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Projeto de implementação de um sistema agrícola visando o incremento da biodiversidade e a sua sustentabilidade

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Academic year: 2021

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Projeto de implementação de um sistema

agrícola visando o incremento da

biodiversidade e a sua sustentabilidade

Trabalho de Projeto em Engenharia Agronómica

Cristiana da Cunha Teixeira

Orientadores:

Ana Paula Calvão Moreira da Silva

João Miguel Gonçalves Calejo Rodrigues

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Projeto de implementação de um sistema

agrícola visando o incremento da

biodiversidade e a sua sustentabilidade

Trabalho de Projeto em Engenharia Agronómica

Cristiana da Cunha Teixeira

Orientadores:

Ana Paula Calvão Moreira da Silva

João Miguel Gonçalves Calejo Rodrigues

Composição do Júri:

Virgílio Alexandre Cardoso e Falco da Costa

Guilhermina Miguel da Silva Marques

Ana Paula Calvão Moreira da Silva

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“As doutrinas apresentadas neste trabalho são da exclusiva responsabilidade do autor”

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Agradecimentos

Chegando ao fim de mais um ciclo é tempo de agradecer a todos aqueles que de uma forma ou de outra contribuíram para que hoje isto seja possível.

Aos meus orientadores, Professora Ana Paula Silva e Professor João Calejo que foram em todo este tempo pessoas incansáveis e extremamente amáveis, o que me fez sentir que tinha feito uma ótima escolha daqueles que seriam o meu maior apoio ao nível académico.

À minha querida professora Ana Paula, fico grata por todo o seu esforço e pelo exemplo que transmite de perseverança e resiliência, obrigada pela força e inspiração que transmite.

Ao professor João Calejo agradeço toda a sua disponibilidade e abertura, fico grata por toda a ajuda que me deu, porque foi fundamental.

A todos os professores que de alguma forma marcaram o meu percurso académico agradeço os ensinamentos e as experiencias que em muito contribuíram para a minha formação pessoal e profissional.

A todos os meus amigos que, longe ou perto, sempre me deram palavras de ânimo e apoio. Um especial obrigada à Catarina, Maria e Baltazar por todo o carinho.

Aos meus amigos Mário e Zé Miguem um obrigada pelo vosso companheirismo, por tornarem este percurso mais leve e mais animado.

Ás minhas queridas amigas Ana Cristina e Raquel Barbarroxa agradeço todas as horas em que ampararam a minha loucura, em todos os sentidos. Por todos os momentos que marcaram 2 anos incríveis das nossas vidas e pelas mulheres extremamente bonitas e fortes que são.

À minha família, em especial aos meus pais pela oportunidade que me proporcionaram, pelo apoio e carinho.

Ao Pedro, por todo o apoio e amor. Por todas as vezes que as palavras foram “Tu consegues” e “Não desistas” que ainda ecoam e que ajudaram muito a chegar aqui. Pela compreensão, o carinho e companheirismo durante todo este tempo.

Ao meu irmão, a minha força e inspiração, por todas as horas na cadeira do lado, pelo amparo, pelas palavras de conforto, a paciência e a compreensão. Pela força e energia que me transmite todos os dias. Por todo o amor e dedicação, hoje e sempre!

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Resumo

A Biodiversidade e todos os conceitos e filosofias a si associados, têm sido objeto de refleção e de grandes e profundos debates que têm originado um sem fim de iniciativas, levando a acordos e criando nova legislação, de forma a minimizar os graves problemas que se colocam neste mundo global, onde a qualidade de vida e do próprio planeta é posta diariamente em causa. Embora exista a consciencialização de que urge atuar o mais rapidamente possível, são necessárias iniciativas no sentido de conservar o património natural, manter e melhorar a biodiversidade, nomeadamente na área agrícola.

Atualmente assistimos a uma massificação de culturas, onde o objetivo principal é o aumento da produtividade sem atender a espetos relevantes como a biodiversidade funcional do ecossistema envolvente.

A Agricultura Biológica, bem como outras formas de praticar agricultura de forma sustentável, por forma a manter e conservar a vida no solo e no ecossistema envolvente, tem sido uma peça basilar na tentativa de recuperar ou manter a sanidade de muitas explorações tanto ao nível nacional como mundial.

No caso prático estudado tentamos mostrar que é possível e viável manter uma exploração com um grau de biodiversidade desejável, com uma diversidade de espécies e de variedades elevadas, embora com exigências de trabalho e de uma gestão criteriosa. Foi, assim, criado um plano de exploração para percebermos que culturas realizar, onde e como as instalar e foi feita uma análise económico-financeira para perceber a viabilidade do projeto a 10 anos, sempre com preocupações ao nível da sua sustentabilidade ambiental e financeira.

O objetivo do projeto é também disponibilizar produtos frescos e de qualidade numa zona urbana onde a consciencialização para estas questões e para as relacionadas com o consumo de alimentos saudáveis e sazonais, já se verifica e, desta forma, contribuir para a melhoria da qualidade de vida.

Palavras-chave: Biodiversidade, Agricultura Biológica, Sustentabilidade, Viabilidade económica

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Abstract

Biodiversity, and all the concepts and philosophies associated with it, have been the subject of reflection and of great and profound debates that have lead to endless initiatives, leading to agreements and new legislation, in order to minimize the serious problems that arise in this global world, where the quality of life and of the planet itself is put into question every day. While there is an awareness that action needs to be taken as soon as possible, initiatives are needed to conserve natural resources, maintain and improve biodiversity, particularly in the agricultural area.

Nowadays, we are witnessing a massification of crops, where the main objective is to increase productivity without attending to relevant concepts such as the functional biodiversity of the surrounding ecosystem.

Organic farming, as well as other ways of practicing agriculture in a sustainable way, in order to maintain and conserve life in the soil and the surrounding ecosystem, has been a cornerstone in the attempt to recover or maintain the sanity of many farms both at the national level as worldwide.

In the practical case studied, we tried to show that it is possible and viable to maintain an exploration with a desirable degree of biodiversity, with a high diversity of species and varieties, although with labor requirements and careful management. In order to that, an exploration plan was created to understand which crops to carry out, where and how to install them, and an economic-financial analysis was carried out to understand the feasibility of the ten year project, always with concerns about its environmental and financial sustainability .

The intention of the project is also to provide fresh and quality products in an urban area where awareness for these issues and for those related to the consumption of healthy and seasonal foods, is already verified and, in this way, contribute to the improvement of the quality of life.

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Índice Geral

Índice de figuras ... I Índice de quadros ... III Lista de Abreviaturas, Acrónimos e Siglas ...V

Introdução ... 1

Estado de Arte ... 3

1 - Conceitos de Biodiversidade associados à Sustentabilidade Ambiental ... 3

1.1 Ecossistema ... 3

1.2 Serviços do ecossistema ... 4

1.3 Agroecossistema………...………5

1.4 Agroecologia………5

2 - Sistemas de produção ... 13

2.1 Agricultura intensiva versus Agricultura extensiva ... 13

3 - Modos de produção ... 14 3.1 Agricultura convencional ... 14 3.2 Proteção integrada... 17 3.3 Produção integrada ... 18 3.4 Agricultura biológica... 20 4 - Certificações ... 23 5 - Culturas ... 25 5.1 Vinha ... 25 5.2 Árvores de fruto ... 25 5.3 Hortícolas ... 25

5.4 Ervas aromáticas e flores comestíveis... 26

6 – Circuitos curtos agroalimentares de comercialização ... 27

7 - Conceitos económicos ... 29

7.1 Valor Atual Líquido (VAL) ... 29

7.2 Taxa Interna de Rentabilidade (TIR) ... 30

7.3 Período de recuperação do investimento (PR) ... 31

7.4 Análise de Sensibilidade ... 31

Trabalho Prático ... 32

1 – Caracterização do espaço ... 32

1.1 Vias de acesso ... 33

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1.3 Solo ... 34

2 – Tomada de decisão ... 35

2.1 Definição do sistema ... 43

3 – Comercialização ... 61

4 – Análise económico-financeira ... 63

4.1 Organização e estrutura societária ... 63

4.2 Objeto social ... 63 4.3 Produtos... 63 4.3.1 Produção de Mirtilos……….………...65 4.3.2 Produção de Maracujá…….………...………….66 4.3.3 Produção de Alperce……… ………67 4.3.4 Produção de Cereja…….………...68 4.3.5 Produção de Maçã………..………...69 4.3.6 Produção de Vinho………..………...69 4.3.7 Produção de Hortícolas………..………...71 4.3.8 Produção de Batata-doce……….………71

