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Relativização da coisa julgada

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THAÍS COSTA DE ANDRADE

RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA

Ijuí (RS) 2013

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THAÍS COSTA DE ANDRADE

RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: MSc. Joaquim Henrique Gatto

Ijuí (RS) 2013

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2 Dedico este trabalho aos meus pais, pois sem eles eu nada seria.

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AGRADECIMENTOS

A minha família e meus amigos, por estarem sempre ao meu lado.

Aos meus pais Silvio e Maria Ivonete, pelo amor, dedicação e valores a mim transmitidos.

Ao professor e orientador Joaquim Henrique Gatto, pela confiança e bondade

em compartilhar comigo seu

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4 “Não há melhor maneira de exercitar a imaginação do que estudar direito. Nenhum poeta jamais interpretou a natureza com tanta liberdade quanto um jurista interpreta a verdade.”

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RESUMO

Esta pesquisa monográfica almeja a compreensão do instituto da coisa julgada, sua ligação com o princípio da segurança jurídica, basilar dentro do Estado Democrático de Direito, e a consequente importância em garantir estabilidade nas decisões judiciais. Ainda que se trate de sólido instituto jurídico, não pode ser tratado de maneira absoluta, pois em determinadas situações poderá ser revisada a coisa julgada. Analisa, de maneira doutrinária e jurisprudencial, os meios legalmente previstos para que seja afastada a coisa julgada. São eles: a ação rescisória, a querela nullitatis, a coisa julgada formada em relações jurídicas continuativas, a relativização da coisa julgada que afronta direitos fundamentais, tal como a coisa julgada na ação de investigação de paternidade e a coisa julgada inconstitucional.

Palavras-Chave: Direito Processual Civil. Coisa Julgada. Segurança Jurídica. Revisão da Coisa Julgada.

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ABSTRACT

This research aims at understanding the monographic Institute of res judicata, its connection with the principle of legal certainty, essential within the democratic state, and the consequent importance in ensuring stability in judicial decisions. Although it is solid legal institution, can not be treated as absolute, because in certain situations may be reviewed res judicata. Analyzes, so doctrine and jurisprudence, the means provided by law to be rejected res judicata. They are: a rescission action, the complaint nullitatis, res judicata continuativas formed in legal relations, the relativization of res judicata affront to fundamental rights, such as res judicata in the action research paternity and res judicata unconstitutional.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 8

1 COISA JULGADA...11

1.1 Coisa julgada e o princípio da segurança jurídica...12

1.2 Espécies de coisa julgada...14

1.2.1 Coisa julgada formal...15

1.2.2 Coisa julgada material...16

1.3 Limites objetivos da coisa julgada...18

1.3.1 Eficácia preclusiva da coisa julgada...19

1.4 Limites subjetivos da coisa julgada...20

1.4.1 Coisa julgada inter partes...20

1.4.2 Coisa julgada ultra partes...21

1.4.3 Coisa julgada erga omnes...22

1.5 Modo de produção da coisa julgada...23

1.5.1 Coisa julgada pro et contra...23

1.5.2 Coisa julgada secundum eventum litis...24

1.5.3 Coisa julgada secundum eventum probationis...25

2 REVISÃO DA COISA JULGADA...27

2.1 Mecanismos de afastamento da coisa julgada...27

2.1.1 Ação rescisória...28

2.1.1.1 Natureza jurídica...28

2.1.1.2 Pressupostos...29

2.1.1.3 Competência, legitimidade e prazo...34

2.1.1.4 Procedimento e processamento...35

2.1.2 Querela nullitatis...37

2.1.3 Coisa julgada nas relações jurídicas continuativas...39

2.1.4 Relativização da coisa julgada que afronta direitos fundamentais...41

2.1.4.1 Coisa julgada na ação de investigação de paternidade...43

2.1.4.2 Coisa julgada inconstitucional...44

CONCLUSÃO...46

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico tem como finalidade analisar o instituto da coisa julgada, as formas como se manifesta, bem como suas características e importância no ordenamento jurídico. Objetiva analisar e compreender os institutos legais previstos pelos quais a coisa julgada pode ser afastada, sem que reste comprometida sua importância para a manutenção da segurança jurídica, princípio basilar do Estado Democrático de Direito.

A coisa julgada é instituto fundamental para a manutenção da segurança jurídica. É a garantia aos interessados que levam sua pretensão a juízo de que o Poder Judiciário lhes dará uma solução e em algum momento essa resposta deverá ser imutável e indiscutível. O legislador, sabendo ser plenamente possível o cometimento de erros de procedimento ou de valor, garante a rediscussão da decisão dentro do mesmo processo, por meio dos recursos.

Com o término das possibilidades para interposição de recursos ou após se esgotar os prazos para tal, a decisão transita em julgado. É com o trânsito em julgado, que é garantida à decisão sua definitividade, opera nela a coisa julgada. A coisa julgada pode se manifestar em sua modalidade formal ou material. Enquanto a primeira surte efeitos de sua indiscutibilidade apenas dentro do processo em que ocorreu, a segunda projeta seus efeitos para além do processo extinto, ou seja, a mesma questão não poderá ser rediscutida em novo processo.

Apesar de ser garantia fundamental da segurança jurídica, o legislador também se preocupou com a possibilidade de mesmo com a aplicação dos efeitos

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9 da coisa julgada, a decisão contivesse e prosseguisse com algum vício. Assim, estão disponíveis mecanismos para que a decisão seja novamente analisada, ainda que sob o manto da coisa julgada. Para isso estão previstos meios como a Ação Rescisória e a querela nullitatis. A própria lei, também prevê a revisão das decisões decorrentes de relações jurídicas continuativas, aquelas em que elementos se modificam com o tempo.

Não há dúvida da importância do solidificado instituto da coisa julgada. O mesmo encontra proteção na Constituição Federal, o qual não pode ser prejudicado por lei, demonstrando assim, tratar de direito com caráter constitucional. O que vem se discutindo entre doutrina e jurisprudência é a solução adequada para um possível conflito entre a coisa julgada e outro preceito de hierarquia constitucional.

Difícil é encontrar consenso com discussão que envolve conflito de questões fundamentais, pois passa por um juízo de valor subjetivo, onde cada corrente busca elementos suficientemente fortes para manter sua análise e consequente solução do problema. E analisando os dois lados busca-se compreender o que cada um oferece para o debate e juntamente com as correntes doutrinárias, busca-se o entendimento jurisprudencial dos tribunais.

Sabe-se que não se trata de instituto absoluto, em vista de a própria lei prever situações em que se admite a nova análise de decisões acobertadas pela coisa julgada. Com isso comunga uma corrente que defende a reanálise das decisões em que estão em conflito a coisa julgada e outro princípio fundamental, porém, tais situações não estariam previstas na legislação como passiveis de revisão ou se previstas, mas depois de esgotado o tempo para rescisão. Para eles não parece aceitável sobrepor a manutenção da segurança jurídica em detrimento de outro princípio fundamental.

Por outro lado, a outra corrente não acredita que deixar a segurança jurídica em risco, em razão de análises feitas com critérios subjetivos é o melhor para o ordenamento. A busca por novos julgamentos poderia não ter fim, levando a mesma

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10 discussão a se arrastar ao longo do tempo. Aos interessados não chegaria uma resposta definitiva e se instalaria no ordenamento jurídico um verdadeiro caos.

