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DISTORÇÃO DE FORMA NO TESTE DE BENDER: QUESTIONANDO SEU CRITÉRIO DE VALIDADE FORM DISTORTION OF BENDER TEST: QUESTIONING ITS VALIDITY CRITERION

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DISTORÇÃO DE FORMA NO TESTE DE BENDER: QUESTIONANDO SEU CRITÉRIO DE VALIDADE

Fermino Fernandes Sisto+, Ana Paula Porto Noronha++ e Acácia Aparecida Angeli dos Santos+++

RESUMO

Para se obter informações sobre a qualidade dos testes psicológicos utilizados no Brasil, este trabalho analisou os critérios relativos à distorção de formas nas figuras do Bender, relativas ao seu caráter evolutivo. Participaram 314 crianças de ambos os sexos das séries iniciais do ensino fundamental. Os dados foram coletados por uma equipe que dava instruções e auxiliava os alunos na utilização dos cartões. Os resultados indicaram correlação negativa entre idade e deformação em algumas figuras. Também, apesar de haver diferenças estaticamente significativas na pontuação em relação às idades, sugerindo que conforme aumentou a idade, diminuiu a intensidade da deformação. O agrupamento resultante da prova de Tukey não foi coerente com o esperado para uma medida sensível ao caráter maturacional do desenvolvimento infantil. Além disso, os valores de alfa indicaram consistência frágil. Esses resultados apontam para a necessidade de revisão dos critérios de Koppitz.

Palavras-chave: Avaliação psicológica; parâmetros psicométricos; sistema de avaliação de Koppitz

FORM DISTORTION OF BENDER TEST: QUESTIONING ITS VALIDITY CRITERION

ABSTRACT

In order to gather information about the quality of psychological tests that are used in Brazil this study analyzed the criteria related to the Bender figures form distortions in relation to its evolutional aspects. 314 children were studied, both male and female, attending the initial grades of elementary school. The data was collected by a team, responsible to instruct and help the children to use the cards. The results suggested a negative correlation between age and some of the figure distortions. Besides, the groups formed by Tukey’s tests did not show coherency to an expected measure sensitive to the characteristics of the child’s maturational development, in spite of the statistically significant differences among the scores related to the ages, which showed that the age increased as the distortion intensity decreased. Moreover, the alpha values indicated low consistency. These results suggest the need to review Koppitz’s criteria.

Key words: Psychological assessment; psychometric properties; Koppitz’s evaluation system.

+Doutor em Educação pela Universidad Complutense de Madrid; livre docente em Psicologia do Desenvolvimento pela UNICAMP; docente da graduação e do Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia da Universidade São Francisco – Itatiba-SP. E-mail: fermino.sisto@saofrancisco.edu.br.

++ Doutora em Psicologia: Ciência e Profissão pela PUC-Campinas; bolsista de produtividade do CNPq; docente da graduação e do

Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia da Universidade São Francisco – Itatiba-SP.

+++ Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP; docente da graduação e do Programa de Estudos

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INTRODUÇÃO

Há indicações de que está havendo um crescimento do interesse pela testagem psicológica. A partir de 1990, aproximadamente, novos testes e a revisão dos antigos tornou-se um fato nos Estados Unidos (Anastasi & Urbina, 2000). O aumento da produção científica e da prática psicométrica na Europa é apontado por Muniz (1996) e comprovável pelas publicações e freqüentes participações em congressos internacionais.

Os trabalhos do International Test Comission (2001) também influenciaram fortemente na psicometria européia e na elaboração das recentes resoluções do Conselho Federal de Psicologia no Brasil. De forma geral, contribuíram para a sistematização de testes, uma vez que têm a função de supervisionar a organização, a construção e o uso de instrumentos psicológicos, favorecendo e pautando o crescimento da área com parâmetros claramente definidos.