4.3.9 Produção de Ervas aromáticas………...72

4.4 Caracterização dos meios e recursos existentes...74

4.4.1 Património Fundiário e Construções………..74

4.4.2 Máquinas e Equipamentos………..………...74

4.5 A Quinta do Cabo……….75

4.5.1 Proveitos………...……….75

4.5.2 Custos……….76

4.5.2.1 Custos Mercadorias Vendidas e Matérias Consumidas…….…….76

4.5.2.2 Fornecimentos e Serviços Externos………...……77

4.5.2.3 Custos com Pessoal………..………78

4.5.3 Investimentos e Amortização………..……….79

4.5.3.1 Investimento……….……….……...……79

4.5.3.2 Amortizações…….………..……….…………80

4.5.4 Fontes de Financiamento……...………..………....…….81

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4.5.5.1 Demonstração de Resultados………….……….………....…....……81

4.5.5.2 Tesouraria Provisional….……….……….……...……82

4.5.5.3 Balanço Provisional….…….………….……….……...……83

5 – Indicadores Económicos e Financeiros……….…84

5.1 Avaliação de Rentabilidade………...….84

5.1.1 Taxa Interna de Rentabilidade……...………..………..…….84

5.1.2 Valor Atualizado Líquido……..………...……….84

5.1.3 Tempo de Recuperação do Investimento.…...……….84

5.2 Análise de Sensibilidade ... 84

5.2.1 Variação positiva dos Custos ... 84

5.2.2 Variação negativa nos Proveitos ... 85

6 – Análise Swot ... 87

7 –Conclusões/Perspetivas ... 89

8 Referências Bibliográficas ... 89

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I Índice de figuras

Figura 1. Logótipo de Produção Integrada. Fonte: Direção Geral de Agricultura e

Desenvolvimento Rural ... 20

Figura 2. Logótipo do Modo de Produção Biológico. Fonte: Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural ... 22

Figura 3. Logótipos dos vários tipos de certificações. (A)-GlobalC.A.P. (B)-BRC Food Certificated (C)-Demeter (D)- Marks and Spencer’s (E)-Tesco (F)- Sedex (G)-GRASP (H)-Biotur ... 23

Figura 4. Imagem aérea da Quinta do Cabo. Fonte: Google Earth Pro ... 32

Figura 5. Valores médios de temperaturas e precipitação anual em Amarante Fonte: Anónimo, 2017a ... 34

Figura 6. Imagem aérea relativa à distribuição das novas espécies a instalar na superfície agrícola da exploração e estruturas anexas Fonte: Google Earth Pro ... 41

Figura 7. Mirtilos var. Bluecrop Fonte: Anónimo, 2017 ... 45

Figura 8. Maracujá Roxo Fonte: Anónimo, 2017... 47

Figura 9. Alperce var Paviot Fonte: Anónimo, 2014………...48

Figura 10. Cerejas Var. Bical Vermelha Fonte: Anónimo, 2014………...49

Figura 11. Esquema de evolução de um gomo floral de cerejeira. Fonte: Carvalho, 1994 ... 50

Figura 12. Maçã Porta da Loja Fonte: DGADR, 2001 ... 51

Figura 13. Maçã Camoesa Rosada Fonte: DRAPC, 2016………..51

Figura 14. Maçã Camoesa Rosada Fonte: DRAPC, 2016………..51

Figura 15. Casta Arinto ... 53

Figura 16.Casta Azal ... 53

Figura 17.Batata-doce var. Lira ... 56

Figura 18. Ervas aromáticas. Cidreira, Hortelã-pimenta, Manjericão e Tomilho-limão Fonte: Mourão, 2015 ... 57

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III Índice de quadros

Quadro 1. Diferenças entre os sistemas de produção intensivo e extensivo. Adaptado de

Surbhi, 2017... 14

Quadro 2.Somatório das horas de frio para a região de Gatão-Amarante... 34

Quadro 3.Designação dos espaços e respetivas culturas ou utilidades representadas na imagem apresentada na Figura 6 ... 42

Quadro 4.Ciclo anual da cultura do mirtilo, Adaptado de Santos, 2015 ... 46

Quadro 5.Produtividade do Mirtilo, Adaptado de Serrado et al, 2008... 46

Quadro 6.Ciclo anual da cultura do maracujá. Fonte: Madeira, 2014a ... 47

Quadro 7. Ciclo anual da cultura do alperce Fonte: Anónimo, 2017c ... 48

Quadro 8.Calendário de produção das variedades Linda de Fontelo, Bical Vermelha e Rijal ou de saco. Adaptado de Anónimo, 2014 ... 50

Quadro 9.Ciclo anual da macieira. Adaptado de saraiva, 2015 ... 52

Quadro 10.Produtividade da Macieira. Adaptado de Simões et al, 2008... 52

Quadro 11.Ciclo anual da videira. Adaptado de Neves, 2012 ... 54

Quadro 12.Culturas, variedades, compassos, áreas e produtividades respetivas. Fonte: Horto Sementes (2014) e DRAPC (2017) ... 55

Quadro 13.Ciclo anual da Batata-doce. Adaptado de Glória, 2009 ... 56

Quadro 14.Plantas presentes na exploração em zonas não utilizadas com culturas. Fonte: Anónimo, 2017f ... 59

Quadro 15.Resumo das culturas e respetivos trabalhos culturais ... 60

Quadro 16.Calendário de comercialização das culturas... 62

Quadro 17.Resumo das fontes consultadas para os valores utilizados nas contas das culturas... 64

Quadro 18.Custos e receitas da produção de mirtilo ... 65

Quadro 19.Custos e receitas da produção da cultura do maracujá ... 66

Quadro 20.Custos e receitas da produção da cultura do alperce ... 67

Quadro 21.Custos e receitas da produção da cultura da cereja ... 68

Quadro 22.Custos e receitas da produção da cultura da maçã ... 69

Quadro 23. Custos e receitas da produção da cultura da uva para produção de vinho . 70 Quadro 224. Custos e receitas da produção para as culturas hortícolas ... 71

Quadro 25. Custos e receitas da produção de batata-doce ... 72

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IV

Quadro 27. Património Fundiário e Construções Existentes... 74

Quadro 28. Máquinas e Equipamentos existentes ... 75

Quadro 29. Proveitos relativos a cada cultura ao longo dos 10 anos de estudo ... 75

Quadro 30.Custos totais relativos a cada cultura ao longo dos 10 anos de estudo ... 76

Quadro 31.Custos de Mercadorias vendidas e Matérias consumidas para cada cultura ao longo dos 10 anos de estudos e o total... 76

Quadro 32.Fornecimentos e serviços externos para cada rúbrica e o total ... 78

Quadro 33.Evolução e total por ano dos gastos com pessoal efetivo ... 79

Quadro 34.Investimentos em equipamentos e estruturas ... 79

Quadro 35.Valor de amortizações relativas a equipamentos e estruturas a adquirir ... 80

Quadro 36.Demonstração de resultados ao longo dos 10 anos de estudo ... 81

Quadro 37.Cash-Flows para os 10 anos de estudo ... 82

Quadro 38.Balanço provisional dos 10 anos em estudo... 83

Quadro 39.Comparação entre o cálculo de base e um cenário de aumento dos custos em 10% e manutenção dos proveitos para os 3 indicadores económicos ... 84

Quadro 40.Comparação entre o cálculo de base e um cenário de diminuição dos proveitos em 10% e manutenção dos custos para os 3 indicadores económicos ... 85

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V Lista de Abreviaturas, Acrónimos e Siglas

AB - Agricultura Biológica

CAE - Classificação Portuguesa das Atividades Económicas CCA - Circuitos Curtos Agroalimentares

