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Comportamento das marrãs durante a quarentena

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Academic year: 2021

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Mestrado Integrado em Medicina Veterinária Ciências Veterinárias

COMPORTAMENTO DAS MARRÃS DURANTE A

QUARENTENA

DANIELA PINTO FRAGATEIRO

Orientador: Professor Doutor Francisco Vieira e Brito Co-orientador: Professor Doutor Severiano Silva

UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO Vila Real, 2011

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Mestrado Integrado em Medicina Veterinária Ciências Veterinárias

COMPORTAMENTO DAS MARRÃS DURANTE A

QUARENTENA

DANIELA PINTO FRAGATEIRO

Orientador: Professor Doutor Francisco Vieira e Brito Co-orientador: Professor Doutor Severiano Silva

UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO Vila Real, 2011

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ii

À minha Família, agradeço e dedico

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Comportamento das marrãs durante a quarentena Agradecimentos

iii Agradecimentos

Ao concluir mais um ciclo é o momento para (re)lembrar algumas pessoas que me ajudaram a ultrapassar inúmeros obstáculos e que contribuíram com a sua amizade e sapiência para que este trabalho se pudesse concretizar.

Seria uma imensa lacuna, caso não partilhasse com elas tudo o que me vai na alma e na mente.

Começo por agradecer ao Magnífico Reitor da Universidade de Tás-os-Montes e Alto Douro, Professor Doutor Carlos Alberto Sequeira, pela sua compreensão e condições postas à minha disposição, sem as quais seria impossível a concretização do presente trabalho.

Ao Professor Doutor Francisco Vieira e Brito, por ter aceite orientar a minha Dissertação de Mestrado. As suas ideias, bem como as tão necessárias sugestões e apreciações foram essenciais para a conclusão do presente trabalho. Sempre disponível foi o motor que fez esta dissertação ficar mais rica.

Ao Professor Doutor Severiano Silva meu co-orientador quero também agradecer a sua disponibilidade, as palavras de incentivo e o incondicional apoio sempre demonstrado.

Ao Professor Doutor Miguel Viegas por fazer a minha apresentação na suinicultura onde foi efectuado o estágio, pela vontade demonstrada em acompanhá-lo aquando das suas visitas.

Ao Sr. António Petiz, por me ter acolhido durante o estágio.

Ao Sr. António Carlos Dias, pela sua ajuda, compreensão e paciência. Sem os seus conhecimentos seria para mim muito difícil, entrar no mundo da suinicultura e compreendê-lo. Um enorme bem-haja. Aos restantes funcionários da exploração pela sua simpatia.

Ao Eng.º Ricardo Abreu por ter permitido acompanhá-lo nas visitas à exploração, pela transmissão de conhecimentos, pela disponibilidade em ajudar sempre que necessário.

Ao meu companheiro Américo Jorge, pelos seus conselhos, por ter estado sempre presente, pela força que transmitiu.

Aos meus Pais, Zé e Fátima, pelo seu Amor, por todos os valores que me ensinaram, pelos seus conselhos, pela sua exigência, que me levaram a ser o que hoje sou!

À minha Irmã Mariana, por tudo que juntas partilhámos e vivemos. Pelos seus sorrisos e incentivos.

À minha Avó Celeste, pelo seu encorajamento e ao estar sempre disposta a acolher-me de braços abertos.

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Comportamento das marrãs durante a quarentena Agradecimentos

iv

À Ágata Martins e à Joana Andrade, minhas queridas e inesquecíveis companheiras do dia-a-dia. Por tudo o que passámos juntas, momentos de alegria, momentos de desânimo, mas que juntas soubemos ultrapassar. Nunca vos vou esquecer!

Aos meus vizinhos Regina, Ismael e Anocas, por manterem a sua porta sempre aberta, pelos deliciosos jantares, pelas animadas conversas até altas horas e pela sua inequívoca amizade.

A todos os meus colegas de Curso por todos os momentos que partilhámos ao longo de 6 anos. Ao Alexandre Coxo, Andreia Silva, Helena Maia e Raquel Carvalho, pelas conversas que mantivemos, pelas trocas de ensinamentos e pela amizade.

À Teresa Raposo e Daniela Talhada pela sua amizade e por me terem proporcionado os seus valiosos apontamentos que tanto me auxiliaram.

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Comportamento das marrãs durante a quarentena Índice v Índice Resumo ... vii Abstract ... ix Lista de figuras ... x Lista de quadros ... xi

Lista de fotografias ... xii

Lista de abreviaturas ... xiii

Introdução e objectivos ... 1

Parte I – Revisão bibliográfica ... 3

1 – Importância da quarentena numa exploração ... 4

2 – Comportamento social dos porcos (organização, dominância hierárquica) ... 5

3 – Comportamento à chegada após o transporte ... 8

4 – Comportamento em grupo de adaptação ao espaço ... 10

Parte II – Componente experimental ... 12

1 – Material e métodos ... 13

1.1 – Características da exploração... 13

1.2 – Maneio dos animais: alimentação, ventilação, limpeza, programa profilático ... 15

1.3 – Temperatura e Humidade relativa... 19

1.4 – Dados do estudo do comportamento recorrendo a filmagem ... 20

1.4.1 – Obtenção das imagens para análise dos comportamentos ... 21

1.4.2 - Metodologia de observação dos comportamentos... 21

1.5 – Análise Estatística ... 22

2 – Resultados e discussão ... 23

2.1 – Análise dos comportamentos observados ... 23

2.2 – Comportamento agonístico observado durante as refeições ... 28

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Comportamento das marrãs durante a quarentena Índice vi Referências Bibliográficas ... 31 Anexo A ... 39 Anexo B ... 41 Anexo C ... 42 Anexo D ... 43 Anexo E ... 45

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Comportamento das marrãs durante a quarentena Resumo

vii Resumo

Actualmente há uma forte preocupação para avaliar o bem-estar dos suínos em ambiente de produção. Nos últimos anos essa preocupação tem levado à publicação de numerosos trabalhos sobre aspectos relacionados com as porcas em produção. Todavia, há pouca informação sobre a avaliação do comportamento de marrãs durante a quarentena.

Neste sentido o presente trabalho tem como principal objectivo a avaliação do comportamento das marrãs durante o período de quarentena. Com base num grupo de 49 marrãs importadas de França foram constituídos 5 grupos que foram alvo do trabalho experimental. Os grupos em estudo eram compostos por 4 (grupos I, II e III) ou 5 porcas (grupos IV e V) com a

mesma área disponível por marrã (1,55 m2). Para a análise dos comportamentos foi seguido um

etograma em que se estudaram os comportamentos de descanso, em pé, movimento, exploratório, mastigar, social, agonístico, beber/eliminar e comer. As observações foram feitas com auxílio de uma câmara de vídeo (Sony® Super SteadyShot, modelo HDR-SR11 E), e os comportamentos analisados em computador. Para a análise dos comportamentos foi seguida a metodologia de observação designada de Scan Sampling. Com esta metodologia foram registados os comportamentos de todos os animais de cada grupo foram considerados os períodos “antes da refeição das 8 horas” (8ANT), “durante a refeição” (8DUR) e “depois da refeição” (8DEP). De forma idêntica foram obtidos registos “antes da segunda refeição das 16 horas” (16ANT), “durante” (16DUR) e “depois” (16DEP). A duração para cada um destes períodos foi padronizada para 300 segundos. O trabalho experimental decorreu durante 41 dias e foi dividido em três tempos (T1, T2 e T3). Em que o T1 corresponde a 6 dias na primeira semana após a chegada das marrãs, T2 corresponde a 5 dias entre o 11º dia e o 21º dia e T3 corresponde a 5 dias entre o 25º e o 41º dia. A análise dos comportamentos foi realizada por um factorial, sendo estudados os efeitos tempo e período. Os grupos foram utilizados como repetições. A comparação de médias foi realizada pelo teste de Tukey HSD.