Outro trabalho de natureza semelhante foi desenvolvido por associações, tais como, a American Educational Research Association, a American Psychological Association e a National Council on Measurement in Education (AERA, APA & NCME, 1999), cujo objetivo foi criar critérios para a avaliação, para a prática e para o efeito resultante da utilização de medidas psicológicas. Os Standards, que definem normas internacionais para construção e utilização de testes, não pretendem responder a todas as questões de ordem psicométrica, contudo seria desejável que autores, editores e usuários as conhecessem com o objetivo de aperfeiçoar os instrumentos nacionais.

Pelo menos duas publicações revelam a organização e a qualidade dos instrumentos nos Estados Unidos. Exemplo disso é o Mental Measurements Yeabooks da Universidade de Nebraska que traz informações precisas acerca da construção, aplicação e dos parâmetros psicométricos dos testes (Salvia & Ysseldyke, 1991). Com o mesmo propósito, a Psychological Assessment Resources (2003), criada há 25 anos, editou um catálogo de testes no qual constam mais de 400 trabalhos para utilização em áreas diversas, tais como avaliação da personalidade e aconselhamento, avaliação neuropsicológica, forense, intelectual, desenvolvimento, negócios, dentre outras.

Em contrapartida, no cenário nacional, atualmente estão sendo dados passos importantes para a estruturação da área depois de um período de estagnação. Assim, o Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2001, 2003) por meio de suas resoluções nos 025/2001 e 002/2003 regulamentou o uso, a elaboração e a comercialização de testes psicológicos. No que se refere especialmente à elaboração de testes, a última resolução considerou que há necessidade de aprimoramento dos instrumentos e procedimentos técnicos de trabalho dos psicólogos, a fim de promover serviços com qualidade técnica e ética à sociedade.

É nesse contexto que se insere o presente estudo, cujo objeto de investigação é o Teste Gestáltico Viso-Motor, criado por Lauretta Bender em 1938, e com trabalhos iniciais datando de 1930. O instrumento baseia-se nos estudos de Max Wertheimer (1930) sobre as leis de organização perceptual. Da série de 30 desenhos usados por Wertheimer, Bender selecionou nove deles, considerados os mais representativos para ilustrar a função pela qual o indivíduo responde gestalticamente a uma série de estímulos.

A premissa do teste é de que o comportamento viso-motor preciso é uma habilidade, sendo que a mensuração da maturidade percepto-motora poderia ser obtida pelo uso de padrões com diferentes graus de complexidade e princípios de organização. Para Bender a função gestáltica é associada a diversas funções intelectuais, tais como percepção visual, habilidade motora manual, conceitos temporais e espaciais e organização ou representação (Koppitz, 1989).

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O método de avaliação do Bender Gestáltico denominado Developmental Bender Test Scoring System foi criado por Koppitz em 1963, destina-se a avaliar a maturidade neurológica da criança para o diagnóstico de lesão cerebral. Fizeram parte da amostra 1104 crianças, sendo 637 do sexo masculino e 467 do sexo feminino, pertencentes a 46 classes de 12 escolas públicas dos Estados Unidos. A idade das crianças variou entre 5 e 10 anos e 11 meses. Quanto às qualidades psicométricas, os estudos de precisão entre os examinadores geraram coeficientes de correlação entre 0,88 a 0,96. Além disso, cada sujeito foi retestado 4 meses depois da primeira avaliação. Empregou-se o coeficiente de correlação de Kendall e as correlações mostraram-se significativas. Por fim, verificou-se a sensibilidade do instrumento e os resultados indicaram que ele é sensível de idade em idade, dos 6 aos 10 anos.

De acordo com Koppitz (1989), a avaliação da habilidade percepto-motora se justifica uma vez que o desenvolvimento intelectual se dá a partir de experiências sensório-motoras nos primeiros anos de vida. Além disso, o desenvolvimento perceptivo-motor adequado pode ser entendido como um requisito para o desenvolvimento de habilidades acadêmicas, de forma que um baixo desempenho perceptivo-motor tende a contribuir para problemas de aprendizagem.

