• Nenhum resultado encontrado

Prevalência de anticorpos IgG antiparvovírus B19 em gestantes durante o atendimento pré-natal e casos de hidropisia fetal não imune atribuídos ao parvovírus B19, na Cidade do Rio de Janeiro.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Prevalência de anticorpos IgG antiparvovírus B19 em gestantes durante o atendimento pré-natal e casos de hidropisia fetal não imune atribuídos ao parvovírus B19, na Cidade do Rio de Janeiro."

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

1 . Instituto Fernandes Figueira da Fundaç ão Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro , RJ. 2 . Ho spital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro , Rio de Janeiro , RJ. 3 . Instituto B io médic o da Universidade Federal Fluminense, Niteró i, RJ.

Financ iado através de rec urso s da FIOCRUZ e do pro j eto CNPq 5 2 0 8 9 7 /9 6 -0 .

Ender eço par a co r r espo ndência: Dr. André Ric ardo Araúj o da Silva. Rua Mariz e B arro s 7 6 /3 0 2 , Tij uc a, 2 0 2 7 0 -0 0 0 Rio de Janeiro , RJ. Tel: 5 5 2 1 3 9 7 3 -7 8 5 8 .

e-mail:andreric ardo @ huc ff.ufrj .br Rec ebido para public aç ão em 3 1 /1 0 /2 0 0 5 Ac eito em 2 6 /8 /2 0 0 6

Prevalência de anticorpos IgG antiparvovírus B1 9 em gestantes

durante o atendimento pré-natal e casos de hidropisia

fetal não imune atribuídos ao parvovírus B1 9 ,

na Cidade do Rio de Janeiro

Anti-parvovirus B19 IgG antibody prevalence in pregnant women during antenatal

follow-up and cases of non-immune hydropsis fetalis due

to parvovirus B19, in the City of Rio de Janeiro

André Ricardo Araujo da Silva

1, 2

,Susie Andries Nogueira

2

, Júlio Cezar Laura Alzeguir

1

,

Maria Célia Freitas Leite da Costa

1

e Jussara Pereira do Nascimento

3

RESUMO

Com o objetivo de medir a prevalênc ia de antic orpos IgG c ontra o parvovírus B 1 9 em gestantes c om até 2 4 semanas de idade gestac ional e detec tar a oc orrênc ia de c asos de hidropisia fetal não-imune atribuídos a esse vírus, c oletamos 2 4 9 amostras de soro em uma maternidade de referênc ia na Cidade do Rio de Janeiro, entre junho de 2 0 0 3 e març o de 2 0 0 5 . As gestantes foram ac ompanhadas até o termo da gestaç ão, sendo detec tados 1 7 c asos de hidropisia fetal. Quatro c asos foram atribuídos ao parvovírus B 1 9 e dois destes oc orreram em gestantes residentes na zona oeste da c idade, em fevereiro de 2 0 0 5 . Resultados positivos para antic orpos IgG antiparvovírus B 1 9 foram enc ontrados em 1 7 2 ( 7 1 ,6 % ) gestantes ( IC 9 5 % 6 5 ,5 -7 7 ,7 % ) , sendo esta prevalênc ia de antic orpos c omparável à enc ontrada em outras c idades brasileiras. A únic a variável assoc iada c om aquisiç ão prévia de antic orpos IgG foi número de gestaç ões anteriores maior que um( p= 0 ,0 2 , IC 9 5 % 0 ,3 6 -0 ,9 4 ) .

Palavr as- chaves: Parvovírus B 1 9 . Gestaç ão. Antic orpos IgG. Hidropisia fetal não imune.

ABSTRACT

With the aim of measuring the prevalenc e of anti-parvovirus B 1 9 IgG antibodies during pregnanc y up to 2 4 weeks of gestation and detec ting c ases of nonimmune hydrops fetalis, 2 4 9 sera from pregnant women attending a referenc e hospital in Rio de Janeiro City, from June 2 0 0 3 to November 2 0 0 4 were c ollec ted. They were followed-up until the end of pregnanc y, with 1 7 c ases of fetal hydrops detec ted. Four c ases were c aused by parvovirus B 1 9 and two of them oc c urred in pregnant women living in the western zone of the c ity, during February 2 0 0 5 . Anti-parvovirus B 1 9 IgG antibodies were found in 1 7 2 ( 7 1 .6 % ) pregnant women ( CI 9 5 % 6 5 .5 % -7 7 .7 % ) ; this antibody prevalenc e is similar to results found for others B razilian c ities. The only variable assoc iated with previous ac quisition of IgG antibodies to parvovirus B 1 9 was number of pregnanc ies greater than one ( p= 0 .0 2 , CI 9 5 % 0 .3 6 -0 .9 4 ) .

