• Nenhum resultado encontrado

ASSOCIAÇÃO LATINO-AMERICANA DE CIÊNCIA POLÍTICA 9º CONGRESSO DA ALACIP MONTEVIDÉU, DE JULHO DE 2017

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "ASSOCIAÇÃO LATINO-AMERICANA DE CIÊNCIA POLÍTICA 9º CONGRESSO DA ALACIP MONTEVIDÉU, DE JULHO DE 2017"

Copied!
21
0
0

Texto

(1)

ASSOCIAÇÃO LATINO-AMERICANA DE CIÊNCIA POLÍTICA 9º CONGRESSO DA ALACIP

MONTEVIDÉU, 26-28 DE JULHO DE 2017

OS LÍDERES PARTIDÁRIOS NA CÂMARA DE DEPUTADOS BRASILEIRA: QUEM SE ELEGE? (1994-2014)

Bruno Marques Schaefer1 Tiago Alexandre Leme Barbosa2 Vinicius de Lara Ribas3

Resumo: O artigo analisa o perfil das lideranças partidárias e o tempo de permanência à frente dos cargos dos deputados federais que ocuparam o cargo de 1994 a 2014, nos principais partidos políticos brasileiros: PT, PDT, PMDB, PSDB, DEM, PP e PTB. Por meio dos dados da própria Câmara Federal, Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Observatório de Elites políticas e Sociais (NUSP/UFPR), foi realizada uma prosopografia observando: i) profissão dos eleitos; ii) estado que foram eleitos; iii) escolaridade e iv) gênero. Além do retrato coletivo dos parlamentares, testamos quais são as variáveis que explicam a eleição para o cargo de líder do partido, entre 1998 até 2014, considerando todos os deputados federais eleitos pelo partido na eleição em questão. Os resultados do trabalho indicam a ausência de mulheres entre os as lideranças partidárias, predominância de políticos com nível superior completo. A despeito da ausência de pré-requisitos formais e regras que facilitam a entrada de parlamentares com pouca experiência política, os nossos achados também indicam que políticos profissionais tem mais chances de se elegerem ao cargo de líder partidário, o que sugere a importância do conhecimento do campo político como requisito informal para o comando das bancadas.

Palavras Chaves: Câmara de Deputados; Partidos Políticos; Elites Políticas

1

Mestrando em Ciência Política no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), bolsista CNPq. E-mail: brunomschaefer@gmail.com

2

Doutorando em Ciência Política no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), bolsista Capes. E-mail: tiagoalexandrel@gmail.com

3

Doutorando em Ciência Política no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), bolsista CNPq. E-mail: viniciusdelararibas@gmail.com

(2)

Introdução

O debate sobre o funcionamento do legislativo federal brasileiro, desde as suas interações com o Poder Executivo até a composição dos seus membros constitui um campo relativamente extenso da produção da área, com trabalhos como o de Abranches (1988), Figueiredo e Limongi (1995; 1999), Rodrigues (2002; 2006; 2014) e Ames (2003). Desde a abertura democrática, teses divergentes foram apresentadas sobre o Legislativo Federal, mais especificamente sobre a Câmara dos Deputados (CD) do que o Senado Federal4.

Parte do debate sobre a atuação da CD foi centrado sobre as supostas fragilidades dessa casa de leis em relação à presidência da República (ABRANCHES, 1988). Tese distinta foi defendida por Figueiredo e Limongi (1995; 1999), que ao observar o funcionamento da Câmara Baixa, identificaram um legislativo organizado e centralizado na figura dos líderes partidários. Para os autores, esses parlamentares seriam atores que disciplinariam as bancadas, impedindo que os seus correligionários atuassem às avessas das orientações dos seus respectivos partidos.

Os trabalhos de Figueiredo e Limongi (1995; 1999) foram uma verdadeira guinada teórica e empírica sobre os estudos do legislativo no país, já que reconhecidamente trabalharam em até então em “terra incógnita”, para utilizar a expressão de Guillermo O’Donnell. Entretanto, a despeito dos achados apresentados por eles, a figura da liderança partidária ainda foi pouco investigada. Uma possível explicação para o fato é a predominância de pesquisas orientadas pelo paradigma neoinstitucionalista de escolha racional nos trabalhos dedicados a temática (Perissinoto, 2004). O olhar, neste sentido, foi direcionado para as regras que regulamentam o funcionamento interno da Casa e as funções específicas dos líderes, sem considerações mais amplas sobre os atores que efetivamente exercem a liderança.

Com esse trabalho, buscamos analisar a figura dos líderes dos principais partidos políticos do período pós- redemocratização, quais sejam: Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Democrático Trabalhista (PDT); Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Democratas5 (DEM), Partido Progressista6

4

Algumas revisões dessa literatura foram empreendidas por: Pereira e Mueller (2000) e Palermo (2000).

5

Até 2007 o partido adotava o nome Partido da Frente Liberal (PFL).

6

O PP passou ao longo dos anos por inúmeras mudanças de nomes e fusão. Até 1990, era chamado de Partido Democrático Social (PDS), trocando em 1993 para Partido Progressista Renovador (PPR) e Partido Progressista Brasileiro (PPB) em 1997. A partir de 2005, o partido adota o nome atual, Partido Progressista (PP). Fonte: Quadros, 2012.

(3)

(PP) e Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Essas agremiações foram escolhidas pela importância que exercem no sistema partidário nacional: PT e PSDB polarizaram as disputas presidenciais desde 1994 (MELO, 2010), todos participaram de coalizões do Executivo Federal e, no conjunto, elegeram cerca de 70% dos parlamentares da Câmara Baixa, no período analisado7.

O cargo analisado foi ocupado por figuras conhecidas pela imprensa política do país. A título de ilustração foram líderes partidários Michel Temer (PMDB), o presidenciável Aécio Neves (PSDB), além de legisladores como Rodrigo Maia (DEM) e Eduardo Cunha (PMDB). Os dados com os nomes dos parlamentares que ocuparam o cargo foram fornecidos pela própria Câmara Federal, o perfil social e a carreia política desses indivíduos foi coletado no Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro (DHBB), e também no Observatório de Elites Sociais e Políticas (NUSP/UFPR).

