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A importância da eliminação das barreiras arquitetônicas para a inclusão social das pessoas com deficiência no município de Cruz Alta-RS

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Academic year: 2021

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CURSO DE SOCIOLOGIA

Lauro Maciel Kornalewski

A IMPORTÂNCIA DA ELIMINAÇÃO DAS BARREIRAS

ARQUITETÔNICAS PARA A INCLUSÃO SOCIAL DAS PESSOAS

COM DEFICIÊNCIA NO MUNICÍPIO DE CRUZ ALTA-RS

Trabalho Final de Graduação

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Lauro Maciel Kornalewski

A IMPORTÂNCIA DA ELIMINAÇÃO DAS BARREIRAS

ARQUITETÔNICAS PARA A INCLUSÃO SOCIAL DAS PESSOAS

COM DEFICIÊNCIA NO MUNICÍPIO DE CRUZ ALTA-RS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Sociologia da Unijuí, como requisito parcial para a obtenção do Título de Bacharel em Sociologia.

Orientadora: Prof. Nadia Scariot

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UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Curso de Sociologia

A IMPORTÂNCIA DA ELIMINAÇÃO DAS BARREIRAS ARQUITETÔNICAS PARA A INCLUSÃO SOCIAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO

MUNICÍPIO DE CRUZ ALTA-RS

Elaborado por

Lauro Maciel Kornalewski

Como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Sociologia.

Comissão Examinadora:

Profª Nadia Scariot ___________________________________________UNIJUÍ Prof. Marta Borgman __________________________________________UNIJUÍ

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Dedico este trabalho a minha esposa Catiane e às filhas Laura e Luíza pelo carinho e parceria e a minha mãe Clarize pelo exemplo de ser humano que é e pelos valores que transmitiu aos filhos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos os representantes de associações, conselheiros do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, integrantes do Poder Executivo Municipal e demais pessoas que dispuseram de seu tempo para contribuir com a elaboração deste trabalho, em especial ao senhor Ílson Wilers.

Agradecimento especial dedico à Professora Nadia Scariot, minha orientadora, que além do seu mister de ensinar, conduzido com muita competência e dedicação, conseguiu passar tranquilidade em momentos difíceis. Claro que não posso esquecer da paciência que teve comigo.

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"Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade."

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RESUMO

A IMPORTÂNCIA DA ELIMINAÇÃO DAS BARREIRAS ARQUITETÔNICAS PARA A INCLUSÃO SOCIAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO MUNICÍPIO DE

CRUZ ALTA-RS

Autor: Lauro Maciel Kornalewski Orientadora: Prof. Nadia Scariot

As pessoas com deficiência, que tempos atrás eram tidas como incapazes de dividir os mesmos espaços com os indivíduos sem limitação física, vêm obtendo uma série de conquistas e sua inclusão social é garantida pela Legislação Brasileira. Dentre os vários entraves que limitam a inclusão social estão as barreiras arquitetônicas (obstáculos físicos, naturais ou construídos que dificultam ou impedem o livre acesso e a circulação de pessoas que sofrem de alguma incapacidade transitória ou permanente). Procuramos abordar a importância da eliminação dessas barreiras para a inclusão social das pessoas com deficiência. Avaliamos os avanços da legislação e a atuação do Poder Público no que concerne a sua efetivação. Para tanto, nos valemos de dados obtidos por meio de entrevistas com pessoas com deficiência, presidentes de associações que as representem e integrantes do Poder Executivo Municipal de Cruz Alta; não sem antes situar o leitor sobre a relação histórica da sociedade com as pessoas com deficiência, a relevância social do tema e as principais leis e órgãos voltados às suas necessidades.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 10

1 A PESSOA COM DEFICIÊNCIA NA SOCIEDADE ... 12

1.1 As Dimensões Sociais do Conhecimento Hoje ... 12

1.2 Conceituando a Deficiência ... 16

1.3 Definições Importantes ... 18

1.4 A Relevância do Tema para a Sociedade ... 20

1.5 A Relação da Sociedade com a Pessoa com Deficiência ao Longo da História... 23

1.6 As Barreiras Arquitetônicas como Limitadoras da Inclusão Social das Pessoas com Deficiência ... 25

2 OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ... 27

2.1 Direitos Humanos e Direitos Civis ... 27

2.2 Órgãos que Atuam na Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência ... 28

2.2.1 Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Com Deficiência (Conade) .... 28

2.2.2 Subsecretaria Nacional da Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SNPD) ... 28

2.2.3 Fundação de Articulação e Desenvolvimento de políticas Públicas para Pessoas Portadoras de Deficiência e de Altas Habilidades no RS (Faders) ... 29

2.2.4 Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência ... 29

2.2.5 Conselhos Municipais da Pessoa com Deficiência ... 30

2.3 A Legislação Brasileira ... 30

2.3.1 Lei 7.853: (24 de outubro de 1989) ... 32

2.3.2 Decreto 3.298: (20 de dezembro 1999) ... 33

2.3.3 Lei 10.098: (19 de dezembro 2000) ... 33

2.3.4 Lei Estadual: 13.739: (08 de junho 2011) ... 34

2.3.5 NBR 9050 ... 34

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2.4 A Responsabilidade do Estado no Cumprimento da Legislação ... 35

3 O MUNICÍPIO DE CRUZ ALTA EM RELAÇÃO ÀS BARREIRAS ARQUITETÔNICAS ... 37

3.1 A População com Deficiência em Cruz Alta-RS ... 37

3.2 Plano Diretor ... 40

3.3 Entidades que trabalham em prol da Inclusão das Pessoas com Deficiência no Município de Cruz Alta ... 41

3.4 O Papel do Poder Executivo Municipal na Inclusão das Pessoas com Deficiência ... 42

3.5 O Conselho Municipal dos Direitos das Pessoas com Deficiência de Cruz Alta (CMPD) ... 43

3.6 Conferência Municipal das Pessoas com Deficiência ... 43

4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA ... 46

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 52

REFERÊNCIAS ... 54

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INTRODUÇÃO

O Censo Demográfico divulgado pelo IBGE/2010 apontou um percentual de quase 15% de brasileiros com alguma deficiência, o que representa parcela significativa da população, no entanto identifico poucas pessoas com deficiência nas ruas, estabelecimentos comerciais e eventos culturais na cidade de Cruz Alta-RS, constatação que, somada ao histórico de deficiência visual na minha família, motivou-me a pesquisar sobre o tema.

A partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, as pessoas com deficiência, historicamente segregadas, conquistaram vários direitos que vêm sendo ampliados ao longo do tempo. O Brasil, signatário da Convenção dos Direitos da Pessoa com Deficiência – de 1975 – é um dos países com legislação mais avançada quanto aos direitos das pessoas com deficiência, o que não implica, necessariamente, sua efetivação.

Buscamos investigar se os direitos das pessoas com deficiência estão sendo respeitados, levantando junto ao Poder Executivo Municipal de Cruz Alta-RS informações sobre o que foi e/ou está sendo feito em prol da inclusão social (todas as iniciativas e ações que visem ao pleno acesso à educação, trabalho, saúde, lazer) das pessoas com deficiência, em especial à eliminação das barreiras arquitetônicas, aqui vista como ação fundamental para (re)inserir as pessoas com deficiência na sociedade

O presente trabalho justifica-se na medida em que busca identificar as ações ou omissões do Poder Público em relação à efetivação dos direitos conquistados que visam à inclusão das pessoas com deficiência no convívio social, pois só a partir das análises e diagnósticos da realidade que se poderá cobrar do Poder Público as medidas necessárias para a independência pessoal, profissional e financeira das pessoas com deficiência, já que viver com liberdade e autonomia é um direito de todo o ser humano. Inicialmente aventamos a possibilidade de omissão do Poder Público como fator principal para a não efetivação da legislação dirigida às pessoas com deficiência.

