• Nenhum resultado encontrado

Rotulagem de produtos cárneos: contributo para a aplicação do Regulamento (UE) n.º 1169/2011 num estabelecimento de fabrico de produtos à base de carne e avaliação dos conhecimentos e atitudes do consumidor face à rotulagem dos alimentos

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Rotulagem de produtos cárneos: contributo para a aplicação do Regulamento (UE) n.º 1169/2011 num estabelecimento de fabrico de produtos à base de carne e avaliação dos conhecimentos e atitudes do consumidor face à rotulagem dos alimentos"

Copied!
84
0
0

Texto

(1)

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Rotulagem de produtos cárneos

Contributo para a aplicação do Regulamento (UE) n.º 1169/2011

num estabelecimento de fabrico de produtos à base de carne e

avaliação dos conhecimentos e atitudes do consumidor face à

rotulagem dos alimentos

Dissertação de Mestrado Integrado em

Medicina Veterinária

Rute Filipa Rodrigues Oliveira

Orientador: Professor Doutor Luís Avelino da Silva Coutinho Patarata Coorientadora: Dra. Maria Manuel Teixeira Rodrigues da Silva

(2)

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Rotulagem de produtos cárneos

Contributo para a aplicação do Regulamento (UE) n.º 1169/2011

num estabelecimento de fabrico de produtos à base de carne e

avaliação dos conhecimentos e atitudes do consumidor face à

rotulagem dos alimentos

Dissertação de Mestrado Integrado em

Medicina Veterinária

Rute Filipa Rodrigues Oliveira

Orientador: Professor Doutor Luís Avelino da Silva Coutinho Patarata Coorientadora: Dra. Maria Manuel Teixeira Rodrigues da Silva

Composição do Júri:

Professora Doutora Cristina Maria Teixeira Saraiva Professor Doutor José António Oliveira e Silva

Professor Doutor Luís Avelino da Silva Coutinho Patarata

(3)

“As doutrinas apresentadas no presente trabalho, são da exclusiva responsabilidade do autor.”

(4)

Dedicatória e agradecimentos

À Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro por todos os recursos que me forneceu durante 5 anos de estudo e durante o período de estágio, em especial ao Prof. Dr. Luís Patarata, que aceitou orientar o estágio e a elaboração da presente tese de mestrado, sem nunca negar auxílio e sempre demonstrando disponibilidade quando necessário. Pelo esforço, dedicação e boa disposição, estou imensamente grata e satisfeita. Da mesma forma, agradeço à Dª Ana Leite e à Dª Fátima pelo apoio prestado no laboratório e por toda a amabilidade demonstrada.

À Dra. Maria Manuel Silva, por todo o apoio na minha orientação, pela dedicação ao ensinar-me, pelos conhecimentos que me transmitiu e pela garra que demonstrou durante o pouco tempo que pude acompanhá-la. Por toda a amizade, que podia ter sido negada, um grande obrigada.

À Fumados Douro, Comercialização de Carnes - S.A., por me ter recebido nas suas instalações, permitindo uma aprendizagem em contexto real da indústria de transformação de carnes. Agradeço pela receção, pela amabilidade e pela disponibilidade sempre demonstrada.

À minha mãe, que permitiu o meu percurso, nunca colocando entraves a nenhuma das minhas opções, deixando-me voar na direção que eu própria escolhesse. Por todos os apoios, apesar das dificuldades, e pela confiança que me transmitiu, um muito obrigada.

Às amigas de sempre (Telma Coelho, Sara Teixeira, Diana Damas, Renata Coelho e Filipa Tiago) que ajudaram a manter a minha sanidade mental, encorajando-me sempre nos momentos mais complicados e incentivando os meus avanços, agradeço-lhes por estarem sempre perto, mesmo estando longe.

À Sofia Portugal que sempre se mostrou interessada nos meus projetos, no presente inclusive, e sempre me transmitiu confiança, incentivando-me sempre a superar-me e por todas as receções agradáveis na cidade de Vila Real, um obrigada por demonstrar-me que as relações académicas existem, mesmo quando eu parecia não acreditar nelas. Agradeço ainda à Carolina Pilão por ter-se interessado igualmente no meu percurso académico.

À Filipa Teixeira, Vânia Costa e Ana Tidy por se esforçarem para manter uma amizade, apesar das distâncias.

(5)

A todos aqueles que direta ou indiretamente me auxiliaram na elaboração do presente trabalho, apenas preenchendo um inquérito, ajudando a divulgá-los, auxiliando na correção ou mesmo respondendo a algumas dúvidas, agradeço por terem tornado possível a elaboração deste trabalho.

A todos e mais alguns, um obrigada cai sempre bem. Apenas por hoje, serei grata, e “apenas por hoje” significa “para toda a vida” se for dito todos os dias.

(6)

