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Valores e atitudes perante temas socialmente sensíveis

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Academic year: 2021

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Os Jovens Portugueses

no Contexto

da Ibero-América

José Machado Pais

Cícero Roberto Pereira

(coordenadores)

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Capa e concepção gráfica: João Segurado Revisão: Soares de Almeida

Impressão e acabamento: Manuel Barbosa & Filhos, Lda. Depósito legal: 418791/16

1.ª edição: Dezembro de 2016 Av. Prof. Aníbal de Bettencourt, 9

1600-189 Lisboa - Portugal Telef. 21 780 47 00 – Fax 21 794 02 74

www.ics.ulisboa.pt/imprensa E-mail: imprensa@ics.ul.pt

Instituto de Ciências Sociais — Catalogação na Publicação Os jovens portugueses no contexto da Ibero-América /

coord. José Machado Pais, Cícero Roberto Pereira. - Lisboa : Imprensa de Ciências Sociais, 2016

ISBN 978-972-671-379-1 CDU 316.3

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Índice

Os autores . . . 15 Prefácio . . . 19 Introdução . . . 21 José Machado Pais

Parte I

Valores, atitudes e perceções

Capítulo 1

Valores e atitudes perante temas socialmente sensíveis . . . 33 Cícero Roberto Pereira

Capítulo 2

Perceções de violência social . . . 53 Simone Tulumello e Cláudia Casimiro

Capítulo 3

Sexualidade e métodos contracetivos . . . 75 Sofia Aboim

Parte II

Confiança nas instituições democráticas e participação

Capítulo 4

A participação social e política . . . 93 Pedro Moura Ferreira

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Capítulo 5

Os jovens frente à democracia e às suas instituições . . . 109

Marcelo Camerlo e Andrés Malamud

Parte III

Educação, trabalho e futuro

Capítulo 6 Educação e inserções profissionais . . . 121

Vítor Sérgio Ferreira e Jussara Rowland Capítulo 7 Uso de novas tecnologias . . . 141

Ana Nunes de Almeida e Ana Delicado Capítulo 8 Diagnóstico do presente, expetativas sobre o futuro . . . 155

Sérgio Moreira Bibliografia . . . 173

Anexos . . . 179

Questionário A . . . 181

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Índice de quadros e figuras

Quadros

1.1 Ordenação média e desvios-padrão dos problemas que os jovens

consideram mais importantes ... 38 1.2 Coeficientes de regressão multinível que representam os pesos dos fatores

explicativos nas dimensões organizadoras das preocupações dos jovens ibero-americanos ... 42 1.3 Médias e desvios-padrão das atitudes dos jovens em relação a temas

socialmente sensíveis... 44 1.4 Coeficientes de regressão multinível que representam os pesos dos fatores

explicativos das dimensões das atitudes dos jovens ibero-americanos

em relação a temas socialmente sensíveis... 47 1.5 Indicadores contextuais usados como fatores explicativos nos modelos

de regressão multinível... 51 2.1 Mortalidade por homicídio voluntário em função do género (%) ... 58 2.2 Correlações bivariadas entre a perceção de violência e indicadores

socioeconómicos, de perceção de vitimização social e de insegurança... 63 2.3 Perceções sobre a situação económica do país relativa à situação

antes do 25 de abril (%) ... 65 2.4 Perceções de violência urbana (%) ... 68 2.5 Correlações bivariadas entre ter presenciado a ocorrência de brigas

com uso de armas e indicadores socioeconómicos... 68 2.6 Perceção de violência familiar nos últimos doze meses (%)... 70 2.7 Correlações bivariadas entre a perceção de violência doméstica

e indicadores socioeconómicos ... 72 3.1 Médias e modas da idade da primeira relação sexual entre os jovens

dos 15 aos 29 anos por sexo e país/grupos de países... 78 3.2 Coeficientes de regressão estandardizados que representam a relação

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3.3 Coeficientes de regressão logística não estandardizados que representam

a relação entre não ter relações sexuais e os indicadores sociais... 83

3.4 Jovens que indicaram ter usado métodos contracetivos na primeira relação sexual (%)... 85

3.5 Jovens que indicaram a razão de usar preservativo (%) ... 87

4.1 Participação organizada por sexo, escolaridade e situação perante o emprego (%) ... 99

4.2 Associativismo dos jovens segundo os países (%) ... 102

4.3 Pertença associativa dos jovens por sexo, idade, escolaridade e ocupação (%) ... 103

4.4 Razões da não participação (%) ... 105

4.5 Jovens que indicaram participação em redes sociais (%) ... 107

5.1 Coeficientes de regressão não estandardizados dos preditores da confiança na democracia e nas suas instituições ... 115

5.2 Confiança dos jovens na democracia e suas instituições... 118

7.1 Modo principal de uso da internet por grupos de países (%)... 144

7.2 Modo principal de uso da internet em Portugal por escalões etários (%) ... 144

7.3 Modo principal de uso da internet em Portugal por nível de escolaridade completo (%) ... 145

7.4 Modo principal de uso da internet em Portugal por condição perante o trabalho (%)... 145

7.5 Principais usos da internet por grupos de países (%)... 147

7.6 Principais usos da internet (combinação) por grupos de países (%) ... 148

7.7 Principais usos da internet em Portugal por sexo (%) ... 148

7.8 Principais usos da internet (combinação) em Portugal por sexo (%)... 148

7.9 Principais usos da internet em Portugal por escalões etários (%) ... 149

7.10 Principais usos da internet (combinação) em Portugal por escalões etários (%) ... 149

7.11 Principais usos da internet em Portugal por nível de escolaridade completo (%) ... 150

7.12 Principais usos da internet (combinação) em Portugal por nível de escolaridade completo (%) ... 150

7.13 Principais usos da internet em Portugal por condição perante o trabalho (%)... 151

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7.14 Principais usos da internet (combinação) em Portugal por condição

perante o trabalho (%) ... 151 7.15 Principais usos da internet em Portugal por tipologia familiar (%)... 151 7.16 Principais usos da internet (combinação) em Portugal por tipologia

familiar (%) ... 152 8.1 Itens (percentagens/médias e desvios-padrão) das variáveis em análise... 158 8.2 Itens das perceções sobre a atualidade e sobre o futuro em Portugal ... 159 8.3 Médias, desvios-padrão e número das perceções sobre a atualidade e sobre

o futuro para a amostra global ... 160 8.4 Médias e desvios-padrão das perceções sobre a atualidade e sobre

o futuro para a Espanha... 162 8.5 Coeficientes de regressão estandardizados dos fatores explicativos

da perceção da atualidade e do futuro em Portugal ... 165 8.6 Coeficientes de regressão estandardizados dos fatores explicativos

da perceção da atualidade e do futuro noutros países... 166 8.7 Coeficientes de regressão estandardizados dos fatores explicativos

da perceção da atualidade e do futuro em Espanha... 167

Figuras

1.1 Hierarquia das principais preocupações dos jovens ... 36 1.2 Dimensões organizadoras das preocupações dos jovens ... 39 1.3 Representação das médias da concordância dos jovens com os temas-alvo

de atitudes socialmente sensíveis ... 44 1.4 Dimensões organizadoras das atitudes dos jovens face a temas

socialmente sensíveis... 46 2.1 Homicídios voluntários por cada 100 000 habitantes, 2000-2012... 57 2.2 Taxa de homicídios voluntários por sexo e faixa etária em Portugal

no ano de 2010... 58 2.3 Perceção dos problemas mais importantes que afetam os jovens (%) ... 60 2.4 Médias da perceção de violência... 61 2.5 Linhas de regressão a representar a relação entre perceção de violência

