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DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

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DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL CPI - TRÁFICO DE ORGÃOS HUMANOS

EVENTO: Audiência Pública N°: 0693/04 DATA: 27/5/2004 INÍCIO: 10h40min TÉRMINO: 13h40min DURAÇÃO: 03h00min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 2h59min. PÁGINAS: 67 QUARTOS: 36

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO

ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Coordenador do Sistema Nacional de Transplantes

SUMÁRIO: Apreciação de requerimentos. Tomada de depoimento.

OBSERVAÇÕES Há intervenção inaudível.

Há exibição de imagens. Há orador não identificado. Há termo ininteligível.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Havendo número

regimental, declaro aberto os trabalhos da 17ª reunião ordinária da Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar a atuação de organizações atuantes no tráfico de órgãos humanos. Informo aos Srs. Parlamentares que foi distribuída cópia da ata da 16ª reunião. Sendo assim, indago se há necessidade de sua leitura.

O SR. DEPUTADO JOÃO CAMPOS - Requeiro a dispensa da leitura, Sr.

Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Dispensada a leitura da

ata, coloco-a em votação. Em discussão a ata. (Pausa.) Não havendo quem queira discuti-la, coloco-a em votação. Os Srs. Deputados que a aprovam permaneçam como se encontram. (Pausa.) Aprovada. Comunico a V.Exas. o recebimento do ofício da Liderança do PDT comunicando que o Deputado Dr. Rodolfo Pereira não participará dos trabalhos legislativos desta Casa no dias 25, 26 e 27 de maio, em função de compromissos partidários no Estado de São Paulo. Ordem do Dia. Esta reunião foi convocada para a realização de audiência pública com a presença do Sr. Dr. Roberto Soares, Coordenador do Sistema Nacional de Transplantes, e, ainda, para a deliberação de requerimentos.

O SR. DEPUTADO ZICO BRONZEADO - Sr. Presidente, solicito a inversão

de pauta.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Inversão de pauta

solicitada pelo Deputado Zico Bronzeado. Em discussão a proposta do Deputado Zico Bronzeado. (Pausa.) Em votação. Os Srs. Deputados que a aprovam permaneçam como se encontram. (Pausa.) Aprovado. Vamos, então, ao Item 1 da pauta. Quero convidar, neste momento, o Deputado Zico Bronzeado, Vice-Presidente da Comissão, para assumir os trabalhos, tendo em vista que o requerimento é de minha autoria.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Zico Bronzeado) - Com a palavra o Deputado

Neucimar Fraga, autor dos requerimentos. Passamos, então, ao Requerimento nº 44, de 2004, do Sr. Neucimar Fraga, que solicita a convocação do Dr. Sérgio Poli Gaspar. Com a palavra o Deputado Neucimar Fraga para encaminhar.

O SR. DEPUTADO NEUCIMAR FRAGA - Sr. Presidente, o objetivo do

requerimento é convocar o Dr. Sérgio Poli Gaspar, que foi denunciado nesta comissão, em depoimento prestado pelo Paulo Pavesi, por emitir uma avaliação

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anestésica incorreta em relação ao paciente Paulo Veronesi Pavesi, ocorrida na cidade de Poços de Calda. Esse é o motivo da convocação.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Zico Bronzeado) - Em discussão. (Pausa.)

Não havendo quem queira discutir, em votação. Os Srs. Deputados que o aprovam permaneçam como estão. (Pausa.) Aprovado. Item 2 da pauta. Requerimento nº 45 do Sr. Neucimar Fraga, que solicita a convocação do Dr. Celso Roberto Frassion Scaffi, urologista da Santa Casa de Misericórdia de Poços de Caldas. Para encaminhar a matéria, concedo a palavra ao Deputado Neucimar Fraga, autor do requerimento.

O SR. DEPUTADO NEUCIMAR FRAGA - Sr. Presidente, a solicitação da

convocação do Dr. Celso Roberto Frassion Scaffi, ele é urologista da Santa Casa de Misericórdia de Poços de Caldas e foi denunciado nesta Comissão também pelo depoente Paulo Pavesi, com a apresentação de documentos que demonstram incompatibilidade na descrição da cirurgia para retirada de órgãos do paciente Paulo Veronesi Pavesi, ocorrida também na cidade de Poços de Caldas. Esse é o motivo do requerimento da convocação.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Zico Bronzeado) - Em discussão. (Pausa.)

Não havendo quem queira discutir, em votação. Os Srs. Deputados que o aprovam permaneçam como estão. (Pausa.) Aprovado. Item 3 da pauta. Requerimento nº 46, do Sr. Neucimar Fraga, que solicita que seja constituído um grupo de Parlamentares desta Comissão para realizar visita ao Embaixador Extraordinário de Plenipotenciário de Israel no Brasil, Sr. Daniel Gazit. Objetivo: trocar informações relativas aos ilícitos relacionados com o tráfico de órgãos humanos com a participação de cidadãos israelenses e brasileiros. Para encaminhar a matéria, concedo a palavra ao Deputado Neucimar Fraga, autor do requerimento.

O SR. DEPUTADO NEUCIMAR FRAGA - Sr. Presidente, em oitiva realizada

no Estado de Pernambuco, esta Comissão ouviu os envolvidos numa quadrilha internacional de tráfico de órgãos, entre eles 2 israelenses que em depoimento prestado na Assembléia Legislativa daquele Estado, na CPI Parlamentar Estadual, afirmaram que essa quadrilha agia internacionalmente para alimentar o tráfico de órgãos, alguns desses órgãos eram destinados a israelenses e eram bancados pelo Governo de Israel. Ou seja, o Governo de Israel, setor público de Israel, pagava pelos órgãos transplantados na cidade de Durban, tendo em vista que na cidade de

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Israel existe muita resistência para realizar o transplante. Devido ao envolvimento de israelenses, nós então queremos ouvir o Embaixador de Israel para que ele apresente a defesa e que nós possamos trocar informações de forma de cooperação entre Brasil e Israel para que nós possamos aprofundar nessas investigações.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Zico Bronzeado) - Em discussão o

requerimento. (Pausa.) Em votação. Os Srs. Deputados que o aprovam permaneçam com se encontram. (Pausa.) Aprovado. (Pausa.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Item 4 da pauta.

Requerimento nº 47/07, Pastor Pedro Ribeiro, que solicita oitiva do Dr. Jeferson André Skulski, radiologista que teria realizada as chapas radiológicas para constatação de morte cefálica de Paulo Veronesi Pavesi. Em discussão o requerimento. (Pausa.) Não havendo quem queria discuti-lo, coloco-o em votação. Os Srs. Deputados que aprovam o permaneçam como se encontram. (Pausa.) Aprovado. Item 5 da pauta. Requerimento nº 48/04, do Sr. Pastor Pedro Ribeiro, que solicita oitiva do Dr. José Gomes da Silva, neurocirurgião que diagnosticou a morte encefálica do paciente Paulo Veronesi Pavesi. Em discussão o requerimento.

(Pausa.) Não havendo quem queira discutir, coloco-o em votação. Os Srs.

Deputados que o aprovam permaneçam com se encontram. (Pausa.) Aprovado. Quero convidar neste momento o Sr. Roberto Soares, que é Coordenador do Sistema Nacional de Transplante, a tomar assento à mesa. (Pausa.) Antes de passar a palavra ao depoente, peço atenção aos senhores presentes para as normas estabelecidas no Regimento Interno da Casa. O tempo concedido ao depoente será de até 20 minutos, prorrogado a juízo da Comissão, não podendo ser aparteado. Os Deputados interessados em interpelar deverão inscrever-se previamente junto à Secretaria. Cada Deputado inscrito terá o prazo de até 3 minutos para fazer suas indagações, dispondo o depoente de igual tempo para resposta, facultadas a réplica e a tréplica. Com a palavra, pelo tempo de até 20 minutos, o Dr. Roberto Soares, Coordenador Nacional do Sistema de Transplantes.

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Bom dia, Deputados, demais

presentes. Eu gostaria, se for possível, fazer uma pequena apresentação da sistemática de funcionamento do Sistema Nacional de Transplantes e de toda amplitude da questão da captação de órgãos e transplantes no Brasil. Com permissão então.

