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Memórias e sentidos de natureza nas práticas educativas da comunidade Quilombola Castainho/PE

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

DOUTORADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE

ASSOCIAÇÃO PLENA EM REDE

CLÁUDIA FERNANDA TEIXEIRA DE MÉLO

MEMÓRIAS E SENTIDOS DE NATUREZA NAS PRÁTICAS

EDUCATIVAS DA COMUNIDADE QUILOMBOLA CASTAINHO/PE

SÃO CRISTÓVÃO – SE FEVEREIRO – 2018

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CLÁUDIA FERNANDA TEIXEIRA DE MÉLO

MEMÓRIAS E SENTIDOS DE NATUREZA NAS PRÁTICAS

EDUCATIVAS DA COMUNIDADE QUILOMBOLA CASTAINHO/PE

Texto final de Tese apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Sergipe – PRODEMA/UFS, como requisito avaliativo.

Orientadora:

Profª Dra. Maria José Nascimento Soares Coorientador:

Prof. Dr. Evaldo Becker

SÃO CRISTÓVÃO – SE FEVEREIRO – 2018

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

M528m

Mélo, Cláudia Fernanda Teixeira de.

Memórias e sentidos de natureza nas práticas educativas da comunidade Quilombola Castainho/PE / Cláudia Fernanda Teixeira de Mélo; orientadora Maria José Nascimento Soares. – São Cristóvão, 2018.

155 f. : il.

Tese (Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – Universidade Federal de Sergipe, 2018.

1. Educação ambiental - Pernambuco. 2. Memória. 3. Sociologia educacional. 4. Cultura. 5. Quilombos. 6. Conservação da natureza. I. Soares, Maria José Nascimento, orient. II. Título.

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A Deus pela vida e pela graça de poder acordar todos os dias e estudar. Peço-te continuadamente graças, humildade e sabedoria.

Aos meus pais, Dolores e José Viana, pessoas que sempre acreditaram no poder do estudo e acompanharam cada etapa nessa jornada. Obrigada por serem meus pais.

Ao meu filho, Murilo, gestado, nascido e

crescido durante todo o processo de estudo stricto sensu. Amor puro, motivação e força de todos os meus momentos.

Ao meu esposo, Cláudio, pela certeza de que tudo sempre dará certo, pela paciência e cumplicidade.

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AGRADECIMENTOS

O que agradecer e a quem agradecer... sem ninguém esquecer? Como agradecer e porque ser grato?

Preciso agradecer ontem, hoje e sempre pelas vitórias e a resiliência em mim fortificadas ao longo de toda a jornada, pois os estudos e a vontade de conhecer o não conhecido sempre foram fontes inspiradoras.

Assim, segue um testamento:

Obrigada a Deus, por viver e poder estudar, e sempre renascer em mim a certeza de que eu posso fazer diferença onde eu estiver através dos estudos, e certa de que tenho muito ainda a galgar, agradeço pela perseverança de que enquanto eu viver também estudarei. Obrigada também a Mãe de Deus e nossa, quantos diálogos tivemos na solidão das estradas, inspirando-me que quando damos um “sim” às nossas escolhas, precisamos ser dignos da promessa de Deus em nossa vida!

Obrigada meu pai, José Viana, por sempre acreditar em mim desde muito cedo e certo de que um dia teria uma “filha doutora”, a você entrego este título. Quantas lutas durante este trajeto, e no final do curso a surpresa de uma enfermidade maléfica, mas que não nos abateu, estamos vencendo. Muito obrigada por ir comigo durante um mês para todas as pesquisas de campo, abrindo portas e contatos, a fim de me ajudar na coleta de dados. E, como sou filha única, sempre esbanjasse orgulho da única filha que tinha, como um tesouro, um presente mais que precioso, meu muito obrigada!

Obrigada minha mãe, Dolores Teixeira, mulher forte e bela, que me ensinou desde muito pequena que devemos ser responsáveis e determinadas na vida e que nada vem de presente, nós é que fazemos o nosso futuro, que precisamos sorrir e sermos autênticos, determinados e ousados. Grata pelos questionamentos: “- onde você vai parar? – para quê estudar tanto?; É mais é o que você escolheu?” Que sempre me deixou um abraço antes de cada viagem à Aracaju, assim como esperava-me ansiosamente retornar para seguirmos para o seu tratamento médico em Recife, todos os meses que também acompanharam a jornada do doutorado.

Obrigada minha vó Maria (in memorian), que onde quer que estejas sei que velas e rezas por mim, guardo suas belas palavras, quando aprendi a ler, antes mesmo dos 5(cinco) aninhos, e segurastes em minhas mãos e afirmastes: “serás forte, uma estrela, serás sábia e

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ajudarás muita gente, escute os mais velhos, zele pelos seus pais, cuide e ame muito os seus, e estude muito é maior riqueza da vida e seja feliz!”

Obrigada amado filho, Murilo Viana, que em sua singela interpretação infantil, sempre entendeu minhas razões em viajar, estudar e sempre me acalmava quando tudo estava difícil: “mãe está tudo bem, beijo, te amo!”

Obrigada amado marido, Cláudio Araújo, nossas vidas estão entrelaçadas há mais de duas décadas, e sempre acompanhasse cada etapa concluída ou frustrada, mas que sempre me mostrasse o lado bom de tudo o que nos acontece. Grata pelos momentos bons e difíceis durante o curso, todos foram fundamentais para traçar novos caminhos.

Obrigada tia Tetê, Terezinha Teixeira, que imensamente sempre me ajudou seja com meu filho, com meu lar, e cuidando do que era de minha responsabilidade, enquanto eu estava ausente, sempre seguiu cada rotina, a fim de ninguém sentisse tanto tais ausências. E, como sabias que tudo era por amor aos estudos, sempre me apoiou.

Obrigada familiares e amigos, todos os que não acreditavam como iria dar certo no final, aos que davam força, ajudaram, aos que também duvidaram, invejaram ou lamentaram em algum momento, cada um foi de fundamental importância para essa conclusão.

Muito, muito obrigada à professora Maria José Nascimento, minha orientadora, como a definir? Um olhar crítico do que precisa ser melhorado, uma visão além do olhar pedagógico e humano, mais que isso um colo de mãe ou madrinha, acolhendo ou acalmando em momento de turbulência ou provação. Nossas afinidades estão além da pedagogia, gostamos de prazos, de cronogramas, de correções, somos perfeccionistas, amamos a natureza e acima de tudo gostamos de servir aos outros, obrigada por me ensinar além de teorias, somos muito mais do que uma tese de doutorado!

Muito obrigada ao meu coorientador, prof. Evaldo Becker, grata por cada recomeço, pelas viagens teóricas necessárias para amadurecer quaisquer conhecimentos, assim como agradeço pelos conhecimentos repassados e excelentes buscas filosóficas. Certa de nunca estamos prontos e sempre precisamos renovar nossas certezas e conceitos, agradeço os seus ensinamentos quanto à ciência e ao crescimento intelectual.

Obrigada a cada professor e colega de turma do doutorado, aulas, viagens práticas, apresentações ou seminários, como aprendemos uns com os outros, levo com certeza o melhor de cada um de vocês. Agradeço a cada professor durante as bancas avaliativas, ao longo do curso, como aprendi e melhorei enquanto profissional na universidade. Quanto aos amigos construídos nessa jornada, agradeço em especial ao trio “princípio, meio e fim”, como assim foi denominado desde o mestrado na UFS: Cláudia, Giane e Lígia, cada uma

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com sua personalidade e ao mesmo tempo cada uma com muitas características da outra, grata pela unidade, diferenças, amizade, carinho e auxílio em cada momento.