Ao longo do texto, testamos três hipóteses. i) Apesar da bancada parlamentar ter autonomia em definições políticas do cotidiano do Parlamento, os partidos buscam formalizar procedimentos de escolha dos líderes. Existe um processo de “ligação de arenas” (PERES; CARVALHO, 2012), dado que as Executivas Nacionais têm como membros natos, os líderes partidários; ii) Os parlamentares escolhidos pelas bancadas para ocuparem a liderança são políticos experientes, mas existem variações entre os partidos. Sendo na esquerda os parlamentares recrutados verticalmente, e na direita e centro parlamentares recrutados horizontalmente (RIBEIRO, 2014); iii) A sobrevivência dos líderes está diretamente associada ao papel dos partidos no processo legislativo federal. Partidos que polarizam a competição (PT, PSDB, DEM), tendem a ter líderes que sobrevivem menos.

O trabalho está divido em quatro seções. Na primeira, apresentamos uma breve revisão da literatura destacando o papel que os líderes partidários possuem, bem como ressaltamos algumas das lacunas dos estudos sobre o legislativo no país. Na sequência, apresentamos o desenho da pesquisa. A terceira parte do trabalho é dedicada a análise dos dados. Por fim, a conclusão retoma alguns dos achados do trabalho.

7

Este número foi calculado a partir do número de eleitos pelos partidos, dividido número absoluto de deputados eleitos nas cinco eleições do período. O N, logo, foi de 1914.

(4)

1. Breves comentários sobre a literatura sobre o Legislativo e os Líderes Partidários No Brasil, mesmo que a agenda de pesquisa sobre a figura do líder, o seu perfil social e atuação desses parlamentares não tenha se constituído em um subcampo de pesquisas, existem autores que revelaram alguns dos aspectos que permeiam esse componente do legislativo federal. Do ponto de vista do perfil de toda a Câmara Federal, e mesmo do Senado Federal, destacam-se os trabalhos de Marenco dos Santos (1997), Marenco dos Santos e Serna (2007), Rodrigues (2002, 2006 e 2014), no mesmo sentido, sobre o Senado Federal estão os trabalhos de Codato e Costa (2013), Neiva & Izumi (2012, 2014). No conjunto, esses textos tratam de todos os legisladores eleitos, não se atentando para os cargos “chaves” dentro do parlamento.

Especificamente sobre aquilo que se poderia chamar da “elite parlamentar” e os cargos formais dentro da Câmara Federal, estão as pesquisas de Miranda (2010) sobre o papel das lideranças e o trabalho de Silva Jr. et al. (2013) a respeito dos principais cargos da CD8. Miranda (2010) investiga o papel das lideranças partidárias no processo legislativo tanto no Senado quando na CD, destacando a centralidade dessas figuras para o poder de agenda dos parlamentares que se reúnem em torno das lideranças, ao mesmo tempo em que se “diminuem os custos de transação do processo legislativo”, uma vez que a coordenação em torno de políticas é benéfica tanto para a liderança quanto para os liderados – que ganham ao acelerarem suas pautas e diminuem os custos políticos de votar em pautas impopulares. As lideranças se fazem, segundo a autora, mais importantes na Câmara Federal do que no Senado, explicada pela magnitude – número de parlamentares – que as lideranças representam em cada casa (senadores possuíram maior facilidade em descentralização e coordenação individual do que deputados, mais numerosos).

Esta “radiografia” do processo de formação e trabalho das lideranças e cargos na CD é complementada com o trabalho de Silva Jr et al. (2013). Os autores Silva Jr. et al. (2013) analisam quem ocupa cargos de comando na Câmara dos Deputados – tomando como caso a 51ª Legislatura (1999-2003) –, defendendo que o perfil dessas posições de lideranças é bem “homogêneo”: tratam-se de pessoas que reúnem, segundo os autores, “expertise e credibilidade”, sendo parlamentares mais antigos no Congresso – o grau de importância do critério antiguidade é

8

Ainda, para compreender melhor toda a elite parlamentar na democracia brasileira, consultar o trabalho de Messenberg (2007).

(5)

variável de acordo com o cargo analisado – e bem afinados ideologicamente com os paridos que representam. Se faz necessário, para assumir postos de comando na CD, conhecimento do processo legislativo, credibilidade entre os pares e afinidade ideológica com a bancada partidária.

É possível perceber, portanto, a importância da discussão sobre os líderes partidários no funcionamento do Poder Legislativo brasileiro e, portanto, das próprias regras institucionais que dão guarida à democracia. Ainda que investigações das lideranças não obtenham centralidade na ciência política brasileira, o Legislativo ganhou relativo destaque desde a redemocratização. Nosso trabalho é parte dessa tradição inaugurada por Figueiredo e Limongi (1999), mas foca-se exclusivamente nas lideranças partidárias, como veremos a seguir no desenho da pesquisa e, mais adiante, na explicação sobre seleção e biografias dos líderes.

2. Nota Metodológica: o desenho da pesquisa

Buscando responder ao perfil das lideranças dos principais partidos políticos do período pós-redemocratização (PT, PDT, PMDB, PSDB, DEM, PP e PTB), nosso trabalho atuou em duas frentes i) regras formais e ii) perfil sócio-político dos parlamentares que ocuparam o cargo de liderança. Em relação ao primeiro ponto, foram consultados os estatutos das legendas e o regimento interno da Câmara Federal. Já o perfil sócio-político dos legisladores foi reconstruído mediante fontes como o Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro (DHBB) e pelas informações do Observatório de Elites Sociais e Políticas (NUSP/UFPR).

Em relação aos estatutos dos partidos políticos, foram observados todos os aprovados pelas agremiações ao longo do tempo. As regras estatutárias foram consultadas com vistas ao entendimento de diretrizes sobre o tempo de permanência das lideranças e se existia alguma indicação sobre quais características o parlamentar deveria possuir para ocupar o cargo. Dos sete partidos analisados o PTB e PP foram as agremiações que mais estatutos aprovaram ao longo do tempo, o primeiro com nove alterações ao longo do período e o segundo com doze alterações. Já as outras agremiações partidárias tiveram, em média, cinco alterações estatutárias, tomando-os em conjunto.

