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Relatório Detalhado de Atividade Profissional 2006 - 2012

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FACULDADE DE LETRAS

UNIVERSIDADE DO PORTO

Ângelo Miguel Alvarrão Carreto

2º Ciclo de Estudos em

Mestrado de Riscos, Cidades e Ordenamento do Território

Relatório Detalhado de Atividade Profissional 2006-1012

2012

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Helena Madureira

Classificação: Ciclo de estudos: Mestrado

Dissertação/relatório/Projeto/IPP:

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RELATÓRIO DETALHADO DA ATIVIDADE PROFISSIONAL 2006-2012 ÂNGELO CARRETO VD.MRCOT.AC.13.02 ÍNDICE Pág. ii

ÍNDICE

RESUMO... 1 1. ENQUADRAMENTO ... 3

2. O PAPEL DA CONSULTORIA TÉCNICA NA INDÚSTRIA EXTRATIVA ... 4

2.1. AVISA CONSULTORES,S.A... 5

3. ENQUADRAMENTO JURÍDICO PARA A INDÚSTRIA EXTRATIVA ... 7

4. PRÁTICA PROFISSIONAL... 9

4.1. APRENDIZAGEM E COMPETÊNCIAS TÉCNICO-CIENTÍFICAS ADQUIRIDAS... 9

4.2. DESCRIÇÃO DETALHADA DO PERCURSO PROFISSIONAL... 10

4.2.1.A Avaliação de Impactes nos Fatores Ambientais da minha área de especialização... 12

4.2.1.1.A Paisagem ... 15

4.2.1.2.Solos e Uso dos Solos ... 17

4.2.1.3.O Ordenamento do Território... 19

4.2.2.O Projeto de Recuperação Paisagística ... 22

4.2.2.1.Intervenção/Conceção... 25

4.2.2.2.Possibilidades de Usos Pós-Indústria Extrativa... 27

4.3. ESTUDOS E PROJETOS DESENVOLVIDOS... 30

5. ESTUDO DE CASO – O PROJETO INTEGRADO DO NÚCLEO DE PEDREIRAS DA MATA DE SESIMBRA ... 42

5.1. INTRODUÇÃO E ANTECEDENTES DE PROJETO... 42

5.2. OPLANO DE PORMENOR DA ZONA SUL DA MATA DE SESIMBRA... 44

5.3. AVALIAÇÃO DE IMPACTES AMBIENTAIS... 46

5.4. OPROJETO INTEGRADO... 49

5.5. RESUMO CRÍTICO AO PROJETO... 66

6. BREVE ANÁLISE PROSPETIVA PARA A INDÚSTRIA EXTRATIVA E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO EM PORTUGAL ... 68

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 70

BIBLIOGRAFIA... 72

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Estrutura organizacional da Visa Consultores, SA ... 6 Figura 2 – Situação em ambiente de trabalho numa pedreira de xisto em Foz Côa... 11 Figura 3 - Associação dos impactes com a intervenção humana no ambiente onde se insere. (OREA, 1999) ... 13 Figura 4 – Esquema dos diferentes tipos de intervenção na recuperação de pedreiras... 24 Figura 5 – Área de pastoreio resultante da reconversão de uma antiga Mina de Carvão (Nova Escócia, Canadá)... 28 Figura 6 – Campo de golfe instalado numa antiga pedreira (Colorado, EUA)... 28 Figura 7 – Estádio Municipal de Braga. ... 29 Figura 8 – Localização das áreas de intervenção dos Estudos e Projetos desenvolvidos em Portugal ... 31 Figura 9 – Imagens da evolução da recuperação paisagística (2003-2011) com enchimento parcial da área de escavação... 53 Figura 10 – Imagens da evolução da recuperação paisagística (2005-2011) com recurso ao enchimento mínimo modelação topográfica das margens das lagoas. ... 54 Figura 11 – Imagens da evolução da recuperação paisagística (2003-2011) com recurso ao enchimento mínimo e modelação topográfica das margens das lagoas. ... 56 Figura 12 – Imagens com a evolução da criação dos lagos (2007-2011) através da modelação topográfica e recuperação paisagística... 57 Figura 13 – Imagens da evolução da recuperação paisagística (2005-2011) nos lagos

resultantes da escavação abaixo do nível freático... 58 Figura 14 - Evolução da recuperação paisagística nos lagos (2004-2011) resultantes da escavação abaixo do nível freático... 59 Figura 15 – Evolução da recuperação paisagística nos lagos (2004-2011) resultantes da escavação abaixo do nível freático... 60 Figura 16 – Desenho esquemático da recuperação paisagística no núcleo norte (ver planta detalhada no Anexo – Desenho 7)... 62 Figura 17 – Desenho esquemático da recuperação paisagística no núcleo este (ver planta detalhada no Anexo – Desenho 7)... 63 Figura 18 – Desenho esquemático da recuperação paisagística no núcleo sul (ver planta detalhada no Anexo – Desenho 7)... 64 Figura 19 – Funções da recuperação paisagística propostas para a área do PINPMS (ver perfis detalhados no Anexo – Desenho 9)... 65

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RESUMO

No âmbito do presente relatório, proponho-me apresentar o meu percurso e experiência profissional, após conclusão da licenciatura pré-Bolonha em Arquitetura Paisagista (Janeiro de 2006), adquirida em empresas de projeto e assessoria técnica especializadas em indústria extrativa/mineira. Destas, destaca-se a Visa Consultores de Engenharia e Geologia Aplicada S.A., líder de mercado em Portugal nesse setor de atividade, onde exerço, desde Agosto de 2006, funções de projetista, consultor e coordenador de projeto. Ao longo deste percurso, fui desenvolvendo como principais competências técnico-científicas a análise, avaliação e ponderação global dos impactes ambientais relativos a projetos mineiros no que diz respeito à Paisagem, aos Solos e Usos do Solo e ao Ordenamento do Território, bem como o estabelecimento de medidas de minimização e compensação desses impactes, no âmbito da Recuperação Ambiental e Paisagística.

No percurso académico destaco, para além da já referida licenciatura em Arquitetura Paisagista, a especialização em Politicas Urbanas e Ordenamento do Território, obtida no ano letivo 2009/2010, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, a qual permitiu acrescentar conhecimento científico e atualizar conceitos e informações importantes, sobretudo no âmbito da prospetiva e instrumentos de planeamento, ordenamento e gestão territorial, que apliquei no desenvolvimento da minha atividade profissional.

Com o presente relatório pretendo, assim, apresentar uma visão pessoal e profissional numa área de serviço que é pouco explorada pela generalidade da população em Portugal, apesar da sua importância económica, ambiental e social para o país.

De fato, a exploração de recursos minerais é uma atividade económica que, em Portugal, apresenta uma história e tradição relevantes, refletida nas várias minas e pedreiras existentes de Norte a Sul do país, algumas das quais iniciadas durante o período de ocupação romana e que, ao longo dos anos, foram sendo exploradas conforme as necessidades do mercado.

Dessas, importa referir pelo seu interesse nacional, as minas e reservas existentes de minerais metálicos de Ouro, de Prata e de Cobre. Sendo também historicamente muito importantes a exploração e as reservas existentes de volfrâmio na Beira Interior, as pirites no Baixo Alentejo e o Urânio no Alto Alentejo e Beira Alta (estas últimas em fase de recuperação ambiental e paisagística, por decisão política). Destacam-se ainda as

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explorações existentes de rocha ornamental (como é o caso do calcário, do granito ou do xisto), cada vez mais procuradas pelos países emergentes, nomeadamente, a China, a Índia ou os Emirados Árabes Unidos.