Muito obrigada aos meus amigos e idosos da Comunidade Quilombola do Castainho, como vocês melhoraram a minha vida, simplicidade, harmonia e união, foram uma das muitas qualidades que guardarei em minhas memórias. Agradeço cada casa e janela que se abriu, condecorando com a minha tese, trazendo teorias singulares, nunca encontradas em livros acadêmicos, mas que ecoaram em meus escritos e análises. Aprendi com vocês, meus “velhinhos do Castainho” que somos muito fortes, quando temos história para contar, e que sem elas não temos motivos para viver, pois a vida só pode ser construída a partir de ensinamentos dos mais velhos.

Agradeço a cada diversidade ou problemática enfrentada durante todo o curso, hoje sou um ser humano muito melhor que antes, agradeço: carro quebrado, ônibus batido, acidente com cavalo, assalto de madrugada, longas paradas na estrada, caronas certas ou erradas, viagens interestaduais simultâneas para cumprir os créditos, percas maternais, entre tantas outras coisas, mas tudo me fez uma mulher mais bela, mais forte, mais ousada e acima de tudo mais resiliente, pois sei que no final tudo o que for melhor dará certo! Nunca perdi o meu foco, entre muita música e poesias finalizei uma tese, feia criteriosamente com carinho e cuidado, e sigo assim enquanto vida tiver!

Muito além de um título, pois isto não vim buscar, vim ao encontro de um estágio do conhecimento mais amplo e aberto às novas possibilidades do ser humano, o que precisamos conservar e preservar em nossas memórias: fatos, imagens, pessoas, lugares, sorrisos, lágrimas, conhecimento! Acredito que, a partir de agora sou uma pessoa melhor e o conhecimento vem ao encontro do fazer o bem, nos lugares mais simples ou no âmbito acadêmico, o estudo muda o ser humano para o melhor!

Pai, mãe, vó, tia, marido, filhos, professores... Hoje ecoarei, para vocês e por vocês: “SOU DOUTORA” em uma Universidade Federal do Nordeste deste imenso Brasil!

Deixo enfim, um convite: partilhem essa leitura com prazer, pois entrego um material memorável, fundamentado no saber de pessoas simples e unificado ao saber dos intelectuais, e nessa miscigenação deixo com carinho o meu muito, muito obrigada e até breve!!! Boa viagem.

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“Antes de sair de casa aprendi a ladainha das vilas que vou passar na minha longa descida. Sei que há muitas vilas grandes, [...] sei que há vilas pequeninas, todas formando um rosário cujas contas fossem vilas.”

(Morte e Vida Severina, João Cabral de Melo Neto, 1976.)

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RESUMO

Ao longo da história da humanidade algumas mudanças ocorreram em relação à ideia de natureza, que foram inseridos em debates filosóficos, sociológicos, educacionais e ambientais, os quais se evoluíram no modo de produção, nos traços culturais, na tecnologia, nos processos educativos e na construção do conhecimento. Assim, determinados processos educativos ocorridos nas instituições como: escola, igreja, associações, conselhos municipais, lideranças políticas e representações sociais que articulam, conectam internalizam saberes na construção social e na valoração cultural. Esses são herdados mediante o desenvolvimento cultural e do conhecimento sobre a natureza, uma vez que demonstram como esses processos educativos proporcionam aos seus sujeitos uma vivência, apropriação, pertencimento, autonomia na produção de saberes acerca de suas identidades e de seus territórios culturais. A presente tese objetivou analisar os sentidos de natureza atribuídos por sujeitos da comunidade rural Castainho por meio dos seus processos educativos. A pesquisa contou com um plano de estudo bibliográfico, distribuído em etapas de aparato documental, sob o método etnográfico, através da história oral, com base na história oral in locus, junto aos integrantes da comunidade Quilombola centenária do Agreste Meridional de Pernambuco. A história oral e a memória foram norteadoras do processo de organização dos dados sobre a experiência e a prática cotidiana (atividades plurais e rotineiras) dos sujeitos nessa comunidade rural, mesclando passado e presente, ancorada na oralidade para resgatar informações da própria localidade com base em narrativas sobre o seu lugar social e suas relações com a natureza para evidenciar os sentidos de natureza atribuídos pela comunidade dento de uma “etnografia memorialística”, que foram utilizadas com os participantes sobre a conservação do ambiente e os processos educativos. Neste sentido, a pesquisa contribuiu para a sistematização dos conhecimentos sobre as memórias e os sentidos de natureza ao ampliar estudos dos processos identitários e socioculturais enquanto ação de conservação do lugar, como também na reflexão do pertencimento do homem em relação à natureza mediante processos identitários sociocultural de um lugar, ao conservar o ambiente (natureza) por meio dos processos educativos.

PALAVRAS-CHAVE: Comunidade Castainho. Processos Educativos. Sentidos de Natureza. Conservação Ambiental.

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ABSTRACT

Throughout the history of mankind, some changes have occurred in relation to the idea of nature, which have been inserted into philosophical, sociological, educational and environmental debates, which have evolved in the mode of production, cultural traits, technology, educational processes and construction of knowledge. Thus, certain educational processes occurring in institutions such as: school, church, associations, municipal councils, political leaderships and social representations that articulate, connect internalize knowledge in social construction and cultural valuation. These are inherited through cultural development and knowledge about nature, since they demonstrate how these educational processes give their subjects an experience, appropriation, belonging, autonomy in the production of knowledge about their identities and their cultural territories. The present thesis aimed to analyze the meanings attributed by subjects of the rural community Castainho through its educational processes. The research had a bibliographic study plan, distributed in stages of documentary apparatus, under the ethnographic method, through oral history, based on the oral history in locus, together with the members of the centennial Quilombola community of Agreste Meridional de Pernambuco. Oral history and memory guided the process of organizing data on daily experience and practice (plural and routine activities) of subjects in this rural community, mixing past and present, anchored in orality to retrieve information from the locality based on narratives on their social place and their relations with nature to evidence the senses of nature attributed by the community within a "memorial ethnography" that were used with the participants on the conservation of the environment and the educational processes. In this sense, the research contributed to the systematization of the knowledge about the memories and the senses of nature by expanding studies of the identity and socio-cultural processes as a conservation action of the place, as well as in the reflection of the man's belonging to nature through socio-cultural identity processes of a place, by conserving the environment (nature) through educational processes.

KEY-WORDS: Castainho Community. Educational Processes. Senses of Nature. Environmental Conservation.

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RESUMEN

A lo largo de la historia de la humanidad algunos cambios ocurrieron en relación a la idea de naturaleza, que fueron insertados en debates filosóficos, sociológicos, educativos y ambientales, los cuales se desarrollaron en el modo de producción, en los rasgos culturales, en la tecnología, en los procesos educativos y en la sociedad construcción del conocimiento. Así, determinados procesos educativos ocurridos en las instituciones como: escuela, iglesia, asociaciones, consejos municipales, liderazgos políticos y representaciones sociales que articulan, conectan internalizando saberes en la construcción social y en la valoración cultural. Estos son heredados mediante el desarrollo cultural y el conocimiento sobre la naturaleza, ya que demuestran cómo estos procesos educativos proporcionan a sus sujetos una vivencia, apropiación, pertenencia, autonomía en la producción de saber acerca de sus identidades y de sus territorios culturales. La presente tesis objetivó analizar los sentidos de naturaleza atribuidos por sujetos de la comunidad rural Castainho por medio de sus procesos educativos. La investigación contó con un plan de estudio bibliográfico, distribuido en etapas de aparato documental, bajo el método etnográfico, a través de la historia oral, con base en la historia oral in locus, junto a los integrantes de la comunidad Quilombola centenaria del Agreste Meridional de Pernambuco. La historia oral y la memoria fueron orientadoras del proceso de organización de los datos sobre la experiencia y la práctica cotidiana (actividades plurales y rutinarias) de los sujetos en esa comunidad rural, mezclando pasado y presente, anclada en la oralidad para rescatar informaciones de la propia localidad con base en narrativas sobre su lugar social y sus relaciones con la naturaleza para evidenciar los sentidos de naturaleza atribuidos por la comunidad de una "etnografía memorialística", que se utilizaron con los participantes sobre la conservación del ambiente y los procesos educativos. En este sentido, la investigación contribuyó a la sistematización de los conocimientos sobre las memorias y los sentidos de naturaleza al ampliar estudios de los procesos identitarios y socioculturales como acción de conservación del lugar, así como en la reflexión de la pertenencia del hombre en relación a la naturaleza mediante procesos identitarios socioculturales de un lugar, al conservar el ambiente (naturaleza) a través de los procesos educativos.

