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SEMINÂRIO DE PESQUISA ECONOMICA I (10: e 2~ partes)
1985
SU~1A~IO
- O Realismo dos pressupostos em economia. - VALDIR RAMALHO DE MELO.
- Comércio intra-indüstria: medidas empíricas de seus determinantes. MARIA HELENA DE OLIVEIRA.
Mercado da soja em grao, farelo e óleo: uma evidência eMpírica. BENTO ANnR~ DE OLIVEIRA.
- Rational expectations equilibrium with Keynesian properties. COSTAS AZARIADIS.
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BSCOLA DE POS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA DO INSTITUTO BRASILEIRO DE ECONOMIA
DA FUNDAÇÃC: GETOLIO VARGAS
Seminário de Pesquisa Econômica I l~ parte
Data: 14.02.85
Local: Auditório Eugêni:o Gudin . Hora: 15: 30
O REALISMO DOS PRESSUPOSTOS EM ECONOMIA
Valdir Ramalho de Melo
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CAPfTULO 111
HETODOLOGIA DE FRIED~fAN: UMA REAVALIAÇÃO
~este capítulo reali:~mos um exame crítico da contribuição
~etodol6gica de Friedman. Criticamos tamb~m alguns dos comentirios
feitos a Friedman por ocasião do debate em torno de seu famoso ensaio.
~l~m disso, mostr~mos ser incorreto classificar t~nto de Positivista
ÇCJ;,O de Instrumental ista o princjpal conteudo desse ensaio.
Como se sahe, o famoso ensaio de Fricdman (1953) prove a
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..,
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.
primeira, a mais conhecida e mais citada defesa àa Economia
Convencio-nal perante a Critica dos Pressupostos. No capitulo anterior vimos
qual i o conteudo desse ensaio, bem corno as diversas criticas e cornen
tários feitos pelos debatedores do mesmo. ~este capítulo concordGmos
com os debatedores de Friedman quando dizem que os argumentos do
en-saio são invilidos ou defeituosos e que sua Tese Centr~l nio tem fun
damento. }las fazêmo-Io sob pontos de vista não coincidentes com li os
dos debatedores, e discordando da pertinência de várias das objeções
levantadas por estes com relação ao ensaio.
Conforme mostramos no capitulo anterior, a função do arti
go de Friedmàn ê defender a Economia perante a Crítica dos
Pressupos-tos. Esta defesa ê feita com a colocação de duas teses diferentes,
embora em nenhum momento Friedman dê a entender que perceba estar pr~
pondo duas, em vez de urna s6. A tese mais importante (que chamamos
de "Tese Central") consiste no que o próprio Friedman chama de
"Prin-cipio Metodol6gico Fundamental"; a segunda tese consiste na
intcrpre-tação "como se" dos pressupostos.
Consideramos que a primeira e a mais importante, por duas
r8<:oes: a) Friedman apresenta um argumento em favor dela (que ch::ma:nos
de "Argumento Central"), enquanto nenhum argumento é apresentado em
favor da interpretação "corno se", Além disso, o Argumento Central e
exposto nao apenas uma, mas tr~s vezes em diferentes partes do mesmo
ensaio; b) o "Principio }letodológico Fundamental" é urna tese original
do artigo (pelo menos, desconhece-se quem quer que a tenha defendido
<interiormente), (:nqu~nto que a int~rpretaç30 "como se" consiste na
<l do ç
n
o d a c o n 11 c L i d a ~.! e t o dolo g i a F i c c i o n i s ta,Al6m da Tese Central, do Argumento Central e da Intcrprctaç50
ao nosso trabalho. Uma delas é composta das ilustraçies feitas por
Friedman a suas teses. A outra e o parágrafo do ensaio que parece
dar origem i Torç50 - F. Quanto a primeiro, trat3-se do seguinte:
Friedman ilustra a sua Tese Central procurando' aplicá-la a alguns
ex-emplos de hip6teses e t~orias (sendo a L~i' de Galileu o primeiro ~e
les e o mais marcante). ~ na a~resentação dessas ilustrações que
Friedman passa subrepticiamento da primeira tese para a segunda (i~
traduzindo a interpretação "como se"). Quanto ã ':-orção - F, trata-se
de nome coletivo para duas interpretações dadas por Samuelspn ao que
lhe parece ser o conteudo principal do ensaio de Friedman.
o
material deste capítulo está disposto assim: o ArgumentoCentral do ensaio de Friedrnan em favor de seu Princípio Netodol6~ico
Fundamental ê analisado e criticado na primeira seção. Alguns dos
mais importantes comentários feitos pelos debatedores de Friedman com
relação àquele Princípio são avaliados na segunda seção. Na terceira
seção examinamos a principal ilustração. dada por Friedman a seu prin
cípio, o exemplo da Lei de Galileu; também examinamos nessa seçao a
interpretação "corno se" e a Torção - F.
Em seguida, sao examinadas na quarta seçao tanto as
aleg3-çoes de que o ensaio de Friedman é positivista, como as alegações de
que ele é instr~mentalista. Na quinta seção tratamos rapidamente clas
principais objeções centra as contribuições de ~'achlup, de Fabian e
de Brunner em defesa de pressupostos irrealistas em Economia. A ale
gada exist~ncia de vinculaç~o necessária entre Positivismo e Teoria
Econômica Con\"encional '-é averiguada na sexta seção. A conclusão do
4.
I - Avaliacão do Argumento Central ~e Friedman
à luz do que disseram os críticos e comentaristas de
rriedman (ver capítulo lI), bem como levando em conta os conceitos
apresentados no nosso Ap~ndice, procedemos agora a uma avaliação do
Argumento Central de Friedman em favor de seu "Princípio ~letodológico
Fundamental". Recordamos que esse Princípio diz o seguinte: a) o ~n!
co teste relevante da validade empírica de uma teoria ; a comparaçio
do que dizem suas implicações com o que se constata na experiência;
b) nao é possível comparar o que dizem pressupostos.de teorias com o
que se observa na realidade, independentemente do que digam as
impli-cações.
1.1 - O que diz o Argumento
Recordando rapidamente as proposições do Argumento Central,
vemos que ele diz o seguinte:
F.l) Os pressupostos de uma teoria nunca sao (nem Dode ser)
cOlilpletaliicnte "realistns", no scntido de haver exatidão descritiva
no que afirr.,am diretamente.
e
impossível descrever com uma teoria todosos aspectos, fatores e caracterfstjcas da realidade relacionados com
o fCnÔm0110 em :11~ãl ise, como também ê impossível até mesmo
S.
F.2) Embora nao possam ser completamente realistas, alguns
,
pressupostos podem ser mais (ou menos) "realistas" que outros, isto
ê,me.'lhores ou piores aproximações em terl1)os de "realismo dcscritho".
F.3) Existindo a possibiljeade de escolher-se entre maior ou mc-nor afas
tamento do realismo,essa possibilidade não oferece por si so qualquer base para
de-cidir-se qual grau de realismo constitui uma aproximação
suficiente-mente boa da realidade.
F.4) A Gnica maneira de decidir-se se um maior grau de rea
lismo 6 necessirio ou nao ~ examinar se Ce em quanto) diminui o erro
de previsão da teoria ao levar-se em conta, nos pressupostos,aqueles
fatores adicionais ignorados anteriormente.
F.S) Por conseguinte, o Gnico critério que se tem para re
conhecer se os pressupostos sao "bastante" real istas e fazer o teste
das previ5ões: cX3minar quais alternativas entre possiveis grupos de
pre~supostos com diferentes graus de realismo resultam em previsões
suficientemente exatas para o prop6sito desejado.