(2)

O parvovírus humano B1 9 ( PB1 9 ) foi descrito inicialmente e m 1 9 7 5 , po r Co s s a r t e c o ls , e m do a do r e s de s a n gue assintomáticos e desde então vem sendo relacionado a várias entidades clínicas como a crise aplástica transitória, o eritema infeccioso ( EI) e a hidropisia ( HF) e morte fetais2 7. A infecção

por parvovírus B1 9 tem sido descrita em todas as partes do mundo onde foi pesquisada, manifestando-se primariamente como surtos de eritema infeccioso em crianças pré-escolares e adolescentes. Durante os surtos de EI, adultos suscetíveis podem ser infectados de maneira que ocorre um aumento gradual da prevalência de anticorpos IgG conforme a idade1 3 1 9.

O c onhec imento da prevalênc ia de antic orpos IgG anti-B1 9 em gestantes é importante, pois durante a infec ç ão aguda, o par vo vír us B 1 9 po de ser tr ansmitido ver tic almente par a o fe to , c a us a n do e ve n tua lm e n te m o r te fe ta l, a b o r to e hidropisia2 7. Estas c omplic aç ões durante a gestaç ão são mais

freqüentemente desc ritas quando a infec ç ão materna oc orre até a 2 0 ª semana gestac ional1 9.

Estudos de prevalênc ia de antic orpos IgG em gestantes indicam uma variação muito grande, de 3 5 a 8 1 %, dependendo da populaç ão estudada3 4 5 9 1 6 2 2 sendo que o número de c asos

de hidropisia fetal atribuídos ao parvovírus B1 9 pode aumentar em anos epidêmicos de eritema infeccioso, atingindo até 1 3 ,5 % das ge stante s susc e tíve is não - im une s6 2 6. Ge stante s c uj a

atividade oc upac ional exige c ontato freqüente c om c rianç as e que possuem filhos menores de 1 0 anos de idade são mais propensas à infec ç ão aguda por parvovírus B1 96 2 4.

O o b j etivo deste estudo é mensur ar a pr evalênc ia de antic orpos IgG para o parvovírus B 1 9 em gestantes atendidas em uma mater nidade de r efer ênc ia na Cidade do Rio de Janeiro e verific ar a possível oc orrênc ia de hidropisia fetal c ausadas pelo parvovírus B 1 9 durante o período de estudo.

MATERIAL E MÉTODOS

Se le ç ã o d e p a c ie n te s e ta m a n h o d a a m o s tr a . Durante o perío do c o mpreendido entre j unho de 2 0 0 3 e n o ve m b r o de 2 0 0 4 , fo r a m s e le c io n a da s 2 4 0 ge s ta n te s oriundas do ambulatório de ac ompanhamento pré-natal do Instituto Fernandes Figueira ( IFF) , c om idade gestac ional de até 2 4 semanas c ompletas, independentemente do motivo de ac ompanhamento, para a realizaç ão de sorologia espec ífic a para o parvovírus B 1 9 e seguimento até o final da gestaç ão.

A maternidade do IFF atende a gestantes tanto do município do Rio de Janeiro, quanto de municípios da área metropolitana, e é c o n s ide r a da c o m o um s e r viç o de r e fe r ê n c ia pa r a ac ompanhamento de gestaç ões de alto-risc o. O c álc ulo do tamanho da amostra foi baseado em estudo piloto realizado entre junho e novembro de 2 0 0 3 , com 4 6 gestantes do IFF. Neste subgrupo, o valor de prevalência encontrado de anticorpos IgG específicos para o parvovírus B1 9 , foi de 6 9 ,4 %. Utilizamos como populaç ão geral de estudo um c ontigente estimado em seis milhões de habitantes residentes no município do Rio de Janeiro7,

e estimamos um intervalo de c onfianç a de 9 5 % para uma prevalência entre 6 5 % e 7 7 %.

Adicionalmente, foram coletadas amostras de sangue para a realização de sorologia para o parvovírus B1 9 de todas as 1 7 gestantes em acompanhamento no IFF que tiveram o diagnóstico de hidropisia fetal ( HF) pela ultra-sonografia. Nove amostras de casos de hidropisia foram coletadas após novembro de 2 0 0 4 , não sendo incluídas na análise da prevalência de anticorpos IgG. O diagnó stic o de finitivo da c ausa da hidr o pisia fe tal fo i estabelecido por exames sorológicos de rotina do pré-natal, cariótipo fetal e análise de placenta e tecidos fetais por histologia c o nve nc io nal e par a pe sq uisa par a par vo vír us B 1 9 po r hibridização in situ e PCR.