Como era de esperar há um efeito altamente significativo (P<0,0001) do período para todos os comportamentos excepto para o “comportamento de movimento” (P=0,2225). Já para o efeito tempo apenas o “comportamento descanso” (P=0,0004), “comportamento mastigar” (P=0,0138) e “comportamento beber/eliminar” (P=0,0011) mostraram ser significativos. Estes resultados mostram de uma forma generalizada uma marcada alteração do comportamento durante a refeição, quer na manhã quer à tarde. Relativamente ao “comportamento agonístico” este ocorre apenas durante as refeições (P<0,05) e não existe, ao contrário do que seria de esperar, um efeito

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Comportamento das marrãs durante a quarentena Resumo

viii

do tempo embora se observe uma tendência para a sua redução (P=0,1061). De uma forma geral ao longo da quarentena não foram observados comportamentos que sejam indicadores de problemas com o bem-estar das marrãs mesmo nas situações em que são geralmente referenciados problemas, como é o caso da formação de novos grupos ou de interacções agressivas durante as refeições. Este resultado certamente fundamenta-se no facto de os animais terem origem muito próxima.

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Comportamento das marrãs durante a quarentena Abstract

ix Abstract

Currently there is increase concern for the pig welfare assessment at the production environment. In recent years this concern has led to the publication of numerous reports related with producing sows. However, little information is available about gilts during quarantine period. In this sense this work has as main objective the assessment of the behavior of gilts during the quarantine period. From 49 gilts imported from France 5 groups were made for experimental work. The groups were composed of 4 (groups I, II and III) and 5 gilts (groups IV and V). All animals have the same area available (1.55 m2). For the behavior analysis it was followed an ethogram in which behavior rest, standing, movement, exploratory, chewing, social, agonistic, drink/eliminate and eat were studied. The observations were made with the aid of a video camera (Sony ® Super SteadyShot, HDR-SR11 E), and behaviors observed in the computer. Scan sampling methodology was performed for behavior analysis. With this method behaviors of all the animals in each group were considered for periods at 8 a.m. and 4 p.m. before, during and after the meals. The experimental work has 41 days duration and was divided into three times (T1, T2 and T3). The analysis of the behaviors was done by a factorial, being studied the effects of time and period. Mean comparison was performed by Tukey test As expected there is a highly significant effect (P < 0.0001) of the period for all behaviors except to movement behavior (P = 0.2225). For time effect rest (P = 0.0004), chew (P = 0.0138) and drink/eliminate (P = 0.0011) behaviors have shown significant. Regarding agonistic behavior this mainly occurs during meals (P < 0.05) and contrary what was expected this behavior unchanged along time, although a trend for its reduction (P = 0.1061). The results herein, based on observed behaviors; show that along the quarantine the gilts were on a satisfactory welfare condition, unlikely comparable situations which often referenced aggressive interactions during meals as a result of new group formation. This result is certainly based on the fact that the animals have a very close origin.

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Comportamento das marrãs durante a quarentena Lista de figuras

x Lista figuras

Figura 1. Vista aérea da exploração ... 13 Figura 2 Maquete da sala de quarentena onde foi realizado o estudo ... 16

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Comportamento das marrãs durante a quarentena Lista de quadros

xi Lista de quadros

Quadro 1. Indicadores fisiológicos habituais de deficiente bem-estar durante o transporte ... 9

Quadro 2. Esquema de alimentação das marrãs durante a quarentena... 17

Quadro 3. Esquema profiláctico das marrãs durante a quarentena ... 18

Quadro 4. Etograma seguido para o estudo de porcas em quarentena ... 20

Quadro 5. Comportamento das marrãs (ocorrências por 5 minutos) durante os três tempos e os seis períodos considerados ... 23

Quadro 6. Comportamento de comer e agonístico das marrãs (ocorrências por 5 minutos) durante os três tempos e durante as refeições ... 28

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Comportamento das marrãs durante a quarentena Lista de fotografias

xii Lista de fotografias

Fotografia 1. Observação das lesões corporais durante o descarregamento dos animais ... 16 Fotografia 2. Parque onde estava o aparelho µMetos instalado ... 19

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Comportamento das marrãs durante a quarentena Lista de abreviaturas xiii Lista de abreviaturas ANT Antes β-OHB Hidroxibutirato CE Comunidade Europeia CK Creatinina cinase DEP Depois DUR Durante

EPM Erro padrão da média

FAO Food and Agriculture Organization

FFA Ácidos gordos livres

FAWC Farm Animal Welfare Council

kcal/Kg Kilocalorias por kilograma

kg Kilograma

m Metro

m2 Metro quadrado

OECD Organization for Economic Co-operation and Development

P Período

PCV Volume globular

PMB Picture Motion Browser

T Tempo

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Comportamento das marrãs durante a quarentena Introdução e objectivos

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Introdução e objectivos

O porco, tanto pelo número de animais existentes como pela quantidade de carne produzida, tem um papel fundamental no fornecimento de proteína animal. Entre 1980 e 2000 a produção de carne aumentou 75% (OECD, 2004). Dados de 2010 mostram que a China é o maior produtor mundial com 55% da produção mundial e a UE-27 com 21% aparece como segundo produtor mundial (Chiba, 2010). Estes valores reflectem o potencial da espécie para a produção de carne sobretudo suportada por sistemas de produção intensiva (Marchant-Forde, 2009). Por outro lado, e em especial na UE, o sucesso desta espécie também se relaciona com a produção de carne de boa qualidade e com garantia em termos de segurança alimentar (Aumaitre, 2003).

Na produção de suínos e em particular nos sistemas intensivos a substituição do efectivo é determinante para um óptimo rendimento da exploração (Marchant-Forde, 2009). A taxa de reposição das porcas situa-se frequentemente entre os 40 e 50 % (Rodriguez-Zas et al., 2003 e Anil et al., 2005). A maior parte das causas que estão associadas à substituição das porcas ligam- -se à idade e à redução da fertilidade mas outras causas, como os problemas ligados à claudicação, também têm expressão (Marchant et al., 1996 e Karlen et al., 2007). Para além disso há a mortalidade, que é muito variável, mas que pode representar até 10% das porcas (Marchant-Forde, 2009). Assim a taxa de reposição anual de marrãs varia consoante as necessidades de cada exploração e tem como objectivo melhorar o rendimento da exploração. As marrãs vão ser as futuras progenitoras da exploração, pelo que uma boa adaptação vai influenciar o seu tempo de vida bem como a capacidade de produção de leitões/parto e ainda o seu bem- -estar (Spoolder et al., 2009).

Para haver uma boa integração dos novos animais numa exploração é necessário um período de adaptação às novas condições nomeadamente ao microbismo, ao alojamento, alimentação e maneio. A quarentena representa por isso uma importante fase do ciclo produtivo dos suínos e que deve ser alvo de avaliação. Nesta avaliação podem-se usar diferentes critérios como é sugerido por Appleby (2002). Este autor agrupa esses critérios em: físicos (saúde, crescimento e reprodução), mentais (bem-estar e sofrimento) e “naturalidade”. Estes critérios vão de encontro ao conceito das cinco liberdades (“five freedoms”) dos animais, propostas pela primeira vez em 1979, pelo FAWC (Farm Animal Welfare Council) – Reino Unido, nomeadamente liberdade de fome, de sede e de subnutrição, que inclui o direito ao acesso a água e a comida em quantidades suficientes; liberdade de desconforto, que inclui o direito a um abrigo

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Comportamento das marrãs durante a quarentena Introdução e objectivos

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adequado para se protegerem e resguardarem; liberdade de dor, de doenças e de lesões, que inclui o direito à prevenção e ao tratamento destas; liberdade de medo e de stresse, que inclui o direito à ausência de sofrimento; liberdade para expressarem os seus comportamentos naturais, através de um ambiente envolvente adequado. Mais recentemente a preocupação de avaliar o bem-estar nos suínos em ambiente de produção foi levado a cabo com o projecto “Welfare Quality” que confirmou que a Europa e os seus cidadãos consideram o bem-estar dos animais de produção como um assunto merecedor da máxima atenção (Blokhuis et al., 2008). Neste sentido o presente trabalho tem como principal objectivo a avaliação do bem-estar das marrãs durante o período de quarentena com recurso à análise do seu comportamento.

