A FORT1AÇÃO SINDICAL NO BRASIL
NOS AtlOS 80: Concepções e Práticas
c/
Laélla Gureel Portela {1
FU:IDAÇíio GETÚLIO VAl1GAS - !1J
I1ISTITUTO DE ESTUDOS AVNIÇJ\DOS Efl r.nucJ\çÃO- lESAI::
DEPARTAiTEI!TO
1)::
An;:TrIJSTnAçÃO nE SISTC'll\S r.nUCACIOIIAISLAÉLIA GURGEL POl1TELA
A FORlIAÇiiO SlilDICAL NO ORASIL
rws 1\1I0S 80: Conec~çõe::; c Pl"útici15
•
•
., ..
.
.'.
Dissertação apresentada ao Curso
de rtestrado do IESAE/FGV,
De-partamento de Administração de
Sistemas Educacionais - DASE, co
DO requisito parcial para a ob
tenção do titulo de ilestre em
Educação
O!1IEtlTAIlOI1:
PROF. Dr.CarIos l11nayo Gomez
Rio de Janeiro, 1990
r
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O' I '.-. .-. .-. ' o • • " ~!l . . :· •. . , . .. ,
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... _ - _ ._._-j:
Aos arnigos:
José Haria r'loreira e
Lecy Consuelo Neves.
À Clara e ao Geraldo .
ACRADECI:lr.IITOS
A :li;tnoel uC Jesu:.3 <: r.alldêncio, pelo apoLo •
du,'nntc os pt'imeirus estudm..: de jJ(J::;-l.!r[,d~
-açao.
À Julieta Calazan::>, pela constante
de obtenção ele recursos I,mterialti
busca
parn
os mestrandos , cntre os quais estive
inclu-ida.
Às seguintes pessoas, pela reccptividade e
eenerosidade com que me receberam e me
o-fereceram informações e material sobre For
mação Sindical: Berenice e Paulo, do Sindi
cato dos Metalúrgicos de S. Bernardo do
Campo e Diadema, Solange Dastos, do Dieese,
José Ramos, da Confederação Drasileira dos
Trabalhadores Cristãos e Gilbson Sant' ana e
JoÃo Dri to~ do Instituto de Promoção Social.
A todas as outras pessoas Que direta ou
indiretanente colaboraram e, finalmente ...
Ao professor e amigo Carlos Hinayo, pela
orientação segura e produtiva, pela paciê~
cia infinita, pela amizade e pelo
constan-te bom humor, mesmo nos rnomentos difl-ceis.
.
O objetivo (le:".>ttJ tralJnlho e tl'fH;:1r UI ~ I pUJlOrarl:t fia
For'
-l1açao Siru:.]iç.:l1 i]\J(! :;.1 ]ll'nti(!,. no nl';I!~il i-'à,'L11' dt : 11(!atJo~; d ...
décadn dr 80 , :1pCtJlt:llldo o !;ur[! tl llC'nt:j ) (1(' IUfir rlov:\ 110d:l1 idndc
de educo.ção dt-: :; inrJi caUBta~ que :;t! d(:li,nei.il - nu Sllil
tendên-cia majoritária - como forrlaç?i.o pol {ti Cél de clnssc trnhalhaclo
ra.
Caracteriza as principais cxperiêncins F!I ,l ancl:1.llIento ho
je, no nrnsil, expondo ~eus ohjetivos c s.uas flráticél~,On:lli
-sando, ao 1.1esmo tempo. sua espe cificidnde netodolóeica.
Contextualiza o tema historicamente, demon strando sua
vinculação com as atividades de Educação Popular próprias dos
anos 70. Destaca a busca, por parte de um grupo da s
institui
-çoes analisadas. de relacionar constanterJlente o trabalho
edu-cativo COJ:l a ação sindical, assim COI:10 de poss.ibili tar aos
participante s das atividades form:'\tivas a .wrolJI'iação de um
método de análise .
Demonstra, por último, de que maneira t!ssa nova modali
dade de Formação Sindical transcende, tanto as práticas de
,',
transmissão pura e siraples de conhecimento. quanto a formação 11
estritamente doutrinária que. historicamente, têra caracteriza-
,
do as iniciativas educacionais voltadas para a classe traba
•
ABSTRACT
The aim oh this work is to offer a view oh the Syndi
-cal Education in Brazil, since the last of the 80 ' 5, showing the emergence oh a new kind of education for : syndicalists
that outlines - in its major trend - a political
of the worker class.
formation
The work describes the main experiences in progress t~
day in Brazil, their goals and pratices analysing, at the
same time, their methodological specifities.
It places the theme historically, demonstrating its
l1nks w1th the act1v1t1es or Popular Educat10n typ1cal or
the seventies. The work points out the search or part of the
analysed institutions, for constantly stablishing a relation
between the educative work and the syndlcal action, as well
as the search for ofrering the syndlcalists the posslbl1y or
approprlation of a method or analysls.
At last, lt shows in what way thls new type of Syndl
-cal Educatlon transcends, not only the pure transference or
knowledge but also the strlctly doctrinarlan formatlon that
historically have characterlzed the educational lnltlatlves
LISTA:) DE SIGLAS
CEDI - Ccntl'O Ecunênico de Documentação c In:fornaç ão.
CEPIS - Centro de Educnçno Popular do Instituto Seues Sapic ~
t1al.
CLAT - Central Latino-Americana de Trabalhadores.
CCT - Central Ceral dos Trabalhadores.
CUT - Central Única dos Trabalhadores.
DIEESE - Departrunento Intersindlcal de Estatlstica e Estudos
Sócio-Econômicos.
E.P. - Educação Popular.
<
FASE - Federação dos orgãos para Assistência Social e Educa
c1onal.
FS - Formação Sindical.
ICT - Instituto Cultural do Trabalho.
IPROS - Institúto de Promoção Social.
SBCD -
são
Dernardo do Campo e Diadema.SNF - Secretaria Nacional de Formação.
CAPÍ'l'UT.r) I: ;;'O~I1 I\ÇÃO SI ill)lCi\l. E 7)1i' : r.:\O ;1\ CO : I:-:\:If: : JCI ,~
1. I\Slh~CtOG dn FOl' l lIH;~O dc tl' a iJillj l ~h~url::: 110
Contexto ...lo ::OVhIClltú Opc[,:ll ~iu :1iJ1Cic ,ü
nl ' ;lf.iiletl~ú
2. Da Li tera turn :Jobl~e o TOi.la
3 . A Contrl1Julç:\0 de Lu1<ác:J
4. O Conceito ::o.r;ü::.to. de Pl'axis ilotas de J1eferênci;w
CAPÍTULO rI : A FOT1AÇÃO SI;IDICAL
DO~ MlO:1 80
1. A Centr.:ll L ;1tino- \ l lerlcnn n ele Tral>al:1I1.rlOl"'cn
1.1. Pressuposto s t1(' í-'orl .! nc;no Of e r e cida
pela CI.A'i'
1.2. O It~ to do Ativo - P3rticipntivo- Cl' iativo ,
as Técnic as e os !.leias
2. A Esco l a S indic a l do I?ROS
3 . A fOl"maçno du eBTC
4. O Prograr,la de F01:'nação S i nd i co.l da CGT 5 . A Formnção Sindical da CUT
,
6. A Prátlc'\ de Forrlnç no do ~lnd i cilto dos
Tro.ba-l hadorcs iletalúr~ i cor. nc
s.
nernnl"'do elo Campo eDi adema
':1 .. 'O Trabalh o do. ~C]uipe dn r.ocoln ~ln(lico. l do Oiccsc
•
0 1
11
lS
tr.
43
4 9
S7
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02
04
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:n
1. As~cctos Gcro i o 02
nr. FEnÊ'IC I A::'} ·~I :" ~I. I OGl1 . \FIC A~ 107
IHTRODU(;ÃO
1 . Por que f Or'I 'laç5.o 3indic.ll .
t1cu interesse pe l a Formação :1indica l nur[!iu c tOI!lQU cor
po praticamente er.l conjunto COí.! o dc::;e nvolvi.í.Ient o das
primei-ras práticas li1ais sis t emátl c iJs de formação ( em meados da décR
da d e 19 80 ) realizadas, tanto por agên cia::; de assessoria a
grupos populares, quanto por sindicatos e por cen trai s s i nd
i-cais.