Várias pesquisas utilizaram o Bender em grupos com dificuldades específicas. Entre elas estão estudos com pacientes epilépticos e esquizofrênicos (Maciel Jr. & Puente, 1983; Lee & Oh, 1998; Aucone & colaboradores, 2002; entre outros), em crianças com deficiência auditiva (Cariola, Piva, Yamada & Bevilacqua, 2000; Gemignani, & Chiari, 2000) ou em pacientes portadores da síndrome de imunodeficiência adquirida (Mattos, 1991). Embora os estudos se diferenciem quanto à amostra ou à metodologia empregada, em comum, eles usaram o Teste de Bender a fim de verificar características neurológicas dos sujeitos avaliados. Os resultados, em geral, têm apontado para a sensibilidade do instrumento para captar as diferenças existentes entre os portadores de distúrbios e pessoas sem distúrbios aparentes.

Ainda nesse sentido, o estudo realizado por Blanchard (1998) com 387 pacientes de diferentes grupos clínicos (adolescentes institucionalizados, dementes senis e pacientes psiquiátricos, entre outros) teve o propósito de identificar qual a figura ou combinação de figuras mais útil para um diagnóstico rápido de disfunções neurológicas. Diferentes métodos de correção foram utilizados e os resultados apontaram a figura 7 como a que apresentou correlações mais altas e consistentes em todos os métodos e para todos os grupos de pacientes.

A utilidade do Bender para o diagnóstico diferencial de crianças com problemas de aprendizagem também tem sido apontada. Nesse sentido, Arrillaga, Eschebarria e Goya (1981) realizaram uma investigação do nível intelectual de um grupo de 6 a 13 anos com suspeita de deficiência mental ou dificuldade de aprendizagem. Utilizando o WISC, o teste de Matrizes Progressivas Coloridas do Raven e o Bender os autores encontraram correlações entre as três medidas. Similarmente, Jing, Deqing e Longhui (2001) compararam crianças portadoras de diversos tipos de dificuldades (verbais e não verbais) com crianças normais. Os resultados apontaram a existência de diferenças significativas entre os vários grupos, sendo que os sujeitos com dificuldades verbais apresentaram pontuação mais elevada em apenas uma figura e os com dificuldades não-verbais tiveram escores mais elevados em cinco figuras.

Outros estudos têm procurado verificar a validade do Bender como preditivo do desenvolvimento. Com esse intuito, Brannigan, Aabye, Baker e Ryan (1995) compararam o

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sistema de classificação com o sistema qualitativo em 409 crianças dos primeiros quatro anos de escolaridade. Os resultados obtidos demonstraram que o sistema qualitativo era mais adequado para a identificação de crianças com problemas de aprendizagem. Em trabalho recente, Chan (2001) apontou para dificuldades de comparação dos resultados do Bender com crianças chinesas de 4,5 a 8,5 anos, quando pontuadas segundo a classificação norte-americana. Como conclusão o autor enfatiza a necessidade de padrões apropriados às crianças avaliadas.

Em função desses aspectos, há autores que questionam o valor dos critérios de correção utilizados, afirmando que há limitações na interpretação da pontuação obtida, com conseqüentes problemas para sua utilização no diagnóstico neuropsicológico, bem como na identificação de aspectos desenvolvimentais (Taylor, Kauffman & Partenio, 1984; Shapiro & Simpson, 1995; Lacks, 2000).

Entre os estudos mais recentes que se destinam a encontrar formas alternativas de correção, encontra-se o de Posada (2002) que desenvolveu um sistema de classificação das respostas fundamentado nos princípios piagetianos de construção e representação espacial. Sua amostra englobou 851 crianças de escolas públicas argentinas entre 5 e 14 anos. As análises estatísticas preliminares resultantes de sua classificação indicaram bons parâmetros psicométricos e vantagens em relação aos métodos clássicos de correção como os de Santucci e Koppitz.

No Brasil, o Teste de Bender tem sido muito usado (Noronha & colaboradores, 2002; Pinelli Jr. & Pasquali, 1990) e tem feito parte do programa de disciplinas de várias universidades brasileiras (Alves, 2002; Alves, Alchieri & Marques, 2002). Ao lado disso, tem sido objeto de pesquisas, das quais serão ressaltadas as que estudaram evidências de validade.