Nesse sentido, a existência de regulamentação e legislação relativas à atividade mineira e de instrumentos de planeamento e ordenamento do território adequados é essencial para garantir uma boa gestão desses recursos, bem como melhorar os critérios de sustentabilidade económica e ecológica global.

Para tal, as empresas de consultoria independentes, especializadas em geologia aplicada e gestão ambiental, registam um papel de relevo no mercado e na sociedade, uma vez que podem fornecer aos seus clientes, na área de indústria extrativa, um acompanhamento legislativo e técnico nas mais variadas vertentes, desde a fase primordial de licenciamento até à desativação e encerramento da exploração.

Essa possibilidade representa, por si só, um fator de prevenção de forma a que não sejam cometidos erros do passado, os quais contribuíram para o elevado passivo ambiental provocado pela exploração dos recursos minerais de forma não sustentável e para a ideia implementada de que a exploração de pedreiras e minas afeta, de forma indeterminada e negativa, o ambiente e a saúde pública.

Para além de uma descrição detalhada das principais funções desempenhadas, enquanto projetista e consultor nas áreas de recuperação ambiental e paisagística, avaliação de impactes ambientais focalizada nos descritores paisagem, solos e usos do solo e ordenamento do território no âmbito de projetos de indústria extrativa, explicitam-se ainda competências de reflexão teórica, apresentando os princípios base subjacentes à prática da atividade profissional, bem como o resultado do trabalho realizado através de uma análise crítica fundamentada ao mesmo.

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1.

ENQUADRAMENTO

O presente relatório tem como objetivo a apresentação e descrição do meu percurso e atividade profissional, após conclusão da licenciatura pré-bolonha em Arquitetura Paisagista, no âmbito da área de trabalho que desenvolvo em planeamento, consultoria ambiental e projeto em indústria extrativa, nomeadamente, a avaliação de impactes sobre os fatores ambientais relativos à Paisagem, Solos e Uso dos Solos e Ordenamento do Território bem como o desenvolvimento de planos de integração e recuperação ambiental e paisagística de áreas degradadas pela exploração de recursos minerais. Para tal, ao longo do presente relatório, pretendo explanar de forma simples e concisa, as principais áreas científicas e técnicas onde especializei a minha atividade profissional, atendendo sempre que possível, à visão do projetista no âmbito da experiência em ambiente de trabalho numa temática que é indissociável dos problemas ambientais e das políticas portuguesas de ordenamento do território, como é o caso da Indústria Extrativa.

Pretendo assim expor e partilhar conceitos e definições adquiridos ao longo do meu percurso profissional e académico (nomeadamente com a especialização em Políticas Urbanas e Ordenamento do Território), apresentando, deste modo, uma potencial mais-valia para os interessados em desenvolver teórica e tecnicamente estudos e projetos nessa área.

A minha atividade profissional, que proponho descrever detalhadamente, é indissociável da área de negócio da consultoria ambiental e geologia aplicada, e, nesse papel, destaco a empresa Visa Consultores, S.A., onde adquiri e desenvolvi as minhas principais competências técnicas e científicas ao longo do meu percurso profissional.

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2.

O PAPEL DA CONSULTORIA TÉCNICA NA

INDÚSTRIA EXTRATIVA

Desde o período paleolítico, o Homem começou a usar as primeiras pedras para seu próprio benefício, através da construção de ferramentas ou armas, passando depois pela descoberta, já no período neolítico, dos metais, como o bronze, o ferro e o cobre. A procura pelos melhores recursos minerais desempenhou, desde essa altura, um papel essencial na sobrevivência e na evolução da humanidade como hoje a conhecemos.

Portugal possui uma fortíssima tradição mineira, basta atentarmos nas inúmeras explorações de cobre, estanho, volfrâmio, ferro, urânio, ouro e prata, algumas das quais iniciadas durante o período de ocupação romana e que, ao longo dos anos, têm vindo a ser exploradas em conformidade com as necessidades de mercado, fatos que traduzem a potencialidade do país nesse setor.

No entanto, o modo como essas explorações foram conduzidas ao longo dos tempos, contribuiu para a existência de um passivo ambiental bastante negativo onde as mesmas se localizavam, devido sobretudo à ausência de controlo sobre os efluentes líquidos produzidos durante os processos de separação e posterior lavagem do minério, muitas vezes perigosos para o ambiente e para a saúde pública (STEVENS, 2010).

Essa atividade mineira foi-se desenvolvendo praticamente até aos dias de hoje, sem qualquer tipo de preocupação de cariz ambiental, baseando-se apenas na máxima rentabilização e aproveitamento económico das jazidas, o que provocou sérios problemas ambientais e de saúde pública, mesmo após o encerramento das explorações (BARROQUEIRO, 2005).

Não obstante os problemas de índole ambiental, as explorações mineiras contribuíram decisivamente para o desenvolvimento económico e social de regiões particularmente desfavorecidas, situadas muitas vezes no interior profundo do País, onde as alternativas de emprego são escassas ou nulas (D. CARVALHO, 2005).

Contudo, as crescentes preocupações ambientais surgidas, sobretudo a partir dos anos oitenta, revelam uma cada vez maior preocupação na legislação no que diz respeito à indústria extrativa face ao seu impacte no ambiente. Atualmente, existe um esforço muito maior, assim como um controlo por parte das autoridades ambientais e económicas para a

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existência de um maior e melhor planeamento das explorações, desde a sua fase de prospetiva e de projeto, até à sua desativação e encerramento, em perfeitas condições ambientais e de segurança (STEVENS, 2010).

Em Portugal podem destacar-se três grandes explorações mineiras atualmente em atividade, cuja dimensão demonstra que o setor possui grande relevância em termos internacionais: as minas de Neves Corvo, as minas de Aljustrel e as minas da Panasqueira. De fato, essas três explorações, localizadas em locais bastante despovoados do interior Beirão e Alentejano de Portugal, registam-se entre as maiores produtoras de concentrados de tungsténio, cobre e zinco de toda Europa.

Nesse sentido, a consultoria técnica especializada em geologia aplicada e gestão ambiental, desempenha um papel fundamental no mercado e na sociedade, uma vez que podem fornecer aos seus clientes, na área de indústria extrativa, um acompanhamento legislativo e técnico nas mais variadas vertentes, desde a fase primordial de licenciamento até à desativação e encerramento da exploração.

2.1.

A

V

ISA

C

ONSULTORES

,

S.A.

A Visa Consultores de Geologia e Aplicada e Engenharia do Ambiente, S.A. é uma empresa de consultoria, fundada em 1992, especializada no domínio da Geologia Aplicada e Gestão Ambiental.

A empresa tem como princípio a resolução de problemas, baseando-se na máxima “Aceitar Desafios, Produzir Soluções”, procurando compatibilizar as questões ambientais com os imperativos industriais e de desenvolvimento económico.

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Figura 1 – Estrutura organizacional da Visa Consultores, SA

Para além de marcar presença em todo o território nacional, a Visa Consultores tem desenvolvido vários estudos e projetos a nível internacional, nomeadamente, em Angola, Abu Dhabi, Arábia Saudita, Brasil, Espanha, Gana, Líbia, Moçambique, Namíbia, Síria e Tunísia.

