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P.º n.º R.P. 168/2011 SJC-CT Cancelamento do registo de usufruto com base em renúncia. Existência de registo anterior de penhora.

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P.º n.º R.P. 168/2011 SJC-CT Cancelamento do registo de usufruto com base em renúncia. Existência de registo anterior de penhora.

PARECER

1. Em ..., foi pedido, na Conservatória do Registo Predial de ..., o cancelamento do registo de usufruto que versa sobre os prédios nºs …, …, …, …, …, …, …, …, …, …, …, ..., …, … e ..., todos da freguesia ..., concelho de ..., e sobre o prédio n.º ..., da freguesia de ..., concelho de ..., juntando-se para o efeito certidão da escritura pública de renúncia gratuita ao usufruto, prova matricial e comprovativo do cumprimento das obrigações fiscais devidas após a titulação.

2. O cancelamento foi efectuado no prédio n.º ... e recusado quanto aos demais com fundamento na existência de registos de penhora do usufruto, não tendo sido demonstrada a sua extinção nem pedido o cancelamento das inscrições respectivas. 3. Da decisão de recusa, notificada em 2011/05/09, conforme anotação feita nas fichas de registo, é interposto recurso hierárquico, remetido por correio em 2011/06/08 e recebido sob ap. …, de 2011/06/09, no qual se aduz, em síntese, que a renúncia efectuada teve em conta a ineficácia a que alude o artigo 819.º do Código Civil e que, portanto, o que se pretendia era a feitura do registo da renúncia com a menção de que a sua eficácia plena se encontra dependente do levantamento da penhora.

4. A recusa é sustentada com base nas razões aduzidas no despacho inicial, sublinhando-se aqui que «a feitura do cancelamento pretendido, esvaziaria a penhora de conteúdo» e que «não compete ao conservador apreciar a extinção da penhora por desaparecimento do seu objecto».

Questão prévia

1. Considerando a posição firmada por este Conselho Técnico no parecer emitido no processo RP 164/2008 SJC-CT, homologado por despacho do Presidente do IRN, I.P., de 2008/12/19, no sentido de que:

a) «…a notificação continua a presumir-se feita no terceiro dia posterior ao do registo, ou no primeiro dia útil seguinte a esse, quando o não seja, segundo a regra do n.º 3 do art. 254.º do CPC, porquanto a notificação da decisão registal se insere ainda no âmbito do

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processo de registo, e, neste processo, que é marcadamente distinto do processo de impugnação, não tem lugar a aplicação subsidiária do Código do Procedimento Administrativo»;

b) «…o prazo do recurso, em resultado da aplicação conjugada do n.º 2 do art. 168.º do CPA e do art. 141.º/1 do CRP é de trinta dias a contar da notificação»;

c) «…quer por aplicação directa do art. 144.º do CPC, quer por aplicação deste artigo por força da remissão do n.º 3 do art. 58.º do CPTA, o prazo para interpor recurso hierárquico está sujeito à regra da continuidade fixada no art. 144.º/1 do CPC, donde decorre que no seu cômputo se incluem os dias não úteis, não se suspendendo durante as férias judiciais, e que o termo do prazo que caia em dia em que o serviço de registo esteja encerrado se transfere para o primeiro dia útil seguinte»1.

2. Tendo ainda em conta o que consta do artigo 142.º/2 (determinando que a interposição de recurso hierárquico se considere feita com a apresentação da respectiva petição no serviço de registo) e do artigo 148.º/1 do Código do Registo Predial (que demanda a anotação da impugnação na ficha, a seguir à anotação da recusa ou ao registo provisório, qualificando-a, desta forma, como acto de registo sujeito às regras de anotação no diário previstas no artigo 60.º), e os efeitos da impugnação previstos nas disposições conjugadas dos artigos 92.º/2/d), 148.º/3 e 149.º do mesmo Código (impondo que, a cada momento, o serviço de registo esteja em condições de asseverar se determinado registo provisório está ou não caducado, ou se está ou não esgotado o prazo para impugnar determinada recusa), só pode valer como data do acto (interposição de recurso) a do recebimento do requerimento no serviço de registo competente, como aliás acontece em sede de procedimento administrativo (cfr. artigo 147.º-B do CRP), não a da efectivação do registo postal (remessa pelo correio).