PALABRAS-CLAVE: Comunidad Castainho. Procesos Educativos. Sentidos de Naturaleza. Conservación Ambiental.

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SUMÁRIO

Página

LISTA DE FIGURAS... xvi

LISTA DE QUADROS... xviii

LISTA DE SIGLAS ... xix

INTRODUÇÃO... 20

CAPÍTULO 1 – ARCABOUÇO METODOLÓGICO ... 24

1.1 Os paradigmas metodológicos da pesquisa... 25

1.2 A “etnografia memorialística” da pesquisa... 27

1.3 Os procedimentos metodológicos: uma visita à comunidade rural ... 32

CAPÍTULO 2 – O HOMEM, O TEMPO E A NATUREZA... 40

2.1 O homem e a natureza... 41

2.2 O tempo e a memória ... 53

2.3 A cultura e o lugar ... 58

2.4 A cor do Brasil ... 65

2.5 Os processos educativos em comunidade rural... 74

CAPÍTULO 3 – MEMÓRIAS DE UM LUGAR... 83

3.1 Na trilha das memórias da Serra dos Garanhuns... 84

3.2 A Comunidade Rural Quilombola Castainho... 95

3.3 A Natureza, o lugar e os processos educativos no Castainho ... 99

3.4 A educação escolar e os processos educativos no Castainho ... 102

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CAPÍTULO 4 – MEMÓRIAS DE UM POVO ... 112

4.1 Aqui é o meu lugar natural... 114

4.2 Não quero lembrar o passado deste lugar... 117

4.3 Aqui, nesse meu cantinho, é uma felicidade... 119

4.4 Eu sou filho dessa terra ... 121

4.5 Sou líder pelo povo, pela terra e pela cor ... 124

4.6 Amo demais aquele lugar ... 128

CONCLUSÕES ... 131

REFERÊNCIAS ... 134

APÊNDICES... 144

Apêndice 1 – Roteiro entrevista semiestruturada... 145

Apêndice 2 – Fotos do Instituto Histórico e Geográfico de Garanhuns – IHGG... 146

Apêndice 3 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE... 147

ANEXOS... 148

Anexo 1 – Autorização para pesquisa – Comitê de Ética – Plataforma Brasil ... 149

Anexo 2 – Imagem das sete colinas do município de Garanhuns ... 150

Anexo 3 – Árvore genealógica do Castainho ... 151

Anexo 4 – Certificação de reconhecimento como comunidade quilombola... 152

Anexo 5 – Documentos comprobatórios de reconhecimento do Castainho... 153

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xvi

LISTA DE FIGURAS

Página

Figura 01 – Mapa do Brasil Região Nordeste, Estado de Pernambuco e Agreste

Meridional e Garanhuns ... 33

Figura 02 – Localização do Planalto da Borborema no município de Garanhuns... 34

Figura 03 – Mapeamento de todas as comunidades quilombolas de Pernambuco.. 35

Figura 04 – Imagens da localização geográfica da Comunidade Castainho... 37

Figura 05 – Mapa de localização da Comunidade Castainho ... 38

Figura 06 – Imagem atual do Alto do Magano em Garanhuns... 86

Figura 07 – Moça indígena „Garanhun‟ (em 1930)... 86

Figura 08 – Criança indígena na feira de Garanhuns (em 1896) ... 86

Figura 09 – Anciã da tribo „Fulni-ô‟ ... 87

Figura 10 – Velha dançarina do „Toré‟ (por volta de 1800) ... 87

Figura 11 – Velho Preto do Castainho (em 1896) ... 88

Figura 12 – Moça negra „Bantú‟ do Castainho (em 1930) ... 88

Figura 13 – Foto da antiga feira livre de Garanhuns (em 1896)... 91

Figura 14 – Estação de trem da cidade de Garanhuns (em 1872)... 92

Figura 15 – Festa de inauguração da Estação de trem da cidade de Garanhuns... 93

Figura 16 – Imagens do alto do Planalto da Borborema ao redor da cidade... 94

Figura 17 – Quadro da Vila Velha de Garanhuns de 1840... 96

Figura 18 – Sítio do Castainho (meados do Século XVII) ... 97

Figura 19 – Estradas de acesso à Comunidade Quilombola Castainho ... 101

Figura 20 – Escola Municipal da Comunidade do Castainho ... 103

Figura 21 –Reunião da Casa de Farinha–Grupo de liderança jovem do Castainho 103 Figura 22 – Projeto social com artes manuais, musicalização e reforço escolar... 104

Figura 23 – Casa de Farinha do Castainho ... 105

Figura 24 – Processo de produção artesanal em uma das casas de farinha... 106

Figura 25 – Grupo Cultural “Quilombo Axé” do Castainho ... 107

Figura 26 – Capela católica e Igreja Presbiteriana do Castainho ... 108

Figura 27 – Festa da Mãe Preta no Castainho ... 110

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Página

Figura 29– Ivanildo Mendes da Silva ... 114

Figura 30 – Sr. Ivanildo na varanda de sua residência ... 116

Figura 31 – Quitéria Gonçalves de Brito ... 117

Figura 32 – Dona Quitéria e seus objetos religiosos ... 118

Figura 33 – Geraldo Mendes ... 119

Figura 34 – José Bernardo da Silva ... 121

Figura 35 – Casa das Almas do Castainho ... 123

Figura 36 – José Carlos Lopes da Silva ... 124

Figura 37 – Pilão de engenho centenário ... 127

Figura 38 – Ferro de gomar centenário ... 127

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xviii

LISTA DE QUADROS

Página

Quadro 01 – Os fenômenos da memória, segundo Paul Ricoeur ... 567 Quadro 02 – Descrição dos deuses: mitologia e caracterização ... 69 Quadro 03 – Principais conceitos sobre educação ... 76

(20)

LISTA DE SIGLAS

AL Alagoas

CFCH Centro de Filosofia e Ciências Humanas CPT Comissão Pastoral da Terra

CRAS Centro de Referências de Assistente Social EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FCP Fundação Cultural Palmares

FETAPE Federal de trabalhadores de Agricultura de Pernambuco FUNDARPE Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco FUNTEPE Fundo de Terra do Estado de Pernambuco

GREs Gerência Regionais de Ensino

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IHGG Instituto Histórico e Geográfico de Garanhuns

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária MNU Movimento Negro Unificado

MOBRAL Movimento Brasileiro de Alfabetização

MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

PE Pernambuco

PNATER Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural

PRODEMA Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente PTDRS Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável

RTID Relatório Técnico de Identificação e Delimitação TCC Trabalho de Conclusão de Curso

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UFPE Universidade Federal de Pernambuco

UFS Universidade Federal de Sergipe

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura UPE Universidade de Pernambuco

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INTRODUÇÃO

The Return of the Native (Agreste)

Como já não poderá dar-se A volta a casa do nativo Que achará num chão sulino Onde muito pouco assistiu, [...]

Em quase tudo de que escreve, Como se ainda lá estivesse, Há um Pernambuco que nenhum

Pernambucano reconhece. Quando seu discurso é esse espaço

De que fala, de longe e velho, [...] É um falar em fotografia ou uma voz de cheiro de alfazema.

Assim, é possível de dar-se à volta a casa nativo. Não acha a casa nem a rua, E quem não morreu, dos amigos,

Amadureceu noutros sóis. (João Cabral de Melo Neto, 1986).