Ar mazenamento das amostr as e testes sor ológicos.

O soro obtido das gestantes foi mantido congelado a -2 0 ºC até a análise da amostra. O teste utilizado para a pesquisa de anticorpos anti- B 1 9 fo i o e nsaio im uno e nzim átic o ELI SA ( B io tr in-International, Irlanda) . O teste de detecção de anticorpos IgG é capaz de detectar de 3 a 5 UI/ml do padrão de IgG ( International Standard, National Institute for Biological Standards and Control, Reino Unido) e apresenta 1 0 0 % de sensibilidade e especificidade de 1 0 0 % , c onforme informado pelo fabric ante. O teste de detecção de anticorpos IgM apresenta 8 6 % de sensibilidade e 1 0 0 % de especificidade. A positividade para IgG foi considerada como infecção pregressa, indicando proteção contra o parvovírus B1 9 . As pacientes IgG- negativas foram consideradas suscetíveis

à infecção. As gestantes com diagnóstico de HF e anticorpos IgM para o parvovírus B1 9 foram consideradas como tendo infecção aguda pelo vírus. Nas gestantes em que o teste de IgM apresentou valores limítrofes ( não conclusivo) e o teste de IgG foi negativo, o B1 9 foi excluído como causa da hidropisia. Porém, quando o teste de IgG foi positivo, o B1 9 não pôde ser excluído como causa provável da hidropisia.

Var iáveis analisadas. As gestantes imunes ao vírus foram comparadas com as não-imunes, em relação a possíveis variáveis para a aquisição prévia da infecção como município de origem, idade materna, número de gestaç ões anteriores, número de filhos, convívio com crianças por mais de 4 horas por dia e convívio com filhos menores de 1 0 anos. Os dados coletados foram analisados através do programa EPI-INFO 6 .0 ( CDC-Atlanta) . O teste do qui-quadrado e o teste de Fischer foram utilizados para avaliar associações entre as gestantes imunes e aquelas suscetíveis. Um valor de p< 0 ,0 5 foi considerado como de signific ânc ia estatístic a e intervalos de c onfianç a foram calculados para as variáveis estudadas. Este projeto foi submetido e aprovado pelo c omitê de étic a e pesquisa da instituiç ão ( Instituto Fernandes Figueira, Fundação Oswaldo Cruz) .

RESULTADOS

(3)

grávidas, 5 1 ( 2 1 ,8 %) eram primigestas e o número médio de filhos foi de 1,2. A maior ( 73,1%) parte das gestantes iniciou o pré-natal antes da 15ª semana ( média de 13 semanas e 3 dias) e a idade gestacional média no momento da coleta da amostra de soro foi de 1 5 semanas e 3 dias. A Tabela 1 mostra a idade gestac ional no momento da c oleta do soro. Em relaç ão aos antec edentes obstétric os, foram relatados história prévia de prematuridade em 7 3 ( 3 0 ,7 % ) gestantes, hidropisia fetal em 6 ( 2,5%) e malformação fetal em 36 ( 15,1%) . Em relação ao motivo de encaminhamento ao IFF, encontramos necessidades especiais para as mães em 54,5% e necessidade de cuidados relacionados ao feto ou alterações fetais em gestações prévias em 45,5%.

Tabela 1 - Idade gestacional na coleta de sorologia IgG para parvovírus B1 9 .

Gestantes Idade gestacional na coleta ( semanas) no %

0-8 8 3,3

8-16 147 61,3

16-24 85 35,4

Total 240 100,0

Prevalência de anticorpos IgG anti-B1 9 . O percentual de grávidas positivas para IgG antiparvovírus B19 em todas as faixas etárias foi de 7 1 ,6 % ( 1 7 2 ) , sendo 2 8 ,4 % ( 6 8 ) suscetíveis à infecção. A prevalência de anticorpos IgG foi de 57,1% na faixa etária entre 11 e 20 anos, 71,2% na faixa etária entre 21 e 30 anos, 76,4% na faixa etária entre 31 e 40 anos e 72,7% entre as gestantes acima de 41 anos. Não houve diferença estatisticamente signific ativa entre a prevalênc ia de antic orpos IgG entres as gestantes residentes no município do Rio de Janeiro ( 68,8%) e aquelas de outros municípios ( 76,7%) p= 0,15 ( IC 95% 0,72-1,06) . Foi possível coletar nova amostra de sangue para dosagem de anticorpos IgG no terceiro trimestre da gestação em apenas 8 ( 11,7%) das 68 gestantes inicialmente IgG- negativas, não sendo

detectada soroconversão em nenhuma delas.