Por certo, o assunto ainda será muito debatido. Enquanto isso, o estudo do tema deve levar em conta o que as correntes têm a ensinar e como é o entendimento pelos tribunais. Em um Estado Democrático de Direito se faz importante ter compreensão do valor da coisa julgada e da segurança jurídica, mas também entender que devem estar horizontalmente colocados e resguardados com os outros princípios fundamentais.

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1 COISA JULGADA

Algumas são as definições dadas ao instituto da coisa julgada. Alguns doutrinadores entendem ser a coisa julgada um efeito da decisão, outros a denominam como uma qualidade dos efeitos das decisões e há também quem acredite ser uma situação do conteúdo da decisão.

A corrente doutrinária a qual fazem parte Pontes de Miranda, Araken de Assis, Ovídio Batista, entre outros, sustentam ser a coisa julgada um efeito da decisão que atribui o manto da imutabilidade apenas ao efeito declaratório. Efeito decorrente de sentença que atribui certeza a uma dúvida quanto à determinada situação jurídica (DIDIER JUNIOR; BRAGA; OLIVEIRA, 2011).

Para outra parcela da doutrina, o instituto é uma qualidade de todos os efeitos presentes na decisão. Desse modo, para Enrico Túlio Liebman, Cândido Dinamarco, Ada Pellegrini, entre outros doutrinadores, “A coisa julgada não é um efeito (declaratório) da sentença, mas, sim, o modo como se produzem, como se manifestam os seus efeitos em geral (não só o declaratório, como todos os outros).” (DIDIER JUNIOR; BRAGA; OLVEIRA, 2011, p. 423).

E por fim, a terceira corrente que discorda da coisa julgada ligada aos seus efeitos e sim a situação jurídica presente na decisão. Para Didier Junior, Braga, Oliveira (2011, p. 425) parece ser mais coerente essa corrente, que conta também com o apoio de Machado Guimarães e Barbosa Moreira, então a coisa julgada:

Consistiria na imutabilidade do conteúdo da decisão, do seu comando (dispositivo), que é composto pela norma jurídica concreta. Não há que falar em imutabilidade dos seus efeitos, vez que estes podem ser, como já exposto e exemplificado, disponíveis e, pois, alteráveis.

O Código de Processo Civil em seu artigo 467 conceitua: “Denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário.”

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12 Para Donizetti (2012), o conceito previsto no CPC não é completo. Nele se refere apenas à coisa julgada material, mas tanto essa quanto a formal garante imutabilidade e indiscutibilidade à decisão. O que realmente as diferencia, respectivamente, é a modificação que ocorre na relação de direito material originária e a finitude da discussão apenas dentro do processo.

O instituto encontra proteção constitucional, dirigida ao legislador ordinário, em vista de que não pode a coisa julgada ser prejudicada por lei posterior (ARAÚJO, 2007). A Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso XXXVI, dispõe:

Art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.

Já, na seara infraconstitucional a coisa julgada é protegida de nova análise por parte do Poder Judiciário. Conforme artigo 471, caput, do CPC: “Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas, relativas à mesma lide [...]”

Ainda que alguns doutrinadores discordem quanto ao objeto alcançado pela coisa julgada, há que entender que sua manifestação ao conferir imutabilidade e indiscutibilidade àquilo que foi decidido na sentença traz estabilidade ao que o Estado decidiu. A coisa julgada impede a perpetuação do questionamento da mesma demanda. É assim, a manifestação da segurança jurídica que o Estado Democrático de Direito deve proporcionar ao cidadão que confia ao Estado o poder da decisão de seus conflitos, e que espera que esses sejam analisados, e em algum momento, definitivamente solucionados.

1.1 Coisa julgada e o princípio da segurança jurídica

O princípio da segurança jurídica encontra respaldo em nosso ordenamento jurídico de modo a garantir a estabilidade das decisões proferidas pelo órgão jurisdicional. A coisa julgada é legalmente prevista e protegida tanto constitucionalmente como infraconstitucionalmente. O Estado garante ao cidadão

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13 que as demandas a ele submetidas serão decididas e com o término da possibilidade para interposição de recursos, seja pelo transcurso do tempo ou pelo não cabimento de mais nenhum recurso, a sentença estará sob o manto da coisa julgada, ou seja, tornar-se-á indiscutível e imutável.

Segundo Marinoni (2010), a segurança jurídica se manifesta em duas dimensões. Em uma dimensão objetiva, ela atribui aos atos estatais irretratabilidade. Diante da previsão constitucional, o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada estão protegidos de nova lei que venha a ser prejudicial.

Já sob um viés subjetivo, estaria a segurança jurídica entrelaçada ao princípio da proteção da confiança, pois para o cidadão com a resolução do conflito, nenhuma alteração poderia ser feita. É a concretização da confiança depositada pelo cidadão ao Estado, para que por ele sejam resolvidos, por meio dos processos judiciais, seus problemas.

Assim,

Essa garantia decorre da necessidade de que as decisões judiciais não possam mais ser alteradas, a partir de um determinado ponto. Do contrário, a segurança jurídica sofreria grave ameaça. É função do Poder Judiciário solucionar os conflitos de interesse, buscando a pacificação social. Ora, se a solução pudesse ser eternamente questionada e revisada, a paz ficaria definitivamente prejudicada. (GONÇALVES, 2012, p. 435).

Não se trata de atribuir caráter absoluto a coisa julgada, já que a própria lei prevê mecanismos para revisá-la em determinadas situações. Entretanto, novas situações têm surgido e deixando em risco a supremacia da segurança jurídica. São situações excepcionais, sem previsão legal, mas que precisam ser solucionadas, o que a doutrina tem chamado de relativização da coisa julgada. Trata-se de situações não elencadas nos mecanismos previstos legalmente, mas que precisariam ser reexaminadas, pois presentes situações de conflito entre direitos fundamentais do cidadão.

Por se tratar de conceito tão subjetivo do que é a justiça, não há como se esperar que as decisões sejam sempre justas. Assim, doutrinadores asseveram que

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14 a coisa julgada é meio de garantir a segurança e não há como aguardar dependência entre os julgados e a busca por uma decisão justa.

Sobre o assunto, Didier Junior, Braga, Oliveira (2011, p. 418) acredita que: “A coisa julgada não é instrumento de justiça, frise-se. Não assegura a justiça das decisões. É, isso sim, garantia da segurança, ao impor a definitividade da solução judicial acerca da situação jurídica que lhe foi submetida.”

Em que pese tratar de princípio fundamental do cidadão e basilar para o Estado Democrático de Direito, a segurança jurídica para que seja mantida não pode repudiar outros princípios tão fundamentais quanto.

Deste modo,

Há de se ter como certo que a segurança jurídica deve ser imposta. Contudo, essa segurança jurídica cede quando princípios de maior hierarquia postos no ordenamento jurídico são violados pela sentença, por, acima de todo esse aparato de estabilidade jurídica, ser necessário prevalecer o sentimento do justo e da confiabilidade nas instituições. (DELGADO, 2004, p. 46).

Por um lado, é a coisa julgada um meio fundamental de garantir a segurança jurídica, sendo assim, tal característica deve ser preservada e assegurada, tamanha é sua importância para o Estado e para a sociedade. Sob outra visão, sem desmerecer a necessidade da existência da segurança jurídica, acredita-se que os outros direitos fundamentais também devem ser preservados, levando em conta critérios como o da proporcionalidade e da razoabilidade.