O último documento consultado sobre as regras de seleção de líderes consistiu no Regimento Interno da Câmara de Deputados. No decurso dos vinte anos que incluem o recorte

(6)

temporal dessa pesquisa, os deputados aprovaram algumas modificações no documento, mas nenhuma no capítulo sobre as Lideranças. As citações utilizadas ao longo do texto, são provenientes do texto aprovado em 20179.

Por fim, o número de indicações de lideranças foi de 97. Ao todo, foram 74 indivíduos que ocuparam os cargos. Por meio dos nomes desses parlamentares, que foram fornecidos pela própria Câmara Federal, foi realizada uma prosopografia considerando a carreira pregressa a entrada no cargo e o perfil social. Analisamos sexo, profissão e região proveniente.

3. As regras de seleção: Regimento interno e estatutos

Autores como Czudnowski (1975) e Norris e Loveduski (1997) discutem as várias etapas do processo de recrutamento político (Norris 2013), destacando fatores mais amplos como as características do sistema político as regras e instituições que executam o processo. Do ponto de vista empírico, alguns estudos dedicados à temática do recrutamento adotam o perfil social daqueles que conseguiram cargos eletivos (Rodrigues, 2002) ou dados dos que foram candidatos (Perissinotto & Miríade, 2009 e Perissinotto & Bolognesi, 2010).

No nosso caso, trabalhamos com os resultados daqueles que foram indicados ao cargo de líder de partido na CD e testamos a possibilidade de outros parlamentares que faziam parte das bancadas serem eleitos líderes dos seus partidos10. Do ponto de vista teórico, é sensato supor que o processo de recrutamento dos líderes partidários seja influenciado por pelo menos dois aspectos: as regras formais e as negociações intrapartidárias. Como não dispomos de evidencias sobre como se dão as negociações dentro dos partidos, apresentamos as regras que orientam os processos de escolha, sendo elas o Regimento Interno da Câmara de Deputados e os Estatutos dos partidos.

O Regimento da CD estabelece as diretrizes sobre quais são as funções desempenhadas pelos líderes e quais partidos políticos podem possuir a figura do líder. No que toca aos estatutos partidários, a despeito de diferenças entre os documentos, existe um ponto em comum sobre o

9

Disponível em http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/regimento-interno-da-camara-dos-deputados/RICD%20atualizado%20ate%20RCD%2020-2016.pdf, acesso em 10 de junho de 2017.

10

Utilizamos o banco de dados do Observatório de Elites Sociais e Políticas para informações sobre os deputados que faziam parte das bancadas e o DHBB para os que foram nomeados ao cargo.

(7)

processo de escolha do nome a ocupar o cargo, que tende a ser fruto das resoluções das Comissões Executivas com as bancadas parlamentares.

Inicialmente, o Regimento estabelece quais são os partidos que podem ter líderes. O critério expresso na norma é de que somente aqueles que tenham bancada superior a um centésimo dos membros da Casa11 podem ter acesso ao cargo. Salvo a proibição e a necessidade de que os eleitos para a liderança sejam informados a mesa diretora no início de cada legislatura, o Regimento não estipula nenhum pré-requisito para ocupação do cargo. Evidentemente, ser um Deputado Federal eleito é a condição sine qua non para estar entre os elegíveis. Além disso, não existe nenhuma especificação de quanto tempo o parlamentar ocupará o cargo, competindo as bancadas partidárias informar a mesa os nomes dos líderes com as eventuais substituições. Para a nomeação do líder, entretanto, o nome deve reunir assinaturas de 50% + 1 deputado do partido e levá-las à Secretaria da CD. Uma vez reconhecida as assinaturas, o deputado é investido do cargo de líder do partido. Sua troca pode acontecer a qualquer momento, a depender da bancada partidária.

Se o Regimento não estabelece nenhum critério para aqueles que ocuparão o cargo, nem quanto será o tempo que o parlamentar estará à frente da bancada, os estatutos dos partidos políticos são igualmente pouco específicos sobre essa questão, contrariando a nossa hipótese inicial de que: i) Apesar da bancada parlamentar ter autonomia em definições políticas do cotidiano do Parlamento, os partidos buscam formalizar procedimentos de escolha dos líderes. Existe um processo de “ligação de arenas” (PERES; CARVALHO, 2012), dado que as Executivas Nacionais têm como membros natos, os líderes partidários.

Apenas o Partido dos Trabalhadores (PT) indica a possibilidade de que a escolha seja periódica e que pode ocorrer um rodízio entre titulares e suplentes (Estatuto do PT, artigo 6812). O quadro 1 sintetiza as informações dos estatutos dos partidos analisados. Partidos como PSDB, PMDB e DEM, deixam explicitado nos seus estatutos que a seleção dos líderes será de acordo com as regras da Casa de leis que o legislador foi eleito, ou seja, se Câmara Municipal, Assembleia Estadual, ou, como no caso em questão, a Câmara Federal.

11 Artigo 9, inciso 4, p. 14. 12 Disponível em http://www.pt.org.br/wp-content/uploads/2016/03/ESTATUTO-PT-2012-VERSAO-FINAL-alterada-outubro-de-2015-2016mar22.pdf

(8)

QUADRO 1

SELEÇÃO DE LÍDERES PARTIDÁRIOS NO PT, PDT, PMDB, PSDB, PTB, PP E DEM (1994-2014)

PT PDT PMDB PSDB PTB PP DEM Quem pode ser eleito Qualquer parlamentar Qualquer parlamentar Qualquer parlamentar Qualquer parlamentar Qualquer parlamentar Qualquer parlamentar Qualquer parlamentar Como será escolhido Bancada, posteriormente comunicando ao Diretório correspondente Executiva com a bancada Bancada elege com sujeição à Comissão Executiva Bancada elege com sujeição à Comissão Executiva Regras da Casa ou deliberação com a Comissão Executiva Eleito pela bancada: voto secreto e maioria absoluta Regras da Casa ou decisão da Comissão Executiva Tempo de duração no cargo

Não especifica Não especifica Não especifica Não especifica Não especifica Não especifica Não especifica

Fonte: Os autores a partir dos estatutos partidários.

