A Hora da Estrela
A HORA DA ESTRELA
A culpa é minha Ela não sabe gritar ou ou
A hora da estrela Uma sensação de perda
ou ou
Ela que se arranje Assovio no vento escuro ou ou
O direito ao grito Eu não posso fazer nada ou
Registro dos fatos antecedentes ou
História lacrimogênica de cordel
Quanto ao futuro ou
ou Saída discreta pela porta dos fundos
Lamento de um blue
Os títulos podem ser agrupados em quatro conjuntos:
• O primeiro: A culpa é minha; Ela que se arranje; Ela não sabe gritar;
Eu não posso fazer nada e Saída discreta pela porta dos fundos. É a tematização do sentimento de culpa.
• O segundo: O direito ao grito; Quanto ao futuro; Uma sensação de
perda e Assovio no vento escuro. É a descrição da personagem oprimida.
• O terceiro refere-se à forma e temor da narrativa, que na busca
de clareza correria o risco de ser trivial, mantendo-se popular:
Lamento de um blue; Registro dos fatos antecedentes; Histórias lacrimogênicas de cordel.
• Finalmente, há um quarto conjunto. Refere-se a um instante íntimo
da personagem – a morte. Mesmo numa condição abjeta e mesmo que seja penoso dizer isso, Macabéa tem, afinal, a sua
A Hora da Estrela
(1977)
Características
• Emprego dos fluxos deconsciência.
• Sondagem psicológica ( analisa profundamente a alma das
personagens).
• Emprego do monólogo interior: ( o
narrador conversa consigo mesmo). • Emprego da metalinguagem.
Estrutura da Obra
A época retratada é dos anos posteriores a 1950, percebendo aí a paixão da
protagonista (Macabéa) pelas atrizes mais famosas de Hollywood, como Greta Garbo e Marylin Monrou. O tempo da narrativa está voltado mais para o psicológico.
Enredo.
A ação se passa no Rio de Janeiro, por
umas poucas referências externas de ruas e locais característicos.
Enredo.
O enredo de A hora da Estrela não segue uma ordem linear: há flashbacks iluminando o
passado, há idas e vindas do passado para o presente e vice-versa.
Além da alinearidade, há pelo menos três
histórias encaixadas que se revezam diante dos nossos olhos de leitor:
Enredo.
1. A metanarrativa - Rodrigo S. M. conta a história de Macabéa: Esta é a narrativa central da obra: o escritor Rodrigo S.M. conta a história de Macabéa, uma
Enredo.
2. A identificação da história do narrador com a da personagem - Rodrigo S.M. conta a
história dele mesmo: esta narrativa dá-se sob a forma do encaixe, paralela à história de Macabéa. Está presente por toda a
narrativa sob a forma de comentários e desvendamentos do narrador que se
mostra, se oculta e se exibe diante dos nossos olhos.
Enredo.
Se por um lado, ele vê a jovem como alguém que merece amor, piedade e até um pouco de raiva, por sua patética alienação, por
outro lado, ele estabelece com ela um
vínculo mais profundo, que é o da comum condição humana. Esta identidade, que
ultrapassa as questões de classe, de gênero e de consciência de mundo, é um elemento de grande significação no romance, Rodrigo e Macabéa se confundem.
Enredo.
A vida de Macabéa - O narrador conta como tece a narrativa.
Narrador e protagonista, inseridos em uma escrita descontínua e imprevisível, permitem ao leitor a reflexão sobre uma época de transição, de
incoerência, como um movimento em busca de uma nova estruturação da obra literária similar à insegurança, à ansiedade e ao sofrimento. O tema é oferecido, socializando a possibilidade de
Enredo.
O narrador revela seu amor pela personagem
principal e sofre com a sua desumanização, mas, também, com a própria tendência em tornar-se insensível.
O foco narrativo escolhido é a primeira pessoa. O narrador lança mão, como recurso, das
digressões, o que, aspectualmente parece dar à narrativa uma característica alinear. Não se
engane: ele foge para o passado a fim de buscar informações.
CURIOSIDADES.
O livro a apresenta fartamente, em todos os momentos em que o narrador discute a
palavra e o fazer narrativo. Interessante
notar que, antes de iniciar a narrativa e logo após a 'Dedicatória do autor', aparecem os treze títulos que teriam sido cogitados para o livro.
Ação
O enredo não segue propriamente uma narrativa linear. Existem três pólos que
podem ser formados de certa forma como estruturas narrativas e que se misturam todo o tempo para formar narrativa.
1- Rodrigo conta a história de Macabéa. 2- Rodrigo conta sua própria história.
3- Rodrigo tece as artimanhas da própria
narrativa para explicar criação, montagem e apresentação do próprio texto.
Narrador
• O romance é narrado por Rodrigo S.M., um
narrador interposto, que reflete a sua vida ao personagem ao projetar-se na protagonista.
• Narrador onisciente e onipotente (ele está
presente em tudo: apresenta-se como autor da obra, funciona como uma transfiguração da
verdadeira autora).