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2.6 Perceções negativas sobre a situação económica do país relativa à situação

antes do 25 de abril por escalão etário (%)... 66

3.1 Rapazes em cada grupo etário que indicaram a idadeda primeira relação sexual (%) ... 79

3.2 Raparigas em cada grupo etário que indicaram a idade da primeira relação sexual (%) ... 79

3.3 Jovens que indicaram ainda não ter relações sexuais por sexo e país/grupos de países (%) ... 82

3.4 Jovens portugueses que indicaram ter feito uso do preservativo e da pílula contracetiva em cada categoria de idade da primeira relação sexual (%)... 86

3.5 Jovens que indicaram não ter usado contracetivos na primeira relação sexual (%) ... 88

5.1 Valores médios da confiança na democracia por país/região ... 111

5.2 Representação da mediana e da dispersão da confiança dos jovens portugueses nas instituições democráticas ... 111

5.3 Valores médios da confiança dos jovens ibero-americanos nas instituições políticas ... 113

5.4 Valores médios da confiança dos jovens ibero-americanos nas instituições não estatais... 113

6.1 Nível de escolaridade por país/região (%)... 123

6.2 Total de estudantes por país/região (%) ... 125

6.3 Condição de estudante por nível de vida subjetivo em Portugal (%)... 126

6.4 Razões de abandono escolar antes de completar o ensino secundário por país/região (%) ... 126

6.5 Médias da perceção sobre a escola por país/região ... 128

6.6 Perceções sobre a escola em Portugal (%)... 128

6.7 Médias das perceções sobre a escola por nível de vida subjetivo em Portugal... 129

6.8 «Tive uma boa educação secundária» por país/região (%) ... 130

6.9 «Por que considera ter tido uma boa educação secundária?» por país/região (%) (resposta multipla)... 130

6.10 «Está a trabalhar atualmente?» por país/região (%) ... 132

6.11 Jovens que não estão atualmente a trabalhar e se encontram à procura de trabalho por país/região (%)... 133

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6.12 Procura de trabalho por nível de vida subjetivo em Portugal (%)... 134 6.13 Jovens trabalhadores incritos na segurança social por país/região (%) ... 134 6.14 Importância atribuída aos descontos da segurança social para obter

uma pensão/reforma no final da vida laboral por país/região (%) ... 135 615 Perceções sobre condicionantes de inserção no mercado de trabalho

por país/região (%) ... 136 6.16 Perceções sobre condicionantes de inserção no mercado de trabalho

por condição de estudante em Portugal (%) ... 136 6.17 Perceções sobre condicionantes de inserção no mercado de trabalho

por grupo etário em Portugal (%) ... 138 6.18 Perceções sobre condicionantes de inserção no mercado de trabalho

por nível de vida subjetivo em Portugal (%)... 138 6.19 Perceções sobre condicionantes de inserção no mercado de trabalho

por procura de trabalho em Portugal (%)... 139 7.1 Modo principal de uso da internet em Portugal (%)... 143 7.2 Principais usos da internet em Portugal (%)... 146 7.3 Principais usos da internet (combinação do uso 1 e uso 2) em Portugal (%).. 146 8.1 Representação das médias das perceções sobre a atualidade e sobre

o futuro em Portugal... 159 8.2 Médias das perceções sobre a atualidade e sobre o futuro noutros

países (O) comparados com Portugal (PT)... 161 8.3 Médias das perceções sobre a atualidade e sobre o futuro

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Ana Delicado é investigadora auxiliar do Instituto de Ciências Sociais da Uni-versidade de Lisboa (ICS-ULisboa). Doutorada em Sociologia, trabalha princi-palmente na área dos estudos sociais da ciência. Tem desenvolvido investigação sobre museus e cultura científica, risco ambiental, mobilidade científica, asso-ciações científicas, energia e alterações climáticas. É vice-coordenadora do OBSERVA – Observatório de Ambiente, Território e Sociedade.

Ana Nunes de Almeida é socióloga e investigadora coordenadora do ICS-ULis-boa, onde é também presidente do conselho científico. Coordena o programa de doutoramento interuniversitário em Sociologia, OpenSoc (Sociologia – Co-nhecimento para Sociedades Abertas e Inclusivas). Áreas de investigação mais recentes: família e escola, crianças e crise, crianças e novos media, crianças e ca-tástrofes.

Andrés Malamud, doutorado em Ciência Política pelo Instituto Universitário Europeu, Florença, é investigador auxiliar no ICS-ULisboa e professor visitante nas Universidades de Buenos Aires, Católica de Milão e Salamanca. Tem obra publicada sobre integração regional comparada, instituições de governo, política latino-americana e migrações transatlânticas.

Cícero Roberto Pereira é investigador auxiliar no ICS-ULisboa. Doutorou-se em Psicologia Social Experimental pelo Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE--IUL). A sua investigação analisa o modo como diferentes tipos de jus-tificações são usados pelos atores sociais para legitimar ações e políticas discri-minatórias contra grupos minoritários e a função identitária dessa legitimação nas sociedades democráticas contemporâneas.

Cláudia Casimiro, doutorada em Ciências Sociais, na especialização de Socio-logia Geral, pelo ICS-ULisboa, é, atualmente, membro integrada do Centro Interdisciplinar de Estudos de Género (CIEG/ISCSP-ULisboa) e professora au-xiliar convidada no ISCSP-ULisboa. Os seus domínios de investigação: socio-logia da família, género, tecnosocio-logias de informação e comunicação,

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logia de Uma Crença Popular; Consciência Histórica e Identidade; Sociologia da Vida Quotidiana; Ganchos, Tachos e Biscates. Jovens, Trabalho e Futuro; Nos Rastos da So-lidão. Deambulações Quotidianas; Lufa-Lufa Quotidiana. Ensaios sobre Cidade, Cul-tura e Vida Urbana; Sexualidade e Afectos Juvenis; Enredos Sexuais, Tradição e Mu-dança: as Mães, os Zecas e os Sedutores de Além-Mar.