Para tal, dispõe nos seus quadros técnicos de uma equipa multidisciplinar, com uma vasta experiência na oferta de serviços para a indústria extrativa, desde a fase de prospeção e pesquisa de recursos minerais até ao encerramento da atividade, passando pelos estudos, avaliações, licenciamentos ou acompanhamentos técnicos permanentes.

Atualmente, integro a direção de Ambiente, desempenhando as funções de coordenação de projeto, sendo responsável pelas áreas técnico-científicas da Paisagem, Solos e Uso dos Solos, Ordenamento do Território e Recuperação Ambiental e Paisagística.

ADMINISTRAÇÃO

Direção Geral, Comercial, Marketing e I&D

Gestão Financeira Administrativo Suporte

Qualidade Direção de Produção Segurança e Saúde Direção de Ambiente Direção de Geologia Direção de Engenharia Consultoria Estudos e Projetos Laboratório

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3.

ENQUADRAMENTO JURÍDICO PARA A INDÚSTRIA

EXTRATIVA

O setor da indústria extrativa é, provavelmente, um dos que se rege por mais regulamentações jurídicas a nível ambiental e de ordenamento do território, dadas as suas amplas implicações no ambiente e na saúde pública. Nesse sentido, Portugal possui uma vasta regulamentação e legislação, que tem como principal objetivo controlar e mitigar os impactes ambientais provocados por esse tipo de atividade.

Neste capítulo é apresentada a principal legislação que regulamenta o setor e que é indissociável da atividade profissional de consultoria e projeto que nesse âmbito desenvolvo.

De acordo com Decreto-Lei n.º 69/2000, de 3 de Maio (com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei nº 197/2005, de 8 de Novembro, que o republica, bem como pela Declaração de Rectificação n.º2/2006, de 6 de Janeiro), os projetos que, pela sua natureza, dimensão ou localização sejam considerados suscetíveis de provocar incidências significativas no ambiente, como é o caso da indústria extrativa (ver Anexo II do referido Decreto-Lei), têm que ser sujeitos a um procedimento prévio de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA), como formalidade essencial para a sua aprovação/licenciamento por parte do ministro da tutela e do membro do governo responsável pela área do Ambiente.

Para além disso, o licenciamento de uma exploração mineira a céu aberto encontra-se regulamentado pelo Decreto-Lei n.º 270/2001, de 6 de Outubro, alterado e republicado pelo Decreto-Lei n.º 340/2007, de 12 de Outubro, no qual se estabelecem as normas para o seu projeto, exploração, encerramento e desativação. Para dar cumprimento a esse decreto-lei é necessário elaborar um Plano de Pedreira, devidamente aprovado pelas entidades da tutela, no qual se estabelecem as regras e formas de exploração.

O Plano de Pedreira é um documento extenso que engloba o Plano de Lavra e o Plano Ambiental e de Recuperação Paisagística (PARP), no qual a equipa projetista, em função do desejo e/ou disponibilidade do promotor, pode dar azo à sua criatividade e encontrar soluções de exploração/recuperação alternativas que possam trazer outras mais-valias à região onde o projeto se enquadra.

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De acordo com a legislação acima referida “…Plano Ambiental e de Recuperação Paisagística é o documento técnico constituído pelas medidas ambientais e pela proposta de solução para o encerramento e a recuperação paisagística das áreas exploradas” (Decreto-Lei n.º 270/2001, de 6 de Outubro).

O PARP é composto fundamentalmente por dois elementos técnicos, o Plano de Encerramento e Desativação e o Plano de Recuperação, onde se consignam as medidas e operações a efetuar, de forma a proporcionar à área de intervenção as condições adequadas de ambiente e segurança.

A exploração de um recurso mineral encontra-se ainda condicionada em áreas com importância para a conservação da natureza, como é o caso das Áreas Protegidas, áreas de Rede Natura 2000, da Reserva Ecológica Nacional (REN) ou da Reserva Agrícola Nacional (RAN).

Adicionalmente, o licenciamento da exploração de uma pedreira ou mina em território nacional encontra-se condicionado pela existência de uma série de legislação complementar que pode, por vezes, restringir as expetativas dos promotores do projeto.

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4.

PRÁTICA PROFISSIONAL

4.1.

A

PRENDIZAGEM E COMPETÊNCIAS TÉCNICO

-CIENTÍFICAS ADQUIRIDAS

Os conhecimentos adquiridos no âmbito da licenciatura, pré-bolonha, em Arquitetura Paisagista foram um contributo essencial na base do meu percurso profissional, nomeadamente, no que diz respeito às áreas científicas de Planeamento e Ordenamento do Território, Arquitetura Paisagista, Estética da Paisagem, Avaliação de Impacte Ambiental e Recuperação/Requalificação da Paisagem.

Após conclusão da referida licenciatura o meu percurso académico e profissional esteve, como já referido anteriormente, permanentemente ligado à área de planeamento territorial numa vertente de análise e avaliação de impactes ambientais na Paisagem, Solos e Uso dos Solos e no próprio Ordenamento do Território do local e da região do projeto ou da área de intervenção em estudo.

A oportunidade de desenvolver a minha atividade profissional em exclusivo nessa vertente, garantiu a possibilidade de aprofundar fundamentos teóricos e técnicos nesse âmbito que, a par da prática obtida no terreno, representam uma mais-valia na minha experiência profissional.

A especialização em Políticas Urbanas e Ordenamento do Território obtida no ano letivo 2009/2010, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, veio preencher uma lacuna que possuía face à atualização de informação, definições e conceitos vários na área de Planeamento e Ordenamento Territorial, alargando os meus conhecimentos em termos de política urbana, estratégia e prospetiva territorial.

De um modo geral, a especialização em Politicas Urbanas e Ordenamento do Território permitiu aperfeiçoar os seguintes aspetos em termos profissionais:

• Planeamento e Ordenamento do Território integrando as áreas de indústria extrativa pós-desativação.

• Maximização de valências do território em causa, contemplando as necessidades e populações locais.

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• Sustentabilidade socioeconómica, ambiental e cultural das áreas recuperadas. Avaliação das necessidades futuras das cidades e o seu planeamento integrado com as áreas de Indústria Extrativa.

• Vantagens para as cidades face à integração das áreas de indústria extrativa existentes, considerando que se trata de um uso temporário do solo e que, no final da exploração, essas áreas degradadas poderão vir a ser requalificadas em benefício da cidade e das populações locais.

• Análise das vantagens para o setor da indústria extrativa, face à integração pós-desativação das áreas degradadas nos planos municipais de ordenamento do território.

Desde o início do meu percurso profissional, foi sempre minha intenção beneficiar dos conhecimentos científicos adquiridos em âmbito académico em prol das empresas onde trabalhei, com o objetivo de contribuir com inovação e evolução nas práticas existentes. Nesse sentido a licenciatura em Arquitetura Paisagista primeiramente e a posterior especialização em Politicas Urbanas e Ordenamento do Território, permitiram-me adquirir uma maior abrangência de matérias científicas atualizadas sobre as áreas em que desenvolvo a minha atividade profissional, conforme é possível verificar nos pontos seguintes.

4.2.

D

ESCRIÇÃO DETALHADA DO PERCURSO PROFISSIONAL

A minha principal atividade profissional baseia-se no desenvolvimento de estudos e projetos para a indústria extrativa, estando integrado em equipas multidisciplinares que incluem, também, engenheiros do ambiente, engenheiros de minas, geólogos, geógrafos, sociólogos, biólogos, arqueólogos, economistas, equipas essas dirigidas por um coordenador de projeto que possui um vasto conhecimento dos requisitos administrativos, processuais e técnicos do processo a desenvolver, face ao local, região ou país, onde o mesmo se insere.