Resumo

O consumidor preocupa-se cada vez mais com a qualidade e segurança dos alimentos que consome. As questões de saúde pública constituem uma preocupação não só no que diz respeito à ocorrência de toxinfeções alimentares mas também relacionado com perspetivas nutricionais. Com a função de melhorar a comunicação entre fabricante-consumidor, surge o Regulamento (UE) n.º 1169/2011 relativo à prestação de informação aos consumidores sobre os géneros alimentícios e que, entre outros aspetos, obriga à apresentação da declaração nutricional na rotulagem dos alimentos. Nesse sentido, o presente trabalho teve como objetivo a análise química da composição de seis produtos à base de carne de forma a contribuir para a elaboração das suas declarações nutricionais. A análise foi efetuada consoante os métodos de análise preconizados pela normalização portuguesa. Os resultados observados são concordantes com o expectável na bibliografia, demonstrando uma grande variabilidade dos produtos analisados, no que diz respeito a quantificação em nutrientes, como se prevê devido ao processo tecnológico de fabrico dos mesmos. Por outro lado, sendo um dos grandes objetivos do regulamento em causa permitir ao consumidor o acesso a informações nutricionais fiáveis e detalhadas de forma a possibilitar que estes efetuem escolhas alimentares acertadas e ponderadas, foi realizado um estudo com o objetivo de conhecer as atitudes e comportamentos do consumidor face à rotulagem dos alimentos assim como avaliar o seu conhecimento em matéria de rotulagem e nutrição. O inquérito em causa foi realizado a 142 indivíduos das cidades de Vila Real e Porto. Foram entregues diretamente aos participantes e recolhidos mantendo o anonimato dos mesmos. Pela análise dos inquéritos, os consumidores afirmam em percentagens elevadas que, por hábito, leem os rótulos dos produtos que compram, embora refiram que quando não o fazem se deve à falta de tempo ou de interesse em fazê-lo. Contudo, no que diz respeito à interpretação dos mesmos, afirmam ter dificuldades subjacentes, o que foi igualmente demonstrado através de questões interpretativas. Os hábitos de leitura dos rótulos mostraram-se influenciados pela idade do consumidor, sendo os mais velhos que simultaneamente indicam ler os rótulos com mais frequência mas queixam-se das dificuldades para o fazer devido ao tamanho da letra. As competências interpretativas dos rótulos mostraram-se variáveis na amostra em estudo, sendo influenciadas positivamente pela escolaridade.

(7)

Abstract

Consumers have a growing concern on the safety and quality of food. Public health issues are a concern not only due to foodborne diseases, but also due to nutritional perspectives. Having the goal to improve the communication between manufacturer-consumer, the Regulation (EU) nr. 1169/2011 was published viewing the provision of information to consumers about food, namely its nutrition declaration on food labels. The aim of the present was to contribute to the establishment of their nutrition declaration of six meat products. The analysis was performed according to Portuguese Standard methods of analyses. The results observed were consistent with the expected, showing a large variation of the composition of analyzed products. On the other hand, once one of the main objectives of the labeling regulation in is to allow the consumer’s access to reliable and detailed nutrition information, to carry out correct and considered food choices, a study was conducted with consumers to know their attitudes and behaviors related to food labels, and to assess their knowledge on labeling and nutrition. The sample was composed by 142 consumers from the cities of Vila Real and Oporto. The questionnaire was self-answered and collected anonymously. According to the analysis of the consumer’s answers, there is a high percentages that read the labels of the products before purchasing, though they state that when they don’t is due to the lack of time or of interest to do so. However, related to the interpretation, consumers claim to have difficulties, which also have been shown through interpretive questions. Reading habits of the labels was shown to be influenced by the consumer's age, the oldest indicate simultaneously more often reading of labels, but they complain to have difficulties to do it due to the size of the letter. The label’s interpretive skills on the sample studied were variable and were positively influenced by the education.

(8)

Índice Geral

1. Introdução ... 1

2. Revisão bibliográfica ... 3

2.1. Regulamento (UE) n.º 1169/2011- princípios ... 3

2.2. A embalagem e o rótulo ... 9

2.2.1. Funções do rótulo ... 10

2.2.2. A dificuldade de entender os rótulos ... 11

2.3. Rótulos FOP- a atração, a interpretação e a compra ... 14

2.4. Os rótulos da carne e dos produtos cárneos ... 18

2.5. O rótulo e a sustentabilidade ... 20

2.5.1. O papel do rótulo na manutenção da segurança do produto e a sustentabilidade ... 22

3. Parte prática ... 24

3.1 Estágio na empresa Fumados Douro ... 24

3.1.1 Caracterização da empresa ... 24

3.1.2 Breve descrição das atividades desenvolvidas ... 26

3.2 Regulamento (UE) n.º 1169/2011 na rotulagem dos produtos cárneos ... 29

3.2.1 Material e Métodos ... 29

3.2.1.1. Rotulagem nutricional de produtos cárneos ... 29

3.2.1.1.1. Amostragem ... 29

3.2.1.1.2. Colheita e preparação das amostras ... 29

3.2.1.1.3. Determinações laboratoriais ... 30

3.2.1.1.4. Tratamento de dados ... 31

3.2.1.2. Conhecimentos e competências do consumidor para interpretar e utilizar a informação contida no rótulo ... 32

3.2.1.2.1. Instrumento de colheita de dados ... 32

3.2.1.2.2. Amostra ... 32

3.2.1.2.3. Tratamento de dados ... 33

3.2.2. Resultados ... 33

3.2.2.1. Composição nutricional de produtos cárneos ... 33

3.2.2.2. Conhecimentos e competências do consumidor para interpretar e utilizar a informação contida no rótulo ... 45

(9)

3.2.2.2.1. Comportamentos auto referidos pelo consumidor relativamente à

utilização dos rótulos ... 46

3.2.2.2.2. Conhecimentos e capacidades interpretativas das informações contidas nos rótulos ... 58

3.2.3. Conclusões ... 65

(10)

Índice de Figuras

Pág.

Figura 1 - Logotipo “Escolha Saudável”. 15

Figura 2 - Exemplo de informação da dose de referência duma embalagem

de bolachas

15

Figura 3 - Exemplo de informação da dose de referência duma embalagem

de barras de cereais.

15

Figura 4 - Percentagem de inqueridos que indica ler os rótulos aquando da

escolha entre dois produtos do mesmo tipo.

45

Figura 5 - Duração da leitura dos rótulos por parte do consumidor. 46

Figura 6 - Situações consideradas pelo consumidor importantes para a

leitura dos rótulos de géneros alimentícios

48

Figura 7 - Esquema dos motivos apontados pelos consumidores

participantes no estudo para não lerem os rótulos. (Os dados estão representados sob a forma de percentagem).

