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GeppraMulti InterTrans NOTAS para uma conversa (1)

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Academic year: 2021

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Multi, Inter e Transdisciplinariedade. Notas para uma conversa no GEPRA II

Universidade Federal de São Paulo – Baixada Santista.

1)Adaptação do exemplo/questão apresentada por Gregório Baremblitt, no seu livro Compêndio de Análise Institucional.

Há uma historinha famosa que se passa num forte militar, numa dessas guarnições que ficam lá na fronteira. Um oficial pede a um soldado que suba na torre de controle para ver se os índios estão vindo ou não. É um forte americano, em território índio. Então, o vigia sobe, olha e diz:

"Sim, os índios estão vindo... São muitos; vêm correndo." O oficial pergunta: "Mas esses índios são amigos ou inimigos?" Ao que o soldado responde: "Olhe, devem ser amigos, porque estão vindo todos juntos...”

Se a gente se lembra desta história, fica mais fácil lembrar que a vida e a “realidade” com que trabalhamos vem toda junta.

A divisão em especialidades, profissões, só existe dentro da classe ou da equipe, mas não nos usuários.

A vida "vem toda junta": as divisões que fazemos são totalmente produzidas técnica, histórica e politicamente.

Mas a vida/real vem junta e nós não estamos juntos;

O mais que conseguimos, às vezes, é estar próximos, um ao lado do outro.

2) MULTI – INTER- TRANS (percurso proposto pelos professores da UFF)

Observa-se, no cenário teórico-político brasileiro, especialmente durante as últimas décadas, um crescente debate sobre o papel dos especialistas chamando a atenção para o isolamento em que muitas das diferentes disciplinas caíram e mais ainda, para como não conseguiram acompanhar a complexificação dos problemas vividos no contemporâneo. Como tentativa

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de romper esse isolamento, foram buscadas experiências de articulação entre diferentes disciplinas. Daí os prefixos "multi". "inter" e mais recentemente, o "trans" a elas articulados. No entanto, o que isto implica. MULTI - No primeiro caso, o da multidisciplinaridade, a idéia foi a de se juntar várias disciplinas, vários olhares de especialistas para tomar um fato, um caso e sobre ele cada um dar seu parecer.

O efeito foi menos o

da produção de uma visada singular do que a "reunião de

opiniões sobre o assunto"

sendo garantida a especificidade da abordagem de cada uma das disciplinas em relação ao mesmo objeto agora multianalisado.

INTER - Por outro lado, a interdisciplinaridade tentou efetivar trocas entre os diferentes saberes, embora preservando (E ESSA QUESTÃO É CENTRAL NESSA DISCUSSÃO) a unidade e natureza do objeto que se mantém como que inalterado frente à mudança do regime discursivo que busca dizer-lhe a verdade (IMPORTANTE VOLTAR A ISSO). O efeito foi em alguns casos o da criação de outra disciplina, como aconteceu com a interseção entre Psicologia e Sociologia formando a Psicossociologia. O que aqui também podemos observar é que a nova disciplina se refere a um objeto colocado como que fora dela. Um objeto já dado no caso. "os grupos".

TRANS - Com a transdisciplinaridade coloca-se em questão a própria noção de disciplina o que conseqüentemente acarreta em uma alteração mais radical da visada do objeto. A proposta é desnaturalizar cada disciplina trazendo para o campo da análise sua história, seu caráter transitório e parcial, os recortes que imprime nas práticas e como produz seus próprios objetos. Problematiza-se os limites entre as disciplinas, entre sujeito e objeto, teoria/prática e ciência/filosofia, a ponto de essas fronteiras se tornarem instáveis, levando à produção de um regime discursivo híbrido bem diferente da forma hierarquizada e estanque das disciplinas instituídas. Na verdade, tem-se aqui uma espécie de máquina de guerra (expressão de Deleuze-Guattari) “contra” os saberes estabelecidos, contra um ideal de inteligibilidade assentado nas fronteiras epistêmicas e nos limiares entre o científico e o não-científico (o político, o filosófico, o estético) Mais do que nunca se agrava a instabilidade dos saberes, pois se trata de uma constante provocação da crise dos modelos teóricos e da realidade a eles submetida. Os saberes tornam-se assim críticos nesta acepção forte da palavra. É por essa nova atitude teórica que são acionados regimes discursivos que contemporaneamente colocam em questão pressupostos epistemológicos da ciência moderna, o que se pode evidenciar pela maneira de conceber o objeto do conhecimento.