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(Segue-se exibição de imagens.)

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Essa apresentação foi

apresentada por ocasião do fórum de discussão sobre doação de órgãos e transplantes que aconteceu aqui em Brasília, em duas etapas, primeira etapa em abril, e, agora em maio, na semana passada. A situação da captação de órgãos e transplantes envolve a ocorrência na população de determinadas situações clínicas, de determinadas doenças que ocasionam, então, a necessidade de transplante, que é o último tratamento em toda uma seqüência de atendimento à saúde, que vem desde a promoção da saúde, a prevenção primária, o atendimento básico, o atendimento de mais alta complexidade, tratamento de seqüelas de determinadas situações, e, por fim, o último tratamento seria a substituição de um órgão. Então, essa é a questão dos transplantes. Ele se situa no final de uma cadeia de atendimento à população. Mas, então, quantas seriam essas pessoas que necessitam de transplante numa população? E essas pessoas, então, esses indivíduos necessitariam entrar numa lista de espera para transplantes. A questão também envolve o acesso a esse recurso de transplante, como se dá, através da rede básica, a chegada do paciente à lista de espera, e também as ocorrências ou óbitos fora dessa lista de pacientes que não conseguem acessar a lista de espera e também óbitos dentro da lista de espera. Então, existe uma determinada demanda por transplante que necessita de parâmetros epidemiológicos aplicados à realidade da população e ao ambiente. O ingresso na lista reflete a eficácia do atendimento básico e a existência de redes bem estabelecidas de referência e contra-referência. A questão dos óbitos na lista de espera está diretamente relacionada com o tempo médio de espera na lista, e transplante realizado reflete a oferta de órgãos, a opinião pública, o índice de doação e dinâmica de captação. Então, essa a nossa realidade. A lista de espera, no Brasil, situa-se em torno dessas cifras. Mas a simples verificação do tamanho da lista de espera não permite uma correta avaliação da dinâmica da atividade de doação e transplante numa população. Essa lista pode estar estagnada, pode estar aumentando o número de pacientes nessa lista ou ela pode estar diminuindo por 2 motivos: ou a população não está sendo atendida e acaba falecendo antes do transplante ou ela está sendo bem atendida, existem transplantes, então, a saída da lista se dá através do tratamento. Temos também referências interestaduais, temos Estados que não têm atividade de transplante,

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então, esses pacientes são encaminhados através de referências do Sistema de Saúde para outros Estados e têm liberdade de procurar tratamento em qualquer ponto do País. Existe auxílio para isso, através do tratamento fora domicílio, nos casos em que o Estado de origem não tem o recurso. A questão dos pacientes que aguardam transplante com doador vivo relacionado, às vezes, não se situam na lista de espera por não estarem esperando transplante com doador de órgão cadavérico. E a taxa de encaminhamento para pacientes para transplante renal, por exemplo, apresenta variações entre equipes de diálise nos diferentes locais. Então, a lista de espera reflete, é uma lista dinâmica, é um cadastro de pacientes, reflete a captação de órgãos, reflete a entrada de pacientes na lista, a necessidade de transplante e o acesso do paciente à lista. O número de pacientes transplantados está diretamente relacionado com a oferta de órgãos captados. Os óbitos nessa lista dependem do tempo de espera. Quanto maior o tempo de espera maior a chance de o paciente não resistir a essa espera. E eventuais reingressos na lista por falência do enxerto e necessidade de um retransplante. Então, é assim que a lista funciona. Para avaliarmos tanto a oferta de órgãos como o acesso à lista de espera, nós temos alguns parâmetros que, conforme literatura, define qual a necessidade de transplante numa população num período de tempo, que seriam essas colunas azuis. E o acesso à lista, ou seja, o número de pacientes que entram nas listas de espera, nesse mesmo período, então, seriam os pacientes que têm acesso à rede básica e, enfim, conseguem ter a correta indicação do transplante e são os pacientes que aparecem na lista. Por fim, os transplantes que são realizados nesse mesmo período. Então, com esse gráfico, refletimos a possibilidade do acesso à lista e a possibilidade de transplante dos pacientes que estão sendo listados. Então, a lista de espera é um abrigo temporário. Ela exige que o paciente chegue até essa lista e também não fique indeterminadamente nessa lista e ele passe, então, para uma nova etapa, que seria o acesso ao transplante. Essa é a necessidade de transplante numa população em geral, não só nos Estados, mas em todo o Brasil. Essa cifra é por milhão de habitantes por ano. E a questão do transplante, então, não deve ser vista somente como o ato de transplantar ou a transferência de um órgão de um doador para um receptor. Ela envolve toda uma problemática que vai, como já foi falado, da possibilidade do acesso à lista por parte da população à detecção de um possível doador de órgãos, a busca ativa por doador, a detecção, o

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diagnóstico, o consentimento familiar, a questão da distribuição de órgãos dos pacientes dentro da lista, como se dá a locação, qual paciente que tem indicação no momento de receber aquele órgão, que é a questão da lista única. A rede capacitada para executar esses procedimentos são os hospitais e equipes que existem e que devem ser cadastradas, reconhecidas e autorizadas pelo Sistema Nacional de Transplantes e exige também o recadastramento dessas equipes de 2 em 2 anos, conforme alguns parâmetros que são analisados. Então, essa autorização é renovada de 2 em 2 anos. E a questão dos pacientes transplantados, o fornecimento de medicação, a qualidade de vida desses pacientes, o retorno desses pacientes à vida produtiva e a vida em sociedade. Com relação também à questão da família dos doadores, que é um outro ponto, como se deu esse processo de doação, se a família realmente está convencida de que aquele ato de doação foi uma boa ação. Então, a problemática de transplantes envolve todo esse processo que chamamos de regulação. E a possibilidade da doação numa população. Segundo literatura vasta, nós temos um índice de 50 a 60 possíveis doadores de órgãos numa população por milhão de habitantes por ano. Então, nós temos uma estimativa de notificações de possíveis doações e algum índice de subnotificação e também sobre o índice de casos notificados às Centrais de Transplantes, porque a notificação é compulsória, é necessária por parte das instituições hospitalares, à Central de Transplantes dos Estados, que, então, desencadeia o processo de identificação, entrevista familiar e verificação dessa possível doação e todos os passos diagnósticos com relação a isso. Nesse índice de possíveis doadores e casos notificados, temos, então, o índice de efetivação, em que a família realmente permite a doação e que não existe nenhuma contra-indicação médica legal ou empecilho de ordem logística para a doação. Então, esse é o índice de efetivação em cima dos casos notificados. A partir desses casos de doações efetivas, então, dispõem-se os órgãos. Vem, daí, a oferta de órgãos de doadores cadavéricos que são distribuídos através da lista única. Então, temos, na coluna amarela, a estimativa de possíveis doadores na população, os casos notificados numa população e os casos efetivados, em que realmente houve a captação de órgãos. Causas da subnotificação de possíveis doadores às Centrais de Transplantes. Envolve dificuldades diagnósticas, recursos humanos, equipamentos, falta de organização interna das instituições por desinformação, ausência de coordenação