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INTRODUÇÃO

A relação homem-natureza tem suas características em comum com analogias que reportam: a história da humanidade, as memórias de um lugar e seus aspectos culturais. E para entender essa relação em comunidades rurais, apresenta-se uma compreensão da função dos processos educativos na construção dialógica quanto ao sentido de natureza e às atribuições dadas pelos sujeitos em comunidade.

O aprofundar sobre “os sentidos de natureza e as memórias de um lugar”, os fatores biológicos, sociais, culturais, territoriais, dentre outros, são considerados necessários para realizar um estudo nas comunidades rurais, uma vez que o sentimento de pertencimento está associado às melhorias de vida em um lugar.

Este projeto de tese teve sua gênese nas inquietações de estudos realizados sobre a „histórias e memórias do lugar‟, em disciplinas como aluna em turmas de mestrado em Instituições do Ensino Superior, e da conclusão do Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA/UFS, na construção da dissertação intitulada: “Educação e cultura no processo de valoração do território ambiental” (em 2013). Quanto à dissertação citada, nessa pesquisa, evidenciou-se junto às comunidades rurais: a existência ou não da valoração do lugar (em espaços rurais), e sinalizou que entre os moradores e seus lugares existe uma percepção do sentido de pertencimento.

Para tanto, é importante ressaltar que, muitas dessas comunidades rurais são pequenas, não dispõe de um desenvolvimento local básico, e são, por vezes, pouco percebidas entre outras cidades circunvizinhas de maior porte (como as cidades polos de certa localidade). Porém, dentre essas mesmas cidades do interior do estado (em âmbito nacional), muitas possuem comunidades rurais que primam e demonstram uma preocupação com a natureza e com as memórias do lugar. Fato que rege as análises de conservação dos lugares, na possibilidade de demonstrar a evolução do homem para com a sua própria história e a natureza.

Foram as seguintes questões norteadoras para a pesquisa: Como a comunidade rural Castainho conserva a memória cultural de seu território? Quais sentidos de natureza podem elevar o processo de conservação de um lugar, pensando em gerações futuras? Como os processos educativos podem auxiliar na construção dos sentidos atribuídos à natureza em comunidade rural?

(23)

22

memórias e os sentidos de natureza em comunidade rural são internalizados pelos sujeitos na conservação do ambiente, a partir de processos educativos.

Em relação à memória de um lugar, se faz necessário aprofundar questões sobre a conservação e o resgate de patrimônios por meio da percepção da leitura dos espaços realizados pelos residentes de comunidade rural. Com este propósito, a dimensão cultural permitiu um esclarecimento da análise de um lugar como ambiente de vivências, identidades, experiências e significados, na perspectiva de enxergar uma valoração da comunidade enquanto território cultural.

Articular conceitos sobre cultura aos percursos históricos denota uma concretização de fatos e acontecimentos que interferem numa abordagem conceitual, ao expor uma concepção de cultura como um eixo de interpretação de seus territórios, numa estreita relação entre o homem e a natureza.

Nesse sentido, a cultura se apresenta como uma miscigenação de significados e de valoração que é permeada pela essência de um território mais simbólico e mais cultural, justificando que ao estudar a cultura, é possível resgatar os dados históricos que abrangem o homem e sua contextualização com o lugar.

A pesquisa seguiu um paradigma metodológico com base na descrição etnográfica, tendo como partícipes: sujeitos da comunidade rural quilombola do Agreste Meridional de Pernambuco, denominada “Castainho”. Por conseguinte, a história oral e a memória foram norteadoras do processo de organização dos dados sobre a experiência e a prática cotidiana (atividades plurais e rotineiras) dos sujeitos nessa comunidade rural, na articulação dos fatos entre passado e presente. Haja vista que, por meio da oralidade se pode resgatar nas narrativas, informações da própria localidade e dos sujeitos pesquisados sobre o seu lugar social e suas relações com a natureza.

O debate relacionado à comunidade rural instiga a história social quanto às formas de educações do lugar, acerca dos sentidos, valores e identidades. Para tanto, a relação sobre as memórias e os sentidos que são herdados por meio do desenvolvimento cultural e do conhecimento de natureza, demonstram que os processos educativos na comunidade rural possibilitam aos sujeitos: vivências, (re)apropriação e identidades do lugar. E, esses processos podem ser encontrados em instituições como: escola, igreja, associações, conselhos municipais, lideranças políticas e representações sociais, que se articulam e conectam na construção de uma valoração sobre o sentido de natureza.

Para tanto, a presente tese teve como objetivo geral analisar os sentidos de natureza atribuídos por sujeitos da comunidade rural Castainho, por meio dos seus processos

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educativos. E para tanto, foram elaborados os seguintes objetivos específicos:

a) avaliar como se apresenta a percepção do sentido de natureza e sua valoração pelos membros da comunidade rural;

b) caracterizar os processos educativos e suas práticas pedagógicas, voltadas à construção de sentidos de natureza, experienciados pelos sujeitos da comunidade;

c) identificar as memórias do lugar práticas educativas dos sujeitos que habitam na comunidade rural Castainho;

d) explicar as dimensões culturais presentes na comunidade rural, para a conservação da natureza, atribuídas aos processos educacionais.

Desta forma, foi possível o desenvolvimento da tese, mediante um percurso interdisciplinar, ao envolver a relação dos sentidos culturais de um lugar, os processos educativos sobre o conhecimento de natureza na comunidade rural, a partir de um contexto antropológico. A referida pesquisa oportunizou uma reflexão sobre as memórias de um lugar, ao destacar seu modo de conservar a natureza como uma forma de valorá-la para as gerações futuras; ao repassar suas vivências e experiências para os sujeitos envolvidos em toda à comunidade, ou seja, os mais “velhos” passam seus saberes e vivências para os mais “jovens”, uma forma de garantir a perpetuação de culturas e educações.

A construção dessa tese foi subdivida em 04 (quatro) capítulos assim distribuídos: o primeiro capítulo intitulado “arcabouço metodológico” apresenta os procedimentos e etapas descritivas para atingir os objetivos propostos, com um delineamento de natureza etnográfica. No segundo capítulo intitulado “O homem, o tempo e a natureza”, enfatiza-se os recortes teóricos que ancoram a pesquisa, perfila as principais ideias sobre: natureza, memórias, cultura, território, lugar, comunidade e outras temáticas essenciais para a compreensão dos sentidos atribuídos à natureza pela comunidade rural.

No terceiro capítulo intitulado “Memórias de um lugar”, constitui-se na descrição dos resultados obtidos com a pesquisa de campo, acerca da comunidade rural Castainho e sua apresentação territorial. Por conseguinte, complementam-se às análises e discussões presentes no quarto capítulo intitulado “Memórias de um povo”, com a finalidade de destacar os principais relatos etnográficos dos representantes da comunidade rural em discussão.

Por fim, apresentam-se: as conclusões, as referências bibliográficas que ancoraram o respectivo estudo, os apêndices e os anexos.

(25)

Garanhuns, onde o nordeste garoa

Conheço uma cidade bem pernambucana Que todo mundo chama de

Suíça brasileira

Água pura, clima frio na realidade Garanhuns é uma cidade linda

e tão brejeira Garanhuns, cidade serrana.

Garanhuns, cidade jardim. Garanhuns, cidade das flores de amores

sem fim.

Garanhuns, terra de Simoa. Garanhuns, que terrinha boa. Garanhuns, onde o Nordeste garoa!

(Luiz Gonzaga,1978).

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CAPÍTULO 1 - ARCABOUÇO METODOLÓGICO

As memórias e os sentidos de natureza estão postos na relação entre o homem e a natureza, suas formas valorativas dadas pelos sujeitos em articulação com os processos educativos. Para tanto, numa perspectiva antropológica, a presente pesquisa esboça os aspectos teórico-metodológicos que apresentam em sua essência: a história oral, mediante os relatos memorialísticos; a análise dos significados e dos sentidos quanto aos atos e às palavras dos sujeitos; a produção didática memorialística, sob a forma de documentário, como parte resultante da pesquisa de campo.