Assim, as relações entre traços de personalidade e percepção visomotora foram estudadas por Sisto, Bueno e Rueda (2003). Os resultados indicaram que a menor integração associou-se às maiores pontuações em neuroticismo, enquanto que maiores pontuações em distorção associaram-se a maiores pontuações de psicoticismo. Por sua vez, Bandeira e Hutz (1994) investigaram o grau de predição do rendimento escolar na primeira série por meio da aplicação dos testes Desenho da Figura Humana, Bender e Raven. Os resultados mostraram que os três testes apresentam correlações significativas com o rendimento escolar, embora apenas Bender e itens evolutivos do Desenho da Figura Humana tenham contribuído para explicar a variância do rendimento escolar.

Com relação às pesquisas que levaram em conta o aspecto maturacional do teste, há o trabalho realizado por Moura (1982) com 160 sujeitos de 3 a 6 anos. Foram avaliadas as diferenças da performance dos diferentes grupos etários, tendo ficado evidente o caráter evolutivo na reprodução de figuras geométricas. No entanto, não foram essas as idades inicialmente estudadas por Koppitz. Há também os estudos de validação de Kroeff (1988, 1992), valendo-se do método de correção proposto por Koppitz. O autor apresentou normas específicas para escolas públicas e privadas e analisou a diferença de resultados de acordo com a série.

Uma pesquisa de particular interesse é a de Pinelli Jr. e Pasquali (1990) na qual buscou-se fazer uma avaliação dos parâmetros psicométricos, por meio de uma análise fatorial. Os resultados indicaram que o Bender possui uma estrutura multifatorial, contrapondo-se a unifatorial do sistema proposto por Koppitz e uma baixa consistência interna.

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Da literatura sobre o Bender, pelo menos duas informações são constantes e bastante relevantes. Se por um lado, é um instrumento bastante usado, e o Brasil segue essa mesma tendência; por outro lado, apesar dos estudos feitos, há críticas em relação a evidências de sua validade, que são poucas e controversas (Moura, 1982; Kroeff, 1988, 1992; Pinelli Jr. & Pasquali, 1990; Bandeira & Hutz, 1994).

Considerando o estudo de Pinelli Jr. e Pasquali (1990) questionando a unidimensionalidade do teste, o presente estudo teve como objetivo analisar os critérios relativos à deformação ou distorção de formas, nas figuras A, 1, 3, 5 e 7 em relação ao seu caráter evolutivo. De certa forma, busca averiguar a validade desse critério para diferenciar as idades cronológicas, já que a idade cronológica foi o critério usado por Koppitz para diferenciar níveis maturacionais.

MÉTODO PARTICIPANTES

Foram sujeitos da pesquisa 314 crianças, ambos os sexos, de primeira à quarta série de uma escola pública, com idades variando entre 7 e 10 anos (média 8,62 anos e desvio padrão de 1,12). Do total, foram 48,4% do gênero feminino e 51,6% do gênero masculino. Havia 24 meninas (36,4%) e 42 meninos (63,6%) totalizando 66 alunos de 7 anos; 35 meninas (42,7%) e 47 meninos (57,3%) totalizando 82 alunos de 8 anos; 44 meninas (61,1%) e 28 meninos (38,9%) totalizando 72 alunos de 9 anos; 49 meninas (52,2%) e 45 meninos (47,9%) totalizando 66 alunos de 10 anos.

INSTRUMENTO

O Teste Gestáltico Visomotor de Bender foi construído para fornecer um índice de maturação percepto-motora. Consiste de nove figuras (A, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8) que são apresentadas uma a uma, para serem copiadas pelo sujeito em uma folha em branco, sem auxílio mecânico. Neste estudo, optou-se pelo critério de Koppitz (1989) e interessaram apenas os itens referentes à distorção da forma nas figuras A, 1, 3, 5 e 7. Conforme os critérios propostos por Koppitz, para cada erro cometido pela criança foi atribuído um ponto. Assim, cada figura foi considerada uma medida e a soma delas, outra, denominada distorção geral.