1.2 Espécies de coisa julgada

A coisa julgada pode se manifestar de duas formas: com seus efeitos vinculados somente dentro do processo e com seus efeitos projetados para além do processo. São as chamadas: coisa julgada formal e coisa julgada material, respectivamente.

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15 1.2.1 Coisa julgada formal

Coisa julgada formal é aquela limitada a produção de efeitos apenas dentro do processo em que ocorre. Manifesta-se em sentenças terminativas e definitivas. Nas decisões terminativas há somente a manifestação de coisa julgada formal. Já nas sentenças definitivas, em que é analisado o mérito, a existência da coisa julgada formal é um dos pressupostos para a formação da coisa julgada material.

A ocorrência da espécie formal acarreta na impossibilidade de interpor recurso da decisão, se assemelhando muito à preclusão, instituto que impede a alteração de decisões em que não caibam mais recursos. Segundo Didier Junior, Braga, Oliveira (2011) seria a coisa julgada formal a preclusão máxima dentro do processo.

Ainda que semelhante à preclusão, para Gonçalves (2012, p. 436), “A diferença é que a coisa julgada pressupõe o encerramento do processo. Nenhuma outra modificação poderá ser feita, e o que ficou decidido não será mais discutido naquele processo, que já se encerrou.”

Deste modo, Alexandre Câmara (2009, p. 462), nos traz:

A coisa julgada formal, porém só é capaz de pôr termo ao módulo processual, impedindo que se reabra a discussão acerca do objeto do processo no mesmo feito. A mera existência de coisa julgada formal é incapaz de impedir que tal discussão ressurja em outro processo.

Ainda sobre o assunto, reforça Donizetti (2012, p. 610),

Diz-se que há coisa julgada formal quando a sentença terminativa transita em julgado. Nesse caso, em razão da extinção da relação processual, nada mais pode ser discutido naquele processo. Entretanto, como não houve qualquer alteração qualitativa nem repercussão alguma na relação (intrínseca) de direito material, nada impede que o autor ajuíze outra ação, instaurando-se novo processo, a fim de que o juiz regule o caso concreto.

Como se percebe, atua a coisa julgada formal semelhantemente a preclusão, operando apenas dentro do processo em que se manifestou e sem abranger o mérito. Difere da coisa julgada material que opera posteriormente à

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16 manifestação da espécie formal e impede também a rediscussão da mesma relação jurídica em outro processo.

1.2.2 Coisa julgada material

A coisa julgada material projeta seus efeitos da indiscutibilidade e imutabilidade para fora do processo. Esse efeito extraprocessual serve de barreira para propositura de nova ação igual àquela em que se operou a coisa julgada, ou seja, evita uma nova ação com as mesmas partes, mesma causa de pedir e mesmo pedido.

Assim,

A coisa julgada material, de sua vez, é aquela mesma característica de imutabilidade, analisada de fora do processo, isto é, enquanto característica da imutabilidade da sentença do ponto de vista exterior, não podendo a mesma ser atacada por qualquer meio, inclusive extraprocessual. (SCARPINELLA BUENO, 2011, p. 426, grifo do autor).

De modo geral, ao se referir apenas à coisa julgada, se está diante da coisa julgada de efetividade material, porquanto é a espécie em sua manifestação mais importante. É quando se torna impossível a discutibilidade da sentença e a impossibilidade de ajuizar novamente a mesma ação.

Para tanto, a existência dessa espécie de coisa julgada depende da presença de alguns pressupostos. Conforme a doutrina são eles: deve incidir sobre uma decisão jurisdicional; deve se tratar da decisão de sentença definitiva; o mérito deve ter sido analisado e alcançado por meio de cognição exauriente e por fim, que já tenha ocorrido a coisa julgada formal (DIDIER JUNIOR; BRAGA; OLIVEIRA, 2011).

Há que se esclarecer que a coisa julgada material reveste sentenças e acórdãos. Porém, para que ocorra é necessário que se julgue o mérito, ou seja, só pode revestir as decisões definitivas. Para chegar à sentença definitiva é fundamental que o mérito tenha sido analisado de maneira exauriente, ou seja, com

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17 o uso de todas as provas possíveis, de modo que a decisão reflita um embasamento seguro quanto àquilo que foi demonstrado no processo.

Deste modo, “Daí pode afirmar-se que a cognição exauriente é a cognição das decisões definitivas. É por isso que uma decisão que antecipa a tutela, fundada em cognição sumária, não fica imune com a coisa julgada material.” (DIDIER JUNIOR; BRAGA; OLIVEIRA, 2011, p. 421).

É também, exclusividade do processo de conhecimento, não existindo coisa julgada material nos processos de execução e cautelares. O processo de execução por não analisar o mérito e o cautelar por ser baseado em cognição sumária, fundamentada apenas em algumas provas, servindo apenas para resguardar a pretensão de forma provisória (GONÇALVES, 2012).

Segundo Didier Junior, Braga, Oliveira (2011), a coisa julgada formal é o degrau para se chegar à coisa julgada material. É o último requisito para a existência da coisa julgada material.

Segundo Donizetti (2012, p. 611),

A coisa julgada material pressupõe a coisa julgada formal, mas a recíproca não é verdadeira. A coisa julgada formal veda apenas a discussão do direito material no processo extinto pela sentença. A ocorrência da coisa julgada material, por sua vez, veda não só a reabertura da relação processual, como qualquer discussão em torno do direito material.

Em suma, quando se alude à coisa julgada, entende-se como referência à coisa julgada material, por tratar da sua espécie mais importante, já que é ela que incide sobre as decisões definitivas e garantem a segurança jurídica. Ela não termina a discussão somente dentro do processo extinto, mas também, garante a imutabilidade do que foi decidido e a indiscutibilidade de outra ação com identidade entre as partes, a causa de pedir e o pedido.

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1.3 Limites objetivos da coisa julgada

O artigo 468 do Código de Processo Civil em seu texto estabelece os limites da coisa julgada material. Diz ele: “A sentença, que julgar total ou parcialmente a lide, tem força de lei nos limites da lide e das questões decididas.”

Quanto ao referido artigo, sentença com força de lei significa dizer que ela deve ser respeitada por todos. Já as questões decididas são os fundamentos de fato ou de direito que serviram de embasamento ao pedido e estas se encontram protegidas pela coisa julgada (DONIZETTI, 2012, grifo nosso).

Em se tratando de limites objetivos, a coisa julgada recai sobre o dispositivo da sentença, porque é nessa parte que contém o julgamento proferido pelo juiz. E tal julgamento deve estar dentro daquilo que foi pedido na demanda. Não estão acobertados pela coisa julgada os motivos, verdade dos fatos e questões incidentes. É o que demonstra o artigo 469 e incisos I, II e III do Código de Processo Civil:

Art. 469. Não fazem coisa julgada:

I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença;

Il - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença;

III - a apreciação da questão prejudicial, decidida incidentemente no processo.

No entanto, quanto às questões prejudiciais, está prevista exceção no artigo 470 do CPC: “Faz, todavia, coisa julgada a resolução da questão prejudicial, se a parte o requerer (arts. 5o e 325), o juiz for competente em razão da matéria e constituir pressuposto necessário para o julgamento da lide.” Então, quando acolhido o pedido incidental de declaração este também faz coisa julgada. Para Gonçalves (2012, p. 440), “Essa ação tem o condão não de aumentar a extensão das matérias que o juiz irá apreciar, mas o que ele decidirá em caráter definitivo, transformando a questão incidente em questão de mérito.”