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intra-hospitalar ou desinteresse da instituição. O fator desencadeante de um processo de doação depende da ação do médico intensivista, que inicia o processo, identificando o caso e notificando à Central de Transplantes. Sem esse ato, a família não tem oportunidade de opinar, pois não conhece o diagnóstico. Então, também algumas iniciativas de campanhas e envolvimento da população com a questão de doação de órgãos. Nossa lei determina que os familiares..., que autorizada a ação familiar até segundo grau. Então, as campanhas envolvem sempre a vontade da família. Então, se você é um doador ou quer ser um doador, fale à sua família, sua família precisa saber disso. Então, esse é o mote das campanhas atuais, em função da nossa legislação. Com relação também à notificação por iniciativa do médico intensivista, ela depende também do ambiente em que o médico trabalha. Às vezes, numa instituição, ele notifica, noutra não, por diversas questões logísticas da instituição que podem tornar essa tarefa mais demorada, enfim, com algumas dificuldades. A não autorização à doação envolve também, evidentemente, fatores envolvidos com a opinião pública ou a impossibilidade de captação por problemas logísticos. São possíveis de resolução a curto prazo, por questões de equipamento ou transporte e deslocamento de equipes. Isso pode ser resolvido. E o índice de negativa familiar tem refletido o índice de solidariedade da população, o ambiente também onde os transplantes acontecem com maior rotina em que ele deixa de ser um tratamento excepcional e passa a fazer parte das possibilidades terapêuticas naquela comunidade. E a confiança, principalmente da sociedade, na distribuição de órgãos. Então, se temos uma sociedade confiante nos critérios de distribuição, teremos uma sociedade favorável à adoção de órgãos. Transporte de órgãos através do sistema de lista única. Ações corretivas quanto à subnotificação. Criação de comissões intra-hospitalares de transplante, que é uma ação do Ministério da Saúde e de vários Estados através de cursos de conscientização e treinamento de pessoal que trabalha dentro do hospital mais ligado à área de enfermagem, à área de assistentes sociais, psicólogos e médicos. Então, essas comissões são alicerces de toda a estrutura do Sistema Nacional de Transplantes. São elas que tornam a instituição capaz de atender a uma situação de uma possível doação dentro do hospital a qualquer hora do dia ou da noite, articulando-se com laboratórios, com médicos neurologistas, com serviços de raio x e apoio diagnóstico, para que essa doação possa ocorrer e atender, dessa forma, à vontade da família que quer doar.

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Então, foram realizados vários cursos por iniciativa do Ministério da Saúde e vários Estados também participaram, realizando cursos e aumentando, dessa forma, a possibilidade de doação e captação de órgãos. O apoio logístico à captação de órgãos envolve também as Secretarias Estaduais da Saúde no fornecimento de transporte rápido e as equipes para deslocamento em todo o território do seu Estado. Isso faz com que seja possível a captação multiorgânica. O que é a captação multiorgânica? A possibilidade e aproveitamento de vários órgãos de um doador em qualquer ponto do Estado. Não temos equipes de transplante de coração, por exemplo, em qualquer ponto do País. Existem alguns locais onde as equipes funcionam. Da mesma forma, transplante de pulmão e de fígado também. As equipes mais numerosas são as equipes de captação de transplante de rim que estão melhor distribuídas no território nacional. Então, quando há a possibilidade de uma doação no interior do Estado, por exemplo, onde não há equipes de captação de coração e pulmão, não há pessoal treinado para isso, então, existe a necessidade de transporte dessas equipes até o local onde se encontra o doador. Com isso, captam-se mais órgãos e se consegue realizar mais transplantes nessa comunidade. Evidentemente, a captação de órgãos está diretamente relacionada à mortalidade em lista. Quanto maior a captação e oferta de órgãos menor a mortalidade em lista, porque é menor o tempo de espera desse paciente, menor a chance de ele falecer antes do tratamento. Existem metas. A meta é atender à população. A oferta de órgãos, no momento, não atende à necessidade da população e é difícil o país onde isso acontece, mas se busca, então, como objetivo, atender, da melhor forma possível, a toda a população, indistintamente de convênios ou pacientes privados ou pacientes do SUS, porque a lista é única e todos os pacientes entram nessa lista em igualdade de condições. A nossa realidade no País. Temos aqui os leitos de UTI distribuídos pelos diversos Estados. A captação de órgãos se dá em pacientes que evoluem para morte encefálica e essas ocorrências estão dentro de UTIs. Então, conforme o leito de UTI oferecido, a expectativa com relação à captação de órgãos também é a mesma. Reflete a densidade demográfica, a oferta de leitos, a rede básica de atendimento e essa a distribuição, então, de UTIs no Brasil. Estão distribuídas as comissões intra-hospitalares, que são comissões encarregadas de preparar a instituição para a eventualidade de uma doação, verificando as possibilidades diagnósticas dessa instituição, isso a qualquer

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hora do dia ou da noite. O Sistema Nacional de Transplantes divide o território nacional nessas regiões. Isso para facilitar a captação de órgãos e de locais onde não existem determinadas equipes, o que torna possível o aproveitamento desse órgão em outras regiões, por questões logísticas e também de linhas aéreas e transporte aéreo. O Ministério da Saúde tem convênio com empresas aéreas em que há, através da Central Nacional de Distribuição de Órgãos, que fica no aeroporto em Brasília, a possibilidade de deslocamento de órgãos com autorização do Sistema Nacional de Transplante entre Estados, e, dessa forma, já várias pessoas foram salvas. Em situações de necessidade de urgência em transplante de coração em que não existe aquele órgão, naquele momento, naquele Estado, eventualmente um Estado vizinho, se isso for localizado, pode atender àquela urgência. Então, para atendimentos de situações de emergência, em que o paciente na lista corre risco de vida, há possibilidade de se estender a captação para os Estados vizinhos dentro da mesma região ou, então, caso o órgão não seja utilizado nas listas de espera daquela região, há oferta, então, para o Sistema Nacional de Transplantes para redistribuição e esse órgão pode ser aproveitado em qualquer outro ponto do País, dependendo, evidentemente, do tempo de isquemia que suporta esse órgão fora do corpo humano. Temos atividade de transplante de rim bem distribuída no território nacional, como podem ver. O transplante de córnea também. O transplante de fígado é mais restrito a essas regiões. O transplante de coração. A medula óssea, esse procedimento pode ser realizado nesses Estados. O transplante de pâncreas. O transplante de pulmão. E o enxerto de pele, que normalmente se usa em pacientes queimados, freqüentemente crianças. Enxerto ósseo. Enfim, é um panorama sobre a atividade do Sistema Nacional de Transplantes. Obrigado.

O SR. DEPUTADO ZICO BRONZEADO - Sr. Presidente, uma questão de

ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Pois não, Deputado Zico

Bronzeado.

O SR. DEPUTADO ZICO BRONZEADO - Eu queria registrar a presença de

alguns estagiários de um programa que tem nesta Casa para visita de curta duração e queria, em nome da Carol e da Maiara, do meu Estado, dar as boas-vindas a eles, que vieram observar essa pequena sessão da CPI do Tráfico de Órgãos.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Obrigado, Zico

Bronzeado, que fique registrada a presença. E nós agradecemos a presença além dos estagiários de todos que se fazem presente aqui nesta Comissão. Com a palavra o Deputado Geraldo Resende, autor do requerimento da convocação do Sr. Roberto Soares, que tem o tempo necessário para fazer a sua saudação.

O SR. DEPUTADO GERALDO RESENDE - Sr. Presidente, eu gostaria de

dizer que a gente fica muito feliz com a exposição do Dr. Roberto, que está chegando há pouco, assumindo há pouco tempo a Coordenação do Sistema Nacional de Transplantes e substituindo o Dr. Diogo Mendes, que nós tivemos, inclusive, durante a Comissão Externa que investigou denúncia de possibilidade de ingerência política nas filas de transplante de medula óssea, a oportunidade de ouvi-lo e que constatamos também ser um profissional de altíssimo nível, profissional muito gabaritado, que infelizmente foi vítima, tenho certeza, do jogo de poder que esteve à frente daquela crise do INCA. Ou seja, ele pagou um preço alto por manter a sua conduta no Sistema Nacional de Transplantes, fazendo com que não houvesse, de foram nenhuma, qualquer tipo de ingerência na lista de transplante de medula óssea. E lógico que o Dr. Roberto está tomando pé da situação do Sistema Nacional de Transplantes. Eu gostaria, primeiramente, de perguntar para o Dr. Roberto, que deve estar fazendo um diagnóstico dos sistemas, qual o tipo de proposições que ele tem apontado, ele e sua equipe, para cada vez melhorar o nosso Sistema Nacional de Transplantes, enfrentar algumas debilidades, fazer com que a gente possa cada vez mais avançar. Ontem eu disse que eu acho que o nosso Sistema Nacional de Transplantes hoje é exemplo para o mundo, como também do SUS. Nós temos algumas ilhas de excelência, como também o nosso próprio tratamento dos pacientes portadores de HIV, que hoje é referência mundial. O doutor está chegando há pouco, deve estar tomando pé, mas certamente ele vai imprimir a sua marca pessoal e vai junto com a equipe, lógico, para a gente poder cada vez mais fazer com que haja avanço nesse sistema. Eu gostaria de fazer essa pergunta se ele já tem um diagnóstico, se ele está apontando alguns enfrentamentos para poder, cada vez mais, aprimorar. Em segundo lugar que na exposição que ele fez — eu até gostaria que ele, não sei se ele preparou — mas que ele pudesse também passar para nós da Comissão como se faz o credenciamento das equipes de transplante em todo o País, qual que é a sistemática, qual que é a questão da