A pré - história do tema rel ac i ona- se , d e certa f orma ,c om
a minha tra j e tória pessoal-profissional que, num determinado
momento, mai s precisamente no ano de 1903, durante um curso
de esp ec ialização em Educação Básica não -Formal, na
discipli-na Educação Popular, colocou-me diante da necessidade de uma
reflexão mais profunda sobre a dimensão polltlca do trabalho
que entidades leicas de assessori a r ealizavam junto às popul~
ções de baixa renda, tanto na áre a urbana quanto na rural, a
-tuando em sindicatos , movimentos de bairros, etc .
É
sobejamente sabido qu e no s a nos mais sombrios da re-pressao intelectuais de esquerda r efugi a r am - se em ins titui
ções, de igreja, ou não, que, de ce rta fOMna , além de possibi
litar-lhes os meios de sobrevivência o:fereclam, também, a
possibilidade de continuarem, dentro das limitações
conjuntu-,
rais, a realizar algum tipo de trabalho politi.co junto às
classes ~opulares. Para quem não havia percorrido essa traje
-•
toria, restava a necessidade de estabelecer os limites entre
a militância e o trabalho educativo, dilema que o tempo e o
desenvolvimento desta dissertação foram se encarregando de re
• •
solver, mas que, na epoca, tambem se fazia presente
não de forma exp licita tanto no s debates, qu a nto na
.
-embora
produção
'.
'
-ati que eral:! <.lesellvol vidas por Urupos e lnstl tuiçôco que nau
lIIantinham vinculo::; com o aparelho de E13Lado.
rIo llue ::;e relaciona aos a13pcctos teóricos ua Educação Popular, estava em discussão o U:;;0 l1eStIlo que ue fazia do
tcr-mo podendo - se, grosso tcr-modo , dizer que existiwn uuas grandes
tendências que , frutos de concepções c de:! práticas distintas
resultavam, de um lado, nuna visão mais abrangente de Educa
-çao Popular e , de outro , nur:'! estreitamento ela conceituação
das práticas assir'l denOi'linadas . i/o IH'1!:lciro caso, considerav!!,
se educação popular toda a educação que se desenvolvia junto
às classes popu l :u~t!s , concepçÃo que tra:l.la em seu bojo tl. (lere
sa da escola,em contraposição
à
supervalorlzação do sabe r po -pular eà
consequente,embora muitas vezes involuntária, defe-sa da desescolarização. A segunda tendência adotaria umavi-são mais especifica de Educação Popular, ficando o seu âmbito
restrito ao da educação de adu ltos . privil egiando em sua
aná-lise os aspectos pedagógico-politi cos da relação
intclectualgrupos populares, bem como o exame de formas próprias de co
-nhecer, de pensar e de se organizar dos grupos corri os
se trabalhava.
quais
Em qualquer dos casos, as questões lmplicitas na discus
são relacionavam-se, em última instância:
1)
à
existência, ou não, de um projeto definido e assu-mido pelos grupos -e pelos intelec tuais que juntos levavam acabo o trabalho educativo i
2)
à
necessidade de maior ou menor diretividade por par te dos agentes de educação popular no que diz respeito ao trabalho de base. Em suma: o que se colocava em questão não eram ~,
aspectos puramente técnicos ou pedagógicos , que pudessem ser
resolvidos no âmbito das definições, ou no plano puramente t~
órico, mas o problema do intelectua l orgânico e de suas
consciêncin e a queKtão do poder . Tais ques tõ es , no en t an t o ,
ernm abordadns , em ceral, COI,lO !;(! rLl~:";CI:' pcedol"inantcl,len te r>~
dagógicas e COI:10 se as so lu ções puuessem SC l~ obtidas ao nive l
das intenções c do compromisso po li tico dos intelectuai s res
-ponsáveis po r pro~ramas de assessoria e/o u por aque l es que
produ:l.iar:t teoricnr,) cnte sobre o a ssun to.
A rei teração de tais preocupações nos debates e produ
-çõe s teóric as sob r e Educação popular tel~r. linar am por !.'le i l.lpor a
nece :i s i dadc de superação dC:3:3C oc ul tUl.lcnto do poli tico no pe
-da~óeico voltando - se o meu interesse, ent.ão , para o campo da
educação pollticu prOprial.1cntc ditaJ COI,' particular atenç5.o
para a educação dirigida
à
formação uu co nsc iênci a , ass im co-mo para as forma s de transmitir conhec imentos que pudessem,dealguma forIna, ajudar ne sse processo.
Os prourwnas de Formaç ão Sindical aos qutli !3 tive acesso
programas de centrais sindicais européias, proe;ramas de a
l-guns sindicatos cuti stas e o proflr amR do Dieese - facilitara/:1
.
-me, de salda, esse esclarecimento, por sere m, tanto no seu a~
pecto legal-burocrático, qu a nto no que expressavam como proP2
sitos de formação po lltica, propriame nte, prol1rarnas de
educa-ção expressamente classista nos qu a is as expre ss ões "povo" e
"popular", tão vagas e diluidoras são substituldas por "clas
-se", "cateuoria." e nos quais a existência ou nüo de um
proje-to de c lasse s impl ~smen te não
se
col ocava, por óbvia ,passan-do a discussão p a ra, entre outros aspectos , o pluno tia artic u
lação do econômico com o polltico .
S~rge, então, a decisão de analisar essas experiências
associando-as a uma discussão sobre a formação da consciência
da classe trabalhadora que teria, em última instânc ia, que se
fazer considerando as suas origens (fonte~ e influências) e o
que elas teri a m de pedagogicamente inovador no que diz re spe.!.
to
à
aquisição do conhecimento por parte da c l asse trabalhado r a e ao elemento polltico formador da consc iência de clas$c .i las, o (IUe estaI IO:; entendendo aqui por F01'ldí'lção Sindl
-cal?
:Jiío l;lult a :] c Illui t o vilrL.l(k't:1 íl:~ pr~\t1c:w clt: fOI'WIÇ::;U t.:in
anc1ar1ento hoje , no n r [lBi l, c rü;"\lil'.nc1ns, nno fiÓ por' slndic:l
-tos ou por centrai s sind ic ais, nns tar.lbén por insti tutções de
assessoria eM Educação Popul(tr e de prestação de serviços , o
que torna <.lificil umu definição li a !)J'lol'i" e univuc a tio terno. Entretanto, estamo~ diante de Ullla prática que tem a l l.!um;:-\s
cu-racteri sticas fundamentais, das qu;"\ls intercSSR-nos destacar
principal/lente n sua vinculação COI\ a ação s indical.
A pr;l.tica sindical co l oca aos seus qua dpos ques tões COll
eretas que devem ser resolvidas de diferentes maneiras, de
acordo com a sua especificidade. Abran2e, desde casos concre
-tos que ocorrem nas empresas, até a problemática mais e;eral
que se rel ac ion a
à
legislação sindical, ao movimento operário como um todo cà
si tu ação econô~ica e politica do pais. A Formação Sindical busca atender a essas nec essidades , não nals
apenas por meio da própria práticu, mas criando espaços onde
a reflexão possa acontecer de forma sistemática, e dos quais
possam sureir, num 12 IttOmento, ~D.is e mais trabalhadores e mi litantes engajados na luta por melhores condições de vida e
de trabalho, e que possam, depois, o.ssumir t anto a Gua pró
pria formação p~litlca quanto a de seus companhe iro s . Os e
le-mentos dessa form~ção em geral são oferecidos em cursos e
se-minários que podem ser agrupados em dois tipos básicos:
1) Curso de c~pacitação, para diriuentes e militantes, volta-dos para o aspecto leeal e trabalhista naquilo que diz respe!
to aos intere sses da categoria;
2) Cursos e seminários oferecidos para dirieentes, militantes
e trabalhadores de base qu e têm como objetivo fornecer - lhes
instrumenta l teórico que lhes perHli ta compreender a sociedade
"
ficas ( a ut omaç ão, nc~ociaçno cole t.i V':'l , pOl' c xúmVlo) t! , ai nda, sobre aspectos da conjuntura que di~'.eJ.l r espei to Ilni u c.lil~etâ -mente a clU::ise ope l~ úr i n . O púlllico a quel.l tni s lJl'O~l'UIW,U fie
destino
é
lIu1 lo be m ucli llli l ':HJo c trotando - se da cl.lucaçãv uc slnd1c :111stas , traba lI Hlr- sc -i a COIll qUt! r.l , prefjumiv~ 1 111c nt e , I'C-presenta O :Je t or' 11,11 s :1vançndo t..I a ClO :35C tl'nbnlhadol'a , Cal I ex
ceção de al,euns partidos ne csqlll!l'dn qu e l1.~l.'HP"'\rl seto l'c" dn
população trabalhadora , por ::Wl' o l't:nn1 :--:ado .