Sinais clínicos, fatores de risco maternos e ocupacionais para a aquisição de infecção pelo parvovírus B19. Entre as gestantes, 110 ( 46,2%) possuíam atividades oc upac ionais c om

Tabela 2- Análise de fatores de risco para infecção prévia pelo parvovírus B19.

Variáveis estudadas Gestantes IgG Gestantes IgG Totais Valor de p IC 95%* anti-B19 anti-B19

positivas negativas

Idade > 20 anos 155 55 210 0,05 0,27-1,01 Convívio com crianças

( atividade ocupacional) 81 29 110 0,66 0,78-1,47 Número de gestações

anteriores > 1 31 21 52 0,02 0,36-0,94 Filhos menores de

10 anos em casa 64 25 89 0,92 0,68-1,41 História anterior de

prematuridade 53 20 73 0,96 0,66-1,56

História anterior de

mal formação fetal 27 9 36 0,69 0,57-2,32 * intervalo de confiança de 95%

contato freqüente com crianças, 9 0 ( 3 7 ,5 %) relatavam ter mais de um filho no domic ílio e 8 9 ( 3 7 ,4 % ) , filhos menores de 1 0 ano s em seus do mic ílio s. Nenhuma das gestantes relato u c ontato c om portadores de eritema infec c ioso ou sintomas ou sinais c línic os c ompatíveis c om a infec ç ão pelo parvovírus B1 9 c omo exantema ou artralgia, durante o período de estudo.

As variáveis estudadas que pudessem estar asso c iadas positivamente à aquisiç ão prévia da infec ç ão pelo parvovírus B 1 9 , entre os grupos c onsiderados imunes e não imunes ( IgG positivo e IgG negativo) são mostradas na Tabela 2 . A únic a variável que demonstrou assoc iaç ão positiva c om aquisiç ão de antic orpos IgG prévios à gestaç ão atual foi gesta maior que 1 (p= 0 ,0 2 IC 9 5 % 0 ,3 6 -0 ,9 4 ) . Uma outra variável c om tendênc ia de assoc iaç ão positiva foi ter idade maior que 2 0 anos (p= 0 ,0 5 IC 9 5 % 0 ,2 7 -1 ,0 1 ) . Não foram enc ontradas assoc iaç ões positivas para todas as outras variáveis estudadas.

Ocor r ência de casos de hidr opisia fetal e associação co m o pa r vo vír us B1 9 . Foram registrados 1 7 c asos de hidropisia fetal não-imune entre abril de 2 0 0 3 e fevereiro de 2 0 0 5 ( Tabelas 3 e 4 ) , sendo que 9 não estavam incluídos no estudo de prevalênc ia de antic orpos devido à c oleta de amostra para sorologia ter oc orrido após a 2 4a semana de

Tabela 3 - Gestantes incluídas no estudo de prevalência que desenvolveram hidropisia fetal não-imune e desfecho da gestação.

Gestantes Data de Idade Idade gestacional Sorologia B19 Causa provável Desfecho* diagnóstico gestacional de na coleta de

diagnóstico* sorologia para o B19*

Nº4 19/09/2003 22s 1d 23s 3d IgM-/IgG- Não esclarecida Óbito fetal com 23s 3d

Nº5 29/12/2003 25s 6d 24s IgM-/ IgG+ Não esclarecida Prematuro 33s 4d

Óbito com 4d Nº6 07/01/2004 23s 6d 12s 5d IgM -/ IgG- Incompatibilidade Óbito fetal com 30s 6d

Rh

Nº7 19/01/2004 21s 4d 23s 6d IgM borderline/ Não esclarecida Vivo com alta

IgG- ( regressão HF)

Nº8 29/01/2004 16s 1d 15s 3d IgM-/ IgG + Cardiopatia Desconhecido

Nº9 03/02/2004 15s 14s 3d IgM borderline/ S. Down provável Vivo com alta IgG + Parvovirus B19

(4)

idade gestacional ( Tabela 4) e pelo número necessário para análise da amostra ter sido atingido em novembro de 2004. Cinco casos ocorreram em 2003, dez em 2004 e dois em 2005 ( Tabelas 3 e 4) .

Do total de 1 7 casos, o parvovírus B1 9 foi implicado como causador ( definitivo ou provável) em 4 ( 2 3 ,5 %) . Em um caso, a assoc iaç ão foi inequívoc a pela história materna positiva de exantema na gestação, sorologia positiva ( IgM e IgG) para o parvovírus B1 9 e rastreamento negativo para outras c ausas conhecidas de HF. Nos outros 3 casos o PB1 9 foi implicado como causa provável da HF devido ao resultado limítrofe da sorologia IgM. Destes três casos, em dois houve associação com síndrome de Down e no outro caso, a gestante residia na mesma região do caso confirmado de HF por PB1 9 , além do fato da sorologia ter sido coletada no mesmo mês. Não foi possível a realização de hib r idizaç ão in situ no s tr ê s c aso s pr o váve is de HF po r PB1 9 .