50

Figura 8 - Motivos que afetam a capacidade interpretativa do consumidor

aquando da leitura de rótulos avaliada numa escala de 5 pontos (1-discordo completamente; 5-concordo completamente). Resultados expressos como média da pontuação da escala

52

Figura 9 - Importância atribuída pelos consumidores no momento da compra

avaliada numa escala de 5 pontos (1-discordo completamente; 5-concordo completamente). Resultados expressos como média da pontuação da escala.

55

Figura 10: Informação presente nos rótulos considerada mais importante

para o consumidor (resultados expressos sob a forma de percentagem).

56

Figura 11: Percentagem de respostas corretas e erradas quanto ao

constituinte do alimento que deveriam atentar em caso de necessidade de restrição de gorduras (resultados expressos sob a forma de percentagem)

57

Figura 12: Percentagem de respostas certas acerca da identificação de

determinados parâmetros contidos nos rótulos ou da interpretação do mesmo

(11)

Índice de Quadros

Pág.

Quadro 1 - Composição química de chouriço de peru e de suíno (n=4) (Resultados

expressos sob a forma de média ± desvio padrão)

33

Quadro 2 - Perfil de ácidos gordos da gordura de chouriço de peru e de suíno

(expresso em percentagem do total de ácidos gordos); n=3

36

Quadro 3 - Composição química de salpicão e de suíno (Resultados expressos sob

a forma de média ± desvio padrão); n=4

37

Quadro 4 - Perfil de ácidos gordos da gordura de salpicão de peru e de suíno

(expresso em percentagem do total de ácidos gordos); n=3

38

Quadro 5 - Composição química de fiambre de peru e de suíno (Resultados

expressos sob a forma de média ± desvio padrão); n=4

40

Quadro 6 - Perfil de ácidos gordos da gordura de fiambre de peru e de suíno

(expresso em percentagem do total de ácidos gordos); n=3

41

Quadro 7 - Teores em humidade e gordura de bacon; n=8 42

Quadro 8 - Perfil sociodemográfico dos consumidores participantes 44

Quadro 9 - Influência da classe etária na opção de ler ou não os rótulos de

alimentos para auxiliar na escolha entre dois do mesmo tipo (resultados expressos sob a forma de percentagem)

46

Quadro 10 - Influência da escolaridade dos respondentes na duração da leitura dos

rótulos (resultados expressos sob a forma de percentagem)

47

Quadro 11 - Influência da idade relativamente às situações em que o consumidor

considera importante que se leiam os rótulos (resultados expressos sob a forma de média ± desvio padrão numa escala de 1 a 5) (1-discordo completamente; 5-concordo completamente).

49

Quadro 12 - Influência da escolaridade na opinião dos consumidores relativamente

às situações em que consideram importante que se leiam os rótulos (resultados expressos sob a forma de média ± desvio padrão numa escala de 1 a 5) (1-discordo completamente; 5-concordo completamente).

50

Quadro 13 - Influência da idade e do género na falta de interesse para a leitura de

rótulos (resultados expressos sob a forma de percentagem).

51

Quadro 14 - Influência da idade na dificuldade de interpretação dos rótulos

(resultados expressos sob a forma de média ± desvio padrão numa escala de 1 a 5) (1-discordo completamente; 5-concordo completamente).

53

(12)

(resultados expressos sob a forma de média ± desvio padrão numa escala de 1 a 5) (1-discordo completamente; 5-concordo completamente).

Quadro 16: Influência da área de estudo na dificuldade de interpretação dos rótulos

(resultados expressos sob a forma de média ± desvio padrão numa escala de 1 a 5) (1-discordo completamente; 5-concordo completamente)

54

Quadro 17: Influência da escolaridade na escolha da informação contida no rótulo

considerada mais importante (resultados expressos sob a forma de percentagem).

57

Quadro 18: Influência da escolaridade e da área de estudo na percentagem de

acertos quanto ao constituinte do alimento que deveriam atentar em caso de necessidade de restrição de gorduras (resultados expressos sob a forma de percentagem).

58

Quadro 19: Influência da idade dos participantes na percentagem de acertos em

questões de interpretação de rótulos (resultados expressos sob a forma de percentagem)

60

Quadro 20: Influência da escolaridade e da área de estudo dos participantes na

percentagem de acertos na identificação do valor energético do alimento por

porção, apresentado no rótulo (resultados expressos sob a forma de percentagem).

61

Quadro 21: Influência da escolaridade e da área de estudos dos participantes no

cálculo do valor energético da embalagem completa (resultados expressos sob a forma de percentagem).

61

Quadro 22:Influência da escolaridade na correta identificação do contato do

fabricante apresentado no rótulo (resultados expressos sob a forma de percentagem).

62

Quadro 23: Influência da escolaridade e da área de estudos na identificação dum

aditivo no rótulo (resultados expressos sob a forma de percentagem).

(13)

Lista de abreviaturas, siglas, símbolos ou acrónimos

AOAC: Association of Official Analytical Chemists

ASAE: Autoridade de Segurança Alimentar e Económica CE: Comunidade europeia

DGAV: Direção-geral de alimentação e veterinária EUFIC: The European Food Information Council FOP: Front-of-pack

GDA: Guideline daily amount

HACCP: Hazard Analysis and Critical Control Points NP: Norma Portuguesa

OMS: Organização Mundial de Saúde RTE: Ready to eat

UE: União Europeia

(14)

1. Introdução

Cada vez mais a população em geral se preocupa com a segurança e qualidade dos alimentos que consome. Constata-se que a saúde pública, vista de forma global, não só na perspetiva de não provocar doença, mas também na perspetiva nutricional, constitui uma preocupação crescente ao nível mundial e é neste sentido que a legislação comunitária caminha. A União Europeia tem legislado em função da garantia da segurança alimentar e da melhoria da comunicação entre o produtor e o consumidor, e assim foi elaborado o Regulamento (UE) n.º 1169/2011 relativo à prestação de informação aos consumidores sobre os géneros alimentícios.