Entretanto , restam as secuinte s questões :
a) O que mais teri a ess e trabalho educat ivo de espec ifiCO?
b) O que o torna direrentes de Educação Popular e da Educação
de Adul tos (conforne concei tuação l~enc i onada anter i ormente )
realizadas po r insti tui ções v a ri adas que trabalhavam (e e m
muitos casos ainda trabalham) antes de 1964 junto a classe de
alfabetização, movimentos de cultura , s indi cn to G, movimentos
de bairro? E, comparativamente ao " hoom lld a Educaçn.o Popular
da década de 70, que avanços se produziram a partir dos pro
-gramas de Formação Sindical?
c) O que a sua metodoloeia tem de peculiar?
d) Pode-se ralar em resultados ao nive l da formação da consci
ência?
e) E. quanto aos sindicalistas propriamente dito s , em que
di-fere a formação odi-ferecida hoje daquela que se realizava n as
décadas de 60 e de 701
Estas são as p rincipais questões que essa d issertação co
loca e às quais tentarei dar uma resposta ao l on go do seu
, ,
I,
::r.1 te riJOS teóricos, ne tow15:Jclno!1 .'1. poIêmic~ Grahlsci
I
se lhos de :fábrica de Turi ln cor.lO r e ferência , cr.lhatu cnrLu.l03 CI1
vários pontos c poclcrtamos , ncsno cheear (\ duvidar <.lo.
valiua-d e poli tica Llo tr~bo.lho de f'ornaç?io rc~li 2 ac.lo CII
ou pnra sinc1ica l1 ::; t<'l.S . r.::llllllerariallos várias razõCt; para ü~co:
1) IJo caso brasi l eiro , de un 110do ~p'r;:\l , a [!êncsc das práti
-cas de F3 e~tn na cxistênci:'l de UWl ~ r nndc e::pcriênciu .'1.CU fl
U-lada no cnnpo da educ aç ão ele adulto s por parte de illtelectu
-ais proe,ressistas que, por razôec de nilitância politica, "c~
sam" essa experiência com nece sG idndcs de capac1 t:lção
.sentidaS-por a l euns setores de ponta do sindicalismo do Rio e de ~ão
paulo.1
Não teriam nascido, portanto , as praticas cle F:} das ne
-cessidade s "revolucionárias !! do prolctaria(lo , InesrlO por'que <1
conjuntura em que as experiências começm"Wl a se ee:itm" era
de uma tililida e uradual abertura polltica .
2) Para Grrunsci, no contexto dos cOl~!.jelhos , a ditadura prole
-tári a deve ser feita a partir dos prouutorcl;; e não a partir
dos "e scravos do capi talll (assalari '\dos) e , se nd o ass im , os
sindicatos nada representEU7l como instrulJentos de l'orr:la(;ão po
-li tic a po i s , sendo uma forma da ::iociednde cf\pi tal i5 t a que
or-gan iz a os operários cono mercadoriA , não poderia representar
o foco principa l onne o trabalho educativo deve acontecer. O
1 A esse re spéito
é
i nteressante , como fundal:lentação , a pubIicação do CEPIS IIO S Centros de Educação Popular e a Conjunt.!:!,
rall na qual Pedro Pontual narra de que mane ira do trabalho
de r esistência , do final dos anos õO e da década de 70,
re-alizado em bairros , entre outros , intelectuai s c técntcos
'/
o
verdadeiro lnGtrUl!ltmtn tl<~ lut:l c ( h ~ CductlÇn.O rcciprocn se-r1 :( aquel e flUI' Ul\ \~ O!; tr:lh :\lho'1.dorcr: 0 nquanto prndutore!j c cri
adorc n ( or: confi c lhO !3 d e r';hr'!cn ) que , nlólIl (le r ; C I'vtl'I~ ! 1 CO I'IO
in Gtru n ento de renovaç;io radical ela r:oci e dllde ,
jn
são G pró-pr1<1 for r:l.:1 d:l revolução, ou dn soci e d a de comunif;t:\ , alê l.l de
órg ã o d e p r e paração técnic :l. c cconôl.lic n cIos olJ c rári os .
"OS conselhoG s ã o , t. u lu é JI , o r·e.[tnj :~l.l u:J pOlltlcos ~ cultu
rais enquanto i nstrumentos d H revo l ução proletúri a : pril1eiro
,
i
2na fabrica e depois no pa s ."
3) P a ra Dord ica , o verd.qd e iro in s t l 'UI'1ento de luta d o iH'ol c t a
-rl ado
é
o partido de c l a sse , não P,"l !,)fH1n clo de co rporativi s moqu a lqu e r t e nt at iva de emancipação no plano das relações econ.§.
micas an te s da t omada do Estado pelos operá rio s . Combate a vi
são eraduali sta , que cons i dera equivocada, e não concebe o de
senvolvl mento cu ltura l possível de se realiznr
n.
nareera daque stão partidá ri a.
Todo esse quest i onamento , ent r etanto , longe de nos de i xar
ca-ir na tent ação de invalidar a partca-ir de seun pressupostos a
FS, inc en tiv a -nos , cada vez raais, a tentar compreendê-la em
sua peculiaridade no próprio con t exto de seu surt~inento e de
seu desenvolvimento , buscando sua e:cp ccific i dadc me todológica
e seu valor como instrumento de forlllação poli tica.
nuscaremos , então , neste , tr ,'1.h a lh o , discutir a
1r.lportân-- d ~ ,
ci a da Formaçao 51ndical entro de uma estrategia geral de O!
eanização do movimento operáriO, situando as especific i dades
dessas práticas de capacitação no contexto geral das in f l uên
-cias sofridas por parte de se us articuladores, caracteri zando
suas peculiaridades metodológicas , objet ivando oferecer uma
contribuição
Silvia
à
apenas recé m-inaugurada discussão sobre o tema.Ilanfred i3 t em pesquisa reali zada no inicio dos
anos 60 , tendo são Paulo cor,lO base, denullcia o carn.ter
predo-min antemente exógeno das prát i cas de :Con'lação 11 que até 1 9 64
u
movimento sindical (patronais, governamentais, religiosas e
ligadas a partidos pollticos). Registra porém, por outro
la-do, a tendência que se esboça a partir de 1977, no sentido de
as entidades passarem a chamar para 51 a responsabilidade de
promover práticas de capacitação tanto para dirigentes, qua~
to para militantes de base.
Em publicação de 1986, Claudio Nascimento e Cecilia Ml
4
nayo constatam a inexistência de uma estratégia sindical de
formação no Brasil, sustentando tal afirmação no fato de
se-rem, tanto as estratégias quanto os objetivos ideológicos da
FS que se realizava no Brasil,
à
época da publicação do artl go, emprestados da Educação Popular.A constatação que os autores fazem revela, e nisso
re-side a sua relevância, a ponta do fio da meada que vai desnu
dar o caminho que leva às várias tendências e entidades que
atuam hoje no campo da educação de sindicalistas e que
cons-tituem, talvez, o lastro em Que a Questão da especificidade,
da metodologia da Formação Sindical se situa, colaborando na
busca de torná-la o mais precisa e adequada possivel, assim
como mais próxima de atender os propósitos gerais da educa
-ção proletária.