Note-se no quadro que os partidos se assemelham em dois critérios: quem pode ser eleito e no tempo de duração no cargo. Do ponto de vista organizacional, não existe nenhuma diretriz especificando quais características deve um líder possuir, o que na prática significa que mesmo deputados inexperientes poderão chegar ao cargo. Ademais, não existem requisitos formais para ocupação do cargo. A despeito de normas e pré-requisitos formais, é possível identificar padrões no perfil social e político dos legisladores nomeados ao cargo. A seção seguinte apresenta esses dados.

4. Quem são os líderes?

Os deputados federais eleitos líderes dos seus respectivos partidos são informados para Mesa diretora da Casa, sempre no início da Legislatura, ou quando ocorre alguma substituição de liderança os partidos informam a Mesa o nome escolhido. Das 97 nomeações, apenas uma mulher foi indicada durante os 20 anos. Os motivos da baixa presença feminina são agrupados em ao menos dois conjuntos de explicação: social e institucional, conforme apontam Costa, Codato & Bolognesi (2015). Esses dados sugerem que o acesso ao comando das bancadas partidárias ainda são exclusividade de homens nos seis dos sete partidos políticos analisados, apenas o PT indicou uma mulher para o cargo, revelando que mesmo eleitas, as mulheres ainda enfrentam barreiras para chegar aos cargos de poder na CD.

(9)

No mesmo sentido dos trabalhos que revelam a posse do diploma de nível superior como um atributo importante para entrada no campo político, conforme Norris & Lovenduski (1997). Os dados sobre os líderes partidários, em nossa amostra, confirmam a tendência de políticos com nível superior que representam 81,1% dos indicados. É importante ressaltar que no período, de forma agregada, o número de parlamentares eleitos com ensino superior completo foi de 80%. Ou seja, não há grande distinção entre o perfil do parlamentar “médio” e o escolhido líder, no que concerne a escolaridade.

Quanto a profissão dos líderes, o nosso objetivo foi perceber a presença de políticos profissionais entre os indicados. A variável ocupação ou profissão é uma das mais recorrentes em estudos de elites Codato, Costa & Massimo (2014). Dos nomeados ao cargo, 56,8% declararam que sua profissão era político13, ou seja, ocupava no momento da eleição ou já havia ocupado, cargo eletivo. Em termos de comparação, podemos observar maior distinção com o perfil médio da Casa, em que dos 1914 parlamentares eleitos pelos partidos analisados, no período, 772 (40,3%), se declararam políticos.

4.1 De onde vêm os líderes?

Quanto às biografias dos líderes, é interessante notar um certo o padrão geográfico dessas lideranças. Como se pode observar na Tabela 1, os líderes partidários são predominantemente das regiões Sudeste e Nordeste. Com exceção do PP e do PTB, os demais concentram seus líderes nestas duas regiões. O resultado dos resíduos padronizados confirma esta tendência, sendo que somente o PTB tem líderes que fogem da distribuição normal da amostra, concentrando suas escolhas em parlamentares da região Centro-Oeste (Pedrinho Abrão – FHC I, de Goiás, e Jovair Arantes – escolhido para liderar a bancada no segundo governo Lula e primeiro governo Dilma, também de Goiás). No caso do PP, é interessante observar que parte considerável de seus líderes eram provenientes da região Sul, especialmente do estado do Rio

13

O banco de dados utilizado para o perfil social dos parlamentares foi constituído de duas fontes o DHBB e o Observatório de Elites Políticas e Sociais (NUSP/UFPR). Os dados sobre carreira política ainda não estão completos, por essa razão não serão apresentados. Além disso, alteramos a categoria político. Além das profissões que estão inclusas no banco disponibilizado pelo Observatório, acrescentamos a categoria “assessores políticos”, o que resultou em um número maior de casos para ocupação/profissão político.

(10)

Grande do Sul. Neste estado, o partido possui maior relevância eleitoral em comparação com os outros dois estados da região.

TABELA 1- PADRÃO GEOGRÁFICO DA LIDERANÇA

Partido

Centro-Oeste

Nordeste Norte Sudeste Sul Totais

DEM % 18,2% 54,5% 0,0% 9,1% 18,2% 100,0% Resíduos Padronizados 1,0 ,8 -,5 -1,6 ,7 11 PDT % 5,9% 29,4% 5,9% 41,2% 17,6% 100,0% Resíduos Padronizados -,5 -,6 1,1 ,2 ,8 17 PMDB % 9,1% 54,5% 0,0% 27,3% 9,1% 100,0% Resíduos Padronizados ,0 ,8 -,5 -,6 -,2 11 PP % 9,1% 45,5% 0,0% 18,2% 27,3% 100,0% Resíduos Padronizados ,0 ,3 -,5 -1,1 1,6 11 PSDB % 0,0% 40,0% 0,0% 60,0% 0,0% 100,0% Resíduos Padronizados -1,2 ,1 -,6 1,4 -1,3 15 PT % 0,0% 39,1% 4,3% 47,8% 8,7% 100,0% Resíduos Padronizados -1,5 ,0 ,8 ,8 -,4 23 PTB % 44,4% 11,1% 0,0% 44,4% 0,0% 100,0% Resíduos Padronizados 3,5 -1,3 -,4 ,3 -1,0 9 Médias % 9,3% 39,2% 2,1% 38,1% 11,3% 100,0%

Fonte: Construção própria com base em dados disponibilizados pela Secretaria da Câmara dos Deputados.

Para complementar a informação da região dos deputados que foram nomeados ao cargo de líder partidário, o Gráfico 1 apresenta a porcentagem de que cada região teve entre os deputados eleitos de 1994 até 2014 nos partidos analisados. Note-se no gráfico que o sudeste é a região que detém as maiores porcentagens, e isso se deve ao fato do tamanho da representação que os Estados dali possuem. Comparada à tabela anterior, chama atenção o caso do PTB, que entre os seus líderes partidários a concentração se deu na região Centro-oeste, mas essa foi responsável por fornecer apenas 6,3% dos seus eleitos.