Em .prilllei.ro lug;n, esc]:lrC-Ç~1110S \1ma questão inicial: em
(;\IC scntidc o conceito de "pressliposto" e empregado por fricchan 11:15
1e-6.
vantaram dois sentidos possíveis para o mesmo ao longo do ensaio: a)
postulados, ou proposições axiomáticas da teoria~ b) cláusulas
ante-cedentes de hipóteses.
Corno sabemos, tanto os postulados de urna teoria corno suas
hipóteses derivadas sao proposições condicionais; portanto, sao
pro-posições compostas de cláusulas antecedentes e cláusulas consequentes.
Ora, pelo qu~ diz o argumento de Friedman, urna característica
essen-cial dos pressupostos e serem incompletos sob o aspecto descritivo;
por causa dela, segundo ele, nao e possivel testar-se a teoria por
meio de teste direto deles. Se Friedman estivesse atribuindo essa
característica às cláusulas antecedentes em geral, as conclusões da
teoria tamb~m nao poderiam ser testadas diretamente.
Depreende-se, ent50, que tal característica está sendo atri
buída aos postulodos da teoria, quer porque as cláusulas antecedentes
destes nao sao complctalncnte realistas, quer porque isso acontece com
suas cláusulas conscquentes, ou com ambos. Por conseguinte, ao falar
de pressupostos nesse argumento, Fri~Jman pretende referir-se aos [O!
tlll~l1os de u::1a tcorja, jsto e, :1quelas propo~ições que sao coloclL~as
,
,
.
Dando isso por assentado. façamos uma análise crítica de
cada uma das proposiç6es do Argumento Central de Friedman:
1. Os debatedores de Friedman chamaram a atenção para
qua-trcs sentidos possíveis em que Friedman pode t,er pretendido empregar
o termo "irrealista"~ os sentidos de "abstrato", "falso".
"inaplicá-vel" ou "contendo termos teóricos". ~a proposição Fl. Friedman dei
xa claro que o termo aparece com o sentido de "abstrato": nela e dito
que todo pressuposto de uma teoria omite referência a uma infinidade
de entidades e traços da realidade.
2. A proposição F2 e coerente com a anterior: um pressupo~
to pode fazer maior ou menor . numero de referências a diferentes tra
ços e entidades da realidade, e tamb6m dar maior ou menor quantidade
, de infor~aç6es a respeito de cada um deles.
3. A proposiç~o F3 dificilmente gerara controv6rsia, pois
di3 apenas o seguinte: a mera constatação da exist~ncia de uma
infi-nidade de possibilidades com relação ao grau de realismo descritivo
não pOê em clestélquc nenhtJ!TI<l dessas possibilidades em particular.
4. Ob\'iélmente. para dest<Jc<lrJ!lOS lima dentre as várias 1'oss2:,
8.
ferenciem. ~a proposição F4, porem, Friedman faz uma afirmação
gra-tuita, uma afirmação que não se segue das anteriores, e também para a
qual nenhuma justif.icati\'a e dada. ~ela Friedman diz. que examinar o
erro de previsio da teoria e o ~nico crit~rio possível com base nO
qual escolher em grau aceitivel ou con~eriiente de realismo descritivo.
~ão está em questão que esse e um critério disponível;
con-tudo, nada nos foi dito em FI, F2, F3 ou F4 que mnstre ser esse o
~nico possível. As proposições FI - F3, levam-nos apenas a concluir
pela necessidade de lançar-se'mão de algum critério de decisão; as pr~
posições seguintes deveriam não só especificar esse critério, mas
tarr.-bêm just ificar tal especificação (moso"ando por que ele
ê
o único, ouo melhor).
s.
Assim, a proposição FS (conclusão do argumento) estipre-judicada.. Admitindo-se que o teste das implicações é ~maneira de
obter informações para escolher entre teorias(algumas mais, outras
me-nos "realistas"), .,dmitc-se apenas i:::so; de modo algum obtem-se daí
fundamento para excluir ?utra~ maneiras.
Dito de outro modo, o Argumento Central nao dá apoio ao que
pretende dar (ao Princípio Metodológico Fundamental), por ser logic~
mente deficiente: tlJila das premissas do mesmo (F4) introduz. (sem
justi-ficar) o próprio conteudo do que pretende ser a conclusão do argL;;::c!").tO.
Afínal, essa conclusão caracteriza-se exatamente por asseverar que o
teste das implicações ~ o Gnico possível ou relevante.
Outro J:lodo de ve:r que o Arguíi!cnto falha é constatar que, nos
seus próprios tcri:'OS, ele n30 excllli a possibiliJ3de de reali:ar"~e IJm
teste direto dos pressupostos como critério para Jecidir-se se c:;tes
são "bastante TC'aljstas". ;·;ai5 3diante ir<.>JT1os :lprcsentar esse critério
que, C'iEbora não sej::l 111:\ teste de implicações,
ê
;i(~i7lÍtiJo pelos ,-nc<'i',1.2 - O Erro de Previsão
Antes de apresentarmos esse crit~rio alternativo, analise
mos mais detalh~~arnente o critSrio aportado por Fricdman, o do erro
de previsão.
disposição
Este deveria ser empregado assim: admitimos que te~os a
uma s~rie infinita de teorias, referentes ao mesmo
do-mínio de fatos, cada uma com pressupostos que incluem mais pormenores
e informações do que o fazem os pressupostos da teoria anterior.
escolher alguma dentre elas, começamos por derivar implicações
primeiras teorias da série, isto
é,
daquelas menos realistas.Para
das
Em seguida;' comparamos os vários conj untos de imp1 icações
com observações da realidade. Nesse ponto, constatamos que as
diver-sasteorias já examinadas apresentam "erros de previsão", algumas com
erros maiores que outras. Obviamente, escolhemos dentre estas a que
apresenta menor erro, mas ternos ainda a possibilidade de que alguma
das teorias não apreciadas proporcione erro ainda menor.
romo há um numero infinito de teorias, nao podemos exa~inar
as implicações de todas. Entretanto, suponhamos que, de alguma i",ane,!.
ra, temos previamente definido um "erro de previsão" máximo tolerável:
nesse caso, podemos nos limitar a examinar apenas um numero finito de
teorias, parando naquela cujo erro n~o ~ maior que o erro máximo tole
rável.
~1as como determinar o erro tolerável? Segundo Fri eGman, com
base no pr5posito para o qual pretendemos empregar o conteGdo das
im-plic3ç6es ou previsões. Di::-crent cs propôsi tos tra:0m consigo l11 :er0n
tcs graus de to10r5ncia ao erro.
c:x:d ,,;;,cnte FricJ,~,;1n com "erro l1c
10.
que dizem as implicações da teoria e o que se observa na realiàade.
PortantO. "erro de previsão" reíere-se. quer a verdade ou falsidade
das implicações. quer a exatidão descritiva dos mesmos. Em outros
:ermos, di:er que as i~plicaç6es apresentam maior ou menor erro signi
fica di:er que são "realistas" em maior ou menor grau. usando a expres
são co~ ambigui~ade friedrnaniana.
Afinal, as implicações tamb~m omitem refer~ncia a uma
infi-nidade de entidades e traços de realidade(mais precisamente. do domí~~
nio da realidade a partir do qual retiramos nossas observações com
vistas a checar o "poder preditivo delas"). A mesma razão fundamental
(a incapacidade da mente humana de representar plenamente toda reali
dade em qualquer intervalo finito de tempo) faz com que ambos,
pressu-postos e implicações, sejam "abstratos".