A estrutura metodológica da presente tese foi desenvolvida em três caminhos distintos: (1) a descrição paradigmática da pesquisa, quanto aos métodos e técnicas aplicadas; (2) a descrição etnográfica da pesquisa, quanto aos elementos que rementem aos estudos memorialísticos e seu campo de significados; (3) a descrição territorial da pesquisa, quanto à delimitação da área de estudo, numa abordagem sobre diversos segmentos representativos da comunidade rural quilombola, denominada Castainho.

1.1

Os paradigmas metodológicos da pesquisa

A pesquisa contou com um plano de estudo bibliográfico, distribuído em etapas de aparato documental, sob o método etnográfico, através da história oral. A pesquisa foi de natureza exploratória e descritiva, em que “[...] o foco essencial reside no desejo de conhecer a comunidade, seus traços característicos, suas gentes, seus problemas, suas escolas, seus professores, sua educação, sua preparação para o trabalho, seus valores, etc.” (TRIVIÑOS, 2013, p. 110). E, teve a prerrogativa, a comunicação1 oral (BRANDÃO, 1999).

Partindo deste propósito, os estudos foram respaldados na descrição dos fatos e dos documentos históricos da realidade; correlacionando suas variáveis e por fim, documentando informações precisas sobre os espaços e sujeitos envolvidos na pesquisa. A pesquisa

1 A partir da comunicação e da aquisição de conhecimentos dos sujeitos numa visão complexa, mas também

sistêmica da realidade, pois favorece uma melhor visualização dos atores sociais envolvidos no processo da pesquisa. Atualmente, essa técnica tem sido fluente frente aos estudos em comunidades do espaço rural. Consideram-se também as indagações sobre instrumentalização científica de Brandão (1999), sobre „pesquisa participante‟, afirmando que, a pesquisa participante aproxima mais o entrevistador do seu entrevistado e do conjunto de signos presente no campo (locus) da pesquisa.

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26

se em aspectos antropológicos, com uma releitura do conhecimento local. Santos (2010, p. 76-77). enfatizar que,

sendo local, o conhecimento pós-moderno é também total porque reconstitui os projetos cognitivos locais, salientando-lhes a sua exemplaridade, e por essa via transforma-os em pensamento total ilustrado. [...] sendo local, é um conhecimento sobre as condições de possibilidade. As condições de possibilidade da ação humana projetada no mundo a partir de um espaço-tempo local. Um conhecimento deste tipo é relativamente metódico, constitui-se a partir de uma pluralidade metodológica.

Numa leitura paradigmática, os métodos científicos visam constituir-se numa (re)leitura do senso comum, embasada na prática das ações humanas que se apresentam num certo espaço, tempo e local, mas que interferem na análise dos fatos, relatos e interpretações do pesquisador.

Quanto ao paradigma da pesquisa, encontra-se ancorada na abordagem qualitativa e no paradigma antropológico de modo etnográfico, na perspectiva de analisar a comunidade rural, a partir de um enfoque sistêmico: estudando as partes da realidade que se quer conhecer, entendendo as relações mútuas entre os envolvidos e os fatos econômicos, sociais, e ambientais que explicam a realidade do cotidiano da comunidade (LAKATOS, 2010).

Nessa linha paradigmática da história oral, segundo Ricoeur (2007), há um esboço fenomenológico da memória, que fragmentado os discursos comuns da vida cotidiana, atribuem aos fenômenos mnemônicos2, isto é, parcialmente a memória está pautada num paradigma fenomenológico3, à medida que,

A primeira expressão do caráter fragmentado dessa fenomenologia deve-se ao próprio caráter objetal da memória: lembrando-nos de alguma coisa. Neste sentido, seria preciso distinguir, na linguagem, a memória como visada e a lembrança como coisa visada. Dizemos a memória e as lembranças. [...] A memória está no singular, como capacidade e como efetuação, as lembranças estão no plural: temos umas lembranças. [...] Ora, ao que chamo de experiência viva se traduz na fenomenologia husserliana; e sobre o trabalho da linguagem se põe a fenomenologia no caminho da interpretação e, portanto, da hermenêutica. [...] Pois, os fenômenos da memória são muito próximos do que realmente somos, numa obstinada resistência da reflexão total (RICOEUR, 2007, p. 41 e 43).

2 Os fenômenos mnemônicos são considerados processos verbais de registros de comunicação, embasados no

princípio de releitura e interpretação dos relatos, a partir da memorização e suas associações aos lugares, pessoas, fatos, recordações, pessoas e vivência coletivas (RICOEUR, 2007).

3 A fenomenologia é um tipo de paradigma da natureza metodológica da pesquisa, um modelo intersubjetivo

preconizado por Hurssel, que pondera a realidade construída socialmente e entendida como o compreendido, o interpretado e o comunicado. E, numa nova linguagem destaca a função mais interpretativa, seja por meio de textos ou mesmo remetendo a interpretação de uma realidade, envolvendo outros paradigmas (MARTINS, 1984).

(28)

O objeto de estudo dessa tese está posto nos sentidos de natureza atribuídos por sujeitos da comunidade rural em seus processos educativos (escola, igreja, associações, conselhos municipais, lideranças políticas e representações sociais e outros), estes se articulam e se conectam na construção de uma valoração sobre o sentido de natureza. Para tanto, a presente pesquisa foi realizada em três etapas distintas:

(1) procedimentos sociodemográficos: levantamento de dados, com base nos registros e especificidades da comunidade rural em análise;

(2) pesquisa de campo, a partir da descrição etnográfica numa abordagem qualitativa, a partir de relatos etnográficos junto aos moradores da comunidade rural quilombola do Castainho, numa amostra aleatória, contando com seis participantes, e como critérios: os mais antigos moradores daquela localidade, com idade entre 60 a 90 anos; contando com a aprovação do Comitê de Ética Nacional (Anexo 1, p. 149);

(3) produção didática (documentário, em forma de vídeo) sobre as memórias do lugar em estudo, apresentando os entrevistados e sua relação com o lugar, as pessoas e o sentido de natureza, ancorados nos principais processos educativos relacionados.

1.2

A “etnografia memorialística” da pesquisa

A pesquisa fez uso da história oral, como técnica de coleta de dados, para a obtenção dos depoimentos temáticos sobre as memórias e os sentidos atribuídos à natureza do espaço4 habitado, ou seja, os entrevistados apontaram informações sobre o lugar habitado e os processos educativos obtidos nas relações entre os membros da comunidade rural, revelando os sentidos atribuídos à natureza.

Em relação à história oral, aplicaram-se procedimentos, tais como: produção historiográfica da comunidade rural, registro no diário de campo sobre as impressões observadas na comunidade, e a realização de conversas informais para a coleta de depoimentos, que foram transcritos e analisados à luz dos referenciais teóricos.

A história oral, como técnica para coleta de dados em forma de narrativas, e a memória foram norteadoras do processo de organização dos dados coletados na comunidade,

4 Muitos conceitos são caracterizados sobre „espaço‟, seja pela geografia física, política, cultural, crítica ou

social. Partindo de uma linha sócio-espacial, numa linguagem paradigmática, apresenta-se espaço vinculado à natureza, traçado a partir de um pensar de formação conceitual, entre paisagem, espaço, lugar e território. E, partindo de uma linha da geografia cultural, Corrêa (2011) apresenta um espaço como instância da sociedade, um espaço vivido, apropriado, ou mesmo um campo de representações simbólicas.

(29)

28

registrando as experiências e as práticas cotidianas (atividades plurais e rotineiras) do ser humano, em fusão com o seu passado e seu presente. Para este fim, foi cunhado o termo “etnografia memorialística”, com vistas a amparar a análise da pesquisa de campo, esse termo foi unificado e está respaldado em estudos bibliográficos, para ampliar a capacidade de síntese dos sujeitos envolvidos na pesquisa e da análise dos dados, ancorados em autores, como: Bosi (2013), Bergson (2006), Delgado (2006), Laplantine (2004), Le Goff (1994), Thompson (1992) e outros.

