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GERENCIAMENTO DE RISCOS PRESENTES NA AVIAÇÃO

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Academic year: 2021

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AVIAÇÃO

DE RISCOS

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PRESENTES NA

AVIAÇÃO

DE RISCOS

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REN

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MEN

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ROSANA BOHER é graduada em Psicologia, Pós-Doutorada pela UFSM-RS, Doutora em Psicologia Clínica (PUCSP), no tema Luto em Situações de Catástrofes, e Mestre em Psicologia Social, no tema Pânico, Desamparo e Estresse Pós-Trauma Após Acidente Aéreo. Possui extensão em Pesquisa e Intervenção em Luto, Separações e Perdas, Intervenções Psicológicas em Emergências e Desastres, e em Prevenção e Investigação de Acidentes Aéreos. É facilitadora de CRM homologada pela ANAC. Realiza avaliação profissiográfica de Pilotos para Aviação Comercial, Segurança Pública, Taxi Aéreo e Executiva; Coordenou o Curso de Negociação em Crises no DPF - ANP e Curso de Negociação em Situações de Sequestro de Aeronaves no GATE PMSP. Foi assessora de Fatores Humanos na Varig e na Polícia Federal, executando esse papel ainda hoje na empresa Air Safety.

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LUIZ ALBERTO DE ATHAYDE BOHRER é Tenente-Coronel Reformado da Aeronáutica, formado pela Academia da Força Aérea em 1973. Foi instrutor de voo, piloto de caça, transporte e de helicóptero. Especializou-se como investi-gador de acidentes aéreos, sendo qualificado pelo CENIPA, Federal Aviation Administration, U. S. Army, U. S. Air Force e University of Southern Califórnia. Ao deixar o serviço ati-vo criou a empresa Air Safety Assessoria Aeronáutica e tem prestado assessoramento para empresas no Brasil, Angola e Cabo Verde. Foi assessor de aviação do Departamento de Polícia Federal por treze anos. É facilitador de CRM homo-logado pela ANAC.

Por Luiz Alberto de Athayde Bohrer

Tenente-Coronel Reformado da Aeronáutica, formado pela Academia da Força Aérea em 1973

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Desde seu surgimento,

o avião tem oferecido inúmeros

benefícios à humanidade.

Além do favorecimento à mobilidade de passageiros, trans-porte de cargas, defesa de fronteiras, combate a incêndios, resgate e salvamento de vidas, a aviação encurtou distâncias e reduziu o tempo para a troca de descobertas científicas e avanços tecnológicos. A lista de valores agregados desse meio de transporte é infindável, tal qual o é a de impactos decorrentes de acidentes, constituindo uma grande preocu-pação para o gerenciamento de riscos, devido às perdas de vidas, de patrimônio e custos financeiros gerados para os operadores envolvidos.

Muito embora não se possa negar que os investimentos nas ações de prevenção de acidentes aeronáuticos sejam cres-centes e constantes, estes continuam a acontecer, resultan-do, na maioria das vezes, em elevado índice de mortalidade. Além disso, por ocorrerem nas proximidades de aeropor-tos e em áreas povoadas, podem provocar destruições de propriedades, incêndios, mortes e traumatismos graves, de-sencadeando outro tipo de vítima: os afetados.

A ciência psicológica afirma que toda a morte é traumáti-ca, mas algumas são mais do que outras, seja pela força do vínculo que se possuía com a pessoa falecida, seja pelo “tipo

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de morte” que ocorreu. Neste sentido, mortes inesperadas, rápidas e violentas possuem forte tendência para o estabe-lecimento de um luto complicado, devido ao intenso sofri-mento para o adoecisofri-mento dos enlutados. O tipo de morte por tragédia é um fator de risco à saúde, portanto, sendo um dificultador para o estabelecimento de conforto, perdendo força para a estabilização emocional e a resiliência. Somam-se a estas preocupações, a facilidade da difusão de todo tipo de notícias e a transmissão de imagens dramáticas, tais quais aquelas que expõem os danos às propriedades e as injúrias físicas nas vítimas que repercutem negativamente e compro-metem a reputação de operadores e o estado organizado das comunidades atingidas. Desta forma, é notória a necessidade de um bom e estruturado gerenciamento de riscos e a ado-ção de medidas para a prevenado-ção de acidentes aéreos.