A entrada em vigor do Regulamento (UE) n.º 1169/2011 obriga os operadores das empresas do sector alimentar a prestarem informação sobre as características nutricionais dos géneros alimentícios, requisito de rotulagem até então facultativo, exceto nos casos em que fosse feita uma alegação sobre as propriedades nutricionais do género alimentício.

Nesse sentido, o presente trabalho teve como objetivos:

1. Contribuir para a elaboração da rotulagem nutricional de seis produtos produzidos na indústria onde decorreu o estágio – chouriço, salpicão e fiambre, de peru e de suíno;

2. Avaliar os conhecimentos e atitudes do consumidor face à rotulagem de alimentos.

Apesar das exigências subjacentes à entrada em vigor do Regulamento (UE) n.º 1169/2011, e sabendo que um dos objetivos é informar devidamente os consumidores de forma a permitir-lhes que façam escolhas informadas e acertadas, pouco se conhece em relação à capacidade interpretativa e aos conhecimentos e atitudes do consumidor perante a rotulagem de alimentos, sendo esse um dos objetivos do presente trabalho.

Através de análises químicas em ambiente laboratorial, procedeu-se à elaboração da declaração nutricional dos 6 produtos testados, da mesma forma que se determinaram os teores de gordura de 8 amostras de bacon, com o objetivo de extrapolar a sua variabilidade.

Os conhecimentos e atitudes dos consumidores face aos rótulos dos alimentos foram avaliados através da elaboração dum inquérito escrito, anónimo e individual, sujeitos a posterior análise estatística.

(15)
(16)

3

2. Revisão bibliográfica

2.1. Regulamento (UE) n.º 1169/2011- princípios

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) (WHO, 2012), dados estatísticos recolhidos entre 1980 e 2008 demonstram que a prevalência mundial de obesidade duplicou, ou seja, a estimativa aponta que, na europa, mais do que 50% de homens e mulheres estejam com excesso de peso. Para além disso, estima-se que 23% das mulheres europeias e 20% dos homens já são obesos.

A obesidade é um problema de saúde pública. Ser obeso aumenta o risco de muitas doenças crónicas, incluindo diabetes, hipertensão, colesterol, enfarte, doença cardíaca, alguns tipos de cancro e artrite (Kiszko et al., 2014). Esta situação é grave e, tomando estas dimensões, alerta a classe política, uma vez que o excesso de peso acentuado ou obesidade é um fator chave para o desenvolvimento de doenças crónicas, podendo também resultar em morte prematura. As evidências sugerem que a prevalência da obesidade está a aumentar dramaticamente em todo o mundo e que este aumento tem sido rápido, tanto em crianças como em adultos (Aschemann-Witzel et al., 2013; EUFIC, 2014; Hodgkins et al., 2012).

Em 2012, o relatório de saúde da Organização Mundial de Saúde (WHO, 2012) sublinhou a existência de uma em cada três pessoas com aumento da pressão sanguínea (hipertensão), condição esta que causa metade das mortes por enfarte ou doença cardíaca. No mesmo relatório, vem referido um aumento da prevalência de diabetes, apontando para um cenário de 1 em cada 10 habitantes ser diabético. Estes dados estatísticos e outros anteriores têm vindo a preocupar a comunidade europeia e, nesse sentido, procurou-se legislar de forma a proteger a saúde dos consumidores. A tendência para a obesidade corre o risco de falência dos sistemas médicos, mesmo nos países mais saudáveis. Uma medida possível para combate-la é através de escolhas saudáveis providenciadas pela rotulagem dos alimentos. Assim, se muitos consumidores optassem por escolhas mais saudáveis, seria um incentivo para a indústria fabricar alimentos mais saudáveis (Helfer e Shultz, 2014). Os problemas de saúde apontados, de entre outros, são classificados como diet-related

deseases (EUFIC, 2014), ou seja, são influenciados ou controlados pela dieta. Pesquisas

científicas e epidemiológicas têm ajudado a explicar o papel da dieta como apoio na prevenção e no controlo do excesso de peso e da obesidade. Banterle e Cavaliere (2014) afirmam que o aumento das taxas de excesso de peso e de obesidade estão relacionadas

(17)

4 com as mudanças tecnológicas, com mudanças de meios mais rurais para outros urbanos, com a redução do tempo despendido na confeção dos alimentos e com a industrialização. Todas elas levaram à adoção dum estilo de vida mais sedentário, com menos gastos de energia, com uma alteração para alimentos mais ricos em energia, à redução do preço dos alimento e ao aumento da densidade de restaurantes de fast food.

Tendo em conta os princípios subjacentes ao Regulamento (UE) n.º 1169/2011 relativo à prestação de informação aos consumidores sobre os géneros alimentícios, um dos objetivos é atingir um elevado nível de proteção da saúde dos consumidores e garantir o seu direito à informação, o que torna importante que essa informação disponibilizada esteja assegurada como adequada. Pretende-se que os consumidores façam escolhas acertadas por considerações de saúde, económicas, ambientais, sociais e éticas, tendo à sua disposição informação credível que lhes permita fundamentar essas escolhas. Para além dessa possibilidade de lhes fornecer uma base para que façam escolhas informadas, pretende também prevenir as práticas que possam induzir o consumidor em erro.