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Se a ciência moderna se afirmou como sistema teórico do mundo, tal pretensão não pode se efetivar sem que se estabilizasse seu objeto, doravante entendido como identidade passível de uma descrição operacional em termos de variáveis dependentes e independentes que se relacionam de modo necessário. E a descrição do caráter necessário dessas relações que se formula como cientifica - lei só possível frente a um objeto abstraído de toda instabilidade ou potência de transformação. O mundo é tanto mais cognoscível quanto mais estável, regular, legal. Daí o ideal de inteligibilidade que se hegemoniza ser aquele que busca as constantes e regularidades, os universais, as estruturas imutáveis.

A realidade enquanto objeto do conhecimento - enquanto unidade idêntica a si e que, portanto, define-se por um regime de repetição - é o “correlato indiferente” das formas discursivas das disciplinas cientificas. A correlação aqui é a garantia do conhecimento possível, mas que só é objetivo ou porque entre sujeito e objeto há esta forma de indiferença para muitos tida como neutralidade. O objeto é indiferente às formas de conhecimento como se desde sempre garantido no limbo de sua natureza eterna. Mas é este suposto que é colocado em questão em um regime discursivo transciplinar. Sujeito e objeto deixam de ser tomados como realidades de que preexistem ao exercício do conhecimento. Pois conhecer é inventar, criar fatos e enunciados sobre tais fatos. E com isso afirma-se mais do que já foi dito pela epistemologia francesa de Bachelard, Koyré para quem a ciência constrói seu objeto, mas dentro dos quadros restritos da racional idade. A construção a que agora nos referimos não pode ser limitada aos constrangimentos puramente racionais, já que fatores de ordens diferentes entram diariamente no jogo da criação dos enunciados científicos. Além dos fatores teóricos e racionais, os políticos não podem ser desprezados na produção do “interesse", sem o que a ciência pode pouco.

Saberes inventivos, objetos inventados. Este par agora põe em questão a estabilidade do campo do conhecimento que se mobiliza com as forças produtivas que o atravessam. O desafio a que se propõe a transdisciplinaridade é a construção de um objeto que ao se construir, constrói outras formas de subjetividade. Sujeito e objeto não se opõem como pólos independentes da relação cognoscente, mas se definem como efeitos emergentes de um mesmo mecanismo de criação. Por isso falar do caráter construtivo do objeto desses saberes implica aceitar a efetividade das formas de subjetivação a eles respondentes. Este construtivismo se dá pela reinvenção permanente de linhas que se atravessam em uma espécie de transversalidade entre ciência, Política, ética. Tecnologia, trabalho, subjetividade etc.

Guattari insistiu muito na importância de criar outro paradigma para ar as relações homem/mundo. Assentado em bases criacionistas fugindo de

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esquemas preestabelecidos, o paradigma ético-estético-político de que nos fala desloca as visões planificadas e burocratizadas de pesquisa, requisitando daquele que investiga e de todos que trabalham com a produção da subjetividade o contato com regiões de inquietude, a vontade de criação, a afirmação das diferenças, o compromisso político de resistência às uniti-cações e totalizações. Desnaturalizar os especialismos é, portanto, questão central para aqueles que pensam a produção do conhecimento, que problematizam as dicotomias. Não se trata, entretanto, de negar o poder do saber dos especialistas, o que seria uma farsa: farsa liberal. Cabe-nos pensar sobre seu funcionamento, sobre as práticas, o que têm implementado e sobre o desmonte daquelas que em seu próprio nome desqualificam as demais. Eis o desafio: ocupar o lugar do especialismo desmontando-o a cada momento.