Enquanto técnico, é minha responsabilidade desenvolver e fundamentar os estudos e relatórios que caraterizam e analisam os fatores ambientais da área em análise, através de parâmetros qualificativos e quantitativos relacionados com o ordenamento do território, a

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paisagem e os solos e uso dos solos, bem como os projetos ligados à integração e recuperação ambiental e paisagística.

Ao longo dos capítulos seguintes, apresento as áreas científicas nas quais, desenvolvi e adquiri maior aptidão técnica, através da elaboração de estudos e planos, tendo como objetivo a caraterização de situações de referência e avaliação de impactes ambientais resultantes da implantação de projetos de indústria extrativa e, complementarmente, a definição de medidas minimizadoras e compensatórias dos impactes negativos significativos recorrendo, nesse âmbito, à elaboração de planos de gestão e recuperação das áreas intervencionadas ao nível dos fatores ambientais da minha área de competência, ou seja, a análise do ordenamento do território, da paisagem, da qualidade dos solos e da sua capacidade de uso, bem como a definição de usos e funções para o território afetado, com vista a um enquadramento ambiental mais eficaz.

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A Avaliação de Impactes nos Fatores Ambientais da minha área de

especialização

A Avaliação de Impactes Ambientais (AIA) é um dos principais instrumentos na política de ambiente e planeamento territorial, permitindo identificar os impactes potenciais de um projeto e, face aos mesmos, determinar as medidas de mitigação adequadas para o ambiente onde se insere.

Segundo Partidário, “na sua base está o princípio, muito simples, da avaliação prévia das relações de causa-efeito, sendo as causas representadas pelas acções de investimento e projectos de desenvolvimento, e os efeitos pelas suas consequências ambientais, sociais e económicas, passíveis de serem interpretadas com critérios específicos e medidas segundo uma escala de impacte” (PARTIDÁRIO, 2003, p.53).

A mesma autora defende também que “a AIA desenvolve-se então como um instrumento de avaliação global, através do qual se tenta dar uma justa consideração tanto às questões ambientais como às sociais, económicas, políticas e técnicas no processo de decisão, promovendo-se a prevenção dos impactes evitáveis bem como a minimização daqueles que são inevitáveis, tendo em conta as percepções dos diferentes agentes da sociedade.” (PARTIDÁRIO, 2003, p. 53).

O processo de AIA é caraterizado pela sua multidisciplinaridade pelo que, para desenvolver um estudo dessa natureza, são necessários técnicos especializados em várias áreas científicas, de modo a desenvolver adequadamente todos os elementos que o constituem, nomeadamente o Estudo de Impacte Ambiental (EIA). Esse deverá ser um processo credível, imparcial e tecnicamente aceitável, em conformidade com a legislação e regulamentação em vigor. (MORRIS, THERIVEL, 2001)

Os impactes ambientais estão associados a qualquer atividade humana no território, sobretudo quando essa atividade é estabelecida num ambiente pouco perturbado ao nível do uso humano. Nesse sentido, considerando a maior ou menor interferência do tipo de atividade nesse ambiente, o impacte ambiental pode ter mais ou menos significância (Figura 3).

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Figura 3 - Associação dos impactes com a intervenção humana no ambiente onde se insere. (adaptado de OREA, 1999)

Desde que uma atividade se encontre sujeita a AIA, existem várias fases pelas quais o respetivo projeto terá de passar nomeadamente, a apresentação de uma Proposta de Definição de Âmbito (PDA) – fase preliminar e facultativa do procedimento de AIA, na qual a autoridade de AIA1 identifica, analisa e seleciona as vertentes ambientais

significativas que podem ser afetadas por um projeto e sobre as quais deverá incidir o EIA.

Estudo de Impacte Ambiental

O EIA é um documento elaborado pelo proponente2 do projeto, no âmbito do procedimento

de AIA, sendo constituído por um Relatório Síntese, Anexos, Relatórios Técnicos (sempre que necessário) e um Resumo Não Técnico3 (RNT).

No EIA deverá ser efetuada uma descrição sumária do projeto, a identificação e avaliação dos impactes prováveis, positivos e negativos, que a realização da atividade poderá ter no ambiente, a evolução previsível da situação de fato sem a realização do projeto, as medidas de gestão ambiental destinadas a evitar, minimizar ou compensar os impactes negativos identificados e respetivos fatores ambientais a considerar que, de um modo geral, se

1 Autoridade de AIA – entidade responsável por coordenar e gerir administrativamente os vários procedimentos de AIA

previstos no respetivo regime legal, promover a participação pública, conduzir a pós-avaliação ambiental e detetar e dar notícia do incumprimento do disposto no diploma à autoridade competente para a instrução dos processos de contra-ordenação.

2 Pessoa individual ou coletiva, pública ou privada, que formula um pedido de autorização ou de licenciamento de um

projecto.

3 O RNT é um documento fundamental do EIA de suporte à participação pública, que descreve, de forma coerente e

sintética, numa linguagem e com uma apresentação acessível à generalidade do público, as informações constantes do respetivo EIA.

Atividade Humana

Efeito no ambiente

Interpretação ou significado ambiental em termos da qualidade da vida humana: IMPACTE AMBIENTAL

Nas suas caraterísticas

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referem ao Clima, Geologia e Geomorfologia, Recursos Hídricos e Qualidade da Água, Qualidade do Ar, Ruído, Flora e Fauna, Paisagem, Solos e Uso dos Solos, Ordenamento do Território, Arqueologia e Património Cultural, e Socioeconomia.

Após a sua conclusão, o EIA deverá ser entregue nas entidades responsáveis pela sua apreciação e revisão técnica e, seguidamente, ser sujeito à decisão ambiental sobre a sua viabilidade, designada por Declaração de Impacte Ambiental4 (DIA).

A extração de recursos minerais, pela sua própria natureza, é uma atividade passível de criar um grande número de impactes. No entanto, caso exista uma gestão flexível e eficaz, consciente em termos ambientais e sociais, esses impactes circunscrevem-se apenas à área onde se desenvolve essa atividade, não repercutindo efeitos globais para lá das áreas vizinhas.

Atualmente, o processo de licenciamento de uma indústria extrativa, de um modo geral longo, é bastante difícil, burocrático e dispendioso, necessitando de aprovação pelas várias entidades da tutela (desde os organismos municipais e regionais, até aos ministérios da economia e do ambiente), não fornecendo muitas das vezes informação suficientemente clara e relevante nos momentos necessários à decisão, demorando por vezes vários anos para se conseguir uma declaração de conformidade positiva que permita avançar com o projeto.

Face ao conteúdo do presente trabalho são de seguida abordados os fatores ambientais referentes à Paisagem, Solos e Uso dos Solos e Ordenamento do Território, no âmbito dos quais incidem as principais competências técnico-científicas adquiridas ao longo do meu percurso profissional: desenvolvimento de estudos de caraterização ambiental e territorial, através da análise de situações de referência e respetiva avaliação de impactes, decorrentes da implantação de projeto de indústria extrativa, que abrangem os fatores ambientais que seguidamente se expõem.

4DIA – proferida pelo ministro que tutela a área do ambiente (competência atualmente delegada ao Secretário de Estado

do Ambiente), possui caráter vinculativo, que pode ser favorável, condicionalmente favorável ou desfavorável à execução do projeto. O acto de licenciamento ou de autorização de projetos sujeitos a AIA só pode ser praticado após a notificação da respetiva DIA, favorável ou condicionalmente favorável, ou após o decurso do prazo necessário à formação do deferimento tácito.