A operação dos diversos segmentos da aviação, seja táxi aéreo, comercial de grande porte, executiva, agrícola e de segurança pública ou desportiva, difere, em muito, uma das outras. Assim sendo, pode-se afirmar que, embora haja riscos comuns para todas as operações, especificidades relevantes apontam para os riscos envolvidos e, para estes, são requeridas ações de controle específicas e que envolvam a aeronave, o piloto, o ambiente operacional e a gestão, tanto administrativa quan-to operacional. Dentre os riscos mais comuns encontrados igualmente em todos esses segmentos, que por serem pre-visíveis exigem estratégias de controle técnica e doutrinária para administrá-los adequadamente, podem ser citados:

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Enfrentamento de meteorologia de forma inadequada ou com recursos impróprios.

Desvio ou não cumprimento de procedimentos técnicos e operacionais.

Improviso de ações para “facilitar” as atividades de apoio.

Pressa decorrente de pressão interna do piloto ou externa, de pessoa com ou sem o conhecimento técnico necessário.

Distração decorrente de interferências durante a pilotagem, principalmente nas fases mais críticas do voo.

Pistas em estado precário de conservação ou com comprimento insuficiente para a operação segura e prevista pelo fabricante da aeronave. Treinamento inadequado ou insuficiente de preparação ou de adaptação do piloto.

Desconsideração das situações de risco potenciais e específicas da operação.

Realização da manutenção da aeronave de forma inadequada ou em condições impróprias.

Medo de “desagradar o cliente”: dificuldade ou receio em dizer “não”.

Adoção de hábitos inadequados à proteção do piloto contra sobrecarga de trabalho. Erro humano, ou seja, falha não intencional.

RISCOS MAIS COMUNS NA AVIAÇÃO

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Em todos os casos, esses riscos podem envolver aspectos técnicos, ambientais e, em maior parte, comportamentais. Considerando que o gestor responsável deve exercer um nível de supervisão eficaz sobre a qualidade da operação, nota-se que os riscos de ordem técnica poderão ser fa-cilmente administrados se os procedimentos estabelecidos forem cumpridos e as normas atendidas. Igualmente, os ris-cos ambientais poderão ser administrados se as condições presentes forem consideradas e as medidas de proteção já existentes forem adotadas.

Entretanto, restam os riscos comportamentais, individuais e organizacionais, administráveis a partir do estabelecimen-to prévio de uma cultura de segurança a ser disseminada em processo de educação continuada para ampla adesão e aplicação por parte de todos. Neste sentido, os fatores relativos ao comportamento inseguro, de maior índice de prevalência e incidência nas estatísticas de acidentes exis-tentes, podem ser controlados pelo próprio indivíduo, se existir nele um ambiente psíquico e emocional adequado à percepção dessa necessidade.

Como ponto de partida, verifica-se que há prevalência e, de forma constatada, a cada ano, novas evidências sobre os fatores humanos, como percentual de maior contribuição para o acidente aeronáutico.

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FATORES CONTRIBUENTES EM 716 RELATÓRIOS FINAIS PUBLICADOS ACIDENTE JULGAMENTO DE PILOTAGEM SUPERVISÃO GERENCIAL PLANEJAMENTO DE VOO APLICAÇÃO DE COMANDOS MANUTENÇÃO DE AERONAVE INDISCIPLINA DE VOO POUCA EXPERIÊNCIA DO PILOTO ATITUDE PROCESSO DECISÓRIO INSTRUÇÃO CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS ADVERSAS OUTRO FATOR PERCEPÇÃO PROCESSOS ORGANIZACIONAIS ESQUECIMENTO DO PILOTO COORDENAÇÃO DE CABINE CULTURA ORGANIZACIONAL MOTIVAÇÃO FORMAÇÃO, CAPACITAÇÃO E TREINAMENTO ATENÇÃO OUTROS 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 344 234 229 210 142 115 107 107 104 85 81 58 56 51 50 50 46 44 44 42 399 FIGURA 1. AVIÕES – SUMÁRIO ESTATÍSTICO CENIPA 2008-2017

OS DADOS NA FIGURA 1 mostram o percentual de fatores contribuintes, verificados nas investigações de aci-dentes graves, ocorridos entre 2008 e 2017. Dentre 69 possíveis fatores, os mais frequentes neste período foram:

julgamento de pilotagem; supervisão gerencial e

planejamento de voo que, juntos, representam 31.1% do total.