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legislação, como que se faz a fiscalização, a auditoria desses serviços, no sentido de cada vez mais a gente poder, de fato, fazer enfrentamento a algumas situação levantas aqui durante esta CPI, às vezes, e muitas delas levantadas através da imprensa e que depois a gente nota que há muito sensacionalismo e de fato é pouco aquilo que depois é verificado após os processos que se fazem dentro do Ministério da Saúde e dentro das Secretarias Estaduais de Saúde. Gostaria também de poder perguntar ao Dr. Roberto se ele tem também — porque um dos subsistemas do Sistema Nacional de Transplantes era o de medula óssea — teve toda a inteireza de todo esse processo, qual que é a opinião dele acerca daquele problema que foi gerado através de denúncias do Dr. Tabak e que depois nós mesmos da Comissão fomos verificar que muitas delas não eram procedentes, ou seja, que nosso sistema de medula óssea também... Logicamente a própria Comissão apontou alguns caminhos para que a gente pudesse melhorá-los, mas a maioria daquelas denúncias eram denúncias de quem estava perdendo poder lá na instituição. Se o Dr. Roberto também tem algum conhecimento sobre o caso da morte do garoto Paulo Veronesi Pavesi. Se ele tem conhecimento acerca desse caso lá em Poços de Caldas, e qual a opinião dele acerca dos depoimentos ou das denúncias sobre esse caso. Então, é isto.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Com a palavra o Dr.

Roberto Soares.

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Bom, com relação às propostas

de avanço do Sistema Nacional de Transplantes, nós podemos apontar quanto à necessidade de melhorar cada vez mais a regulação do sistema. E a regulação significa desde o acesso do paciente à lista de espera até o controle de avaliação completo do custo-benefício e o que a sociedade ganha com os transplantes. A questão do acesso do paciente à lista, nós queremos que haja uma igualdade absoluta dos indivíduos na possibilidade de chegar até um dignóstico da sua doença e o diagnóstico então da necessidade de transplante e que ele entre imediatamente na lista de espera. Nós temos a lista de espera, muitas delas, funcionando por ordem cronológica. Então, qualquer atraso do paciente por dificuldades no acesso à rede básica, em toda a rede de atendimento da saúde, nesse diagnóstico, nesse acesso à lista, ele está sendo prejudicado porque ele está perdendo tempo. Então, nós temos uma preocupação muito grande com isso e em verificar realmente... e

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também se a necessidade de transplante da população se reflete nos casos que estão ingressando na lista de espera, se há algum nicho da população que não tem acesso a esse tratamento, que é financiado por toda a sociedade. Na outra ponta da questão dos transplantes, nós temos o controle e avaliação dos procedimentos. Nós temos que verificar a qualidade desse atendimento e que não deve se resumir simplesmente no ato de transplantar, e sim em cuidar do paciente depois do transplante e também da situação dele de inserção na sociedade. Será que essa pessoa em que se investe tanto com este tipo de tratamento ela volta a produzir? Volta a trabalhar? Volta a se sentir integrante da sociedade? Com relação à sistemática de autorização das equipes, depois nós podemos passar toda a regulamentação disso e todos os itens que o gestor analisa para fornecer o credenciamento, uma licença para... na realidade, é uma concessão, é uma autorização para a realização de transplantes, que deve ser renovada de 2 em 2 anos. Existem critérios para isso, que estão todos regulamentados, e nós passaremos então às mãos. Também, uma sistemática de avaliação da qualidade desse transplante por parte das equipes que estão autorizadas e também, outra situação, que é a necessidade de credenciamento de novas equipes em determinadas regiões. Nós vimos aqui, na exposição, que nós temos algumas regiões do País que não têm assistência nenhuma e, em outras, nós temos um acúmulo desses recursos de tratamento, um número muito grande de equipes e instituições autorizadas. E nós sabemos que o que delimita o número de transplantes não é o número de equipes, e sim o número de órgãos que são ofertados. Então, a partir de determinado momento, não há mais necessidade de criação de novas equipes e de credenciamento de novas instituições em algumas regiões, e sim em outras, visto que o número de transplantes não é ditado pelo número de equipes, e sim pela oferta de órgãos da população. Com relação ao caso do transplante de medula óssea, esse caso parece que já foi concluído, já foi completamente investigado, e os relatórios foram publicados. Então, nós não temos uma opinião pessoal sobre essa situação. O caso Paulo Pavesi, de Poços de Caldas, existe todo um inquérito aberto e está-se aguardando a conclusão desse processo.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Com a palavra a

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A SRA. DEPUTADA LAURA CARNEIRO - Bom dia, Dr. Roberto. Imagino

que o senhor não é... está há uma semana no cargo, então fica absolutamente difícil responder sobre o antes. Mas imagino que deve existir... como V.Sa. foi convidada a participar da reunião de hoje, o senhor deve ter verificado necessariamente os casos. Então, de alguma maneira, se o senhor pudesse um pouco detalhar em que fase estão os inquéritos, especialmente o do Paulo Veronesi, era importante. Obviamente que a investigação existe e que está em andamento. Isso nós também sabemos. Mas o importante era dizer em que fase está, o que aconteceu, que tipos de peça. Eu não imagino que o senhor tenha vindo a esta CPI sem antes ter dado uma olhadela. Então, essa era a primeira pergunta a ser feita.

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Bom, esse caso ele está sendo

concluído. Nós estamos aguardando as conclusões. O que nós podemos passar é que essa instituição onde isso ocorreu, ela está interditada a realização de transplantes no momento, em decorrência disso. É esse o nosso depoimento a respeito desse caso.

A SRA. DEPUTADA LAURA CARNEIRO - Bom, então, vamos dizer,

liminarmente, a Coordenação já sustou a possibilidade de feitura de exames através dessa entidade de Poços de Caldas, é isso?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Não, de realização de

transplantes.

A SRA. DEPUTADA LAURA CARNEIRO - De exames não, de transplantes.

Desculpe.

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - É, isso. Isso já foi feito logo no

início da abertura desse processo.

A SRA. DEPUTADA LAURA CARNEIRO - E isso tem quanto tempo?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Dois anos. Foi em 2002 que

isso aconteceu.

A SRA. DEPUTADA LAURA CARNEIRO - Depois que o senhor entrou, não

houve então nenhuma modificação, apenas se manteve aquela proibição de 2 anos atrás e o inquérito continua, vamos dizer, a investigação interna, a auditoria de vocês continua.

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A SRA. DEPUTADA LAURA CARNEIRO - E o senhor acha que em quanto

tempo a gente tem o resultado dessa auditoria?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Não, eu não... A SRA. DEPUTADA LAURA CARNEIRO - Não tem noção.

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Não temos previsão.

A SRA. DEPUTADA LAURA CARNEIRO - Mas o senhor com certeza vai

envidar todos os esforços para que a gente possa...

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Sim, que seja concluída.

A SRA. DEPUTADA LAURA CARNEIRO - ...acelerar, porque isso é

importante para os trabalhos desta Comissão. Bom, a segunda pergunta seria especificamente no caso da outra menor, do outro menor que nós ouvimos aqui. A grande discussão se dá, uma das discussões que se processam é exatamente a utilização de órgãos não autorizadas pela família. E aí quais são as medidas que eventualmente foram tomadas pela Coordenação junto ao Hospital de Base? Seria a primeira pergunta. A segunda: se a mudança de procedimento foi indicada pela Coordenação, seja na sua gestão, na gestão passada, porque, afinal, é a Coordenação, não é? E quais são as medidas que o senhor, como novo titular do cargo, sugeriria nessa relação família/doador, principalmente quando a doação se dá pós-morte no controle desses órgãos? Seriam as perguntas neste tempo.