Atualmente, a primeira constatação Que fazemos
é
a de que não se pode mais ignorar a existência, se não de umaes-tratégia sindical de formação, pelo menos de práticas
siste-máticas de FS que se desenvolvem em vários estados
brasilei-ros, tanto na área urbana quanto na rural. Tais práticas, se
não podem ser ·consideradas exclusivamente sindicais (dado o •
pequeno numero de escolas sindicais propriamente ditas em re
lação às entidades de assessoria que fazem FS), guardam
tra-ços que 8S diferenciam significativamente das experiênci
as predominantes antes de 1964.
I
,
Embora seja significativo o numero de entidades
externas ao movimento sindical trabalhando nesse cam
pc, pode-se dizer que estas se colocam na perspe~
.
tlva do trabalho, em contraposição a do capltal,te~
-tando, por essa razao, apoiar e ajudar na organlz~
-
-çao dos movimentos sociais em ge ral, e nao apenas
dos sindicatos. Com mais uma diferença: a de Que
concebem os sindicatos como sujei to do processo de
-formação, dai nao poder a formação, nessa perspect!
va, ser confundida com
rios ou de militantes
formação
cristãos
de
que
Quadros
partldá-têm os
slndlca-,
atuação. tos como are a de
Inicialmente, pensamos em fazer um estudo
com-paratlvo entre as diversas modalidades de FS torna0
do como referências extremas a formação oferecida
pela CUT. de um lado. e a da CGT e a da Igreja
Católica, por outro. Tal pretensão logo se
ineviável. dada a pouca estruturação do
mostrou
trabalho
por parte das duas últimas instituições. dificuldades
que aumentou mais ainda no momento em que a CGT
.
implode e cinde-se estando. neste momento. a
procu-ra de articulação (no caso da CCT - Hagri) e de
rearticulação (no caso da CCT-J) da Formação. O
trabalho da Igreja, embora seja bastante abrangente
em termos de programa. encontra-se em termos
cos, em fase de implantação sendo poucos,
os dados sistematizados que tem a • oferecer.
prát!,
ainda,
lU
trabalho que, no nosso entender, se encontra na fase mais
avançada de implantação e sistematização e que vem a
ser, o da linha CUT (Secretaria Nacional de Formação,
Es-cola sindical 7 de Outubro e Sindicato dos Metalúrgicos de
são Bernardo do Campo e Diadema); o da linha CLAT
- IPROS e CSTC; o trabalho da CGT (antes da divisão) e
o da equipe da Escola Sindical do Dleese.
o
estudo está dividido em três partes principais:Na primeira, buscamos situar as práticas de Formação
Sindical no contexto do movimento operário, ao mesmo tempo
que comentamos a produção teórica sobre o tema trazendo
•
ainda, para esse espaço, a contribuição teórica de algunsautores nos quais nos baseamos para dar conta do objeto
Caio Prado Júnior e Marx e Engels no que diz respeito ao
método dialético e
à
relação teoria-prática, e Marx e Engels e Lukács no que concerneà
formação da consciência.Não pretendemos fazer um resumo do pensamento de cada um
dos autores citados com relação aos temas abordados, mas
.
-traze-los, sempre em conexao com aquilo que buscamos anal i
sar e demonstrar, para a discussão.
A segunda parte consta de uma amostra das várias ten-•
dencias da FS que - se faz hoje no Brasil - quem faz, por
que faz, como faz - panorama ao Qual acresce~taremos os nossos comentários, que mesclam descrição e análise
à
luz dos autores nos quais nos respaldamos .•
Os programas e praticas descritos nessa segunda parte
e que constituem a matéria-prima de nosso estudo podem ser
agrupados basicamente assim:
1) A formação oferecida por entidades para-sindicais:
I I
Tl es t a cateeo r la e stão incluíõa:=:: a s esperiências de for
mação rea l1 :l.íHJas I PROS - Instituto de Pl"'ornoçD.o Social e pela
enTe - Confederação '1ra:Ji l cira de 'rr':'\baI1Hulorc:3 Cr-istiíos , c!,!
tidades de inspiraç:to cató l ica e ,\I'lparadas intel'll ~ lcj o n almen
-te pelas diretrizes Ja CLAT (Central LHtinO - fl["I ~ l'ic[ula de 'i'r,!.
balhadol~cs) ol~tianislno reeiu ll a l tIa GilT - Cvn r ederação flundlal
\lu Trllbalh :ILhll'u u .
2 . Proerru nas desenvol vi dos sob a orientação ele Centrnis Sin -dicais:
Os programas da CUT e da CCT.
3 . O programa de Formação S indical do Sindicato dos Trabalha
dores Y'1etalúrglcos de S . Bernardo e Diadema.
4. O trabalho de Equipe da Escola Sindical do Dleese - Depa ~
tamento de Intersind lcal de Estatistlca e Es tudos Sócioec·o
-nômico s .
5. A Escola Sindical ~ de Outubro, de Delo Horiz on te -I.JG.
A terceira e última parte
é
conclusiva. Não pretendo nela, fechar em definitivo nenhuma das questões, relativasao tema, anteriormente enunciadas. nusco I mui to In<li s , cOl:1pr~
ender as práticas de Formaç;o Sindical como algo en co
nstru--
.
çao, descrevendo" apontando semelhanças , influenci as , e a I
-guns resultados, quando for o oaso .
.
-2 . Aspectos ' 14etodológicos da Pesquisa
A escolha do tema e da metodolo g ia a ser utili zada
co-locaram-me em confronto com algumas questões e difiouldades
que talvez possam ser resumidas em três perguntas co loc adas
por Umberto Eco, a respeito do tratamento cientifico de de
-5
terminados temas, em seu livro "Como se f az uma tese" , e que
são as seeuintes:
12
•
2) Temas antieos ou conte mporaneos?
3) Tese cientif'ica ou tese pOliticn?
Optei por tratar de formn pnnornl:lica um tema polI tico c
contemporâneo assur.lindo , consequentcllente , todas ns
il'lplica-ções que possaJ':'! decorrer dessa escolha . Tonar cano op,je.to de
estudo um tema atual e politico, cnfluanto representa, por UIl
lado. um esforço maior em face de cor,lplicações que a própria
conternporaneidade coloca, torna, por outro, a busca r:lnis
instigante no sentido de que tambér:1 estamos oferecendo a nos
sa contribuição a um trabalho que se encontra em construção
podendo, eventualmente, vir a interferir nos rumos que este
possa tomar.
A razão da escolha, porém, não se relaciona a ousadia
ou pretensão de nossa parte.
É
muito mais uma continuência , conforme já tentamos explicar anteriormente. O assunto danossa pesquisa está, mesmo que não de forma direta, diaria
-mente nos jornais, e o panorama do sindicalismo
é
por demais,
1nstavel e em trans form açao para que se possa assumir mode
-los pré-estabelecidos. Apenas nos dois últimos anos
é
possi-vel apontar, como novidade na vida sindical , a consolidaçãodo que se convencionou chamar "sindicali smo de resultados",a
formação de um embrião de central, fruto de urna dissidência
da CGT, a CSC - Corrente Sindical Classista, ~inculada a se-tores do PC do B - Partido Comunista do Brasil e, por últir.lO,
a implosão da própria CGT, bem como o atre lamento da
corren-te vitoriosa no último pleito, de uma vez por todas,
à
linha sindical norte-americana. via ICT - Instituto Cultural doI Trabalho.
Em termos de construção do objeto, muitas f'oram as
di-ficuldades decorrentes da própria escolha do tema. Er.lbora
1 ~
dispuséssemos de u m projeto de pesquisa que previa visitas a
entidades proi.lotoI'.1.:1 de F:J I cntrcvlctas con fOI'Il<ldorcc, com
participa ntes de atividades formativas e cai.! sindicalistas
e m Ce1":l.l , mui tas foram as MOdlflcÍ'tt;õcn que fOl,lOS ohr1eados
a fazer no nosso roteiro orl[!ln,"'I. l.A principal delas foi a ne
cessldade de deslocal ,lento do pr'occ ss o d e coleta do n:\terinl
i
.