A prevalênc ia de antic orpos IgG antiparvovírus B 1 9 em todos os 1 7 c asos de hidropsia fetal foi de 7 2 ,2 % e a letalidade foi de 5 8 ,8 % ( Tabelas 3 e 4 ) .

DISCUSSÃO

A infecção pelo parvovírus B1 9 é considerada uma doença exantemática de ocorrência comum em crianças, com a maior parte dos casos acontecendo em menores de 1 5 anos de idade. No Brasil, o programa de erradicação do sarampo, iniciado em 1 9 9 2 , e o de controle de rubéola, reforçado a partir de 1 9 9 4 , auxiliaram a promover o diagnóstico laboratorial do eritema infeccioso1 2. Desta forma, a magnitude da infecção por parvovírus

B1 9 na gestação tem sido melhor estudada, principalmente pela possibilidade de transmissão para o concepto e risco de morte fetal, aborto e hidropisia2 5 8 1 9 2 1 2 4 2 6. Assim, o conhecimento do

número de gestantes suscetíveis ao parvovírus B1 9 é importante para o acompanhamento pré-natal, especialmente nas primeiras 2 0 semanas de gestação, quando o risco de dano fetal causado por esse vírus é maior, embora a morte fetal por hidropisia possa ac ontec er até três meses após a infec ç ão materna1 1.

A prevenção da infecção é difícil, pois ocorrem infecções inaparentes em 3 0 % dos indivíduos e nos de casos de EI, o paciente não é mais contagioso quando há o surgimento do exantema típic o . Não existe ainda uma vac ina dispo nível lic enc iada para a prevenç ão da infec ç ão entre as gestantes suscetíveis1 1 2 7.

A prevalênc ia de antic orpos IgG antiparvovírus B1 9 em gestantes varia de acordo com a população estudada e o ano do estudo, mesmo dentro do Brasil. O valor ( 71,7%) encontrado neste estudo foi semelhante aos registrados anteriormente na população em geral do Rio de Janeiro ( 73,7%) e em gestantes da área urbana de Ribeirão Preto-SP ( 62,9%) e na periferia de Belém-PA ( 84%) , indicando que cerca de 30% das gestantes permanecem susc etíveis à infec ç ão3 4 1 3. Isto é importante, pois na região

metropolitana do Rio de Janeiro há um aumento no número de casos de eritema infeccioso em crianças a cada cinco anos1 7.

Verificamos que houve circulação do vírus em nosso meio em 2 0 0 4 e 2 0 0 5 , demonstrada inequivocamente por dois casos de hidropisia fetal não-imune pelo parvovírus B1 9 confirmados laboratorialmente, sendo um do IFF e outro verific ado em paciente da mesma região da cidade, no mesmo período do ano-verão 2004/20052 3. Um surto de eritema infeccioso, inclusive

c o m ac o me time nto de ge stante , tamb é m fo i r e latado e m novembro de 2 0 0 4 , em São José do Rio Preto-SP2 0. Durante as

epidemias de EI são também descritas infecções em adultos, que podem se refletir no número de casos de hidropisia fetal não-imune atribuídos ao parvovírus B1 91 9 2 6.

Outros casos clínicos de infecção por B1 9 foram descritos na região metropolitana do Rio de Janeiro nos anos de 2 0 0 4 e 2 0 0 5 ( Noronha e cols1 5, Nascimento JP e cols2 5, Nascimento JP

e cols1 4, Oliveira AS e cols1 9, Brasil P e cols1, Passoni LF e cols1 8) ,

indic ando a existênc ia provável de uma epidemia de EI. No entanto, não podemos fazer tal inferênc ia através da nossa c asuístic a em gestantes, pois apenas 1 1 % das IgG- negativas

coletaram nova amostra de soro durante o terceiro trimestre da gestação, não sendo detectada soroconversão em nenhuma delas. Tabela 4 - Gestantes apresentando hidropisia fetal não-imune, excluídas do estudo de prevalência e desfecho da gestação.