Apenas com a ação declaratória incidental e o amparo de seu pedido, a questão prejudicial que seria resolvida de maneira incidental passa a ser resolvida em caráter definitivo (GONÇALVES, 2012). Portanto, a própria legislação prevê

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19 exceção à regra de que a coisa julgada se manifesta apenas na parte dispositiva da decisão.

1.3.1 Eficácia preclusiva da coisa julgada

Ainda no âmbito dos limites objetivos da coisa julgada, opera-se a chamada eficácia preclusiva da coisa julgada, também conhecida por princípio do deduzível e do dedutível. É a maneira em que se estende o efeito da coisa julgada daquilo que foi decidido para o que também poderia e devia ter sido argumentado na ação e não foi. Esses argumentos que deveriam ter chegado ao processo e não foram também são acobertados pela impossibilidade de rediscussão (SCARPINELLA BUENO, 2011).

Conforme o artigo 474 do Código de Processo Civil, “Passada em julgado a sentença de mérito, reputar-se-ão deduzidas e repelidas todas as alegações e defesas, que a parte poderia opor assim ao acolhimento como à rejeição do pedido.”

Tornam-se indiscutíveis os argumentos que poderiam ter sido utilizados em relação ao pedido e não foram. Segundo Marinoni (2010, p. 75-76),

Isto não quer dizer que os motivos da sentença transitam em julgado, mas sim que, uma vez julgado o pedido, todo o material que foi utilizado e que poderia ter sido utilizado para discutir a demanda torna-se irrelevante e superado, mesmo que, sobre ele, não tenha o juiz se manifestado de forma expressa ou completa.

Ainda, segundo Gonçalves (2012, p. 440),

Os fatos que o réu apresentar para fundamentar o seu pedido de que a pretensão inicial seja desacolhida não constituem um dos elementos da ação. São elementos identificadores da ação os fatos em que se baseia a pretensão do autor, mas não aqueles em que a defesa está fundada. Por isso, caso acolhida a pretensão do autor, reputam-se repelidas todas as defesas que o réu apresentou, como as que ele poderia ter deduzido e não o fez.

Cabe ressaltar ainda, segundo Theodoro Jr, citado por Wagner Junior (2010), que não se deve confundir com as questões implicitamente resolvidas. Tanto

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20 os pedidos não formulados pelas partes como aqueles que não tenham sido apreciados pelo juiz, sobre esses não incide a autoridade da coisa julgada.

Sendo assim, cabe ao réu alegar toda sua matéria de defesa no próprio processo existente. Com a procedência da pretensão do autor, o réu fica impedido de futuramente ajuizar nova ação com o que deveria ter sido alegado como defesa no processo já julgado, opera a eficácia preclusiva daquilo que foi e também do que poderia ter sido levado ao processo como defesa.

1.4 Limites subjetivos da coisa julgada

A coisa julgada também se submete a limites subjetivos, ou seja, é a definição de que pessoas se sujeitam ao instituto, a quem seus efeitos da indiscutibilidade e imodificabilidade alcançam. A regra está prevista no artigo 472 do Código de Processo Civil que diz:

Art. 472. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não beneficiando, nem prejudicando terceiros. Nas causas relativas ao estado de pessoa, se houverem sido citados no processo, em litisconsórcio necessário, todos os interessados, a sentença produz coisa julgada em relação a terceiros.

Na primeira parte do citado artigo o mesmo faz alusão à regra geral de que os efeitos da coisa julgada atingem somente as partes envolvidas na demanda. Já na segunda parte esta excepciona a abrangência dos efeitos também para os terceiros interessados.

Em decorrência do alcance subjetivo dos efeitos da coisa julgada, esta pode operar de três maneiras distintas: inter partes, ultra partes e erga omnes. Em nosso ordenamento jurídico prevalece como regra a coisa julgada inter partes.

1.4.1 Coisa julgada inter partes

Coisa julgada inter partes é aquela que manifestados seus efeitos, os mesmos só afetam as pessoas que figuram como parte no processo. Figura como regra geral em nosso ordenamento jurídico e está prevista na primeira parte do já

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21 citado artigo 472 do CPC, que diz: “A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não beneficiando, nem prejudicando terceiros.”

Segundo Gonçalves (2012, p. 441),

A regra fundamental é que a coisa julgada alcança as partes, mas não terceiros. São várias as razões: ela impede a repropositura da mesma demanda, e isso só ocorrerá se as partes forem as mesmas, pois elas são elementos identificadores da ação; [...]

Ainda, segundo a doutrina, tal regra decorre de que o alcance somente às partes envolvidas no processo é decorrente de algumas garantias constitucionais. Segundo Didier Junior, Braga, Oliveira (2011, p. 429),

Isso porque, segundo o espírito do sistema processual brasileiro, ninguém poderá ser atingido pelos efeitos de uma decisão jurisdicional transitada em julgado, sem que lhe tenha sido garantido o acesso à justiça, com um processo devido, onde se oportunize a participação em contraditório.

Portanto, a regra é a formação da coisa julgada inter partes. Entende-se que ela atua deste modo para corroborar princípios constitucionais, tais como o do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa. Porém, diante de algumas situações distintas, o próprio texto legal prevê exceções onde a coisa julgada atinge também alguns terceiros.

1.4.2 Coisa julgada ultra partes

Ademais, nosso ordenamento além da regra da coisa julgada inter partes, admite também a formação da coisa julgada ultra partes. Coisa julgada ultra partes é aquela que além das partes que compõem a demanda, são atingidos também alguns terceiros. Segundo a doutrina (DIDIER JUNIOR; BRAGA; OLIVEIRA, 2011), são os casos da substituição processual, da legitimação concorrente, das decisões que favorecem a credor solidário e também em ações coletivas que abordem direitos coletivos.

Quanto à substituição processual prevê o artigo 42 caput e § 3º do CPC: “A alienação da coisa ou do direito litigioso, a título particular, por ato entre vivos, não

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22 altera a legitimidade das partes. § 3o A sentença, proferida entre as partes originárias, estende os seus efeitos ao adquirente ou ao cessionário.”

Nos casos de legitimidade concorrente, afirma Didier Junior, Braga, Oliveira (2011, p.430-431),

O sujeito co-legitimado para ingressar com uma ação (detentor de legitimação concorrente), que poderia ter sido parte no processo, na qualidade de litisconsorte unitário facultativo ativo, mas não foi, ficará vinculado aos efeitos da coisa julgada produzida pela decisão proferida na causa [...]

Já em relação aos credores solidários, dispõe o artigo 274 do Código Civil: “O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais; o julgamento favorável aproveita-lhes, a menos que se funde em exceção pessoal ao credor que o obteve.”

E por fim, nas ações coletivas sobre direitos coletivos em sentido estrito,

A coisa julgada formada nestas ações não se limita a tingir as partes originárias do processo, alcançando também, todos os membros da categoria, classe ou grupo, que são ligados entre si ou com a parte adversa por uma relação jurídica base. (DIDIER JUNIOR; BRAGA; OLIVEIRA, 2011, p. 431).

É o que se respalda com a leitura do artigo 103, inciso II do Código de Defesa do Consumidor onde está prevista a coisa julgada ultra partes, que estende os efeitos do julgamento da ação coletiva a determinado grupo, categoria ou classe.