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Buscamos compreender a realidade local a partir do conhecimento da legislação, observação e pesquisa qualitativa, realizando entrevistas semiestruturadas com representantes do Poder Público Municipal, pessoas com deficiência e presidentes de associações que as representam.

No primeiro capítulo discutimos as dimensões sociais do conhecimento e depois discorremos sobre a pessoa com deficiência na sociedade, buscando conceituar a deficiência, demonstrar a relevância social do tema e analisar as barreiras arquitetônicas como uma das limitadoras da inclusão social das pessoas com deficiência.

Já no segundo capítulo tratamos dos direitos das pessoas com deficiência, destacando os órgãos que atuam na defesa dos seus interesses e necessidades, os avanços da legislação e as principais leis, além da responsabilidade do Estado no seu cumprimento.

No terceiro capítulo falamos da realidade das pessoas com deficiência no município de Cruz Alta-RS, sobre o município, sua população, plano diretor, entidades que trabalham em prol das pessoas com deficiência, a atuação do Poder Executivo Municipal com relação à eliminação das barreiras arquitetônicas, o Conselho dos Direitos das Pessoas com Deficiência e sobre a Conferência Municipal dos Direitos das Pessoas com Deficiência.

Por fim, no quarto e último capítulo, a partir dos dados obtidos nas entrevistas e observação da cidade, analisamos a realidade do município de Cruz Alta em relação às barreiras arquitetônicas.

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1 A PESSOA COM DEFICIÊNCIA NA SOCIEDADE

Antes de adentrarmos especificamente no tema deficiência, trataremos das dimensões sociais do conhecimento nos dias de hoje, do significado de conhecimento, seus tipos e sua influência na sociedade.

1.1 As Dimensões Sociais do Conhecimento Hoje

O que é conhecimento? É possível fazer uma longa dissertação sobre o seu significado. No entanto, apenas para fins de definição, partiremos do pressuposto que signifique, pelo menos inicialmente, já que foi assim entendido por muito tempo: “a relação que se estabelece entre sujeito que conhece ou deseja conhecer e o objeto a ser conhecido ou que se dá a conhecer” (ROSAS, 2011).

Desde a antiguidade os homens criam e recriam visões, métodos e teorias de conhecimento. É na Idade Moderna, quando migramos da visão teocentrista para antropocentrista que acontece a primeira grande revolução do conhecimento humano, onde a razão (capacidade da mente humana que permite chegar a conclusões a partir de suposições ou premissas), supera as explicações divinas. No entanto, de certa forma, a razão (base das ciências) não se conteve em superá-las e acabou por assumir a posição que fora ocupada pela Igreja ao longo de muitos séculos, de única fonte válida de conhecimento. Foi de tal grandeza o projeto iluminista que se imaginava acabar com os males do mundo valendo-se da razão e da ciência. Era ali que se encontraria o verdadeiro conhecimento.

Atualmente, as ciências já não são tidas como donas da verdade, pois nos demos conta que o conhecimento está em permanente (re)construção. Não que a razão iluminista esteja sendo negada, mas que, como afirma Marques (1993, p.71 apud Stein, 1991):

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...é uma reafirmação do poder da razão a caminho, sempre, de seu próprio esclarecimento: a retomada de um iluminismo que não se feche em sistema filosófico autossuficiente, mas, se abra às questões da reconstrução hermenêutica dos saberes, manifestando-se a razão na multiplicidade de suas vozes.

Afirma Marques (1993, p.74) que a proposta da neomodernidade visa a alterar radicalmente a noção de conhecimento como relação entre pessoas (sujeito) e objetos, percebendo-o agora na relação entre pessoas (atores sociais) e proposições.

A única maneira de se produzir conhecimento é se baseando em informações. E onde conseguimos a informação? Na rua, no trabalho, nos meios de comunicação, na família, nas instituições, nos livros. Nossa vida, desde muito cedo, é repleta de informações que nos influenciarão diretamente, ou seja, aquilo que sabemos está diretamente ligado ao meio em que vivemos, às informações repassadas, ao conhecimento que adquirimos, enfim, à nossa cultura.

Cumpre lembrar que conhecimento não é sinônimo de informação, mas o resultado do exercício de análise e diálogo que se dá entre os sujeitos a partir das informações, portanto está em permanente (re)construção. O conhecimento não vem pronto e em seu processo de construção não partimos do zero. Tudo que produzimos está diretamente ligado à carga de conhecimento acumulada e sua origem. Esta bagagem garante a continuidade da sociedade, que se molda e se transforma no decorrer do tempo, garantindo certa estabilidade, mas é necessário estarmos atentos para o fato de que o pesquisador não está imune a ela.

Compreender o novo paradigma, bem mais relativizado, que se apresenta nesta época já denominada por alguns autores como pós-moderna faz-se necessário, e a sociologia pode contribuir na construção de entendimentos dessa nova realidade. Ao falarmos em conhecimento, estamos falando do conhecimento advindo das práticas sociais e do conhecimento científico. No paradigma neomoderno eles se complementam, ao invés de negar todo e qualquer conhecimento advindo dos quadros sociais como aconteceu na modernidade. O conhecimento do cotidiano, o senso comum, bem como ensina Boaventura de Sousa Santos, traz em si forças de conhecimento, mas é gerado a partir de ações não planejadas, enquanto o conhecimento científico é embasado em alguns critérios, metodologias e hipóteses, além de buscar ser objetivo, verificável e explicativo.

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E qual o papel do conhecimento na sociedade de hoje? Ser dirigido à sociedade, buscar melhorar a vida das pessoas. Deve primar pela liberdade dos atores sociais. Nesse contexto, as ciências devem ter por fim o ser humano ao invés de se restringir a produzir apenas bens materiais voltados ao conforto de alguns escolhidos e servir de instrumento de dominação.

O conhecimento é o motor da sociedade e não se discute a sua relevância na neomodernidade, mas sim o que fazer com ele, como aproveitá-lo melhor. É um desafio romper com o paradigma de controle do conhecimento como forma de poder. Urge dar atenção especial, voltando o conhecimento produzido e as tecnologias às questões humanas, bem como democratizar o acesso às informações. Embora dominar as forças da natureza fosse uma pretensão em prol da felicidade humana, é fato que todo o conhecimento produzido e consequentes avanços tecnológicos produzidos na modernidade não conseguiram se transformar em qualidade de vida e dignidade para a maioria das pessoas. Em um contexto de desigualdade é importante dar dimensão social ao conhecimento, ou seja, uma melhor distribuição das riquezas produzidas, bem como dos conhecimentos e tecnologias, ou seja, aliar esforços do Poder Público, com a iniciativa privada, Ong´s, universidades e sociedade civil em prol da busca pela igualdade através da democratização da informação e, por conseguinte, do conhecimento. Tais esforços se dão no sentido de fomentar pesquisas voltadas à melhoria da realidade local, implantação de políticas públicas dirigidas à inclusão e acesso à informação.