,
enp rico (feita atrnve::: de: vi s ita !"; l' e n tl'ev!:-;tas) p fl,"'a
Paulo, prioritariamente,quando inicialme nte pens:ívamos trahn
lhar apenas no
ruo
de Janeiro.Outras I:lOdifiCílÇÕCS n e fizer "l l no decorr/:!,' <lo lJróprio
processo de coleta de dados, em clúcorrência, seja c1:'\ ilnplc
-mentação de novos programas antes apcn,as esl>oçados, seja da
fundação de escolas sindicais - como la 7 de Outubro, por e
-xemplo, que. começou a funcionar
já
quando estávamos comqua-se todo o material empirico recolhido.
Tais modificações implicarar:t um rec.l1nensionaJ:lcnto da
amostra, ao mesmo ' tempo que um trabalho adicional de sistema
tização e análiae do dados.
Quanto ao materia l relacionado aos conteúdos, pressu
-postos e métodos da Formação Sindical que, deveria, de salda,
facilitar muito a nossa análise, encontramos uma dificuldade
particular: a sistematização das práticas de formação é ain
-da muito precária (por conta até do pouco tempo que a ll3uf:las
delas têm de estruturação, ou de restruturac;ão numa nova
perspectiva) tornándo necessário, de nossa parte, um esforço
artesanal de construção de concepções e de aspectos da
metodOlogia/ou pelo cruzamento de vários documentos ou pela com
-plementação destes com ~ntrevistas, na ausência de explica
-ções mais cabais de cada prática de Formação aqui focalizada.
Quanto às entrevistns percebemos, nu~ determinado mo
-mento, quando se tratava da mesma linha politica e
metodoló-gica (a linha CUT, por exemplo) que, mesmo sendo o trabalho
detcrr.linndos teíl.:ts s e repet1a!":'l c , cn c cr.:tl, corroboravam o
,
que os p r ogranas c os docur.1Cntos out .... os c::punham. Dai
rcsol-vcrr.1o~ I cv :1 nt,u~ or..: 1\0 5:;00 dntlo!i 11:10 npCl1it!; por IIle 10 de U I I
;1-n1 c o 1ns trlll lC nto , ou de 1lI1l, , pr10l~i t:1rt rmentc , e m dc tr'illfmtn oor; outros.
Optamos tanto por, , íllla.ll snr cOJ\tt~úctor; de relatórios, programa s , e projetos , quanto po r en tr evista r formadores anali
-sando, ei.\ cadn caso , a conveniência de 5e privl l e~ial'" uma ou
outra técnic a ou, ain da , a possib ili dade de não se
n enhuma das duas , por absolutamente indlnpcnsáveis.
exc luir
Ass1m na inves tigação do IP ROS e na enTe trabalh am os
tanto com contatos diretos como re spo n sáveis pela Formação
quanto COi.\ materiais escritos (mais ao n l ve l programátiCO do
que de ava liação ou de reflexão teórica) do próprio IPR OS e
da própria COTC, bem como com material da CLAT. !'leste úl tir,lo
• •
encontramos expostos os pressupostos filosofico s e me t odo
lo-gicos da formação que es t a central preconiza, e que d:i.o 5U
-•
porte as entidades fili adas.
A linha CUT
é
a mais fart a em documen t a ção. Privl1eei~mos, então, o trabalho documental com r e lação
à
mrr/ eUT
e a • Escola Sindical 7 de Outubro . rIo Sindicato dos Ttetalúreicos,de são Bernardo f porém, alé'm de contato direto e uma entre
-vista com membros d~ equipe de f o r r,lado re s utilizamos, ainda ,
.
como material de a~oio um artigo, publicado pela revista PROPOSTA nR' 40, de autoria do coordenador geral da formação desenvolvida por este Sindic ato .
O trabal~o de equipe do Die~se foi levantado mesclando-se entre
•
vistas com analise de material produz ido pela equipe da Esc 2
la Sindical que abrange da primeira proposta de Fo r mação or~
recida pela ins tituição a té os úl ti mos núm~ros do boletim
!lÊ Só Fazendo que se Aprende ."
,
I',
nOTA:"; m: ~r:F::nÊjICIA,";
1. IlA·Wnr.OI , Si lvi a . r.duc;'\ç tlo C/I :3tlldlcatuu: que !!} l\Ü;~e (l He
:1 ~cnte não sabe? S . P:1.ulo , tcs t.:: d~ doutorado, 1 a33 .
2. GRAITSCI , Antonio e n O:1DIGII. , AIMldeo . Conselhos de fábric a .
S.Paulo, Dra s ilicnse , 1!J8l.
3 . IIAtlFREDI , Silvia . OP. cit o
4 . NASCIrlEtlTO , Claud i o e iUHAYO , CecIlia . Formação de.: form a
dores : perspect i vas pOl!tlcas. PROPOSTA , nio de Janei
-ro , 30 p. 32-35 , 1906 .
5.ECO, Umberto . Co~o se faz uma te se . G.Paulo , Perspectiva
190 1. p . 13- 18 .
.-•
!
I ,
I I .
CAPÍTULO I: FOn·it ~ çÃo Sl'mIGAL E [o'omrAç;\o DA COnSCIÊnCIA
1. /I. ~ ~P\:c to:; clt' F01'"I :'h;n.O de Tl'au : t l i l :ul0 1't :: j 110 COI) tu;: to ua r-1ovi
ncnto Operári.o-Sindical Brar:j lf" ~ ir'o.
o r.lovltlcnto opcP!lrio tilnuic~11 11O DI'il..iil , c
pnr-tlcul:tr-mente no Rio e Cfl são Paulo, onde :\ c;ü8têncin ele setorc:1 de
ponta do ciJpi talisr.lo detcI'Llinn a. conccntr,'l!]ão de populações
e orr;anlzações proletárias, representa UM dos Il n i~
illpOl'ta:1-tes organismos ne que dispõe :1. f;ociCdndc c ivil no '"'Iras!l de
hoje.
D<lS primeiras ~reves no lnlc10 do século até a nrcve
geral de 1989 estão em questão a co'nstrução da democracia, a
relação sindlcatos/par-tldos pollticos e as fraquez as e
debi-•
lidades da classe operaria em face do poder de Estado, que
historicamente se tem apresentado de diversas fornas - da di
tadura mais truculenta
n.
abertura, dn coerção?t
busca de10-gltimação e do consenso . •
O que tera mudado basicn.mentc das pl~imeiras ore:miza -ções e movimenta-ções operárias até hoje, quando o confronto
entre o capital e o trabalho torna necessária uma Modifica
-ção, por parte das forças no poder no ~odo de tratar a ~ues
tão operária que, se no come~o do século era considerada "ca
so de policia" adquire, hoje, status de questão social?
Com o fortalecimento de setores mais conbativos elo op~ • rariado, principalmente a partir de 1978, o Estado ve-se
hoje, "forçado a aceitar como interlocutores representantes
da classe trabalhadora, cujo nlvel de independênci a
é
inédi-•to na historia do sindicalismo. !Ta •
dicatos ta.mbem conseguiram acumular
conjuntura pré-54, os 5in
I
poder, cheuando, em a I
-nuns momentos, a r.larcar fortemente, COf.1 suas pressoes c
exi-.
. ,
genclas, presença no cenario pol~tico nacional. ilas, COr.lO
I
, 'I
le mbra ":1'1 c.; 1 (:50n , "!.Icsno no~,; Ih,}\ilelltOf:; ali que eral. considel'mlo~
na ! ::; l'l:vúluc1un:u'io::i , seu:. ~ H ::> t C Jlt[ l culo }; e r w,\ é-dr td u. p aJ~ t{! do apa r ato Q,I."ir..: i a l LIo Es t ado , ou el' aLI bõ c t rl ll te clcpeIHk:llte :, de l e ,., 1
.:l.parcntc sir,lplic i dadc da o l"' ~nlliz«ção pro(,lI.ltiv (\ e de
do inIcio do século e da conscqucntc tr,mspar;:ncia das neces
-s i dilc1e-s (; po-s-sibilidad e-s de Hlol.>llizaçno ela c l :1~GC operária
têm- se , hoje , Ull quadro de cnOP/lC cor,lple ~: ielade no que diz.
respci to
à
estru tura de c l asses e no r'c l o.c ion::l.l1cn t o (!e5 sa:"j clas ses entre si e CO I';'\ o Es t ado e con Of; innti t u tos da :.3oc i e-dade c ivil.