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4.2.1.1.

A Paisagem

A paisagem define-se vulgarmente como “a extensão do território que se abrange de um só lance de vista, e que se considera pelo seu valor artístico, pelo seu pitoresco” (MACHADO, 2001, p.439). No entanto, esse conceito torna-se bastante redutor face ao seu verdadeiro significado, uma vez que a Paisagem é uma entidade viva e dinâmica que está sujeita a um processo de evolução constante, sendo a expressão do espaço físico e biológico em que vivemos, e o reflexo, no território, da vida e cultura de uma comunidade. Segundo Gonçalo Ribeiro Teles (2003, p.141), “o termo paisagem define uma região que está sob administração ou tutela política de uma entidade autárquica, estadual ou internacional. Nessa região vivem e trabalham comunidades urbanas e rurais, exercem-se actividades, acumularam-se valores e desenvolveram-se recursos.

A palavra paisagem traduz hoje a imagem desse mesmo território, transformado e utilizado pelo esforço físico e cultural de muitas gerações. Tal transformação exige a permanência de condições básicas para que possa ser eficaz, útil e viável.” (TELES, 2003, p.141)

A Convenção Europeia da Paisagem5 estabelece um conjunto de medidas dedicadas à

proteção, gestão e ordenamento de todas as paisagens europeias, de forma a que o desenvolvimento seja sustentável, estabelecendo-se uma relação equilibrada e harmoniosa entre as necessidades sociais, as atividades económicas e o ambiente, “sem renunciar à sua componente perceptiva.” (NARANJO, MORENO, 2002, p.43). Segundo o Artigo n.º2 da Convenção essas medidas aplicam-se às áreas naturais, urbanas, rurais e periurbanas, ou seja, tanto abrangem as paisagens consideradas excecionais como as paisagens ditas vulgares ou quotidianas e as paisagens degradadas.

No âmbito dos processos de planeamento ambiental, as questões relativas aos recursos visuais e paisagísticos, deverão fazer parte de uma análise rigorosa, sem a qual não é possível compreender o território como um todo. O planeamento e o ordenamento do território são instrumentos essenciais na construção de paisagens sustentáveis e organizadas, resolvendo as questões associadas aos usos humanos e gestão eficiente dos recursos naturais. Nesse sentido, cada paisagem apresenta uma identidade própria que

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reflete a evolução social e cultural das comunidades sob o território onde vivem e exercem os seus usos e ocupações. (FADIGAS, 2007)

Desse modo, a caraterização e avaliação de uma paisagem deve ser acompanhada pela análise dos seus vários componentes, os quais podem ser agrupados da seguinte forma:

• Biofísicos/Ecológicos: dos quais é de salientar a geologia/litologia, o tipo de solos, o relevo /geomorfologia, as caraterísticas da rede hidrográfica e o coberto vegetal;

• Antrópicos: incluem toda a ação humana sobre a paisagem, seja ela de natureza social, cultural ou económica (incluindo, por isso mesmo, as transformações de natureza agrícola e florestal), resumindo-se essa ação no fator Ocupação do Solo;

• Estéticos e percecionais/emocionais: que se prendem com o “resultado”, em termos estéticos, da combinação de todos os fatores (tendo em consideração que as mesmas caraterísticas podem combinar-se de diversas maneiras), e com a forma como esse “resultado” é percecionado/apreendido pelos observadores potenciais.

A análise integrada da paisagem tem um grande interesse para o diagnóstico territorial ao estabelecer regras ou casualidades que permitem abordar, com critérios ajustados, uma explicação dos processos que produzem as formas do território (NARANJO, MORENO, 2002).

Nesse sentido, a análise, caraterização e avaliação da paisagem num EIA para um projeto de exploração de recursos minerais, é essencial, uma vez que está diretamente relacionada com todos os processos do meio físico, do meio biológico e ecossistemas naturais, do meio socioeconómico, do uso e ocupação do solo e da componente sociocultural de toda a sua área de influência6, sendo fundamental para, não apenas inferir acerca dos possíveis

impactes determinados pelo projeto em si, mas também para a definição de estratégias de intervenção, quer ao nível da exploração, quer ao nível da recuperação ambiental e paisagística.

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O impacte visual é algo subjetivo, que dificilmente se mede, é algo que depende da perspetiva do observador, ou seja, uma área mineira poderá ser esteticamente desagradável para uns, mas para outros poderá não significar o mesmo, a questão nesse caso, prende-se com a organização do espaço e em conseguir a melhor e mais adequada integração com a envolvente.

Entre os potenciais impactes negativos da atividade mineira, o impacte visual é sem dúvida um dos que merece atenção especial. As explorações a céu aberto atingem por vezes áreas de grande dimensão, tornando-se inconfundíveis na paisagem, mesmo a alguns quilómetros de distância.

De uma forma geral, o impacte está diretamente ligado à topografia da área, bem como ao tipo de paisagem e vegetação, por exemplo: uma área mineira desenvolvida em flanco de encosta apresenta visibilidades bastante superiores a uma outra inserida numa planície, uma vez que é possível camuflar muito melhor essa área através de arborização, ou através da criação de barreiras de terra que podem, para além disso, ser revestidas de vegetação. A análise prospetiva e o planeamento territorial são essenciais para se conseguir mitigar eficazmente o impacte visual dessas explorações, através de um correto ordenamento do espaço industrial em relação aos potenciais observadores. No caso de a exploração já se encontrar ativa, a forma mais eficaz, e à qual mais se deverá recorrer para reduzir a visibilidade potencial, é reduzir a sua superfície total exposta através da recuperação ambiental e paisagística ativa dos locais onde a atividade já cessou.

4.2.1.2.

Solos e Uso dos Solos

O solo é a camada superficial da crosta terrestre constituída por partículas minerais, matéria orgânica, água, ar e microrganismos, essencial para a sobrevivência e desenvolvimento da vegetação e da vida animal terrestre, sendo um fator ambiental fundamental para a subsistência da vida humana. (COSTA, 1999)

A formação do solo é um processo lento, gradual e constante, que origina a constituição de camadas granulometricamente diferenciadas, misturadas com matéria orgânica, às quais se denominam horizontes do solo. (COSTA, 1999)

O solo deve ser considerado um recurso natural não renovável nem regenerável, pelo que a sua ocupação, pelas várias atividades, deverá ser adequada em conformidade com a sua

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capacidade de uso, de modo a evitar ao máximo a sua degradação e destruição, sobretudo no caso dos solos de elevada capacidade produtiva, essenciais para o desenvolvimento de uma agricultura ambiental e economicamente sustentável.

Dessa forma, uma alteração profunda do uso, em particular quando essa utilização é não agrícola ou florestal, pode gerar impactes significativos, principalmente quando os solos com essas caraterísticas são raros ou quando a tipologia da sua ocupação assume um interesse ou valor particular. (COSTA, 1999)

A intensidade e a natureza de uma intervenção ao nível do solo, dependem das suas potencialidades intrínsecas, sendo que, quanto maior for a capacidade produtiva de um determinado solo, maiores serão as alternativas para a sua utilização.