1.4.3 Coisa julgada erga omnes

Por fim, a coisa julgada erga omnes é aquela em que seus efeitos estariam vinculados a todos, independentemente de terem participação no processo. Exemplifica, Didier Junior, Braga, Oliveira (2011, p. 431),

É o que ocorre, por exemplo, com a coisa julgada produzida na ação de usucapião de imóveis, nas ações coletivas que versem sobre direitos difusos ou individuais homogêneos (art. 103, I e III do CDC) e nas ações de controle concentrado de constitucionalidade.

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23 Em suma, o artigo 103 do Código de Defesa do Consumidor em seus incisos I e III prescreve,

Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:

I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81;

III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.

Apesar de tais distinções, há doutrinadores que acreditam que essa manifestação não difere da coisa julgada ultra partes, tendo em vista que vai abranger àqueles que tenham alguma relação com a causa da decisão e não indistintamente a todos e em qualquer lugar (DIDIER JUNIOR; BRAGA; OLIVEIRA, 2011).

O que se percebe de tal entendimento é que a coisa julgada erga omnes guarda estreita semelhança com a coisa julgada ultra partes. Ainda, que a impressão seja de que todos, sem qualquer distinção, seriam afetados pela decisão, a melhor compreensão é de que a coisa julgada atinge somente àqueles que guardam algum vínculo com a relação jurídica e a sua decisão.

1.5 Modo de produção da coisa julgada

A coisa julgada também pode se apresentar de três formas conforme o modo de sua produção. Ela pode ser pro et contra, secundum eventum litis e secundum eventum probationis.

1.5.1 Coisa julgada pro et contra

A coisa julgada pro et contra é a regra no Código de Processo Civil. É aquela que não guarda dependência com o resultado a ser proferido na sentença. Seja a decisão procedente ou improcedente, a coisa julgada será formada.

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24 Seja o julgamento decorrente de processo com esgotamento da produção de provas ou baseado em insuficiência de provas, formar-se-á a coisa julgada. Diferente da coisa julgada secundum eventum probationis que necessita tenham sido apresentadas todas as provas possíveis de serem produzidas.

1.5.2 Coisa julgada secundum eventum litis

Já a coisa julgada secundum eventum litis para se formar depende de qual será o resultado da demanda. É o que se passa no direito processual penal, é possível a tentativa de modificação da sentença se para favorecer o réu (DIDIER JUNIOR; BRAGA; OLIVEIRA, 2011). Caberá revisão criminal para reverter a sentença condenatória e não para revisão de sentença absolutória, eis que envolvida pela coisa julgada.

Ainda, para Didier Junior, Braga, Oliveira (2011, p. 432, grifo do autor), “Este regime não é bem visto pela doutrina, pois trata as partes de forma desigual, colocando uma delas em posição de flagrante desvantagem, já que a coisa julgada dependerá do resultado.”

É também adotada pelo Código de Defesa do Consumidor no plano individual dependendo do resultado das ações coletivas. Conforme a previsão dos incisos e § 1º do artigo 103 do CDC:

Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:

I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81;

II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista no inciso II do parágrafo único do art. 81;

III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.

§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses e direitos individuais dos integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.

(26)

25 Por fim, tal forma de manifestação é encontrada nas relações de consumo e no direito processual penal. A princípio, não são conhecidos exemplos dessa formação da coisa julgada no direito processual civil.

1.5.3 Coisa julgada secundum eventum probationis

Finalmente, a coisa julgada pode se manifestar secundum eventum probationis. É a coisa julgada relacionada com o caminho usado para chegar à decisão, dependendo se foram esgotados todos os meios de produção de prova ou não. Se chegada à procedência ou improcedência com o uso de todas as provas possíveis, opera a coisa julgada. Porém, se a decisão de improcedência for baseada em insuficiência de provas, por exemplo, não se manifesta a coisa julgada.

Diferente do que acontece com a manifestação pro et contra, nas palavras de Didier Junior, Braga, Oliveira (2011, p. 432), “No regime geral (pro et contra), a improcedência por falta de provas torna-se indiscutível pela coisa julgada.”

Conforme Didier Junior, Braga, Oliveira (2011), são exemplos de coisa julgada secundum eventum probationis as decisões decorrentes de ações coletivas que julgam direitos coletivos em sentido estrito, as que decorrem de ação popular e de mandando de segurança, seja ele individual ou coletivo.

Em relação às ações coletivas, prevê o artigo 103 e seus incisos I e II do CDC:

Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:

I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81;

II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista no inciso II do parágrafo único do art. 81;

(27)

26 Art. 18. A sentença terá eficácia de coisa julgada oponível "erga omnes", exceto no caso de haver sido a ação julgada improcedente por deficiência de prova; neste caso, qualquer cidadão poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.

E por fim, dispõe o artigo 19 da Lei Federal nº 12.016 de 2009: “A sentença ou o acórdão que denegar mandado de segurança, sem decidir o mérito, não impedirá que o requerente, por ação própria, pleiteie os seus direitos e os respectivos efeitos patrimoniais.”

Das três espécies de produção da coisa julgada, a que se origina secundum eventum probationis, estaria ligada a uma decisão em que se esgotaram os meios de provas e não guarda qualquer relação com o resultado. Diferentemente da pro et contra e da secundum eventum litis, onde a sua manifestação pode se dar, respectivamente, também em decorrência da inexistência de provas suficientes no processo, seja a decisão procedente ou improcedente, ou ainda, de guardar ligação direta e condicionada ao resultado de uma das partes.

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27

2 REVISÃO DA COISA JULGADA

A coisa julgada garante segurança jurídica às decisões jurisdicionais. É o instituto que confere à solução judicial uma definitividade, impossibilitando que sua discussão se perpetue durante o tempo. Conforme Scarpinella Bueno (2011, p. 440),

[...] uma vez julgados os recursos interpostos ou não cabível mais qualquer forma de impugnação da decisão, e formada a coisa julgada, o que foi decidido torna-se imutável e imune a qualquer discussão.

A própria lei prevê as possíveis situações de revisão da decisão já transitada em julgado e os mecanismos legais a serem utilizados. No caso de decisões que ferem preceitos constitucionais, independentemente da previsão legal e de prazo, em que pese a legislação não conseguir abranger todas as hipóteses possíveis de revisão, doutrinadores como José Augusto Delgado e Humberto Theodoro Júnior, defendem a relativização da coisa julgada.

2.1 Mecanismos de afastamento da coisa julgada

A coisa julgada é atrelada à manifestação da segurança jurídica, fundamental princípio do Estado Democrático de Direito, o qual garante aos indivíduos que as discussões levadas ao juízo serão, em algum momento, definitivas e imodificáveis. Porém, estão inseridos no ordenamento jurídico, mecanismos adequados às situações em que a decisão, ainda que acobertada pelo manto da coisa julgada, pode ser revista.

Aos interessados, nos processos judiciais em curso estão disponíveis recursos para a devida revisão das decisões. Esgotadas tais possibilidades, para a sentença transitada em julgado, outros mecanismos são oferecidos para que as decisões defeituosas, constantes de vícios ou nulidades, sejam revistas. São mecanismos previstos legalmente: a ação rescisória e a querela nullitatis, bem como a coisa julgada nas relações jurídicas continuativas e a possibilidade de relativização quando afronta direitos fundamentais.