Sendo um Regulamento Comunitário, este terá carácter obrigatório para todos os países da União Europeia, contribuindo assim para a livre circulação dos géneros alimentícios, uniformizando as regras que cada Estado-Membro terá que cumprir. Desta forma, todos os Estados-Membros serão obrigados a fornecer ao consumidor as mesmas informações, evitando-se situações ambíguas decorrentes das diferenças regulamentares dos diferentes países.

Assim sendo, o Regulamento (UE) n.º 1169/2011 estabelece um conjunto de princípios, muitos dos quais já estavam previstos em regulamentação avulsa relacionada com a rotulagem de géneros alimentícios, mas que agora são consolidados num único documento.

Segundo este, a rotulagem dos géneros alimentícios deve dispor duma lista de menções obrigatórias que contemple:

 A denominação do género alimentício;  A lista de ingredientes;

 A indicação de todos os ingredientes ou auxiliares tecnológicos que provoquem alergias ou intolerâncias, utilizados no fabrico ou na preparação de um género alimentício e que continuem presentes no produto acabado;

 A quantidade de determinados ingredientes ou categorias de ingredientes;  A quantidade líquida do género alimentício;

(18)

5  As condições especiais de conservação e/ou as condições de utilização;

 O nome ou a firma e o endereço do operador da empresa do sector alimentar sob cujo nome ou firma o género alimentício é comercializado;

 O país de origem ou local de proveniência quando for previsto;

 O modo de emprego, quando a omissão dificultar uma utilização adequada do género alimentício;

 O título alcoométrico, relativamente às bebidas com um título alcoométrico volúmico superior a 1,2%;

 Uma declaração nutricional.

Estas menções obrigatórias devem ser apresentadas de forma facilmente acessível para todos os géneros alimentícios, salvo exceções previstas. Nos géneros alimentícios pré-embalados, deve figurar diretamente na embalagem ou num rótulo fixado à mesma. Deve ainda ser escrita num local de evidência, de modo a ser facilmente visível, claramente legível e, quando adequado, indelével. Nenhuma imagem ou outra indicação pode interferir, esconder, dissimular, interromper ou desviar a atenção dessa informação. A informação obrigatória deve ser claramente legível, com caracteres cuja altura seja igual ou superior a 1,2 mm. No caso de embalagens ou recipientes cuja superfície maior seja inferior a 80 cm2, o tamanho dos caracteres deve ser igual ou superior a 0,9 mm. É de referir que géneros alimentícios em embalagens ou recipientes cuja superfície maior tenha uma área inferior a 25 cm2 ficam isentos do requisito de declaração nutricional obrigatória.

A lista de ingredientes deve ser precedida por um cabeçalho com o termo “Ingredientes”, ou que o inclua. Estes devem ser enumerados por ordem decrescente de peso, tal como registado no momento da sua utilização para o fabrico do género alimentício. As substâncias ou produtos que provocam alergias ou intolerâncias devem ser indicadas da mesma forma na lista de ingredientes e o seu nome deve ser realçado através duma grafia que o distinga claramente da restante lista (através dos caracteres, fazendo variar o estilo ou a cor do fundo). O Anexo II do Regulamento indica quais as substâncias ou produtos suscetíveis de causar alergias ou intolerâncias.

A quantidade líquida de um género alimentício deve ser expressa em unidades de volume (litro, centilitro ou mililitro) para os produtos líquidos e em unidades de massa (quilograma ou grama) para os outros produtos.

Quanto à data de durabilidade mínima deve figurar o designativo “Consumir de preferência antes de …”, quando a data indique o dia ou “Consumir de preferência antes do

(19)

6 fim de...”, nas outras situações. No caso dos géneros alimentícios microbiologicamente muito perecíveis e que, por isso, sejam suscetíveis de apresentar um perigo imediato para a saúde humana após um curto período de tempo, a data de durabilidade mínima deve ser substituída pela data-limite de consumo (“Consumir até…”). Após essa data, o género alimentício não é considerado seguro.

Caso os géneros alimentícios exijam condições especiais de conservação e/ou utilização, estas devem ser igualmente indicadas. As condições especiais de conservação e/ou o prazo de consumo também deve ser indicados, quando adequado, para permitir a conservação e utilização adequada dos géneros alimentícios após a abertura da embalagem.

Relativamente ao país de origem ou ao local de proveniência, deve estar mencionado sempre que a sua omissão possa induzir o consumidor em erro. O Anexo XI do regulamento indica os tipos de carne para os quais esta menção é obrigatória.

No que diz respeito à declaração nutricional, esta deve incluir os seguintes elementos:  Valor energético;

 Quantidade de lípidos, ácidos gordos saturados, hidratos de carbono, açúcares, proteínas e sal.

Este conteúdo pode ser complementado pela indicação de um ou vários dos seguintes elementos:

 Ácidos gordos monoinsaturados;  Ácidos gordos polinsaturados;  Polióis;

 Amido;  Fibra;

 Vitaminas ou sais minerais.

O valor energético e as quantidades de nutrientes referidas devem ser expressos por 100 g ou por 100 ml. Para além dessa forma de expressão, podem ser expressos em percentagens das doses de referência por 100 g ou 100 ml. Nesse caso, é necessário aditar a menção “Dose de referência para um adulto médio (8400 kJ/2000 kcal) ” na proximidade imediata das mesmas. Em alguns casos, o valor energético e as quantidades de nutrientes podem ser expressos por porção e/ou por unidade de consumo. Se as quantidades de

(20)

7 nutrientes forem expressas apenas por porção ou por unidade de consumo, o valor energético deve ser expresso por 100 g/100 ml e por porção ou por unidade de consumo.

