
Brasileiro-na manhã
anterior à
partida,
o Ministério Público Federal de Santa Catarina
(MPF-SC) conseguiu
uma liminar que vetou a censu ra, por considerar que esta "feria de morte o direito de livre
expressão
depensamento".
Não é de seestranhar,
pois,
que
"espetacular",
"trabalhador" e "honesto"sejam
alguns
dos
adjetivos
que Delfim use para descrever o mandachuva do futebol
nacional,
acusado denepotismo,
omissão derendimentos
provenientes
de suas atividades ruraís no Riode
Janeiro,
compra dedeputados
esenadores,
entre outras atividades ilícitas. Ricardo Teixeiradepôs
em três ComissôesParlamentares de
Inquérito
(CPls),
e foi absolvido de todas asdenúncias.
O
charuto,
abarbae osgestos
oraintimidantes,
oracaricatos do
presidente
daFederação
Catarinense de Futebollembram,
emalguns
instantes,
afigura
do revolucionário argentino Ernesto 'Che' Guevara.
Talvez,
asemelhança seja
mesmoproposital.
"Che foiumgênio
e é umagrande
influência. Tivea
oportunidade
deconhecê-lo,
e até de conversar com ele. Achoaquela
frase'Hay
queendurecerse,
pera sinperder
laternura
jamás' espetacular.
Sãopalavras
que regem aminhavida", revela,
emtom de idolatria. Odirigente deseja,
inclusive,
pendurar
um retrato doex-guerrilheiro
naparede
do seuescritório,
para servir comoinspiração.
"Tinha umquadro
dele
aqui,
antes dareforma",
relembra. "Tá fazendo falta"., 'se
'Hay
que
endurecerse,
pero sin
perder
la
ternura
jamás'
é
espetacular.
São
palavras
que
regem minha vida"
Aocontrário de
Che, contudo,
Delfim declaraque nãocole cionainimigos.
"Tenho apenas um, emFlorianópolis.
Um ex-árbitro que não seria nada sem a minha
ajuda,
mas decidiuficar contra
mim", confessa, contrariado,
sem sequer mencionaro nome. "Todo mundo sabe de quem eu tô falando. As iniciaís são D.B.". Ele se refere aDalmo
Bazzano,
que tentouformar uma
chapa
deoposição
paraconcorrer àpresidência
da FCF e, em maío de2007,
acusou o cartola de alterar es tatutos paraperpetuar-se
no comando do futebol do estado.Em maío de
2010,
seupoder
centralizador foi delatado novamente, desta vez
pelo
entãovice-presidente
daFederação,
Nelson Lodetti. "Ele éumapessoa muitoboa,
maséingênuo.
Aí,
foi enrolado por umjornalista,
e acabou dizendo que era eu quem escolhia os árbitros dosjogos", explica
odirigente,
inconformado com a
suspeita
de que não teriam sido realizados sorteios de
arbitragem
empartidas
doCampeonato
Catarinense de 2010.Segundo
ele,
houve apenas um mal-entendido,
porque "o Lodetti não tinhanoção
de como fun cionavam as coisas".Além de se
esquivar
deacusaçôes,
Delfim utiliza os horá rios fora doexpediente
para descansar nacompanhia
dosnetos,
assistir ajogos
de futebolpela
televisão e ir àigreja.
Emborafaça
questão
de afirmar que"carrega
os valores comunistas até
hoje",
ele écatólicoconvicto,
eacreditaque issonão
representa,
de formaalguma,
umacontradição.
O atual mandato do
presidente
daFederação
Catarinensede Futebol termina em abril de 2015.
Quando
foremrealizadas as
próximas eleiçôes,
ele terácompletado
três décadas no cargo."Enquanto
eu tiversaúde,
posso ficar maís unsaninhas
aí",
professa
oseptuagenário
dirigente
que não ad mite ser chamado de cartola. Sua risadabuliçosa
edespreo
cupada
dáaentender que, defato,
não háempecilhos
paraasétima
reeleição.
ZERO Revista
I
Novembro de 2011Futebolem
maiúsculas
por Gian
Kojikovski
Liedson,
.nomes deJobson,
jogadores
Revson.de futebolEssesque terminamsãoalguns
em "son".
Bem,
eu estouexplicando
porque,caso você não
seja
um aficionadopelo
esporte,
nãotem
aobrigação
de conhecerninguém
com mães epais
tão criativos.Aliás,
nem o editor de texto domeu
computador
reconhece mesmo. Mas se vocêfor um
aficionado,
vaí saber que essa lista só estácomeçando.