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Parte I

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Parte I Comportamento das marrãs durante a quarentena Revisão Bibliográfica

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Parte I – Revisão bibliográfica

1 – Importância da quarentena numa exploração

Numa suinicultura é fundamental a manutenção de um fluxo de porcas de substituição (White, 2010) que são avaliadas pelo seu potencial para melhorar a genética, a produtividade e a rentabilidade da exploração (Knox, 2005). Como as porcas de substituição são o futuro da exploração é necessário dar passos bem ponderados na preparação, planeamento e execução da substituição das reprodutoras de forma a maximizar a sua vida produtiva minimizando os problemas de saúde (White, 2010).

A introdução de reprodutoras nas explorações constitui sempre um risco sanitário devido à possibilidade de estes animais serem portadores de doenças infecto-contagiosas ou estarem a incubar algum agente infeccioso ausente na suinicultura de destino (Meincke et al., 2008). Sendo assim é necessário garantir que o estado sanitário das novas porcas corresponda, tanto quanto o possível, ao da exploração de acolhimento (White, 2010). Uma vez conhecidos estes dois elementos em termos qualitativos e dinâmicos, o sucesso da introdução de reprodutoras de substituição será baseado numa boa conduta e gestão da quarentena (Corrégé, 2002), minimizando assim as diferenças sanitárias entre ambas as explorações (Safranski, 2005). Para garantir um bom estado sanitário das marrãs, Morés et al. (1999) recomendam que estas sejam adquiridas em centros de genética e/ou selecção certificados que façam regularmente controlos serológicos de diversas doenças.

As porcas recém-chegadas devem ser mantidas por um período mínimo de 30 dias na quarentena isoladas da restante exploração (FAO, 2010). Este período permite a detecção precoce de sinais clínicos (Holyoake, 2009) podendo o suinicultor observar os animais e determinar se estão doentes ou não (FAO, 2010). Durante a quarentena devem-se estabelecer procedimentos de adaptação de forma a permitir que as porcas de substituição se adaptem à flora microbiana da exploração, bem como planos de alimentação e maneio (FAO, 2010). Este período pode ser usado para vacinações devendo procurar-se a orientação de um veterinário para se estabelecer um correcto programa vacinal adaptado às necessidades da exploração (White, 2010).

Em síntese, os objectivos principais da quarentena são o acompanhamento do estado sanitário dos animais e adaptação destes ao microbismo da suinicultura (Corregé, 2002) e a sua correcta introdução e integração na exploração o que irá determinar o sucesso da sua produtividade a longo prazo (White, 2010).

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Parte I Comportamento das marrãs durante a quarentena Revisão Bibliográfica

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2 – Comportamento social dos porcos (organização, dominância hierárquica)

Para melhor se compreender as consequências da introdução dos suínos nos sistemas de produção comercial, é fundamental conhecer a sua origem e o seu comportamento social na natureza (Marchant-Forde, 2010). O comportamento livre dos porcos no ambiente natural pode fornecer informações úteis sobre a dimensão e importância dos seus comportamentos, das suas escolhas e proveito do habitat, podendo também facultar pistas para as suas necessidades habitacionais (D’Eath et al., 2009). Os autores Arey et al. (2006) defendem que “compreender o comportamento dos porcos é essencial para compreender as suas necessidades e evitar problemas de bem-estar”.

Os porcos foram domesticados há cerca de 5000 a 10000 anos atrás e possivelmente são descendentes de uma só espécie, o javali eurasiático (Sus scrofa) (Hemmer, 1990 e Clutton-Brock, 1999). No estado selvagem, Turner et al. (2005) sugerem que os ancestrais do porco doméstico coabitam em grupos matriarcais, pequenos e geneticamente relacionados. De acordo com Courboulay et al. (2002) e Bolhuis (2004), tanto o porco selvagem como o doméstico são animais gregários.

No ambiente natural, Graves (1984) (citado por Samarakone, 2009) considera que a estrutura social primária, consiste em duas ou quatro javalinas, os leitões mais recentes e os descendentes juvenis, sendo estabelecida por uma hierarquia de dominância. Os machos subsistem em pequenos grupos de jovens, ou solitários quando mais velhos, excepto durante a época de reprodução quando se juntam às fêmeas e seus leitões (Gonyou, 2001).

Nos modernos sistemas de produção os porcos são frequentemente limitados a construções de alojamento simples e monótonas que oferecem pouco potencial no desenvolvimento dos comportamentos específicos da espécie (van de Weerd et al., 2009), e têm dificuldade em adequarem-se a essas limitações acabando a maioria por desenvolver comportamentos de má adaptação, como “mastigar em seco”, estereótipos ou excessiva agressão (Bolhuis, 2004) manifestando desta forma comportamentos de stresse e frustração (Chapinal et

al., 2010).

Os pequenos grupos de porcos normalmente mantêm uma linha social hierárquica simples que é relativamente estável ao longo do tempo (Marchant-Forde, 2010). Nas suiniculturas os grupos são geralmente maiores, principalmente durante as fases de recria, engorda e acabamento e como normalmente os sítios de cada fase são separados, quando há transferências pode ocorrer reagrupamento de animais (Gonyou, 2001), o que oferece ao

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Parte I Comportamento das marrãs durante a quarentena Revisão Bibliográfica

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produtor um melhor aproveitamento das instalações (Spoolder et al., 2000). Estas práticas originam graves problemas de bem-estar com resultado de interacções de agressão. Foi o que verificaram Arey et al. (1995) (citados por Ferreira, 2009) que mostraram que misturar porcos desconhecidos, de peso e idade semelhantes, origina graves agressões, mais evidentes no primeiro dia e até à formação da hierarquia. Uma hierarquia de dominância é importante para haver estabilização no grupo, mas sob condições comerciais, os animais submissos podem estar em desvantagem para acederem à água e alimento (Blackshaw, 2003). Georgsson et al., (2002) salientam que os sistemas de alimentação devem ser projectados para prevenir que os animais dominantes do grupo se apoderem excessivamente do comedouro.

As interacções sociais entre membros do grupo podem envolver comunicações vocais (D’Eath et al., 2009), sendo o olfacto o principal meio de reconhecimento entre os indivíduos (Courboulay et al., 2002 e Dalton, 2008). Segundo Gonyou (2001), em condições comerciais os porcos lutam vigorosamente para excluir animais desconhecidos do grupo.

Existem muitos factores que condicionam a expressão dos comportamentos dos porcos. Para Ferreira (2009), a densidade apresenta um importante papel, particularmente quando há competição para beber, comer e/ou explorar/fossar. DeDecker et al., (2003) referem que maximizar o aproveitamento de espaço por animal tem uma elevada importância económica. Saber a superfície requerida por animal depende de vários factores como a dimensão do grupo, o peso por animal, o tipo de pavimento e as condições ambientais (Courboulay et al., 2002). Cada animal deve usufruir de um espaço que permita sentar-se, deitar-se, mudar de posição e exprimir normalmente o seu comportamento e interacções (Weng et al., 1998). Segundo Marchant-Forde, (2010) a quantidade de espaço existente por animal vai influenciar as agressões. Permitir que os animais se movam pelos parques para obter recursos sem entrar no espaço de outro e que tenham a oportunidade de se desviarem ou escaparem de potenciais agressores vai reduzir a ocorrência de agressões (Gonyou, 2001). Em geral, se o espaço facultado diminui, o número de interacções agressivas aumenta (Weng et al., 1998). Num trabalho em que os porcos dispuserem de espaço suficiente a sua qualidade de vida melhorou, puderam escapar dos agressores e manifestaram comportamentos exploratórios e de brincadeira (O’Connel, 2009).