A atividade mineira, quando efetuada ao nível superficial, implica a escavação de extensas áreas para exploração de recursos minerais, afetando os solos presentes. No entanto, essa atividade é localizada e temporária, permanecendo ativa apenas enquanto existe o recurso mineral, pelo que se deverão tomar medidas que minimizem a degradação desses solos, salvaguardando a sua capacidade produtiva.

Assim, numa perspetiva de desenvolvimento sustentável, é possível conciliar a proteção dos solos com essa atividade industrial, bastando para isso a existência da necessária responsabilidade ambiental por parte do explorador, que deverá tomar as devidas medidas cautelares e de minimização, as quais passam por efetuar uma boa gestão e planeamento das áreas a intervencionar (de modo a não afetar áreas desnecessárias) e garantir o manuseamento, em local adequado, de produtos como os óleos, os combustíveis e os lubrificantes, evitando a contaminação e poluição dos solos e recursos hídricos.

Deverá assim, ter-se sempre em consideração as medidas de minimização adequadas para o projeto no que concerne a esse fator ambiental, de modo a garantir a mitigação de impactes negativos nos solos da área a intervir.

No âmbito de intervenções em que seja necessário proceder à decapagem dos solos, nomeadamente, abertura de caminhos, infraestruturas ou escavações, deverá ser garantido o armazenamento e preservação da camada superficial decapada, correspondente às terras vegetais com maior capacidade produtiva (com maior teor em matéria orgânica em minerais), de modo a serem utilizadas na recuperação paisagística das áreas intervencionadas, servindo de substrato para a implantação da vegetação.

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A implementação das medidas pressupostas nas propostas de Integração e Recuperação Paisagística (ver ponto 0), essencial ao licenciamento do projeto, irão contribuir para a repor a sua capacidade de uso nas áreas afetadas e viabilizar ocupações alternativas no futuro.

Em suma, se forem tomadas as corretas medidas de proteção e salvaguarda dos solos, é possível o desenvolvimento de uma exploração mineira, sem que isso interfira ou implique a degradação dos solos, permitindo na fase de recuperação ambiental e paisagística a criação de novas condições para que se processe a génese natural dos solos e a renaturalização de toda a área intervencionada, advindo benefícios sobre todo o ecossistema envolvente.

4.2.1.3.

O Ordenamento do Território

O território, na diversidade das formas que assume e da sua extensão, representa uma relação entre lugares que expressam uma realidade física e geográfica que constitui um suporte de vida, de usos e atividades económicas, ao mesmo tempo que constitui um recurso finito, indispensável para a vida humana. (FADIGAS, 2007)

De acordo com o Art.5º da Lei de Bases do Ambiente, o ordenamento do território é “o processo integrado da organização do espaço biofísico, tendo como objectivo o uso e a transformação do território, de acordo com as suas capacidades e vocações, e a permanência dos valores de equilíbrio biológico e de estabilidade geológica, numa perspectiva de aumento da sua capacidade de suporte de vida”. 7

Nesse âmbito, “o ordenamento do território corresponde a uma gestão integrada de um recurso – o território – cuja salvaguarda e valorização é essencial pela sua importância ambiental, económica e social e pelo facto de ser suporte das actividades humanas. As decisões que têm a ver com o seu uso e transformação condicionam a sustentabilidade dos processos de desenvolvimento económico e dos recursos disponíveis, de um ponto de vista ambiental e social.” (FADIGAS, 2007, p.18)

No quadro da legislação nacional em vigor, o processo de ordenamento do território expõe uma diversidade de instrumentos legais de domínio ambiental, estabelecidos com o objetivo de preservar e salvaguardar os recursos físicos e ambientais, mas onde não surge,

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de forma imediata, uma interpretação do ponto de vista de gestão do território. (PARTIDÁRIO, 1999)

Esses Instrumentos de Gestão Territorial (IGT), demonstram uma crescente preocupação pelas questões relacionadas com o planeamento e desenvolvimento sustentável do território, embora coloquem, muitas vezes, dificuldades na articulação das várias figuras de gestão territorial.

A política de ordenamento do território e do urbanismo assentam em IGT que, num quadro de interação coordenada, se organizam em três âmbitos distintos, designadamente:

• o âmbito nacional, que define o quadro estratégico para o ordenamento do território nacional;

• o âmbito regional, que define o quadro estratégico para o ordenamento do espaço regional em articulação com as políticas de âmbito nacional de desenvolvimento económico e social e estabelecendo as linhas orientadoras para o ordenamento municipal;

• o âmbito municipal, que define as opções próprias de desenvolvimento estratégico o regime de uso do solo e a respetiva programação, sempre em estreita articulação com as linhas orientadoras de nível regional e nacional. A distinção acima feita baseia-se, fundamentalmente, no nível da administração a que é feita a sua gestão. Na prática pode afirmar-se que, na ausência de estruturas de poder de carácter regional, a gestão do território é efetuado apenas ao nível nacional e ao nível local. (BASTOS, CORREIA, 2005)

A concretização dos referidos IGT, nos seus diversos âmbitos, é assegurada por um conjunto de instrumentos coerentes e articulados, de acordo com os seus objetivos diferenciados, e que integram:

• Instrumentos de Desenvolvimento Territorial, nomeadamente, o Programa Nacional da Política do Ordenamento do Território, os Planos Regionais de Ordenamento do Território e os Planos Intermunicipais de Ordenamento do Território;

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• Instrumentos de Planeamento Territorial, que engloba os Planos Diretores Municipais, os Planos de Pormenor e os Planos de Urbanização;

• Instrumentos de Política Setorial tais como os Planos de Gestão de Bacia Hidrográfica e os Planos Regionais de Ordenamento Florestal, entre outros;

• Instrumentos de Natureza Especial, que compreendem os Planos de Ordenamento de Áreas Protegidas, Planos de Ordenamento de Albufeiras de Águas Públicas, os Planos de Ordenamento da Orla Costeira e os Planos de Ordenamento dos Estuários.

Com a publicação do Decreto-Lei nº 380/99, de 22 de Setembro8 fica definido o regime de

coordenação dos âmbitos nacional, regional e municipal do Sistema de Gestão Territorial, o regime geral do uso do solo e o regime de elaboração, aprovação, execução e avaliação dos IGT.

A análise do estado de referência no âmbito da infraestruturação e ordenamento do território é efetuada nos diversos níveis (Nacional, Regional e Municipal), em função dos Planos vigentes sobre a área em estudo.

Como prática real, o ordenamento territorial efetua-se em diferentes níveis ou escalas, mas sobre um espaço único, no qual atuam diferentes instâncias político-administrativas. (NARANJO, MORENO, 2002)

Com frequência, ocorrem situações de sobreposição e muitas vezes de contradição de IGT para um mesmo local ou atividade. Tendo em conta as caraterísticas objetivas dessas figuras de gestão: ordenamento do território, conservação da natureza, preservação da qualidade do ambiente, entre outros, pode afirmar-se, sem grande erro, que a falta de articulação entre os mesmos acaba por condicionar, de uma forma mais ou menos gravosa, as atividades económicas em geral e a indústria extrativa em particular.