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Sim, eu não entendi bem a

primeira parte do questionamento.

A SRA. DEPUTADA LAURA CARNEIRO - Bom, só se o senhor não souber

do caso. Mas foi um menino que aqui no Hospital de Base, ele teve alguns órgãos retirados com a autorização da família e outros sem autorização da família. Inclusive o globo ocular, o pâncreas não foram com autorização da família. E os que foram, nenhum deles acabou sendo bem utilizado. Inclusive um deles, o fígado, foi incinerado e não existe registro disso. Nós estivemos aqui já com um dos profissionais do hospital que efetivamente declarou que percebia o erro de não haver nenhum registro de entrada ou saída de um órgão e que eles fariam as alterações. Agora, me preocupa... da mesma maneira que esse profissional era um profissional sério e teve a capacidade de chegar aqui e dizer que efetivamente não havia esse controle, quais são os hospitais que têm controle? Ou pior: até que ponto a Coordenação de Transplantes do Brasil fiscaliza esses hospitais no Brasil para

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que haja esse tipo de controle? Que órgãos entram, que órgãos são autorizados, como eles são retirados e se podem continuar sendo retirados sem autorização da família.

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Perfeito.

A SRA. DEPUTADA LAURA CARNEIRO - Embora eu, pessoalmente, eu,

Laura, tenha doado todos os meus, e acho que todo mundo devia doar tudo com ou sem autorização, é um direito do cidadão ter a autorização por escrito. Por isso, eu queria saber quais são os mecanismos que a Coordenação estruturou, que V.Sa. prepara para estruturar na sua nova gestão, que façam esse controle.

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - A responsabilidade sobre a

captação de órgãos é do Estado, é da unidade federada, através da central estadual de transplantes ou da central do Distrito Federal. Bom...

A SRA. DEPUTADA LAURA CARNEIRO - Dr. Roberto, só não lhe

interrompendo muito, mas já lhe interrompendo, eu não tenho dúvida de como funciona, até porque eu sou da Comissão do INCA, e a gente só estudou transplantes...

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Sim.

A SRA. DEPUTADA LAURA CARNEIRO - ...durante 6 meses, não é,

Geraldo. Só 6 meses falando nisso. Mas não tenho dúvida do procedimento. Mas, de qualquer maneira, é a Coordenação que dita a política a ser traçada pelas, vamos dizer, pelas sedes, pelos núcleos, que são os núcleos estaduais. Assim como.... senão, não existiria a coordenação. Coordenação é isso mesmo, você monta a política pública e os programas a serem desenvolvidos e fiscaliza. Então, a pergunta é simples: qual foi a diretriz passada às unidades federadas sobre a fiscalização da utilização de órgãos na hora do transplante?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Pois, então. Então, em

seguimento. A autorização da doação, ela é feita por um familiar até segundo grau. No caso de menor de idade, pelos 2 pais ou, na ausência de um dos pais, por uma permissão do Juiz da Infância e Adolescência. Essa permissão, em alguns locais, não define quais os órgãos que são captados, por uma questão de costume. Então, alguns Estados, o processo de doação, o familiar, quando doa, ele quer que o maior número possível de órgãos seja aproveitado. E nós temos experiência de que algumas famílias ficam muito tristes quando se diz que um órgão não pôde ser

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aproveitado ou nem foi captado porque não existia um receptor compatível. Então, esse é um costume de algumas comunidades. Em outras comunidades, e o Brasil é feito de várias situações, existe o costume de se relacionar quais os órgãos que vão ser retirados. Então, existem duas situações diferentes. Bom, com relação ao primeiro costume, a primeira situação, a doação é um ato de doação de órgãos e tecidos para transplantes, em que a comunidade local espera que o maior número possível de órgãos seja obtido. Existe um relatório cirúrgico, relatório de retirada de órgãos, em que a equipe que está envolvida no processo de retirada de órgãos, algumas delas, porque eventualmente existem várias equipes para a remoção de vários órgãos, mas mesmo assim existe um coordenador de sala, que faz parte da Comissão Intra-hospitalar de Captação de Órgãos, atividade que é paga pelo SUS, que uma das suas obrigações é fazer um relato e acompanhamento de tudo o que acontece dentro da sala de cirurgia por ocasião da retirada de órgãos. Inclusive arrolando os órgãos que foram retirados e os cirurgiões participantes. Esse relato, ele deve ficar no prontuário do hospital desse doador e uma cópia deve ser remetida à central estadual de transplantes. Daí, então, tem o controle inclusive para o pagamento desse serviço de retirada de órgãos. E a central de transplantes acompanha esse processo em tempo real. A central de transplantes do Estado, no momento de uma doação de órgãos, numa captação, desde o momento da notificação do possível doador, está acompanhando esse processo. Essa é uma das atribuições das Centrais Estaduais de Transplante. E acompanha inclusive o que está acontecendo dentro do bloco cirúrgico: o horário do início, o horário do fim e, em alguns Estados, até chama o médico legista para fazer o procedimento de necropsia dentro do bloco cirúrgico, para facilitar a devolução do corpo para a família para as homenagens de sepultamento. Então, a central de transplantes, ela deve acompanhar todo esse processo e ela tem conhecimento de cada órgão e tecido removido. E é a central de transplantes que, depois, a partir desses órgãos captados, que vai rodar a lista única e vai determinar para qual paciente que deve ir esse órgão, esses órgãos. Então, já no outro costume, que foi dito, em que no momento de solicitação para a família, a doação, há um rol de órgãos que vão ser aproveitados. Evidentemente, então, a família vai determinar ou vai concordar com a retirada daqueles órgãos. E isso tudo é de conhecimento da Central Estadual de

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Transplantes. E nos parece que o adequado seria tornar um formulário padrão para ser usado, em todos os Estados, um procedimento comum.

A SRA. DEPUTADA LAURA CARNEIRO - Eu até vou um pouco além. Quer

dizer, não é o normal. Eu acho que numa coordenação, infelizmente, na lei não pode existir só o costume. Para isso existe a legislação. Então, o ideal é efetivamente um controle, um formulário e que todos eles fossem, depois de feita, enfim, a captação do órgão, que efetivamente a família pudesse assinar a ciência daquele prontuário. Isso evitaria milhares de problemas futuros. A família teria ciência do que aconteceu com o seu ente, não ia deixar de doar por isso. Quer dizer, você incentiva até a doar, porque ela fica sabendo o que aconteceu, para onde vai o órgão, e, eventualmente, ela pode se transformar num elemento de trazer novos doadores a partir da ciência de que efetivamente os órgãos do seu ente possibilitou a vida de outras pessoas. Então, talvez se isso tivesse acontecido no caso específico que nós ouvimos, nos casos que nós ouvimos nesta Comissão, talvez não tivessem ocorrido os problemas nas investigações. Eu acho que valeria, depois desse prontuário pronto e igual para todas as regiões, na medida que é uma coordenação, que também a família pudesse, depois de feita a captação, tomar ciência por escrito, assinando. Até porque está todo mundo lá mesmo; não tem como não estar.

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Em alguns Estados, nós temos

o costume de chamar a família, aproximadamente 1 mês após a doação de órgãos, para uma entrevista com uma psicóloga, com um psicólogo ou um integrante da Central Estadual de Transplantes. E nesse momento, então, se faz um relato de todos os acontecimentos, se ouve a família, os familiares que autorizaram a doação, e se resolvem algumas dúvidas, algum questionamento da família. Nesse momento, alguns locais costumam revelar para a família o destino desses órgãos, não o nome dos receptores, mas expressar que esses órgãos foram utilizados, que os pacientes que receberam estão bem, para a família então se sentir mais confortada com o processo de doação. Isso é um costume de algumas centrais de transplantes, que pode ser passado também para as outras centrais.