A oralidade foi o principal meio de comunicação para a pesquisa, seja pelo ato de ouvir, escrever e gravar informações sobre os fatos, considerando-a como um procedimento para avaliar o processo de significação5 sobre as percepções do lugar e dos sujeitos (in locus).

Desse modo, a história oral, para Delgado (2006), pode ser utilizada como uma metodologia que resgata as informações da própria localidade e dos sujeitos pesquisados, a partir de narrativas sobre o seu lugar social e suas relações com o meio. Complementando com os conceitos sobre os sentidos da memória narrada por Thompson (1992, p. 44),ao afirmar que as histórias são construídas em torno das pessoas, pois,

elas lançam a vida para dentro da própria história e isso alarga seu campo de ação. Admite heróis não só dentre os líderes, mas dentre a maioria desconhecida do povo. Estimula professores e alunos a serem companheiros de trabalho. Traz a história para dentro da comunidade e extrai a história de dentro da comunidade

No tocante, necessário se faz destacar que, escrever e/ou analisar certa localidade a partir da história e das fontes documentais, sempre foi uma tarefa difícil de cumprir, conforme afirma Thompson (1992), por isso, registra-se de forma original a etnografia memorialística como um resgate às histórias da comunidade rural do Castainho. Assim, mediante um processo dialético, contando com informações e interpretações sobre a história dessa comunidade, que indica um percurso da história oral de forma (trans)formadora. Como acentua Thompson (1992, p. 47). “[...] a história oral propõe um desafio aos mitos consagrados da história, ao juízo autoritário inerente a sua tradição”.

O nascimento da história oral se deu após o aparecimento de uma valorização da fonte oral em relação à fonte escrita. A história oral a partir de 1970 se apresenta como um dos principais métodos para se escrever sobre outras histórias, pautados nas histórias memorialísticas de índios, negros, mulheres e outros grupo étnicos. Com base nos discursos

5 Descrição acerca das memórias que reportam à dimensão social, a partir da história daquela localidade (LE

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dessa época mais moderna, Le Goff (1994) caracteriza a importância da memória, que outrora se torna história, passando por uma recordação coletiva, logo após assume uma forma científica (através de documentos ou monumentos) e se destacam pelo seu tempo de mundo e de contato com a humanidade. Pois, “[...] A memória é crucial. A memória, como propriedade de conservar certas informações, [...] às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa como passadas” (LE GOFF, 1994, p. 423).

Nesse contexto, a memória no campo científico inserida nas ciências humanas, expõe um considerável interesse pelo uso da história oral, como um procedimento para compreender as tradições culturais de determinadas gerações. Para Le Goff (1994), há inúmeras formas de armazenamento de informações na nossa memória, seja ela coletiva, étnica, social, urbana, rural, real, cultural e eletrônica, de modo que tudo remete a um processamento de dados lavrado entre o tempo e o espaço (local habitado). Por essa razão, a história oral é fortalecida e (retro)alimentada pela memória de um povo, nação ou comunidade, realça uma recordação que essencialmente salva um passado, serve para compreender o presente e se transporta para além-fronteiras - o futuro, como defende (LE GOFF, 1994, p. 476), destacando esse estudo como sendo:

um elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, [...] Mas, a memória coletiva é não somente uma conquista, é também um instrumento e um objeto de poder. São as sociedades cuja memória social é, sobretudo oral ou que estão em vias de construir uma memória coletiva escrita que melhor permitem compreender esta luta pela dominação da recordação e da tradição, esta manifestação da memória

Para esse percurso metodológico, foi preciso fazer uso de relatos memorialísticos, isto é, etnografia, com base nos significados dos atos e das palavras, numa estreita relação entre o ato de relembrar, recorrer à memória e o contexto de sociedade na atualidade para a análise dos dados e informações dessas recordações e (re)lembranças aguçadas pela dialogicidade, como salientou Freire (1992). Diante das revelações, a etnografia e a memória se posicionam no contexto sociocultural dos indivíduos do passado para o presente (BOSI, 2013). E, nessa tese a etnografia memorialística é entendida como um processo que acolhe/articula/conecta as recordações e (re)lembranças dos sujeitos envolvidos na pesquisa, acomodando aspectos para uma releitura dos caminhos percorridos pelos sujeitos ao aguçar sua memória em nível individual ou coletiva, em benefícios e fortalecimento da comunidade numa ação de conservação da história e da propagação dos processos educativos para as gerações futuras.

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30

A recuperação das lembranças esquecidas ou guardadas, reavivadas e aguçadas pelas narrativas sobre o sentido mais amplo das ações humanas e dos laços com a natureza, proporcionam conexão entre passado com o presente, em que aciona a memória precisando ser atualizada no presente sob a forma de uma amostra do que estava oculto. Segundo Bergson (2006), trata-se de uma memória que surge a partir de questionamentos (de relatos), aplainada entre a subjetividade e a materialização do discurso. Nesse decurso, o campo etnográfico encontra respaldo na Antropologia Cultural e é caracterizada como:

o primeiro estágio da pesquisa antropológica: observação e descrição, trabalho de campo. [...] entendida como um saber científico que reivindica uma autonomia específica em relação às pesquisas bioantropológicas – distingue-se pelo modo diferente de tratar a multiplicidade, [...] por três maneiras: exibição, organização e superação (ABBAGNANO, 2012, p. 452 e 475).

Para Laplantine (2004), a reflexão acerca da etnografia se inicia como um processo descritivo, transformando o vivido em texto, na verdade, uma recordação desse vivido, que a partir da Antropologia, essa dialoga com outras áreas, mas sem confundi-las, cada uma com sua contribuição. Para ele, o objetivo da etnografia é revelar o inédito de forma natural, pois a descrição etnográfica privilegia a percepção, de forma específica trabalha com fatos sociais ou mesmo o „estudo de uma cultura‟.

A opção pela história oral na presente pesquisa se deu pelo campo historiográfico6, à medida que se permitiu ouvir pessoas comuns da comunidade, enquanto processo coletivo de recuperação de discursos oficiais (legítimos), saindo das zonas de esquecimento; uma materialização dos estudos acerca de memórias, permitindo a produção de documentos e interpretações das experiências e outras formas de ser e de viver das pessoas naquele lugar (SOBRAL, 2006).

Quanto à descrição do conteúdo das mensagens e relatos memorialísticos, para a presente estrutura bibliográfica, foi feito um construto de narrativas (produto final a ser devolvido na comunidade pesquisada), como um diário etnográfico memorialístico associado às práticas e outras vivências históricas daquela comunidade. Pois,

no trabalho com história oral, é preciso compreender e valorizar o processo de construção de narrativas. Refletir sobre como as pessoas se manifestaram e se prepararam para construir o registro narrativo de memórias. Não é a coleta de algo que já foi construído; [...] num exercício de construção do sentido narrativo por meio do

6 Terminologia aplicada sobre a história oral, um método dinâmico para se entender o processo histórico de certo

lugar, a partir do vivido (memória), reconstruindo um passado representativo de um sujeito socializador da memória (SOBRAL, 2006).

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trabalho da memória. É como trabalhar com memórias e escrever histórias. [...] Acessamos a memória por meio das narrativas criadas pelos entrevistados, por isso, é a narrativa que assume a materialidade que pode ser analisada ou interpretada. [...] Ao fazer isso, criam-se documentos com os quais se podem destacar experiências e diagnosticar identidades (RIBEIRO, 2013, p.58-60).

Para este propósito, também se buscou entender a „Filosofia do Mito‟ com um recorte sobre um modelo metodológico aplicado na Grécia no século XI a. C., que está respaldado na aplicação de técnicas de comunicação oral em uma civilização, através de instrumentos sobre o „memorável‟7.