FATORES CONTRIBUENTES EM 716 RELATÓRIOS FINAIS PUBLICADOS ACIDENTE JULGAMENTO DE PILOTAGEM SUPERVISÃO GERENCIAL PLANEJAMENTO DE VOO APLICAÇÃO DE COMANDOS MANUTENÇÃO DE AERONAVE INDISCIPLINA DE VOO POUCA EXPERIÊNCIA DO PILOTO ATITUDE PROCESSO DECISÓRIO INSTRUÇÃO CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS ADVERSAS OUTRO FATOR PERCEPÇÃO PROCESSOS ORGANIZACIONAIS ESQUECIMENTO DO PILOTO COORDENAÇÃO DE CABINE CULTURA ORGANIZACIONAL MOTIVAÇÃO FORMAÇÃO, CAPACITAÇÃO E TREINAMENTO ATENÇÃO OUTROS 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 344 234 229 210 142 115 107 107 104 85 81 58 56 51 50 50 46 44 44 42 399

Fonte: Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA)

8 gerenciamentode riscos presentes naaviação

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FATORES CONTRIBUENTES EM 121 RELATÓRIOS FINAIS PUBLICADOS ACIDENTE JULGAMENTO DE PILOTAGEM PLANEJAMENTO DE VOO SUPERVISÃO GERENCIAL APLICAÇÃO DE COMANDOS INSTRUÇÃO INDISCIPLINA DE VOO ATITUDE PROCESSO DECISÓRIO POUCA EXPERIÊNCIA DO PILOTO CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS ADVERSAS CULTURA ORGANIZACIONAL PLANEJAMENTO GERENCIAL MANUTENÇÃO DE AERONAVE COORDENAÇÃO DE CABINE PERCEPÇÃO MOTIVAÇÃO ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO OUTRO FATOR FORMAÇÃO, CAPACITAÇÃO E TREINAMENTO PROCESSOS ORGANIZACIONAIS OUTROS 0 20 40 60 80 100 120 140 160 66 48 47 43 33 31 31 30 26 22 21 18 18 15 15 15 14 14 14 13 136 FIGURA 2. HELICÓPTEROS – SUMÁRIO ESTATÍSTICO CENIPA 2008-2017

OS DADOS NA FIGURA 2 mostram o percentual de fatores contribuintes, verificados nas investigações de acidentes graves, ocorridos entre 2008 e 2017. Dentre 69 possíveis fatores, os mais frequentes neste período foram: julgamento de pilotagem; planejamento de voo e supervisão gerencial que, juntos, representam 24% do total.

FATORES CONTRIBUENTES EM 121 RELATÓRIOS FINAIS PUBLICADOS ACIDENTE JULGAMENTO DE PILOTAGEM PLANEJAMENTO DE VOO SUPERVISÃO GERENCIAL APLICAÇÃO DE COMANDOS INSTRUÇÃO INDISCIPLINA DE VOO ATITUDE PROCESSO DECISÓRIO POUCA EXPERIÊNCIA DO PILOTO CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS ADVERSAS CULTURA ORGANIZACIONAL PLANEJAMENTO GERENCIAL MANUTENÇÃO DE AERONAVE COORDENAÇÃO DE CABINE PERCEPÇÃO MOTIVAÇÃO ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO OUTRO FATOR FORMAÇÃO, CAPACITAÇÃO E TREINAMENTO PROCESSOS ORGANIZACIONAIS OUTROS 0 20 40 60 80 100 120 140 160 66 48 47 43 33 31 31 30 26 22 21 18 18 15 15 15 14 14 14 13 136

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OS DADOS NA FIGURA 3 mostram o percentual de fatores contribuintes, verificados nas investigações de acidentes graves, ocorridos entre 2008 e 2017. Dentre os 69 possíveis, os mais frequentes neste período foram:

julgamento de pilotagem; planejamento de voo

e aplicação de comandos que, juntos, representam 29.5% do total.