A SRA. DEPUTADA LAURA CARNEIRO - Uma última pergunta, Presidente.

No caso específico do Marcos Henrique, existe algum tipo de procedimento em andamento na Coordenação, esse caso aqui de Brasília?

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O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Foi aberta uma investigação,

que já ocorreu, já emitiram um parecer. E esse parecer está de posse da direção do Hospital de Base, e nós estamos requisitando esse parecer.

A SRA. DEPUTADA LAURA CARNEIRO - O ideal seria disponibilizá-lo para

o nosso Relator, para o Presidente, para auxiliar os nossos trabalhos, até para a gente, eventualmente, em função de tudo o que nós já ouvimos sobre o caso, podermos auxiliar na contestação ou na aquiescência. Eu agradeço ao Dr. Roberto. Tenho certeza que V.Sa. terá uma função nova e complicada, conhecendo um pouquinho do que eu já aprendi sobre essa questão. Ah, última pergunta, enquanto a Deputada Perpétua está terminando as dela aqui. Qual é a sugestão de V.Sa. para o controle do que seja credenciamento e autorização? Ou seja, existe alguma diretriz nova que vai se dar ou se manterá como sempre a Coordenação? Como decidir autorização e credenciamento, entre autorização ou credenciamento de um hospital para a feitura de transplante?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Bom, a questão da

autorização, ela envolve o compromisso da instituição em seguir a legislação, envolve também a necessidade do gestor federal, estadual ou local na existência daquele serviço ou daquela atividade, do ponto de vista de epidemiologia, do ponto de vista da necessidade de demanda, e prevendo as questões de regionalização e interiorização desse tipo de tratamento. Então, isso tudo deve ser revisto. O credenciamento diz respeito ao credenciamento do SUS. Está em discussão; tivemos um fórum que foi muito produtivo, agora, nos meses de abril e maio, em que se discutiu muito a questão do transplante ser completamente controlado pelo Sistema Único de Saúde. Isso, então, está sendo analisado, propostas inclusive dos usuários.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Com a palavra a

Deputada Perpétua Almeida, do PCdoB do Acre.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Muito obrigada, Sr. Presidente,

queria cumprimentar, aqui, o Dr. Roberto, Coordenador do Sistema Nacional de Transplantes. Dr. Roberto, eu teria duas perguntas; uma, até, eu queria ouvir a sua opinião. Esta CPI, quando da sua instalação, teve algumas dificuldades, inclusive aqui, internamente, de alguns Parlamentares que, não sei por quais motivos, mas acabavam-se colocando contrários. Pouco antes da instalação desta CPI, houve

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uma declaração do Ministro Humberto Costa, dizendo que esta CPI ia prestar um desserviço à campanha de doação de órgãos no País. Nós estranhamos. O Presidente, inclusive da CPI, veio a responder. Imagino que, até o final desta CPI, o Ministro tem que ser ouvido, inclusive sobre sua opinião; explicar por que essa opinião; até porque o trabalho que está sendo feito aqui é sério. E fiquei muito assustada com o que eu vi, eu e outros Parlamentares desta CPI, no Recife com relação ao tráfico. Há outras denúncias que já foram citadas, aqui; outras documentadas, chegando constantemente à CPI. E cada uma delas será apurada rigorosamente. Eu queria ouvir, então, a sua opinião acerca do trabalho da CPI. O senhor acha que está correta essa opinião do Ministro, o senhor discorda, o senhor tem alguma opinião acerca do trabalho desta CPI? A outra questão: eu queria saber se existe algum caso que tenha sido denunciado à Coordenação acerca de irregularidades nesse processo de transplante. Quantos casos, mais ou menos foram denunciados; se há algum sendo apurado que o senhor pode relatar aqui para a gente. É isso, Presidente.

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Bom, com relação ao primeiro

questionamento, sabemos que quanto mais se conversa, se discute sobre doações de órgãos e transplantes é melhor para a comunidade. Porque se esclarecem questões ou assuntos que não são bem entendidos e passam a ser melhor entendidos. E, então, qualquer espaço ou qualquer discussão a respeito de doação de órgãos e transplantes vem em benefício de uma melhor informação. Em segundo lugar, com relação a denúncias, não temos, no Sistema Nacional de Transplantes, no momento, nenhum conhecimento de qualquer irregularidade no sistema, a não ser os que já foram amplamente divulgados e estão sob investigação. Com relação a essa situação que ocorreu em Pernambuco, demonstra-se, claramente, que esses procedimentos teriam muita dificuldade de serem realizados no Brasil devido à nossa legislação. Por isso, foram sendo realizados no exterior. Então, de certa forma, nos deixa muito tranqüilos, a população, o próprio Sistema Nacional de Transplantes, porque temos uma lei muito boa que, realmente, impossibilita esse tipo de procedimento aqui dentro do nosso, nas nossas fronteiras. O transplante com doador vivo não relacionado, que seria o caso, uma pessoa dispor do seu órgão, um rim, por exemplo, para ofertar para outra pessoa, sem relação de parentesco algum, e que poderia envolver alguma negociação, é que, aqui, pela nossa legislação,

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temos uma restrição muito grande; e só pode acontecer se houver uma autorização de um juiz. E, mesmo assim, teria que haver uma compatibilidade genética, através do sistema HLA muito boa para que isso acontecesse e justificasse essa situação. Esses transplantes não relacionados, no Brasil, com ordem judicial, são em um número muito pequeno e praticamente insignificante pelas restrições impostas pela nossa legislação. Isso nos traz muita tranqüilidade com relação a esse assunto.

A SRA. DEPUTADA LAURA CARNEIRO - Presidente, eu queria fazer um

aparte à Deputada Perpétua, só uma indagação, que seria especificamente o que a Deputada Perpétua questiona. De que maneira a Coordenação poderia disponibilizar para a população um telefone, enfim? Porque uma das reclamações ouvidas nesta CPI foi exatamente a tentativa de entrar em contato com a Coordenação. Se entrou em contato — um dos casos — por e-mail, e não houve resposta. Quer dizer, se não era possível um telefone que fosse divulgado para a população, como se fosse um 0800 desses, para que a população que eventualmente tivesse que notificar algum problema em uma das suas unidades tivesse a possibilidade de informar a Coordenação, com uma resposta automática, nem que seja: “Olha, vamos apurar”. Que de alguma maneira isso pudesse acontecer. É apenas uma sugestão, ou mesmo, se já existe, se o senhor pudesse ajudar nos dizendo, já era importante.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Complementando, Presidente.

Eu estou surpresa que não tenha chegado nunca uma denúncia à Coordenação, até porque, quando a CPI começou a divulgar o trabalho, começaram a chegar aqui denúncias, reclamações, preocupações. Então, eu acho que o Ministério da Saúde tem que ser mais acessível ao cidadão, nessa situação aí. Uma outra pergunta é a seguinte, Sr. Presidente: de certa forma, há algumas regiões do País que não têm condições de entrar na disputa de transplante com os grandes centros. Não têm condição nenhuma. Inclusive, um caso é a Região Norte. Mas nós sabemos que há casos em que poderia haver uma forma — se buscar uma alternativa — de aproveitamento de órgãos. Existe alguma política, pelo menos a médio prazo, para que a gente possa ter essa ligação com alguns outros Estados da Federação que não têm condições de realizar transplantes, mas que nós poderíamos aproveitar os órgãos para diminuir um pouco a fila de quem está na agonia?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Essa é uma questão muito