Por conseguinte, de acordo com o teste das implicações, o
que acontece ê que escolhemos a teoria cujas implicações são
"bastan-te" realistas. E são "bastante" realistas aquelas cujo "irrealismo"
nao ultrapassa o grau aceitivel; grau este que podemos preestabelecer
em íunç~o de nossos propósitos rel~tivos i escolha de teorias na situa_
çao específica.
~as note-se que nada do que ~ dito no ensaio de Fricdman res
tringe a natureza desses propósitos; por conseguinte, ele também
per-mite'uma detC'rminação purnmente arbitriria do grau de "irrealismo" to
lerâvel (sendo tal grau especificado, nesse caso, simplesmente porque
apc-n3S até esse ou ~Hl'lL'1e ponto estornos disDostos de dedicar tempo e
recursos no eXdl~e de teorias; nu talvez meramente porque est3mos
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111.3 - Erro de Pressuposição
A essa altura, podemos oferecer um critSrio de exame de
va-lidade elílpírica de teorias que não se constitii em um teste das
im-plicações, mas cuja praticabilidade o argumento de Friedman não exclui:
primeiro, com base no propósito
ã
mão, deve-se especificar um grau de"realismo" descritivo mínimo aceitável para os pressupostos da teoria
Cchamêmo-lo de "erro de pressuposição").
Em seguida, deve-se examinar as diversas teorias, buscando
alternativas cada vez mais "realistas" até encontrar a primeira cujo
grau de "realismo" descritivo (dos pressupostos, naturalmente) é pelo
menos igual ao mínimo desejável.
Assim, por exemplo, se nosso propósito for discorrer sobre
diferenças de comportamento econ6rnico entre classes sociais, podemos
escolher alg1lma teoria cujos pressupostos tcnh3m explicit<!mente
clas-scs sociais como referentes; se pretendemos estudar o impacto da
pro-paganda, podemos escolher urna teoria com pressupostos concernentes ~ in
terrelação entre firmas vendendo produtos diferenciados Ce não
produ-tos idênticos). ~Rda no Argu~cnto Central exclui a possibilidade de d~
terminar-se o grau aceit5vel de realismo dos pressupostos da mesma mane!
ra pela qual Friedman propõe como determinar o erro de previsão: com
base no propósito imputado
ã
teoria.~otc-se ainda ({1Je ê es:;encl:l1 ao argu!"!1ento de Friedman 3
i~ria Ge 4uc o nosso c:1m;Jo de ('scolh3 de tcori:ls élbrange Um niliT:cl'o
in-f~nito ,leIas; isto é, que p;1J"a cada teoria com minucios:ls õescyjçõcs
::1 l1c~critiv:J. Se, :lO l:ontrário, th'crmos que escolher :1?cnas cn~re um
~---l 2.
adoção de um critério de seleção com base nos pressupostos,
indepen-dentemente de qualquer teste de implicações: podemos destacar
aque-las teorias cujos Rressupostos sao os mais ricos em termos
descriti-vos.
Por conseguinte, tendo em vista o que acahamos de expor, o
Argumento Central do ensaio de Friedman nio d5sustentação a seu Prin
cipio ~etodol6gico Fundamental. O argumento deixa de demonstrar que
o "teste das implicações" e a única maneira pratic5vel de examinar-se
a validade e~pírica de teorias, nao se podendo, portanto, excluir
outras maneiras possíveis.
Uma dessas maneiras, como vimos, é realizar um "teste de
presst1po~tos" com os mes!'1OS passos do "teste das implicações"
D)'O-posto por Friedr.lan. ~o caso, porem, e:m vez de estabelecer-se pre\-i.
af:1cnte um marco de "erro de previsão" tolerável em função de propósi.
tos predefinidos, estabelece-se um grau aceitável de realismo descri
tivo l10s pressupostos ("erro de pressuposição"). ~ote-se que nao
es-tamos propondo a realização desse tipo de "teste de teorias", muito
lr:~nos apresentando quaisquer argunentos em favor da sua pratic:!bi1i
13.
1.4 - Diferentes Tipos de "Realismo"
Quando foram analisadas as proposições que formam o
argu-menta de Friedman, vimos que a primeira delas define claramente o
sentido de "realismo" de pressupostos a que o mesmo se refere: sao
"irrealistas" aqueles pressupostos que omitem-se com relação a
di-versos traços e entidades reais. Portanto, pela própria referência
das proposições do argumento, ele nao pode dar fundamento a proposi
ções que afirmem a impossibilidade do exame direto da conformidade
dos pressupostos a realidade quando, nessas proposições,
"irrealis-ta" é tomado por "falso", "inaplicável" ou "contendo termos teóricos".
Afinal, esses vários sentidos de "realismo" sao de natureza distinta.
Podemos ver ainda que o argumento nao se aplica a realismo
dos pressupostos nos tr~s filtimos sentidos mencionados, da seguinte
maneira: a primeira proposlçao do argumento, F.I, diz que os press~
postos de uma teoria nunca sao (nem podem ser) completamente "realis
tas"; e e com base nessa proposição que Friedman tenta construir toda
a justificativa de seu principio, lembrando sempre que cxatid~o
J2S-c r i t Í\" a e U:-:I a 'lU e s tão de g r a li •
inaplica-14.
bilidade, conter ou não conter "termos. teóricos" não sao sempre
questões de grau: uma hipótese pode ser exatamente falsa, ou precl
samente inaplicivél. Assim, nada no argumento mostra que e
imprati-cável descart.-ar aquelas que têm pressupostos ,falsos, iTlaplicãyeis ou
contendo "termo,s teóricos", antes e independentemente de quaisquer
testes das implicações.
Ao contrário do Que diz a proposição F.3i há uma base para
decidir-se se um certo grau, de afastamento do realismo con'stitui ou não
uma "aproximação suficientemente boa" da realidade. Isso acontece
quando a diferença entre duas teorias com respeito a afastamento do
realismo de seus pressupostos significa que uma delas tem
pressupos-tos falsos e a outra nao; nesse caso, pode-se adotar o crit~rio óbvio
de que nao constituem "boas aproximações" aquelas teorias com press~
postos falsos.
Assim, como vimos, o Argumento Centr~J.l de Friedman nao apoia
suas afirmações de que: a) o Gnico teste releyante da validade
ernpi-rica de uma teoria é a comparação do que dizem suas implicações com
o que se constata na experiência; b) nao e possível cOJi1parar o que
di;:cm diretamente os pressupostos de teorias com o que se observa na
15.
2 - Avaliaç~o de Comentirios sobre Friedman
Examinar cada argumento de cada comentarista de Friedman
exigiria um trabalho bastante extenso. Não nós propomos fazê-lo; em
vez disso, avaliaremos rapidamente algumas das mais importantes afir
maçoes feitas por aqueles comentaristas e debatedores.
2.1 - t\agel
Em primeiro lugar, lembramos que o argumento de Friedman
fracassa, nao op~nas porque abstraç50 e confundida com falsidade e
com Qutras coisas (razão lembrada pelos debatedores), mas
principal-mente porque Friedmnn gratuitaprincipal-mente introduz nele como premissa a
afir:nação que quer provar (que o teste das implic::!ções e a IÍnica aI
ternatlY2 possivel),
16.
pressupostos irrealistas no sentido de abstratos e plenamente conclu
Mas ~agel engana-se, como vimos.