FATORES CONTRIBUENTES EM 377 RELATÓRIOS FINAIS PUBLICADOS ACIDENTE 0 50 100 150 200 250 168 134 90 85 68 67 65 64 63 53 38 33 32 31 31 23 22 20 18 17 209 JULGAMENTO DE PILOTAGEM PLANEJAMENTO DE VOO APLICAÇÃO DE COMANDOS INDISCIPLINA DE VOO CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS ADVERSAS SUPERVISÃO GERENCIAL ATITUDE PROCESSO DECISÓRIO MANUTENÇÃO DE AERONAVE POUCA EXPERIÊNCIA DO PILOTO INSTRUÇÃO MOTIVAÇÃO OUTRO FATOR ESQUECIMENTO DO PILOTO PERCEPÇÃO FORMAÇÃO, CAPACITAÇÃO E TREINAMENTO ATENÇÃO INFRAESTRUTURA AEROPORTUÁRIA CULTURA ORGANIZACIONAL PROCESSOS ORGANIZACIONAIS OUTROS

FIGURA 3. AVIAÇÃO PARTICULAR – SUMÁRIO ESTATÍSTICO CENIPA 2008-2017

FATORES CONTRIBUENTES EM 377 RELATÓRIOS FINAIS PUBLICADOS ACIDENTE 0 50 100 150 200 250 168 134 90 85 68 67 65 64 63 53 38 33 32 31 31 23 22 20 18 17 209 JULGAMENTO DE PILOTAGEM PLANEJAMENTO DE VOO APLICAÇÃO DE COMANDOS INDISCIPLINA DE VOO CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS ADVERSAS SUPERVISÃO GERENCIAL ATITUDE PROCESSO DECISÓRIO MANUTENÇÃO DE AERONAVE POUCA EXPERIÊNCIA DO PILOTO INSTRUÇÃO MOTIVAÇÃO OUTRO FATOR ESQUECIMENTO DO PILOTO PERCEPÇÃO FORMAÇÃO, CAPACITAÇÃO E TREINAMENTO ATENÇÃO INFRAESTRUTURA AEROPORTUÁRIA CULTURA ORGANIZACIONAL PROCESSOS ORGANIZACIONAIS

OUTROS

Fonte: Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA)

10 gerenciamentode riscos presentes naaviação

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Ainda segundo dados do CENIPA, outros segmentos, tais como a aviação de instrução seguem a mesma tendência, em termos de fatores contribuintes aos acidentes:

Na aviação de instrução, julgamento de pilotagem;

aplicação de comandos e supervisão gerencial

representaram 37% do total de fatores.

Na operação em aeródromos, julgamento de

pilotagem; aplicação de comandos e supervisão gerencial representaram 31.3% do total de fatores. Na aviação agrícola, planejamento de voo;

julgamento de pilotagem e supervisão gerencial

representaram 43.8% do total de fatores.

Com poucas variações na ordem dos fatores, nota-se o

erro de julgamento como o mais prevalente, segui-do de falha no planejamento ou supervisão e, ainda,

aplicação de comandos. No aspecto geral, as limitações humanas de percepção, análise e, até mesmo, erro de deci-são com indisciplina/violação também interferem negativa-mente na segurança da operação aérea.

Outros fatores relativos ao humano e que necessitam de alerta de toda a indústria se fazem presentes e evidentes, ainda que em diferentes níveis, a depender do tipo de ope-ração, estando entre eles:

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PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS PREVISTOS

O não cumprimento de procedimentos operacionais pre-vistos, assim como o improviso na realização de certas atividades, fatores de grande potencial e contribuição em acidentes, infelizmente, têm sido uma prática comum nas operações. Além disso, decisões que levam à degradação do desempenho do avião são adotadas sem critérios ou conhe-cimento técnico das consequências.

TREINAMENTO DE PILOTOS

Muitos pilotos não realizam seus treinamentos, iniciais ou de reciclagem, adequadamente. Principalmente naquelas si-tuações em que há falhas de controle, o que constitui tam-bém um fator de risco, potencializado na medida em que o piloto possa se deparar com uma situação de emergência.

12 gerenciamentode riscos presentes naaviação

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ADMINISTRAÇÃO DA OPERAÇÃO SEGURA

A concorrência comercial de caráter predatório também é um fator contribuinte para a ocorrência de acidentes, pois, normal-mente, leva à realização da operação sob condições aquém dos requisitos de segurança estabelecidos pelos fabricantes. Isso prevalece na prática de táxi aéreo clandestino. Esse aspecto pode envolver desde a manutenção inadequada da aeronave até a prática de honorários aviltantes. Muitas pistas ou locais de pouso utilizados carecem de infraestrutura adequada ou não permitem a operação segura sob meteorologia adversa, mas mesmo assim a operação ocorre sem restrição por parte do operador. O sentimento de “o outro fez, portanto eu também posso fazer” ainda predomina em muitos segmentos e, muitas vezes, está associado à região. Atitudes como essa caracterizam a operação insegura, porque “furam” as barreiras de segurança, gerando riscos que não poderão ser solucionados pelo piloto — a última oportunidade para reverter um erro cometido an-tes da decolagem ou em qualquer outra fase do voo.