CE - Comissão Europeia

CVRVV - Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes DGADR - Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural DRAPN - Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte EDM - Entre Douro e Minho

GEVPAL - Grupo de Estratégia para a Valorização da Produção Agrícola Local GPP - Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral

ICNF - Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas

IFOAM - International Federation of Organic Agriculture Movements K2O – Óxido de potássio

MPB - Modo de Produção Biológico N - Azoto

NEA - Nível Económico de Ataque

OC - Organismo de Controlo e Certificação P - Fósforo

PAC - Política Agrícola Comum

PR - Período de Recuperação do Investimento P2O5 –Pentóxido de fósforo (óxido de fósforo)

TIR - Taxa Interna de Rentabilidade UE - União Europeia

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1 Introdução

A biodiversidade, a sustentabilidade ambiental e económica das explorações agrícolas e o gosto por projetos que contribuam para uma abertura e proximidade entre o mundo rural e uma sociedade cada vez mais urbana mas também mais exigente, levaram-nos a idealizar este projeto que assenta fundamentalmente no respeito pela natureza e pelo ser humano e que, futuramente, pensamos implementar. A nossa vontade é a de criar um espaço onde o incremento da biodiversidade natural, a produção de alimentos saudáveis e a viabilidade económica da exploração, possam coexistir e contribuir, desta forma, para um equilíbrio ambiental que urge atingir. Assiste-se, atualmente, a extensas plantações de monoculturas, feitas de forma intensiva com recurso a intervenções no solo sistemáticas e à utilização maciça de fitofármacos que colocam em risco outras formas de vida existentes nesses locais, e onde é praticamente impossível a ocorrência de ciclos naturais de vida e a obtenção de níveis tróficos que permitam o desenvolvimento de colónias, tanto animais como vegetais.

A instalação de um sistema que possibilite a coexistência entre seres vivos produtores de alimentos e seres vivos produtores de serviços do ecossistema, que não são mais do que fatores de produção que muitas vezes são desvalorizados, colocados de lado ou mesmo eliminados e, simultaneamente, aliar práticas e estratégias usadas há vários anos como forma de ultrapassar adversidades ou anos atípicos, são os grandes objetivos deste projeto. Fazendo uma gestão integrada com todas as componentes envolvidas, e que seja económica e ambientalmente viável, é um desafio que nos propomos realizar.

Tendo em consideração o que referem Santos et al. (2013), que o futuro da alimentação humana, num mundo global em constante crescimento, com alterações marcantes às dietas alimentares, com escassez crescente de recursos como a água e o solo fértil, e num contexto de alterações climáticas, são novos desafios que se colocam à ciência e à tecnologia assim como às políticas públicas e, consequentemente, a todos nós, enquanto cidadãos e consumidores.

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3 Estado de Arte

1 - Conceitos de Biodiversidade associados à Sustentabilidade Ambiental

O conceito de “biodiversidade” começou a ser desenvolvido a partir de 1986 na sequência do trabalho do entomologista Edward Wilson “Crise da diversidade biológica”. Numa definição mais generalista pode ser tida como “a diversidade de todas as formas vivas em diversas escalas, desde o gene à paisagem”. Simplificando, Sarthoud (2006) sugere que podemos considerar a biodiversidade como a manifestação da vida em todas as suas formas, o que se pode verificar através do numero de espécies e da abundância de cada uma.

Segundo Frison et al., (2011) a biodiversidade agrícola inclui os componentes da diversidade biológica relevantes para a alimentação e agricultura, bem como os componentes da diversidade biológica que constituem o agroecossistema. Embora parte desta biodiversidade seja diretamente realizada para fornecer os bens e serviços à população humana, outra não é diretamente destinada à produção, mas tem uma importância muito relevante como fonte de materiais e pela sua contribuição para os serviços ecossistémicos. São exemplos a polinização, controle de emissões de gases de efeito estufa e dinâmica do solo.

A biodiversidade, segundo outros autores, está relacionada com o número, a abundância e composição dos genótipos, as espécies, os tipos funcionais, as comunidades e unidades de paisagem num dado sistema. As mudanças no clima e a disponibilidade de recursos podem afetar a biodiversidade, tornando-a assim variável. No entanto ela pode também influenciar a taxa, a magnitude e a direção dos processos dos ecossistemas locais. Relativamente ao apoio à produção agrícola, a biodiversidade de organismos, nomeadamente fauna e flora que compõe os agroecossistemas, desempenha um papel essencial (Swift et al., 1996; Pimbert, 1999; Cromwell et al., 2001).

1.1 Ecossistema

Ecossistema, segundo Pereira et al., (2009), é um sistema onde há uma interação entre comunidades de plantas, animais e microrganismos com o meio abiótico. Estas interações produzem um sistema estável, onde o homem é uma parte integrante do mesmo, dependendo dele para obtenção de alimentos e outros produtos e

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4 para uma variedade de funções responsáveis pela sua existência (Matson et al., 1997). Boavida (2001) refere que se trata de uma unidade funcional, o que significa que todas as suas partes estão interligadas, ou seja, o que se passa numa delas produz efeitos em todo o sistema. Pereira et al. (2009) referem ainda que há uma série de benefícios retirados dos ecossistemas pelo homem, nomeadamente os serviços de produção, regulação, culturais e de suporte. O conceito de ecossistema fornece uma estrutura valiosa para a análise e ação sobre as relações existentes entre o ser humano e o meio ambiente. Ainda Boavida (2001) defende que tudo o que é inserido artificialmente nos ecossistemas vai permanecer nos mesmos, nos ciclos biogeoquímicos e acaba por ter consequências muito graves para o ecossistema.

Os conceitos de biodiversidade e de ecossistema estão estritamente relacionados. A biodiversidade integra toda a variabilidade existente entre os organismos vivos incluindo a diversidade dentro de cada espécie, entre espécies e ecossistemas. A diversidade é uma característica basilar dos ecossistemas e a variabilidade dentro destes é um elemento da biodiversidade. Os produtos da biodiversidade incluem muitos dos serviços produzidos pelos ecossistemas sendo que as alterações na biodiversidade podem influenciar todos os outros serviços que os ecossistemas prestam (Pereira et al, 2009).

1.2 Serviços do ecossistema

Segundo Pereira et al., (2009) os serviços do ecossistema são os produtos que estão à disposição e benefício das pessoas, obtidos dos ecossistemas. Como já referido anteriormente serviços como:

 Produção: produtos/bens de consumo, por exemplo alimentos e água potável;  Regulação: produtos intangíveis resultantes da regulação de processos, por

exemplo o controlo de doenças;

 Suporte: serviços fundamentais para a provisão de todos os outros serviços, com impactes indiretos sobre os seres humanos, como por exemplo a formação de solo e a reciclagem de água e nutrientes;

 Serviços culturais: benefícios diretos não materiais, por exemplo a diversidade cultural e a inspiração.

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5 Estes bens e serviços são gerados biologicamente, ou seja, a comunidade de organismos vivos dentro de um determinado ecossistema realiza uma gama diversificada de processos bioquímicos e biofísicos que também podem afetar os sistemas vizinhos (Schulze & Mooney, 1993).

1.3 Agroecossistema

Os agroecossistemas encerram em si múltiplos subsistemas, que interagem e competem entre si numa sinergia motivada pela diversidade dos seus componentes (Labrador Moreno & Altieri, 1994). A sua estrutura é composta por fatores bióticos e abióticos, como por exemplo os organismos vivos que interagem no sistema e a radiação solar, respetivamente. O fluxo de energia e o ciclo de nutrientes são dois processos fundamentais para a manutenção dos ecossistemas. Desta forma, e sendo o sol a fonte primária de energia, este é essencial para todas as formas de vida existentes num agroecossistema. Em relação ao ciclo de nutrientes, os seus principais reservatórios para os ecossistemas são a atmosfera e o solo. A manutenção da fertilidade do solo é fundamental para a manutenção da capacidade de produção dos agroecossistemas.