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partes do País em locais onde existem poucos recursos. Bom, a questão da doação de órgãos e da captação não envolve apenas a existência de equipes capacitadas no local e experientes em remoção de órgãos. Envolve também questões de diagnóstico de morte encefálica, que é o que desencadeia o processo de doação. Esse diagnóstico é muito rigoroso, pela nossa regulamentação do Conselho Federal de Medicina, e exige, assim, métodos, diagnósticos, existência de recursos humanos capacitados para fazer esse procedimento e a existência de uma UTI, onde o doador deve ficar conectado a um ventilador em situação de morte encefálica para manter, então, a possibilidade de captação durante algumas horas. Esse é o fator limitante — um dos fatores. O outro fator limitante é a presença na região de uma equipe capacitada para fazer a retirada de órgãos, autorizada pelo Sistema Nacional de Transplantes. Isso se resolve, eventualmente, se houver condições logísticas, deslocando uma equipe até esse local. Isso pode ser feito até um raio de mil quilômetros. Acima disso se torna impraticável pelo tempo de isquemia desse órgão que vai ser captado, o transporte até o local, a verificação dos exames de compatibilidade com a lista de espera e a alocação desse órgão. Então, nós temos problemas de ordem de estrutura da rede hospital no Brasil nos diferentes Estados, que é desigual; nós temos o acúmulo, a concentração de recursos humanos, profissionais habilitados em algumas regiões e temos, assim, distâncias enormes. Então, esse é o problema. Agora, quanto a dizer que os órgãos foram desperdiçados no interior do Acre ou no interior de Roraima, realmente não se trata de desperdício, se trata de impossibilidade concreta de fazer essa captação por diversas razões. Não se deve usar o termo, então, desperdício de órgãos, e, sim, incapacidade de aproveitamento de órgão lá.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Sr. Roberto, dentro dessa

resposta do senhor, se existe dificuldade em alguns Estados de fazer captação de órgãos, de aproveitar os órgãos disponíveis para doação, conforme o senhor relatou, por que se massifica cada vez mais campanha de doação, se existem Estados onde existem órgãos para serem aproveitados e não existe mecanismo para que eles sejam aproveitados?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Essa é uma questão muito

séria. As campanhas de doação devem ser conduzidas de modo a atender às necessidades de diferentes regiões. Então, nós temos alguns...

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Então, a propaganda não

deveria ser para todos os Estados, só para as regiões que conseguem captar?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - As campanhas poderiam ser

melhor dirigidas e ser específicas para as diferentes regiões. Nós temos necessidades diferentes, nós temos estágios diferentes de desenvolvimento nessa questão da doação de órgãos e transplantes nas diferentes regiões do País. Então nos parece que as campanhas, se melhor dirigidas ou específicas para cada região, atendendo às dificuldades daquele local, poderiam ter um resultado melhor. Essa é uma proposta do Sistema Nacional de Transplantes, e nós vamos conduzir dessa forma.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Outra pergunta. Dr.

Roberto Soares, esses números apresentados — estatísticos do Ministério da Saúde sobre o número de transplantes no Brasil — se referem apenas aos transplantes realizados e pagos pelo SUS?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Não. A informação do Sistema

Nacional de Transplantes é da totalidade dos transplantes. Nós temos os valores gastos com transplantes. Evidentemente, eles são conhecidos pelo Ministério através do sistema de pagamento.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Então, todos os

transplantes realizados no Brasil são comunicados ao Ministério da Saúde e ao Sistema Nacional de Transplantes, mesmo os realizados em hospitais particulares por médicos particulares?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Sim. Porque todas essas

instituições e equipes, independentemente se são do SUS, credenciados ou privados, devem ter o credenciamento, a autorização do Sistema Nacional de Transplantes para funcionar.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O senhor tem

conhecimento de importação de órgãos pelo Brasil para transplante?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Não.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O senhor não tem

conhecimento de que são importadas pelo Brasil córneas de outros países para realizar transplantes no Brasil?

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O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Sim. Córneas não são órgãos,

são tecidos. E isso está regulamentado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Mas existe então

importação de córneas?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Sim.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Pelo Ministério da Saúde? O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Existe uma portaria que

permite o ingresso de córneas de bancos internacionais, principalmente dos Estados Unidos, para atender à demanda da população.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - E o Ministério da Saúde

realiza esse procedimento?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Medula óssea também.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Então, o Ministério da

Saúde está ciente de que córneas são importadas de outros países e chegam ao Brasil para atender a pessoas da fila única do Sistema Único de Saúde?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Sim.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Quantas córneas são

importadas então, por ano, pelo Ministério da Saúde?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Eu posso passar essa

informação. Eu não tenho aqui no momento.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Nós temos vinte e duas

mil pessoas na fila de transplantes, aguardando transplante de córnea. Os Estados Unidos têm um excesso de 45 mil córneas por ano, porque lá a oferta é muito grande, e a demanda é pequena de transplantes de córneas. Eles têm um excesso de 45 mil córneas. Quanto o Ministério da Saúde paga por uma córnea importada, então, do exterior?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - O Ministério da Saúde não

adquire a córnea. A córnea é adquirida pelo paciente. Existe permissão para que se faça isso. Isso é controlado pela ANVISA.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Não, mas venha cá. Se o

paciente está na fila aguardando o transplante de córnea — ele está aguardando um transplante de córnea — e vai ser atendido pelo Sistema Único de Saúde, quem vai pagar a importação é o paciente?

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O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Não entendi. O paciente vai ser

atendido pelo Sistema de Saúde...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O senhor disse que o

Ministério da Saúde não compra a córnea, quem compra é o paciente. É isso que o senhor falou. O senhor confirma isso?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Esse valor da córnea é o valor

do processamento e do transporte dela.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Então, quem paga é o

paciente?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Quem paga é o paciente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - E se o paciente não tiver

dinheiro para pagar, como é que faz? Vai ficar na fila esperando, então? Porque tem paciente que não tem condição de pagar um transporte.

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Essa...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Não paga nada, ele está

aguardando pelo SUS. O SUS financia transplante. Ele chega a gastar 400 milhões por ano com transplante. Então, esse procedimento... Se o cidadão não tem como pagar, ele vai ficar sem a córnea, porque ele não consegue importar. É isso?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Nós temos a possibilidade,

aqui no País, de zerar a lista de espera para a córnea, como outros países zeraram. Então, a possibilidade de captação de córneas é bem mais ampla do que a captação de órgãos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Eu sei. Mas nós temos 2

problemas: primeiro, nós temos uma dificuldade de doação de órgãos no Brasil. O Ministério da Saúde insiste em fazer campanha de doação — nós somos favoráveis até, inclusive agora com mudança para ser regionalizada, porque há muitos Estados que fazem campanhas, e o Ministério da Saúde não tem disponibilidade para aproveitar os órgãos que toda aquela população quiser doar. Eu pergunto o seguinte: existem pessoas aguardando transplante de córneas no Brasil, vinte e duas mil pessoas. Os Estados Unidos têm 45 mil córneas excedentes por ano. O Ministério da Saúde poderia comprar direto e resolver o problema dessa fila que está no Brasil. Quero saber se o Ministério da Saúde está importando córnea ou não. Se não está, por quê, já que ele paga pelo transplante?

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O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - A córnea captada no próprio

local, no Brasil, seria a córnea mais indicada, porque tem menor tempo de preservação e é uma córnea de melhor qualidade. A córnea que vem de outros locais, necessariamente o tempo de preservação é maior, e ela vai perdendo a qualidade. Então, a solução é melhorar a captação de córneas dentro do território nacional e atender à lista de espera. E esta é a intenção do Ministério da saúde: zerar a lista de espera para transplante de córnea, com córneas captadas aqui dentro do território nacional, até o período de 2 anos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Então o senhor está

dizendo que as córneas importadas por médicos particulares não são córneas aconselháveis para transplante no Brasil? São córneas que não têm qualidade tão boa, como as captadas aqui no Brasil. É isso?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Não. São córneas que têm um

tempo de preservação maior. Elas têm uma validade que, dependendo do meio de preservação, pode chegar até a 12, 15 dias.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Mas eu insisto na

pergunta: se essa córnea não serve para atender a um paciente do SUS. Se não dá para... Por que os médicos particulares, então, estão importando e fazendo transplante particular no Brasil?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Porque existe uma portaria que

permite que isso seja feito.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - E por que o SUS então

não faz? Se um cliente particular, que tem condição, recebe uma córnea dessas com menor qualidade, por que o do SUS não pode receber? Por que o SUS não pode importar córnea para resolver o problema dos pacientes que estão no SUS? Se a portaria permite, é porque o SUS entende que essas córneas que chegam aqui são córneas de boa qualidade e podem ser utilizadas. Se ele tem uma portaria que permite importação, por que ele próprio não importa?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Nós temos alguns Estados, um