PROCEDIMENTO

Os instrumentos foram aplicados coletivamente, em sala de aula, por uma equipe de cinco estudantes de graduação e um mestrando de psicologia. Ficaram dois aplicadores por sala de aula para dar as instruções e auxiliar os sujeitos individualmente, caso fosse necessário. A avaliação foi realizada por um grupo de seis pessoas que concordaram entre si na atribuição de cada ponto aos erros cometidos pelos sujeitos.

RESULTADOS

Considerando os resultados encontrados, no que se refere ao gênero, vale destacar que apenas na figura 1 houve significância estatística (t=-2,466 e p=0,014), sendo que os meninos tenderam a apresentar uma média de 0,06 e as meninas de 0,15, ou seja, um número maior de meninas apresentou distorções na figura 1 do teste. Quanto às outras figuras e na pontuação geral de distorção, as diferenças foram atribuídas ao acaso.

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Com referência à relação entre idade e deformação, esperava-se que houvesse uma correlação negativa e significativa entre idade e pontuação em distorção, ou seja, que conforme as crianças fossem ficando mais velhas, as distorções fossem diminuindo. Os resultados encontram-se na Tabela 1.

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inserir Tabela 1 aproximadamente aqui

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Por estes resultados pode-se observar que em três das seis medidas a expectativa foi confirmada, ainda que os coeficientes possam ser considerados baixos. Nos outros casos, o aumento da idade não está relacionado com o aumento ou diminuição de presença de distorção nas figuras.

No entanto, é possível que, apesar de não haver correlação entre idade e as deformações nas figuras, as idades poderiam se diferenciar quanto à presença ou ausência de deformação. Para isso, os dados foram estudados por meio de análise de variância a nova e seus resultados encontram-se na Tabela 2.

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inserir Tabela 2 aproximadamente aqui

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Com base nesta análise, apenas as pontuações da figura 3 não diferenciaram significativamente as idades. O teste de Tukey, no entanto, indicou que a figura 5 formava apenas um conjunto, indicando que a diferenciação encontrada era muito tênue. Além disso, nem todas as idades se diferenciaram, como mostra a Tabela 3.

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inserir Tabela 3 aproximadamente aqui

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Os resultados obtidos permitiram observar que as pontuações das figuras A e 1, bem como a pontuação geral, formaram dois subconjuntos e não quatro como seria o esperado para cada uma. Também, as idades agrupadas em cada subconjunto são diferentes, sendo que apenas na pontuação geral a seqüência das idades foi a esperada. Finalmente, a figura 7 foi a que mais se adequou à expectativa maturacional do teste, apesar da idade de 8 anos não ser discriminada.

No entanto, menção deve ser feita ao fato de que a pontuação geral (soma de todas as figuras) formou dois subconjuntos, de forma que a idade de 10 anos foi considerada diferente das outras três, que formaram um outro conjunto. Essa informação demonstra que esse indicador só diferencia a idade de 10 anos das outras. Nessa mesma direção, a figura A facilita a interpretação da possibilidade de discriminar as crianças de 7 anos, mas é ambivalente com relação às crianças de 9 anos.

Na Tabela 4 são apresentados, por idade e no geral, as médias, desvios padrões e o coeficiente de consistência interna de Cronbach 1996 (alfa) em relação a todas as figuras analisadas.

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inserir Tabela 4 aproximadamente aqui

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As médias por idade diminuíram conforme a idade dos sujeitos aumentava, porém como já se afirmou anteriormente, as diferenças entre elas não são estatisticamente significativas. Vale destacar que o índice de alfa obtido para cada agrupamento não é alto, indicando baixa consistência interna do item para explicar o conjunto de dados aí obtidos. Analisou-se, também, a correlação item-total, cujos dados encontram-se na Tabela 5. O critério usado foi o de correlações inferiores a 0,30 (Guilford & Fruchter, 1978) para indicar problemas de adequação.