Os elementos obrigatórios da declaração nutricional devem ser incluídos no mesmo campo visual, em conjunto, num formato claro e pela ordem de apresentação pela qual foram enumerados neste documento. Devem ser apresentadas em formato tabular, com os números alinhados, no caso de haver espaço disponível. Se o espaço não for suficiente, a declaração deve figurar em formato linear.

As empresas do sector alimentar podem optar por formas de expressão e de apresentação complementares para o valor energético e para as quantidades de nutrientes. Podem ser expressos sob outras formas e/ ou apresentados por meio de gráficos ou símbolos, em complemento de palavras ou números, desde que cumpram alguns pressupostos previstos no regulamento em causa. Devem procurar facilitar a compreensão por parte do consumidor, ser objetivos e a sua aplicação não pode criar obstáculos à livre circulação de mercadorias.

A declaração nutricional não é obrigatória nos seguintes casos (Adaptado do anexo V do regulamento):

• Produtos não transformados compostos por um único ingrediente ou categoria de ingredientes;

• Produtos transformados que apenas foram submetidos a maturação e que são compostos por um único ingrediente ou categoria de ingredientes;

• Águas destinadas ao consumo humano; • Ervas aromáticas e especiarias;

• Sal e substitutos de sal; • Edulcorantes de mesa;

• Extratos de café e de chicória e grãos de café ou descafeinados inteiros ou moídos; • Infusões de ervas aromáticas e de frutos e chás que não contenham ingredientes que alterem o valor nutricional;

• Vinagres fermentados e substitutos de vinagre; • Aromas;

(21)

8 • Aditivos alimentares;

• Auxiliares tecnológicos; • Enzimas alimentares;

• Gelatina e substâncias de gelificação; • Leveduras;

• Pastilhas elásticas;

• Géneros alimentícios em embalagens ou recipientes cuja superfície maior tenha uma área inferior a 25 cm2, como já referido;

• Géneros alimentícios, incluindo os artesanais, fornecidos diretamente pelo produtor em pequenas quantidades ao consumidor final ou ao comércio a retalho local que forneça diretamente ao consumidor final.

O Regulamento (UE) n.º 1169/2011, é aplicável desde 13 de Dezembro de 2014, exceto no que diz respeito à obrigatoriedade de apresentação duma declaração nutricional, que apenas será obrigatória a partir de 13 de Dezembro de 2016. Da mesma forma, o Anexo VI parte B que se refere aos requisitos específicos relativos à designação de “carne picada” passou a ser aplicável a partir de 1 de Janeiro de 2014.

(22)

9

2.2. A embalagem e o rótulo

As embalagens dos alimentos cativam a atenção dos consumidores nas lojas e supermercados funcionando como um meio de comunicação entre o próprio produtor e o consumidor, fornecendo diversa informação que lhes permite distinguir entre vários semelhantes ou alternativos, por exemplo, através do seu rótulo. Assim, os rótulos dos géneros alimentícios constituem uma importante fonte de informação disponível para o consumidor, no momento de efetuarem as suas compras (van der Merwe et al., 2014) e, mais do que nunca, os consumidores exigem que a informação neles contida seja clara e confiável (Sentandreu e Sentandreu, 2014).

Quando bem concebido, um rótulo pode potencialmente ter uma influência positiva ao nível da dieta (Temple e Fraser, 2014) e representar uma ferramenta importante para auxiliar o consumidor a optar pelo produto que deseja, tarefa esta que se tornou mais complexa devido ao aparecimento de enormes gamas de produtos do mesmo tipo disponíveis no mercado. Para além das informações antes do ato de compra, os rótulos fornecem ainda informações que podem ser valiosas no pós-compra, como as indicações de armazenamento, as condições de preparação e o tamanho da porção que se aconselha a servir. Facultam informações preciosas para aqueles que pretendem fazer escolhas alimentares saudáveis, mas também para prevenir situações alérgicas e garantir a segurança do produto, através da data de vida útil do mesmo. Na existência de doenças crónicas, através da informação nutricional, permitem que os consumidores adiram a recomendações dietéticas apropriadas. Para além das questões nutricionais, as doenças crónicas, alergias e doenças provocadas por alimentos, tornaram-se questões-chave para os consumidores e para a indústria alimentar, constituindo uma preocupação crescente e levando a uma maior consciencialização sobre a informação nutricional na manutenção da saúde e prevenção de doenças (van der Merwe et al., 2014).

As informações nutricionais podem ser uma fonte de informação muito importante na compra dos produtos. O aparecimento de rótulos com a informação nutricional pareceu ser promissor no combate à obesidade, uma vez que sem eles seria muito difícil aceder ao valor calórico dos alimentos. Embora existam estudos que revelem efeitos positivos relacionados com a diminuição do aporte calórico devido à existência da declaração nutricional nos rótulos, estudos de situações reais demonstram que os efeitos não foram os desejados, de diminuir a quantidade de calorias ingeridas (Kiszko te al., 2014; Méjean te al., 2014).

(23)

10 As ciências comportamentais podem demonstrar muitos fatores importantes na manutenção de problemas como a obesidade. Os autores acreditam que é possível combater o problema através de mudanças de comportamentos padrão, da transmissão de mensagens claras e simples acerca da composição nutricional dos alimentos, através da construção de mensagens cuidadosas (curtas e precisas) em matérias de saúde pública e intervindo de forma a consciencializar o consumidor no processo da tomada de decisão (Roberto e Kawachi, 2014).