Jussara Rowland é doutoranda em Sociologia no ISCTE-IUL e foi investiga-dora no Observatório Permanente da Juventude do ICS-ULisboa entre 2010 e 2015. Já trabalhou como investigadora em vários projetos de investigação e como consultora na área da responsabilidade social empresarial. Atualmente é bolseira de investigação no projeto CUIDAR – Culturas de Resiliência à Ca-tástrofe entre Crianças e Jovens financiado pelo programa Horizon 2020. Marcelo Camerlo é coordenador do Presidential Cabinets Project (com Cecilia Martínez-Gallardo) e atualmente responsável pelo workshop em política com-parada e relações internacionais do doutoramento em Políticas Comcom-paradas do ICS-ULisboa. Doutorado em Ciência Política pela Universidade de Florença, especialista em políticas sociais e licenciado em Comunicação Social pela Uni-versidade de Buenos Aires. Foi investigador auxiliar no Centro de Estudos de Estado e Sociedade (CEDES), docente na Universidade de Buenos Aires e in-vestigador convidado no Helen Kellogg Institute for International Studies da Universidade de Notre Dame.

Pedro Moura Ferreira, doutorado em Sociologia pelo ISCTE-IUL, investi-gador do ICS-ULisboa e membro do Instituto do Envelhecimento da mesma universidade, é atualmente responsável pelo Arquivo Português de Informa-ção Social. Desenvolve investigaInforma-ção nas áreas do envelhecimento, curso de vida e género. Tem como publicações mais recentes os livros As Sexualidades

em Portugal: Comportamentos e Riscos e Mulheres e Narrativas Identitárias: Mapas de Trânsito da Violência Conjugal. Tem atualmente em curso dois projetos de

investigação: «Processos de envelhecimento em Portugal: usos do tempo, redes sociais e condições de vida» e «Informação sobre saúde da população

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munidades sobre grandes alterações ambientais, promoção da comunicação de novos empreendimentos e participação pública. Atualmente é professor auxiliar convidado das disciplinas de Estatística na FPUL e, paralelamente, exerce ati-vidade como consultor em psicologia do ambiente.

Simone Tulumello, doutorado em Planeamento Urbano e Regional pela Uni-versidade de Palermo com uma tese sobre os sentimentos de medo do crime em planeamento urbano, é, desde janeiro de 2013, investigador pós-doc no ICS-ULisboa. O seu projeto principal visa questionar criticamente as políticas de segurança urbana na prática institucional de planeamento urbano. Os seus interesses abrangem: teorias e culturas de planeamento; estudos críticos sobre segurança urbana; poder e políticas de planeamento; estudos de futuros, TICs e governança territorial; tendências urbanas neoliberais; cidades do Sul da Europa; a geografia da crise. É autor de Fear, Space and Urban Planning (2017, Springer).

Sofia Aboim, doutorada em Sociologia (ISCTE-IUL, 2004), é investigadora auxiliar no ICS- ULisboa e membro do GEXcel − International Collegium for Advanced Transdisciplinary Gender Studies, sediado nas Universidades de Lin-köping, Karlstad e Örebro, na Suécia. Os seus interesses de investigação têm vindo crescentemente a incluir temas como género, sexualidade e cidadania. Tem publicado livros e artigos sobre estas temáticas, coordenando atualmente o projeto «TRANSRIGHTS – Gender citizenship and sexual rights in Europe: transgender lives from a transnational perspective», financiado pelo European Research Council.

Vitor Sérgio Ferreira, doutorado em Sociologia, na especialidade de Sociologia da Comunicação, Cultura e Educação, pelo ISCTE-IUL (2006) é investigador auxiliar no ICS-ULisboa, coordenador do grupo de investigação LIFE – Per-cursos de Vida, Desigualdades e Solidariedades: Práticas e Políticas do ICS--ULisboa, vice-coordenador do Observatório Permanente da Juventude do ICS-ULisboa e docente no doutoramento em Sociologia – Conhecimento

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Valores e atitudes perante temas

socialmente sensíveis

Quais são as principais preocupações sociais dos jovens nas sociedades ibero--americanas e que posicionamentos assumem perante temas socialmente sen-síveis? A literatura sobre estas questões tem sugerido que a forma como as pes-soas se posicionam perante os vários aspetos da sua vida social reflete os seus valores pessoais porque estes representam forças motrizes capazes de organizar as atitudes e os interesses das pessoas e dos grupos sociais (Schwartz 1992). A centralidade que os valores assumem na organização da vida social é atribuída ao facto de os princípios axiológicos atuarem como fatores estruturantes não apenas da vida das pessoas, mas também da organização da sociedade (Hitlin e Piliavin 2004; Rohan 2000).

Os valores são normalmente definidos como crenças e modos de se posicionar no mundo, isto é, formas de pensar e agir desejáveis e socialmente partilhadas. Por exemplo, Kluckhohn (1968) refere que um valor age na vida das pessoas como se fosse uma conceção de vida sobre «o desejável» enquanto imperativo transcendente às várias esferas da vida social. Posteriormente, Rokeach (1973) simplificou esta ideia e traduziu-a no conceito de crença duradoura sobre com-portamentos (e. g., obedecer às leis) ou princípios-fim (e. g., a liberdade) que uma pessoa acredita que a sociedade prefere que sejam postos em prática. Re-centemente, Schwartz e colaboradores (Schwartz et al. 2012) apresentaram uma teoria sobre a natureza e organização dos valores humanos em que articulam a ideia de Rokeach (1973) sobre valores como uma crença sobre comportamentos e princípios-fim com a proposta de Kluckhohn (1951) de analisar um valor como uma conceção sobre o que é desejável. Desde cedo Schwartz (1992) concebe os valores como motivações individuais que transcendem situações específicas, acreditando que a força motivacional dos valores se expressa nas atitudes e com-portamentos dos indivíduos, o que vem a colocar em relevo o aspeto funcional dos valores já assinalado por Parsons e colaboradores na teoria geral da ação (Par-sons e Shias 1951).

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de que, além de representarem princípios fundamentais que orientam a ação individual, os valores também representam as prioridades que as sociedades atribuem aos diferentes objetivos e metas a serem atingidos. Assim, para além de os valores poderem ser analisados como crenças duradouras que guiam a vida das pessoas, podem também representar princípios-guias de uma socie-dade, definindo assim a nossa conceção de valores culturais (Pereira e Ramos 2013).

Um exemplo desta forma de analisar os valores foi apresentada por Ronald Inglehart na sua obra A Revolução Silenciosa. Inglehart (1977) propôs que as di-ferenças culturais refletem uma interação complexa entre o desenvolvimento socioeconómico e a prioridade que cada sociedade atribui a dois conjuntos de valores, designados por valores materialistas e pós-materialistas. A ideia central na teoria de Inglehart é a de que o desenvolvimento económico gera mudanças no sistema de valores culturais que, por sua vez, produzem um efeito de feedback, alterando os sistemas económicos e políticos das sociedades. Depois de alcan-çada a estabilidade económica e a segurança da população, a sociedade passaria por uma revolução silenciosa ao nível dos valores culturais, revolução que seria caracterizada pela atribuição de maior relevância a objetivos e metas «pós-ma-terialistas», representados pela prioridade que uma sociedade dá à realização das aspirações individuais dos seus cidadãos, à garantia da liberdade de expres-são irrestrita, à valorização de aspetos estéticos, à participação política e à pro-teção do ambiente (Halman e Morr 1994; Inglehart e Baker 2000).