Sem dúvida, como parte de sua argumentação (F.l), Friedman mostra
que toda proposição e "abstrata", e, por conseguinte, que os mais
minuciosos pres'supostos em termos descritivos ainda serão "abstratos".
Mas nada no argumento induz-nos a preferir os pressupostos mais
abstratos ao menos abstratos, ou seja, a preterir aqueles "realistas"
em favor dos ""irrealistas" .
•
t\agel diz ainda que o Princípio ~"Ietodológico de Friedman e
correto, embora a argumentação deste último nao dê fundamentos para
o mesmo; e anuncia pretender mostrar que efetivamente aquele Princí
pio e correto (1963, pp.211, 219). Contudo, não chega a realizar
tal pretensão e, pelo contrário, desdiz o Princípio: enquanto a Tese
de Fried~an afirma que o teste das implicaç6es e o único teste rele
vante da validade empírica de uma teoria, ~agel diz que tal
afirma-tiva necessita obviamente de qualificação (p.2l4): c que algtlmas
\"e-zes a falta de reJli~o dos pressupostos pode ser estabelecida
Jirc-tali1cnte.
- - - ---
-está em questão, e nao parece ser negado por nenhum dos críticos oe
Fricdman ou dos cr~ticos das teorias econômicas com pressupostos
ir-realistas. Do ponto de vista do ensaio de Friedman, e necessário que
o teste das implic3çôes seja o Gnico pcssível ou relevante, pois
assim tem-se ~ma base para argumentar contra os críticos do irrealis
mo dos pressupostos econômicos.
De qualquer maneira, o ~rtigo de ~agel vale a pena ser
li-do pelos interessali-dos em aprofundamento de estuli-dos metoli-dológicos; es
crito por um eminente filósofo da ci~ncia, autor do clássico The
Structure of Scicnce (Nagel, 1961), apresenta com clareza conceitos
básicos sobre a estrutura lógica de teorias, "termos teóricos" e
"regras àe correspondência" bem como sobre instrumentalismo (na p.213,
i tem 3 e p. 218). Naturalmente, a visão mais recente desses
assun-tos é algo diferente, pois ~agel, embora nao sendo
lIL
2.2 - Rot\\'ein
o
ensaio crítico de Rot\Vein (1959) ,ê em grande parte prej~dicado por dois pontos: em primeiro lugar, ele toma os eXC:I1.plos
ana-lógicos de Friedman, especialmente ~quele referente ã Lei de Ga1ileu,
como sendo a parte pr{ncipal da argumentação de Friedman (ver
Rotwein, 1959, p.556). Em segundo lugar, sua crítica a Friedman ~
e
baseada em uma concepção de validade empírica em função da probabill
dade das predições da teoria. Não há necessidade de recorrer-se a
essa concepçao para demonstrar os defeitos dos ensaios de Friedman,
além de que essa concepçao támbêm e cheia de defeitos (que não apr~
sentaremos aqui).
2 • 3 - ~Ie 1 i t z
~,Ic]itz (1965) t:mbém adota, como Rot"ein, uma conccpç?io Je
19.
(nas pp. 46, 52). para criticar o Princípio de Friedman, No que
res-ta, o argumento central de Friedman ê criticado somente com rel~ção
a confusão entre abstração e falsidade.
De ~ato. Melit: tamb~m critica adequadamente como incorreta
a realização de testes onde as hipóteses auxiliares são falsas.
Con-tudo, a identificação de pressupostos com hipóteses auxiliares em
teste, atribuida a Friedman por causa de seu exemplo da Lei de Galileu,
não é um defeito que apareça no Argumento Central friedmaniano.
Pelo menos nas proposições desse Argumento, pressupostos sao
tomados no seu sentido apropriado de postulados. Além disso, todo o
raciocínio de Friedman busca demonstrar a impossibilidade de
realiza-çao de testes diretos de pressupostos Ce a possibilidade Gnica de
tes-tes de ilnplicações) com base em características presumidamente
ineren-tes à natureza dos pressupostos; portanto, com base em dificuldades
presumidamente sempre presentes, mesmo que se planej e testes de ülodo
.: (l •
2.4 - Bear e Orr
Bear e Orr (1967) tamb~m procuram mostrar qu~ não i ross
f
vel testar teorias quando as hip6teses auxiliares do teste sao
fal-sas. Contudo. nessa demonstração confundem a operação l6gica de
formação de propcsições condicionais com a relação l6'gica de
implica-ção(e confundem o consequente de tima proposição condicional com a
consequ~ncia 16gica dela). De modo algum o raciocínio dos autores
abala o Princípio ou o Argumento Central de Friedman.
2.5 - Samuelson
A argumcntaç~o de Samuelson (1969) dirige-se, nio contra
o ArgUi:lCnto Central de Friedman. mas tent:1ndo del:lonstrar que o
pro-prio Princípio· '.:~todo]ógico 0stâ crrado. S8íiluc]son fracassa nessa
tentativa. I :=. 5 o s e p o d c ver a n a 1 i s a n d o o d C' s d o b r :1 :l e n t o d o a r g II i1 C n t o
71.
A primeira parte do argumento de Samuelson diz que quando
pressupostos, teoria, e consequências lógicas da teoria sao
logica-mente equivalentes ("idênticcs". na expressa0 dele). um é tão
v.:rd~-deiro ou tão falso como o outro (hão podemos ter pressupostos f::llscs
e consequências verdadeiras). Esta parte do argumento, por~m, i irre
levante - em um caso como este teríamos três formulações equivalentes
da mesma teoria, e nao uma dada teoria, suas consequências lógicas e
seus pressupostos distinguíveis entre si.
Na melhor das interpretações, o argumento apenas mostra o
seguinte: se uma teoria for testável de algum modo, quer pelo teste
das implicações, quer pelo teste dos pressupostos, todas as suas
for-mulaçBes logic3rnente equivalentes serio testiveis do mesmo modo.
Isso de modo algum demonstra que se a teoria for testável pelas
lm-plicações também o será pelos pressupostos ..
As duas partes seguintes do argumento de Samuelson tratam
de casos onde i feita a distinção correta entre pressupostos e imp1i
cações ca teoria (simbolicamente, a distinção é representada no
argu-':lento deI e por A+ =}
c
ou por A==.>
C- ~ ignoramos a desnecessária2l.
a) Se as consequências são confirmadas empiricamente, mas
não temos evidência (direta) sobre os pressupostos, simplesmente
sus-pendemos julgamento a respeito desses Gltimos. A validade empirica
das primeiras nio di qualquer respaldo as Gltimas.
Essa afirmação de Samuelson çontradiz a teoria da
confir-maçao ou da corroboração empfrica, onde a confirmação de implicações
da teoria dá pelo menos um apoio fraco aos pressupostos. Note-se:
da confirmaçio de implicações da teoria não inferimos logicamente a
verdade dos pressupostos. Mas demonstração de verdade e repasse de
apoio empfrico nio devem ser confundidas, um com outro, nem este
GI-timo deve ser confundido com suspensao de julgamento.
De qualquer modo, a afirmação de Samuelson foge do assunto:
a questio em foco não ~ como devemos nos pronunciar a respeito Jos
pressupostos com base em evidência concernente as implicações, mas
se ~ possfvel fazer algum teste diferente do teste das irnplicaç6cs.
b) Se existe evidência contra os pressupostos, eles devem
ser abandonnJos.
Essa afiric;lção também foge do assunto; o pont.o em foco nao
po-•
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, ~.:..")