(11)

GRÁFICO 1- REPRESENTAÇÃO POR REGIÃO DOS DEPUTADOS FEDERAIS DO PT, PDT, PMDB, PSDB, PTB, PP E DEM (1998-2014)

Fonte: Observatório de elites sociais e políticas (NUSP/UFPR).

Existe, de modo geral, uma correlação entre o número de deputados eleitos em cada região e o perfil geográfico da liderança partidária. Onde os partidos são mais fortes, dali que surgem os líderes. Neste sentido, os líderes tucanos, petistas e pedetistas tendem a ser originários da região Sudeste, enquanto nos demais partidos, excetuando o PTB, os líderes vêm do Nordeste.

4.2 Quem é eleito líder partidário?

Na subseção anterior apresentamos os dados do perfil social das lideranças partidárias. Nesta parte do texto, discutimos quais variáveis explicam a indicação do parlamentar para o cargo em questão. Consideramos como variável dependente o fato de ser eleito líder pela bancada partidária (1). Durante o período analisado (vinte anos), de um total de 1914 deputados dos sete partidos, foram 97 nomeações. As variáveis independentes inseridas na regressão

0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00% 40,00% 45,00% 50,00% PT PDT PMDB PSDB PTB PP-PPB DEM-PFL

(12)

logística binária são explicadas a seguir. Trata-se de pertencimento regional, predicado social e campo político, grau de educação formal e a profissão (político profissional ou não).

Mesmo tendo um formato de estado federativo, o Brasil é conhecido pelos contornos regionais na política nacional. Estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais (situados no Sudeste) tiveram destaque na história política do país. Foram nessas subunidades da federação que surgiram partidos como o PT e PSDB (ROMA, 2002; MENEGUELLO, 1989). Além do Sudeste, o Nordeste também desempenhou um papel importante na vida nacional do país, sendo que partidos como o DEM, em nossa amostra, estabeleceram raízes mais fortes ali (FERREIRA, 2002). Assim, transformamos o Estado que o parlamentar foi eleito em duas variáveis independentes: ser ou não eleito pelo sudeste = 0 (não eleito pelo sudeste), 1 (eleito pelo sudeste); e ser ou não eleito pelo nordeste = 0 (não eleito pelo Nordeste), 1 (eleito pelo Nordeste).

As outras variáveis inclusas no teste são relativas a uma preocupação dos estudos sobre recrutamento e de uma forma mais ampla, sobre a própria compreensão do campo político. A primeira variável dummy é relativa à importância dos predicados sociais no campo político. A posse do nível superior, conforme alguns estudos demonstram, facilitam a entrada no mundo político. Assim, a variável ficou construída como: com nível superior=1, sem nível superior= 0.

Por fim, inserimos no teste o fato do deputado ser político profissional ou não. Essa variável inclui todos aqueles que declaram como profissão algum cargo eletivo ou era assessores políticos. O objetivo, é observar se o acesso ao cargo é facilitado para aqueles já pertencentes ao mundo político. Deputados que já tem capital político, deteriam vantagens em relação aos seus pares pelo conhecimento que já possuem e rede de contatos estabelecidas, fatores ausentes em parlamentares sem-experiência prévia. Assim, a variável dicotômica é: ser político = 1, não ser político = 0.

No Quadro 2, expomos o resultado da regressão logística binária. Os resultados apontam que a região e o fato de ser político profissional aumentam as chances de o político ser escolhido para a liderança. Estas três variáveis foram significantes, sendo que a força da relação é medida no exponencial de Beta (Exp(B)). Ser do nordeste e político profissional aumenta em mais de duas vezes a chance de se chegar ao cargo de líder. Ser do sudeste apresenta resultado

(13)

semelhante. O que indica, de modo geral, que ao nível agregado as regiões mais populosas e com maior representação se fazem valer na vida interna dos partidos políticos.

QUADRO 2: REGRESSÃO LOGÍSTICA BINÁRIA

B S.E. Wald df Sig. Exp(B)

Político ou não ,712 ,240 8,764 1 ,003 2,037

Ensino Superior_ -,196 ,350 ,314 1 ,575 ,822

Nordeste ou não ,800 ,309 6,710 1 ,010 2,226

Sudeste ou não ,664 ,308 4,648 1 ,031 1,943

Constant -3,886 ,395 96,929 1 ,000 ,021

a. Variable(s) entered on step 1: Ocupação_Cod, Ensino_Superior_Cod, Nordeste, Sudeste.

A escolaridade não apresentou significância estatística. Dado que a grande maioria dos parlamentares possui ensino superior, esta não é condição suficiente para explicar porque alguns ascendem à liderança e outros não. Quanto a diferença entre partidos, além dos aspectos regionais, já apontados, a questão profissional parece ser importante. Enquanto que nos partidos de Centro e na Direita 57,9% e 60,9% dos líderes eram políticos profissionais, respectivamente. Na esquerda este percentual é de 53,9%. Desagregando este dado por partido, podemos observar que DEM, PDT, PSDB e PT foram os partidos com menos políticos profissionais exercendo cargos de liderança: respectivamente 50%, 50%, 54,5%, 55,4%. Neste sentido, os dados em nível agregado possibilitam confirmar nossa hipótese dois. Porém, quando observamos os casos dos partidos, desagregadamente, o resultado é outro.

4.3 Quanto tempo dura a liderança?

Na Tabela 2, apresentamos os dados de sobrevivência média dos líderes, classificando as distintas distribuições por partido. Os partidos de esquerda (PT e PDT), além do PSDB, têm as menores taxas de sobrevivência dos líderes, se considerarmos a média geral. Este dado está, por

(14)

motivos óbvios, relacionado ao total de líderes que ocuparam o cargo ao longo das Legislaturas analisadas. PT, PDT e PSDB tiveram, respectivamente, 23, 17 e 15 líderes durante o período14.

Médias menores de permanência do cargo de líder também se relacionam ao desvio padrão. PTB, PMDB e PP tiveram os maiores desvios padrões, o que indica que os líderes escolhidos pelas bancadas variaram muito no tempo de permanência. No caso do PTB, por exemplo, enquanto Jovair Arantes foi líder por duas Legislaturas completas, Roberto Jefferson (RJ), no segundo governo Lula, saiu do cargo com menos de um ano no mesmo15. No PMDB, Geddel de Lima (BA) e Henrique Eduardo Alves (RN) também gozaram da liderança do partido por uma Legislatura inteira (51ª e 54ª, respectivamente), enquanto Waldemir Monika (MS) e Saraiva Felipe (MG) assumiram mandatos “tampões” no decorrer dos anos de 2005 e 2006.