No caso, o que nos interessa focalizar é esse lugar particular do especialismo em instituições públicas. Uma tradição funcionalistpositivista que demarca OS OBJETO E SUJEITOS como fatos naturais, a-históricos e fundantes da sociedade. Esta concepção tem como efeito a produção de esquemas binários que separam o campo social em pólos dicotômicos: público/privado, indivíduo/sociedade, normal/patológico, interior/exterior, objetivo/subjetivo. Buscando produzir outras vias de análise e de intervenção, a perspectiva transdisciplinar nos oferece uma redefinição dos objetos e sujeitos concebendo-a como efeito de práticas sociais historicamente produzidas, ou seja, formas que produzem e reproduzem as relações sociais e se instrumentam nas disciplinas.

Neste sentido, tomar a o indivíduo, adolescência, homosexualidade, desejo, família, a ·criança, a loucura, o público, o privado, a clínica, felicidade, dentre outros, como práticas instituídas é interrogar que redes de articulação estabelecem entre si, que campos de saber/poder se diagramatizam por essas articulações, que formas de subjetivação daí emergem. (CONVERSAREMOS SOBRE ESSES “SUJEITOS E OBJETOS” POLITICA E HISTÓTICAMENTE PRODUZIDOS)

3) “Objetos históricos” - Volta a questão da “unidade e natureza do objeto que NÃO se mantém como que inalterado frente à mudança do regime discursivo que busca dizer-lhe a verdade - e produção de

subjetividade

4) Verdade conforme Michel Foucault: Nisso nos avizinhamos de Michel Foucault (na verdade é o Foucault citando Nietzsche) que dizia que:

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“a verdade é uma espécie de erro que tem a seu favor o fato de

não poder ser refutada porque o longo cozimento da história a

tornou quase inalterável.

“Nietzsche, a genealogia e a história”. In: Microfísica do Poder. Rio de Janeiro, Editora Graal, 1979.p. 19

.

Diria também com Michel Foucault que nessas horas:

Fazer a crítica é tornar difíceis os nossos gestos

demasiadamente fáceis!

5) Pequeno comentário sobre Formação

Sabe-se que o fato de se ter jovens nas universidades não garante a possibilidade de uma configuração nova e inventiva. Em muitas situações a juventude também pode compor com a mais conservadora das culturas. Para uma grande parcela dos que ingressam na universidade, o que parece estar menos em questão é cuidar de sua formação, pois já chegam aos cursos demasiadamente formados: paradoxalmente muito jovens e muito fechados em certezas. A questão não é apenas da juventude; em alguma medida trata-se do desafio de deformar, de abrir espaço na fôrma, de tornar porosa a blindagem a que todos – não só os estudantes – estamos submetidos.

Com a mobilização dos estudantes, professores e técnicos da UNIFESP e na USP a ocupação da reitoria por mais de 50 dias, que produziu mudanças efetivamente, mas das quais ainda não podemos dizer muito. Talvez, a frase escrita em uma de suas paredes possa nos indicar uma direção problematizadora na “formação”, dizia: “Ocupe a reitoria que existe dentro de você!”.

As instituições de ensino tal qual se erigem atualmente, têm muito para corroborar com a demasiada formatação que referi a partir do ideal de tornarem-se "centros de excelência", em que se formem os ditos “melhores profissionais do país” e nos quais se produza o tal “conhecimento de ponta”. Percebida como vocação natural, pouco se destaca que esta aspiração, entretanto, favorece um modelo terrível, pois os excelentes são – e devem ser – poucos1, a excelência encerra-se como valor em si, essencial, aquém e além de qualquer interesse pelos estudos e/ou pesquisas das quais 1

Questão agudamente assinalada pelo professor Sidnei José Casetto do Curso de Psicologia da Universidade Federal de São Paulo.

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se utilizam para tornarem-se excelentes. Valorizam-se a especialização e particularmente a autoria de trabalhos como indicadores do desenvolvimento acadêmico, o que estimula a constituição de ilhas de produção e nos convoca a sermos produtores ininterruptos, inclusive na maneira de viver e nas relações com outrem. Nessa configuração o científico tende a ser naturalizado, o ensino, mesmo o público, a operar na lógica da empresa, o cognitivo a hipertrofiar-se e o tempo a acelerar-se de forma vertiginosa.