.
de-se obter evid~ncia direta contraos nressupostos, isto i, sem
rea-lizar um teste das implicações?
c) Se as consequ~ncias sao falsas, a teoria deve ser
abandonada.
(Tambim foge ao assunto, pela mesma razão).
d) t absurdo propor (pelo fato de que as conseque~
cias da teoria sao válidas} que isso i tudo o que j~porta, e que não
nos devemos preocupar com os pressupostos (isto e,com o seu
"realis-mo direto").
Ao contrário das outras, esta afirmação concerne diretamen
te ao te~a do Principio de Friedman. Contudo, limita-se a discordar
do Principio, sem apresentar razoes para tal discordincia.
2.6 - Simon
~ 4 •
sequências de lima teoria qualquer para dar apoio aos pressupostos
dessa teoria. Simon pode estar quC'rendo dizer duas coisas diferentes;
a) COI'lete uma falácia lógica quem parte da verdade ((lU da
corfirmação) das conscquências de uma teoria qualquer para inferir
logicamente a verdade dos pressupostos.
Certamente, comete uma falácia lógica quem faz isso. Con
tudo, essa falácia nao ê cometida por Friedman no seu Argumento Cen
traI. E tampouco e cometida no Princípio de Friedman, que aliás,
nao ê um argumento, rr:as uma conjunção de duas proposições: a) O único teste relevan
te da validade empírica de uma teoria ê o teste das implicações;
b) Nio e possível realizar-se testes diretos dos pressupostos. ~cle
nao há premissas nem conclusões, nao se realizando, portanto,
qual-4uer infer~ncia dirigida das conclusões para as prcmissas.
A adoção desse princípio também nao requer que pessoa al-"
gum~ cometa a falácia de inferir a verdade dos pressupostos a partir
da verdade das conclusões; requer apenas que nao se tente testar
di-rC't;:ll71ente os pressupostos.
b) Comete Uíla falácia lógica qucm parte da vC'rdade (ou da
25.
Isso é ~ncorrcto: 'aí não se comete qualquer falácia lógica,
pois atribuir apoio empírico a proposições nao significa inferir
10-gicamente ou demonstrar sua verdade. Tal atribuição implica apenas
em afirmar que as proposições em questão for.am confirmadas ou
corro-boradas.
De qualquer modo, se nao pudéssemos atribuir confirmação
ou corroboração aos pressupostos a nao ser testando-os diretamente,
ainda faltaria enfrentrar a questão essencial levantada pelo Princí
pio de Friedman: podemos realizar tais testes?
2.7 - Koopmans
Como vimos,Koopmans (1957) argumenta o seguinte contra
Fricdman:a)Toda proposição implica em si mesma. Logo, os
pressupos-tos ta~bêm S30 implicações de si próprios.blRccomenoando o teste
di-reto apenas das implicações, Fricoman também está admitindo sujeição
26.
Acontece que o Princípio de Friedman emprega "implicações"
em um sentido perfeita~ente legítimo e comum em toda a literatura me
todo15gica sobre estrutura l6gica de teorias: no sentido de
proposi-ç6es deJu:id~s das premissas e diferentes delas. Por outro 1ado, o
argumento de Kooprnans tem o defeito de jogar com este e com o outro
sentido de "implicações": proposições deduzidas das premissas, dife
rentes ou idênticas a elas.
Em teoria dos conjuntos, hi a distinção entre subconjunto
e subconjunto pr6prio de um conjunto. Em analogia com a mesma, cha
memos implicação pr6pria de uma proposição à proposição deduzida da
prineira e diferente dela. O Princípio ~!etodológico de Friedman
re-fere-se a teste ~e implicações próprias, nao admitindo, portanto, o
teste direto de postulados.
2.8 - :-'lusgrave
}
--,
.
contra a afirmaç50 de que "qu3nto mais significativa e a teoria,mais
irrealistas são os IHC'SSUpostos". Portanto, deixa de examinar c.xpl.!..
citarnente o Aq~"",:~c'nto (entraI de Fried~an e o seu Frincípio :-Ictocioló
gico. Contudo, fa: ::llgumas cOllsiderações rele\'antes ao tC'rna, ao lem
brar que os pressupostos ~õdern ter diferentes tipos de conteudo.
2.9 - K1appho1z e Agassi
Klappholz e Agassi (1959) devem ser mencionados porque
co-metem a injustiça de atribuir a Friedman uma posição "que impede o
criticismo em geral de teorias". Os autores justificam tal
atribui-çao afirmando que FricdGnn coloca o teste empírico cemo 0nico m~tcdo
aceitivel de criticismo (p.66). Contrariamente a isso, contudo, na
verdade as propostas de Friedman dizem respeito apC'nas a como test.!~!:.
~mpi!:.!..~;:mcnte as teorias (a como examinar se as "categorias" da
te:o-ria t(:1;) contr3pnrtida Ci:lplrica),
ue
;;Iodo algum tomando posição~
s .
Friedman defende o teste das implicações como única r.anei
ra de rea1i:ar tl'::.tc,empÍrico, não o teste cmírico como tínica maneira de
fa-:er crítica. Sem dúvida, hi certos trechos ambíguos no ensaio:
s-;n
do ambíguos, pO,lem ser, so.:inhüs, interpretados de uma maneira ou de
outra. ~las nao se faz uma crítica caridosa interpretendo-os em con
tradição com os trechos claros e explícitos. Assim, Friedman decla
ra explicitamente que a validade de uma teoria (no sentido de
vali-dade que ele emprega, isto e, valivali-dade empírica) não e um critério
suficiente para a escolha entre teorias alternativas CFriedman, 1953,
p.9); e chega a mencionar outras considerações relevantes para essa
escolha (p.lO), tais corno simplicidade e fertilidade ("fruitfulnesslt),
completude 15gica e consist~ncia. Em outros trechos, Friedman cita
generalidade (p.38), rigor e precisão (p.42) como qualidades de uma
teoria.
Klapphoz e Agassi (p.67-8) tnmb~m atribuem a Friedman a p~
siçi? de que ,a aceitação de uma teoria ou a confiança nela (quando a
mesma passa nos testes) deve ser compuls6ria, como se fosse produz!
da por regras ou teoremas. Em vez disso, segundo os autores, tal
c o n f Lm ç a e 11 10 a q ti C s t ii o tI e c s t i r.l;1 ç 5 o S li b j (' t i va .
---~--- ~~~
29.
ausência de refutação nao prova ou demonstra uma teoria (1963, pp.
9, 28),_ que virias hip5teses podem ser consistentes com a mesma
evi-dência disponí\"el (pp. 9-10) e que a "aceitação" de teoria é
provis5-ria (pp. S, 28). Em suma, tudo o que Fried~an diz a respeito é pcrfei
tamente compatível com visio de que teorias são apenas confirmadas ou
corrob,:-radas quando passam em testes (em vez ,de serem
compulsoriamen-te estabelecidas ou inapelavelmencompulsoriamen-te verdadeiras).
Archibald (1961, p.3; 1963, p.70) e Blaug (1980, pp.113-4)
consideram incoerente com a ~1etodologia de Friedman a realização de
avaliação "a priori" de teorias (isto é, críticas com base em
consis-tência, simplicidade, generalidade, etc). Isto significa que esses
dois autores repetem o erro de Klappholz e Agassi em interpretar
Friedman como propondo o teste empIrico como Gnica base de avaliação.