MANUTENÇÃO DA AERONAVE

A realização da manutenção da aeronave por pessoal não habilitado ou sob condições técnicas e ambientais inadequa-das também tem sido observada como um fator de risco presente na operação. O não cumprimento do programa de inspeções previsto, ou a sua realização de forma e em condições inadequadas, associada à vontade do gestor em economizar recursos financeiros, tem sido fator prevalente em grande número de acidentes.

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A Air Safety Assessoria Aeronáutica e a MAPFRE seguros, em parceria de muitos anos, já organizaram a realização de vários cursos de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, oferecendo vagas para operadores, na maio-ria clientes e, principalmente, tendo realizado cerca de duas centenas de cursos de Crew & Corporate Resource Management - CRM (Gerenciamento dos Recursos da Organização e da Tripulação), que proporcionou um grau de conhecimento de excelência na área de segurança, tanto comportamental quanto operacional e de gestão de recursos.

Continuando e transcendendo aos cuidados sobre a vul-nerabilidade humana em cometer erros, deve-se ter como foco a educação para uma cultura de segurança solidifica-da, pois no caso de violações, ou seja, de desvios intencio-nais de procedimentos, que, muito embora, em sua maioria são originárias por condutas indisciplinadas, podem funda-mentar-se, também, em intenções cooperativas para com a indústria e/ou para o cumprimento de missões humani-tárias, o que não reduz o nível de risco para a ocorrência de acidente.

O CRM é um treinamento obrigatório e específico, iden-tificado pela sigla que traduz o objeto de sua abordagem: Gerenciamento dos Recursos da Organização e da Tribulação. O CRM tem os seguintes objetivos imediatos:

14 gerenciamentode riscos presentes naaviação

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Reduzir a probabilidade de falhas na operação; Contribuir para uma maior eficácia nas tomadas de

decisão pelo piloto;

Favorecer à conscientização sobre a responsabilidade individual na operação;

Favorecer à conscientização sobre a importância do cumprimento dos procedimentos;

Auxiliar na tomada de perspectiva do outro.

Dentre os temas abordados no programa do CRM desta-cam-se, pela sua importância: Comunicação, Consciência Situacional, Gestão do Erro, Condicionamento e Treinamento, Gerenciamento da Carga de Trabalho, Tomada de Decisão e Cooperação, além de outros. Ressalta-se que o CRM é um treinamento obrigatório para todos os segmentos da avia-ção civil brasileira, instituído pela legislaavia-ção aeronáutica des-de julho des-de 2004, envolvendo não só os pilotos e tripulantes de cabine, como as equipes de apoio em terra e a adminis-tração da empresa. Nesse sentido, a MAPFRE coloca-se, de forma pioneira, como facilitadora na realização dos cursos para os operadores que não possuem recursos didáticos próprios e precisam contratar de terceiros.

Para que sejam efetivos, esses treinamentos devem abarcar a realidade específica do operador, pois, muito embora a te-mática seja basicamente a mesma para todos os segmentos da aviação, a abordagem deve ser específica.

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É importante pensar que, além de o ser humano ser o elemento--chave e o mais importante do trinômio “homem, meio e máqui-na” – por ser capaz de criar, gerenciar, se adaptar, se desenvolver e tomar decisões – é também a parte mais vulnerável, por sofrer influências que podem afetar o comportamento devido a limita-ções biológicas, psicológicas e sociais.

Além dos treinamentos de CRM, a MAPFRE, atenta em expandir a atuação na gestão dos riscos presentes na aviação e, também em parceria com a Air Safety Assessoria Aeronáutica, tem pro-movido a oferta de serviços como: assessoria de segurança de voo; encontros educativos de segurança de voo e outros tipos de treinamentos. Em um contexto empresarial, os programas de segurança de voo estão associados ao conceito mais amplo de gestão pela qualidade total.