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inserir Tabela 5 aproximadamente aqui

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Pelos resultados obtidos apenas as informações da figura 3 indicam um ajustamento à medida geral, ou seja, à soma de todas as figuras, em todas as idades e no geral. Também, a figura 5 ofereceu um bom ajustamento, já que em três das cinco análises as correlações atenderam ao critério. Por sua vez, as figuras 1 e 7 mostraram ajustamento apenas aos 8 anos e, finalmente, a figura A não atingiu o critério em nenhuma das análises. Dessa forma, das cinco figuras estudadas, três delas não apresentaram comunalidade com a medida geral de distorção.

DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

Para Koppitz (1989) a avaliação da habilidade percepto-motora está relacionada com as experiências sensório-motoras nos primeiros anos de vida. Ao lado disso, defendeu que o teste de Bender seria apropriado para captar os aspectos evolutivos decorrentes da maturidade neurológica das crianças.

Originalmente o instrumento foi desenvolvido com base em resultados de mais de 1000 crianças de ambos os sexos entre 5 e 10 anos. Na ocasião, Koppitz (1963) afirmou que o teste, composto por 30 itens, era capaz de avaliar a maturidade neurológica de crianças e oferecer sinais indicativos de lesões cerebrais. Os resultados indicaram que o instrumento era apropriado para ser utilizado com crianças de 6 a 10 anos.

Pela correção proposta por Koppitz (1963) o número de sinais apresentados tenderia a diminuir, acompanhando o desenvolvimento infantil, visto que essa medida tem como pressuposto que o comportamento motor é resultante de uma habilidade que denota a maturidade percepto-motora. Por essa característica, e dentro dessa concepção, o Bender tem sido um dos testes muito utilizados no Brasil (Alves, 2002; Alves, Alchieri & Marques, 2002; Noronha & colaboradores, 2002). Ao mesmo tempo, alguns estudos têm apontado problemas em relação à unidimensionalidade da medida (Pinelli Jr. & Pasquali, 1990), como também em relação ao caráter evolutivo (Taylor, Kauffman & Partenio, 1985; Brannigan & colaboradores, 1995) ainda que outros corroboraram os resultados de Koppitz (Arrillaga, Eschebarria & Goya, 1981; Moura, 1982; Kroeff, 1988, 1992; Jing, Deqing & Longhui, 2001).

Nesse contexto, justifica-se a busca de evidências de validação. A averiguação do caráter evolutivo da medida foi realizada por meio da análise de variância. Seu resultado apresentou um valor estatisticamente significativo para a diferença entre as médias de sinais na distorção de forma das figuras em relação às idades, exceção feita à figura 3. Entretanto, o teste post-hoc aplicado para verificar os agrupamentos apontou que as idades não foram diferenciadas em todas as figuras, que no geral distinguiram apenas dois grupos etários. A

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exceção ficou por conta da figura 7 que agrupou as idades em 3 grupos. Essa informação sugere que o caráter evolutivo defendido por algumas pesquisas (Arrillaga, Eschebarria & Goya, 1981; Moura, 1982; Kroeff, 1988, 1992; Jing, Deqing & Longhui, 2001) não foi detectado nem em cada figura de per si, nem na soma de todas elas.

Realce deve ser dado ao fato de que a soma da pontuação de cada figura diferenciou apenas a idade de 10 anos das outras. Além disso, deve-se mencionar o fato de que a figura 7 foi a que mais se mostrou sensível para captar as diferenças maturacionais previstas. A sensibilidade da figura 7 já havia sido apontada por Blanchard (1998) como sendo a figura mais adequada para diferenciar características neurológicas dos grupos clínicos com os quais trabalhou, independentemente do método de correção utilizado.

Observou-se, ainda, ao se analisar os coeficientes de consistência interna de todas as figuras que os valores de alfa indicaram também fragilidades, não apenas por idade, mas também no geral. Esses dados encontram suporte no estudo realizado por Pinelli Jr. e Pasquali (1990).

Pelos resultados obtidos na análise das correlações item-total outros problemas foram encontrados. De fato, apenas a figura 3 forneceu indicativos de ajustamento em todas as idades e no geral, embora em três das cinco análises da figura 5 as correlações atenderam ao critério. No entanto, as figuras 1 e 7 mostraram ajustamento em apenas uma das idades e a figura A em nenhuma. Assim, essas figuras parecem indicar a necessidade de uma revisão em seu sistema de correção.