A fr ag ili dade de nossa prática de~ocrátic a co l oca na 01'
dem do dia, junto com a ne cess idade de organiz aç ão dos se to
-res produtivos da sociedade, UMa urgência em se ap rofund a r a
questão da democra ci a e de qu e ti ~o de democracia está se ndo,
ou se pretende se j a con stru id a em OOS30 pn i s .
A trans ição politica qu e o paIs atravessn co l oca na
li-nha de fr ente dos movi men to s populares a lut a pe l a conquisto.
e consolidação das liberdades democ ráti cas , dos d ire itos c i
-vis, entre outros, luta que aponta para a co nst r ução de umu
sociedade que seja democrática e qu e conte com or[!o.nismos de
2
massa atuantes e fort es . Carlos ne l son Cou tinho erJ entrev i s
-t a sobre a es-tru-tura e a con jun-tura bras ileiras salien-ta a i m
portância do fo r taleciment o do que chana "sujeitos co l eti vosll
,-e também 'qu,-e "naquilo qu,-e Gramsc i chamou d,-e form a çõ,-es oc i c,-en-
cen-ta'is não se pode imagina r que o único protnéonista polI tico
é
o partido." ' Lembra, ainda, que "o TIrasil chegou ao capitalis-mo por vias transversais ( •.. ) ou seja, a través de uma série
de transformações que se deram de cima para baixo, sem pa
rti-cipação popular, sem revolução (e que) "las conquistas demOcr! ticas não poderno Ger fcitaG no TI rasil só pela bureuesia, nc~ ,
se sentido a transformação do pais imp lica uma mudança no
jogo da heeemoni a ." E conclui que, entre o caninho do choque
•
1 " ."
front a l co~ o r c~ln~ c o Gtl. construçõ.o cle un a :ioci edacte CO:1
oreanls no s de l7I.:l.ssn f ortes , " devenOG optor po r uno. solução P2.
11 tic .:L '1UIJ: corrc ~ ponct:\ ~o I ndo oclch-:nt.-1.l do p:l l ~ : . i s t o
é .
uno.estrutu r a part i ctnria p l u r',:ll c U11.'1 f':G cicc1:vl.c c iv i l aI t. ... nen tc
orc.:mlznda." ( ~l 'if t) rlc u)
J:!'>trit:ulcnt\! 1)0 ~Ilhit o elo t lQVj llC! 1\tll U1H:t·ttl'i.u - : .. .i IH:ical (; no cl n. fOl"'.1;1Ç;O Ilu c0I1:iciênc 1 :1 [H"o l (~ t;n'i: , l,r'Oltri.rll.I.")nt0. Llit :1 , C!2,
con s tru ção dí\ neSITI::t no pl<tno n uc ionnl e t :\111Jl'!/1 no p l nno (1m;
ore.aniz:lçõc:; ope rárias ?
As tl'an:=;fornações po lI tici..1S c cconôllicilS (llle aCQPPIJ! I no
Brasil pÓ S-7 8t t e ndo COl10 n arca fUllc!Qllcntnl as !!palllles ~reves
do ABC c o s urt~imento do que aleuns especialistas des i znarar.t
" novo s indicalismo" são , ao me sno tenpo causa e cOl1sequênci a ,
de novas prát ic as oreanizativas qu e t er i ru:l cono característi
c as principais , além de Ulil enrnizamcnto ma ior na base ( orua
-nização por er.Jpre sas ) I a ruptura t1~1 depend ênci a CO!l o E:=;t a uo ,
a democratiz aç ão dos sindicatos e 1..1" rel nção diri,l.!cntes/base
_ 3
e a politizaçao .
Tais p ráticas guardam estrei ta lie aç ão COlO novüs Plodali
dades ele úc1u cuçüo siuuical que, :tu l OIl(!u (lu:) úl t lLllu:; llt):~ ; U\l.l:J ,
foram se consolidando até deSCI .1UOCo.r n<1 exi::i tencia , hoje , de
significativo numero e de dlverrd flcadoG proernllcw de forl ta
-ção de sindicali stas . Ess a nova r,lodo. lidadc de educa-ção s indi-
.-.
cal se distineue de programas outros que a nt es . e me~m o apos
1964, pri vilec;iavarn a formação d e trabalhadores, f'undane nt a
l-mente por terem nos s indic atos , nas centrais sindicais e/ou
nas instituições de assessoria e de Educnç ão Popul a r os se u s
patrocinadore,S e realizadores.
Sem entrar no mérito das cllvn~ens ldeolóelcas e metodo
lógic as que porventura venham n c:t1ctir entre os proeranas e
seus mentore:3 e executores, o que 115. de comum entre eles é a
preodupaç~o com una prát i ca pedn2ó~icn que todos reconhecem
especial, por tentar expressar e traduzir uma questão mais
profunda, Que
é
a especificidade da educação politica do ope-rariado e Que traz consigo a necessidade de uma ampladiscus-são sobre a questão de metodologia da Formação Sindical e dos
caminhos e descaminhos que trtlham os trabalhadores para se
constituirem em uma classe digna dessa denominação.
Em estudo de caso sobre o Sindicato dos Trabalhadores Me
talúrgicos do Rio de Janeiro, Eduardo Stotz levanta importan_
te questão relativa
à
consciência e à organização da classe trabalhadora, Que julgo interessante apontar como elemento aser incorporado às nossas reflexões relativas às práticas de
Formação Sindical que ora se desenvolvem no Brasil.
Descartando as explicações Que colocam o poder coerclti
vo do Estado como o principal elemento de desarticulação dO
sindicalismo livre e de implantação da estrutura sindical cor
porativa, Stot~ mostra a outra face do problema ao demonstrar a existência de correntes pró-governistas no âmbito dcroperar!
ado carioca,que com sua prática colaboracionista,forjarn o que
designa como IIcorporativosmo societário" filial, no seu
enten-der, do corporativosmo estatal.
Embora aponte em suas conclusões as deficiências desse
projeto operáriO, pois o corporativismo
é
sempre "uma forma de dominação da -burguesiaU, o que há de novo
é
que representaria uma tentativa (embora restrita ao periodo 34-35) de
apre-aentar reivindlcaç~es propriamente operárias, mesmo dentro dos
l1m1tes da 1mpos1ção estatal.
A caracteristlca bÁsica do corporativismo societário se
ria que, enquanto busca espaço para afirmação de um poder sia
dical, "tenta fazer com que a força do Estado se incline em
sua próprio direção para realizar suas próprias aspiraçõesll
~
A importância do trabalho de Stotz reside na recuperação que ~,
r
2 0unilateral, desvio também muito comum quando se trata de ex
-pllcar o papel da luta operária na conquista da legislação tra
balhlsta.
Este estudo sobre Formação Sindical - seus pressupostos,
seus conteúdos, sua metodologia - se inscreve no mesmo quadro
de preocupações, na medida em que busca captar o desafio que
essas práticas representam enquanto criação de espaço e lns
-trumento de luta inseridos na grande batalha polltlca, social
e ideológica que se vem travando no pais na luta pela constru
ção democrática .
O ressurgimento do movimento operário a partir de 1978,
com destaque para o papel representado pelos operários
oriun-dos oriun-dos setores dinâmicos da economia, ao lado da abertura
política que vem ocorrendo nos últimos dez .anos representam
duas faces da mesma moeda na luta hegemônica em que, se um la
do força, o outro cede para não vergar ainda mais sob o peso
dessa força. A caminhada para a democracia e a tarefa de apr!
• •
morar sua teoria e sua pratica e o desafio de todos os seto
-res inte-ressados nessa construção e o caminho
é,
ao lado deuma participação ampliada, buscar entendê-la como instrumento
.