Ajudar a construir e afirmar um novo paradigma de conhecimento é papel da Sociologia. Segundo Bauman (apud Palhares-Burke, 2011), a Sociologia nasceu junto com a modernidade e fez parte deste projeto. Ela entrou em cena num mundo caótico e – bem como o projeto moderno – buscava tornar o mundo melhor. Pensando assim, a Sociologia não mudou, pois ainda busca contribuir para a (re)construção de um mundo melhor, só que antes dirigiu suas energias a contribuir com aqueles que estavam no poder, de maneira a organizar a sociedade. Coube à Sociologia compreender a realidade social e identificar o comportamento humano de modo a embasar as decisões dos que detinham o poder na consolidação daquele projeto. A Sociologia continua demandando esforços no sentido de entender as experiências humanas e contribuir para o seu melhoramento; no entanto, não mais auxiliando diretamente os governantes, na medida em que estes deixaram de se responsabilizar pelo bem estar das pessoas. Estamos em tempo de individualismo

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exacerbado, onde o indivíduo é responsável por ele mesmo, então, a Sociologia se volta ao indivíduo. Segundo Bauman (2011 apud Palhares-Burke, 2011):

... a percepção individual, para ser ampliada, necessita da assistência de intérpretes munidos com dados não amplamente disponíveis à experiência individual. E a Sociologia, como parte integrante desse processo interpretativo – um processo que, cabe lembrar, está em andamento e é permanentemente inconclusivo –, constitui um empenho constante para ampliar os horizontes cognitivos dos indivíduos e uma voz potencialmente poderosa nesse diálogo sem fim com a condição humana.

A Sociologia não tem como fazer uma cruzada em prol da melhoria de condições de vida dos humanos isoladamente. É papel de todas as ciências produzir conhecimento, e esse deve ser dirigido ao bem-estar da humanidade, em especial a uma divisão menos desigual dos bens que ela produz. Na verdade, as ciências não têm responsabilidade pelas mazelas humanas, mas sim quem se apropria do conhecimento gerado por ela para garantir poder e/ou dominação.

Considerando que o conhecimento, em especial o produzido pelas ciências, tem grande potencial de contribuir para um mundo melhor e que as ciências geram conhecimento científico, é importante destacar a importância deste para a sociedade, já que tem potencial para o desenvolvimento de tecnologias que, voltadas ao social, contribuem para encontrar saídas ou alternativas para o enfrentamento de múltiplos problemas enfrentados pela humanidade, boa parte deles, inclusive, criados pelo homem a partir da própria evolução tecnológica.

O seu diferencial na hora de explicar os fenômenos é o fato de submeter a provas, serem verificáveis e de se basear em metodologias e teorias, chegando a resultados confiáveis, respeitados pela comunidade; no entanto, nunca absolutos, sendo constantemente aperfeiçoados ou servindo de base para novas descobertas. O conhecimento científico ou as ciências têm uma responsabilidade enorme, pois é a partir delas que nascem entendimentos sobre temas que ditarão o rumo da humanidade, pois a aplicação de muitas conclusões advindas das pesquisas científicas interfere diretamente na vida de todos em tempos de plantas transgênicas, utilização de células-tronco em pesquisas, exploração do espaço, clonagem, energia atômica, exploração dos recursos naturais além dos limites suportáveis, alteração do clima, etc. Nesse processo de mudanças e evolução tecnológica muito rápida, cabe à sociedade discutir o que está acontecendo e a

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Sociologia precisa estar atenta para interpretar esse complexo processo de maneira a contribuir, ou, conforme Bauman (apud Palhares Burke, 2011), auxiliar na ampliação da percepção dos indivíduos, nessa discussão que não pode ficar restrita aos detentores do poder.

Vejamos o tema aqui discutido, a pessoa com deficiência. Qual a diferença de uma pessoa com deficiência que vive atualmente para uma que viveu há alguns séculos? Como indivíduo, nenhuma. Então como se explica o fato de a maioria das culturas excluírem as pessoas com deficiência ao longo de muitos séculos? É necessário considerar que cada tempo histórico tem seus motivos, seja a necessidade da força física para sobreviver, para não ser um peso para comunidades nômades, pela falta de condições de produzir igual aos outros, etc. Mas o fato é que a visão da sociedade sobre as pessoas com deficiência foi lenta e gradualmente mudando.

As limitações causadas pela deficiência – seja em 1700, seja em 2011 – são as mesmas; No entanto, o entendimento acerca da deficiência é muito diferente nestas duas épocas. Enquanto tivemos por base uma fonte singular de conhecimento, a igreja ou fé cega na razão, o entendimento sobre aquele objeto pouco se alterou. Isso foi acontecer, como tantos outros entendimentos que revolucionaram o mundo, quando o conhecimento deixa de ser refém de fonte única. A mudança se dá na prática social, no diálogo, nos questionamentos, ou seja, na relação entre os atores sociais.

Conhecimento não acontece de forma isolada, mas na troca de saberes entre os atores sociais, e é neste contexto que espero contribuir com este trabalho para este infinito processo de (re)construção do conhecimento. Entendo que, quando se provoca os sujeitos a formar, ou reforçar uma ideia sobre o objeto e especialmente quando o assunto entra na pauta social, no interesse dos sujeitos, há a interação entre eles e, como consequência, construímos conhecimento.

1.2 Conceituando a Deficiência

Inicialmente, ao estudarmos a deficiência e seus processos inerentes, é imprescindível definir como devemos nos referir às pessoas com deficiência, pois

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essa definição é de suma importância para que a expressão utilizada não tenha sentido pejorativo e nem traga em seu bojo o preconceito. Ao pesquisarmos sobre o tema nos deparamos com termos referentes às pessoas com deficiência tais como: “deficientes”, “pessoas deficientes”, “portadoras de deficiência”, “portadoras de necessidades especiais”, ou como se dizia há mais tempo, “excepcional”, “aleijado”, “defeituoso”, “incapacitado”, “inválido”.

Sassaki (2011) explica que tais termos são considerados corretos em função de certos valores e conceitos vigentes em cada sociedade e em cada época. Assim, eles passam a ser incorretos quando esses valores e conceitos vão sendo substituídos por outros, o que exige o uso de outras palavras.

Conforme Silva (2011)

A construção de uma verdadeira sociedade inclusiva passa também pelo cuidado com a linguagem. Na linguagem se expressa, voluntária ou involuntariamente, o respeito ou a discriminação em relação às pessoas com deficiência. Por isso, vamos sempre lembrar que a pessoa com deficiência antes de ter deficiência é, acima de tudo e simplesmente: pessoa.

Até o final da década de 1990 o termo “pessoa portadora de deficiência” foi o mais utilizado, especialmente no Brasil; no entanto deixou de ser atual, já que a pessoa não porta a deficiência tal qual fosse um objeto que ela a qualquer momento pode deixar de portar. Segundo Sassaki (2011), os movimentos mundiais de pessoas com deficiência, incluindo os do Brasil, estão debatendo o nome pelo qual elas desejam ser chamadas. Mundialmente, já fecharam a questão: querem ser chamadas de “pessoas com deficiência” em todos os idiomas.

Na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, ocorrida em 2006, a Organização das Nações Unidas (ONU) consagra o termo “Pessoa com Deficiência” no próprio título. Então, doravante, em função das inúmeras vezes em que citarei o termo “pessoa com deficiência”, utilizarei para tal o acrônimo PcD.

Neste sentido,Sassaki (2011) cita uma série de princípios para a utilização do termo pessoa com deficiência:

• Não esconder ou camuflar a deficiência;

• Não aceitar o consolo da falsa ideia de que todo mundo tem deficiência; • Mostrar com dignidade a realidade da deficiência;

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• Combater eufemismos que tentam diluir as diferenças, tais como “pessoas com capacidades especiais”, “pessoas com eficiências diferentes”, “pessoas com habilidades diferenciadas”, “pessoas deficientes”, “pessoas especiais”, “é desnecessário discutir a questão das deficiências porque todos nós somos imperfeitos”;

• Defender a igualdade entre as pessoas com deficiência e as demais pessoas em termos de direitos e dignidade, o que exige a equiparação de oportunidades para pessoas com deficiência atendendo às diferenças individuais e necessidades especiais, que não devem ser ignoradas;

• Identificar nas diferenças todos os direitos que lhes são pertinentes e a partir daí encontrar medidas específicas para o Estado e a sociedade diminuírem ou eliminarem as “restrições de participação” (dificuldades ou incapacidades causadas pelos ambientes humano e físico contra as pessoas com deficiência).