3. Temos de concluir que o presente recurso hierárquico é intempestivo, posto ter sido interposto para além daquele prazo de 30 dias, devendo, por isso, ser rejeitado, nos termos do disposto no artigo 173.º, alínea d), do CPA, ex vi do artigo 147.º-B do CRP.

***

Analisaremos, ainda assim, o caso concreto, não com o propósito vinculativo que decorreria da apreciação do mérito do recurso, mas numa perspectiva de colaboração e

1

A interpretação proposta no referido parecer acolhe o sentido e o alcance que, no domínio do registo comercial e perante disposições legais de conteúdo semelhante, se tinham já definido no processo R.CO 32/2006 DSJ-CT.

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apoio técnico-jurídico que, naturalmente, não obriga a recorrida, não altera a posição do recorrente, nem deve exceder o âmbito das questões discutidas nos autos.

Questão de fundo

1. Diz o artigo 819.º do CC que, sem prejuízo das regras do registo, são inoponíveis à execução os actos de disposição, oneração ou arrendamento dos bens penhorados, o que é dizer que o devedor pode livremente alienar ou onerar os bens penhorados, simplesmente, a execução prossegue, como se esses bens pertencessem ao executado2. 1.1. Logo, estando o usufruto dos autos afectado aos fins da execução a que se referem as penhoras registadas, a renúncia abdicativa a este direito, por ser acto de disposição3, cai no âmbito dos actos substantivos previstos na norma indicada, pelo que o efeito extintivo e a aquisição restitutiva consequente são aqui irrelevantes em relação à execução4.

1.2. No entanto, por não estar em causa a validade do negócio jurídico abdicativo mas os seus efeitos jurídicos, que não se consolidam erga omnes em face da prevalência da penhora e do seu registo (artigo 819.º do CC), o que, a nível tabular, cumprirá garantir é que a aquisição decorrente da penhora não estará impedida ou em situação mais onerosa

de ingressar no registo predial pela circunstância de entretanto terem sido registados outros factos praticados pelo dono inscrito (e pelos eventuais subadquirentes).

1.3. Para tanto importa apenas que o registo se coloque na exacta perspectiva do direito substantivo, que é de ineficácia relativa dos actos, declinando-se o averbamento de cancelamento requerido não porque é de molde a traduzir a extinção do facto, mas porque produz a extinção do registo (artigo 10.º do CRP), eliminando a publicidade do direito penhorado e o suporte inscritivo respectivo, como se aquele facto extintivo tivesse realmente alcançado todos os efeitos volitivo-finais5.

2

Pires de Lima e Antunes Varela, Código Civil Anotado, vol. II, 3.ª edição, p. 93.

3

Segundo Manuel de Andrade, Teoria Geral da Relação Jurídica II, pp. 66/67, dispor dum direito é influir de modo directo e imediato sobre a sua consistência ou destino, podendo isto ocorrer por variadas formas, entre as quais abdicar pura e simplesmente dele.

4

Trata-se, pois, de uma inoponibilidade direccional ou situacional, porque a paralisação dos efeitos do negócio jurídico se verifica apenas em certa direcção (Carvalho Fernandes, Teoria Geral do Direito Civil II, 3.ª edição, p. 512).

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1.3.1. Como se sabe, em regra, não é o próprio facto extintivo, suscitado em instância de registo e precedido da qualificação do documento que o suporta (artigos 43.º e 68.º do CRP), que se dá a conhecer a terceiros, mas o seu efeito tabular, isto é, a extinção do próprio registo (averbamento de cancelamento), assente na constatação de que o direito nele publicitado não subsiste, não conserva a sua identidade, no plano da realidade jurídica.

1.3.2. Quando assim não é, ou seja, quando o facto jurídico extintivo, embora válido, não tem o alcance de remover o direito, ónus ou encargo publicitado do mundo jurídico, designadamente, porque, em face da situação jurídica do imóvel patenteada no registo, não é de molde a produzir integralmente o efeito jurídico a que se dirige (extinção do direito); não logra produzir erga omnes os efeitos jurídicos pretendidos, concretizando-os plenamente, também não pode ser daquela forma, vale dizer, acobertado na extinção do registo (cancelamento) que o dito facto jurídico há-de ingressar no registo.