-e obj-etivo da class-e op-eraria na luta contra a dominaçao qu-e
sobre ela se perpetua.
Se o Brasil Itcaminha para a democracia sob hegemonia I.!
5 .
baral" de que maneira se podem fortalecer 08 setores
popula-res para que tenham papel decisivo na luta pela concretização
de seus interesses pollticOB e 80cia1s?
Construir uma a1 ternat1va de participação popular de b.! .:.
se. democráticas ultrapassa o vanguardismo produtor de pala
-vras de ordem muitas vezes autoritárias e vazias de conteúdo
pOlltico concreto, da mesma forma que busca superar o esponta
nelamo basista que advoga a existência de um saber popular em
estado puro e reivindica para esse senso comum, precariamente
:.! l
Sendo 05 sindicatos um dos sujeitos coletivos mais re
-presentativos da classe operária e um dos espaços
privilegia-dos no sentido da congregação e das possibilidades de
aquisição da consciência de classe via lutas que patrocina e de
senvolve, julgamos o tema da maior importância, embora reco -"
nheçamos o caráter problemático de se atribuir ao
sindicalis-mo um papel prisindicalis-mordial na questão da formação da consciência
do trabalhador pois não desconhecemos que, do ponto de vista
teórico que optamos por privilegiar,
é
o partido de classe o real instrumento de luta e de organização da classetrabalha-dora. Não se trata, porém, de excluslvisarmos um ou outro
mesmo porque, no caso brasileiro, sindicato e partido são
du-as instituições que sempre estiveram profundamente embricaddu-as ,
Se pensarmos em termos de novo operariado torna-se mais
dif1-ci1, ainda, essa separação, na medida em que o berço do novo
sindicalismo e da CUT,bem como o das oposições sindicais,{que
deram origem a grande parte dos atuais programas de FS) é t~
•
bem o berço dos diversos agrupamentos que formam o Partido dos
Trabalhadores • •
As praticas de FS que proliferaram do final da década
de 70 para cá, têm sido uma das formas que os trabalhadores e
esforço • educadores encontraram de ampliar e fortalecer esse
de democracia de base, e cremos que a sua crescente expansao
traça um paralelo, guardadas as devidas especificidades, com
a explosão de atividades de Educação Popular próprias da con- ~,
juntura pré-64, com a diferença que a FS concentra-se em fun-çÃo da classe . operária propriamente dita. A categoria "povo II
é
8ubstitu1da por uma outra de sentido mais estrito e que vem a ser representada por sindicalistas: de militantes de basea dirigentes. Acrescente-se a isso a grande novidade, e ingr!
diente principal, que
é
a idéia de auto-formação, presente em• •
algumas das mais significativas praticas de capacitaçao sindi
22
Não
é
nosso objetivo aqui analisar historicamente essa questão, muito menos traçar uma cronologia ou evolução da fOEmação (recuperar historicamente a formação, na perspectiva
dos trabalhadores mereceria, no nosso entender, uma pesquisa
à
parte, dadas a riqueza e complexidade do terna) algumas refe rências, porém, se fazem forçosamente necessárias para quepossamos compreender, comparativamente, a peculiaridade da
formação que se consolida no Brasil de meados da década de
80 até o momento desta dissertação.
Programas de educação voltados para a classe operária
em geral e para sindicalistas não são, em sl, propriamente 02
vldade. Historicamente o Estado, a Igreja, 08 partidos pollt!
C08 e os empresários, bem como os próprios operários têm
sem
pre mantido em pauta essa preocupaçao e engendrado iniciati
-vas de formação das mais variadas.
Se nos reportarmos ao inicio do século, encontraremos ,
enquanto durou a hegemonia do movimento anarquista nos meios
operários, uma preocupação muito forte com a formação do
pro-letariado, bem como com a elevação de seu nivel cultural, pre ~.
ocupação que se traduzia no desenvolvimento de uma série de
r
atividades que abarcavam plenamente o politico, o social e o
cultural. A opção pela ação direta, o sonhar libertário, o
vislumbre de uma sociedade sem Estado e na qual os sindicatos
tossem os organismos básicos fizeram com que o movimento
ope-, ,
.
rario da epoca se caracterizasse pelo alto grau de
combativi-A
dade e de efervecência cultural, não se podendo esquecer, por
outro lado, que o Estado sempre esteve presente, junto com o
patronato. engendrando esforços para desarticular essa movimen
tação valendo-se,para isso, tanto da repressão direta quanto
de formas outras de ataque (como a deportação de lideres es
-trangeiros, por exemplo) e mesmo de contra-ataque no
cultural e politico.
plano
-com a ascensao dos -comunistas manteve-se a preocupaçao -com a
formação havendo, entretanto, um deslocamento do âmbito cultu
ral para o politlco-ldeológlco. Para os comunistas
é
muito importante a atuação dentro dos sindicatos, mesmo os mais reaclonárlos, pois a obrigação da vanguarda
é
estar onde estãoas massas, e
é
no sindicato, junto com os operários mais av~çados, que os operários começam a entender toda a complexlda-6
de da luta contra os capitalistas.
Se no caso da formação anarquista a classe trabalhadora
sofreu muita influência dos imigrantes estrangeiros, partlcu-•
larmente italianos e esp~ols, Quando os comunistas passam
a ser hegemônlcos no movimento a grande influência que se re-•
glstra e a da conjuntura internacional, principalmente da
Re-volução Russa que, juntamente com
xistas traduzidos em l!nguas mais
os primeiros
7escritos acess!veis (português
mar
-CO
e
es-penhol) ditam, por assim dizer, os rumos do movimento coloc~
do-se os sindicatos como o centro e o espaço onde o proletar!
ado poderia se reconhecer como classe e se organizar. Segundo
Basbaum, "Dentro dos Sindicatos davam-se cursos teóricos de
marxismo com as deficiências naturais e compreens!veis, uma
vez Que os professores sabiam pouco mais Que o~ alunos. mas despertando assim
tões econômicas ' e
mesmo o interesse 7
politicas.1I
dos operários pelas
ques-Na década de 30, inicia-se uma nova fase no
sindicalismo brasileiro. Os sindicatos por força do atrelamento ao Mi
-nistério do Trabalho passam a ser órgãos de cOlaboração e de
cooperação com o Estado sendo as seguintes, segundo Antunes t
a8 principais restrições Que afetavam diretamente
à
classetrabalhadora no que diz respeito
à
concepção dos sindicatos como um dos seus mais importantes instrumentos de luta:na) Proibição do desenvolvimento de atividades pOliticas e
i-deológicas
c) Veto ao direito de sindicalização dos funcionários públi _
COSj
, B
d) Limite aos operarios estrangeiros nos sindicatos. 11
As tendências presentes no sindicalismo são, além da
comunista, a anarco-sindicalistas e a socialista. No plano da
formação, porém, não podemos esquecer "a criação de um movi
-mento operário católico em âmbito nacional, considerada urgen
te e necessãria, a partir de 1930, (que) teria entre suas
fi-nalidades a de colaborar com o novo Estado ( .•• ) na busca de
soluções para os problemas materiais e culturais dos trabalha
dores, numa ação de caráter nitidamente preventivo contra a
-
i
-
9-tao tem vel infiltraçao comunista." Encontramo-nos, entao,d!,
ante de não mais apenas dos comunistas atuando no meio mas,
também do Estado e da Igreja Católica, (via Circulos
Operári-os e Ação Católica) que vão continuar a se fazer presentes nas
décadas subsequentes.
Do ponto de vista do movimento operário e de sua
rela-ção com o Estado vamos constatar, dos anos 30 aos 50, a
exis-tência de periodos alternados de pressão e descompressão poli
tica nos quais a classe trabalhadora tentava se organizar, r~
,
.
aietir, bem como se rearrumar frente as exigenclas da econo
-mia, das conjunturas politicas e também em face da nova legl!
lação social e trabalhista e sindical. É um periodo em que a
formação pode ser resumida como formação para a resistência
e para a mobilização em momentos de descompre~são maior,
tor-nando-se dificil, por conseguinte, pensá-la de modo estrito
em conjunturas tão variadas e com os possiveis formadores
co-locados frente
à
frente com tarefas tão complexas como as de resistir, mobilizar-se e organizar-se frente ao seu principaladversário - a burguesia - tendo, ainda, que posicionar-se
frente a um Estado que precisa da classe trabalhadora para
enfrentar seus outros adversários.