Quando ocorrem lutas os animais envolvidos podem apresentar lesões, sendo que as consequências podem ser graves tanto em relação ao bem-estar do animal como em termos económicos para o produtor (Marchant-Forde, 2010). O número de lesões de pele “lesion score”, é muitas vezes utilizado como indicador de agressões após reagrupamento (Turner et al., 2005). Quando existem elevados níveis de agressão no grupo há um maior risco de mortalidade e de

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Parte I Comportamento das marrãs durante a quarentena Revisão Bibliográfica

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ferimentos nos animais (Spoolder et al., 2000). Estes autores referem ainda aumento no número de lesões de pele e uma redução no crescimento.

O comportamento exploratório é um dos mais importantes para estes animais. De acordo com D’Eath et al. (2009), os porcos passam 75% do seu tempo activo a fossar, podendo a ausência de substratos adequados que permitam efectuar esse comportamento levar a um reencaminhamento inadequado para outros porcos do grupo. Os sistemas de produção intensivos proporcionam uma diminuta ou nula oportunidade para desenvolver essa actividade, o que pode levar ao aparecimento de comportamentos anormais como caudofagia e o mascar de orelhas (Arey et al., 2006). O enriquecimento do ambiente com brinquedos, substratos (por exemplo palha) entre outros, pode reduzir a agressividade e a excitabilidade promovendo o bem-estar, uma diminuição dos comportamentos agressivos, permitindo deste modo uma vida mais activa e social (Markowitz et al., 1990 e Ferreira, 2009).

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Parte I Comportamento das marrãs durante a quarentena Revisão Bibliográfica

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3 – Comportamento à chegada após o transporte

A determinada altura da sua vida todos os porcos têm de ser transportados, excepto aqueles que nascem e morrem ou são eutanasiados na mesma exploração (Marchant-Forde, et al. 2009). No regulamento CE n.º1/2005 do Conselho, 22 de Dezembro de 2004, está documentado que o transporte de animais na União Europeia está assente em determinadas normas que devem ser respeitadas com o objectivo de que os animais não corram riscos de ficar lesionados ou sofram desnecessariamente e disponham de condições apropriadas para satisfazer as suas necessidades etológicas e fisiológicas.

O transporte de suínos consoante o momento e as condições em que é feito pode envolver flutuações na temperatura, acarretar densidades elevadas, levar ao reagrupamento de animais, impor ausência de alimento e de água, condicionantes estas que aumentam o esforço dos animais pois estes não estão familiarizados com as condições e procedimentos de um transporte, podendo acarretar problemas físicos e/ou comportamentais (Lambooij, 2007)

No estudo de Bryer et al. (2011) estes autores defendem que marrãs transportadas por um período superior a 30 horas sem paragem para repouso são sujeitas a stresse agudo e alterações na homeostasia, provavelmente devido a desidratação, privação de alimento e ao próprio transporte em si. No quadro 1 são apontados indicadores fisiológicos habituais de deficiente bem-estar durante o transporte. Broom (2003) acrescenta que uma viagem de longa duração tem um risco acrescido de um deficiente bem-estar e uma inevitabilidade no aparecimento de problemas, sendo muito importante uma boa monitorização dos animais com uma frequência adequada de inspecções e condições que permitam que estas mesmas inspecções sejam realizadas de forma completa.

Depois de um longo período de transporte, Thorell (2009) refere que os porcos podem estar exaustos sendo necessária uma descarga o mais suave possível para não causar ainda mais stresse aos animais. Marchant-Forde et al. (2009) acrescentam que após o transporte os animais precisam de um período de tempo para recuperarem do stresse do transporte período esse que dependente de muitos factores como a duração da viagem, condições ambientais, densidade animal, entre outros. À chegada, os animais são sujeitos a novas condições de alojamento e, eventualmente, a um reagrupamento social, precisando de 6 a 9 dias até que a sua taxa metabólica atinja valores normais. Durante este período deve evitar-se todas as outras formas de stresse entre as quais a própria alteração de alimentação (Barrio et al., 1993). Por seu lado Wechsler et al., (2007) afirmam que as primeiras horas ou dias após a introdução dos animais

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Parte I Comportamento das marrãs durante a quarentena Revisão Bibliográfica

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num novo ambiente é a fase mais susceptível de causar alterações no seu comportamento devido à nova informação que é adquirida e processada pelo animal, pois estes vão ter que se adaptar ao novo ambiente e funcionamento da exploração.

Quadro 1. Indicadores fisiológicos habituais de deficiente bem-estar durante o transporte (adaptado de Knowles et al., 2007).

Factores de stresse Variável fisiológica

Análise do sangue

Privação de alimento ↑ FFA, ↑ β-OHB, ↓ glucose, ↑ ureia

Desidratação ↑ Osmolaridade, ↑ proteínas totais, ↑ albumina, ↑ PCV Esforço físico ↑ CK, ↑ lactato

Medo, perda de controlo ↑ Cortisol, ↑ PCV

Enjoo ↑ Vasopressina

Outras avaliações

Medo, lesões físicas ↑ Frequência cardíaca, ↑ frequência respiratória Hipotermia/Hipertermia Temperatura corporal e temperatura cutânea FFA – ácidos gordos livres; β-OHB – hidroxibutirato;

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Parte I Comportamento das marrãs durante a quarentena Revisão Bibliográfica

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4 – Comportamento em grupo de adaptação ao espaço

A adaptação de um animal a um dado ambiente é o resultado de interacções complexas entre a situação sanitária e as condições de alojamento de uma exploração e as características do animal, isto para além do próprio maneio. Daí resultarem situações em que há a visualização de sinais clínicos habitualmente associados a uma ansiedade persistente – úlceras do tracto digestivo (Blasques et al., 2005) ou muito frequentemente alterações no comportamento que estão associadas ao desconforto (van de Weerd et al., 2009). Com o tempo os animais vão aprendendo as características específicas do seu alojamento resultando em alterações do seu comportamento, numa tentativa de o optimizar tanto em termos fisiológicos como de bem-estar (Wechsler et al., 2007).

No trabalho de Dalton (2008) é referido que os porcos, devido ao seu desenvolvido comportamento exploratório, aprendem rapidamente todos os detalhes de um novo ambiente. Studnitz et al. (2007) acrescentam que parte do comportamento exploratório é estimulado pela curiosidade que a pesquisa do novo ambiente desperta no animal. A este propósito Beattie et al. (2000) mostraram que porcos explorados em sistemas de alojamento alternativos e enriquecidos (espaço extra e com uma área com materiais para explorarem) são menos susceptíveis ao medo e têm uma maior capacidade de adaptação à novidade, exibindo um comportamento de locomoção significativamente maior, vocalizando mais frequentemente, comparativamente com os companheiros alojados em sistemas intensivos (piso ripado e espaço mínimo/porco). A resultados semelhantes chegaram Geverink et al. (1999) que comparam a adaptação a um novo ambiente de porcos provenientes de parques enriquecidos com palha com porcos alojados em condições mais pobres. Os primeiros demonstraram uma ocorrência de comportamentos exploratórios (cheirar, mordiscar, fossar, mastigar) significativamente maior. Estes autores analisaram estes resultados em relação à quantidade de stresse envolvida na carga, transporte e descarga num novo ambiente e concluíram que os porcos oriundos dos parques com palha são menos afectados por esses procedimentos.