Segundo Matson et al., (1997) as intervenções que manipulam os agroecossistemas de forma a atender a funções de produção específicas representam custos para o resto do ecossistema em termos de energia, matéria e diversidade biológica e, muitas vezes, afetam negativamente bens e serviços que até agora eram considerados livres e abundantes.

1.4 Agroecologia

O conceito de agroecologia definido por Altieri (1995) representa o desafio de combinar a produção de alimentos e a conservação da biodiversidade em paisagens agrícolas. A agroecologia surgiu como a disciplina que fornece os princípios ecológicos básicos para estudar, projetar e gerir agroecossistemas de forma a conservar os recursos naturais. De acordo com este autor a agroecologia baseia-se numa estrutura metodológica de trabalho que consiste na compreensão mais rigorosa tanto da natureza dos agroecossistemas como dos princípios segundo os quais eles funcionam. A agroecologia é o estudo holístico dos agroecossistemas, incluindo todos os elementos ambientais e humanos. Trata-se de uma abordagem que contempla os princípios agronómicos,

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6 ecológicos e socioeconómicos de forma a ser compreendido e avaliado o efeito das tecnologias sobre os sistemas agrícolas e a sociedade como um todo. Em vez de se concentrar em apenas um componente específico do agroecossistema, a agroecologia enfatiza a inter-relação de todos os componentes do agroecossistema e a dinâmica complexa dos processos ecológicos (Vandermeer, 1995).

Os agroecossistemas são a unidade de estudo e pretende-se que tenham uma dependência mínima de fatores de produção externos. Para isso centra-se nos conhecimentos e nas técnicas dos agricultores. O objetivo é manter sistemas agrícolas complexos onde as interações ecológicas e sinergismos entre os componentes biológicos criem fertilidade do solo, produtividade e proteção das culturas (Gliessman, 1998).

Implícito na agroecologica está a ideia de que, ao entender essas relações e processos ecológicos, os agroecossistemas podem ser manipulados para melhorar a produção e produzir de forma mais sustentável, com menos impactos ambientais ou sociais negativos e menos fatores de produção externos (Altieri, 1995; Gleissman, 1998). Para se obter uma produção sustentável num agroecossistema deve existir um equilíbrio entre plantas, solos, nutrientes, luz solar, humidade e outros organismos. O agroecossistema é produtivo e saudável quando estas condições de crescimento se mantêm, e as plantas permanecem resilientes tolerando stresses e adversidades. Em essência, o comportamento ótimo dos agroecossistemas depende do nível de interações entre os vários componentes bióticos e abióticos. Ao montar uma biodiversidade funcional, é possível iniciar sinergismos que subsidiam os processos do agroecossistema, fornecendo serviços ecológicos, como a ativação da biologia do solo, a reciclagem de nutrientes, o aprimoramento de artrópodes e antagonistas benéficos, e assim por diante (Altieri & Nicholls, 1999). Hoje, existe uma seleção diversificada de práticas e tecnologias disponíveis e que variam tanto em termos de eficácia como em valor estratégico. As principais práticas são as de natureza preventiva e que atuam ao reforçar a "imunidade" do agroecossistema através de uma série de mecanismos.

O primeiro princípio da agroecologia é a preservação e ampliação da biodiversidade dos agroecossistemas (Altieri et al, 1987).

Outros princípios ecológicos de base na agroecologia, segundo Reijntjes et al., (1992) são:

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7  Garantia de condições favoráveis do solo para o crescimento das plantas, particularmente através da gestão da matéria orgânica e do aumento da atividade biótica do solo;

 Minimizar as perdas devido a fluxos de radiação solar, ar e água através da gestão do microclima, recolha de água e manutenção do solo através do aumento da cobertura do solo;

 Diversificação genética e de espécies do agroecossistema no tempo e no espaço; A sustentabilidade é muito difícil de alcançar sem que exista uma preservação da diversidade cultural característica da agricultura local. Por norma, o conhecimento dos ecossistemas resulta em estratégias produtivas multidimensionais de uso da terra, que criam, dentro de certos limites ecológicos e técnicos, a autossuficiência alimentar das comunidades em determinadas regiões (Toledo et al., 1985). Por este motivo, a comunidade científica de países desenvolvidos está a mostrar interesse pela agricultura tradicional nos seus diferentes aspetos e há um reconhecimento de que os métodos que incrementam a diversidade de culturas, imitam os processos naturais. A sustentabilidade dos agroecossistemas complexos está nos modelos ecológicos que os investigadores seguem (Pretty, 1994). Desta forma, é possível obter através do estudo da agricultura tradicional, informações importantes que podem ser utilizadas no desenvolvimento de estratégias agrícolas adequadas às necessidades e preferências de agricultores e aos agroecossistemas regionais (Altieri et al, 1983). Só é alcançada uma produção estável quando existe uma organização social que proteja a integridade dos recursos naturais e estimule a interação harmoniosa entre os seres humanos, o agroecossistema e o ambiente (Chambers, 1983).

Os sistemas agrícolas tradicionais foram evoluindo biológica e culturalmente ao longo de séculos. São o resultado de experiências acumuladas de interações entre os agricultores e o meio ambiente sem acesso a inputs externos, capital ou conhecimento científico (Brokenshaw et al., 1980). A criatividade, o conhecimento empírico das populações e os recursos locais disponíveis, eram os recursos usados pelos agricultores tradicionais que desenvolveram sistemas agrícolas com produtividades sustentáveis (Harwood, 1979). Uma característica notável desses sistemas é o grau de diversidade das plantas, geralmente na forma de policulturas (Clawson, 1985). Essa estratégia de minimizar o risco através da produção de várias espécies e variedades de plantas traz como vantagem a estabilidade da produção a longo prazo, promove a diversidade da dieta

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8 alimentar e maximiza os retornos com baixos níveis de tecnologia e recursos limitados (Richards, 1985).

A coexistência de diferentes estratos cria uma diversidade de habitats e recursos para animais como artrópodes e aves. É o caso de abrigos, locais de repouso, áreas de reprodução e áreas de refúgio para escapar a práticas agrícolas perturbadoras, áreas de produção de néctar néctar e pólen (Greaves & Marshall, 1987).

A biodiversidade nas paisagens agrícolas depende em grande parte da intensidade do uso da terra (Donald et al., 2001; Benton et al., 2002). Segundo Bignal & McCracken (1996) os sistemas de agricultura de baixa intensidade são fundamentais para a conservação da natureza e a proteção do meio rural, enquanto sistemas intensivos de grande escala podem causar grandes problemas ambientais nos ecossistemas agrícolas e não agrícolas. Os sistemas agrícolas diferem de intensidade e, comparativamente ao passado, apresentam grandes mudanças. As políticas agrícolas da pós-guerra na UE centraram-se principalmente no aumento da produtividade agrícola, promovendo inovações técnicas e garantindo o desenvolvimento racional da produção agrícola (conforme o artigo 39 do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE)). Essas políticas podem ser consideradas bem sucedidas na medida em que resultaram em maiores rendimentos e maior capacidade de auto-suficiência. No entanto, o aumento da intensidade agrícola também resultou numa crescente pressão sobre a biodiversidade e isso, provavelmente continuará (Tilman et al., 2001). Petit et al., (2001) indicaram que a intensificação agrícola será a forma mais importante de pressão sobre a biodiversidade nas próximas décadas.

Em resposta à perda de biodiversidade, os objetivos ambientais e a preservação da paisagem nos últimos anos, tornaram-se questões importantes na Política Agrícola Comum da UE (PAC) e nas políticas ambientais relacionadas. O objetivo central da UE para 2020 é travar a perda de biodiversidade e a degradação dos serviços ecossistémicos. Na medida em que seja viável, pretende-se também recuperar essa biodiversidade e esses serviços, intensificando simultaneamente o contributo da UE para evitar a perda de biodiversidade ao nível mundial (ICNF, 2017). Mais do que a diversidade das plantas, é a diversidade das práticas culturais que se pretendem que sejam benéficas (Simon et al. 2010).