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28 2.1.1 Ação Rescisória

Esgotada a fase de interposição de recursos, a sentença que transita em julgado não poderia mais ser modificada, em razão da necessidade de que a discussão posta em juízo seja definitivamente decidida. Nas sentenças terminativas, em que ocorre apenas a manifestação da coisa julgada formal, seus efeitos impedem nova discussão do direito controvertido no processo em que foi extinto, mas não que seja proposta outra ação. Nas sentenças definitivas, onde a decisão é acobertada pela coisa julgada formal e material, os efeitos impedem a retomada da discussão no processo extinto e também são projetados além do processo, impossibilitando que as partes discutam novamente o que foi decidido.

É um meio de levantar nulidades absolutas que viciam o processo e a sentença dele originada. Segundo Gonçalves (2012, p. 444), “Quando o vício é daqueles que desaparecem quando o processo se encerra, não cabe ação rescisória. Ela exige que a nulidade seja absoluta, que se prolongue para além do processo.”

As decisões terminativas transitadas em julgado são imutáveis. Para as sentenças definitivas maculadas por vícios que se projetam para além do processo já extinto, ainda que após o trânsito em julgado, encontra-se disponível a Ação Rescisória, prevista para desconstituição do julgado viciado.

2.1.1.1 Natureza jurídica

A Ação Rescisória assim como os recursos é meio que provoca a impugnação da decisão judicial e como consequência o seu reexame (DONIZETTI, 2012). Porém, trata-se de ação autônoma de impugnação de uma sentença de mérito transitada em julgado que tornou a decisão definitiva.

Para Didier Junior, Cunha (2012, p. 379),

A ação rescisória não é recurso, por não atender a regra da taxatividade, ou seja, por não estar prevista em lei como recurso. Ademais os recursos não

(30)

29 formam novo processo, nem inauguram uma nova relação jurídica processual, ao passo que as ações autônomas de impugnação assim se caracterizam por gerarem a formação de nova relação jurídica processual, instaurando-se um processo novo.

Assim, diferentemente dos recursos, na Ação Rescisória em que se desconstitui a coisa julgada material, se pressupõe que a relação processual foi extinta e uma nova foi proposta, sendo instaurado novo processo, enquanto nos recursos as impugnações se desenvolvem na mesma relação processual antes do trânsito em julgado da decisão.

2.1.1.2 Pressupostos

Para que seja proposta a Ação Rescisória, o autor deve preencher um pressuposto genérico, ou seja, aquele previsto no art. 485, caput do CPC. Se a ação visa desconstituir a coisa julgada material, a mesma só é cabível de sentença definitiva, de mérito e que já tenha transitado em julgado.

Conforme Donizetti (2012), o termo sentença empregado no referido artigo, é entendido em seu sentido lato, qual seja, decisão que analise o mérito. Cabível então, não somente de sentenças, mas de acórdãos, decisões monocráticas e decisões interlocutórias.

Nesse sentido é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça,

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. REAJUSTE DE 26,05%. AÇÃO RESCISÓRIA. PROPOSITURA CONTRA RECURSO ESPECIAL INTERPOSTO DE DECISÃO DE NATUREZA INTERLOCUTÓRIA. CABIMENTO. EXCEÇÃO. ART. 485, CAPUT, DO CPC. PEDIDO JULGADO PROCEDENTE.

[...] 2. Segundo o art. 485, caput, do CPC, cabe ação rescisória de sentença de mérito transitada em julgado. Por conseguinte, em regra, não se presta para desconstituir acórdão proferido em recurso especial que julga, em última análise, decisão de natureza interlocutória. 3. Hipótese em que se apresenta aplicável a exceção à regra. O acórdão rescindendo, proferido pela Sexta Turma nos autos do REsp 230.694/SE, ao julgar incabível a concessão do reajuste de 26,05%, reformou decisão interlocutória que, em execução, determinara a citação da União e o cumprimento da obrigação de fazer, consistente em implantar nos proventos do autor o reajuste em tela. 4. Por conseguinte, além de examinar o próprio mérito, acabou por impedir a percepção do reajuste pelo autor da ação rescisória, já assegurado em sentença transitada em julgado. Assim, incorreu em julgamento extra petita

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30 e contrariou a coisa julgada, violando, de forma literal, os arts. 128 e 460 do Código de Processo Civil. 5. Pedido julgado procedente.

(BRASIL, 2007)

Já nos incisos do art. 485 do CPC, encontram-se os pressupostos específicos da Ação Rescisória. São as situações que ensejam a procedência do pedido para que seja rescindida a sentença. Passamos à análise de cada uma das nove situações.

Pode se dar quando a sentença é dada por prevaricação, concussão ou corrupção do juiz, quando constatado algum dos tipos penais previstos, respectivamente, nos seguintes artigos do Código Penal:

Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida.

Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem. Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.

A existência de algum dos delitos pode ser comprovada no curso da Ação Rescisória, sem a necessidade de que exista instauração da ação penal contra o magistrado no momento do ajuizamento da ação. Segundo Souza e Silva (2009), se sobrevir sentença condenatória ou absolutória, essa influenciará a ação de impugnação, salvo se a absolvição se fundar na falta de provas. Ainda, no caso de rescisão de acórdão, é fundamental que o vício macule o voto vencedor, faltando interesse processual se estiver viciado o voto vencido.

Ainda, quando a sentença é proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente, nas hipóteses do artigo 134 do CPC:

É defeso ao juiz exercer as suas funções no processo contencioso ou voluntário: I - de que for parte; II - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como órgão do Ministério Público, ou prestou depoimento como testemunha; III - que conheceu em primeiro grau de jurisdição, tendo-lhe proferido sentença ou decisão; IV - quando nele estiver postulando, como advogado da parte, o seu cônjuge ou qualquer parente seu, consangüíneo ou afim, em linha reta; ou na linha colateral até o segundo grau; V - quando cônjuge, parente, consangüíneo ou afim, de

(32)

31 alguma das partes, em linha reta ou, na colateral, até o terceiro grau; VI - quando for órgão de direção ou de administração de pessoa jurídica, parte na causa.

Além das causas de impedimento, cabe a Ação Rescisória quando o juiz atua em desrespeito aos critérios da matéria, da pessoa e do critério funcional, ou seja, fora dos limites da sua jurisdição. Conforme Donizetti (2012, p. 837) exemplo disso é: “[...] o juiz da justiça estadual é absolutamente incompetente para julgar causas em que a União figure num dos polos.”

Ressalta-se que tanto a suspeição como a incompetência relativa devem ser arguidas por meio de exceção própria. Não ensejam assim, possibilidade para rescindir a decisão.

Cabe também, da sentença que resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou de colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei. Ensina Souza e Silva (2009, p. 427): “há dolo toda vez que a parte vencedora, faltando a seu dever de lealdade e boa-fé, dificulta a atuação processual do vencido ou influencia a formação do convencimento do juiz, afastando-o da verdade.” Por colusão entre as partes, entende-se o dolo bilateral, o qual ambas as partes praticaram a fim de fraudar a lei (DONIZETTI, 2012).