Gestantes Data de Idade Idade gestacional Sorologia B19 Causa provável Desfecho* diagnóstico gestacional de na coleta de

diagnóstico* sorologia para o B19*

Nº 1 25/04/2003 22s 2d 34s 2d IgM-/IgG- Hidrocefalia Vivo com alta

Internação 11d

Nº2 09/06/2003 29s 5d 30s 1d IgM-/IgG+ Hipertensão Óbito com 31s

materna 5d

Nº3 18/06/2003 32s 2d 32s 2d IgM-/IgG+ Síndrome genética Óbito com 33s Nº10 10/05/2004 26s 3d 27s 4d IgM-/IgG+ Não esclarecida Óbito com 27s

Nº12 02/08/2004 27s 1d 29s IgM-/IgG+ Não esclarecida Óbito com 29s

Nº13 05/08/2004 29s 31s 1d IgM borderline/ Síndrome Down Provável Óbito com 31s

IgG + Parvovirus B19 6d

Nº15 13/10/2004 34s 3d 34s 3d IgM-/IgG+ Malf adenom Vivo com alta

cística Internação 5d

Nº16 14/02/2005 22s 26s IgM+ /IgG+ Parvovírus B19 Desconhecido

(5)

Não encontramos, associação positiva de fatores conhecidos de risco para aquisição prévia de parvovirose humana como convívio com crianças e a presença de filhos menores de 1 0 anos no domicílio2 4. Apenas na variável número de gestações

anteriores maior que um houve uma associação positiva para aquisiç ão prévia de antic o rpo s antiparvo vírus B 1 9 e uma tendência de associação positiva quanto à variável idade maior que 2 0 anos. Provavelmente, a associação com estes fatores de risco teria sido verificada caso um número maior de gestantes fosse estudado.

En tr e o s de ze s s e te c a s o s de HF a te n di do s n o I FF verific amos que o PB 1 9 foi c onfirmado c omo c ausador em um e c omo provável c ausador em outros três. Notamos que em 2 c asos houve assoc iaç ão c om síndrome de Down o que pode tratar-se de uma c oinc idênc ia ou não, pois o parvovírus B 1 9 pode estar implic ado c omo c ausador de malformaç ões c ardíac as levando ao desenvolvimento de HF2 8.

De qualquer forma, a maior parte dos c asos atribuídos ao PB 1 9 ac ontec eu a partir de agosto de 2 0 0 4 , período no qual houve c irc ulaç ão do vírus na c idade, sendo que a própria o c o rrênc ia de HF é um evento não usual na gravidez e a perc entagem de c asos de HF atribuídos ao PB 1 9 ( 2 3 ,5 % ) foi b e m m a io r a o n úm e r o de c a s o s de HF a tr ib uído s a o PB19 ( 10%) em anos não epidêmicos para o parvovírus B191 12 1.

Co n c luím o s q ue a pr e va lê n c ia de a n tic o r po s I gG antiparvovírus B1 9 , encontrada em gestantes da área urbana da Cidade do Rio de Janeiro foi de 7 1 ,7 % indicando que cerca de 3 0 % das grávidas são susc etíveis à infec ç ão. Verific amos a circulação do vírus no município em 2 0 0 5 , corroborada por um c aso de hidropsia fetal não-imune pelo parvovírus B1 9 , confirmado sorologicamente, e outro confirmado por vínculo epidemiológico, detectados no mesmo mês e na mesma região geográfica da cidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 . B rasil P, Souza RV, Serpa MJA, Lambert S, Maia SC, Nogueira RMR. Infec ç ão po r Parvo virus B 1 9 em c aso s suspeito s de Dengue. B razilian Jo urnal o f Infec tio us Diseases 9 : S2 1 9 , 2 0 0 5 .

2 . Enders M, Weidner A, Zo ellner I, Searle K, Enders G. Fetal Mo rbidity and m o r tality afte r ac ute hum an par vo vir us B 1 9 infe c tio n in pr e gnanc y. Pro spec tive evaluatio n o f 1 0 1 8 c ases. Prenatal Diagno sis 2 4 : 5 1 3 -5 1 8 , 2 0 0 4 .

3 . Freitas RB , Gusmão SRB , Durigo n EL, Linhares AC. Survey o f parvo virus B 1 9 infec tio n in a c o ho rt o f pregnant wo men in B elém, B razil. B razilian Jo urnal o f Infec tio us Disease 3 :6 -1 4 , 1 9 9 9 .

4 . Go nç alves CV, Duarte G, Marc o lin AC, Quintana SM, Co vas DT, Co sta JSD. Avaliaç ão lo ngitudinal da infec ç ão po r parvo vírus B 1 9 entre grávidas em Ribeirão Preto , SP, B rasil. Revista B rasileira de Ginec o lo gia e Obstetríc ia 2 5 :3 1 7 -3 2 1 , 2 0 0 3 .