Desde a década de 90 que tem havido uma crescente preocupação com o meio ambiente e a consciência do impacto da produção e o efeito das atividades humanas no

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9 meio ambiente e na biodiversidade (Simon et al., 2010). De facto, muitos riscos ambientais estão relacionados com o uso de pesticidas convencionais, a sua disseminação aérea e a contaminação do solo e da água, com efeitos negativos nas comunidades de animais expostas direta ou indiretamente a esses produtos químicos (Aubertot et al., 2005) e na própria saúde humana (Baldi et al., 1998). Além da perda de habitats, os pesticidas também contribuem para a diminuição da biodiversidade vegetal e animal no agroecossistema (Krebs et al., 1999). A redução do uso de produtos fitofarmacêuticos é, portanto, crucial para a implementação de sistemas agrícolas sustentáveis, e especialmente, em sistemas baseados na aplicação sistemática de pesticidas.

Recentemente, a informação sobre os resíduos de pesticidas em frutas também alterou a perceção dos consumidores para alimentos frescos e saudáveis, levando vários países à implementação de programas de zero resíduos (Berrie & Cross, 2006). Atualmente, assiste-se assim, a uma pressão sobre os produtores de forma a satisfazerem as exigências sociais por sistemas ecológicos, nomeadamente produção de frutas saudáveis, mantendo as pragas e doenças abaixo dos limites económicos de ataque e, simultaneamente, manter o rendimento dos produtores (Simon et al., 2010).

Existem, segundo alguns autores, várias estratégias que promovem o restabelecimento da diversidade agrícola no tempo e no espaço como são o caso de: Rotações de culturas. Promovem uma diversidade temporal, fornecendo nutrientes e interrompendo os ciclos de vida de várias pragas e de doenças, assim como os ciclos de vida de infestantes (Sumner, 1982).

Policulturas. Sistemas culturais complexos em que várias espécies são plantadas com uma proximidade espacial suficiente para resultar em competição ou complementaridade, aumentando assim os rendimentos das mesmas (Vandermeer, 1989).

Coberturas de solo. A sementeira de gramíneas e leguminosas puras ou misturadas, ou a utilização de outras espécies de plantas anuais, sob árvores frutíferas, permitem melhorar a fertilidade do solo, melhorar o controlo biológico de pragas, e modificar o microclima do pomar. É também uma medida eficaz de conservação do solo e da água (Finch & Sharp, 1976; Altieri & Rosset, 1996). Esta vegetação ao constituir uma barreira ao movimento do solo, ajuda a reduzir a eutrofização das redes de água, minimizando a concentração de nutrientes, como o azoto e o fósforo, preservando assim as fontes de água para uso humano (Peter & Abivardi, 1998).

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10 A integração animal. A colocação de animais, como ovelhas ou porcos, em agroecossistemas, incrementa a biomassa e uma reciclagem interessante de nutrientes (Pearson & Ison, 1987). Também a apicultura pode trazer mais benefícios até em zonas da exploração não cultivadas, no caso de sebes ou bosques (Chitra & Solanki, 2000). A incorporação de matéria orgânica. Uma adição regular de estrume e composto para além de melhorar a estrutura do solo e o nível de fertilidade também promove a atividade biológica do solo.

Conservação de inimigos e antagonistas naturais. Desta forma permite uma regulação de pragas através de uma maior atividade de agentes de controlo biológico.

Estes princípios podem ser aplicados através de várias técnicas e estratégias. Cada um irá ter efeitos diferentes sobre a produtividade, a estabilidade e resiliência, dependendo das características dos locais, da restrição de recursos e, na maioria dos casos, do mercado. Assim, os sistemas agrogeológicos ao integrarem diversas componentes, permitem uma maior eficiência biológica e a preservação da biodiversidade sem pôr em causa a sua produtividade e o equilíbrio da sua capacidade auto-sustentável.

Clark et al., (1993) defendem que maiores níveis de complexidade na diversificação podem ser observados quando deixa de se praticar um sistema de monocultura e são usadas práticas como a consociação de culturas, onde uma ou mais espécies são cultivadas no mesmo espaço temporal. Isso pode ser feito desde a criação de uma pequena área de uma cultura secundária até situações mais complexas espaciais ou temporais de policulturas.

A diversidade de espécies a cultivar pode aumentar a produtividade dos sistemas agrícolas em várias condições de crescimento bem como torna-los mais resistentes a acidentes meteorológicos e/ou ataque de pragas e doenças. Desta forma, também contribuem para o aumento da segurança alimentar. Os ecossistemas com mais diversidade, com mais espécies ou com mais diversidade genética dentro das espécies, geralmente apresentam maior produtividade geral do que os sistemas mais simples. Em algumas explorações familiares que dependem, em grande medida, da sua produtividade ao usarem muitas espécies permite-lhes ocupar a sua exploração mais eficientemente, e um uso diferencial de recursos, para além de todos os benefícios já referidos (Vandermeer,1990; Altieri,1999; Zhang & Li, 2003).

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11 O uso de culturas de cobertura de leguminosas na entre-linha ou sistemas de consociação é outra abordagem que aumenta a biodiversidade em ecossistemas agrícolas. Pode haver uma diminuição de stresses abióticos pela consociação de espécies. Por exemplo a clorose da deficiência de ferro (Fe) é comum no amendoim, especialmente quando cultivado em monocultura. Quando se consocia com milho, a clorose é menos grave e depende da interligação entre o sistema radicular do milho com a do amendoim. O amendoim e o milho têm diferentes sistemas de captação de ferro, e a hipótese proposta por Li et al., (2004) é que o eficiente sistema de captação de Fe pelo milho mobiliza este mineral de forma a que o amendoim possa mais facilmente utilizá-lo. Resultados semelhantes foram observados em conexão com a captação de fósforo (P) em milho em consociação com fava, onde se acredita que a fava torne o P mais disponível para o milho. Outro exemplo semelhante é o do grão-de-bico que melhora a absorção de P pelo trigo e pelo milho.

Nas situações de aumento da biodiversidade pela introdução de leguminosas, o azoto (N) atmosférico também será fixado. Este importante nutriente vegetal estará disponível para a cultura atual ou para a que se segue na rotação (Altieri, 1994; Theunissen et al., 1995).

A diversidade genética também atua dentro de uma espécie de cultura para aumentar a produtividade, reduzindo o risco de falha de colheita em ambientes de alto stresse, conforme demonstrado para a cevada por Ceccarelli (1996). Muitos estudos sugeriram que a prevenção de risco, as necessidades de uso múltiplo e a estabilidade são algumas das razões pelas quais muitos pequenos agricultores continuam a cultivar variedades tradicionais e a manter níveis elevados de diversidade genética e cultural em todo o mundo (Brush, 1995; Bellon, 1996; Jarvis et al., 2008). A biodiversidade agrícola como a base de ecossistemas agrícolas mais resilientes, também será essencial para lidar com os impactos previstos das mudanças climáticas.

A redução do impacto das pragas e das doenças nas plantas através do fomento da diversidade vegetativa reduz a necessidade do uso de pesticidas, tendo como efeito imediato a descida dos custos de produção (Bridge, 1996). Contudo há estudos que referem que a influência do aumento da biodiversidade com o aumento dos rendimentos através da diminuição de pragas seja muito difícil de demonstrar (Gurr et al., 2000). Por outro lado, um dos benefícios mais imediato é o financeiro, pois a introdução da diversidade para a supressão de pragas permite uma redução acentuada nas verbas a

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12 utilizar para os fitofármacos (Thomas et al., 1991). Outro benefício da biodiversidade vegetativa é a conservação de insetos polinizadores que são fundamentais para muitas espécies agrícolas (Mineau & McLachlin, 1996).

Relativamente ao sequestro de carbono a biodiversidade na agricultura pode auxiliar a sua captação (Nair, 1998). Estima-se que a absorção anual de dióxido de carbono de árvores individuais pode ser da ordem de 150 kg, um benefício avaliado em 5 dólares árvore/ano (McPherson et al., 1999).