A gestão empresarial pela qualidade total, que visa à satisfação dos anseios dos consumidores, acionistas e da comunidade, exi-ge sempre a participação efetiva e direta do principal executivo da empresa. É importante destacar que, somente com um claro e ostensivo compromisso da alta administração junto aos

cri-Os fatores contribuintes de maior prevalência

para a ocorrência dos acidentes, em todos os

segmentos no Brasil, podem ser prevenidos e

administráveis por meio de uma adequada visão

de segurança e adoção de medidas de proteção.

16 gerenciamentode riscos presentes naaviação

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térios de maior segurança é que se garante a eficácia e a conti-nuidade da operação segura.

Procedimentos e cuidados com a segurança do voo agregam custos à operação, mas também agregam qualidade, gerando valor aos serviços prestados. Uma vez que se associa os progra-mas de segurança de voo à qualidade dos serviços, a cultura de segurança de voo deve permear todos os setores da empresa — da alta administração às equipes de vendas.

Uma posição de vanguarda sustentada nessa área deve vincular tudo à segurança de voo com a qualidade dos serviços e à rentabili-dade operacional. Até porque, boa parte das operações de voo está sujeita a rigorosas auditorias externas, realizadas pelos usuários. Outrossim, é importante destacar que programas de segurança tem implicações claras e diretas nos resultados financeiros da empresa. Neste contexto, um programa de segurança de voo deve conter desafios concretos, favorecendo à lucratividade e a promoção do crescimento do operador. Alguns dos resultados práticos dessa ação aparecem na alta taxa de disponibilidade da frota e no mais baixo índice de discrepâncias que afetam a segurança de voo, dentre os operadores do mesmo segmento. A integração dos programa de segurança de voo no conceito mais amplo de gestão pela qualidade total agrega-lhes valor e sustenta-ção, garante-lhes a continuidade e dota-os da flexibilidade necessá-ria para se integrar ao esforço maior de fazer frente aos desafios de mercado, que mudam de acordo com a conjuntura econômica.

(20)

NA CULTURA

DA SEGURANÇA

DE VOO

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CARLOS POLIZIO é Superintendente de Seguro Aeronáutico Casco Marítimo e Transportes da MAPFRE. A MAPFRE opera de forma expressiva no setor de aviação, sendo uma das seguradoras líderes do segmento, com 61% do mercado de seguro aeronáutico no Brasil, atuando em todas as áreas: aviação geral e comercial, táxi aéreo, drones, aviação agríco-la, entre outros diversos tipos de operações que envolvem aeronaves tripuladas e não tripuladas. Uma das estratégias da empresa é investir na Prevenção de Acidentes, com di-versas ações, entre as quais a realização de treinamentos. Uma média de setenta tripulantes são capacitados por ano, em um trabalho que contribui para desenvolver uma cul-tura, cada vez mais forte e efetiva, de segurança de voo no Brasil, país que está muito bem ranqueado em vários dos subsetores da aviação, em termos de número de aeronaves e de profissionais envolvidos nas operações aéreas.

(22)

Desde 2003, a MAPFRE apoia ou realiza em média quatro cur-sos por ano, todos homologados pela Autoridade Aeronáutica, com turmas que capacitam cerca de trinta tripulantes ou pes-soas envolvidas nas atividades aéreas de clientes. Assim, mais de 3 mil profissionais – pilotos e tripulação – já passaram pelos treinamentos realizados em parceria com empresas de excelência em segurança de voo e gerenciamento de risco para aviação, trazendo a esses profissionais maior conscienti-zação e capacidade de mitigar riscos. Esse investimento feito no setor tem apresentado resultados positivos quanto aos números de sinistros, impactando positivamente toda a ca-deia envolvida: seguradora, segurados, tripulação, pilotos, bem como o cliente final, que é o usuário das aeronaves.

Nesse contexto, é de extrema importância adotar uma visão de gerenciamento de riscos para o seguro aeronáutico, além de estratégias que contribuam para mitigar riscos e tornar o setor cada dia mais seguro e eficaz. Dentro do dia a dia da seguradora, uma das atividades mais presentes é a análise de riscos, feita durante todo o processo de verificação, desde um pedido de cotação até a definição dos parâmetros de uma especificação de apólice para um segurado. Nesse sentido, quanto mais a tripulação de uma aeronave a ser segurada, ou já segurada, estiver envolvida com doutrinas de treinamentos, de gerenciamento de risco, de prevenção de perdas, nos as-pectos da segurança do voo, quanto mais treinado o tripulan-te estiver, mais chances de um enquadramento de condições com custos diferenciados, em termos de seguro.