A ideia fundamental no estudo dos valores culturais é a possibilidade de os valores afetarem a visão do mundo das pessoas em cada contexto social e assim influenciarem as suas preocupações e atitudes em relação aos temas mais im-portantes das suas vidas (Inglehart e Baker 2000; Pereira et al. 2005; Schwartz 1992). Diante desta possibilidade, o foco da análise centra-se em saber em que medida os valores se relacionam com as atitudes e os comportamentos das pes-soas. A investigação empírica a esse respeito tem mostrado o papel central de-sempenhado pelos valores nas avaliações subjetivas que as pessoas fazem sobre aspetos socialmente significativos das suas vidas. Por exemplo, Almeida e cole-gas (2006) mostraram que a classe dirigente está mais próxima do que as

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ser, de facto, princípios organizadores das atitudes das pessoas face aos mais va-riados aspetos da vida social.

Assumindo a centralidade dos valores na organização da vida social, interessa--nos saber se esses valores desempenham algum papel na vida dos jovens ibero--americanos e se contribuem para a perceção que têm dos principais problemas nos seus países e para a definição das suas atitudes face a temas socialmente sen-síveis, como o aborto, a legalização da maconha, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a abertura à imigração, mas também em relação à pena de morte e à prática do suborno, aspetos relevantes na vida quotidiana desses jovens.

Neste sentido, o objetivo deste capítulo é analisar a hierarquia das preo -cupações e atitudes dos jovens portugueses em relação a vários domínios da sua vida social, comparando estas preocupações com as de outros jovens ibero--americanos. Além disso, procuramos identificar se os valores culturais atuam como princípios organizadores dessas preocupações e atitudes. Para o efeito, analisamos dados obtidos no 1.º Inquérito às Juventudes Ibero-Americanas realizado pela Organização Ibero-americana da Juventude durante o 1.º trimestre de 2013. O primeiro conjunto de dados que analisamos é indicador das principais preo-cupações dos jovens nos países em que vivem. O segundo conjunto de dados é indicador de atitudes dos jovens face a seis temas: aborto, legalização da ma-conha, casamento entre pessoas do mesmo sexo, imigração, pena de morte e suborno. A nossa estratégia analítica foi descrever o posicionamento dos jovens, procurando situá-los no contexto das ideias e atitudes dos jovens dos outros países, designadamente os da Espanha, do Brasil e do México, além de posi-cioná-los em relação aos jovens de dois grupos de países: América Central (Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá e República Dominicana) e América do Sul (Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela).

Valores e principais preocupações sociais dos jovens

Quais serão os princípios organizadores das preocupações dos jovens ibero--americanos e como podem estes princípios ser descritivos dos valores culturais

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mais salientes nos países em que residem? Para responder a esta questão recor-remos a um conjunto de indicadores que foram colocados a metade da amostra de jovens que compõem o 1.º Inquérito às Juventudes Ibero-Americanas. Pediu-se aos jovens que indicassem, de entre uma lista de sete temas, dois dos que cons-tituem os problemas mais importantes que afetam a juventude no seu país.1As

respostas obtidas permitiram-nos observar uma hierarquia das principais preo-cupações sociais dos jovens portugueses comparativamente com os dos outros países do inquérito. Iniciando pela análise do conjunto da amostra, os aspetos que mais preocupam os jovens ibero-americanos são os problemas relacionados

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1Especificamente, pedia-se aos jovens que indicassem «quais são para você os dois problemas

mais importantes que afetam atualmente a juventude do seu país?». De seguida, era apresentada a seguinte lista de situações sociais: problema com o emprego; problemas económicos; delin-quência e violência; uso de drogas e alcoolismo; acesso à educação de qualidade; acesso à justiça. Notamos que a maneira como a questão foi feita e a forma como as alternativas de resposta foram colocadas permitiam aos participantes selecionar uma das alternativas mais do que uma vez e, portanto, não são mutuamente excludentes. Esta possibilidade levou-nos a usar um sistema de codificação ordinal para cada problema selecionado por meio da atribuição dos seguintes va-lores: 0, quando a alternativa de resposta não foi selecionada; 1, quando foi selecionada apenas uma vez; 2, quando foi selecionada mais do que uma vez. Esta estratégia pareceu-nos particular-mente interessante, uma vez que nos permite traçar uma hierarquia das preocupações dos jovens e analisar as suas motivações sociais subjacentes.

1

0, 5

0

Médias das ordenações

Domínios das preocupações dos jovens

Violência Emprego Drogas Economia Educação Justiça Saúde

* A diferença na hierarquização das preocupações dos jovens é significativa segundo o teste de Friedman: χ2< 2(gl = 6, N = 9403) = 10 607,20).

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conjunto dos jovens da amostra é relativamente consensual ao situar a educa-ção, a justiça e o acesso à saúde como os domínios da sua vida social que sus-citam menor preocupação, excetuando os jovens brasileiros, para quem estes três aspetos os preocupam mais do que preocupam os jovens dos outros países. No conjunto dos países analisados, os jovens de Portugal e Espanha são os que mostraram menor preocupação com o acesso a uma educação de qualidade.

Olhando para o extremo dos problemas que mais afetam a vida dos jovens, verificamos que a preocupação dos portugueses com o emprego ocupa uma posição central não apenas na hierarquia das suas preocupações, mas também quando comparados com os jovens de outros países. A preocupação com o emprego também afeta os outros jovens, mas com muito menor intensidade do que afeta os jovens portugueses. De facto, ao analisar o padrão geral obser-vado no quadro 1.1, constatamos diferenças significativas na hierarquização dos problemas que mais afetam os jovens em cada país: enquanto os portugue-ses se preocupam mais com os aspetos que nos remetem para uma dimensão valorativa cujo acento tónico parece ser de natureza material, decorrente de ne-cessidades socioeconómicas (emprego e economia em geral), os jovens das Américas situam estes aspetos em segundo plano, dando mais relevância a pro-blemas diretamente relacionados com fontes de ameaça à segurança, como fica evidenciado na preocupação que têm com a violência e com o uso de drogas. A questão do uso de drogas parece ser interpretada por eles como algo intrin-secamente associado à escalada da violência urbana, especialmente em países como o Brasil e o México, mas também nos outros países das Américas Central e do Sul. Os jovens da Espanha apresentam-se como casos particulares, na me-dida em que mostraram um perfil que podemos definir como misto, pois preo-cupam-se igualmente com o estado da economia e com a violência.