Como uma forma de discurso, entre a história e a filosofia, a comunicação do memorável com base nos estudos de Brisson8 (2014), destaca a mitologia grega e romana ao atravessar a história de forma alegórica, mas que apresenta um contexto entre o mito e seus instrumentos de comunicação (como a linguagem poética).

Ainda para Brisson, na condição de educador, o poeta pode dar forma aos instrumentos entre a fala e a escrita, “[...] o poeta dá forma e transmite aquilo que faz a identidade de uma comunidade, sua consciência e sua cultura, [...] isso foi possível pelo tempo em que o modo de comunicação do mito permaneceu exclusivamente oral” (BRISSON, 2014, p. 22).

Além de um recorte acerca da mitologia das antigas civilizações africanas, com base na história da África Central Ocidental9, que propiciaram a leitura descritiva dos laços entre a África e o Brasil, por meio de lendas de uma cultura material entre os angolanos, congolenses e os zambianos (PANTOJA, 2011).

A partir dessa experienciação, a tese se propõe também fazer uma comunicação memorável no final da análise adotando a elaboração de um documentário sobre a história do lugar enquanto modo de vida dos sujeitos que lá estão. Corroborando com Montenegro (2010)

7 A comunicação do memorável na civilização grega no século XI a. C. se dava a partir da intervenção da escrita

com relatos do cotidiano para os deuses gregos, precisamente através de poesias, com base na crença daqueles antepassados que afirmavam que, o mito era a única forma disponível, para estabelecer uma transmissão possível para as questões vigentes.

8 Luc Brisson (2014), um filósofo canadense, considerado um dos maiores especialista de Platão, é autor de

diversas publicações dedicadas ao referido filósofo; atualmente é um cidadão francês e diretor de pesquisa no

Centre National de la Recherche Scientifique. Publicou em 2014 a segunda edição sobre a „introdução à filosofia do mito‟, como a ideologia de salvar os mitos, por meio de um estudo primoroso sobre a transmissão dos mitos da Grécia antiga e de Roma de forma assegurada e paradoxal. Seu estudo passou dados de incapacidade de verdade, mas o mesmo empenhou-se em desenvolver novos instrumentos que representem melhor tal alegoria (mitologia) durante dois milênios. Numa obra que traz um conjunto de relatos que propõe uma reflexão simplista e muito difundida sobre a ligação entre a mitologia e suas tradições (religiosas e culturais) sobre muitos eixos de discussão contemporânea, dentre eles sobre a natureza.

9 A mitologia presente na história da África Central Ocidental foi trazida junto aos seus povos para o Brasil, na

era colonial. Uma área mais virada para o oeste do que para o mundo Atlântico até o século XV, até os portugueses chegarem e apresentarem uma nova colonização, trazendo-os para o Brasil e para o Caribe. Ao que se chamava de África Antiga, que também trazia uma genuína organização social, religiosa e cultural (PANTOJA, 2011).

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32

sobre como melhor arquitetar os registros da memória, ao declarar que a construção da memória se materializa nos relatos da história oral, e pode ser realizada através de: diário, crônica, carta, relatório ou documentários diversos, em um misto de estilos, possibilitando a transmissão de ensinamentos, razões e estratégias na escolha de determinadas decisões às gerações futuras.

Com isso, para a categorização dos dados com base no delineamento dos objetivos, foi escolhida a elaboração de uma tessitura entre o tempo e a memória da comunidade10 rural do Estado de Pernambuco. O estudo etnográfico, dessas memórias, está atrelado aos modos de expressões e às fontes diretas (sujeitos da comunidade), elevando os exercícios entre os atores principais e os artefatos culturais visíveis nos processos educativos.

1.3 Os procedimentos metodológicos: uma visita à comunidade rural

A pesquisa foi desenvolvida no Agreste Meridional de Pernambuco, um território que abrange uma área de 13.113,50Km², composto por 20 municípios, com uma população total de 587.086 habitantes, dos quais 257.840 vivem na área rural, o que corresponde a 43,92% do total. Possuem 44.493 agricultores familiares, 2.609 famílias assentadas, 22 comunidades quilombolas e cinco terras indígenas e IDH médio é de 0,60, conforme ilustrado na figura 01.

A partir dos percentuais apresentados pelo Sistema de Informações Territoriais10 e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 2010-201111, a presente pesquisa contou com uma amostra probabilística estratificada proporcional da comunidade rural (amostra sistemática – variação aleatória simples).

No Agreste Meridional de Pernambuco se encontram as comunidades do espaço rural que são pioneiras em todo o estado, enquanto comunidades rurais reconhecidas (credenciadas junto aos órgãos competentes).

Nesse contexto, destaca-se como área para a pesquisa de campo a única comunidade rural que não se permitiu sofrer quaisquer mudanças em seu entorno e nem em suas áreas demarcadas: Comunidade Quilombola do Castainho, assim como se classificada como um território independente do município de Garanhuns.

10 Será pesquisada uma comunidade rural localizada no Agreste Meridional do Estado de Pernambuco, conforme

delimitação e categorização das comunidades, assim como justificativa da amostragem para o locus da pesquisa. (ver item 1.3 deste mesmo capítulo).

(34)

Para tanto, tal comunidade quilombola é apresentada pelo último documento oficial e legal acerca dos Territórios Rurais12, elaborado em 2006, a partir de um Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável do Agreste Meridional – Pernambuco (PTDRS). Segundo esse documento há uma conotação quanto à singularidade e às identidades locais, dentre outras características semelhantes existentes nos municípios que compõem o território.

Somos um Território caracterizado por atividades agrícolas e não agrícolas diversificadas (mandioca, feijão e milho) com predominância na bovinocultura leiteira e caprinovinocultura, bem como ocorrência de comunidades tradicionais (indígenas, quilombolas, pescadores artesanais) e assentados da reforma agrária, com forte tradição da agricultura familiar, além de possuir um rico patrimônio cultural - material e imaterial (PTDRS, 2006, p. 76).

Nesse local, destacam-se algumas comunidades rurais, denominadas pelo Instituto Estadual “Territórios da Cidadania” das Regiões de Desenvolvimento de Pernambuco, tais como: agricultura familiar, assentados, quilombolas e indígenas.

Figura 01 – Mapa do Brasil, Região Nordeste, Estado Pernambuco, Agreste Meridional e Garanhuns

Fonte: Base Cartográfica Contínua do Brasil – IBGE, 2015. Elaboração: Andressa Almeida, 2017.

12 Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável do Agreste Meridional – Pernambuco (disponível em

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34

Ainda segundo o Instituto Estadual “Territórios da Cidadania”, essas comunidades se classificam como as mais antigas nessa microrregião e nelas predominam um rico patrimônio cultural, bem como a concentração de maior número populacional em todo o Agreste Meridional de Pernambuco. Vale salientar que, algumas comunidades atrelam em suas vivências cotidianas práticas em comum, a exemplo da agricultura familiar.

Com essa estratificação, a pesquisa foi realizada na Comunidade Rural, denominada de Castainho, situada no Agreste do Estado de Pernambuco, que tem como cidade polo, o município de Garanhuns, localizado no Planalto da Borborema, situado a 230 km da capital do Estado, conforme características apresentadas pelo PTDRS, como exposto a seguir na figura 02.

Figura 02 – Localização do Planalto da Borborema no município de Garanhuns - PE

Acesso à entrada principal da cidade de Garanhuns, pela BR 232, sentido leste, oriundo da capital do estado. Contínuas subidas até o alto do planalto, entre as sete colinas, avistando a cidade de Garanhuns ao norte da imagem.

Fonte: do autor, 2017.