5 . Gratac o s E, To rres PJ, Vidal J, Fo nt J, Anto lin E, Cararac h E, Fo rtuny A. The inc idenc e o f human parvo virus B 1 9 infec tio n during pregnanc y and its im pa c t o n pe r in a ta l o utc o m e . Th e J o ur n a l o f I n fe c tio us Dis e a s e s 1 7 1 :1 3 6 0 -1 3 6 3 ,1 9 9 5 .

6 . Harger JH, Adler SP, Ko c h WC, Harger GF. Pro spec tive evaluatio n o f 6 1 8 pregnant women exposed to parvovirus B 1 9 : Risk and symptoms. Obstetric s and Gynec o lo gy 9 1 :4 1 3 -4 2 0 , 1 9 9 8 .

7 . Instituto B rasileiro de Geo grafia e Estatístic a. Po pulaç ão do munic ípio do Rio de Janeiro .http://www.ibge.go v.br/c idades at/default.php Ac esso em 2 5 de setembro de 2 0 0 5 .

8 . Jensen IP, Tho rsen P, Jeune P, Mo o ler B R, Vestergaard B T. An epidemic o f par vo vir us B 1 9 in a po pulatio n o f 3 5 9 6 pr e gnant wo me n: a study o f so c io demo graphic and medic al risk fac to rs. B ritish Jo urnal o f Obstetric s and Gynaec o lo gy 7 :6 3 7 -6 4 3 , 2 0 0 0 .

9 . Maksheed M, Pac sa AS, Essa SS, Ahmed MA, Mo men RA, Surko uh M. The prevalenc e o f antibo dy to human parvo virus B 1 9 in pregnant wo men in Kuwait. Ac ta Tro pic a 7 3 :2 2 5 -2 2 9 , 1 9 9 9 .

1 0 . Ma r in h o TAS, Szr a j b m a n AVS, R o dr igue s NB , Fa r ia R A, Se túb a l S, Nasc imento JP. Estudo da freqüênc ia da infec ç ão pelo parvo vírus B 1 9 em c asos de doenç a exantemátic a no período de 1 9 9 4 a 2 0 0 4 . B razilian Journal o f Infec tio us Disease 9 : S7 3 , 2 0 0 5 .

1 1 . Markeson GR, Yanc ey MK. Parvovirus B 1 9 infec tions in pregnanc y. Seminars in Perinato lo gy 2 2 : 3 0 9 -3 1 7 , 1 9 9 8 .

1 2 . Mi n i s té r i o d a S a ú d e . P r o gr a m a Na c i o n a l d e e r r a d i c a ç ã o d o sarampo.< http://www.dtr2 0 0 1 .saude.gov.br/svs/epi/sarampo/sar0 0 .htm> Ac esso em 2 5 de setembro de 2 0 0 5 .

1 3 . Nasc ime nto JP, B uc k le y MM, B r o wn KE, Co he n B J. The pr e vale nc e o f antibo dies to human parvo virus B 1 9 in Rio de Janeiro , B razil. Revista do Instituto de Medic ina Tro pic al de São Paulo 3 2 : 4 1 -4 5 ,1 9 9 0 .

1 4 . Nasc imento JP, Go nç alves R, Santo ro -Lo pes G, Halpern M, Filgueiras R, Ro c ha P, So uza E, Carvalho DB , B rasil P, Matuc k T. Human Parvo virus B 1 9 infec tio n in renal transplant rec ipients. In: Abstrac s o f the 2nd Euro pean

Co ngress o f Viro lo gy, Espanha, p.3 1 9 , 2 0 0 4 .

1 5 . No ro nha JT, Martins JC, Leal A, Po ne MVS, Campo s JMS, B arro s ACMW, Garrido JRP, Po ne SM, Nasc imento JP. Parvo virus B 1 9 asso c iado ao HIV: Re lato de c aso . Re vista da So c ie dade B r asile ir a de Me dic ina Tr o pic al 3 8 ( supl 1 ) :2 8 5 , 2 0 0 5 .

1 6 . Odla n d J O, Se r ge j e va I V, I va n e e v MD, J e n s e n I P, Str a y- Pe de r s e n B . Se r o po sitivity o f c yto me galo vir us, par vo vir us and r ub e lla in pr e gnant women and rec urrent aborters in Leningrad County, Russia. Ac ta Obstetric ia et Gynec o lo gic a Sc andinavic a 8 0 : 1 0 2 5 -1 0 2 9 , 2 0 0 1 .

1 7 . Oliveira AS, Camac ho LAB , Pereira ACM, Faillac e TF, Setúbal S, Nasc imento JP. Clinic al and epidemiologic al aspec ts of human parvovirus B 1 9 infec tion in an urban area in B razil ( Niterói City Area, State of Rio de Janeiro, B razil) . Memó rias do Instituto Oswaldo Cruz 9 7 :9 6 5 -9 7 0 , 2 0 0 2 .