De fato, a indústria extrativa, dadas as suas limitações de localização (apenas se podem instalar onde o recurso geológico existe), enfrenta muitas das vezes dificuldades ligadas ao seu licenciamento. Nesse sentido, os procedimentos de licenciamento nessa área de

8 Alterado pelo Decreto-Lei n.º 53/2000, de 7 de Abril, pelo Decreto-Lei n.º 310/2003, de 10 de Dezembro, pela Lei n.º

58/2005, de 29 de Dezembro, pela Lei n.º 56/2007, de 31 de Agosto, pelo Decreto-Lei nº 316/2007, de 19 de Setembro, pelo Decreto-Lei n.º 46/2009, de 20 de Fevereiro, e pelo Decreto-Lei n.º 181/2009, de 7 de Agosto

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atividade são vistos pelos industriais como ferramentas administrativas que trazem apenas uma vantagem, adquirir uma licença de exploração, quando deveriam ser utilizados, no decurso da atividade, como uma ferramenta técnica válida para garantir a implementação das ações de proteção ambiental previstas e com isso melhorar a sustentabilidade da atividade.

Na tentativa de prevenir essas questões tem havido, por parte das entidades competentes, uma preocupação crescente na organização desses instrumentos, refletida na legislação em vigor e na sua evolução num passado próximo.

A Lei nº 48/98, de 11 de Agosto (alterada pela Lei nº 54/2007, de 31 de Agosto), estabelece as bases da política de ordenamento do território e urbanismo e tem como objeto, não só a definição do quadro da política de ordenamento do território e urbanismo e dos instrumentos de gestão territorial que a concretizam, mas também a regulação no âmbito dessa política, das relações entre os vários níveis da administração pública e desses com as populações e os representantes dos interesses económicos e sociais.

O Projeto de Recuperação Paisagística

A elaboração de projetos e estudos de integração e recuperação ambiental e paisagística, tendo como principal objetivo a mitigação de impactes decorrentes da atividade mineira, foi outra das áreas, dada a minha formação de base em Arquitetura Paisagista, onde desenvolvi amplas competências, no decurso da minha atividade profissional.

Esses projetos, elementos constituintes e fundamentais do Plano de Pedreira ou de Mina, têm como principal objetivo a eliminação da degradação provocada por uma atividade no solo, restaurando as condições biofísicas preexistentes ou requalificando o espaço afetado para outros usos e funções, em resposta a uma necessidade local ou regional.

A primeira opção estabelece a recriação de um ecossistema sustentável, recuperando e devolvendo ao espaço a sua vegetação e fauna autóctones. A segunda, possibilita a adequação do local para outros usos, como por exemplo, espaços industriais, de expansão urbana, de recreio e lazer, turísticos ou urbanos.

A implantação de uma indústria extrativa numa determinada área implica, invariavelmente, alterações mais ou menos significativas no ambiente onde se insere. A implementação de um Plano Ambiental e de Recuperação Paisagística (PARP),

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pretende apresentar uma solução técnica, ambiental e economicamente sustentável, para áreas afetadas por essa atividade.

A proposta de recuperação paisagística deverá considerar as atividades a implementar na área afetada pela exploração, de forma a garantir que toda a área intervencionada pela atividade extrativa se encontre devidamente integrada na paisagem envolvente. Nessa perspetiva, a conceção do PARP passa pelo cumprimento de objetivos paisagísticos de carácter geral, estéticos e técnico-económicos.

De fato, não basta satisfazer as exigências ambientais gerais associadas ao tipo de exploração em causa, bem como enumerar e quantificar os benefícios resultantes da implementação do PARP, é também importante considerar os inconvenientes originados ao longo dos anos pela laboração da pedreira, nomeadamente, sobre a paisagem local e, sobretudo, no seio do ecossistema afetado.

Além disso, é necessário não só que a intervenção devolva as condições naturais preexistente mas que, também, providencie a sua evolução e estabilização, através da escolha de soluções que restabeleçam o equilíbrio da paisagem intervencionada (DAVY, PERROW, 2002).

Dentro do quadro de prejuízos, há alguns que se destacam por intervirem mais diretamente na atenção de um observador. A remoção, quer vegetal quer pedológica, devido às fundamentais operações de desmatação e decapagem prévias à lavra, no caso de áreas de indústria extrativa a céu aberto, é um desses exemplos.

No que diz respeito à filosofia de projeto podem considerar-se vários tipos de intervenção ao nível da recuperação paisagística, nomeadamente, no que diz respeito à modelação topográfica (Figura 4): a reposição ou renivelamento topográfico (A), o enchimento quase completo (B), o enchimento parcial ou reduzido (C e D), a manutenção, recorrendo apenas ao encosto de terras nos taludes da exploração (E) e o abandono controlado, sempre que não exista a possibilidade de utilização de materiais de aterro (F).

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A – Enchimento completo B – Enchimento quase completo

C – Enchimento parcial D – Enchimento reduzido

E – Enchimento mínimo F – Ausência de enchimento Adaptado de Sousa, 1993 Figura 4 – Esquema dos diferentes tipos de intervenção na recuperação de pedreiras. O conceito de restauração ambiental é evidente nos exemplos A e B, uma vez que apenas nesses casos se recria, através da recuperação paisagística, a reposição semelhante à existente anteriormente à exploração. No entanto, essa intervenção poderá ser inviável, uma vez que nem sempre existem materiais de aterro disponíveis para restabelecer a topografia original.

Nos exemplos C, D, E e F, podem aplicar-se os conceitos de reconversão ou de reabilitação. Em qualquer um dos casos, não se prevê reposição da topografia original,

Materiais de aterro Terra vegetal

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se bem que no caso da reabilitação será devolvido o uso original ao local, nas devidas condições ambientais, de estabilidade e de segurança.

No caso de reconversão de uma área afetada pela indústria extrativa, irá existir uma alteração do seu uso e função, tendo em conta as suas limitações e aptidões do local. A limitar essa solução, está a referida ausência de planeamento ao nível do ordenamento do território, sobretudo, ao nível regional e municipal, que integre essas áreas como passíveis de albergar outros usos e funções no futuro, o que condiciona, por parte dos promotores e proprietários, essa opção pela reabilitação, visto ser uma solução geralmente mais fácil e económica.

4.2.1.4.

Intervenção/Conceção

Na sequência do exposto, o presente relatório pretende ainda ilustrar, a abrangência de soluções alternativas para recuperação, reconversão e reabilitação paisagística de pedreiras, que podem trazer mais-valias ao local explorado, à sua envolvente e, mesmo, implementar um projeto que contribua para o desenvolvimento sustentável de toda a região em que se enquadra.

Existe ainda uma grande lacuna em termos de políticas e planeamento integrado ao nível nacional, regional e municipal, no que diz respeito à utilização dos espaços pós-indústria extrativa, sobretudo para aqueles que se localizam na envolvente ou inseridos em espaços urbanos. A sua reabilitação deveria ponderar outros usos, para que desta forma se obtenham benefícios, diretos ou indiretos, para os proprietários dos terrenos, populações locais ou outras entidades eventualmente envolvidas, que não os estritamente economicistas e de curto prazo e, sobretudo, para uma melhor organização e ordenamento do território em geral, através de uma recuperação paisagística que passe por explorar e maximizar todas as valências do território em causa.

A opção de ocupação de uma determinada área atende, atualmente, a padrões de ordenamento do território, ou seja, tem de ser compatível com as figuras de ordenamento que regulamentam essa região. De entre os usos possíveis e compatíveis, um proprietário ou um promotor opta, na esmagadora maioria das vezes, pela que lhe traz maior valia, quer esta seja económica, ou outra. Ou seja, um promotor imobiliário nunca irá adquirir um terreno urbano numa área potencialmente turística para aí instalar um pinhal de produção ou uma área agrícola. (BASTOS, SILVA, 2005)

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Nesse sentido, recorrendo ao planeamento e prospetiva territorial, é possível às entidades responsáveis pela gestão do território definir diferentes usos, pós-indústria extrativa, para uma determinada mina ou pedreira em atividade. Assim, existindo um plano de ordenamento que integre essas áreas e informe os proprietários/exploradores sobre as mais-valias de conciliar a exploração com as aptidões futuras em termos de uso do solo da sua exploração, permitirá a execução de um plano de pedreira/mina com esses objetivos, mesmo que isso se traduza na perda de reservas geológicas, sempre que as mais-valias obtidas na reconversão do espaço sejam superiores às que se teria noutra opção.