No caso em que a sentença ofende a coisa julgada, poderá ser rescindida a nova decisão que reforma o que foi decidido em julgado anterior. Há controvérsia de entendimento quando não existir a rescisão da segunda decisão. Segundo Gonçalves (2012), a solução almejada por Vicente Greco Filho seria de que a segunda decisão deve ser executada sem que o juiz evite sua eficácia, pois o trânsito em julgado impede a discussão da sua validade. Porém, para o autor, no caso da existência de coisas julgadas antagônicas, entende que deve prevalecer a primeira, em decorrência de que a segunda foi prolatada quando já existente decisão definitiva a respeito.

Quando a decisão viola literal disposição de lei cabe a sua rescisão. Segundo Gonçalves (2012, p.454), “É indispensável que haja afronta direta e induvidosa à lei.”

(33)

32 Para Donizetti (2012), súmulas vinculantes editadas pelo Supremo Tribunal Federal devem ser tratadas como lei, pois possuem eficácia erga omnes e vinculam os demais órgãos do Poder Judiciário e da Administração Pública Direta e Indireta. E ainda que a Súmula 343 do STF disponha que: “Não cabe ação rescisória por ofensa a literal disposição de Lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais.” O próprio Supremo tem admitido a ação rescisória fundada em violação à interpretação definitiva de matéria constitucional pelo STF, ainda que posterior à ação rescindenda, desde que na época já existisse a controvérsia sobre a temática.

Ademais, a decisão pode confrontar com a lei material ou processual. Para a Ação Rescisória com base em violação da lei processual, é necessário que o vício seja pressuposto de validade da sentença e não posterior a ela. Em conformidade com isso, tem-se a ementa do Acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais:

AÇÃO RESCISÓRIA - CAUSAS DE RESCINDIBILIDADE PREVISTAS NO ART. 485 DO CPC - NÃO-CONFIGURAÇÃO - VÍCIO POSTERIOR À DECISÃO - NÃO-CABIMENTO DA AÇÃO RESCISÓRIA - FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL - PETIÇÃO INICIAL - INDEFERIMENTO. (MINAS GERAIS, 2007)

Cabe ainda, a impugnação da decisão que se funda em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou provada na própria Ação Rescisória. Não importa se trata de falsidade material ou ideológica, ou seja, respectivamente, se a falsidade incide sobre a integridade do papel ou se versa sobre o conteúdo intelectual do documento. É fundamental que essa prova tenha sido decisiva no resultado do julgamento. Conforme Gonçalves (2012, p. 455),

É indispensável que a prova falsa tenha sido determinante do resultado, que este não possa subsistir sem ela. Se o julgamento está fundado em vários elementos ou provas variadas, e a falsidade de uma delas não seja decisiva para o resultado, não haverá razão para a rescisória.

É possível, também, ser rescindida, se depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência ignorava ou de que não pode fazer uso e que seja

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33 capaz por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável. Refere-se tal dispositivo ao autor da rescisória, podendo ter figurado na ação originária como autor ou réu. Esclarece Gonçalves (2012, p. 456),

O documento novo não é aquele cuja constituição operou-se após a decisão transitada em julgado, mas cuja existência, embora anterior, era ignorada pelo autor da ação rescisória, ou de que ele não pôde fazer uso, por circunstâncias alheias à sua vontade.

Quando houver fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação em que se baseou a sentença. Conforme Donizetti (2012) há um equívoco na disposição ao se referir à desistência, vez que essa constitui causa de extinção do processo sem resolução do mérito. Deve ser entendida como renúncia ao direito sobre que se funda a ação ou ao reconhecimento da procedência do pedido.

Portanto é pressuposto quando a confissão, a transação, a renúncia ao direito sobre o qual se funda a ação ou o reconhecimento da procedência do pedido conter algum dos defeitos previstos no art. 171 do Código Civil, são eles: a incapacidade relativa do agente, erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão ou fraude contra credores. Porém, há entendimento pacífico na jurisprudência de que das sentenças homologatórias de transação cabe ação anulatória, estendendo aos casos de homologação da renúncia sobre o direito que se funda a ação ou ao reconhecimento da procedência do pedido.

Conforme Donizetti (2012, p. 843), “É importante frisar que a ação anulatória se dirige contra o negócio jurídico em si, sendo eficaz para invalidá-lo antes do trânsito em julgado da sentença.” Após o trânsito em julgado, só a rescisão é eficaz para desconstituir a coisa julgada, depois de rescindida a sentença é possível o julgamento da lide, diferente da anulação, em que o conflito restaria sem solução (DONIZETTI, 2012).

A última previsão do artigo em acompanhamento é a hipótese de rescisão da sentença fundada em erro de fato, resultante de atos ou de documentos da causa. Ocorre erro quando a sentença admite fato inexistente ou quando considera inexistente fato que efetivamente ocorreu. É indispensável que o erro esteja

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34 comprovado de plano, pois não se admite que sejam produzidas novas provas do erro na Ação Rescisória, e que a existência ou inexistência não tenha sido expressamente apreciada na sentença (GONÇALVES, 2012).

Ainda que se trate de rol taxativo, segundo Didier Junior, Cunha (2012), é cabível a ação rescisória nos casos de sentença que julga a partilha, conforme dispõe o art. 1030 e incisos do CPC: “É rescindível a partilha julgada por sentença: nos casos mencionados no artigo antecedente; se feita com preterição de formalidades legais; se preteriu herdeiro ou incluiu quem não o seja.” A primeira hipótese se refere ao art. 1029, caput do referido Código, que dispõe o seguinte: “A partilha amigável, lavrada em instrumento público, reduzida a termo nos autos do inventário ou constante de escrito particular homologado pelo juiz, pode ser anulada, por dolo, coação, erro essencial ou intervenção de incapaz.”

2.1.1.3 Competência, legitimidade e prazo

Não compete aos juízes de primeiro grau rescindir sentença. É competência dos tribunais de segundo grau a Ação Rescisória de sentença de primeiro grau e das próprias decisões proferidas em demandas de competência originária ou quando tiver conhecido recurso e operado o efeito substitutivo.

Ainda, supondo que o STJ aprecie questão infraconstitucional e o STF questão constitucional de uma mesma decisão, se tratar de capítulos autônomos e existir competência diversa, cabe quantas ações rescisórias quanto forem os pedidos, preservadas as competências diferentes, porém, se os capítulos guardarem dependência lógica, é permitida a prorrogação da competência ao tribunal de mais alta hierarquia dentre os revelados competentes. E quando mais de um órgão jurisdicionado participar do julgamento, compete ao que for mais amplo (DONIZETTI, 2012).

Possuem legitimidade ativa: aquele que for parte no processo ou seu sucessor a título universal ou singular, o terceiro juridicamente interessado e o Ministério Público.

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35 Segundo Donizetti (2012), a legitimidade é da parte que foi vencida total ou parcialmente e engloba também, a parte que tenha sido revel na ação originária. O sucessor da parte prejudicada pela sentença transitada em julgado também possui legitimidade ativa. A sucessão pode ser inter vivos ou causa mortis. Trata-se da legitimidade sucessiva. Ressalva-se que a Ação Rescisória fundada em confissão viciada, só pode ser proposta pelo confitente e só é transferida aos herdeiros se o falecimento ocorre após a propositura da ação. É legitimado ativo o terceiro juridicamente interessado, aquele que mantém uma relação com o vencido e suporta efeitos indiretos da decisão. O interesse deve ser jurídico e não apenas de fato, é aquele que tinha legitimidade para intervir como assistente ou recorrer como terceiro prejudicado. Já o Ministério Público é parte legitimada ativamente quando não for ouvido em processo que lhe compete intervir e quando o interesse público for evidente ou quando a sentença é o efeito da colusão das partes, a fim de fraudar a lei. Cabe como polo ativo ainda, em face das decisões proferidas em ações que tenha atuado como autor.