Um certo tipo de saber torna-se hegemônico, assim como a demarcação clara entre quem o domina (e pode transmiti-lo) e quem dele necessita (e precisa recebê-lo). A formação desenha-se nestas linhas, reforçando o ensino verticalizado, o preenchimento máximo da "grade horária", a preferência por um perfil competitivo, e a impaciência dos estudantes com conteúdos que não tenham aplicabilidade imediata. Talvez na formação, contemporaneamente não possamos falar tão somente em moldes ou fôrmas ou disciplinas, isto é, formatações rígidas de modos de sentir, pensar e fazer. Importa, hoje, ressaltar outros movimentos, espécies de modulações, ondas de auto-deformação contínua, que fixam-se ora em modos mais impermeáveis, ora em outros mais abertos e porosos. Com isso, haveria linhas de fuga, saídas, novos espaços de resistência e invenção. A todo o momento nas salas de aula, nas pesquisas, nas intervenções escavamos novas e difíceis saídas.

Saídas instaurando um espaço de aprendizagem e partilha do sensível, numa espécie de paralelo à exigência da produção de papers e da contagem de pontos nos curricula e relatórios acadêmicos. Na lógica que articulamos (nós vários professores) na formação, se tivermos que contar pontos será para preservar nichos de desregulagens: já que na formação temos a oportunidade de experimentações com sensibilidades em processo, podemos aproveitar para solapar alguns imperativos ditos racionais: desertando a pressa, a produtividade, a concorrência, a previsibilidade, a especialização custe o que custar. Podemos exercer treinar, aproveitar para a sala de aula pequenas táticas não reificadoras, exercícios de invenção, de paciência, de lentidão, de gratuidade, de atenção, de angústia aceita, de dúvida, enfim, exercícios de resistência e largueza de alma.

Formação como deformação, para acompanhar o que está desistindo e o que está se gestando no registro do sensível/micropolítico e dos processos de aprendizagem, o que exige disponibilidade não só para as formas acabadas que parecem definitivas, mas especialmente para as forças todas do coletivo que vão produzindo novas formas de pensar, sentir e colaborar.

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Não se trata de mumificar as teorias, mas justamente de abrí-las a outras conexões onde o critério não será a verdade, a fidedignida, a proximidade com a origem, mas sim o modo como elas estão sendo utilizadas a que estão servindo - que modos de viver instauram - o que estão produzindo de movimentos de ruptura e afirmação da vida. Isto, dirão alguns é, “falta de rigor científico". Estarão certos aqueles que se posicionam pelos paradigmas cientificistas, aqueles que estão mais preocupados com suas fatias bem divididas do mercado especializado?

Mas, se não queremos isto, o que temos a oferecer? O gosto pelo risco, pela invenção que nos possibilita novas regiões de promessa e dúvida, que nos torna insatisfeitos e inquietos com as respostas tranqüilizadoras e -universalizantes que "explicam" e "compreendem", em vez de procurar as vias possíveis para a irrupção do desejo e da mudança no campo social. Uma proposta transdisciplinar é, portanto é ter que se defrontar com este gosto pelo novo, aqui tomado não como moda, mas como convocação para invenção, pelo ter que se deslocar dos fazeres já conhecidos.

Sugestões de leituras:

DELEUZE. Gilles. Rizoma In: Mil Platos – capitalismo e esquizofrenia. vol 1. Trad.Aurélio Guerra Neto e Célia Pinto Costa. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995a. [Mille

Plateaux - capitalisme et schizophrénie, Paris: Les Éditions de Minuit, 1980.]

PASSOS, E.; BARROS, R. B. A construção do plano da clínica e o conceito de

transdisciplinaridade. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 16, n. 1, p. 71-79,

2000.

PASSOS, E.; BARROS, R. B. Complexidade, transdisciplinaridade e produção de

subjetividade. In: Tânia Mara Galli Fonseca; Patrícia Gomes Kirst (Org.). Cartografias

Referências

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