Os alojamentos dos sistemas de produção intensiva actuais estão idealizados de forma que os animais tenham zonas diferenciadas para diversas actividades, tais como descanso, alimentação, abeberamento e eliminação (Wechsler et al., 2007). Courboulay et al. (2002) referem que a condição em que o piso normalmente se encontra vai influenciar o modo como o animal diferencia a zona suja (dejectos) da zona limpa (descanso).

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Parte I Comportamento das marrãs durante a quarentena Revisão Bibliográfica

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Outros aspectos associados ao ambiente como a iluminação, a humidade e a temperatura podem influenciar o comportamento dos animais; num trabalho apresentado em 2003, Pedersen e seus colaboradores afirmam inclusivamente que os porcos são muito sensíveis mesmo a pequenas mudanças climáticas. Tomando como exemplo a temperatura, por ser um dos factores mais importantes, verifica-se de que num novo ambiente os porcos alojados em grupo vão adaptar as suas necessidades e posturas de acordo com a sua zona de neutralidade térmica. Em ambientes quentes vão procurar estar deitados sozinhos numa posição lateral preferindo alimentarem-se em horas do dia mais frescas ou diminuindo o consumo de alimento. Já em ambientes frios deitam-se sobre o esterno e juntos uns dos outros, podendo aumentar o consumo de ração para compensar as suas perdas energéticas (Courboulay et al. 2002).

Na concepção e gestão dos sistemas de alojamento deve-se considerar as necessidades comportamentais espécie-específicas dos animais para haver uma boa adaptação destes. (Wechesler et al., 2007).

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Parte II

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Parte II Comportamento das marrãs durante a quarentena Componente experimental

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Parte II – Componente experimental

1 – Material e métodos

Durante o estudo acompanhou-se um grupo de marrãs recém-chegadas à nova exploração, com o intuito de compreender melhor a sua adaptação ao novo espaço, bem como os comportamentos em grupo. Para isso observou-se os comportamentos em grupo durante o período de quarentena, acompanhando sempre os animais nos diferentes momentos tais como chegada, agrupamento, alimentação, vacinação, entre outros, tendo especial atenção ao comportamento social.

1.1 – Características da exploração

A exploração onde realizamos o nosso trabalho, localiza-se em Enxemil, concelho de Ovar, distrito de Aveiro – Portugal (N 40º50´42'', W 8º 37' 19''). Trata-se de uma exploração intensiva de ciclo fechado que funciona em regime de multiplicação, recria e engorda, com capacidade para 300 porcas. É composta por dois pavilhões individualizados, orientados na direcção Este – Oeste, dispondo ainda de um módulo, uma sala de quarentena individualizada, enfermaria, balneários masculino e feminino, escritório e armazém (Figura 1).

Figura 1. Vista aérea da exploração (fonte: “Google Maps”)

1 – Cobrição/Gestação 5 - Engorda 2 – Maternidade 6 - Quarentena 3 – Recria 7 - Balneários 4 - Módulo 1 2 3 4 5 6 7

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Parte II Comportamento das marrãs durante a quarentena Componente experimental

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Um dos pavilhões possui uma sala para varrascos e porcas vazias, uma outra sala para porcas gestantes, quatro (4) maternidades e três (3) recrias; o outro pavilhão é constituído exclusivamente por salas de engorda em número de seis (6).

Esta exploração funciona com intervalos entre bandas de uma semana, sendo o número de animais por banda variável. Todas as semanas há uma repetição em todos os procedimentos (inseminação natural, assistência de partos, desmame, lavagem/desinfecção de salas…).

A quarentena está isolada dos restantes pavilhões é constituída por duas salas, uma possui 7 parques a outra 8 tendo capacidade para 55 animais. O pé direito máximo desta sala é de 3,80 m e mínimo de 2,80 m. O sistema de alimentação é manual com uma chupeta por parque. O piso é de cimento com regos para escoamento dos líquidos (água/urina). A ventilação é estática, tendo cada sala uma janela de cada lado, com uma área de 1,7 m2 com persianas. A iluminação é natural recorrendo-se a luz artificial em dias escuros (dados complementares da exploração em anexo).

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Parte II Comportamento das marrãs durante a quarentena Componente experimental

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1.2 – Maneio: alimentação, ventilação, limpeza, programa profilático

Animais:

As marrãs observadas no presente estudo foram compradas à empresa “Diffusion Sélection Porcine, Duffort” situada em França. Os animais foram transportados por via terrestre em camião desde França até Portugal. Nesse camião foram transportadas 200 marrãs com diferentes destinos; algumas ficaram em Espanha e outras em Portugal. A exploração onde foi realizado o presente estudo recebeu 49 marrãs. As marrãs vieram acomodadas em grupos de 9 a 11 animais; cada grupo tinha à disposição uma zona de abeberamento com duas chupetas, cama de serrim colocada sobre o piso de chapa antiderrapante. Os diferentes grupos estavam separados uns dos outros podendo no entanto haver contacto focinho com focinho. As porcas foram mantidas nas respectivas divisões durante toda a viagem, não tendo havido reagrupamentos. A ventilação era assegurada pelas janelas (ventilação natural) e por extractores (ventilação artificial).

Durante a totalidade do percurso o camião deteve-se cinco vezes, tendo o período mais longo de paragem totalizado seis horas. Em nenhuma das paragens os animais foram alimentados. A viagem decorreu sob boas condições climáticas – esteve sempre sol. O percurso utilizado compreendeu principalmente autoestradas e ocasionalmente algumas estradas secundárias. Ambos os motoristas tinham formação de transporte de animais.

À chegada as marrãs foram descarregadas directamente na quarentena utilizando um sistema hidráulico de descarga, tendo sido reunidas em grupos de 4 e 5, todas elas irmãs entre si tentando-se sempre manter o grupo da viagem. Dos grupos em estudo os I, II e III eram compostos por 4 porcas cada e os IV e V por 5 animais cada. Cada porca dispunha de uma área de 1,55 m2. A sala onde se realizou o estudo estava dividida em 7 parques. O aparelho µMetos que fez a recolha de dados referente à temperatura e humidade foi instalado no parque II.

A Figura 2 representa a maqueta da sala da quarentena onde foi realizado o estudo do comportamento das marrãs.

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Parte II Comportamento das marrãs durante a quarentena Componente experimental

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Zona do bebedouro Zona alimentação Zona descanso

Figura 2. Maquete da sala de quarentena onde foi realizado o estudo. (escala 1:100)

As marrãs nascidas em Abril de 2010 apresentavam à chegada um peso compreendido entre os 100 e os 110 kg, com uma condição corporal 3, consultar em anexo o método de avaliação da condição corporal. Apresentavam igualmente algumas lesões corporais, como se observa na Fotografia 1. Os pesos registados ao 21º dia oscilaram entre os 115 e os 125 kg; no último dia a pesagem variou entre os 125 e os 135 kg. Em todas as fases verificou-se uniformidade entre os animais.

Fotografia 1. Observação das lesões corporais durante o descarregamento dos animais.

I II III

IV V

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Parte II Comportamento das marrãs durante a quarentena Componente experimental

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Maneio:

Como a ventilação no edifício da quarentena é de regulação manual abria-se ou não as persianas consoante o ambiente no interior e as condições climáticas exteriores. Durante o período da noite ficavam fechadas e todas as manhãs regulava-se de novo a abertura das persianas.

A limpeza era feita duas vezes ao dia (excepto dias de muito trabalho e Domingos). O processo de limpeza consistia em retirar as fezes, varrer e aplicar Salvonit® (pó de secagem) e pelo menos uma vez por semana, lavar os parques com auxílio de uma mangueira. A cama inicialmente era de serrim, a partir do 4º dia optou-se por não colocar nada.