De todas essas análises dois fatos devem ser destacados. Apesar de não se ajustar ao conjunto de medidas, a figura 7 foi a mais sensível para detectar as diferenças entre as idades, ou seja, apresentou alguma evidência de validade discriminante. Ao lado disso, outra figura que apresenta resultados que merecem a atenção é a figura 3 que aparece como a que melhor se ajusta ao critério deformação (possível evidência de unidimensionalidade), como detectado pela correlação item-total, mas com baixa correlação para diferenciar as idades. Ambas as figuras careceriam de outros estudos que as focalizassem.

Esses resultados foram obtidos com base em uma análise de um critério específico (a deformação ou distorção de forma) que não é o único usado no sistema Koppitz de correção. Nesse sentido, as críticas feitas não se referem ao sistema como um todo, pois se desconhece dados analisando cada critério separadamente. No entanto, não deixam de lançar dúvidas sobre o sistema, sugerindo novas pesquisas, como também a análise dos outros critérios do sistema.

Essa delimitação do estudo trouxe consigo a dificuldade de comparar os dados com a literatura, já que as pesquisas estudadas sempre consideraram o sistema como um todo. No entanto, algumas compatibilidades e incompatibilidades puderam ser inferidas.

Assim, os dados aqui obtidos não são congruentes com os encontrados anteriormente nas pesquisas estrangeiras (Arrillaga, Eschebarria & Goya, 1981; Jing, Deqing & Longhui, 2001) e nacionais (Moura, 1982; Kroeff, 1988, 1992) que apontaram o teste como sensível para diferenciação das idades. Quando se analisou a relação da idade e a pontuação em deformação, era esperado que as crianças mais velhas apresentassem pontuações menores nos sinais indicativos de deformações. No entanto, os índices esperados de correlação negativa não foram aqui constatados na maioria das figuras avaliadas.

Outros estudos relataram dificuldades na utilização do sistema de classificação de Koppitz para captação de diferenças entre crianças da faixa etária para a qual o teste foi destinado (Taylor, Kauffman & Partenio, 1985; Brannigan & colaboradores, 1995). Nesse sentido, pode-se levantar a hipótese de que o critério evolutivo não está presente em todas as

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figuras, corrigidas pelo critério adotado. Em outros termos, não se pode somar os pontos obtidos nas diferentes figuras, pois eles estão medindo coisas distintas, ou seja, não estão avaliando a mesma dimensão, o que se contrapõe ao sistema unidimensional proposto por Koppitz e já questionado em outros trabalhos como o de Pinelli e Pasquali (1990).

Tal como apontado no presente estudo, outros pesquisadores também levantaram questionamentos a respeito da adequação dos critérios de pontuação propostos por Koppitz. Há esforços no sentido de se buscar sistemas alternativos de correção que sejam mais sensíveis para captar os aspectos maturacionais no desenvolvimento infantil (Lacks & Newport, 1980; Shapiro & Simpson, 1995; Lacks, 2000; Posada, 2002). Aliás, no que se refere aos sistemas de pontuação do teste, há que se ressaltar que, embora Bender não tenha criado um procedimento de correção de seus cartões, diferentes autores em todo o mundo apresentaram tentativas de atribuir pontos a determinadas indicativos de sinais neurológicos, de características afetivo-emocionais e de organização grafo-perceptual.

Finalmente, os questionamentos aqui realizados podem contribuir para com a área de psicometria no que se refere à determinação de evidências de validade e precisão e, principalmente, realçar a necessidade de deixar mais claros os limites dos testes usados e suas possibilidades de interpretação. Dessa forma, pesquisadores e profissionais de psicologia poderão contar com instrumentos mais adequados que possam ser mais conscientemente utilizados o que produziria diagnósticos mais confiáveis.

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Primeira decisão editorial em: maio /2004 Versão final em: agosto /2004 Aceito em: novembro /2004

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