2.2.1. Funções do rótulo

A rotulagem pode desempenhar muitas funções diferentes. Bernués et al. (2003) citam uma série de autores que referem algumas funções dos rótulos. Citam Kotler (1997) que menciona a identificação, classificação, descrição e promoção de produtos. Para além destas, Altmann (1997) acrescenta que os rótulos visam diferenciar os produtos dos concorrentes, aumentando a atratividade do produto ou garantindo ao consumidor um certo nível de qualidade. Citam ainda Van Trijp et al. (1997) que indicam que o rótulo funciona como um meio útil para acrescentar valor ao produto alimentar e Caswell e Mojduszka (1996), que dizem que os rótulos podem influenciar o design do produto, a publicidade, a confiança do consumidor em relação à qualidade dos alimentos e mesmo educar o consumidor sobre nutrição e saúde. Na opinião de Becker (2000), os rótulos funcionam também como um sistema que auxilia na garantia da vigilância pública uma vez que os regulamentos de rotulagem limitam a propaganda que pode ser usada.

Van der Merwe et al. (2014) compilaram diversos estudos sobre a importância que os consumidores dão aos rótulos. Concluíram que estes conferem maior importância à data de validade, à identificação do fabricante e de riscos para saúde, seguidas do facto de permitirem a elaboração de dietas nutricionalmente equilibradas e de permitirem a comparação entre produtos, através da informação nutricional. No mesmo estudo, apontam para a falta de interesse e não compreensão dos rótulos como sendo um dos motivos para a falta do seu uso. A maioria dos consumidores considera a informação contida nos rótulos como útil, indicando que geralmente têm opiniões positivas relativamente à sua importância. Os consumidores consideram a designação do país de origem como uma informação relevante e importante. Valorizam também o uso dos rótulos no momento antes da compra, uma vez que consideram ser a única fonte informativa que têm disponível nesse momento. Explicam, ainda, que os consumidores consideram a informação contida nos rótulos mais importante no momento pré-compra, como auxiliar para a decisão, do que no momento

(24)

pós-11 compra, dando pouca relevância ao seu uso em casa. Citam Mannell et al. (2006) que realçam o valor dos rótulos como sendo um meio de preservar a qualidade do produto.

A melhoria dos rótulos dos alimentos traria outra vantagem que seria levar os produtores a melhorarem a qualidade nutricional dos seus produtos, funcionando como um incentivo para a formulação de produtos de qualidade superior (Temple e Fraser, 2014).

2.2.2. A dificuldade de entender os rótulos

A aparência da embalagem é a forma mais eficaz de atrair a atenção do consumidor no momento da compra e poderia ser fundamental na adoção de regimes alimentares mais saudáveis mas, segundo alguns autores, muitas embalagens contêm quantidades exageradas de informação que distrai a atenção do consumidor da informação relacionada com a saúde, o que afeta a sua escolha (Bialkova et al., 2014; Van der Merwe et al., 2014).

A título de exemplo, um estudo canadiano mostrou que apenas 12% dos indivíduos aos quais se mostrou um rótulo de coca-cola cujo valor energético estava mencionado por porção, conseguiu calcular o valor energético do conteúdo da garrafa completa, o que demonstra que a informação dada pelo produtor nem sempre é bem interpretada, apesar de estar lá apresentada (Temple e Fraser, 2014).

Vários estudos têm sido realizados para extrapolar a interpretação e capacidade de compreensão do consumidor face às diferentes formas de apresentar a informação nutricional mas, na realidade, o maior fator que a informação nutricional influencia é a atratividade do produto, uma vez que a forma de a apresentar cativa de modo diferente a atenção do consumidor (Bialkova. et al., 2014; Méjean te al., 2014).

É evidente que muitos dos formatos de rótulos usados em diversos países falha no seu papel de fornecer informação simplificada ao consumidor, o que constitui uma barreira que o impede de fazer escolhas mais saudáveis e acertadas. Os rótulos dos alimentos exibem diversas informações que, a maioria das pessoas, não consegue interpretar e deixa-se,

assim, escapar uma oportunidade valiosa que poderia melhorar significativamente a dieta da população e, consequentemente, a sua saúde. Os consumidores não compreendem completamente os rótulos e alguns autores apontam para a existência duma lacuna na orientação do consumidor para interpretar essa informação (Bernués et al., 2003

).

De modo a prevenir essa falta de compreensão, é importante dar relevo à necessidade de mais estudos sobre qual o tipo de rótulos mais apropriado, que facilite a transferência de

(25)

12 informação para o consumidor. Da mesma forma, serão necessários estudos que avaliem qual o tipo de rótulo mais eficaz a persuadir o consumidor a fazer escolhas mais saudáveis (Temple e Fraser, 2014; Méjean et al., 2014).

Os rótulos FOP (front-of-pack), da frente da embalagem, foram uma inovação bastante positiva no campo da rotulagem, uma vez que deixam as informações nutricionais expostas diretamente nas prateleiras das lojas e, assim, fornecem informações no local onde a maioria das decisões são tomadas. Nos últimos anos, vários sistemas de rotulagem nutricional FOP têm sido implementados em toda a Europa como meio para informar os consumidores sobre o quão saudável são os alimentos que eles escolhem, com a possibilidade de encontrar a informação completa na parte de trás da embalagem. Estudos recentes demonstraram que os consumidores preferem que os rótulos FOP disponham de informações simples do que informação mais complexa, ainda que mais detalhada, porque preferem ter ao seu dispor informação fácil de compreender (Aschemann-Witzel et al., 2013). Estes rótulos, presentes na frente das embalagens, foram criados recorrendo a formas de interpretação simplificada como as percentagens dos valores diários de referência que podem ser apresentados com uma ou várias cores (as cores dos sinais luminosos de trânsito), para complementar a informação que já existia e, deste modo, aumentar a atratividade do rótulo e facilitar a sua compreensão. Este tipo de informação pode ser muito útil para consumidores que usam preferencialmente o sistema intuitivo na escolha das suas compras, atraindo a sua atenção para o rótulo e promovendo, desta forma, que se façam escolhas mais saudáveis (Ares et al., 2014; Méjean et al., 2014).