Dimensões organizadoras das preocupações

sociais dos jovens

Podemos assim resumir as preocupações dos jovens tentando interpretar o padrão de resultados obtidos sugerindo que a hierarquização destas

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ções segue dois aspetos diferentes da vida social: (a) problemas que nos remetem para preocupações com domínios mais simbólicos da vida social, como a justiça e a educação, o que sugere a possibilidade de estarem a valorizar aspetos mais próximos do que chamamos valores de bem-estar social (Pereira et al. 2005); (b) problemas relacionados com a valorização de aspetos materiais da vida so-cial, o que pode ser descritivo de necessidades materialistas, identificadas por Inglerart (1977), os quais nos remetem para vivências da vida quotidiana mais concreta dos jovens, como são os problemas socioeconómicos e de segurança.

Para analisar se esta interpretação encontra algum respaldo na representação dos jovens sobre os problemas sociais mais importantes nos seus países subme-temos as respostas obtidas a duas técnicas estatísticas, ao escalonamento mul-tidimensional para dados ordinais (Kruskall e Wish 1978) e à análise de clusters (Aldenderfer e Blashfield 1984). Estas técnicas permitem-nos saber se os jovens recorreram a dimensões psicossociais que estariam a atuar como princípios or-ganizadores da hierarquização dos aspetos que os preocupam em cada país. A figura 1.2 mostra a organização dos problemas sociais mais relevantes na vida dos jovens e a sua distribuição em torno de duas dimensões, assim como os agrupamentos resultantes da análise de clusters.

A primeira constatação é a de que a maneira como os jovens selecionaram os problemas sociais mais importantes não é aleatória. Isto significa que hierar-quizaram estes problemas, tentando estabelecer relações de similaridade e dis-similaridade entre tipos de problemas. Isto é, na tentativa de estabelecerem

re-38 (0,72) (0,62) (0,87) (0,85) (0,62) (0,45) (0,69) México 0,33c 0,63b 1,11a 0,68a 0,19b 0,04b 0,02b (0,66) (0,79) (0,87) (0,80) (0,48) (0,23) (0,15) América Central 0,70b 0,41b 0,97a 0,60a 0,24b 0,03b 0,03b (0,88) (0,71) (0,85) (0,75) (0,55) (0,22) (0,22) América do Sul 0,62b 0,55b 0,94a 0,63a 0,19b 0,05b 0,03b (0,87) (0,81) (0,87) (0,72) (0,47) (0,25) (0,20) Total da amostra 0,65 0,52 0,91 0,61 0,21 0,05 0,05 (0,87) (0,78 (0,87) (0,74) (0,51) (0,25) (0,27) Nota. As médias com diferentes subscritos representam diferenças estatisticamente significativas, com p < 0,05

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lações de similaridade, os jovens não tentaram apenas ordenar os estímulos que lhes foram apresentados, mas ordenaram-nos consoante três categorias: aspetos relacionados com necessidades socioeconómicas (emprego e economia); aspe-tos associados ao bem-estar social (saúde, justiça e educação); preocupação com a segurança urbana (violência e uso de drogas). Em segundo lugar, e não menos importante, os jovens procuraram distinguir estas categorias usando duas di-mensões valorativas. Na primeira dimensão, a que contrapõe o agrupamento situado no quadrante superior esquerdo aos agrupamentos localizados à direita da representação gráfica, podemos identificar uma oposição entre a preocupa-ção com a segurança (violência e drogas) e a relevância dada às necessidades económicas e sociais. A segunda dimensão é representada apenas pelos agru-pamentos localizados na metade situada à direita do gráfico e contrapõe a preo-cupação com aspetos socioeconómicos à preopreo-cupação com o bem-estar social. Finalmente, a figura 1.2 situa a posição de cada país e grupos de países nessas duas dimensões valorativas. Os jovens portugueses demarcam-se dos jovens dos outros países por claramente situarem as suas preocupações no domínio das necessidades socioeconómicas, ao passo que os jovens dos outros países têm posicionamentos bastante similares entre si, situando-se no polo das

preocupa-39 Dimensão 2 Dimensão 1 0,00 –0,50 –1,00 –1,50 –2,50 –2,00 –1,50 –1,00 –0,50 0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 México América Central

América do Sul Espanha

Brasil

* Indicadores do bom ajustamento das dimensões aos dados: stress = 0,04; R2 = 0,99.

Portugal Violência

Economia

(26)

dos jovens

A questão que nos colocamos agora é a de saber qual o significado das duas dimensões organizadoras das preocupações dos jovens. A particularidade dos jovens portugueses levanta-nos a hipótese de os fatores meramente económicos terem motivado esses jovens a situarem as necessidades socioeconómicas como centrais nas suas preocupações, o que seria coerente com o facto de Portugal estar a atravessar uma já prolongada crise económico-financeira com impacto profundo em vários aspetos da vida social. Neste sentido, indicadores de crise e instabilidade financeira poderiam atuar como princípio organizador das duas dimensões que acima descrevemos.

No entanto, embora o papel de fatores económico-financeiros possa reve-lar-se central para a interpretação do significado das dimensões obtidas, esses fatores poderão não ser os únicos. Uma hipótese complementar poderá ser le-vantada e baseia-se na possibilidade de as diferenças culturais atuarem como princípios organizadores das dimensões obtidas, diferenças que poderão ser representadas no posicionamento dos países ibero-americanos no continuum materialismo/pós-materialismo (Inglehart 1977; Pereira et al. 2005). De acordo com a nossa perspetiva, combinar fatores económico-financeiros com explica-ções socioculturais apresenta-se como bastante pertinente para chegarmos a uma interpretação mais acurada sobre o significado das dimensões organiza-doras das preocupações dos jovens aqui analisados. Tendo em mente esta pos-sibilidade, analisamos o papel de fatores explicativos que envolvem variáveis de dois níveis de análises. Como fatores explicativos a nível individual, usamos o sexo, a idade, o local de residência (se numa capital ou noutro centro urbano), a escolarização e o facto de os jovens estarem ou não desempregados. O uso destes indicadores justifica-se tanto por nos permitir ter uma visão geral sobre o que caracteriza cada dimensão a ser interpretada, como também nos possibi-lita ter uma ideia do impacto que a privação económica individual, aferida aqui pelo desemprego, tem como princípio organizador das preocupações dos jo-vens. Como fatores explicativos a nível contextual, usamos indicadores econó-micos e culturais. Como indicadores econóeconó-micos, recorremos ao PIB per capita e à taxa de crescimento deste PIB entre 2008 (ano de deflagração da atual crise

(27)

41

multinível (Hox 2010) para cada dimensão (quadro 1.2). No primeiro modelo estimamos apenas o efeito das variáveis de nível individual, enquanto o segundo modelo acrescenta os fatores explicativos de nível contextual. Como podemos verificar, quer para a dimensão 1 (que contrapõe a segurança à importância dada ao bem-estar social e económico), quer para a dimensão 2 (que contrapõe o bem-estar social ao bem-estar económico), o modelo que tem em conta ape-nas as variáveis de nível individual pouco explica o posicionamento dos jovens nestas dimensões. São sobretudo fatores explicativos que representam as dife-renças entre os países que melhor contribuem para compreendermos o signifi-cado desse posicionamento, como fica evidenciado nos resultados do modelo 2 em ambas as dimensões.