As comunidades quilombolas nessa localidade, segundo Gomes (2015), um levantamento atual de dados acerca dos mocambos e quilombos no território nacional

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brasileiro, revela que: todo o território do estado de Pernambuco compreende um total de 174 (cento e setenta e quatro) comunidades quilombolas, sendo 25 (vinte e cinco) presentes no Agreste Meridional, e destas, 8 (oito) comunidades estão lotadas no município de Garanhuns (cidade polo da referida microrregião do estado), são elas: Cabeleiras, Caluete, Castainho, Estiva, Estrela, Sapo, Tigre e Timbó.

Porém, dessas oito, três não se consideram culturalmente como quilombolas, também atrelam outras perspectivas culturais e sociais: Estiva, Estrela, Tigre, por serem vizinhas (muito próximas, denominadas ultimamente como sítios circunvizinhos de Garanhuns) e tendo assumido uma identidade mais focal com a representação cultural e social de Garanhuns, conforme Silva Júnior (2009).

A figura 03 a seguir, apresenta todo o mapeamento das comunidades quilombolas que estão localizadas no Estado de Pernambuco, com base na circunscrição e localização.

Figura 03 – Mapeamento de todas as comunidades quilombolas do Estado de Pernambuco

Fonte: Base Cartográfica do Brasil – IBGE, 2015.

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As comunidades de Caluete13, Cabeleira e Sapo estão numa extensão mais distante de Garanhuns, e se consolidam com veemência a outros municípios que limitam suas áreas territoriais, a que se encontram em processo de reconhecimento de apropriação de terras quilombolas, com base nos documentos federais de ocupação de terras para o campesinato negro no Brasil (SILVA JÚNIOR, 2009).

Entretanto, a comunidade do Timbó (vizinha ao município de Garanhuns) tem movimentado os estudos acerca de suas identidades na perspectiva de ser reconhecida como uma comunidade quilombola, perante a Fundação Cultural Palmares14, titulação consentida à principal comunidade remanescente de Palmares: comunidade rural quilombola „Castainho‟(SILVA JÚNIOR, 2009).

A comunidade rural do Timbó tem mantido ao longo dos anos uma estreita relação cultural com Castainho, entre associações, projetos de agricultura familiar, atividades culturais e outros planos afins; atualmente, enquanto o Timbó se destaca com o artesanato, o Castainho se destaca com a farinha de mandioca.

Segundo Silva Júnior (2009), a comunidade quilombola do Timbó apesar de pertencer territorialmente à Garanhuns, abrange os municípios de Palmeirina, São João e Correntes, se diferenciando um pouco das relações com a cidade de Garanhuns, e apesar de ser uma comunidade mais recente (quanto ao campesinato negro no Brasil) tem tentado ser reconhecida em sua etnia, visando novas políticas públicas para o seu desenvolvimento agrário.

Contudo, no que tange à área de estudo em análise, conforme documentos históricos de Monteiro (1985), a comunidade Castainho15 se sobressai diante das demais comunidades quilombolas, por que:

(1) foi a primeira comunidade do estado de Pernambuco a ser reconhecida como uma comunidade quilombola, seguida apenas da comunidade Conceição das Crioulas (no município de Salgueiro), pioneiras durante muitos anos na classificação de quilombos do campesinato negro no Brasil;

13 Tem o reconhecimento pela FCP mas não tem participado de movimentos culturais e nem de projetos de

desenvolvimento agrário, situação que não tem favorecido sua permanência nesta titulação (SILVA JÚNIOR, 2009).

14 Fundação Cultural Palmares (FCP), principal titulação e certificação nacional máxima destinada às

comunidades remanescentes de cidade de Palmares, descendentes de africanos escravizados que mantêm tradições culturais, de subsistência e religiosas ao longo dos séculos. (Disponível em http://www.palmares.gov.br/ . Acesso em: 25 de jul. 2016).

15 Reconhecimento de terras para o desenvolvimento local – agrário e cultural. Registro do FCP, sob código no

IBGE n. 2606002 de 10/12/2004. (Disponível em http://www.palmares.gov.br/ . Acesso em: 25 de jul. 2016). Ver documentos comprobatórios em anexo.

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(2) é a comunidade mais antiga a participar como remanescente do Movimento Quilombola do Estado de Pernambuco, (ver Anexo 5, p. 150, documentos comprobatórios);

(3) tem como titulação máxima a certificação nacional da Fundação Cultural Palmares; (4) tem uma autônoma liderança interna e representação política no estado, favorecendo a prospecção de projetos federais e planos de desenvolvimento agrário;

(5) para o Instituto Histórico e Geográfico de Garanhuns (IHGG, 2016), a comunidade Castainho surgiu no município de Garanhuns antes mesmo dessa ser reconhecida como cidade, ocupando um dos seus montes serranos por anos, no século XVII, refugiando-se da escravidão e oriundos de Palmares.

Por conseguinte, destacam-se na figura 04 duas imagens que expõem a comunidade quilombola do Castainho, com base na localização ao sul e ao norte da cidade de Garanhuns-PE, demonstrando seus limites e paisagens vigentes ao ambiente natural que está situada.

Figura 04 – Imagens da localização geográfica da Comunidade Quilombola Castainho

Foto 1 – Entrada principal, localizada ao sul do território da comunidade, próximo ao vale do Rio Mundaú, sentido estado de Alagoas.

Foto 2- Vista completa da comunidade, com localização mais ao norte do território da comunidade, com mais proximidades dos limites territoriais do município de Garanhuns-PE.

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38

A partir dessa análise qualitativa, justificadas por: estrutura organizacional, caracterização rural, tempo de existência, número de população, participação na agricultura e desenvolvimento local, permanência às origens e histórico cultural, dentre outros fatores, o presente levantamento vem expor os dados sobre a Comunidade Quilombola do Castainho,

com distância apenas de 4 km do centro do município de Garanhuns, como exposto na figura 05, na página seguinte.

Figura 05 – Mapa de Localização da Comunidade Quilombola Castainho

Fonte: Base Cartográfica Contínua do Brasil – IBGE, 2015/INCRA, 2017. Elaboração: Andressa Almeida, 2017.

Neste aspecto Magalhães (2003), aponta para a importância de se estudar metodologicamente um lugar e suas dimensões: culturais, ambientais, econômicas, sociais, políticas e outras, e ao optar por uma dimensão cultural, por exemplo, explica-se como alcançar um cenário desejado quanto à conservação em certa localidade.

A comunidade rural do Castainho se reporta como locus da pesquisa de campo, também por que, segundo as descrições atuais do Instituto Histórico e Geográfico de Garanhuns (IHGG, 2016), que foi fundado em 2012 a partir de pesquisas junto ao grupo de

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estudos “Garanhuns através dos tempos” – pesquisa e reflexão sobre a história municipal: nessa comunidade se encontram indivíduos que conservam seus costumes, crenças e forma paternalista; vivem da agricultura familiar; mantêm grupos folclóricos que remetem às origens de sua etnia; conservam o ambiente natural como um bem, a partir da leitura de terra dos ancestrais; limitam-se ao território que estão inseridos, sem almejar políticas externas do município, o qual está inserido; e são habitantes que festejam, plantam e colhem a partir de suas tradições (ver Apêndice 3, p. 147), quanto ao Termo de Consentimento outorgado pelo líder comunitário e representante legal da comunidade pesquisada.

Para tanto, o capítulo seguinte apresenta um panorama sobre as reflexões teóricas acerca da relação homem versus natureza, com a finalidade de descrever algumas abordagens teóricas tendo como destaque: os sentidos de natureza; o tempo e as memórias; as relações entre a cultura de um povo e o lugar a que pertence, com um breve recorte da história dos quilombos e sua herança cultural no Brasil; e por fim, os processos educativos em comunidades rurais.

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CAPÍTULO 2 - O HOMEM, O TEMPO E A NATUREZA

Memórias dos homens

O homem não possui, como outros animais, apenas a memória, que consiste na lembrança

imprevista do passado, mas também a reminiscência,

que é quase fazer silogismos buscando a lembrança do passado.

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