2.10 - Rosenberg
Rosenberg (1976) tamb~m critica inadequadamente o
Princí-pio de Friedman. Segundo o primeiro,
a) Pretender determinar se uma teoria ~ verdadeiia envolve
pretender determinar se são verdadeiras as proposiç5cs que elas
con-têm, inclusive os pressllpostoS.
b) Se ()S pressupostos ~ de uma tp.orla 1:10str3m-se
Prin-30.
cípio de Friedman, a confirmação de implicações testa adequad~mente
a teoria. Logo, a avaliação de pressupostos tamb~m testa a teoria
(con~radi:endo o Princí?io).
A primeira afirmação de Resenberg e, antes de tudo,~mbrgua:
ela dá a entender, mas nao afirma claramente, que para
deterninar-ser a verdade das (ou imputar confirmação is) proposições da teoria
seja necessário testá-las uma a uma. De acordo com a Lógica e a
Teoria da CJnfirmação, essa necessidade nao existe, já que as
propo-sições nao estão isoladas uma da outra,tendo a verdade ou falsidade,
confirmação ou refutação de uma, algo a ver com o valor lógico ou
com o suporte empírico de outra.
Em segundo lugar, aquela afirmação, corno qual~uer outra
que diga ser desejável, conveniente ou relevante testar pressupostos,
foge do assunto do Princípio de Friedman: nada diz sobre a
pratica-bilidade de testá-los diretamente, nem sequer sobre a praticapratica-bilidade
de testá-los de alguma maneira qualquer. Por conseguinte, se nao
adere ao Princípio, também nao o critica.
A sC~l.Inda <lfinn:1ç5o ele Roscnbe:rg e t;l1nb6m neutra e i:ovnta
Ela diz que se os pres::ul'0stos
11e li!";} teoria í0l"C'ITI (dirC'i:;IP'ente) ,C'st:Jdos (c, portJnto, forem
Isso e 6bvio, mas irrelevante: o conteGdo do Principio CO~
siste precisamente. em negar que aquele teste seja possível. E l1ao
se contradi:, p0rque nao afirma que o teste seja possível: Rosenberg
e quem afirma tal coisa.
3. ~xemplos e Interpretél.ção "como se"
3.1 - O Exemplo da Lei de Galileu
Como vimos, Fricdrnan ilustra seu Argumento Central citél.ndo
a seguinte hip6tese da FIsicél.:
H: "A aceleração de um corpo em queda no vácuo é uma cons
t :lJlt e ( g) "
Esta hipótese, scgulh10 ele, teria a seguinte implicaçiio:
· , .. ' -.
te um periodo de tempo (t) qualquer e este per iodo de tempo estão
rel~cior.~dos pela fór~ula s = 1/2. g. t 2 .. .
Friedman contrasta a possibilidade do teste das previs6es
com a impossibilidade do teste pelos pressupostos da seguinte
manei-ra: no primeiro caso, poder-se-ia medir tempo e distincia percorri
dos por um objeto em queda e examinar sua aderência a fórmula dada
em I; no segundo caso, dever-se-ia medir a pressão efetiva do ar,
para ver se o corpo cai ou nao em um vácuo, ou em algo próximo a um
vacuo. Por menor que seja a pressao encontrada, ela nunca sera exa
tamente zero, e não temos uma base definida para tomar como vacuo aI
guma pressao "suficientemente" pequena. A vantagem do teste das pr~
visões, portanto, decorre do fato de que livramo-nos da referência
ao vacuo, que nao existe mais em I.
o
exemplo de Friedman, porSm, está prejudicado porque I naoe legiti!lla::lcnte uma impliCélção de H. E a implicaç~o correta de 11,
fa:" refer~ncia ao vacuo, l1ao tendo, portanto, a vantagem que o exc..m
Para ver qual i"rll("~ç:io correta obtem-se de H, note-se o
raçao. Logo, daí não podemos retirar implicações sobre o
comporta-mento de corpos em um ambiente qualquer, mas sobre corpos no \"3ClIO.
E de fato, core base em H e em outras premissas que ~ao foram ~~plici
tadas, possivelnente por serem 6bvias no contexto da física dos
cor-pos em queda, dedu~imos que a distãncia percorrida por um corpo em
queda no vácuo durante um período de tempo (t) qualquer e este
pe-ríodo de tempo estão relacionados pela f6rmula já citada.
Como partinos de que a aceleração de um corpo em queda no
vácuo
6
urna constante g, uma das premissas nao explicitadas dá oconceito de distância como representável por u~a função matemática
contínua (s) e diferenciável at~ segunda ordem; Dutra define
acele-raç&o, representando-a por d2s/dt2; outra conceitua tempo tambSn
co-mo representável por uma função matemática (t), etc.
Em suma: o exemplo da Lei de Galileu nao serve de fato para
ilustrar o Princípio ~!etodológico de Friedman, e nenhuma contribuição
fornece em apoio 3. este. Os outros exemplos são ainc3. menos claramente
rclacio-nadós cem a Tese Ccntral; por isso, deixamos de 3.nalisá-los.
3.2 - O FiccionisDo de Fricdman
interpretação "como se" de teorias, feita no ensaio de Friedman.
Afinal, este di exemplos de como tcorias podem ser interpretaJ~s Jes
sa EJaneira. mas nao oferece nenhum argu;:Jento justificando a
recc'::Jen-~ação de que essa interpretação seja feita. \'em sequer faz explic~
tamente tal recomendação, dizendo apenas que esse tipo de interpret!
çao e conveniente.
Em segundo lugar, nao so uma recomendação, como até mesmo
qualquer sugestão de adoção desse tipo de interpretação é desneces
siria para os objetivos do ensaio: o Principio Metodol5gico ji
se-ria a solução para o problema ao qual o artigo se dedica. Se os
pressupostos nao podem ser testados diretamente, para que interpr~
ti-los i maneira de ficcção? Afinal nunca es
teve e~ questão o que e mesmo que eles dizem, mas sim a possibilidade
·ou ~aneira de testi-Ios.
Não hi nada no ensaio de Fried~an que mostre alguma utili
dadc para esse tipo de interpretação, muito menos conveni~ncia. Pelo
contrir:i.o, a sugestão tem dois inconvenicntes que Fricdman nao ve;
primciro, ~o adotar-se o Ficcionismo (o que seria feito gratuit;lll,c.nte,
já (!llC 1;<10 fo·ram d;1l10s .1rg·.lfTll:ntos em prol do De~;no), nao se precis~
r b ;"!1;ds do Princípio \!ctodológico, em f<1',or do qual Friedman faz
~Cl'lln
-35.
do, a interpretação "como se" conflita com a posição realista (de in
terprctaç~o literal) adotada tantas vezes ao longo do ensaio.
Apesar da concordância ou co;npla"cência de Ro!\-;ein (1959,p.
572), Bear e Orr (1967, pp.194-S) e Coddington (1972, p.6) com a in
terpretação "como se", ela e desnecessária (mesmo a meros objetivos
de previsão) e, além disso, prejudicial aos objetivos descritivo e
explicativo da Ci~ncia (como lembram Nage1, 1963, p.2l7; Me1itz,196S,
pp.49-S1; ~osenberg, 1976, p.168; ~1usgrave, 1981, p.38S). E a su
gestão de Friedman é inconsistente com o resto de seu artigo, além
inconveniente e desprovi~a de fundanentação.