A biodiversidade pode ter uma série de benefícios ao nível da paisagem. Com efeito, a paisagem rural tem atualmente uma considerável procura para atividades associadas ao turismo em espaço rural (TER), isto é, um conjunto de atividades e serviços de alojamento e animação em empreendimentos de natureza familiar, realizados e prestados a turistas, mediante remuneração no espaço rural. O TER tem características diferentes das modalidades convencionais de turismo, sendo que a sua procura é maior em áreas onde há património construído e com tradições gastronómicas e culturais particulares (Pereira et al., 2006). Nos últimos anos, o TER, de acordo com estes autores, tem contribuído para a manutenção, criação e diversificação das atividades ligadas à exploração agrícola e por isso da economia rural, criando emprego e melhorando as suas condições de rendibilidade e viabilizando as condições de sustentabilidade económica no mundo rural.

Para além desta beleza natural que algumas regiões agrícolas possuem, são habitat para uma grande variedade de aves, de pequenos mamíferos e de répteis (Thomas et al., 1991; Hassall et al., 1992; Bence et al., 1999). Alguns destes animais podem até ser valorizados como espécies de caça e, por isso, oferecem um benefício recreativo e, consequentemente, também uma receita adicional para o proprietário (Boatman, 1999).

Muitos dos benefícios do incremento da biodiversidade agrícola manifestam-se a diferentes escalas nomeadamente ao nível das decisões políticas, exigindo uma abordagem transetorial para reavaliar o papel da biodiversidade agrícola na produção sustentável e segura de alimentos. Segundo Frison et al., (2011) a exploração da biodiversidade agrícola multifuncional, precisa de ser um elemento central do desenvolvimento agrícola sustentável.

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13 2 - Sistemas de produção

Iremos iniciar este ponto com uma abordagem a conceitos e benefícios de rotações e afolhamento das culturas visto serem estratégias basilares de uma agricultura sustentável, bem como fazer referência a noções de agricultura intensiva e extensiva. A rotação de culturas tem por base a alternância de culturas de espécies diferentes ao nível morfológico (por exemplo: sistema radical) e ciclo vegetativo (épocas distintas de sementeira e colheita). Define-se como a sucessão ordenada de culturas no tempo que se repete de forma cíclica. Tem como princípios alternar culturas com diferentes necessidades nutricionais ou suscetíveis a determinada doença, com outras que o não sejam; culturas exigentes com outras que melhorem a fertilidade, etc. (Almeida, 2004; Barros, 2017;). Esta alternância de culturas com características diferentes contribui para o aumento da melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas dos solos.

Ao conceito de rotação está associado um outro, o conceito de afolhamento. Este define-se como a divisão da superfície agrícola útil da exploração em folhas, normalmente tantas quanto o número de anos da rotação e em que, em cada ano, se produz uma cultura (Barros, 2017; Almeida, 2004).

2.1 Agricultura intensiva versus Agricultura extensiva

Um sistema de cultivo pode ser encarado como o conjunto das práticas culturais associadas a uma determinada espécie vegetal, visando a sua produção a partir da combinação de um conjunto de atividades e operações.

Um sistema de produção é composto pelo conjunto de sistemas de cultivo no âmbito de uma propriedade rural, definidos a partir dos fatores de produção (terra, capital e mão-de-obra) e interligados por um processo de gestão (Hirakuri et al, 2012).

Os sistemas de produção podem dividir-se em sistemas extensivos e intensivos. Os primeiros caracterizam-se por uma ocupação descontínua do solo em regime de rotação de culturas e é, normalmente, um sistema de produção de baixa intensidade onde são usados métodos tradicionais de cultivo. Além disso, a produtividade é baseada na fertilidade natural do solo, clima e terreno da área e, portanto, é praticada em grandes áreas para alcançar maiores rendimentos. A produção é baixa em termos de produção por unidade de área. Devido ao menor uso de fertilizantes químicos e pesticidas, é um método ecológico, pois não prejudica o meio ambiente (Surbhi, 2017).

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14 O mesmo autor refere que a agricultura intensiva se traduz na intensificação e mecanização da agricultura, com o objetivo de aumentar a produtividade de uma determinada porção de terra. Isso é possível através do uso elevado de fatores de produção, como capital, mão-de-obra, fertilizantes, inseticidas, fungicidas, etc., o que resulta num maior rendimento da cultura por hectare. Todo o solo é total e continuamente ocupado e é utilizada tenologia de ponta. No quadro 1 que se segue estão simplificadas algumas diferenças entre os dois sistemas de produção.

Quadro 1. Diferenças entre os sistemas de produção intensivo e extensivo. Adaptado de Surbhi, 2017

Sistema intensivo Sistema extensivo

Ocupação completa e contínua do solo Ocupação incompleta e descontínua do solo

Visa aumentar a produção por unidade de área Produção elevada devido à extensão da área da exploração

Uso de tecnologias na otimização da produção Preferência pelos métodos tradicionais

Elevado uso de fatores de produção Baixa utilização de fatores de produção por unidade de área

Risco de contaminação ambiental e de presença de

resíduos nos alimentos Baixo risco de contaminação ambiental

3 - Modos de produção

Neste ponto far-se-á uma abordagem aos diferentes sistemas de produção, partindo do conceito e terminando pela referência aos problemas associados a cada um. 3.1 Agricultura convencional

SegundoPerestrelo (2008) a agricultura convencional, ou moderna, de consumo ou química, começou a ter a sua expressão a partir do final da segunda guerra mundial. Nessa altura a chamada “Revolução Verde” ficou conhecida como uma fase de grande impulso na agricultura, através da introdução de políticas de aumento da produção agrícola com o objetivo de satisfazer as necessidades de alimentos que era fundamental em diversas regiões do mundo.

O mesmo autor refere que este tipo de agricultura surge de modificações de base técnica feitas à chamada agricultura tradicional, praticada até então. Baseava-se numa utilização intensiva dos recursos naturais e de mão-de-obra direta. Durante o processo de modernização agrícola, as tecnologias tradicionais são substituídas por tecnologias

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15 industriais e o conhecimento local é substituído pelo conhecimento científico, ambos proveniente sobretudo do exterior da comunidade rural. Iniciou-se assim a transferência e aplicação dos conhecimentos da comunidade científica ao meio rural, com vista a obtenção da maximização da produção pela utilização de novos métodos e tecnologias. Ainda segundo o mesmo autor cria-se então uma situação de dependência crescente da comunidade rural para o exterior, de fatores sobre os quais a comunidade rural não tem controlo. Tudo isto desencadeou a erosão da cultura tradicional, provocando degradação ambiental ao nível das explorações agrícolas. O aumento da produtividade agrícola, consequência destas introduções, levou à produção de excedentes, apesar do crescimento populacional verificado.

Costa (2010) refere que este tipo de agricultura é caracterizado pelo elevado uso de fatores de produção externos, utilização de máquinas pesadas e uso permanente de adubação química e de pesticidas. Há uma constante tentativa de maximizar o controlo sobre todos os fatores que afetam a produção, criando um sistema uniforme, com baixa biodiversidade, e altamente dependente de energia externa.

Assim, assistiu-se durante muitos anos à utilização de fatores de produção externos sem limitações nos impactos negativos deste tipo de atuação, por vezes irreversíveis ou de difícil recuperação, ou seja, atuou-se de forma não sustentável (Costa, 2010).

Segundo Perestrelo (2008) e Costa (2010) os fatores de produção de uso mais recorrente em agricultura convencional são:

-Pesticidas, substâncias que tem por objetivo matar organismos indesejados (herbicidas, fungicidas, inseticidas, entre outros). Têm como principal problema a sua pouca seletividade, ou seja, ao serem aplicados vão atingir a espécie alvo mas também todas as que se encontram nas imediações, atuando indiscriminadamente. Estes produtos estão associados a reaparecimento de pragas e ao desenvolvimento de resistência das mesmas. Existe ainda o problema dos resíduos destes produtos ficarem nos alimentos, mesmo quando aplicados em condições muito controladas de produção .