O conhecimento aprofundado do território, identificando as suas aptidões, condicionantes e capacidade de uso, permite o planeamento adequado de um projeto e o desenvolvimento de opções estratégicas, com vista a dar conta das expetativas das entidades com intervenção local e das aspirações das populações envolvidas, contribuindo desse modo para resolver alguns dos problemas e garantir maiores benefícios às populações. (BASTOS, SILVA, 2005)

Nessa sequência, é possível dar novas funções a áreas já degradadas por uma atividade humana no território, reconvertendo-a e requalificando-a para outros usos necessários ao desenvolvimento das cidades ou das regiões.

Existem várias opções para reconversão e ocupação das áreas mineiras, desde aterros sanitários, a campos de golfe e urbanizações, parques urbanos e áreas agrícolas, as opções são variadas e podem trazer benefícios económicos, ambientais e sociais importantes, para além de reconverterem ambientalmente e paisagisticamente uma área que já se encontra degradada ambientalmente, poupando outras áreas menos intervencionadas pela atividade humana.

Os custos associados à infraestruturação de um local a fim de garantir um uso futuro mais exigente, como pode ser o caso da preparação das áreas de lavra para a implantação de um aterro sanitário, ou as perdas decorrentes da opção de não aprofundar a escavação até aos seus limites mineiros, a fim de viabilizar a instalação de um campo de golfe, podem ser compensados pelos benefícios que podem advir dos usos posteriores. (STEVENS, 2010) Esses benefícios, associados a uma visão mais alargada do que a que decorre do estrito projeto de exploração de recursos minerais, podem resultar tanto de mais-valias económicas para toda a região a médio/longo prazo (dependendo do tempo de permanência

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da extração mineira), como de ganhos indiretos pela atenuação de conflitos e animosidades, dotação à comunidade de espaços dos quais ela se encontra carenciada ou criação de parcerias (públicas ou privadas) para a implementação de projetos estruturantes. Áreas anteriormente ocupadas por explorações mineiras são hoje locais perfeitamente integrados e reconvertidos para outros usos, como é o caso da pedreira da Trindade, laborando em tempos na área com o mesmo nome, no centro do Porto, atualmente ocupada pelo edifício Trindade Domus Gallery, que foi uma grande pedreira de granito, fato pelo qual ainda hoje se designa essa área por antiga pedreira da Trindade. O mesmo aconteceu com o antigo núcleo de pedreiras de granito do Porto, localizadas no Monte Pedral, que corresponde atualmente à área delimitada pelas ruas da Constituição, do Almirante Leote do Rego, de S. Dinis e de Serpa Pinto, que forneceram durante os séculos XVIII e XIX, a matéria-prima para a construção e desenvolvimento urbano da cidade. (BEGONHA, 1997)

4.2.1.5.

Possibilidades de Usos Pós-Indústria Extrativa

A recuperação de uma área intervencionada pela exploração de recursos geológicos, tem muitas vezes a ver com questões de cariz económico mas, acima de tudo, com a determinação do proprietário/explorador da pedreira para a possibilidade de que a implementação de soluções alternativas à usual recuperação para o uso florestal ou silvo-pastoril possa trazer outras alternativas de uso na sua propriedade, diretas ou indiretas, e até facilitar o relacionamento com as populações da área envolvente.

Essas alternativas são dependentes das soluções a propor e das condições biofísicas locais, dos padrões de ocupação do território e da história local, dos planos de ordenamento do território vigentes e, mesmo, das expetativas criadas para a região pela promoção de políticas de âmbito regional ou mesmo nacional.

Nesse sentido, são vários os usos que podem ser planeados para o “pós-indústria extrativa”, como exemplos práticos existem já áreas transformadas em urbanizações, zonas turísticas, campos de golfe, parques verdes, cemitérios, explorações agrícolas ou zonas ecológicas.

Existem alguns exemplos de reconversão de áreas mineiras em espaços com os mais diversos usos, desde a produção agrícola (Figura 5) até espaços de interesse turístico e de lazer (Figura 6). Seguidamente, mostram-se alguns exemplos de soluções implementadas com sucesso, tanto a nível internacional como nacional, que revelam a potencialidade e a

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facilidade com que essas soluções podem ser desenvolvidas caso exista um adequado planeamento e acompanhamento técnico ao nível das várias fases da exploração.

Nesse âmbito, é importante que durante a exploração e sobretudo na fase de desativação e posterior requalificação paisagística, sejam cumpridas as medidas preconizadas no projeto, que asseguram os cuidados e manutenção adequados dos equipamentos e produtos possivelmente contaminantes, de modo a garantir que o local não se encontra contaminado e que a camada de terras vivas a espalhar nas áreas a recuperar apresenta quantidade e qualidade suficiente para diversificar aumentar a capacidade de uso dos solos desse local.

1996 1999

Figura 5 – Área de pastoreio resultante da reconversão de uma antiga Mina de Carvão (Nova Escócia, Canadá)9

Figura 6 – Campo de golfe instalado numa antiga pedreira (Colorado, EUA).10

Em Portugal, os exemplos ainda são escassos, no entanto, existem algumas pedreiras cuja exploração já contempla a recuperação paisagística com outros objetivos que não apenas a

9 http://www.clra.ca/reclamation%20stories.html 10 http://www.fossiltrace.com/PC/Gallery.html

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RELATÓRIO DETALHADO DA ATIVIDADE PROFISSIONAL 2006-2012 ÂNGELO CARRETO

VD.MRCOT.AC.13.02 MESTRADO RISCOS,CIDADES E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO Pág. 29

reabilitação devolvendo a esse espaço o seu uso anterior, normalmente, florestal ou silvícola.

O exemplo mais emblemático, a nível nacional, de recuperação paisagística de uma área degradada pela exploração de massas minerais é o atual Estádio AXA do Sporting Clube de Braga, também designado por “A Pedreira” (projetado pelo Arquiteto Eduardo Souto Moura no âmbito do Europeu de Futebol da UEFA 2004). Tendo já sido premiado a nível internacional nas mais diversas categorias, é considerado por muitos como um ex-líbris arquitetónico da cidade de Braga e do país (Figura 7).

O fato de se ter tirado partido da proximidade ao centro urbano levou a que se tenha optado por uma solução que constituiu uma inovação, e mesmo um marco, no âmbito daquele evento desportivo.

Figura 7 – Estádio Municipal de Braga.11

De fato, a reconversão e reabilitação dos espaços intervencionados pela atividade mineira pode ser bastante diversificada, encontrando apenas limitações de cariz económico ou em grande medida, na capacidade de conceção do projetista.

O conhecimento aprofundado das caraterísticas do terreno (por exemplo, geotécnicas ou edáficas), do enquadramento ambiental, da ocupação humana, das expetativas territoriais, da aptidão dos solos, entre outros, podem determinar a conceção de soluções inovadoras com claras mais valias económicas, ambientais ou mesmo socioculturais. (STEVENS, 2010).

Referências

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