TABELA 2: SOBREVIVÊNCIA MÉDIA POR PARTIDO

Sobrevivência Média (%)

Partido Média Mediana Desvio Padrão Total N % N Casos

DEM 45,18 25,89 29,13 11 11,34 PDT 30,53 24,04 21,74 17 17,53 PMDB 43,90 48,70 33,40 11 11,34 PP 39,83 27,40 31,09 11 11,34 PSDB 34,74 25,21 12,48 15 15,46 PT 23,28 24,93 8,22 23 23,71 PTB 43,94 22,95 38,56 9 9,28 Médias 37,34 28,44 24,95 97 100,00

A Tabela 3 diferencia os dados de sobrevivência a partir dos governos. Os governos com menor taxa de sobrevivência foram, respectivamente, os primeiros governos de Lula, Dilma e FHC. Nos governos petistas houve maior rotação dos líderes, considerando-se o agregado dos dados, sendo que, em 2005, na esteira da crise do chamado “mensalão”, houve nove trocas de líderes. O PT, partido do presidente, teve quatro trocas de liderança: após a saída de Arlindo Chinaglia (SP), que havia assumido o cargo em 2004, assume Paulo Rocha (PA), depois Fernando Ferro (PE) e, por fim, Henrique Fontana (RS), que se consolida no comando do bancada.

14

A sobrevivência foi calculada considerando o número de dias que o parlamentar ficou na liderança ao longo da Legislatura, dividido pelo número de dias totais da Legislatura (1460).

15

(15)

TABELA 3: SOBREVIVÊNCIA MÉDIA POR GOVERNO

Sobrevivência Média (%)

Governo Média Mediana Desvio Padrão Total N % N Casos

FHC I 34,56 25,41 22,09 17 17,53 FHC II 51,15 36,03 37,35 12 12,37 LULA I 29,32 25,38 18,97 22 22,68 LULA II 37,61 24,93 27,26 21 21,65 DILMA I 30,13 25,00 19,10 25 25,77 Médias 36,55 27,35 24,96 97 100,00

Após esta análise, separamos os casos de sobrevivência em três categorias, para comparamos os mesmos entre mais baixos e mais altos. Existem os casos de parlamentares que ficaram tempos curtos na liderança (menos de 24% da Legislatura), o que pode ser até um ano (Sobrevivência baixa = 27,8% dos casos). Em 39,2% dos casos, os parlamentares ficaram nos cargos entre um e dois anos (Sobrevivência Intermediária). E, no restante, foram os parlamentares que ficaram entre dois anos na liderança e a Legislatura inteira. Esta divisão de sobrevivências permite comparar os partidos. Na tabela 4 destacamos que, dos 27 parlamentares que ocuparam a liderança de seus partidos pelo menor tempo, 14 (ou mais de 50%), estavam vinculados aos partidos de esquerda, PT e PDT. Este dado, quando articulamos a ideia de que os próprios estatutos destas organizações apontam a necessidade de rotação da liderança, ilustram que há, em princípio, um controle maior de PT e PDT no que concerne o aspecto da permanência no poder. Incentivar, ou mesmo impor, a troca de comando da bancada pode indicar que os partidos não buscam manter parlamentares no comando por muito tempo.

TABELA 4: SOBREVIVÊNCIA (CATEGORIAS)

Partido Sobrevivência Baixa Sobrevivência Intermediária Sobrevivência Alta Total DEM N 1 5 5 11 % 9,1% 45,5% 45,5% 100,0% Resíduos Padronizados -1,2 ,3 ,7 PDT N 8 5 4 17 % 47,1% 29,4% 23,5% 100,0% Resíduos Padronizados 1,5 -,6 -,7 PMDB N 3 1 7 11 % 27,3% 9,1% 63,6% 100,0% Resíduos Padronizados ,0 -1,6 1,8 PP N 4 2 5 11 % 36,4% 18,2% 45,5% 100,0% Resíduos Padronizados ,5 -1,1 ,7 PSDB N 0 9 6 15 % 0,0% 60,0% 40,0% 100,0%

(16)

Resíduos Padronizados -2,0 1,3 ,5 PT N 6 15 2 23 % 26,1% 65,2% 8,7% 100,0% Resíduos Padronizados -,2 2,0 -2,0 PTB N 5 1 3 9 % 55,6% 11,1% 33,3% 100,0% Resíduos Padronizados 1,6 -1,3 ,0 Total N 27 38 32 97 Resíduos Padronizados 27,8% 39,2% 33,0% 100,0%

Os resultados dos resíduos padronizados também apontam para a grande diferença de comportamento de PT e PSDB, o que invalida nossa hipótese três. Os dois partidos, que polarizaram a competição presidencial, e estiveram em coalizões opostas na Câmara ao longo do período analisado, possuem distintos critérios para determinar o tempo de sobrevivência de seus líderes. Enquanto que no PSDB, 40% de seus líderes ficaram quase toda a Legislatura no cargo, no PT apenas dois (8,7%). Logo, os resíduos são opostos quando se consideram os tempos de permanência. O valor -2,0 aparece no caso tucano quando consideramos a sobrevivência baixa, o mesmo valor aparece, no PT, quando a sobrevivência é alta. No caso do PSDB, das seis nomeações de liderança que ficaram alto período no cargo, a maioria (4), foi feita durante os governos do partido (50ª e 51ª Legislaturas). Durante o primeiro governo Lula, primeira Legislatura do partido na oposição, Jutahy Júnior foi escolhido pela bancada para liderar o partido ficando no cargo praticamente dois anos (50% de sobrevivência). No segundo mandato de Lula, foi a vez de José Aníbal repetir o período. Já no governo Dilma, a rotação de líderes da bancada foi maior. Para o caso petista, apenas Henrique Fontana, nos dois mandatos de Lula, esteve a frente da bancada do partido por mais de dois anos, constituindo-se como ponto fora da curva. A tendência do PT, estando no governo ou sendo oposição, foi a rotação de líderes. Nos demais partidos, os líderes com maior sobrevivência foram figuras importantes em cada uma das agremiações, como ACM Neto no caso do DEM, Geddel Viera Lima e Henrique Eduardo Alves, no PMDB, Miro Teixeira e André Figueiredo, no PDT, Jovair Arantes, no PTB, e Mario Negromonte, no PP. Como destacamos antes, os líderes partidários possuem assento na Executiva Nacional do partido, instância decisória mais importante (RIBEIRO, 2014). Logo, os nomes a serem escolhidos, esperam-se, tenham um histórico de lealdade para com a organização. De todos os nomes com maior tempo de sobrevivência, apenas um (José Mucio Monteiro), era um deputado migrante.