Estado especificamente que não... orientou que não haja esse tipo de atividade de importação de córneas. E a atividade toda de transplante...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Qual é o Estado? O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Rio Grande do Sul.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Rio Grande do Sul. Por

quê?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Justamente para incentivar a

captação de córneas dentro do Estado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Mas se nós temos a

córnea disponível, já está disponível no Sistema Nacional... Os Estados Unidos precisam vender essas córneas, porque eles têm excesso. Eles fazem captação de 90 mil córneas por ano, e lá o mercado só absorve 50 mil. Quarenta e cinco mil é excesso. Eles têm que colocar para fora, porque senão vai se perder. Se nós temos vinte e duas mil pessoas na fila no Brasil aguardando córnea, por que o SUS não importa essa córnea dos Estados Unidos, já que ele paga pelo procedimento aqui no Brasil?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - A questão da possibilidade de

importação de córneas envolve também o questionamento de igualdade das pessoas na lista de espera, evidentemente. Se há possibilidade de se fazer a importação de córneas às custas do paciente, então resta o questionamento: então todos os pacientes da lista teriam direito a essa importação.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Mas, doutor, eu vou voltar

a insistir no seguinte: os outros órgãos, Dr. Roberto, não existe disponibilidade de exportação. Não existe demanda de fígado, de pulmão. Pelo contrário, o Brasil está exportando alguns órgãos, até clandestinamente, como no caso dos rins. Eu insisto em perguntar o seguinte: nós temos vinte e duas mil pessoas na fila de transplante aguardando uma córnea no Brasil. Aguardando. Estão na fila. O SUS já paga por esses procedimentos quando são realizados. Quando o hospital notifica que existe o órgão, a equipe que retira a córnea recebe; o hospital que realiza transplante recebe; o hospital que faz o acompanhamento do transplantado de córnea está recebendo. Existe um custo dessa operação. Eu pergunto ao senhor: o SUS sabe quanto custa uma córnea dessa, pelos Estados Unidos? Já, pelo menos, se interessou em saber por quanto essa córnea chegaria para o SUS? De repente, chegaria mais barato do que todo esse procedimento de transplante. Agora, se os médicos particulares estão importando e estão transplantando no Brasil, por que o SUS não importa e resolve o problema da fila, dentro de um ano, se quiser?

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Pois não.

O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Dentro desse mesmo

questionamento, Dr. Roberto, esses tecidos e órgãos importados precisam de autorização do SNT?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Não. Autorização da ANVISA,

na importação.

O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Da ANVISA? O SNT não

entra nesse processo?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Não. A regulamentação prevê

que possa ser feito esse tipo de procedimento, esse tipo de transplante. Então...

O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Portaria 937.

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - O paciente, então, custeia todo

esse processo e, então, ele pode ser atendido.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O senhor disse que todos

os transplantes no Brasil são comunicados ao Sistema Nacional de Transplantes, inclusive os particulares, correto?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Sim.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Então, o senhor pode me

dizer quantas córneas chegam ao Brasil importadas pela rede particular?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Posso mandar um relatório,

assim que apurar esse número.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Então, nós vamos

aguardar. Eu passo a palavra ao Relator, depois eu retomo a palavra.

SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Dr. Roberto, eu quero, antes

de tudo, dar-lhe as boas-vindas, agradecer a sua disponibilidade e a contribuição que já deu. Me chamou a atenção quando o senhor fez a explanação sobre a criação, ou já efetivação, de comissões intra-hospitalares. O senhor não se incomodaria em repetir a composição dessas comissões e, de fato, o trabalho afeto a essas comissões; como elas vão agir ou pretendem trabalhar? Qual é o fito, a visão dessas comissões, por favor?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Pois não. A comissão

intra-hospitalar tem, especificamente, uma tarefa, que é a de tornar possível que haja uma captação de órgãos se houver a identificação de um possível doador nessa

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instituição. Por exemplo, existem alguns exames que, de rotina, não são realizados à noite, por exemplo, ou no fim de semana — exames sorológicos, testes de HIV —, enfim, que normalmente não são exames solicitados em urgência. O paciente pode esperar e ter o exame feito em horário administrativo, em dia útil. Mas, no caso da doação de órgãos, é necessário, então, fazer toda uma triagem a respeito desse doador. Além dos testes e diagnóstico da própria morte encefálica, mas testes sorológicos que determinam se existe alguma contra-indicação médica ou não à captação desses órgãos. Ora, a necessidade de realização desse exame pode acontecer a qualquer hora do dia ou da noite, inclusive fim de semana. A comissão intra-hospitalar, então, organiza a sua instituição para que haja um sistema de prontidão da instituição caso haja uma identificação de um possível doador. Também é atribuição da comissão intra-hospitalar criar, dentro da instituição, instruir todos os funcionários da instituição a respeito desse processo, para que ele não seja um processo desconhecido, um processo estranho. Também é atribuição dessa comissão intra-hospitalar de captação de órgãos ou de transplantes um treinamento para que se faça uma adequada entrevista dos familiares para a solicitação de doação.

O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Antes da operação, do

transplante?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Antes da retirada. O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Certo.

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - E também verificar a

disponibilidade de blocos cirúrgicos para a remoção de órgãos; receber as equipes de captação que venham, eventualmente, de outros Estados, de outros Municípios ou de outros hospitais; coordenar o processo dentro do bloco cirúrgico; verificar as condições em que o corpo do doador vai ser entregue aos familiares; eventualmente, acionar o Instituto Médico Legal, caso haja necessidade de necropsia. Isso acontece quando a causa do óbito é violenta, por exemplo, um acidente, um homicídio, há necessidade de exame de necrópsia do Instituto Medico Legal. Então essa comissão também é encarregada de acionar e fazer com que ocorra tranqüilamente todo esse processo.

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O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Doutor, todo hospital

credenciado tem que ter esta comissão? Quem forma essa comissão? Os profissionais?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Sim. Em primeiro lugar, todo

hospital credenciado ou autorizado para realização de transplante tem que ser um hospital captador também. Os hospital captadores ou autorizados à captação de órgãos têm que ter determinadas condições. Eles têm que ter todo o staff necessário de profissionais, as condições de diagnóstico e a presença dessa comissão intra-hospitalar de captação de órgãos — é exigência. Também se exige, através de portaria, a Portaria n.º 905, a necessidade da comissão intra-hospitalar de captação de órgãos e transplantes para os hospitais que almejam o credenciamento da sua UTI tipo II ou tipo III, a UTI mais diferenciada. Então, um dos requisitos é que exista também essa comissão e a capacidade e a possibilidade de captação.

O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - A gente tem aprendido que,

para a retirada de órgãos, num caso desses, quando envolve, por exemplo, rins, fígado e tal, tem que ter 3 médicos. Se eu estiver enganado o senhor me corrija. Se eu não estiver enganado, 2 nefrologistas e 1 neurologista. Então, tem que ser os profissionais qualificados para aquela área. Por exemplo, um oftalmologista não está indicado para compor essa comissão. A Lei n.º 9434 e seus regulamentos tratam disso. Nessa comissão... Esse cidadão tem que estar nessa comissão intra-hospitalar?

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Não, faltou explicar. A

comissão intra-hospitalar de captação de órgãos ou comissão intra-hospitalar de transplantes é diferente da equipe de transplante, é outro grupo.

O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Muito bem. Por exemplo,

doutor, o coordenador de sala, como o senhor falou, faz parte dessa comissão? O senhor citou um coordenador de sala.

O SR. ROBERTO SOARES SCHLINDWEIN - Pode fazer ou pode ser uma

pessoa, um profissional designado para essa função. Então, nós temos a comissão intra-hospitalar de transplantes, a composição ideal seria pelo menos um médico da instituição; o pessoal da enfermagem que tem atividade gerencial; se houver psicólogo na instituição também, e um assistente social. É uma atividade multidisciplinar que envolve os vários setores da instituição. Com relação à atividade

Referências

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