Alimentação:

Os animais eram alimentados duas vezes ao dia, exceptuando no primeiro dia e aos domingos, apenas uma vez, tendo-se adoptando o esquema indicado no Quadro 2.

Quadro 2. Esquema de alimentação das marrãs durante a quarentena.

Dias Quantidade (Kg/porca) Alimento concentrado

0,5 (devido ao jejum prologado) 801

2º ao 10º 1 801

11º 1,1 801

12º ao 16º 1,1 Mistura de 801 + cobrição/gestação + maternidade (retiro gradual da 801)

17º ao 32º 1,1 Mistura de cobrição/gestação + maternidade 33º ao 39º 1,2 Mistura cobrição/gestação + maternidade (retiro

gradual da segunda)

40º ao 41º 1,2 Cobrição/Gestação

A composição das diferentes rações ministradas aos animais está descrita em anexo.

Programa profilático:

Durante o período que as marrãs estiveram na quarentena, estabeleceu-se o esquema profiláctico descrito no Quadro 3.

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Parte II Comportamento das marrãs durante a quarentena Componente experimental

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Quadro 3. Esquema profiláctico das marrãs durante a quarentena.

Dia Administração

Vacina Suvaxyn® Aujeszky Desparasitante Paramectin® 1% Vacina Suvaxyn® M.hyo – Parasuis 13º Vacina: Gletevax® 6 + Parvosuin®-MR 20º Vacina: Rinipravac®-Dt + Amervac®-PRRS 27º Vacina Suvaxyn® Aujeszky

34º Vacina: Gletevax® 6 + Parvosuin®-MR 41º Vacina: Rinipravac®-Dt + Amervac®-PRRS

Os fármacos utilizados nas operações vacinação e desparasitação utilizados encontram-se descritos em anexo.

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Parte II Comportamento das marrãs durante a quarentena Componente experimental

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1.3- Temperatura e humidade relativa

Com o objectivo de compreender se ocorreram ao longo do trabalho experimental variações de temperatura e humidade relativa que pudessem estar para lá dos valores considerados óptimos para a espécie utilizou-se uma estação climática electrónica compacta (μMetos; modelo – ZTNoise V03.02, Pessl Intruments GmbH. – Weiz – Áustria). Este equipamento foi colocado a cerca de 1,65 metros de altura (Fotografia 2) e possuía sensores para a quantificação de temperatura e humidade relativa. Verificou-se que ao longo do período experimental a humidade relativa foi de 76 ±10% e a temperatura de 19 ± 3 ºC, o que está dentro dos valores de conforto da espécie (Muihead et al., 1997; Scott et al., 2009).

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Parte II Comportamento das marrãs durante a quarentena Componente experimental

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1.4 – Dados do estudo do comportamento recorrendo a filmagem

A análise do comportamento dos animais para inferir sobre as condições em que estes se encontram constitui uma abordagem frequente (Wemelsfelder et al., 2009). Estes autores defendem que ao se utilizarem indicadores de comportamento (exemplos: calma, sociável, agressivo, deprimido), é possível avaliar o bem-estar dos animais.

Para a análise dos comportamentos foi seguido um etograma que foi definido com base na experiência própria e com a informação de trabalhos (Bolhuis et al., 2010 e Ruis et al., 2002) cujo objectivo de estudo era próximo do presente estudo. No Quadro 4 apresentam-se o etograma com os comportamentos observados. Encontram-se em anexo as fotografias que ilustram estes comportamentos.

Quadro 4. Etograma seguido para o estudo de porcas em quarentena Comportamento Descrição

Descanso Deitada de lado ou com a barriga no chão com os olhos fechados ou abertos ou sentada sem realizar qualquer outro comportamento descrito

Em pé De pé sem realizar qualquer outro comportamento descrito

Movimento Andar sem realizar qualquer outro comportamento descrito

Exploratório Cheirar, tocar ou fossar o chão/parede, mordiscar, lamber ou morder as paredes

Mastigar

Mastigar outras coisas sem ser alimento (ex: palha, serrim, fezes…) ou “mastigar em seco”

Social Tocar, cheirar, mordiscar, lamber ou mascar qualquer parte do corpo de uma das companheiras do parque

Agonístico

Bater com a cabeça Morder

Lutar

Empurrar ou atacar uma companheira com a cabeça, sem morder ou mordendo-a Empurrão ou ataque mutuo, ou levantar uma companheira

Comer Comer o alimento fornecido

Beber/eliminar Beber pela chupeta, defecar ou urinar

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Parte II Comportamento das marrãs durante a quarentena Componente experimental

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1.4.1 – Obtenção das imagens para análise dos comportamentos:

As observações foram feitas com auxílio de uma câmara de vídeo “Sony® Super SteadyShot” modelo “HDR-SR11 E”, com 10.2 mega pixels. No final de cada dia de filmagem os vídeos eram descarregados para um computador através do programa da câmara: “PMB” (Picture Motion Browser).

Os animais foram filmados durante os primeiros 6 dias, posteriormente filmou-se dois dias por semana (terça e quinta-feira), num total de 16 dias, tendo a filmagem totalizado 8 horas, 26 minutos e 16 segundos.

No final do trabalho observaram-se todos os filmes, registando a duração, altura do dia e todos os comportamentos observados por filme e grupo. Este registo foi realizado com o auxílio de uma grelha onde se apontavam os comportamentos observados. Os filmes foram analisados em tempo real; quando algum comportamento suscitava dúvida o filme era parado, fazia-se “rewind”/rebobinar para uma observação mais atenta e dissipação de quaisquer dúvidas.

1.4.2 – Metodologia de observação dos comportamentos:

Para a análise dos comportamentos foi seguida a metodologia de observação proposta por Dawkins (2007), designada de Scan Sampling. Com esta metodologia foram registados os comportamentos de todos os animais de cada grupo em seis períodos relacionados com as refeições oferecidas às 8 e às 16 horas. Assim foram considerados os períodos “antes da refeição das 8 horas” (8ANT), “durante a refeição” (8DUR) e “depois da refeição” (8DEP). De forma idêntica foram obtidos registos “antes da segunda refeição das 16 horas” (16ANT), “durante” (16DUR) e “depois” (16DEP). Para cada um destes períodos foram realizadas 3 a 6 observações entre 30 e 150 segundos e registados os comportamentos de cada grupo. A duração para cada um destes períodos foi padronizada para 300 segundos (5 minutos). O trabalho experimental decorreu durante 41 dias e foi dividido em três tempos (T1, T2 e T3). T1 corresponde a 6 dias na primeira semana após a chegada das marrãs, T2 corresponde a 5 dias entre o 11º dia e o 21º dia e T3 corresponde a 5 dias entre o 25º e o 41º dia.

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Parte II Comportamento das marrãs durante a quarentena Componente experimental

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1.5 – Análise estatística

A análise dos comportamentos foi realizada por um factorial, sendo estudados os efeitos tempo e período. Os grupos foram utilizados como repetições. Os comportamentos alimentar e agonístico durante a alimentação foram analisados tendo em consideração os 3 tempos do trabalho experimental T1, T2 e T3 e o período da manhã às 8 horas e o período da tarde 16 horas. A comparação de médias foi realizada pelo teste de Tukey HSD (Tukey-Kramer Honestly Significant Difference). Todas as análises foram realizadas com recurso ao programa JMP-SAS (Version 5.1; SAS Institute Inc. Cary, NC, USA).