20 gerenciamentode riscos presentes naaviação

(23)

A análise leva em conta se o profissional passou por um simulador, se foi capacitado, quantas vezes e em que cursos, se tem os treinamentos mais importantes, enfim: o quanto a segurança de voo faz parte da expertise desse piloto ou tripulante.

A vantagem é que a MAPFRE sempre vê com bons olhos essa empresa e esse profissional que percebe a importância do gerenciamento de riscos e que investe em treinamentos de segurança. Assim, tenta diferenciar os valores de quem tem a percepção da segurança de voo e dos investimentos em prevenção. Esses clientes passam a ser diferenciados na seguradora, em termos de custos e condições.

Já está evidente que o gerenciamento de risco é totalmente inerente ao dia a dia do seguro, da apólice e de toda a ope-ração da seguradora. Nesse cenário, a seguradora também pode exercer um papel de consultora. Um exemplo real dessa função é quando um cliente que tem uma aeronave de uso particular, que ainda não tem uma visão mais ampla sobre segurança de voo, comum às empresas mais estru-turadas, busca um contrato de seguro e requer orientação mais aprofundada. Assim, cabe à seguradora contribuir com todos os seus clientes e operadores para que eles possam estar sempre atualizados em termos de treinamentos, disse-minando e fortalecendo a cultura da segurança de voo, em todos os segmentos da aviação nacional.

(24)

ACIDENTES

mais de

3 mil

PROFISSIONAIS

pilotos e tripulação – já passaram pelos

treinamentos realizados em parceria com

empresas de excelência em segurança de voo

e gerenciamento de risco para aviação

(25)

dos acidentes estão vinculados a

fatores humanos e operacionais

96

%

50

ACIDENTES

que visam incrementar a

infraestrutura aeroportuária

(26)

Sabe-se que a aviação é um meio de transporte seguro que, como toda a atividade humana, apresenta riscos que preci-sam ser evitados, gerenciados, mitigados. Quando uma em-presa ou profissional tem essa clara visão, isso passa a ser um diferencial favorável, envolvendo ações voltadas à segurança de voo e, de alguma forma, a seguradora pode diferenciar também as suas condições. Essa é uma visão da MAPFRE, nem sempre presente no mercado de seguros, mas que vem se mostrando fundamental para o setor de aviação.

Quando observadas as estatísticas do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), apresen-tadas no primeiro texto desse e-book, percebe-se que são os fatores humanos os maiores contribuintes de acidentes: julgamento de pilotagem, planejamento de voo, aplicação de comandos, indisciplina de voo, atitude, processo de decisão. A tecnologia pode ser causadora de falhas e provocar aci-dentes, mas, na maioria das vezes isso ocorre quando o ope-rador (ou seja, o fator humano) não souber fazer o devido uso dos recursos tecnológicos.

Nas estatísticas da seguradora, mais de 96% dos acidentes estão vinculados a fatores humanos e operacionais – esse último diz respeito às operações nas quais um profissio-nal tomou uma decisão que resultou em algum problema. Observando esse aspecto, percebe-se que a máquina, toda parte de tecnologia, a aeronave em si tem importância e deve passar por todos os processos exigidos de

manuten-24 gerenciamentode riscos presentes naaviação

(27)

ção, principalmente a manutenção preventiva. Mas se, por exemplo, a vistoria de um jato novo que acabou de sair da fábrica – e passou por rígidos processos de homologação por parte de autoridades nacionais e internacionais – não foi feita em seu detalhamento, talvez esse fator não gere tanta preocupação quanto se o piloto que vai operar a ae-ronave não foi treinado como deveria.

A maior preocupação de uma seguradora diz respeito ao fator humano, é saber quem vai voar na aeronave. Assim, treinamentos modernos, sob parâmetros e referências in-ternacionais, com protocolos de segurança de voo, com uso de simuladores em vários tipos de aeronaves semelhantes a que o piloto voa, com treino de simulações de emergência são tão importantes – e muitas vezes até mais – quanto a experiência de horas de voo. Nesse ponto, fica mais evi-dente que o gerenciamento de riscos está intrinsecamente relacionado ao fator humano.