1.3 Definições Importantes

Objetivando familiarizar o entendimento acerca das nomenclaturas utilizadas com relação à deficiência, passaremos – na sequência – a conceituá-las conforme segue:

a) Pessoas com deficiência: segundo o artigo primeiro da Convenção da Pessoa com Deficiência, adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU) no ano de 2006, pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas.

b) Acessibilidade: é a condição que possibilita às pessoas viverem de forma independente e com participação plena de todos os aspectos da vida de forma a assegurar a todos o acesso, a permanência e a utilização, em igualdade de

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oportunidades com segurança e autonomia, total ou, se necessário, assistida ao meio físico, aos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, às edificações em geral, aos transportes, aos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, tanto na zona urbana quanto rural. (Estatuto da Pessoa com Deficiência baseado nos relatórios produzidos durante a reunião do Conade realizada em julho de 2009). Importam-nos neste trabalho as questões de acessibilidade que dizem respeito ao meio físico, ou seja, a acessibilidade arquitetônica.

c) Barreiras arquitetônicas: são todos os obstáculos físicos, naturais ou construídos que dificultam ou impedem o livre acesso e a circulação de pessoas que sofrem de alguma incapacidade transitória ou permanente (Lanchoti, 1998 apud Miranda e Rocha, 1999, p.26). Calçada com piso quebrado, lixeiras altas demais, falta de rebaixamento de guia em calçadas, alguns elementos publicitários nos passeios públicos, telefones públicos sem demarcação de piso e rampas com inclinação inadequada, são exemplos de barreiras arquitetônicas.

d) Exclusão social: segundo o dicionário Aurélio, exclusão é o ato de excluir, que por sua vez significa expulsar, retirar. Nas ciências sociais, segundo o professor Arroyo (2011), o termo passou a ser usado na década de 1980 emprestado de outras ciências, como a matemática, mais especificamente da teoria dos conjuntos, onde pertencer ou não, estar incluído ou excluído depende do elemento ser igual ou diferente ao conjunto dos elementos predominantes. Há diversas formas de excluir na sociedade. Segundo Arroyo (2011), “Os excluídos são seres concretos, historicamente derrotados e humilhados, à margem da vida social, descartáveis, quase sem perspectivas de vida”. São aqueles aos quais se lhes nega sistematicamente a cidadania.

e) Inclusão social: segundo o dicionário Aurélio, inclusão é o ato de incluir, que por sua vez significa inserir ou introduzir. A inclusão social, de forma simplista, apenas a fim de definição, é a busca pela integração das pessoas ao convívio social, fazer com que cada indivíduo se sinta parte do todo. No caso específico das PcD é o processo pelo qual a sociedade e a pessoa com deficiência

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procuram adaptar-se mutuamente tendo em vista a equiparação de oportunidades e, consequentemente, uma sociedade para todos. A inclusão (na escola, no trabalho, no lazer, nos serviços de saúde, etc.) significa que a sociedade deve adaptar-se às necessidades da pessoa com deficiência para que esta possa desenvolver-se em todos os aspectos de sua vida (SASSAKI, 1997, p. 186, apud Cruz e Bento).

f) Cidadania: houve entendimentos diversos ao longo da história. Importa-nos, no entanto, o seu significado atual, que surge no contexto da modernidade e formação do Estado-Nação. A cidadania indica o pertencimento de um indivíduo a um Estado-Nação, bem como num sentido mais amplo significa a posse aos direitos civis, políticos e sociais. A cidadania plena contempla o acesso aos bens e serviços, o acesso à educação, ao trabalho, à vida cultural, à saúde, à integração com a sua comunidade.

1.4 A Relevância do Tema para a Sociedade

Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS apud Ribas (1997, p.9), 10% da população mundial é considerada portadora de algum tipo de deficiência, podendo chegar a 15% ou 20% em países pobres. Assim, considerando-se os mais de sete bilhões de habitantes, o número de pessoas com deficiência seria de aproximadamente 700 milhões de pessoas.

No Brasil, conforme Ribas (1997, p.10), mais de 20% da população brasileira está direta ou indiretamente ligada às pessoas portadoras de deficiência, pois cada uma delas tem pai, mãe, esposa, família. Mesmo assim, com um em a cada cinco brasileiros tendo alguma relação com a deficiência, a cultura da sociedade industrial capitalista, da qual somos partícipes, não se preocupou em oferecer melhores condições aessas pessoas, pois se trata de uma sociedade direcionada à produção, e não faz muito tempo as PcD eram consideradas inaptas ao trabalho. Como afirma Ribas (1997, p.13), “a sociedade foi criada somente para os considerados capazes de trabalhar e produzir, nunca se considerou importante planejar o espaço social para a circulação e convívio das pessoas portadoras de deficiência”.

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O Censo Demográfico divulgado pelo IBGE em 2000 apontou que 14,5% dos brasileiros têm alguma deficiência, aproximadamente 25 milhões de pessoas. Esse número elevado de PcD deve-seà falta de assistência na gravidez, à desnutrição, a problemas genéticos, aos acidentes de trabalho, aos acidentes de trânsito, à violência urbana, ao envelhecimento da população, além daquelas deficiências originadas por moléstias, tais como poliomielite (erradicada no país), diabetes, meningite, rubéola, entre outras.

Muitas são as barreiras a serem eliminadas para que tenhamos uma sociedade inclusiva para todos. São barreiras individuais, culturais, atitudinais, de informação e também arquitetônicas, esta última trabalhada neste estudo de forma a contribuir para a inclusão social das PcD que, indubitavelmente, estão em desvantagem em relação aos que não têm deficiência. A quebra das barreiras referidas colabora para a promoção de sua participação na vida econômica, social e cultural, fazendo essas pessoas se sentirem pertencentes à comunidade e exercendo, de fato, a cidadania de forma plena.

Lembramos que, ainda que o foco do trabalho seja as PcD, a acessibilidade proporcionada pela eliminação das barreiras arquitetônicas não se restringe apenas a elas, pois beneficia idosos, gestantes, obesos, crianças, pessoas com baixa estatura, etc. Entende-se que eliminadas tais barreiras, as PcD, bem como todas as outras que possuem limitações físicas poderão se locomover, trabalhar, estudar, enfim, interagir com a comunidade, ainda que com auxílio de terceiros.

Trata-se de tarefa complexa e ampla demais trabalhar individualmente com todas as deficiências e necessidades específicas de cada categoria de deficiência, por isso, para o estudo em questão, optou-se por avaliar as ações do Estado com relação ao cumprimento da legislação específica para este grupo de pessoas, especialmente sobre a eliminação de barreiras arquitetônicas que impeçam ou limitem o convívio social de PcD.

Diante deste cenário é necessário que as políticas públicas sejam planejadas de maneira a contemplar as necessidades de toda a população, respeitando-se as diferenças entre os indivíduos.

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É obrigação estatal facilitar o acesso às tecnologias assistivas1, às comunicações alternativas2 e adequações ambientais e arquitetônicas os espaços coletivos.

Muitas das deficiências a que os seres humanos estão suscetíveis os colocam em condição de total dependência, impedindo-os de interagir com a sociedade de forma autônoma. No entanto, mesmo com limitações físicas, a maior parte das PcD possui capacidade de exercer uma vasta gama de atividades, inclusive laborais.