Analisando o papel desempenhado por cada tipo de fator explicativo, veri-ficamos que a idade, a escolarização e o desemprego são, de entre as variáveis de nível individual, as que mais contribuem para a definição das duas dimen-sões, enquanto o local de residência se mostra relevante apenas para o posicio-namento dos jovens na dimensão 2. Olhando apenas para a dimensão 1, cons-tatamos que, quando maior é a idade, a escolaridade e o facto de os jovens estarem em situação de desemprego, mais próximo eles posicionam as suas preocupações no polo do bem-estar económico e social, revelando-se menos preocupados com os aspetos que definem o polo da segurança (violência e uso de drogas). De maior importância, o posicionamento dos jovens nesta

dimen-2Os indicadores do produto interno bruto (PIB) per capita foram obtidos nos relatórios do

Banco Mundial aqui consultados: http://data.worldbank.org/indicator/NY. GDP.PCAP.CD.

3Ambos os inquéritos usam quatro dos doze indicadores da escala original de Inglehart (1977)

para medir o posicionamento de cada país na dimensão materialismo/pós-materialismo. Dois dos indicadores são de materialismo («manter a ordem no país» e «combater o aumento dos pre-ços») e os outros dois são de pós-materialismo («dar aos cidadãos maior capacidade de participação nas decisões importantes do governo» e «defender a liberdade de expressão»). A comparação das respostas dos inquiridos a estes quatro indicadores permite posicionar os países num continuum que vai do materialismo ao pós-materialismo. Este continuum varia de –2 a 2, onde –2 significa que o país está situado no extremo do materialismo, enquanto 2 indica que o país se situa no ex-tremo do pós-materialismo (v. Pereira e Ramos 2013 para uma descrição detalhada deste indica-dor).

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são é melhor explicado pela posição que os países ocupam no continuum mate-rialismo/pós-materialismo. Quanto mais um país se distancia do polo materia-lista do continuum, menos importância os jovens que lá vivem atribuem aos problemas relacionados com o bem-estar económico e social e, em contrapar-tida, mais preocupação mostram com a segurança. Por um lado, este efeito cor-robora a tese de Inglehart, segundo a qual as sociedades materialistas valorizam mais a preocupação com os aspetos económicos da vida social, mas, ao mesmo tempo, infirma esta tese, uma vez que também previa que a preocupação com a segurança compõe o conjunto de necessidades sociais básicas, pelo que era de esperar que os valores materialistas contribuíssem para um maior posiciona-mento dos jovens no polo destas preocupações.

No caso da dimensão 2, que contrapõe o bem-estar social ao bem-estar eco-nómico, os jovens com idade mais elevada, a residirem numa capital e em si-tuação de desemprego são aqueles que mostram uma menor preocupação com

42 Nível individual Sexo 0,03 0,03 0,01 0,01 Idade 0,07*** 0,07*** –0,04*** –0,04*** Local de residência –0,01 –0,01 –0,06*** –0,06*** Escolaridade 0,03*** 0,03*** 0,01 0,01 Desemprego 0,19*** 0,19*** –0,16*** –0,16*** Nível contextual Materialismo/pós-materialismo –1,19* 0,35 PIB per capita 0,00 0,00 Crescimento económico 0,00 0,01*

Explicação da variância

Nível individual (R2) 0,03 0,03 0,03 0,06

Nível contextual (R2) 0,23 0,20

Nota. Correlação intraclasse: dimensão 1 = 0,09; dimensão 2 = 0,11. As variáveis foram assim codificadas:

sexo (0 = raparigas; 1 = rapazes); idade = ordenação dos escalões etários (0 = 15 a 19 anos; 1 = 20 a 24 anos; 2 = 25 a 29 anos); local de residência (0 = urbano não capital; 1 = capital); escolaridade (variável ordenada de 0 = nenhuma a 9 = universitária completa); desemprego (0 = não desempregado; 1 = desempregado); o materialismo/pós-materialismo é um indicador que teoricamente pode variar de –2 (países mais materialistas) a 2 (países mais pós-materialistas). O PIB per capita é um indicador medido em dólares EUA. O crescimento económico é a percentagem de variação no PIB per capita dos países entre 2008 e 2012.

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43

económicos. Finalmente, lembremos que Portugal e Espanha foram os países que apresentaram depressão económica neste período (v. novamente o apên-dice), o que, ao menos no caso português, contribui para explicar o posiciona-mento extremado dos jovens no polo do bem-estar económico.

Atitude face a temas socialmente sensíveis

Como se posicionam os jovens ibero-americanos em relação a um conjunto de temas socialmente sensíveis? Quais serão os princípios organizadores desses posicionamentos e como descrevem estes princípios os valores culturais mais salientes nos países em que residem? Para responder a estas questões analisámos um conjunto de indicadores atitudinais que foram colocados à outra metade da amostra de jovens que compõem o 1.º Inquérito às Juventudes Ibero-Americanas. Foi-lhes solicitado que indicassem quão de acordo estavam com cada uma de seis afirmações indicativas de atitudes sociais.4As respostas obtidas

permitiram--nos analisar as diferenças entre as médias de concordância com cada uma das afirmações e comparar o posicionamento dos jovens portugueses com o dos outros jovens ibero-americanos. Ao analisar as médias no conjunto da amostra (figura 1.3), notamos que nenhum tema obtém aprovação irrestrita dos jovens, pois todas as médias se situam abaixo do ponto médio da escala de resposta (isto é, 3,00). O tema que recebe maior apoio é a abertura à imigração, enquanto a legalização da maconha e pagar para evitar sanções ou leis (aqui designado por «prática de suborno») são os temas que recebem menor apoio dos jovens. Os demais temas, como o casamento homossexual, a pena de morte e o aborto, são rejeitados em menor grau do que a imigração, mas são mais aceites do que a legalização da maconha e a prática do suborno. A pena de morte recebe maior

4Especificamente, os jovens receberam a seguinte instrução: «utilizando uma escala que varia

de 1 a 5, onde 1 significa «discorda totalmente» e 5 «concorda totalmente», indique, por favor, em que medida concorda com cada uma das seguintes frases: «o casamento entre pessoas do mesmo sexo»; «a legalização da maconha»; «imigrantes venham trabalhar no meu país»; «o aborto em condições legais»; «a pena de morte»; «pagar para evitar sanções ou leis».