Na aviação agrícola, por exemplo, em um dado ano, novos modelos de aeronaves – mais potentes, mais caras e com mais recursos tecnológicos – começaram a entrar no mer-cado do Brasil, exigindo dos pilotos um outro nível de trei-namento para operá-las. No início dessa entrada, a MAPFRE começou a ter muitos sinistros, registrando muitos aciden-tes, porque os pilotos brasileiros não estavam capacitados para operar aeronaves maiores, de maior potência. Foi uma transição grande e muito difícil, com muitos acidentes, perda

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de controle no solo, piloto que não conseguia decolar ou pousar, porque não estavam acostumados. A seguradora se uniu aos representantes do fabricante da aeronave agríco-la para que, juntos, pudessem encontrar uma solução para aquele cenário nada positivo. Assim, o fabricante investiu para trazer um simulador ao Brasil e a seguradora apoiou o centro de treinamento criado para a capacitação de pilotos na operação dessas novas aeronaves.

A própria comunidade de pilotos começou a ter interesse em fazer o treinamento, pois era uma forma de garantir mais segurança nos voos. O investimento valia a pena por muitos motivos, entre os quais garantir o melhor geren-ciamento de riscos, aumentar a competitividade e diminuir custos com seguro. Em menos de dois anos os efeitos po-sitivos desses investimentos que o fabricante e a segurado-ra conjuntamente se tsegurado-ransformasegurado-ram em estatísticas: houve uma reversão no nível de sinistros atribuídos ao fator huma-no, por não capacitação na operação das novas aeronaves. A grande maioria dos processos de cotações que a segura-dora passou a receber continha um certificado de treina-mento concluído. A parceria deu certo. A MAPFRE incenti-vou uma ação que não apenas deu resultado positivo, como contribuiu para a cultura de segurança de voo da comunida-de comunida-de pilotos da aviação agrícola.

26 gerenciamentode riscos presentes naaviação

(29)

Entendemos que o papel da seguradora

não é só entregar ao cliente um monte

de papéis, ou de arquivos, mas que

possamos entregar uma mudança

de mentalidade, apoio em eventos,

contribuição com treinamentos e

capacitações, caminhando junto com

as empresas e com as autoridades para

tentar baixar os níveis de incidentes e

acidentes, garantindo uma boa gestão

de riscos e uma forte e eficaz cultura

de segurança de voo.

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Mesmo em meio à pandemia, somente no mês de novem-bro, a MAPFRE junto com seu parceiro de treinamentos, realizou no Rio de Janeiro dois cursos de CRM – Crew & Corporate Resource Management ou Gerenciamento dos Recursos da Organização e da Tripulação. Cerca de setenta pilotos foram capacitados, a maioria operadores de aero-naves do setor público. Essa é uma expressiva contribuição que a seguradora oferece à aviação nacional.

Entendendo que o ano de 2020 foi atípico para todas as economias mundo afora – com paralisação de atividades de negócios e queda drásticas no número de voos e passagei-ros – ainda assim, a aviação no Brasil vem fomentando boas práticas, evoluindo em compasso ritmado com os merca-dos interacionais. Aos poucos, a retomada do pós-pandemia passa ser uma realidade, com vários ensinamentos, novas metodologias de trabalho, e seguramente o setor vai se re-cuperar e voltar a operar com 100% de sua capacidade. Há notícias positivas. O governo federal lançou nesse semestre o Programa Voe Simples, com mais de 50 medidas que vi-sam incrementar a infraestrutura aeroportuária, melhorar os critérios de renovação de carteiras, desburocratizar as atividades do setor e contribuir para o desenvolvimento de todas as áreas da aviação nacional.

Não se pode negar que os diversos setores que compõem a aviação nacional estão retomando suas atividades comerciais e de negócios e que, nesse sentido, são uma oportunidade

28 gerenciamentode riscos presentes naaviação

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para que o mercado de seguro aeronáutico se desenvolva ainda mais no Brasil, avançando em termos de inovações, modernizações e no sentido da construção de uma cultura nacional de segurança de voo, tão necessária para todo o setor. A visão da MAPFRE é positiva sim. A empresa enxerga um futuro próximo para a aviação de muito trabalho, de muitas oportunidades e de muito desenvolvimento. Em se tratando de gerenciamento de risco, se todos adotarem os cuidados necessários, cumprirem as atualizações de voos padronizados, dentro de regras, com as empresas corretas, devidamente registradas e regulamentadas, a aviação tende a crescer muito no Brasil.

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Referências

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