Com relação ao trabalho é importante destacar que o mesmo é fundamental para os seres humanos, pois é a partir dele que o homem consegue manter suas necessidades materiais. Marx (1986 apud Barbosa, 2011) o define como essência do homem.

O primeiro pressuposto de toda história humana é, naturalmente, a existência de indivíduos humanos vivos. O primeiro ato histórico destes indivíduos, pelo qual se distinguem dos animais, não é o fato de pensar, mas o de produzir seus meios de vida.

Parece consensual que o trabalho influencia direta e psicologicamente os seres humanos, além de ser a base de manutenção material da vida. Muitas são as barreiras a serem vencidas pelas PcD para estudar, se qualificar e conseguir trabalho, e as barreiras arquitetônicas se apresentam como um dos óbices para que elas consigam desfrutar dos mesmos direitos dos outros indivíduos no acesso à qualificação e ao trabalho.

1

Denomina-se Tecnologia Assistiva qualquer item, peça de equipamento ou sistema de produtos, adquirido comercialmente ou desenvolvido artesanalmente, produzido em série, modificado ou feito sob medida, que é usado para aumentar, manter ou melhorar habilidades de pessoas com limitações funcionais, sejam físicas ou sensoriais. (Baruel, Elisete Oliveira Santos, disponível em http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=933)

2

A área da tecnologia assistiva que se destina especificamente à ampliação de habilidades de comunicação é denominada de Comunicação Alternativa (CA). A comunicação alternativa destina-se a pessoas sem fala ou sem escrita funcional ou em defasagem entre sua necessidade comunicativa e sua habilidade de falar e/ou escrever.(Sartoretto, M.L. e Bersch, Rita, disponível em http://www.assistiva.com.br/ca.html)

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1.5 A Relação da Sociedade com a Pessoa com Deficiência ao Longo da História

A maior prova da falta de atenção histórica da sociedade com as PcD está nas restritas referências bibliográficas. O assunto foi negligenciado pelos historiadores, queixa bastante comum dos autores na bibliografia pesquisada.

Carmo (1991 apud Martins 1996, p.60) relata que os deficientes físicos foram segregados do convívio social em quase todas as fases da história e quando lhes era permitido a sobrevida esta era conseguida através da mendicância ou da benevolência de certas instituições. Bianchetti (1988, p.27, apud Silva [et al]), afirma que em função de uma organização nômade de sociedade, necessitando deslocar-se na busca de recursos, abandonava-deslocar-se os deficientes físicos “(...) em função dessa prática, abandonavam aqueles que não pudessem se mover com agilidade, ou que tivessem alguma limitação que impedisse sua mudança de um lugar para outro com rapidez.”

Segundo Silva apudCarmo (1994, p.22), tribos de esquimós, entre os séculos 17 e 18, nos territórios canadenses de hoje, deixavam os deficientes entregues as suas próprias orientações em locais propícios e próximos dos pontos onde todos sabiam ser a área de aparecimento dos ursos brancos, para serem por eles devorados. No entendimento desse grupo os ursos brancos eram considerados animais sagrados e de grande utilidade para a tribo e, por isto, deveriam manter-se bem alimentados, pois assim, sua pele mantinha-se também em ótimo estado para, quando mortos, bem agasalharem a população.

Conforme Silva apud Carmo (1994, p.22), os índios Ajores, na Bolívia, devido a condição de nomadismo da tribo, eliminavam os recém-nascidos com deficiência, ou mesmo aqueles indivíduos não desejados. Quanto aos velhos ou aos que devido às circunstâncias ficaram deficientes eram enterrados vivos, por solicitações próprias ou mesmo contra sua vontade. Alguns consideravam esse tipo de morte altamente desejável, pois a terra os protegeria contra tudo e contra todos.

Gurgel (2011) diz que na antiguidade era possível perceber a negação das PcD. Os hebreus, por exemplo, consideravam toda doença crônica ou deficiência física, ou qualquer deformação corporal, símbolo de impureza ou pecado. Na Grécia Antiga, homens como Platão e Aristóteles pregavam o extermínio dos “disformes”,

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assim como os espartanos que necessitavam apenas dos fortes para servir ao exército.

Segundo a mesma autora, na Roma Antiga era permitido aos pais matarem os filhos nascidos com deficiência por afogamento, mas foi nessa mesma Roma que o deficiente começou a distanciar-se do abandono ou extermínio a partir da propagação do cristianismo, pois todos os seres humanos, deficientes ou não, passaram a ser considerados possuidores de alma. Ainda assim, o atendimento aos deficientes era questão de caridade e eles eram, em regra, segregados.

Sabe-se que exceções ao histórico de segregação e abandono existem em algumas culturas. No Egito Antigo, por exemplo, há evidências históricas como papiros, afrescos e túmulos que demonstram que a cultura egípcia tratava as PcD com respeito

Na Idade Moderna, especialmente com a revolução burguesa e consolidação capitalista, as PcD continuaram sendo um peso para a sociedade, na medida em que não reuniam condições de produzir tanto quanto os considerados“normais”.

No Brasil, a Portaria Ministerial n° 13, de 1° de f evereiro de 1938, combinada com o Decreto 21.241/38, art. 27, letra b, item 10, “estabelece a proibição da matrícula em estabelecimento de ensino secundário, de alunos cujo estado patológico os impeça permanentemente das aulas de educação física”. Explica Carmo (1994, p.31) que a aptidão física era necessária para aproximar-se ao máximo da raça pura, saudável, bela e preparada para o trabalho e luta em prol da pátria amada, além de, baseado na cultura higienista, dominante no Governo Vargas (1930-1945), resolver os problemas de saúde pública através da educação física.

De acordo com Sassaki (2011), no começo da história, e mesmo durante séculos, romances, nomes de instituições, leis, mídia e outros meios mencionavam em seus postulados o termo “os inválidos”, ou seja, indivíduos desprovidos de valor. Até a década de 1960 foi muito comum a utilização do termo “incapazes”, o que representou um relativo avanço, pois as PcD passaram a ser vistas como pessoas “sem capacidade” ao invés de “sem valor”. De 1960 a 1980 as PcD passaram a ser chamadas inicialmente de “defeituosas” e mais tarde de “deficientes”, além dos excepcionais, no caso das deficiências mentais. Mais tarde, ao final da década de 1980, “pessoas deficientes e pessoas portadoras de deficiência”. Na história das pessoas com deficiência verifica-se um quadro de indiferença, de discriminação, de tutela e de caridade, que, em muitos casos, está presente nos dias atuais.

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A preocupação com este tema ganha maior vulto, especialmente a partir da Segunda Guerra Mundial, quando aumentou consideravelmente em muitos países o número de pessoas com algum tipo de deficiência. A partir desse momento o tema passa a ser pauta de legislação para garantir direitos básicos de cidadania a essas pessoas. Um dos primeiros passos foi a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, considerado o marco inicial para uma visão diferenciada das PcD. É a partir dela que o Direito Civil começa a reservar espaço para as questões específicas para a população com deficiência. Daí pra frente, mesmo que passo a passo, as minorias e os “diferentes” começam a ganhar espaço e visibilidade na sociedade.