1 8 . Passo ni LF, Nasc imento JP, Sidi LC, Ribeiro SR, Mello VST. Do is c aso s de síndr o m e pur púr ic o - papular e m luvas e m e ias po r par vo vír us B 1 9 . B razilian Jo urnal Infec tio us Diseases 9 : S2 1 9 , 2 0 0 5 .

1 9 . Pub lic He a lth La b o r a to r y Se r vic e Wo r k in g Pa r ty o n Fifth Dis e a s e . Pro spec tive study o f human parvo virus B 1 9 infec tio n in pregnanc y. B ritish Medic al Jo urnal 3 0 0 :1 1 6 6 -1 1 7 0 , 1 9 9 0 .

2 0 . Se c r e tar ia de Estado de Saúde de São Paulo . B o le tim Epide mio ló gic o Pa ulista ( B EPA) I nve stiga ç ã o de Sur to de Do e nç a Exa nte m á tic a e m Munic ípio s da Direto ria Regio nal de Saúde XXII São Jo sé do Rio Preto -se te mb r o a de ze mb r o de 2 0 0 4 . < http: //www. pauste r. saude . sp. go v. b r / extras/bepa1 2 0 4 .pdf> . ac esso em 2 5 de setembro de 2 0 0 5 .

2 1 . Silva ARA, Alzeguir JCL, Co sta MCLF, Tristão MAP, No gueira SA, Nasc imento JP. Hidro pisia fetal. Análise de 8 0 c aso s. Revista B rasileira de Ginec o lo gia e Obstetríc ia 3 :1 4 3 -1 4 7 , 2 0 0 5 .

2 2 . Skj o ldebran-Sparre L, Fridell E, Nyman M, Wahren B . A pro spec tive study o f antib o dies against par vo vir us B 1 9 in pr egnanc y. Ac ta Ob stetr ic ia et Gynec o lo gic a Sc andinavic a 7 5 :3 3 6 -3 3 9 , 1 9 9 6 .

2 3 . Valente MB , Neiva MG, Luiz SC, Vic tal SHS, Teixeira N, B urla M, Nasc imento JP. Hidro psia fetal de c ausa infec c io sa. Jo rnal Paranaense de Pediatria 6 :4 7 , 2 0 0 5 .

(6)

2 5 . Vieira IF, Andrada-Serpa MJ, Waltric k V, Esc ada R, Tavares ICF, Wagner S, Nasc im e nto J P. Ane m ia gr ave r e lac io nada à infe c ç ão po r par vo vír us B 1 9 e m p a c i e n te s c o m S í n d r o m e d e I m u n o d e fi c i ê n c i a Hu m a n a Adquirida ( AIDS) . B razilian Jo urnal o f Infec tio us Diseases 9 : S1 4 2 , 2 0 0 5 . 2 6 . Yaegashi N, Niinuma T, Chisaka S, Uehara K, Okamura O, Shinkawa O, Tsunoda A, Moffatt S, Sugamura K, Yajima A. Serologic study of human parvovirus B1 9 infection in pregnancy in Japan. Journal of Infection 3 8 :3 0 -3 5 , 1 9 9 9 .

2 7 . Young NS, B rown KE. Parvovirus B 1 9 . The New England Journal of Medic ine 3 5 0 : 5 8 6 -5 9 7 , 2 0 0 4 .

Referências

Documentos relacionados

3 O presente artigo tem como objetivo expor as melhorias nas praticas e ferramentas de recrutamento e seleção, visando explorar o capital intelectual para

A este respeito, é notável já indicar que o aplicativo tomado como objeto de análise será o Babbel, no idioma alemão, em nível inicial (nível básico) e gratuito. Mais detalhes

A criação do Parque Estadual da Pedra da Boca é de fundamental importância para a preservação do ambiente e a conscientização tanto por parte dos turistas como da popula-

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

psicológicos, sociais e ambientais. Assim podemos observar que é de extrema importância a QV e a PS andarem juntas, pois não adianta ter uma meta de promoção de saúde se

One of the main strengths in this library is that the system designer has a great flexibility to specify the controller architecture that best fits the design goals, ranging from

A partir da junção da proposta teórica de Frank Esser (ESSER apud ZIPSER, 2002) e Christiane Nord (1991), passamos, então, a considerar o texto jornalístico como

Tais conquistas podem ser enumeradas. Os congressos brasileiros de arquivologia, promovidos regularmente desde então. Foram realizados ao todo 13 congressos. Porem, aos