1.4. Isto porque estamos diante da extinção objectiva de um direito e, portanto, de um problema de remoção jurídica e tabular da sua existência, em que não se mostra suficiente contar com o disposto no artigo 34.º/4/in fine do CRP, como acontece quando há transmissão ou oneração do direito penhorado, onde o registo subsequente dos actos de disposição praticados pelo executado não bole com a vigência do direito nas tábuas e antes se opera uma deslocação de efeitos de uma inscrição para outra (artigo 10.º do CRP) ou se encontra, no registo em vigor, o suporte necessário ao ingresso do ónus constituído6.

1.4.1. Ora, sendo a renúncia um acto de disposição que implica o desaparecimento do direito, como no caso em apreço, não vemos realmente como alvitrar que o registo de

5

De acordo com o disposto no artigo 1476.º/1/e) do CC, a renúncia abdicativa é causa de extinção do usufruto, pelo que a vontade identificada no acto que é fonte da renúncia é dirigida ao efeito jurídico que dela decorre: abdicação pura e simples [do] direito real, extinguindo-o. Esta vontade funcional, exteriorizada em documento bastante, tem como consequências jurídicas a extinção do direito real menor (usufruto) e a expansão do direito real maior (propriedade), que aquele comprimia, segundo o fenómeno conhecido por aquisição restitutiva (Luís A. Carvalho Fernandes, Da renúncia dos direitos reais, O Direito, ano 138.º, 2006, III, pp. 481/482). Em termos tabulares, porque a propriedade limitada pelo usufruto é, normalmente, inscrita como se de propriedade plena se tratasse (artigo 98.º/1 do CRP) é através do cancelamento do registo de usufruto que se mostram a extinção objectiva do direito e a recuperação ipso facto da plenitude dos poderes do proprietário.

6

É esta deslocação de efeitos ou a inscrição intermédia deste ónus que sai prejudicada no momento de registar a venda executiva, tudo se passando, em relação à execução, como se não tivesse existido. Cfr. processo R.P. 143/2000 DSJ-CT, publicado no BRN n.º 3/2001, II caderno.

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aquisição executiva do direito se faça com apoio exclusivo no registo da penhora, dando a existência desta como bastante para se acautelarem, em sede tabular, os interesses da execução;

1.4.2. Pois, por um lado, tratando-se de um direito real limitado de tipo aberto, não achamos como publicitar o seu conteúdo negociado à revelia do registo do seu acto constitutivo, ou como inscrever a modificação subjectiva do direito sem que na ficha do prédio exista reflexo da sua constituição;

1.4.3. Por outro lado, também não se encontra pretexto para uma ideia de “cancelamento do averbamento de cancelamento”7, fazendo revivescer o registo do usufruto por causa da venda executiva deste direito e com apoio na prevalência do registo de penhora quando, substantivamente, não há, com a penhora seguida de venda executiva, um “renascimento” do direito; há, isso sim, uma ineficácia relativa dos actos dispositivos entretanto praticados pelo executado que se volve em ineficácia absoluta ou em caducidade (artigo 824.º do CC).

1.5. De quanto vem dito se conclui que, para nós, enquanto subsistir o registo de penhora, os interesses da execução permanecem tabularmente tutelados, sendo que, em princípio, só o levantamento da penhora ou uma decisão que mande pôr-se termo ao seu registo (artigo 13.º do CRP) permitirá a extensão de eficácia da renúncia e, consequentemente, a extinção do registo do bem (direito) penhorado.

1.6. Não podemos, todavia, ignorar que o negócio jurídico (renúncia abdicativa ao usufruto) é, em si mesmo, válido e oponível, em termos subjectivos, aos que não sejam beneficiários da ineficácia a que alude o artigo 819.º do CC, pelo que o modo de assegurar a consolidação daquela oponibilidade através do registo e, bem assim, permitir ao proprietário agir sobre o direito de propriedade com o seu conteúdo próprio (artigo 9.º do CRP)8, passa por admitir que, por extracto e mediante averbamento à inscrição do usufruto, se ateste o acto abdicativo9.

7

Solução maioritariamente admitida a propósito de outro caso concreto como forma de traduzir a extinção do facto extintivo suscitada no âmbito de um processo de registo (cfr. processo R.P. 83/2011 SJC-CT).

8

Ainda que, bem entendido, a inoponibilidade à execução dos actos de disposição ou de oneração da coisa ou o direito penhorado beneficie o exequente e os credores com garantia real que reclamaram os respectivos créditos não só contra o executado, mas também contra o adquirente do bem.