1.6 As Barreiras Arquitetônicas como Limitadoras da Inclusão Social das Pessoas com Deficiência

Se desejamos e pleiteamos a inclusão social é porque ela não existe de forma plena. Sabemos que a inclusão social das PcD depende efetivamente de sua integração na família, na escola e no trabalho. Para que haja essa integração é necessário que se eliminem alguns entraves, que para o caso do nosso estudo são as barreiras arquitetônicas, pois muitos dos impeditivos de convívio social, exercício profissional e processos educacionais não se dão pela limitação física das PcD, mas por desníveis, calçamentos irregulares, falta de acesso à escadas entre outros. Para a eliminação de tais barreiras entende-se que é necessária, em grande parte, a utilização de serviços prestados pelo Estado, que tem a obrigação de cumprir a legislação, propiciando às PcD a efetiva participação na sociedade.

Segundo a Declaração dos Direitos das Pessoas Com Deficiência (1975) “as pessoas deficientes têm direito de viver com suas famílias ou com pais adotivos e de participar de todas as atividades sociais, criativas e recreativas” (grifo nosso). Para tanto necessitam deslocar-se, e para isso é necessário a eliminação das barreiras arquitetônicas.

Nessa área ainda temos muito a melhorar, mas observa-se que a sociedade vem gradativamente avançando em suas atitudes e na própria legislação e o Brasil, neste sentido, tem uma das mais completas legislações do continente americano.

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No próximo capítulo a intenção é apresentar algumas leis que visam proteger as PcD e dar-lhes as mesmas condições das demais pessoas.

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2 OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

2.1 Direitos Humanos e Direitos Civis

É importante frisar que a inclusão, a exclusão e a discriminação referem-se diretamente aos direitos humanos que, modernamente, segundo Herkenhoff (1994, p.30-1, apud Dallasta):

...são entendidos como aqueles direitos fundamentais que o homem possui pelo fato de ser homem, por sua própria natureza humana, pela dignidade que a ela é inerente. São direitos que não resultam de uma concessão da sociedade política. Pelo contrário, são direitos que a sociedade política tem o dever de consagrar e garantir.

Ao citarmos a legislação, estaremos falando dos direitos civis, criados pelos homens para regulamentar o convívio social e, inclusive, os direitos humanos que se referem àqueles que dizem respeito à condição humana. Os direitos humanos estão acima dos direitos civis, que têm a obrigação de protegê-los.

Por Direitos Civis Nogueira (2008, p.26):

...entende aqueles mais diretamente ligados à cidadania, os que estabelecem as regras sociais, individuais ou para determinados grupos da sociedade, dando-lhes os limites para atuar dentro de um determinado marco legal. Objetivam a organização dos bens da vida, aqueles que interessam a todos os membros de uma comunidade ou sociedade. Existem porque foram criados pela legislação para regrarem as relações sociais em determinado tempo e lugar.

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2.2 Órgãos que Atuam na Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência

O Brasil possui uma legislação bastante avançada nesta área e o Poder Executivo deu status de Ministério à Secretaria Especial dos Direitos Humanos, vinculado diretamente à Presidência da República. Abaixo, citam-se alguns órgãos importantes que vem atuandona defesa dos interesses das PcD.

2.2.1 Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Com Deficiência (Conade)

O Conade é um órgão governamental, ligado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, criado pela Lei 10.683/03 art. 24, parágrafo único, para acompanhamento e avaliação da política nacional de inclusão das pessoas com deficiência. Integram o Conselho: representantes governamentais, representantes dos Conselhos Estaduais e Municipais da Pessoa com Deficiência e representantes da sociedade civil (entidades nacionais de e para a pessoa com deficiência, da OAB, associação de empregadores e de trabalhadores, entre outros).

2.2.2 Subsecretaria Nacional da Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SNPD)

Órgão responsável pela articulação e coordenação das políticas públicas direcionadas às PcD também conhecido como Corde, já que até 2009 significava Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. É subsecretaria ligada diretamente à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR). Dentre suas atribuições está a de coordenar e supervisionar o Programa Nacional de Acessibilidade e o Programa de Promoção e Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, emitir pareceres técnicos referentes à área quando em tramitação no Congresso Nacional, promover ações contra a discriminação, exploração e violência contra as PcD, estimula a formação de

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conselhos estaduais e municipais da pessoa com deficiência dentre outras tantas atribuições, sempre primando pela inclusão social das PcD.

2.2.3 Fundação de Articulação e Desenvolvimento de políticas Públicas para Pessoas Portadoras de Deficiência e de Altas Habilidades no RS (Faders)

É entidade ligada à Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Estado do Rio Grande do Sul. A fundação busca propor, coordenar, articular e promover em conjunto com a sociedade e entidades representativas a implantação de políticas públicas que garantam a cidadania das pessoas com deficiência. Desenvolve programas nas áreas de educação, saúde, integração ao trabalho e geração de renda, cidadania e direitos, acessibilidade e assistência social. Na área de acessibilidade tem como prioridades a acessibilidade arquitetônica em edifícios públicos e privados; acessibilidade aos mobiliários urbanos (ruas, jardins, parques, estacionamentos) e acessibilidade ao transporte. Nota-se que a nomenclatura utilizada, definida em lei, não acompanhou a evolução dos termos utilizados.

2.2.4 Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência

O Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência no RS foi criado em outubro de 2005, através da lei 12.239, como órgão consultivo, deliberativo e fiscalizador da Política Estadual da Pessoa com Deficiência com base nos artigos 203 e 227 da Constituição Federal e 195 da Constituição Estadual. Dentre suas muitas atribuições está a de sugerir a promoção na Administração Pública de atividades que possibilitem a inserção na vida socioeconômica, política e cultural do Estado, receber denúncias sobre violações dos direitos das PcD, dando o encaminhamento necessário e apoiar e estimular a criação dos Conselhos Municipais da Pessoa com Deficiência.

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2.2.5 Conselhos Municipais da Pessoa com Deficiência

Os Conselhos Municipais são órgãos de cooperação governamental, que têm por finalidade auxiliar a administração na orientação, planejamento, fiscalização e julgamento de matéria de sua competência.

2.3 A Legislação Brasileira

Lembramos que este trabalho não possui cunho jurídico, por isso não vamos nos deter em termos específicos utilizado em lei, aprofundá-las ou reproduzi-las integralmente. Não há intenção alguma em esgotar as leis que existem a respeito do tema trabalhado. Citá-las demonstra a importância do tema para a sociedade e descortinam-se muitos direitos, alguns deles desconhecidos pelas PcD e/ou descumpridos pelo Poder Público. As leis por si só não garantem a inclusão social, porém são ferramentas importantes para que se possa promover a inclusão e, por conseguinte, a cidadania. A proteção das PcD por intermédio das leis é relativamente recente, tanto que sequer aparecem referências a elas em Constituições mais antigas.

No Brasil, segundo Araújo (1994), o direito à igualdade aparece em suas Cartas Magnas desde 1824. Com base na obra desse autor (1994, p.65 a 70) faremos breve resumo dos avanços constitucionais em relação aos direitos das PcD.

A Constituição Federal de 1824 e a de 1891 apenas garantiam direito à igualdade.A de 1934, em seu art. 138, diz que incumbe à União, aos Estados e aos Municípios, nos termos das leis respectivas: a) assegurar amparo aos desvalidos, criando serviços especializados e animando os serviços sociais, cuja orientação procurarão coordenar. A de 1937 não avançou em relação à anterior e a de 1946, além de garantir a igualdade, faz menção ao direito à previdência para o trabalhador que se tornar inválido (art. 157, inciso XVI). Já a Constituição Federal de 1967 traz um avanço, pois prevê lei especial sobre a educação dos excepcionais.

O maior avanço, porém, se deu na Emenda Constitucional n° 12 da Constituição de 1978, que em seu artigo único descreve:

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...é assegurado aos deficientes a melhoria de sua condição social e econômica especialmente mediante:

I- educação especial e gratuita;

II- assistência, reabilitação e reinserção na vida econômica do país;

III- proibição de discriminação, inclusive quanto à admissão ao trabalho ou ao serviço público e a salários.