(17)

O tempo de sobrevivência do líder também indica a quantidade de capital político do agente. Para ser líder já são necessários predicados “especiais”, quanto a lealdade organizacional e a expertise política (SILVA JR. et al., 2013). No entanto, aqueles parlamentares que ficam mais tempo a frente da bancada parecem possuir ainda mais controle sobre o partido no Legislativo. O controle, neste sentido, pode não ser através da disciplina, mas, justamente o contrário, no entendimento das particularidades do partido. O PMDB, por exemplo, mantém historicamente baixos índices de disciplina parlamentar, em comparação com PT e PSDB, por exemplo. Mas os líderes da bancada peemedebista tendem a ficar mais tempo no cargo. É possível dizer, neste sentido, que o líder não se indispõe com os deputados infiéis, garantindo a sua própria sobrevivência.

Considerações Finais

Neste trabalho exploramos o perfil dos líderes partidários dos principais partidos políticos brasileiros: Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Democrático Trabalhista (PDT), Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Partido Progressista (PP) e Democratas (DEM). Dada a centralidade da figura dos líderes partidários apontada pela literatura Limongi & Figueiredo (1995; 1999), identificamos alguns padrões nos padrões dos líderes, a despeito da ausência de regras formais no processo de recrutamento do cargo.

Nosso objetivo era testar três hipóteses: i) Apesar da bancada parlamentar ter autonomia em definições políticas do cotidiano do Parlamento, os partidos buscam formalizar procedimentos de escolha dos líderes. Existe um processo de “ligação de arenas” (PERES; CARVALHO, 2012), dado que as Executivas Nacionais têm como membros natos, os líderes partidários; ii) Os parlamentares escolhidos pelas bancadas para ocuparem a liderança são políticos experientes, mas existem variações entre os partidos. Sendo na esquerda os parlamentares recrutados verticalmente, e na direita e centro parlamentares recrutados horizontalmente (RIBEIRO, 2014); iii) A sobrevivência dos líderes está diretamente associada ao papel dos partidos no processo legislativo federal. Partidos que polarizam a competição (PT, PSDB, DEM), tendem a ter líderes que sobrevivem menos.

(18)

Nossa primeira hipótese não se confirmou. Observando as regras formais – estatutos partidários e legislação interna à CD – os partidos não impõem regras formais a escolha do cargo de líder. O processo de “ligação de arenas” observado pela literatura apresenta-se, entretanto, de outra forma: as bancadas comunicam aos diretórios a escolha dos líderes e esses são políticos bem afinados ideologicamente com o partido que estão.

Nossa segunda hipótese, também afinada com a literatura (SILVA JR el al., 2013) mostra, sim, que há variações entre os partidos políticos no tocante a nomeação partidária, considerando a ideologia no agregado. No entanto, os partidos com menos políticos profissionais foram os dois de esquerda (PT e PDT), um de direita (DEM), e um de centro (PSDB).

Quanto à terceira hipótese, essa também não se confirmou. No PSDB, 40% dos líderes partidários permaneceram no cargo durante toda a legislatura, enquanto que no PT, apenas 8,7% lograram esse êxito, o que representa em número absolutos apenas dois deputados entre os 23 que assumiram a responsabilidade. Ainda, é preciso destacar alguns achados quanto ao perfil do parlamentar que assumi o cargo de líder partidário na CD. Trata-se, em sua maioria, de deputados homens (durante os vinte anos analisados, houve apenas uma nomeação de líder mulher, no PT), provenientes das regiões sudeste e nordeste, seguido por parlamentares do sul, centro-oeste e, por fim, norte. Além disso, também ficou evidenciado a predominância de parlamentares com nível superior completo, reforçando os achados da literatura de elites políticas.

Referências Bibliográficas

ABRANCHES, Sérgio. “Presidencialismo de Coalizão. O Dilema Institucional Brasileiro”. Dados, vol. 31, nº 1, pp. 5-38, 1988.

ABREU, A. A. de, Beloch, I., Lattman-Weltman, F., & Niemeyer, S. T. de (Eds.). Dicionário histórico-biográfico brasileiro. Rio de Janeiro: Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil/Fundação Getúlio Vargas, 2001.

AMES, Barry. Os entraves da democracia no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003.

ARAÚJO, C. Partidos políticos e gênero: mediações nas rotas de ingresso das mulheres na representação política. Revista de Sociologia e Política, (24), pp.193–215, 2005.

(19)

CODATO, A.; COSTA, L.; MASSIMO, L. Classificando ocupações prévias à entrada na política: uma discussão metodológica e um teste empírico. Opinião Pública, vol.20, n.3, pp.346-362, 2014.

______.; ______. A profissionalização ou popularização da classe política: um perfil dos senadores da República. In: MARENCO, A. Os Eleitos. Porto Alegre: UFRGS, 2013.

______.; ______.; BOLOGNESI, B. O recrutamento político e a questão de gênero no parlamento brasileiro. In: CODATO, A; et al. (org). Retratos da classe política brasileira: estudos de ciência política: Saarbrucken: Novas Edições Acadêmicas, 2015.

CZUDNOWSKI, M. M. Political Recruitment. In: GREENSTEIN, F. I.; POLSBY, N. W. (Eds.). Handbook of Political Science: Micro-political Theory. Reading, Massachusetts: Addison-Wesley. v. 2, p. 155-242, 1975.