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44

* As diferenças entre as médias são estatisticamente significativas, F(5, 9185) = 605,74, p < 0,001. Exce-tuando a diferença entre a concordância com o suborno e a legalização da maconha, todas as diferenças entre as médias são significativas, com p < 0,001 após a correção de Bonferroni.

3 2 1 Abertura à imigração Casamento homoafectivo Pena de

morte Aborto Suborno

Legalização da maconha

Valores médios

Quadro 1.3 – Médias e desvios-padrão das atitudes dos jovens em relação a temas socialmente sensíveis

Casamento Legalização Abertura Aborto Pena Suborno homossexual da maconha à imigração de morte

Portugal 3,85a 2,92a 3,37a 3,72a 1,45c 1,88c (1,30) (1,43) (1,17) (1,29) (1,00) (1,30) Espanha 2,26c 1,97b 2,27d 2,15c 2,21b 2,06b (1,15) (0,98) (1,23) (1,14) (1,17) (1,09) Brasil 3,03b 2,78a 3,12b 2,84b 2,55a 2,85a (1,49) (1,50) (1,45) (1,52) (1,42) (1,41) México 2,33c 2,12b 2,32d 2,09c 2,14b 1,99b (1,06) (1,07) (1,12) (1,03) (1,05) (0,93) América Central 2,40c 2,08b 3,09b 2,20c 2,46a 2,19b (1,21) (1,09) (1,26) (1,17) (1,26) (1,11) América do Sul 2,42c 2,04b 2,73c 2,21c 2,48a 2,13b (1,24) (1,06) (1,28) (1,19) (1,33) (1,14) Total da amostra 2,49 2,13 2,85 2,29 2,40 2,17 (1,28) (1,13) (1,29) (1,24) (1,29) (1,15) Nota. As médias com diferentes subscritos representam diferenças estatisticamente significativas,

(31)

mostraram ter uma atitude de menor rejeição à legalização da maconha. Além disso, os jovens portugueses são os que têm um posicionamento de maior re-jeição à prática do suborno e à pena de morte. Os jovens dos outros países ou conjunto de países não mostraram ter um posicionamento tão organizado em relação ao conjunto dos temas como o mostrado pelos portugueses. Numa visão geral, os jovens dos outros países tendem a concordar mais com a imigra-ção e a discordar mais da pena de morte e da prática do suborno, sendo estes dois temas menos rejeitados pelos jovens brasileiros.

Dimensões organizadoras das atitudes sociais

dos jovens

Além da análise descritiva acima apresentada sobre como os jovens se posi-cionam em relação aos seis temas apresentamos, interessava-nos saber se existem dimensões interpretativas, ou princípios organizadores, desses posicionamentos. Para responder a esta questão recorremos novamente ao escalonamento multi-dimensional e à análise de clusters, adotando para o efeito um procedimento si-milar ao que usámos na identificação das dimensões organizadoras das principais preocupações dos jovens. A figura 1.4 mostra os resultados obtidos, onde se podem visualizar os seis temas-alvo de atitudes organizados em torno de duas dimensões e também os agrupamentos resultantes da análise de clusters.

Um primeiro olhar sobre a representação gráfica revela-nos que a atitude dos jovens em relação aos seis temas está organizada em três categorias temáticas: uma categoria que agrega a pena de morte e a prática do suborno; uma categoria que nos remete para uma atitude de tolerância social (casamento homoafetivo, legalização da maconha e aborto); a atitude de abertura à imigração. De maior importância, a representação gráfica distribui as categorias em torno de duas dimensões atitudinais. A primeira dimensão contrapõe a atitude de maior to-lerância à categoria que agrega a aprovação da pena de morte e a prática do su-borno. A segunda dimensão é representada pelos agrupamentos localizados à direita do gráfico e contrapõe a abertura à imigração à categoria dos indicadores de tolerância social.

(32)

Um segundo olhar sobre a representação gráfica permite-nos ver a posição de cada país e grupos de países nas duas dimensões atitudinais identificadas. Como era de se esperar, e dados os resultados acima analisados, os jovens por-tugueses demarcam-se dos jovens dos outros países por se posicionarem clara-mente no polo da maior tolerância social, opondo-se à categoria da pena de morte e da prática do suborno. De uma maneira muito similar à verificada na análise das preocupações sociais, os jovens dos outros países mostraram ter po-sicionamentos bastante similares entre si, situando-se muito próximos do centro da representação gráfica, o que nos sugere a possibilidade de terem atitudes nada polarizadas ou pouco definidas em relação às categorias atitudinais iden-tificadas.

Fatores explicativos das atitudes sociais dos jovens

A terceira questão que colocamos acerca das atitudes dos jovens face aos temas socialmente relevantes é a de saber qual o significado das duas dimensões organizadoras dessas atitudes. A particularidade dos jovens portugueses nova-mente nos levanta a hipótese de que são os fatores económicos que têm moti-vado esses jovens a montarem um posicionamento tão marcadamente distinto do posicionamento dos outros jovens ibero-americanos. A segunda possibili-dade, naturalmente, remete-nos para a análise das diferenças culturais aqui

des-46

* Indicadores do bom ajustamento das dimensões aos dados: stress = 0,02; R2= 0,99.

Dimensão 1 0,00 –1,00 –2,00 –2,00 –1,00 0,00 1,00 2,00 Dimensão 2 Brasil México Espanha Suborno Casamento homossexual Legalização da maconha Aborto

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critas como o posicionamento de cada país no continuum materialismo/pós--materialismo. Novamente recorremos à estimativa de dois modelos de regressão multinível para cada dimensão (quadro 1.4). No primeiro modelo estimamos apenas o efeito das variáveis de nível individual (sexo, idade, local de residência, escolaridade e desemprego), enquanto no segundo modelo acrescentamos os fa-tores explicativos de nível contextual (os valores, o PIB per capita e o crescimento económico).

Com relação à dimensão 1 (que contrapõe a atitude de maior tolerância à categoria que integra a pena de morte e o aborto), apenas os fatores explicativos de nível individual contribuem para elucidarmos o significado desta dimensão. Mesmo assim, o poder explicativo destes fatores é muito baixo, não passando de 1%. Apesar do baixo poder explicativo, o padrão dos resultados parece-nos relevante uma vez que mostra que os rapazes, os jovens com idade mais avan-çada e aqueles que moram em capitais são os que mais distanciam a sua atitude

47 Nível individual Sexo –0,04** –0,04** –0,05*** –0,05*** Idade –0,04*** –0,04*** -0,02** –0,02** Local de residência –0,04* –0,04* 0,01 0,01 Escolaridade 0,03*** 0,03*** 0,00 0,00 Desemprego 0,05 0,05 –0,02 –0,02 Nível contextual Materialismo/pós-materialismo –0,61 0,35 PIB per capita 0,02 –0,01* Crescimento económico 0,00 0,00

Explicação da variância

Nível individual (R2) 0,01 0,01 0,03 0,03

Nível contextual (R2) 0,00 0,33

Nota. Correlação intraclasse: dimensão 1 = 0,18; dimensão 2 = 0,10. As variáveis foram assim codificadas: sexo

(0 = raparigas; 1 = rapazes); idade = ordenação dos escalões etários (0 = 15 a 19 anos; 1 = 20 a 24 anos; 2 = 25 a 29 anos); local de residência (0 = urbano não capital; 1 = capital); escolaridade (variável ordenada de 0 = nenhuma a 9 = universitária completa); desemprego (0 = não desempregado; 1 = desempregado); o ma-terialismo/pós-materialismo é um indicador que teoricamente pode variar de –2 (países mais materialistas) a 2 (países mais pós-materialistas). O PIB per capita é um indicador medido em dólares EUA. O crescimento económico é a percentagem de variação no PIB per capita dos países entre 2008 e 2012.