A Constituição de 1988, também conhecida como Constituição Cidadã, trouxe proteção às PcD mediante a criação de vários dispositivos. Muitos são os artigos que protegem as PcD de forma genérica ou específica. Não cabe aqui especificá-los ou tratá-los de forma individual, mas cabe ressaltar que são direitos que garantem a igualdade, proibição à discriminação, reserva de postos de trabalho na Administração Pública e privada, assistência social, etc. A Carta de 1988 foi mais pormenorizada que a de 1978, no entanto, apresenta-se com direitos fragmentados em diversos artigos.

Precedeu a chamada Constituição Cidadã de 1988 em mais de uma década a Declaração dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência (1975), resolução elaborada pela ONU em sua Assembleia Geral. Em 1975, ainda não se falava em barreiras arquitetônicas, porém a declaração já afirma a necessidade de eliminá-las quando em sua redação afirma em seu artigo nono: “As pessoas portadoras de deficiências têm direito de viver com suas próprias famílias ou pais adotivos, e de participar de todas as atividades sociais, culturais e recreativas da comunidade...”

Nesta perspectiva pergunta-se: Como participar normalmente das atividades citadas sem oferecer condições para isso? A Declaração dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência de 1975 foi importante para o avanço das conquistas dos direitos das PcD, entretanto, comparou as PcD com “seres humanos normais” na hora de definir pessoa portadora de deficiência.

O termo pessoa portadora de deficiência identifica aquele indivíduo que, devido a seus “déficits” físicos ou mentais, não está em pleno gozo da capacidade de satisfazer, por si mesmo, de forma total ou parcial, suas necessidades vitais e sociais, como faria um ser humano normal (grifo nosso).

Também precedeu nossa Carta Magna e foi um marco na luta dos movimentos sociais em prol das PcD o ano de 1981, pois foi o ano proclamado pela

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ONU como “Ano Internacional das Pessoas Deficientes (AIPD), cujo lema foi “Participação e Igualdade”.

Além dos artigos da Carta Magna que visam a proteger as PcD, há uma vasta gama de legislação infraconstitucional (leis, decretos, portarias, ordens de serviço etc.) e acordos internacionais dos quais o Brasil é signatário. Muitas delas referindo-se diretamente a importância e necessidade da eliminação das barreiras arquitetônicas, das quais se destacam:

2.3.1 Lei 7.853: (24 de outubro de 1989)

Esta lei, conforme seu cabeçalho:

...dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para integração da Pessoa Portadora de Deficiência – Corde, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências.

Seu texto estabelece medidas a serem adotadas nas áreas de educação, saúde, trabalho, dentre outras. Disciplina a atuação do Ministério Público na proteção judicial de interesses coletivos ou difusos das pessoas com deficiência e também define os crimes no caso da violação destes direitos.

Em relação à eliminação das barreiras arquitetônicas, esta lei, em seu artigo primeiro, fala em assegurar a efetiva integração social e no segundo fala no pleno exercício dos seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social. O parágrafo único do artigo segundo é bastante claro no sentido de que se evite ou remova óbices às PcD. Há ligação direta entre os termos integração social e pleno exercício dos direitos básicos com a remoção de óbices, ou ainda que não utilizando a terminologia, remoção de barreiras arquitetônicas, afinal é impossível integrar-se e fazer valer seus direitos de cidadão sem poder deslocar-se nos logradouros, de um bairro a outro ou acessar as edificações.

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Art. 1º Ficam estabelecidas normas gerais que asseguram o pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiências, e sua efetiva integração social, nos termos desta Lei.

Art. 2º Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos,

inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que,

decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico.

Parágrafo único. ...

V - na área das edificações:

a) a adoção e a efetiva execução de normas que garantam a funcionalidade das edificações e vias públicas, que evitem ou removam os

óbices às pessoas portadoras de deficiência, permitam o acesso destas a

edifícios, a logradouros e a meios de transporte.

2.3.2 Decreto 3.298: (20 de dezembro 1999)

Tem-se no cabeçalho desta lei que: “Regulamenta a Lei 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção e dá outras providências.”

Neste decreto não há referência direta à eliminação das barreiras arquitetônicas, mas assim como a Lei 7853, que este decreto tem por objetivo regulamentar, há várias garantias aqui que, sem a eliminação das barreiras arquitetônicas, não se concretizarão.

2.3.3 Lei 10.098: (19 de dezembro 2000)

Lei de suma importância no que tange à acessibilidade. Artigo primeiro:

Esta lei estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e

espaços públicos (grifo nosso), no mobiliário urbano, na construção e

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2.3.4 Lei Estadual: 13.739: (08 de junho 2011)

Dispõe sobre percentual na distribuição ou venda de unidades habitacionais populares ou lotes individuais urbanos para pessoas com deficiência e dá outras providências

2.3.5 NBR 9050

NBR é uma abreviatura utilizada pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) que significa Norma Brasileira. A 9050 trata da acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Esta norma estabelece critérios e parâmetros técnicos a serem observados quando do projeto, construção, instalação e adaptação de edificações, mobiliário e equipamentos urbanos às condições de acessibilidade.

2.3.6 Leis Municipais de Cruz Alta-RS

a) Lei Complementar 0040/07 – Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental de Cruz Alta-RS

b) Lei Complementar 0024/02 – Código de Obras de Cruz Alta- RS c) Lei 278/75 – Código de Postura

Além da legislação acima citada e tantas outras, o Governo Federal lançou no dia 17/11/2011 o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Viver sem limite). Dentre tantos benefícios voltados às PcD nas áreas da saúde, educação e trabalho, também destinará recursos disponibilizados para a questão da acessibilidade, prevendo:

- Um milhão de moradias adaptadas pelo Projeto Minha Casa, Minha Vida 2; - obras do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) prevendo adaptações

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para as PcD na área de mobilidade urbana;

- microcrédito para aquisição de produtos de tecnologias assistivas.

2.4 A Responsabilidade do Estado no Cumprimento da Legislação

A pessoa com deficiência foi lembrada pelo legislador na Constituição de 1988, dividindo atribuições entre os Três Poderes da República e o Ministério Público no que tange o acesso aos direitos conquistados, inclusive acessibilidade e quebra de barreiras arquitetônicas, tratadas aqui neste trabalho como forma de inclusão social das pessoas com deficiência. Cada poder tem sua competência e os objetivos só são alcançados quando eles trabalham em consonância uns com os outros. Observa-se que atualmente, dentre os Três Poderes da República, o Poder Legislativo é o que menos tem trabalho pela frente, na medida em que ao longo das últimas décadas, especialmente a partir da Constituição de 1988, vem normatizando as questões relativas às demandas das PcD. A responsabilidade maior neste momento é do Poder Executivo, pois tem o dever de fiscalizar e implementar as políticas públicas previstas na legislação, muitas vezes sem suporte técnico ou financeiro para tanto

O Poder Legislativo tem a competência de normatizar os direitos das pessoas com deficiência. A união produz normas gerais e os estados e municípios elaboram textos suplementares. O Poderes Executivos Federal, Estaduais e Municipais têm competência comum para implementar os direitos assegurados na legislação. Já o Poder Judiciário tem o dever de julgar, ou seja, de dar soluções às ações ajuizadas, visando à garantia dos direitos, enquanto o Ministério Público, que abrange os Ministérios Públicos dos Estados e o Ministério Público da União (Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Militar e Ministério Público do Distrito Federal e Territórios) tem dentre as suas funções institucionais elencadas no artigo 129 da Constituição Federal a de “zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta constituição, promovendo as medidas necessárias à sua garantia”. Atua em defesa da cidadania e dos direitos humanos, dentre eles o direito das pessoas com deficiência, trabalhando para a construção de uma sociedade justa e inclusiva. É

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órgão responsável por cobrar do Poder Público para que sejam implementadas as políticas públicas em prol das pessoas com deficiência e dispõe de instrumentos como a ação civil pública e o inquérito civil, entre outros, para viabilizar o acesso aos direitos das pessoas com deficiência.