, _ 10
Quanto a formaçao de quadros, Berno de Almeida cita a
das Escolas de Partido, do PCB, que conjugavam a produção de
textos com cursos sobre marxismo-leninismo e sobre o stalinis
mo, e que eram destinados aos militantes visando
à
elevação de seu nivel ideológico. O pressuposto da existência das bi-bliotecas e das escolas era o de serem atreladas a um movimen
to politico desenvolvido no interior da classe operária para
transformar a sociedade. Buscavam, em última instância, além
de um reforço
à
estrutura partidária a articulação da teoria com a prática politica, que se pretendia revolucionaria.O inicio dos anos sessenta
é
um período de intensa movi mentação da classe trabalhadora. Os sindicatos seriam nessecontexto, conforme as palavras de Weffort, "o 4R poder de um
regime em franca bancarrota mas o preço a pagar seria de sus-11
tentação do regime freando as bases."
A tendência nacionalista que agrupava os socialistas, a
esquerda do PTB e o PCB vanguardeavam o movimento sindical
que se caracterizava por ser combativo mas, ao mesmo tempo
de cúpula, carecendo de bases organizadas que lhes pudessem
dar sustentação. A formação existente nesse periodo foi pes
-quisada por Silvia Manfredi,
dominância, no período de 60
em são Paulo, que contata a
pre-a 64, de práticpre-as de educação
sindical realizadas por uagências externas ao movimento sind!
cal, controladas pelo governo; Tais práticas voltavam-se ora
para os dirigentes sindicais, ora para os associados. A educa
,-
-ção oferecida aos dirigentes era utilizada como um
instrumen-to de perpetuação da estrutura sindical controlada pelo
Esta-dO, ao mesmo tempo que os cursos oferecidos aos associados
tinham o caráter de suplência em relação ao ensino público
o-ficial. 1I12
A pesquisa de Silvia avança, ainda, ao periodo
posteri-or a 64 no qual constata poucas alterações em relação ao peri
odo anterior. Houve mudanças significativas apenas no períOdO
de 1970 a 1974, quando "começavam a ser criados, como parte
,",
do movimento de resistência ao golpe de 64, os cursos de cap~
citação sindical de iniciativa própria dos sindicatos mais
1 3 · ,
avançados", experiencia que se aprofunda apos 1975,
quan-do "esboça-se uma tendência no sentiquan-do de diminuição de
ofer-tas de cursos de suplência e incremento de cursos, palestras,
seminarios e congressos voltados para as necessidades das
en-14
tidades sindicais. II
A gênese da Formação Sindical, na perspectiva que anal!
saremos a seguir, está na criação das oposições sindicais na,
década de 70, e se relaciona com as iniciativas que citamos
anteriormente, com base no trabalho de totanfredi. Entretanto ,
cremos que a Formação só vai aparecer realmente como prática
sistemática na metade dos anos 80, coincidindo com a
estrutu
-raçao das principais centrais sindicais (com destaque para a
CUT), com a organização de seus departamentos e secretarias de
formação e
à
medida que se estrutura, também. o trabalho da equipe da Escola Sindical do Dieese.A titulo de ilustração podemos citar uma das principais
conclusões a que chegaram os participantes de um seminário
sobre Formação Sindical realizados em 1982, pelo ILDES -
Ins-tituto Latino Americano de Desenvolvimento Econômico e Social
que, resumidamente, dá conta de que o Brasil mal havia impl~
tado programas de Formação Sindical e, ainda, Que as experiê~
cias em andamento, embora significativas, estavam longe de
expressar uma tendência de que os sindicatos passassem a as
-sumir a formação de Quadros dirigentes e de militantes
inter-mediários e de base como parte de sua estratégia de ação.
As informações mais recentes de que dispomos provêm
duas fontes diversas:
de
1) O relatório do "Seminário Nacional sobre Concepção e Práti
ca Sindical e Experiências de formação Sindical" realizada em
1987, em são Paulo, sob o patrocinio da CUT - Central Única
de Órgãos para Assistência Social e Educacional e do CEDI
Centro Ecumênico de Documentação e Informação;
;.'/
2) O boletim t!É Fazendo Que se Aprende!', de "equipe da Escola
' )
Sindical do Dieese, de junho de 1988.
O primeiro expõe sucintamente o trabalho das ins titui
-ções que em estados de várias regiões do pais trabalham com
educação sindical e que, ou são estruturalmente vinculadas a ,
CUT, como a sua Secretaria Nacional de Formação, ou
aproxima-se teórica e metodologicamente da orientação dessa central
tanto no que diz respeito
à
concepção de sindicato, no que se relaciona mais especificamenteà
Formação.quanto
são 24 instituições: umas atuando basicamente com educa
ção sindical, como
é
o caso das escolas constituldas para tal fim (Ex. Escola Sindical 7 de Outubro, de I'lG e Escola Sindi-cal Margarida Alves, do Paraná) e outras tendo o trabalho no
campo sindical como uma, dentre outras atividades educativas,
que compreendem, assessoria a movimentos de bairros, apoio a
movimentos dos Sem-Terra, documentação, produção de material
didático e de apoio, só para citar algumas.
O boletim do Dieese dá conta da atuação de Sindicatos,
Federação e Associações de Profissionais Que de 1985 a 1987
promoveram atividades de formação nas seguintes modalidades e
quantidades: 27 ' cursos, 26 seminários, 13 encontros, 9 deba
tes, 5 palestras, 4 congressos de trabalhadores, 3 circulos
de estudos e 1 reunião abrangendo um total de 12.045
partici-pantes entre dirigentes, militantes, ativistas, associados e
trabalhadores ' de base, terminologia utilizada pelos próprios
promotores das atividades aqui citadas.
Essas atividades de formação foram realizadas em várias
regiões do paIs sendo que a maior concentração ocorreu, em
ordem decrescente, nos estados abaixo relacionados: I·tinas
Ge-rais, são Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul regis
trando-se atividades também em GOiás, no Distrito Federal, no
Rio de Janeiro, no Paraná, na Bahia e na Paraiba . •
Uma ressalva que deve ser feita e que estes dados refe _
rem-se apenas àquele grupo de entidades que atendeu à solicita
ção do Dieese de enviar informações sobre atividades de
forma-ção, sabendo-se que, na prática,
é
bem maior o número de sindi catos e entidades afins que realizam atividades dessa natureza.2. Da Literatura Sobre o Tema.
Uma das dificuldades com as Quais temos tido que lidar
em nosso trabalho, tem sido a da exigUldade de material
teóri-co disponível sobre o assunto. A bibliografia especifica sobre
Formação Sindical com Que contamos consta de uma tese de douto
ramento (Manfredi), de um nÚmero de revista PROPOSTA,
publica-da pela FASE e do relatório do seminário IIConcepção e Prática
Sindical e Experiências de Formação Sindical IIjá anteriormente
mencionado. Este relatório traz mais descrição do que reflexão
teórica mas relaciona, embora em pequeno número, alguns
comen-•
o'
tarios de certa forma analiticos{geralmente vinculados aos
ob-jetivos e às questões mais prementes em discussão entre os Que
fazem FS), que julgamos importante levar em conta nossa
análi-se.
É com base nesses trabalhos que teceremos nossas conside
rações quanto ao estágio em Que se encontra a discussão
teóri-ca relativa à FS relacionando-os, Quando for o teóri-caso, com os
subsidios Que consideramos podem ajudar a dar -conta de nosso
objeto de estudo.
A pesquisa de Manfredi trata-se da primeira tentativa de
resgatar experiências de capacitação ao nivel do movimento sin
dical, em são Paulo, no períOdO que abrange de 1964 a 1978, r~ •
lacionando-a ao movimento operario-sindical e reconstruindo-as
a partir de sua gênese, de sua constituição e de sua dinâmica.
A autora faz uma minuciosa expOSição das experiências da