9

Neste sentido, embora a propósito do cancelamento do registo da locação financeira, parecer proferido no processo RP 141/2004 DSJ-CT, publicado no BRN n.º 3/2005, Caderno II.

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1.7. Consegue-se, desta forma, que o registo publique os efeitos jurídicos da renúncia ao usufruto desde logo admitidos no plano substantivo, nomeadamente ao nível da expansão do direito maior, e que a inscrição do direito de usufruto passe a vigorar na exacta medida da inoponibilidade relativa, logo, que se dê a conhecer a terceiros, através do conjunto dos direitos inscritos (direito de usufruto e respectiva renúncia, e penhora deste direito), a dimensão de eficácia daquele facto extintivo e as condições de vigência da própria inscrição que o suporta;

1.8. Sendo que, uma vez cancelado o registo da penhora, bastará que se passe a «histórico» a inscrição respectiva para que se obtenha inteira articulação entre a realidade jurídica e a registal, reflectindo-se nas tábuas a eficácia absoluta lograda com o acto abdicativo (renúncia ao usufruto) e a extinção do registo do direito renunciado10.

***

Sem embargo da rejeição do recurso interposto fora do prazo, que propomos, e em conformidade com a apreciação da questão de fundo, formulamos as seguintes

CONCLUSÕES

10

Como já dissemos, não é esta a técnica gizada no Código do Registo Predial, porquanto, normalmente, é o averbamento de cancelamento tout court o acto que expressa e significa a extinção do registo, tendo por base, designadamente, a extinção do direito, ónus ou encargo registado (artigo 13.º do CRP), porém, mais do que a técnica, ou o modo de dizer que o registo já não está em vigor, sobrelevam aqui a tutela da posição registal conferida pelo registo da penhora e o plano de eficácia da renúncia ao usufruto (a que o sistema de registo não é indiferente, como, aliás, se infere a partir das normas postas nos artigos 2.º/2/x), 13.º, e 34.º/4, in fine, do CRP) e, bem assim, a noção da inutilidade que representa um averbamento meramente formal de cancelamento do registo (com os inerentes custos emolumentares), quando não se trata já de publicitar um facto extintivo (posto que este facto se encontrará já publicitado através do averbamento à inscrição de usufruto proposto e a sua eficácia erga omnes passa a estar patenteada com o cancelamento do registo da penhora) ou, sequer, o consentimento formal à remoção do registo (como nos casos previstos no artigo 56.º do CRP).

Consideramos, por isso, ajustado que se extraia do cancelamento da penhora a conversão automática do averbamento de renúncia ao usufruto efectuado em averbamento de cancelamento do registo de usufruto, com a passagem a «histórico» da inscrição respectiva, na certeza de que, fora do âmbito dos vícios do registo, o cancelamento (extinção do registo) não é senão consequência da extinção do direito registado ou da impugnação do facto comprovado pelo registo (artigo 13.º do CRP) e que objecto do registo é, verdadeiramente, aquele facto extintivo (artigo 2.º/2/x) do CRP).

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I – A inoponibilidade à execução dos actos de disposição dos bens penhorados (artigo 819.º do Código Civil) impede o cancelamento do registo de usufruto com base em renúncia abdicativa (artigo 1476.º/1/e)do Código Civil) quando sobre este direito vigore registo de penhora.

II – Enquanto subsistir o registo de penhora do usufruto, a extinção do direito real de gozo, por renúncia, pode ingressar no registo mediante averbamento do próprio acto abdicativo; já não através do averbamento de cancelamento a que se refere o artigo 13.º do Código do Registo Predial.

III – Com o cancelamento do registo de penhora, ficam patenteadas na ficha de registo a extensão de eficácia da renúncia ao usufruto e, com isso, a extinção dos efeitos da inscrição que tabularmente suporta o averbamento do acto abdicativo, bastando à actualização da informação registal que esta inscrição seja passada a «Histórico».

Parecer aprovado em sessão do Conselho Técnico de 19 de Outubro de 2011. Maria Madalena Rodrigues Teixeira, relator, António Manuel Fernandes Lopes, Luís Manuel Nunes Martins, Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, José Ascenso Nunes da Maia.

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FICHA – P.º R.P. 168/2011 SJC-CT

SÚMULA DAS QUESTÕES TRATADAS

Renúncia ao usufruto penhorado

o Averbamento do facto extintivo versus cancelamento do registo do usufruto

Referências

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