A ação deve ser ajuizada no prazo de dois anos a contar da data do trânsito em julgado, sob pena de decadência do direito. Passados os dois anos se opera a coisa soberanamente julgada e ainda que presente algum dos supramencionados vícios ela se torna absolutamente imutável.

2.1.1.4 Procedimento e processamento

A petição inicial da Ação Rescisória deve seguir os requisitos básicos presentes nos arts. 282 e 283 do CPC. Ainda, deve cumular com o pedido de rescisão o de novo julgamento, se for o caso e também, o depósito de 5% sobre o valor da causa. Para Gonçalves (2012), o pedido rescisório está implicitamente ligado ao pedido do juízo rescindente quando esse for julgado procedente. Se há a intenção de desconstituir a decisão, por conseguinte busca-se um novo julgamento. Já o depósito atua como condição de admissibilidade e é transformado em multa a favor do réu, se a ação for extinta sem resolução do mérito ou julgada improcedente por unanimidade de votos, conforme arts. 488, II e 494 do Código Processualista

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36 Civil. Frisa-se que as autarquias e fundações públicas, e ainda os beneficiários da assistência judiciária gratuita são isentos do depósito prévio (DONIZETTI, 2012).

Quanto ao valor da causa é o entendimento do STJ:

O valor da causa, na ação rescisória, deve corresponder à importância a ser obtida pela procedência total dos pedidos formulados. Entendimento majoritário da doutrina e posicionamento atual da Primeira Seção desta Corte, assentado no julgamento dos EREsp 383.817/RS, relator Ministro Teori Albino Zavascki (DJ 12.09.2005).

(BRASIL, 2007)

É indeferida a inicial nos casos previstos no art. 295 do CPC ou quando não for efetuado o depósito prévio. Segundo Gonçalves (2012), do indeferimento do relator cabe agravo interno ou regimental para o órgão competente para julgar a ação. Não cabe apelação do indeferimento da inicial, pois não se trata de sentença e sim acórdão, de ação de competência originária do tribunal.

Sobre a possibilidade da concessão de medidas de urgência o próprio CPC prevê no art. 489 que:

O ajuizamento da ação rescisória não impede o cumprimento da sentença ou acórdão rescindendo, ressalvada a concessão, caso imprescindíveis e sob os pressupostos previstos em lei, de medidas de natureza cautelar ou antecipatória de tutela.

Após o recebimento da petição inicial, o réu é citado para responder a ação em no mínimo 15 e no máximo 30 dias. Para Donizetti (2012), uma vez que o prazo depende da análise do juiz, a Fazenda Pública e o Ministério Público não possuem o prazo quádruplo previsto no art. 188 do CPC, contudo não se trata de questão pacífica e há entendimento doutrinário e jurisprudencial no sentido contrário, onde também se entende que deve ser computado o prazo em dobro para os litisconsortes com procuradores diferentes, em conformidade com o art. 191 do CPC.

Sobre a necessidade de intervenção por parte do Ministério Público: “Não obstante o silêncio do CPC, a ação rescisória é hipótese de intervenção obrigatória do Ministério Público, tendo em vista o interesse público evidenciado pela “natureza

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37 da lide”, a menos que ele próprio seja o autor da ação rescisória.” (DIDIER JUNIOR; CUNHA, 2012, p. 466)

Superada a fase procedimental da ação, cabe ao tribunal, no caso de procedência, rescindir a sentença e se for o caso, promover novo julgamento. Compete ao órgão que fez o juízo rescindente proferir também o juízo rescisório, independente de se tratar de sentença ou acórdão (GONÇALVES, 2012).

Ressalta-se, segundo Gonçalves (2012), que do acórdão que julga a ação rescisória cabe embargos de declaração, embargos infringentes ou ainda recurso extraordinário e ordinário. Ademais, se for julgada pelo mérito a ação e encontrar presente algum dos pressupostos do art. 485 do CPC, é possível ajuizar outra ação rescisória.

2.1.2 Querela nullitatis

Além dos recursos e da Ação Rescisória, a coisa julgada pode ser afastada da decisão por meio da querela nullitatis. Conforme Donizetti (2012, p. 865): “De origem latina, a expressão significa, basicamente, nulidade do litígio e indica a ação criada e utilizada na Idade Média para impugnar a sentença, independentemente de recurso.”

É a ação de nulidade da sentença. Visa impugnar a decisão que contenha vícios transrescisórios. Cabe salientar que vício transrescisório é aquele tão gravoso, que persiste além do prazo previsto para propositura da Ação Rescisória.

É ação que veicula a natureza negativa, na qual almeja a declaração da inexistência de relação jurídica processual, quando ausentes pressupostos relacionados à existência do processo. São eles: investidura do juiz, demanda e citação. Por serem vícios que decorrem da falta desses pressupostos e tornam inexistente a relação jurídica processual, são chamados de vícios transrescisórios, ou seja, que vão além da rescisão, pois inexistindo a relação jurídica, não há o que ser rescindido ou desconstituído (DONIZETTI, 2012).

(39)

38 Diferentemente da ação rescisória que impugna a sentença contaminada com vícios no plano da validade, a querela nullitatis visa desconstituir a sentença de um processo contaminado em sua existência e não possui qualquer prazo, seja decadencial ou prescricional. Compete aos tribunais a rescisão da sentença. Já para a declaração de inexistência de relação jurídica processual é competente o juízo que prolatou a decisão a ser impugnada.

A querela nullitatis pode ser arguida, em nosso ordenamento, via impugnação ao cumprimento de sentença e como embargos à execução contra a Fazenda Pública. Hipóteses em que a sentença desfavorável ao réu decorre de processo que prosseguiu a sua revelia seja por não ter sido citado ou se irregularmente efetivada a citação, conforme o art. 475-L, I, e o art. 741, I, com base no que diz o art. 4º, I, todos do CPC.

Para que seja cabível a ação de nulidade da sentença, diante da irregularidade da citação, a sentença deve ser desfavorável ao réu. Ainda, diante do comparecimento do réu, mesmo que não, ou irregularmente citado, o vício automaticamente é suprido, em conformidade com o disposto no art. 214, §1º do CPC (DIDIER JUNIOR; CUNHA, 2012).

Conforme entendimento do STJ, não cabe rescisão da sentença maculada por vício transrescisório:

PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. RECURSO

ORDINÁRIO. ACÓRDÃO DO STJ QUE CONCEDEU O WRIT. NULIDADE DO PROCESSO POR ALEGADA FALTA DE CITAÇÃO. AÇÃO RESCISÓRIA. TEMPESTIVIDADE. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA. SENTENÇA DE MÉRITO INEXISTENTE.

I. Tempestividade da ação, considerada a existência de litisconsórcio a duplicar o prazo recursal, nos termos do art. 191 do CPC.

II. Descabimento da rescisória calcada em nulidade do mandado de segurança por vício na citação, à míngua de sentença de mérito a habilitar esta via em substituição à própria, qual seja, a de querella nulitatis.

III. Ação extinta, nos termos do art. 267, VI, do CPC. (BRASIL, 2006)

Referências

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