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Parte II Comportamento das marrãs durante a quarentena Componente experimental

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2 – Resultados e discussão

2.1 – Análise dos comportamentos observados

Para a análise dos comportamentos (descanso, em pé, movimento, exploratório, mastigar, social, agonístico e beber/eliminar) foram considerados os efeitos tempo e o período. No Quadro 5 são apresentados os valores desses comportamentos por 5 minutos.

Quadro 5. Comportamento das marrãs (ocorrências por 5 minutos) durante os três tempos e os seis períodos considerados.

Descanso Em pé Movimento Exploratório Mastigar Social Agonístico beber/eliminar

T1 21,17 a 16,51 5,63 10,26 3,74 a 3,04 5,09 1,76 b T2 12,83 b 12,68 3,39 10,32 3,06 ab 3,47 3,47 1,95 b T3 10,78 b 13,24 5,80 13,56 2,62 b 3,54 2,80 3,96 a 8ANT 22,08 ab 31,05 a 7,32 10,96 b 7,49 a 7,82 a 0,202 b 1,33 bc 8DUR 0,103 c 0,164 c 2,65 0,162 c 0,155 d 0,436 b 11,17 a 0,303 c 8DEP 29,73 a 15,54 b 5,35 15,26 b 1,95 c 4,36 ab 0,188 b 3,45 b 16ANT 25,02 a 21,44 ab 5,63 12,21 b 5,31 b 5,78 a 0,627 b 2,90 bc 16DUR 0,228 c 0,603 c 3,77 0,554 c 0,251 d 0,446 b 8,78 a 0,569 c 16DEP 12,40 b 16,07 b 4,91 29,14 a 3,84 c 1,26 b 1,75 b 6,80 a Probabilidade Tempo (T) 0,0004 0,243 0,1422 0,2215 0,0138 0,8569 0,1061 0,0011 Período (P) <,0001 <,0001 0,2225 <,0001 <,0001 <,0001 <,0001 <,0001 T*P 0,0005 0,0017 0,1275 0,011 0,3047 0,1061 0,2558 0,0137 EPM (1) Tempo (T) 1,85 1,72 0,95 1,52 0,27 0,69 0,78 0,44 Período (P) 2,61 2,44 1,34 2,15 0,38 0,98 1,10 0,63 T*P 4,52 4,22 2,33 3,73 0,65 1,70 1,90 1,09

Para os diversos comportamentos e para cada efeito, médias com diferente letra representam valores significativamente diferentes (P≤0,05)

(1) EPM – Erro padrão da média

Como era de esperar há um efeito altamente significativo (P<0,0001) do período para todos os comportamentos excepto para o “comportamento movimento” (P=0,2225). Já para o efeito tempo apenas o “comportamento descanso” (P=0,0004), “comportamento mastigar” (P=0,0138) e “comportamento beber/eliminar” (P=0,0011) mostraram ser significativos. Estes resultados mostram de uma forma generalizada uma marcada alteração do comportamento durante a refeição, quer na manhã quer à tarde.

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Parte II Comportamento das marrãs durante a quarentena Componente experimental

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Para análise são de destacar os “comportamentos de mastigar e agonístico”. O “comportamento mastigar” apresenta ao longo dos diversos períodos importantes variações. É um comportamento que se manifesta de forma mais intensa (P<0,05) antes das refeições do que após as refeições e é mais frequente (P<0,05) antes da primeira refeição. Este comportamento é considerado um estereótipo – “vacuum chewing”/“mastigar em seco”. Segundo Vieuille-Thomas

et al. (1995) os estereótipos têm uma origem heterogénea tendo o ambiente um papel

fundamental na sua expressão; a base da sua heterogeneidade pode ser devida a vários factores como a natureza dos substratos disponíveis durante a vida do animal, o ritmo de distribuição do alimento, a percepção que o animal tem do espaço disponível e a suas restrições. Analisando os dados do estudo associamos este comportamento como uma forma de prever a refeição. Robert

et al. (2002) referem que quando as marrãs são alimentadas duas vezes ao dia apresentam mais

estereótipos e são mais evidentes antes e depois das refeições comparativamente com marrãs alimentados uma só vez, independentemente da sua dieta. A frustração é também causa de aparecimento destes estereótipos (Lawrence et al., 1993). Neste trabalho de revisão são apresentados resultados controversos mas que apontam para a distribuição de alimento como causa de estereótipos.

O comportamento “mastigar” mostra ser significativo para o efeito tempo (P=0,0138). Ao

longo do tempo vai havendo uma diminuição na manifestação deste comportamento. Durante o

nosso estudo a quantidade de alimento concentrado/porca foi aumentando o que poderia ter levado a uma maior saciedade das marrãs. Este aspecto pode ter contribuído para o resultado observado. De facto, Bergeron et al. (1997) concluíram que se as reprodutoras mantiverem um sentimento de saciedade de longa duração, a incidência de estereótipos orais tende a diminuir. No nosso caso é mais evidente este estereótipo antes da refeição matinal.

Relativamente ao “comportamento agonístico” este ocorre praticamente apenas durante as refeições (P<0,05) e não existe, ao contrário do que seria de esperar, um efeito do tempo embora se observe uma tendência para este comportamento (P=0,1061). De facto, está bem documentado (Barnett et al., 1992; Mount et al., 1993 e Lindberg, 2001) que quando se constituem novos grupos há uma maior frequência de conflitos entre os animais nos primeiros momentos. Em grupos de 5 ou 6 porcas Barnett et al. (1992) referem que os níveis de agressão são mais elevados nos primeiros 90 minutos após agrupamento; no segundo dia o número de interacções decai até os níveis médios registados nos 15 dias seguintes. Segundo Marchant-Forde (2010), a maioria das agressões sucedem nas primeiras duas horas após agrupamento; nas 24 a 48 horas seguintes o nível de interacções agressivas é basal e a hierarquia é estabelecida. Held et al.

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Parte II Comportamento das marrãs durante a quarentena Componente experimental

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(2002) salientam que a frequência de interacções agressivas diminui ao mesmo tempo que uma hierarquia social estável surge. Essa diminuição da agressividade e a manutenção da mesma a níveis baixos tende a ser o resultado de reconhecimento entre os animais e da memória de cada um relativamente ao “status” social de cada membro do grupo. Assim que o grupo está estabilizado os porcos têm capacidade de memorizar os indivíduos do grupo por períodos desde uma semana (Olsson et al., 1993) até mais que um mês (Spoolder et al., 1996). Os grupos constituídos para o nosso estudo englobam animais ligados por relação de parentesco (irmãs) o que pode explicar uma diminuição de comportamentos agonísticos e a que não fosse observada uma grande frequência de interacções nas primeiras horas após a formação dos grupos. No estudo de Lynch et al. (2000) também não foram visualizadas lutas na primeira hora após o agrupamento. Os autores justificaram este acontecimento com o facto de os grupos formados serem constituídos por animais com laços familiares. Drickamer et al. (1999) acrescentam que existe uma forte componente genética para os comportamentos agressivos exibidos pelas marrãs. Um estatuto de dominância da progenitora afecta as taxas de agressão e o estatuto de dominância social da sua descendência feminina. Este é um factor que pode estar na variabilidade que se observa no tempo até que se estabeleça uma hierarquia estável e depende do indivíduo. Há trabalhos que mostram que o grupo fica estável após 3 dias (Oldigs et al., 1992) ou após 10 dias (van Putten et al., 1990).

As marrãs do nosso estudo já poderiam ter a hierarquia social definida desde muito novas. Blackshaw (2003) refere que os leitões algumas horas após o nascimento já são capazes de reconhecer a sua teta e têm estabelecida uma organização social em relação à ordem dos tetos. Essa organização permite uma vida familiar estável e com o mínimo de concorrência.