3.3 - A Irrelev~ncia da Torç~o-F
Samuelson (1963) acha que a Torç~o-F
6
o quehi
de especiale distintivo na ;.lctCldologia de r-riel~i71nn; e ofc.:recc duns versces ;)~r:t
~
realismo ou irrealismo dos pressupostos e irrelevante para a v~lida
de de uma teoria. '
A grande maioria dos debateclores de Fricdman interpr~ta o
conteúdo de sua Tese Central como sendo o da Torção-F menos ousada
ou, pelo menos, como sendo equivalente a ela (por ~xcmplo, RotKein,
1959, pp.567, 570, 572-3, 575; Simon, 1963, p.229; Samuelson, 1963,
p.232; ~Ie1itz, 1965, p.38; Blaug, 1982, pp.104, 108, 112,120). So
mente ~~sgrave (1981, p.377) interpreta (apenas no inicio de seu
ar-tigo) a tese de Friedman como sendo a proclamação do irrealismo como
virtude.
A versao mais ousada certamente nao corresponde ao que
Friedman diz. No trecho pertinente do seu ensaio (1953, pp.14-S),
Friedman' menciona importância de teorias; trocando-se "importância"
por "mérito", para tornar o que e dito mais próximo da Torção-F, con
segue-se ler naquele trecho que, quanto maior mérito tem uma teoria,
mais irrcalistas sao seus pressupostos.
Em vez disso. porem, a Torç50-F diz que quanto rlais i1'r('3
listas sao os pressupostos, mais :nêrito tem \lma teoria; isso n:10 c
a í1C~:'la coisa. ;1cm decorre da é1firj~açi1o oe Fric:c1man. já que a
da afirmação friedManiana. Aliás, o próprio Friedman declara, a pr~
p6sito dessa afir~açio, que a recrproca nao e verdadeira: o irr~a
lismo dos pressupostos nao garante o m~rito da teoria (p.l4).
Assim, se Fricdrnan afirma alguma coisa, nao e a Torçio-F
ousada, mas, talvez, a recrproca dela. Dizemos "talvez" porque a co
locação e feita com evasivas: Friedman nao diz que e assim, mas que
e "quase" assim; . ~
e nao apenas que e "quase assim", mas que e "quase
assim" na nedida em que o realismo dos pressupostos possa ser julg~
do independentemente da validade das prediç6es.
Ora, em diversos raciocrnios ao longo do ensaio, Friednan
dedica-se exata~ente a tentar ~ostrar que esse julgamento independente
e impossÍYel. Portanto, o parágrafo que o pr6prio Friedman chama de
pois de "paradoxal" (p.IS) e r.1ais do que isso: e dispensável, pois
nao traz nenhuma informação concreta. Assim, nem de longe merece a
ir.1port~ncia que infelizmente obteve ao ser tio frequentemente cita
do.
Quanto , a versao cautelosa da Torção~F, vejamos o que de fa
seja irrelevante o realismo dos pressupostos: por outro lado, di:
frequentemente que as críticas ao irrealismo dos pressupostos 530
"largar.,E'nte" irrelevantes. Para I t>lai7d .. te·, em nenhum momento afir:::a
explicitamente que o realismo dos pressupostos seja relevante para
alguma coisa.
2) Quanto ao Princípio ~Ietodológico, este diz apenas que
o teste dos pressupostos ê impossível de ser realizado de modo dire
to e independente do teste das implicações; ou, pelo menos, ê
impossível de ser realizado de modo significativo. Daí pose
de-duzir que ê impossível conseguir avaliar o realismo dos pressupostos
com base na tentativa de testes diretos de pressupostos. Por
con-seguinte, pode-ser também deduzir que sao irrelevantes as tentativas
de aquilatar o realismo dos pressupostos a partir de testes diretos
dos pressupostos.
~1as note-se: sao irrelevantes Jeterminados tipos de tenta
tivas de avaliação: de modo algum o Principio implica na proposição
de que e irrelc\'ante o realismo ou irrc::llisiDo dos próprios prcssuj)CS
tos. Em vez disso, o Princípio e c('i'lpatível com asscvcraçoes tic ,:,:e
o rcali~~o dos pressupostos e relcvante, e que maior realismo e
Aliás, bem de acordo com isso, Friedman sempre classifica
de "lársamente irrelevantes", não o próprio realismo ou irrcalis;:1o
dos prE'ssllflostos, rias :'!s críticas ao irrealismo dos pressupostos: :-::>0
as críticas 8m geral (quaisquer críticas possíveis em -=lualquer época),
mas as críticas feitas até então, por serem baseadas na imprecisão
descritiva constatada diretamente nos próprios pressupostos (pp. 15, 31
41). Segundo ele, tais críticas sao irrelevantes, a menos que sejam
suplementada~ por evidências contrárias às implicações da teoria
cri-ticada (p.31).
Em suma, Friedman nem classifica de irrelevante nem de
re-levante o realismo ou irrealismo dos prE'ssupostos. Em vez disso,
classifica de irrelevante apenas certo tipo de críticas à falta de
realismo- dos pressupostos. Al;m de nao asseveri-la explicitamente,
seu Princfpio nao implica na declaração de irrelevãncia do realismo
dos pr~ssupostos, muito menos equivale a ela.
Como vimos, a Torção-F fraca diz que realismo ou irrealismo
dos pressupostos ê irrelevrl!)te para a validade de uma teoria. Isso
p:nece querer dizer o segu1nte: embora saib;1mos que uma teoria L'm
pressupostos falsos, inanlic3veis ou .lbstratos, tal fato deve ser
: o.
Friedman e ~ue nao podemos saber se uma teoria
ã
realista ouirrea-lista antes de examinarem-se suas implicações (exceto que podemos
sa-ber que ela não e compl etar.Jente real ista); port:mto. s0gundo a Tese
a oportunidade de ignorar o irJealismo dos pressupostos antes de test~r
a teoria nunca se apresenta, já que sem testá-la não podemos saber que
os pressupostos sao irrealistas.
Assim, pelo menos tomada literalmente, a Torção-F fraca
tambim nao expressa com fidelidade a Tese Central de Friedman.
Pode-mos tentar ainda salvar a TorçãO-F, entendendo-a como formulação
des-cuidada de "o teste do realismo dos pressupostos -é irrelevante para
a validade de uma teoria": desse modo, os debatedores de Friedman
teriam omitido a exnressao "o teste do realismo", falando f:,cnos
exa-tamente do pr6prio realismo dos pressupostos.
~1as nem assim a Torção-F modificada expressa corretamente o
Princfpio ~etodo16gico. O que poder.Jos conseguir de mais pr6xir.Jo
des~e Princípio e da Torção-F simultâncamcnte e algo como "a
tcntati-va de testes dir~~ uo realismo dos pressupostos é irrelevante para
a validade de lIT::a teoria" • . \s duas palavras "tcntati\-a" e "direto"
~:10 ('ssfoIlciais, porque: 3) SC':jundo Fri.:::dman, é impossível testar
(dirct:';lOlc·n'C)os pressupost.os; falar de que o teste e irrclc\-onte ~á
1 1 •
vendo seus resultados serem ignorados; porem, Frieuman admite ~renas
que há tcntath":ls," e o propósito central do ensaio e mostrar que elas
nao podem ~er Z:,lcesso; b) Friedman refere-se arenas ao teste di
reto, deixando em aberto entender-se que o realismo dos pressupostos
seja relevante quando avaliado através do teste d~s implicações.
(~esse caso, o sucesso da teoria por esse teste seria intetpretado
como confirmando os pressupostos com algum grau de apoio;.e o insuce
so seria interpretado como mostrando que os pressupostos não sao sufi
cientemente realistas para o propósito ã mão).