• O narrador projeta seus pensamentos sobre
literatura, desejos e decisões a respeito do destino da protagonista.
Personagens
►As personagens de Clarice Lispector são
seres em busca da revelação de mundos desconhecidos dentro de si mesmos.
Personagens
• Macabéa: É a protagonista do romance,
moça nordestina e humilde que enfrenta a vida na cidade grande – Rio de janeiro – Orgulha-se de ser datilógrafa (embora medíocre) ; virgem, semi-analfabeta, gosta de goiabada com queijo e coca-cola. Quer ser estrela de cinema. Ouve notícias da Rádio – Relógio e não sabe empregá-las na conversação.
• Rodrigo S.M.: É o narrador da história de
Macabéa. Afirma que é escritor rico. Sente grande dificuldade para escrever e não consegue dar a sua personagem um destino melhor.
• Olímpico: É nordestino ambicioso e cheio de
ilusões, possuidor de um passado sujo, vem também para a cidade em busca de ascensão social. Rouba os próprios colegas de trabalho. Foi namorado de Macabéa antes de conhecer Glória. Matou um homem antes de vir para o Rio. Gosta de fazer discursos e mentir. Quer ser deputado, o que acaba acontecendo segundo o narrador.
• Glória: É colega de Macabéa na firma. Cheia
de Carne. Apesar de branca e cabelos
oxigenados, não consegue esconder sua origem mulata. Rouba o namorado da colega, mas por se sentir culpada,
aconselha a amiga a ir a busca de uma cartomante, emprestando-lhe dinheiro.
• Madame Carlota: É a cartomante que já foi
prostituta e dona de bordel. Abusa da boa fé das pessoas lendo a sorte e predizendo o futuro. Serve de instrumento de felicidade para a protagonista por uns breves
* Outros Personagens: Seu Raimundo (chefe de Macabéa), as colegas de quarto de Macabéa e o Médico.
O jogo de Transfiguração
A Hora da Estrela tem como chave de interpretação o princípio compositivo do
jogo de transfiguração de identidade. Autor, narrador e personagem apresentam seus
desempenhos constantemente
intercambiados. O autor não se “esconde” por trás de um narrador, mas com ele se confunde. O Narrador não se distancia da personagem para apreendê-la com
neutralidade, mas nela se projeta,
A narrativa ficcional de A Hora da Estrela não é um espelho que devolve uma imagem que se pretende fiel à realidade. Na verdade, empreende um movimento “especular”, nas duas acepções da palavra, movimento refletor e questionador ao mesmo tempo, ou seja, especulação sondagem da realidade na linguagem .
Clarice Lispector nos apresenta, neste romance três histórias que se entrecruzam: a do escritor Rodrigo S.M.; a da imigrante Macabéa no Rio; e a do próprio ato de escrever
Conclusão
Assim, A Hora da Estrela assume a inventividade artística como metáfora da própria aventura existencial. Uma aventura renovada pelo leitor a cada novo ato de leitura. Fazendo da narrativa um jogo que incorpora a voz do outro, a transfiguração de identidade.
CLARICE LISPECTOR:
"
Eu escrevo sem esperança de que o que
eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera
em nada... Porque no fundo a gente não
está querendo alterar as coisas. A gente
está querendo desabrochar de um modo ou
de outro...”
CLARICE LISPECTOR:
"
Eu escrevo sem esperança de que o que
eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera
em nada... Porque no fundo a gente não
está querendo alterar as coisas. A gente
está querendo desabrochar de um modo ou
de outro...”
CLARICE LISPECTOR:
"Clarice Lispector nasceu na Ucrânia, na aldeia Tchetchenilk, no ano de 1925. Os Lispector emigraram da Rússia para o Brasil no ano seguinte, e Clarice nunca mais voltou á pequena aldeia. Fixaram-se em Recife, onde a escritora passou a infância. Clarice tinha 12 anos e já era órfã de mãe quando a família mudou-se para o Rio de Janeiro. Entre muitas leituras, ingressou no curso de Direito, formou-se e começou a colaborar em jornais cariocas. Casou-se com um colega de faculdade em 1943. No ano Casou-seguinte publicava sua primeira obra: “Perto do coração selvagem”. A moça de 19 anos assistiu à perplexidade nos leitores e na crítica: quem era aquela jovem que escrevia "tão diferente"? Seguindo o marido, diplomata de carreira, viveu fora do Brasil por quinze anos. Dedicava-se exclusivamente a escrever. Separada do marido e de volta ao Brasil, passou a morar no Rio de Janeiro. Em 1976 foi convidada para representar o Brasil no Congresso Mundial de Bruxaria, na Colômbia. Claro que aceitou: afinal, sempre fora mística, supersticiosa, curiosa a respeito do sobrenatural. Em novembro de 1977 soube que sofria de câncer generalizado. No mês seguinte, na véspera de seu aniversário, morria em plena atividade literária e gozando do prestígio de ser uma das mais importantes vozes da literatura brasileira.