-Fertilizantes, aplicados como forma de remediar a falta de nutrientes, muitas vezes como causa de práticas culturais adotadas neste mesmo sistema de produção. Por exemplo, a remoção dos resíduos orgânicos dos terrenos após a colheita (Tietenberg & Lewis, 2000). Normalmente a aplicação destes fertilizantes é sempre superior à

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16 capacidade de absorção por parte da planta, ficando os elementos disponíveis no solo, que podem alterar a comunidade microbiana e são muitas vezes sujeitos a lixiviação. A aplicação de azoto pode ser um problema, visto apresentar elevada mobilidade no solo e ser facilmente lixiviado, contaminando águas próximas e podendo causar eutrofização das mesmas. A solução do solo e o equilíbrio osmótico entre a raiz das plantas também é afetado pelos nutrientes facilmente solúveis podendo levar a problemas de crescimento desequilibrado das plantas com consequência na produtividade. A acumulação destes nutrientes no solo e consequente contaminação dos alimentos constitui também um problema nomeadamente na saúde do consumidor (Perestrelo, 2008).

-Combustíveis fósseis, sofreram um aumento na sua utilização devido à excessiva mecanização do trabalho agrícola. Este aspeto é relativamente grave devido às emissões de CO2 para a atmosfera. Verifica-se ainda que a quantidade de energia gasta para a

produção de determinado alimento é superior à energia que esse próprio alimento contém. Ou seja, gasta-se mais energia a produzir do que a que vai ficar disponível para ser consumida. Estudos indicam que a adoção de práticas menos exigentes em termos energéticos são também capazes de produzir a mesma quantidade de alimento (Pretty, 1995).

Com estes problemas deste tipo de agricultura surgem o declínio da fertilidade do solo e o decréscimo da biodiversidade. O solo quando utilizado de forma mais intensiva, sofre erosão modificando os equilíbrios e degradando as estruturas, tornando-o mais pobre e com dificuldade em exercer as suas funções. A formação do solo é uma questão sensível uma vez que sabemos que esta tem que ser contada em tempo geológico enquanto a destruição do mesmo pode ocorrer em alguns anos de más práticas (Perestrelo, 2008). Relativamente à biodiversidade, de acordo com Jarvis et al., (2007) a agricultura convencional é considerada uma das maiores ameaças à conservação da biodiversidade, tanto ao nível dos organismos do solo como de todos os que habitam no ecossistema agrícola assim como a própria paisagem. Isto acontece devido à especialização de explorações, redução do número de espécies; grandes dimensões das parcelas, redução da extensão das margens das parcelas e de sebes; as alterações no solo; e o domínio das monoculturas (Frison et al., 2011).

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17 3.2 Proteção integrada

Segundo a diretiva 2009/128/CE, de 21 de outubro, a proteção integrada consiste na “avaliação ponderada de todos os métodos de proteção das culturas disponíveis e a subsequente integração de medidas adequadas para diminuir o desenvolvimento de populações de organismos nocivos e manter a utilização dos produtos fitofarmacêuticos e outras formas de intervenção a nível económica e ecologicamente justificáveis, reduzindo ou minimizando os riscos para a saúde humana e o ambiente. A proteção integrada privilegia o desenvolvimento de culturas saudáveis com a menor perturbação possível dos ecossistemas agrícolas e agroflorestais e incentiva mecanismos naturais de luta contra inimigos das culturas”.

A proteção integrada procura controlar os inimigos das culturas com todos os meios disponíveis sejam eles genéticos, culturais, biológicos, biotécnicos ou químicos, por forma a manterem estes mesmos inimigos em níveis que não causam prejuízo. Existe uma estimativa de risco que é continuamente avaliada em cada cultura. Esta estimativa de risco corresponde à intensidade de ataque por parte de cada inimigo da cultura. Para que esta estimativa ocorra com sucesso é necessário um conhecimento profundo da cultura por forma a apenas ser controlado o inimigo na fase crítica evitando assim investimento de tempo e de dinheiro em fases que não terão qualquer eficiência (Amaro, 2003).

É também essencial conhecer o nível económico de ataque (NEA) para cada cultura e cada inimigo por forma a saber avaliar a capacidade da cultura suportar esse inimigo sem que hajam prejuízos. O NEA é o nível de referência que corresponde à intensidade de ataque do inimigo da cultura a partir do qual se deve intervir. A partir destas estimativas de risco é que se passa à tomada de decisão e à seleção dos meios de luta. Os meios de luta química devem ser sempre o último recurso (Amaro, 2003; Oliveira

et al., 2014). Os princípios gerais pelos quais a proteção integrada se deve reger, segundo

os mesmos autores são os seguintes:

 Aplicar medidas de prevenção ou controlo dos inimigos das culturas;  Utilizar métodos adequados para monitorizar os inimigos das culturas;

 Ter em atenção os resultados das monitorizações e da estimativa de risco na tomada de decisão;

 Dar preferência a métodos de luta não químicos;  Aplicar produtos o mais seletivos possível;

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18  Utilizar o mínimo possível os produtos fitofarmacêuticos e outras formas de

intervenção;

 Recorrer a estratégias anti-resistência;  Verificar o êxito das medidas fitossanitárias.

Em temos de problemas relativos a este modo de produção voltamos à questão do uso dos pesticidas, já falado anteriormente. De referir, segundo Costa et al., (2005a) os efeitos secundários provocados pelos pesticidas agrícolas como por exemplo a toxicidade para o homem, para os auxiliares e a poluição para o ambiente.

Relativamente à toxicidade para o homem esta está relacionada com a sua capacidade de interferir em sistemas vitais do organismo humano. Além das vias de exposição os pesticidas são classificados em muito tóxico, tóxico, nocivo, cancerígeno, teratogénico, mutagénico, toxidade para a reprodução, toxidade para o sistema endócrino, corrosivo, irritante e sensibilizante. Estas características são traduzidas em frases de risco, havendo ainda frases de segurança, que devem estar incluídas no rótulo do pesticida. Esta informação é de extrema importância, bem como a formação dos aplicadores destes produtos Costa et al., (2005a).

3.3 Produção integrada

Segundo Boller et al. (2004) e de acordo com a definição adotada pela OILB/SROP (2004), a produção integrada é “um sistema agrícola de produção de alimentos de alta qualidade e de outros produtos utilizando os recursos naturais e os mecanismos de regulação natural, em substituição de fatores de produção prejudiciais ao ambiente e de modo a assegurar, a longo prazo, uma agricultura viável”. Segundo a mesma comissão, em produção integrada, “é essencial a preservação e melhoria da fertilidade do solo e da biodiversidade e a observação de critérios éticos e sociais”.

Pretendem-se alimentos e outros produtos saudáveis, de boas características visuais e de sabor, boa conservação, de modo a respeitarem as exigências das normas nacionais e internacionais relativas à qualidade dos produtos, segurança alimentar e rastreabilidade, sendo assim valorizados pelo mercado (Magalhães, 2009).

As características da produção integrada mostram algumas semelhanças com o conceito de agricultura sustentável e isso é evidenciado por um conjunto de 11 princípios, também aprovados pela OILB/SROP (2004). Destes destacamos alguns como por exemplo, o empenho no sentido de minimizar os efeitos secundários inconvenientes de

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19 atividades agrícolas, como a contaminação de águas subterrâneas com nitratos ou a erosão; o equilíbrio do ciclo dos elementos nutritivos deve ser assegurado, reduzindo ao mínimo as perdas de nutrientes e compensando prudentemente a sua substituição, através de fertilizações fundamentadas, e privilegiando a reciclagem da matéria orgânica produzida na exploração agrícola; a biodiversidade, a nível genético, das espécies e do ecossistema deve ser considerada a espinha dorsal da estabilidade do ecossistema, dos fatores de regulação natural e da qualidade da paisagem. A qualidade dos produtos obtidos em produção integrada abrange não só fatores externos e internos mas também a natureza do sistema de produção (Boller et al., 2004).

Na produção integrada os agricultores articulam a proteção integrada, com a aplicação correta de outras técnicas culturais, em especial, com a fertilização, instalação e condução das culturas, regas, podas, mondas dos frutos e conservação das colheitas (Magalhães, 2009). As normas deste modo de produção incluem ainda os planos de fertilização por parcela e por cultura, baseados nas análises de terras e de plantas, as metodologias de colheita de amostras para análise e determinações laboratoriais, os tipos, as quantidades, as épocas e as técnicas de aplicação dos fertilizantes, os procedimentos a observar na instalação e condução das culturas. Estas normas incluem procedimentos obrigatórios e facultativos ou de orientação e permitem a sua atualização ou adaptação periódicas (Magalhães, 2009; Amaro, 2003; Aguiar et al., 2005).