É possível constatar que leis, normatizações e órgãos governamentais não faltam para que possamos ter cidades cada vez mais acessíveis e tornemos os espaços cada vez mais democráticos. No próximo capítulo analisaremos a situação das pessoas com deficiência no município de Cruz Alta-RS frente aos obstáculos impostos pelas barreiras arquitetônicas e a importância de eliminá-las.

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3 O MUNICÍPIO DE CRUZ ALTA EM RELAÇÃO ÀS BARREIRAS ARQUITETÔNICAS

Cruz Alta, município de 62.850 pessoas (censo demográfico de 2010), situa-se na Região Noroeste do estado do Rio Grande do Sul. Tem sua origem no ano de 1698 e seu nome faz referência a uma grande cruz de madeira erguida neste ano. Foi elevada ao nível de vila nos tempos do império, em 1821 e consolidou-se como município em 1833. Sua história começa como ponto de invernada e pouso de tropeiros e hoje é destacado celeiro de produção agrícola do país e importante tronco rodoferroviário no estado, graças a sua privilegiada posição geográfica. É um dos mais importantes municípios do estado, sendo polo regional de educação, comunicação, pesquisa e saúde, além de centro militar.

3.1 A População com Deficiência em Cruz Alta-RS

Segundo o IBGE (Censo Demográfico de 2000) o percentual de pessoas com deficiência no Brasil é 14,5%. Aplicando-se esse percentual à população cruz-altense, 62.850, o município tem na sua população aproximadamente 9.000 pessoas com deficiência. Ainda segundo o censo, quase metade dessas pessoas têm deficiência visual, um quarto delas tem deficiência física, e os outros 25% possuem outras deficiências. O IBGE/(2000) considera deficiência a

“existência de deficiência mental permanente que limite as atividades habituais, avaliação da capacidade de enxergar, avaliação da capacidade de ouvir, avaliação da capacidade de caminhar/subir escadas, existência de algumas deficiências físicas (paralisia permanente total, paralisia permanente das pernas, paralisia permanente de um dos lados do corpo, falta de alguma das seguintes partes do corpo (perna, braço, mão, pé ou dedo polegar)”.

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O nosso foco é a inclusão social das pessoas com deficiência através da quebra de barreiras arquitetônicas, independentemente de serem 10% ou 15% da população, mas em função da necessidade de se conhecer os números e tipos de deficiência para proposição e implementação de políticas públicas é muito importante destacar que há divergências e críticas acerca dos números apresentados pelo IBGE, primeiro em função de serem obtidos por meio de amostragem, segundo pelos critérios utilizados para enquadrar os tipos de deficiência.

Sassaki (2011) explica que há estranheza entre o índice estimativo mundial (utilizado pela ONU desde 1981) e o utilizado pelo IBGE. Com pequenas alterações para mais ou para menos, dependendo da característica de cada país (condição socioeconômica, guerras), utiliza-se o percentual de 10% da população mundial com deficiência. Os 4,5% a mais apontados pelo IBGE não surpreendem, no entanto as deficiências apontadas são extremamente divergentes das estimativas mundiais.

Comparemos a seguir na tabela 01 os números estimativos da ONU e do IBGE.

Tabela 01 – Comparativo dos Percentuais dos Tipos de Deficiências.

Tipo de Deficiência Estimativa Mundial Censo IBGE 2000

Mental 50% 8,3% Visual 5% 48,1% Física 20% 4,1% Motora --- 22,9% Múltipla 10% --- Auditiva 15% 16,7% 100% 100,1%

Fonte: SASSAKI. Romeu K. O Censo de Pessoas com Deficiência na era da inclusão. Disponível em: <http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi&parametro=5269>. Acesso em 10 nov. 2011.

Conforme Sassaki (2011), O IBGE utiliza os termos Deficiência Física e Deficiência Motora para a mesma deficiência, não considera a deficiência múltipla (1% da população, segundo a OMS) e utiliza o termo Deficiência Mental Definitiva,

(39)

como se existisse deficiência mental temporária.

Prestemos atenção às palavras de Adilson Ventura, ex-presidente da União Brasileira de Cegos e do Conade (2002/2006) - Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência, num pronunciamento à mídia questionando os resultados do Censo 2000:

Consideramos deficiente [visual] uma pessoa que enxerga menos de 30% com seu melhor olho. Essas pessoas que disseram ter alguma deficiência visual podem ter dificuldade, mas não deficiência real. Pelos dados que estão aí, o Brasil seria um país de cegos3.

Quanto ao número de pessoas com deficiência mental, Sassaki (2011) destaca a pergunta feita pelo IBGE como responsável pelo número bastante reduzido em relação à estimativa mundial: “Tem alguma deficiência mental permanente que limite as suas atividades habituais?” Sim ou não?

Muitas são as variáveis, vantagens, desvantagens e possíveis leituras de uma ou outra forma de considerar o número de pessoas com deficiência, bem como os tipos de deficiência. Somente essas leituras já seriam suficientes para fazer um trabalho à parte, mas como não é esse nosso objetivo, escolheremos uma maneira de quantificar as PcD e os tipos e voltaremos a trabalhar com o que nos importa neste trabalho, a inclusão social através da quebra de barreiras arquitetônicas.

Considerando-se a visível divergência entre os números apontados pelo IBGE e o que pude inferir sobre a realidade no município de Cruz Alta nesse período de pesquisa e a ampla aceitação mundial da estimativa de 10%, utilizarei a segunda opção como parâmetro para definir o número de pessoas com deficiência no município, bem como o percentual de cada tipo de deficiência. Sendo assim, Cruz Alta teria 6 mil pessoas com deficiência, como mostra a tabela 02:

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Tabela 02 – Número de pessoas com deficiência no município de Cruz Alta Deficiência Nº de pessoas Mental 3.000 Física 1.200 Auditiva 900 Múltipla 600 Visual 300 3.2 Plano Diretor

O Plano Diretor do Município é uma lei municipal que busca estabelecer a ocupação adequada das diversas áreas que compõe o território do município, assegurando melhores condições de vida à população. Ele trata do planejamento das atividades que podem ser exercidas em cada parte do município, almejando uma cidade sustentável para a atual e para as futuras gerações. O Plano Diretor está previsto na Constituição (artigos 182 e 183) e regulamentado pela Lei 10. 257/01 (Estatuto da Cidade). Estabelece as diretrizes gerais da política urbana, que significa o conjunto de ações do Poder Público para garantir que todos os cidadãos tenham acesso à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte, aos serviços públicos, ao trabalho, ao lazer. As políticas urbanas, conforme o “Estatuto das Cidades”, significam ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade que, por sua vez, quer dizer tornar-se acessível a todos os seus cidadãos. Neste contexto, a quebra de barreiras arquitetônicas demonstra ser fundamental para que essa função social seja efetivamente cumprida.

O Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental de Cruz Alta (PDDUA) tem, entre outros princípios citados no artigo 2°, o princípio da inclusão social e universalização do direito à cidade e garantia do acesso aos serviços urbanos e equipamentos públicos, além da requalificação dos espaços urbanos públicos e abertos, para a valorização do convívio social. (grifo nosso)

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