FIGUEIREDO, A. LIMONGI, F. “Partidos Políticos na Câmara dos Deputados: 1989-1994”. Dados, 1995, 38 (3): 497-525, 1995.

______.; ______. Executivo e Legislativo na Nova Ordem Constitucional. Rio de Janeiro: FGV, 1999.

MARENCO DOS SANTOS, A.; SERNA, M. Por que carreiras políticas na esquerda e na direita não são iguais? Recrutamento legislativo em Brasil, Chile e Uruguai. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 22, n. 64, p. 93-113, jun/2007.

______. Nas fronteiras do campo político. Raposas e outsiders no congresso nacional. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 12, n. 33, p. 87-101, fev/1997.

MELO, Carlos Ranulfo. "Eleições presidenciais, jogos aninhados e sistema partidário no Brasil". Revista Brasileira de Ciência Política, n. 4, p. 13-41, 2010.

MENEGUELLO, Rachel. PT: a construção de um partido. São Paulo: Paz e Terra, 1989.

MESSENBERG, Débora. A elite parlamentar brasileira (1989-2004). Soc. estado., Brasília , v. 22, n. 2, p. 309-370, Aug. 2007.

MIRANDA, Geralda Luiza de. A delegação aos líderes partidários na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Rev. Sociol. Polit., Curitiba , v. 18, n. 37, p. 201-225, Oct/2010.

NEIVA, Pedro; IZUMI, Maurício. Perfil profissional e distribuição regional dos senadores brasileiros em dois séculos de história. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 29, p. 165-188, 2014.

______.; ______. Os “doutores” da federação: formação acadêmica dos senadores brasileiros e variáveis associadas. Rev. Sociol. Polit., vol.20, no.41, p.171-192, 2012.

(20)

NORRIS, Pippa. Recrutamento Político. Rev. Sociol. Polit., Curitiba , v. 21, n. 46, p. 11-32, 2013.

______.; LOVEDUSKI, J. United Kingdom. In: NORRIS, P. Passages to Powew: legislative recruitment in advanced democracies. Cambridge: Cambridge University Press, 1997.

PAIVA, Denise. PFL x PMDB: marchas e contramarchas (1982-2000). Goiânia: Alternativa, 2002.

PALERMO, Vicente. Como se governa o Brasil? O debate sobre instituições políticas e gestão de governo. Dados, vol.43, n.3, 2000.

PEREIRA, Carlos; MUELLER, Bernardo. Uma Teoria de preponderância do Poder Executivo: o sistema de comissões no legislativo brasileiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 15, n. 43, 2000.

PERES, Paulo; CARVALHO, Ernani. Religando as arenas institucionais: uma proposta de abordagens multidimensionais nos estudos legislativos. Rev. Sociol. Polit., Curitiba , v. 20, n. 43, p. 81-106, Oct. 2012.

PERISSINOTO, R. Política e Sociedade: por uma volta à sociologia política. Política e Sociedade, n.5, pp. 201-230, 2004.

______.; BOLOGNESI, Bruno. Electoral Success and Political Institutionalization in the Federal Deputy Elections in Brazil (1998, 2002 and 2006). Brazilian Political Science Review, 4 (1), p. 10–32, 2010.

______.; MIRIADE, Angel. Caminhos para o parlamento: candidatos e eleitos nas eleições para deputado federal em 2006. Dados, Rio de Janeiro , v. 52, n. 2, p. 301-333, jun/2009.

QUADROS, Marcos. Progressistas, mas conservadores: a ideologia do Partido Progressista no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: PUCRS, 2012 (dissertação de mestrado em ciência política).

RIBEIRO, Pedro. Em nome da coesão: parlamentares e comissionados nas executivas nacionais dos partidos brasileiros. Rev. Sociol. Polit., Curitiba , v. 22, n. 52, p. 121-158, dez/2014.

RODRIGUES, Leôncio Martins. Mudanças na classe política brasileira. São Paulo: Publifolha, 2006.

______. Partidos, ideologia e composição social: um estudo das bancadas partidárias na Câmara dos Deputados. São Paulo: Edusp, 2002.

______. Pobres e ricos na luta pelo poder: novas elites na política brasileira. Rio de Janeiro: Topbooks, 2014.

(21)

ROMA, Celso. A institucionalização do PSDB entre 1988 e 1999. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 17, n. 49, 2002.

SILVA JÚNIOR, J. A.; FIGUEIREDO FILHO, D. B. ; PARANHOS, R.; ROCHA, E. C. Quem controla o Legislativo? A ocupação de cargos de comando na Câmara dos Deputados. Paraná Eleitoral, v. 2, p. 283-308-308, 2013.

Referências

Documentos relacionados

Considerando a contabilidade como centro de gestão da informação, os autores defendem o aprimoramento de uma visão sistêmica ao profissional, como também uma maior compreensão

É preciso analisar como as relações de poder, as relações sociais, a moral e a moral sexual podem ter papel na construção da conduta e comportamento social, político

F REQUÊNCIAS PRÓPRIAS E MODOS DE VIBRAÇÃO ( MÉTODO ANALÍTICO ) ... O RIENTAÇÃO PELAS EQUAÇÕES DE PROPAGAÇÃO DE VIBRAÇÕES ... P REVISÃO DOS VALORES MÁXIMOS DE PPV ...

insights into the effects of small obstacles on riverine habitat and fish community structure of two Iberian streams with different levels of impact from the

De acordo com o Consed (2011), o cursista deve ter em mente os pressupostos básicos que sustentam a formulação do Progestão, tanto do ponto de vista do gerenciamento

Este questionário tem o objetivo de conhecer sua opinião sobre o processo de codificação no preenchimento do RP1. Nossa intenção é conhecer a sua visão sobre as dificuldades e

Em cima: para perfurações horizontais com fixação por vácuo, a coluna não pode ser utilizada sem um disposi- tivo de segurança adicional.. Em baixo: a ferramenta não pode ser

(2010), discovered two additional lineages in the Iberian Peninsula using CO1 mtDNA sequences, thus demonstrating the useful- ness of this gene as a barcoding marker for this genus,