No que diz respeito ao “comportamento descanso” verifica-se que o efeito tempo é muito significativo (P<0,001) havendo uma diminuição deste tipo de comportamento ao longo do tempo. Assiste-se, durante os diferentes períodos, a importantes variações sendo que este comportamento se observa de forma mais intensa depois da refeição da manhã comparativamente ao período correspondente da tarde. O comportamento também se destaca antes das duas refeições (manhã/tarde). Segundo Courboulay et al. (2002) em condições semi- -naturais os porcos apresentam dois períodos de actividade (manhã e fim da tarde), passando 70 a 80% do restante tempo em repouso. Em condições intensivas o alimento é dado ad libtum ou em refeições diminuindo assim o período de alimentação e aumentando o descanso. Bergeron et

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Parte II Comportamento das marrãs durante a quarentena Componente experimental

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refeição leva uma redução dos níveis de actividade e a um aumento do repouso no período pós- -refeição o que pode indicar saciedade.

Em termos de “comportamento em pé” testemunha-se uma diminuição ao longo do tempo apesar de o efeito tempo não ser significativo (P≥0,05), ao contrário do efeito período que é altamente significativo (P<0,0001), sendo mais evidente antes da refeições principalmente no período da manhã.

Não se observou a existência de diferenças estatísticas significativas (P≥0,05) em relação ao “comportamento movimento” tanto para efeito tempo como para o efeito período.

O “comportamento exploratório” não apresenta efeito de tempo significativo (P≥0,05) sendo relativamente estável ao longo do tempo. Stolba et al. (1989) mostraram que os porcos domésticos que viviam num ambiente semi-natural despendiam 52% do período diurno a fossar o chão e mais 23% na locomoção e investigação directa dos recursos ambientais.

No que respeita ao efeito período este é altamente significativo (P<0,0001) sendo mais marcado após as refeições, sobretudo após a refeição da tarde. É neste período que as porcas se encontram mais activas despendendo mais tempo para um dos seus passatempos preferidos. Studnitz et al. (2007) afirmam que o fossar tem alta prioridade no perfil comportamental dos porcos e que quando não existem materiais suficientes no parque que incentivem à exploração os porcos vão redireccionar o seu comportamento exploratório para as companheiras e/ou superfícies que constituem o alojamento.

Relativamente ao “comportamento social” não existe um efeito tempo significativo (P≥0,05). Como no nosso trabalho as marrãs tinham a mesma origem nos primeiros dias não foram observadas muitas interacções de reconhecimento (focinho-focinho, focinho-ânus). Dalton (2008) menciona que para os porcos o cheiro e o paladar são muito importantes no reconhecimento uns dos outros. No trabalho de Souza et al. (2006) analisaram-se as diferenças no reconhecimento social entre dois grupos de leitões com 12 dias, um grupo com laços familiares e outro sem parentesco, tendo notado que os leitões sem parentesco quando agrupados despenderam significativamente mais tempo investigando-se uns aos outros do que o outro grupo, sugerindo que no primeiro grupo os animais lembravam-se uns dos outros.

Ao contrário do efeito período que é altamente significativo (P<0,0001), este comportamento é mais frequente nos períodos antes de ambas as refeições, o que pode ser devido a uma antecipação da refeição, levando a uma maior agitação por parte das marrãs ocorrendo mais contactos entre elas.

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Parte II Comportamento das marrãs durante a quarentena Componente experimental

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No que diz respeito ao “comportamento beber/eliminar” ocorre um efeito tempo significativo (P=0,0011), ou seja, a ocorrência deste comportamento aumenta com o tempo. Nos primeiros dias as marrãs tiveram de fazer o reconhecimento do novo ambiente, tendo de aprender onde era fornecido o alimento e separar a área de repouso e de eliminação. Em circunstâncias semi-naturais, Courboulay et al. (2002) referem que os porcos utilizam o espaço disponível em função das suas actividades comportamentais, dando especial atenção à dissociação das áreas de repouso e eliminação. Em condições comerciais preferem um canto escuro e seco para descansar e áreas iluminada, frias e húmidas para eliminar os dejectos.

O efeito período é altamente significativo (P<0,0001), sendo mais usual no período depois da refeição da parte da tarde. Isso justifica-se com o facto de ser nessa altura do dia que os porcos bebem mais água após as refeições. Brumm (2005) menciona que entre os dois períodos de alimentação (manhã e tarde) o consumo de água atinge um pico após duas horas a seguir a refeição matinal e outro uma hora após a refeição da tarde, sendo este maior e que a quantidade de água necessária por porco depende de muitos factores englobando a temperatura, o tipo de alimento, a fase de produção e a saúde do animal.

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2.2 – Comportamento agonístico observado durante as refeições

Para compreender melhor os “comportamentos de comer e agonístico” foi realizada uma análise em que se considerou o efeito período apenas o durante a refeição (Quadro 6).

Quadro 6. Comportamento de comer e agonístico das marrãs (ocorrências por 5 minutos) durante os três tempos e durante as refeições.

Comer Agonístico T1 41,75 13,69 T2 29,96 8,44 T3 36,28 7,81 8DUR 36,50 11,17 16DUR 35,50 8,78 Tempo 0,1429 0,1039 Período 0,8341 0,3579 T*P 0,0216 0,4421 Tempo 4,06 2,21 Período 3,31 1,80 T*P 5,74 3,12

Verifica-se que não há efeito (P=0,8341) do período, isto é, as marrãs apresentam um “comportamento comer” muito semelhante durante a refeição da tarde e da manhã.

Para o “comportamento agonístico” verifica-se igualmente que não existe um efeito do período (P=0,3579). Relativamente ao efeito tempo continua a observar-se uma tendência (P=0,1039) para a existência de diferenças no comportamento agonístico ao longo do tempo em que se realizaram as observações. Como as marrãs do nosso estudo tinham a mesma origem isso pode ter levado a uma diminuição dos comportamentos agressivos entre elas. Para além disso o facto do alimento de ter ser distribuído manualmente no chão do parque pode também ter contribuído para a tendência observada de interacção entre os animais durante a refeição. De facto, D’Eath et al. (2009) salientam que, particularmente em grupos de porcas gestantes, quando o alimentado é fornecido no chão do parque em pilha evidenciam-se agressões durante as refeições. Por seu lado Gonyou (2001) acrescenta que esta é uma situação muito competitiva, tendo as porcas dominantes um papel monopolizador do alimento e as subordinadas são sujeitas a um stresse social e nutricional acrescido. Marchant-Forde (2010) refere que em sistemas de produção os porcos normalmente são alimentados com alimento concentrado de alta qualidade

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Parte II Comportamento das marrãs durante a quarentena Componente experimental

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que satisfazem rapidamente as suas necessidades nutricionais. Em algumas explorações o alimento está disponível por um período extremamente limitado e os animais não têm acesso a um substrato exploratório alternativo tornando o alimento um importante recurso, o que pode representar um papel determinante na quantidade de agressões durante as refeições.

Formar grupos com condição corporal e necessidades nutricionais similares e mantê-los estáveis ao longo do tempo melhora esta situação, o que aconteceu no nosso estudo, em que as marrãs têm a mesma origem e apresentam peso uniforme.

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Parte II Comportamento das marrãs durante a quarentena Componente experimental

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Conclusão

De uma forma geral ao longo da quarentena não foram observados comportamentos que sejam indicadores de problemas com o bem-estar das marrãs mesmo nas situações em que são geralmente referenciados problemas, como é o caso da formação de novos grupos ou de interacções agressivas durante as refeições. Podemos concluir que os animais estabeleceram um fácil equilíbrio como resultado de boas condições de ambiente (instalações, conforto térmico e maneio alimentar) e o pelo facto de os animais terem origem muito próxima, o que permitiu estabelecer uma nova hierarquia sem confrontos.

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Imagem

Figura 2. Maquete da sala de quarentena onde foi realizado o estudo. (escala 1:100)

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