Elkeson,
Wallyson
e Keirrison não medeixam dizer o contrário.
Você
pode
achar que éfácil criarumapelido
para umfutebolista.Seforzagueiro,
pôe
umaumentativo epronto: Fabâo, Luizão,
Marcão... Se foratacante,
pôe
no diminutivo:Rabinho,
Ronaldinho.. Se onome for Antônio e
jogar
em todas asposições,
da metade do campo para trás é Tonhão e do meiopara frenteToninha. Se tiver
estilo,
coloca AdrianoMichael Jackson.
Semelhança
com animal? PauloHenrique
Ganso. Sejá
tiver outrojogador
com o mesmo nome notime,
usa ageografia
paradiferenciar: Juninho
Pernambucano,
Marquinhos
Paraná.
Na verdade não é bem assim. Vasculhar os
arquivos
daConfederação
Brasileira de Futebol mostra que as alcunhas são bem maiscriativas,
eestranhas,
que essas. OWladenylson,
coitado,
é chamado de
Nyl.
ORodrigo
Pinheiro é oIgor
Mineiro
(?).
A mãe do Robin Pierre Pereiraprovavelmente
tentouhomenagear
o iluministafrancês
Robespierre, já
com o Robim Almeida nãoda para saber se foi o ladrão-heroi Robin Hood ou o
companheiro
doBatman,
mesmo.Por falar em
homenagens,
temos vários expresidentes
americanos craques debola,
como oGeorge
Washington Soledade,
oThomaz JheffersonSantana...
Alguns
pais
já
previam
ocaminho queosfilhos iriam
seguir.
Nosregistros
daconfederação
são 20 Robertos
Rivelinos,
oito Edsons Arantes eincontáveis Pelése Pelézinhos.
Dificilmesmoésaber
ainspiração
para.Abdalla,
Abdias,
Abdrey,
Wyllander
Venancio,
Wilkey
e Wilkesler... Pelos
registros,
nenhum destestem
apelidos.
Masvocê realmente acha que eles são
conhecidos
pelos
nomes? Até os15 anos,
aposto
queosamigos
depelada
não sabiam como chamálos. "Toca a bola
"Wilksléier",
"Chutapro
gol, Hylander".
Eu,
que fiz estetexto,
tenho sorte de existiroCTRL+C CTRL+V paracopiar
os nomescom a certeza de não ter errado nenhuma letra. Provavelmente
mães,
país
e cartorários não tiveram amesma sorte.•
•
Prole
,
Trocando
os
papéis
ameça assim: de
pois
dotípico
al moço de domin go emfamília,
depois
de toda alouça
lavada ejá
guardada,
as ;,-es, avó se reúnem em
volt�,
esa para conversar. Oassunto é
geralmente
os filhos.Delas e .dos outros.
Principal
mente dos outtos. Se você nun ca se deu ao trabalho de
prestar
atenção
nessa conversa não sabeo que é ver a sua mãe mudar de
ideia. Como o tema é sempre o mesmo, vai ter sempre um filho
adolescente "dando trabalho" porque não quer estudar. Neste
caso, um menino
de 15 anos, cur
As
mães,
tias
eavó
sando a 1asérie do ensino médio em um
colégio
tradicionalmente
exigente,
que ficou em recu
peração
em oito denove matérias.
Ele sabe tudo de
videogames.
Todas asjogadas,
dribles e maneiras de
ganhar
de
qualquer
adversário no FIFA2011 do Xbox 360. Não lê
jornais
ou revistas porque é tudo muito
chato,
mas soube antes de todomundo sobre o
ataque
àSony,
fabricante do
Playstation,
que deixou vulnerável os dados
pessoais
de mais de 100 milhões de usuá rios em todo o mundo. "Eufalei,
o
Playstation
é umlixo",
concluiZ
�f
tom de quem quasepre-se
reúnem
emvolta da
mesapara
conversar.O
assunto
é
geralmente
osfilhos
David Pereira Neto
viu O que iria acontecer. "Dá para
acreditar?",
diz a mãe preocupa da. Ela reclama que o filhotopa
fazer
qualquer
coisa,
menos estudar.
Quando
parece que todo mundo vai começar a criticar ocomportamento
despreocupado
do
menino,
as coisas mudam defigura.
Uma das tias
presentes
começa dizendo que o
comportamen
to dele está mudando. O menino que era sempre doce e atenciosocom todo mundo anda tão cha
teado que às vezes evita contato
com o resto da família. Não está
certo a escola incomodar tanto
assim,
isso é um sinal de que,talvez,
ele deveria estudarem ou trolugar,
que ele seadaptasse
melhor.