Magalhães (2009) refere ainda que neste modo de produção devem ser mantidas em cada cultura, pequenas áreas não tratadas, exceto no caso de pragas e doenças consideradas altamente perigosas ou, em alternativa, devem ser utilizados métodos de aplicação não generalizada a toda a área da cultura. Em cada cultura, devem ser selecionados ou introduzidos, pelo menos, dois auxiliares e ser feito o acompanhamento da sua evolução com vista à sua proteção e aumento da população. Deve ser feito o acompanhamento do ciclo biológico dos seus principais inimigos, fazendo-se semanalmente uma avaliação do risco. Deve ainda ser feita a avaliação e o registo em fichas próprias que irão integrar o Caderno de Campo, o nível populacional das pragas e dos seus estragos.

O uso do logótipo do Modo de Produção Integrada (Figura 1) garante que as regras e os princípios da produção integrada são cumpridas para a obtenção do produto que foi sujeito a controlo por parte do organismo de certificação.

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20 Figura 1. Logótipo de Produção Integrada. Fonte: Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural 3.4 Agricultura biológica

Com o objetivo de contrariar o produtivismo aliado a um modo convencional de produzir alimentos, surgiu uma forma de agricultura alternativa que tende a aproximar a agronomia da ecologia, recuperando técnicas e práticas tradicionais, mas tendo também presente algumas das novas tecnologias.

A agricultura biológica tem sido abordada há muitos anos dentro do setor, a nível mundial, até ser fundada a IFOAM (International Federation of Organic Agriculture Movements) em 1972. Através desta federação surgiram as primeiras normas europeias em 1991. Estas normas têm vindo a ser atualizadas alargando-se a outras produções e não se restringindo apenas à produção vegetal. Em 2005 foram aprovados os novos princípios de base da agricultura biológica para todo o mundo (Ferreira et al, 2012).

Segundo os mesmos autores a produção biológica é um sistema que visa a produção de alimentos mas com uma gestão global das explorações agrícolas. Combina boas práticas ambientais com a preservação dos recursos naturais mantendo um elevado nível de biodiversidade e a aplicação de normas rigorosas em matéria de bem-estar dos animais indo ao encontro da preferência de certos consumidores por produtos obtidos por processos naturais. A agricultura biológica é considerada ainda como um modo de produção “sustentável” ou “alternativa” relativamente à agricultura dita “convencional”. Este sistema de produção evita ou exclui totalmente os produtos químicos de síntese como é o exemplo dos adubos, pesticidas ou reguladores de crescimento. O solo é considerado um sistema vivo que permite o desenvolvimento e a atividade de organismos úteis, e esta é uma questão central deste modo de produção (Ferreira et al., 2012). Para que seja praticável na máxima extensão, os sistemas de agricultura biológica recorrem a rotações culturais, resíduos das culturas, estrumes de animais, leguminosas, adubos verdes, todos os resíduos orgânicos da exploração agrícola, luta biológica contra

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21 pragas e doenças, e outras práticas culturais, de modo a manter a fertilidade do solo, a nutrir as plantas e a controlar os insetos, ervas infestantes e outros inimigos das culturas (Ferreira et al., 2009).

Em questões de controlo e proteção fitossanitária, só em último caso é que se recorre à aplicação de produtos fitofarmacêuticos homologados em Portugal. Estes são provenientes de resíduos vegetais, animal ou mineral, de impacto ambiental e toxicológico mínimo ou nulo. E mesmo em caso de tratamentos aplicam-se, sempre que possível, meios de luta biológica através de organismos auxiliares ou biotécnica como feromonas.

Nos primeiros anos de compromisso com Modo de Produção Biológica, as culturas vegetais submetidas encontram-se em fase de conversão. Durante esse período ocorre um processo de transição entre práticas e modos de ação regulamentados para o exercício da Agricultura Biológica (Fernandes, 2016).

A incorporação de organismos geneticamente modificados (OGM) é proibida no Modo de Produção Biológica (Barrote, 2012).

Segundo Fernandes (2016) os objetivos da Agricultura Biológica são vários, como por exemplo: a produção de quantidades suficientes de alimentos e outros produtos de alta qualidade, fornecendo a todos os envolvidos neste processo uma qualidade de vida que vá ao encontro das suas necessidades, num ambiente de trabalho seguro e saudável; valorizar e aprender com os conhecimentos dos antepassados e com os sistemas agrícolas tradicionais; fomentar a produção e distribuição local e regional; evitar a poluição e os resíduos; promover o uso responsável e a conservação da água; manter e dar as condições necessárias ao bom desenvolvimento da biodiversidade agrícola e natural na exploração; manter a fertilidade e a atividade biológica do solo usando métodos culturais, biológicos e mecânicos em oposição à dependência de fatores externos.

O Modo de Produção Biológico não só produz bens diferenciados de valor acrescentado, com procura crescente por parte do consumidor, como tem na base técnicas de produção que respeitam o ambiente, ou seja, fornecendo assim bens públicos (Mendes, 2016). O respeito pelo caderno de encargos destes regulamentos é assegurado por inspeções efetuadas por organismos certificadores (OC), autorizados pelo Estado, dando aos produtores o direito de utilização da menção “Agricultura Biológica”, assim como a utilização do logótipo AB da Comissão Europeia (CE) (Figura 2).

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22 Figura 2. Logótipo do Modo de Produção Biológico. Fonte: Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento

Rural

O período de conversão normal definido pela legislação comunitária é de dois anos em culturas anuais e de três nas culturas permanentes, período durante o qual as normas da agricultura biológica são já aplicadas. O operador deve notificar a sua atividade em MPB à autoridade competente, o gabinete de planeamento, politicas e administração geral (GPP). A indicação da data é um elemento muito importante pois é desta data que inicia a contagem do período de conversão da agricultura convencional para a agricultura biológica (Serrador, 2009).

A comparação entre a agricultura convencional e a agricultura biológica mostrou em média um aumento de 2,7 vezes na abundância de espécies de cinco grupos: 2,1 vezes para aves; 2,9 vezes para plantas; 3,2 vezes para insetos; 2,4 vezes para mamíferos; e 1,8 vezes para minhocas. Estimou-se um aumento na abundância média de espécies em 50%, com base em uma meta-análise em profundidade. A agricultura convencional muito intensiva foi tomada como referência em todos os estudos (Reidsma et al, 2006).

Segundo Barrote e Miranda (2011) a baixa produtividade da agricultura biológica é um mito que não se confirmou após três anos de um estudo comparativo entre agricultura biológica e convencional. Concluíram que no início da conversão do sistema convencional para o biológico é normal uma redução na produtividade, porém verifica-se uma recuperação a médio prazo à medida que a biodiversidade e a fertilidade verifica-se restabelecem. As mesmas autoras defendem que por um lado existe uma tendência de aumento da produtividade com o passar dos anos e por outro consegue-se uma diminuição dos gastos em fatores de produção.

De acordo com dados publicados no Diário da República, 1.ª série - N.º 144 - 27 de julho de 2017 a procura de produtos biológicos no último triénio (2014-2017) tem aumentado de forma significativa destacando-se o grupo das frutas e vegetais frescos. Os operadores acreditam que esta tendência se irá manter nos próximos três anos embora

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Figura 1. Logótipo de Produção Integrada.  Fonte: Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural
Figura 2. Logótipo do Modo de Produção Biológico.  Fonte: Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento  Rural
Figura 3. Logótipos dos vários tipos de certificações. (A)-GlobalC.A.P. (B)-BRCFoodCertificated (C)- (C)-Demeter (D)- Marks and Spencer’s (E)-Tesco (F)- Sedex (G)-GRASP (H)-Biotur
Figura 4. Imagem aérea do espaço da Quinta do Cabo.  Fonte: Google Earth Pro
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Referências

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