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mensão, mas a presença de um efeito significativo de um fator explicativo de nível contextual confere um significado especial a esta dimensão. Do lado dos fatores de nível individual, os rapazes e os jovens com mais idade mostraram ser menos abertos à imigração, mas indicaram ter atitudes sociais mais tolerantes (isto é, são mais favoráveis ao aborto, ao casamento homossexual e à legalização da maconha). Do lado dos fatores explicativos de nível contextual, apenas o PIB per capita tem um efeito significativo na organização desta dimensão. São os jovens a viverem nos países menos pobres a indicarem ter atitudes mais to-lerantes, mas, em contrapartida, exprimem menor abertura à imigração. Final-mente, o continuum dos valores culturais materialistas/pós-materialistas não con-tribuiu para a definição das atitudes dos jovens.

Conclusões

Neste capítulo colocámos inicialmente a questão de saber quais são as prin-cipais preocupações sociais dos jovens portugueses, situando essas preocupações no quadro mais geral das preocupações levantadas pelos outros jovens ibero--americanos. A análise dos indicadores referentes a esta questão permite-nos concluir que os jovens portugueses demarcam-se dos jovens dos outros países analisados porque mostram ter uma preocupação claramente situada no domí-nio do bem-estar económico. Mostraram-se preocupados, sobretudo, com o emprego e com o estado da economia. Os jovens dos outros países pouco se distinguem ente si, apresentando um posicionamento próximo, mas não muito, do polo das preocupações com a segurança, associada aqui à ameaça decorrente da perceção de violência e uso de drogas.

A análise do significado das diferentes dimensões organizadoras das preocu-pações dos jovens mostrou-nos que a primeira dimensão encontrada representa o posicionamento dos países no continuum materialismo/pós-materialismo, o que nos parece corroborar a hipótese da centralidade dos valores culturais como princípios organizadores das prioridades que as sociedades estabelecem como metas mais importantes a serem obtidas pelos seus cidadãos (Inglehart 1977; Pereira et al. 2005). Assim, esta primeira dimensão representa as diferenças

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crise. Provavelmente, a similaridade entre o posicionamento dos espanhóis e o dos jovens dos outros países, sobretudo os das Américas Central e do Sul, su-gere-nos a possibilidade de haver outros fatores explicativos de natureza cultural não abordados neste inquérito, de que são exemplos os indicadores de valores psicossociais que avaliam os princípios axiológicos que as pessoas julgam serem as metas que se devem seguir para a construção de uma sociedade ideal (Pereira

et al. 2005). As diferenças culturais nas escolhas destas metas poderiam

contri-buir para melhor compreendermos o papel dos valores enquanto princípios or-ganizadores das preocupações dos jovens nas sociedades contemporâneas.

A segunda grande questão que colocamos procurou saber como se posicio-nam os jovens em relação a vários temas socialmente sensíveis. O aspeto que nos parece ser mais relevante a salientar nas dimensões organizadoras das ati-tudes dos jovens é o posicionamento dos portugueses no polo dos indicadores de tolerância e a sua marcada oposição à pena de morte e à prática de atos de suborno. O posicionamento similar dos jovens nos outros países, situado bem próximo do centro dos eixos que definem as dimensões atitudinais identifica-das, sugere-nos a possibilidade de estes jovens ainda não terem internalizado os princípios valorativos implicados nas atitudes analisadas, ou meramente não terem opiniões claramente definidas sobre os temas abordados.

Talvez por esta razão, a interpretação das dimensões obtidas revelou-se mais complexa do que a interpretação das dimensões organizadoras das preocupa-ções dos jovens. Embora tenhamos obtido um posicionamento destacado dos jovens portugueses em comparação com os jovens dos outros países, a identi-ficação dos princípios organizadores das atitudes mostrou-se ser menos evi-dente. Apesar de todas as teorias sobre a centralidade dos valores preverem um impacto significativo destes nas atitudes sociais (Inglehart e Baker 2000; Ramos 2006; Schwartz et al. 2012), não encontramos evidência para esta assertiva quando analisamos o papel dos valores materialistas e pós-materialistas na de-finição do posicionamento dos jovens nas dimensões obtidas. Provavelmente, valores que revelam interesse de nível mais pessoal, como, por exemplo, os tipos motivacionais estudados por Schwartz (1992), como princípios-guias das ações e aspirações dos indivíduos em sociedade, estariam a atuar na definição

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51

Apêndice

Quadro 1.5 – Indicadores contextuais usados como fatores explicativos nos modelos de regressão multinível

Materialismo/ PIB PIB Taxa de crescimento pós-materialismo per capita 2008 per capita 2012 do PIB Argentina –0,26 10,233 14,680 30,293 Bolívia –0,16 1,696 2,576 34,161 Brasil –0,36 8,623 11,320 23,825 Chile –0,27 10,686 15,245 29,905 Colômbia –0,08 5,405 7,763 30,375 Costa Rica –0,26 6,581 9,443 30,308 Equador –0,16 4,256 5,425 21,548 El Salvador –0,14 3,484 3,782 7,879 Espanha –0,36 34,674 28,282 –22,601 Guatemala –0,52 2,867 3,341 14,187 Honduras –0,26 1,883 2,339 19,496 México –0,03 9,560 9,818 2,628 Nicarágua –0,26 1,498 1,777 15,701 Panamá –0,26 7,003 9,982 29,844 Paraguai –0,16 2,967 3,680 19,375 Peru –0,17 4,240 6,424 33,998 Portugal –0,67 23,861 20,175 –18,270 R. Dominicana –0,13 4,697 5,733 18,071 Uruguai 0,10 9,068 14,728 38,430 Venezuela –0,28 11,223 12,729 11,831

Nota. Os valores materialistas/pós-materialistas foram obtidos nas bases de dados do World Value Survey

(quinta vaga, 2007) e do European Value Study (quarta vaga, 2008). Os indicadores do PIB per capita foram ob-tidos nos relatórios do Banco Mundial: http://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.PCAP.CD.

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Referências

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