Quem
sabe o método deensino utilizado naescola não é o
mais
apropriado
para ele. Há al guns anos,quando
o rendimen to escolar de sua filha mais novacomeçou a
cair,
ela virava noites estudando com a menina e con tratou umaprofessora
particular
paramelhorar as
notas,
mas issonãovem ao caso. Sem essa inter
rupção,
a tia continuou dizendoque, além
disso,
a escola é longe, intermináveis 15 minutos de
ónibus,
e que doponto
de ónibusaté a entrada da escola ele ainda
tinha que andar por exaustivos
cinco minutos.
A outra tia concorda e acres centa que essa
exigência
toda éculpa
dovestibular,
um sistema quase desumano. Por causa
de uma prova, as
crianças
têmpar
Thayza
Melzerque estudar muito desde cedo. O seu filho mais
velho,
que estáescutandotoda aconversa, inter
rompe e
pergunta
para sua mãe porque ela o colocava decastigo
quando
ele não tirava nota dezno ensino fundamental. Ela res
pondeu
que ele sempre foi muito maduro e que sabia lidar com esse
tipo
depressão.
Ofilho,
hoje
formado em
Direito,
pela primei
ra vez emmuito
tempo
não soube o que dizer.De
repente,
ele se deu contade que a sua mãe não
respondia
mais como a mãe de um menino queprecisava
estudar para passarde ano e sim como atiadeou tro que estava cansado de estu
dar e só
queria jogar videogame.
Suas irmãs e mais dois
primos,
todos formados ou terminando
a
graduação,
trabalhando váriashoras por
dia,
alguns
em doisempregos como
qualquer
pessoa comum, formaram outra rodade discussão. Novo tema: como
as mães mudam de
comporta
mento
quando
não se trata dosfilhos delas. Os filhos reunidos
comentavam do
comportamen
to das mães. Suas e dos outros.
Principalmente
das suas. A mãeque nunca se deu ao trabalho de
prestar atenção
nessa conversa não sabecomo é se veratravés de seus filhos. Como o tema é sempre a mesmo, vai ter sempre uma mãe que acha que a
bagunça
que o filho de outra fez na sala é sócoisa de
criança.
Para que darcastigo
pro menino?São
Valentim
da
terceira
idade
"
Desci
ónibus.doprédio
Pensei que tinha tidoe vi ele encostadoo azaraodeponto
marcardeencontro comum
pé-rapado.
O homem era umpão,
maspão-duro
eu nãoqueria
não."Longe
de encontrar essedepoimento
em revista paraadolescentes,
asinceridade veio dalábiaexperiente
de dona Maria. Maria cheia de graça e libido. Do sertãocearense, trouxe
consigo
ainda moça osotaque
e o calor,
dosquais
não arredoupé
nem no clima ameno doSul. "Lá os homens são mais
chegadinhos,
visse?"Hoje,
vive depensão
rala eaposentadoria minguada,
mas há40 anos era
primeira-dama
de TerraRica,
cidadezinhado cafundó paranaense,
fronteiriça
ao cafundópaulista.
Neuto
Galdino,
o falecido marido eex-prefeito,
caíra nasgraças
daquela
mulher a quem chamava de rainha. Bonita,
Maria tinha apersonalidade
de umamajestade
do cangaço.Além das visitas
desencarnadas
deNeutinho,
"aome-3
por Maíla Diamante
nos um sábado por
mês",
o que mantém o sorriso resis tente aos mais de 79 anos são os bailesdominicais,
com operdão
do Senhorpela
atividade em dia de descanso.Desde que se estabeleceraem
Maringá,
hádez anos, suachegada
no Clube do Vovó éaguardada
ansiosamentepelos
melhorespés-de-valsa
da sua faixa etária. A preferência? Um rala-coxa bem
caladinho,
tendo oparceiro
namorada ou não. O compasso e uma boa pança fazem
parte
dospré-requisitos
na escolha doparceiro
de dança. Ela
explica
que abarriga
a poupa do inconvenienteda
animação excessiva
docompanheiro,
estimuladapelo
balanço
do saltinho. "E bom porque não encosta lá." Mas quem Maria realmentequeria
ver com essevigor
todo tomava remédio para tratar da
depressão
e da insô nia.Agenor,
67 anos epinta
decinquentão,
além de nãosorrir,
também nãodançava.
Ainda assim ela o escolheucomo
pretendente.
No dia do encontro soube que não erao