4 - Friedman: r\em Positivisr.1o ~cm Instru!TlentaliSi:lo
Procuraremos agora aquilatar o quanto
há
de fundamento naafirmativa de que o ensaio de Friedman expressa uma posição cmp i
1'2.
cistSl ou positivista no sentido clássico, bem como a\"aliarse a '''!e
todologia de Friedman" é positivista nesse sentido. Quase imediata
mente, cxaminarC';.Jos t~mt>ém se a mesma é lügico-positivista, e, C'm
4.1 - Friedman ~ão Positivista
Como se sabe, o mencionado ensaio apresenta diversas id~ias,
relativas a variados tcmas concernentes i metodologia de Economia e
das Ci~ncias Sociais, a maioria bastante divulgadas na literatura. O
impacto específico do artigo, gerando adoções de sua tese, comentários
ou críticas, resultou apenas da parte central do ~esmo; ou seja, da
parte que visava satisfazer o pr6prio objetivo declarado do artigo,
considerando o problema de como decidir a respeito da "aceitação
pro-vis6ria" de alguma hip6tese ou teoria.
Assim, com relação a questão de se o ensaio de Friedman e
positivista ou nao, e interessante tanb~m saber qual parte do ensaio
e ou nao positivista: se as teses centrais posterior~ente adotadas
ou criticadas, ou se passagens laterais as quais se tem Jado pouco
peso.
Por isso, distinguimos no artigo dois conjuntos de idéias:
de um lado, aquelas que constitucm o núcleo c.entral do mesmo, cüncc:r
:-,f"ntcs c:::pccific.!:;\c-nte ao problc!':3 ,lo rcalisno ,los r'ressupostos - o
"Princípio '.Ietodológico Flln(~:ll~cntal". o argumento prin .... ipal c'nscu ['I\Or,
43
rais, ou sobre outros temas metodológicos, que fa:em o recheio do ar
tigo - em suma, que introduzem assuntos, tecem consideraç6es
co~ple-rnentares ou coment~rios de pano-de-fundo~ em vez de tratar do objeti
vo pr inc ipa 1.
Os co:'!cntaristas de Friedman que chegam a classificá-lo de
positivista raramente dão explicaç6es porque o qualificativo seria
cabí\'el. Por essa razão, em uma inspeção gradual do conteúdo do
en-saio, procuraremos as afirrnaç6es que poderiam gerar pelo menos a sus
peita de veicular id~ias positivistas; posteriormente, verificaremos
se as suspeitas t~m fundamento.
o
ensaio de Fried~an nao a~orda quest6cs ontológicas nema respeito da natureza do conhecimento. Por conseguinte, se cabí
vcl, a sua classificação como positivista so pode surgir de id~ias
positivist3s que possivelmente abrace com respeito a objetivos da
Ci~ncia, natureza e valor cognitivo das teorias científicas e do me
todo científico (como sao ou Como devem ser tais teorias, o que
po-dem conter, a que se referem).
Co;nc.;arCI'IOS inspeç icnanuo as idé-ias que formam o rech('io
-lo ('n~:llO; (' n t r e c 1 a s (' n I~ o n t r a; '(\ s In II i tas r c f (' r ê n c i a s e e x p e r i ê Jl C i a
1'-tância; assim por exemplo:
PI. A tarefa da Economia Positiva é proporcionar um sistema
de gen~ralizações (pp. 4, 39, 40) e estas são generali:ações de
fenô-menos (pp.l2, 39).
P2. O desempenho da Economia Positiva deve ser julgado pela
concordância de sua predições com a experiência (~.
4).
P3. Teorias devem ser testadas pela comparação de sua
predi-çoes ou implicações com a experiência Cpp. lO, 12, 15 e muitas outras);
e este ê o único teste relevante da validade de uma teoria ou hipótese
Cpp. 8-9, 40).
P4. Uma teoria e, em parte, uma "linguagem", uma estrutura
da tautologias, e em parte, um corpo de hip6teses substantivas (pp.
7, 11-12, 24-5). Vista a teoria como um corpo de hip6teses
substan-tivas, semente evid~ncia de natureza factual pode mostrar se suas
ca-tegorias t~m uma contranartida empírica significativa Cp.
7).
Estas afirmações têm,
ã
primeira vista pelo menos, um certosa~or positivista. Contudo, elas não devem ser entendidas de maneira
-a extrapolar o conteudo do ensaio. Como dissemos, ('ste não aborda
quC's-tões como a fonte, a natureza e o conteúdo do conhecimento humano ou a
questão da existência e do nodo de existência da realidade. Assim, nao
ê apropriado tentar interpretar o ensaio dentro dos pontos de vista do
Empiricismo Epistemológico ou do Empiricismo Ontológico~ Cabe,
entre-tanto, investigar se Friedman adota, ~uer o Em~iricismo Científico, quer
o f:;iIP i r i Li smo :.:l't odo 16 g i. co.
Por i.sso, cornent~nos ~~da uma das afirmações de rricdm~n
ci-..1 I ~
t S.
1. Esta é a afirmação de Friedman que mais aproxima-se de uma
tese posivista. Segundo essa tese, a Ciencia visa somente organizar
massas de fatos empíricos na forma de sumários ou com~ilações (também
chamadas de gen~rali:ações pelos empiricistas).
A favor da interpretação positivis~a da afirmação esti o seu
enunciado semelhante ~ tese; contra essa interpretação está o fato de
que "generali::.ação" nem sempre tem o sentido de "sumário de dados", te!!.
do muitas vezes também o sentido de "lei científica". Afirmações como
a de Friedman mostram-se claramente positivistas quando contrapoem-se
às teses realistas (de que a Ciên~ia visa representar a realidade, e
os fatos empíricos são apenas parte dos fatos da realidade). Mas o
ensaio de Friedman em nenhum momento entra na questão ontológica do
que seja a realidade.
2. A afirmação P2 dá a impressão de dizer que o único
crité-rio de ~lgar.1ento ou apreciação de teorias é através de suas
predi-çõcs; contudo, ela não declara explicitamwnte tal unicidade, sendo
compativel com a interpretaçio de aue o critério citado é apenas um
critério necessário e importante. E de fato, essa interpretação
re-vela-se a correta mais adiante, quando fica claro que o ensaio
dedi-ca-se a tratar de validade empírica de teorias, não de outros
aspec-tos de sua apreciação, e que o teste de predições é proposto como
úni-co crit~rio de avaliaç~o da existência de contrapartida empírica nas
teo.rias.
3. A afirmação P3 propõe a comparaçao com a experiencia como
forma de av~liação empírica das teroais, e isso nada tem de esp~cial
mente positivista (ê t:!ji1b~m \lma tese rcalista, instrumentalista,
fic-cionista, etc. Talvez somcnte uma corrente metodológica não precise
-l6.
P3. Ainda pro~õe que o ~nico teste emptrico seja o das
im-plicações. Isso ê uma proposta peculiarm~nte friedmaniana. ner.h~m
vínculo tendo, com qualquer das escolas conhec,idas (os f-ositivistas
lógicos admitem que os chamados "enunciados teóricos".nao podem ser
testados diretamente. ~!as nunca propuseram que os pressupostos de
qualquer teoria sao semnre enunciados teóricos).
4. A distinçio entre estrutura formal e interpretaçio subs
tantiva de uma teoria recebeu dos positivistas lógicos impulso e
di-~
vulgaçio ampla, mas de modo algum e uma tese que caracteriza e seja
aceita unicamente pelo Positivismo Lógico (e é compatível com todas
as escolas m~todológjcas citadas em nosso trabalho, inclusive com
o Apriorismo).