Entendendo a psicologia da forma como os consumidores fazem as suas escolhas, pode ser mais fácil o entendimento dos fatores que mantêm a obesidade como um problema de saúde pública. Roberto e Kawachi (2014) compilam as razões para o consumidor não fazer escolhas saudáveis: alimentos com baixos valores nutritivos, alimentos altamente calóricos, rotulagem pouco clara e alimentos servidos em porções exageradamente grandes. Nesse sentido, consideram que o ambiente facilita a ingestão de alimentos pouco saudáveis, mesmo que essas escolhas se tornem inconscientes após longos tempos de preferência. Quando se trata de alimentos pouco saudáveis, saber que vai ser saboroso é suficiente para provocar a sensação de satisfação imediata daqueles que os consomem e para piorar a situação, o consumidor baseia-se numa intenção irreal de planear preocupar-se mais futuramente, com a promessa de começar a fazer exercício e a comer de forma mais saudável “amanhã”, e esse amanhã prolonga o tempo dos hábitos de vida pouco saudáveis. Os autores também referem que os consumidores tendem a cozinhar porções maiores quando compram embalagens maiores e revelam ainda a existência dum comportamento

(26)

13 compensatório nestas questões dietéticas, influenciando o excesso de peso. Ele surge quando o consumidor aumenta o seu regime de exercício físico diário e, por isso, sente-se em condições para aumentar a ingestão de calorias. O mesmo se passa com o consumo de produtos assinalados como saudáveis ou com teores mais baixos de gordura, que persuadem o consumidor a ingerir quantidades maiores dos mesmos, compensando a redução assinalada. Infelizmente, esses comportamentos compensatórios não se verificam no caso dos alimentos saudáveis.

As escolhas alimentares são vistas como fenómenos complexos e assume-se que sejam processos conscientes, racionais e deliberados. Muitas decisões são tomadas baseadas em atributos que permitam aumentar a utilidade do produto e diminuir o seu desperdício. De qualquer forma, os consumidores demonstram ter uma capacidade limitada de lidar com toda a informação que têm ao seu dispor e, por isso, reagem de forma a minimizarem o esforço e de forma mais intuitiva, sem grandes ponderações, principalmente quando as escolhas se tornam mais complexas (Ares et al., 2014).

As escolhas feitas pelo consumidor são muito determinadas pela forma como este processa a informação, incluindo, nesse processo psicológico, questões pessoais e relacionadas com o contexto. Assim, mesmo aqueles que dependem dum processamento da informação mais racional tendem a ser influenciados pela motivação, tempo disponível e importância dada à tarefa (Herpen et al., 2013), da mesma forma que são influenciados pela familiaridade com o produto, o que torna a tomada de decisão mais intuitiva mesmo para aqueles que a querem fazer de forma racional (Ares et al., 2014; Herpen et al., 2013). Por outro lado, após associada a ideia inerente à classificação dos valores de nutrientes a um código de cores regido pelas cores utilizadas nos sinais de trânsito luminosos, utiliza-se como estratégia de venda a elaboração de embalagens de tonalidade verde que são interpretadas como mais saudáveis, mesmo que não o sejam. A associação entre verde e natural pode induzir os consumidores em erro, simulando uma ideia de saudável e influenciando a intenção de compra do consumidor. No mesmo sentido, a utilização da cor vermelha é utilizada para dar relevo aos nutrientes menos saudáveis (Schuldt, 2013). Helfer e Shultz (2014) acrescentam que os consumidores fazem escolhas menos saudáveis quando as embalagens vêm acompanhadas de imagem e, naturalmente, quando se conhece o sabor, este também influencia muito a escolha do consumidor. Ao contrário do que seria expectável, demonstram que limitar o tempo para o consumidor fazer decisões não afetou a qualidade das escolhas nutricionais.

(27)

14 Os consumidores estão habituados a escolhas padrão, que são difíceis de alterar. E para além disso, lamentavelmente, a grande maioria das gamas de alimentos disponíveis encoraja a escolhas pouco saudáveis, mesmo no que diz respeito a refeições servidas em restaurantes, que incluem porções maiores do que deveriam. Os próprios acompanhamentos padronizados são pouco saudáveis, sendo que aqueles que pretendem uma alimentação um pouco mais saudável devem fugir às suas escolhas padrão e tentar fazer alterações nos acompanhamentos dos pratos predefinidos (Roberto e Kawachi, 2014).

Campanhas de informação, anúncios regulamentados e programas educativos nas escolas podem representar boas medidas para tornar os consumidores conscientes de uma dieta saudável e mesmo para aumentar os seus conhecimentos para fundamentar as suas escolhas (Banterle e Cavaliere, 2014).

2.3. Rótulos FOP- a atração, a interpretação e a compra

A maioria das escolhas alimentares no ato da compra são feitas rapidamente, sem grande inspeção do produto. Este facto constitui um desafio, uma vez que o grande objetivo é que se façam escolhas alimentares mais saudáveis (Bialkova et al., 2014).

Em contexto internacional, numerosos tipos de rótulos utilizados na frente da embalagem foram experimentados, podendo ser monocromáticos ou policromáticos (usando o código de cores dos sinais luminosos de trânsito), com informação nutricional numérica ou quantitativa sobre os nutrientes que o constituem (por 100 g de alimento ou por porção), com valores expressos em percentagem das doses diárias recomendadas de cada nutriente, com texto que quantificasse o teor de determinados nutrientes (baixo, médio ou elevado), texto indicativo da frequência aconselhada do seu consumo e ainda com a classificação da gama de determinados nutrientes (positivos ou negativos) (Méjean et al., 2014; Watson et al., 2014).

Embora a informação nutricional presente na frente das embalagens possa auxiliar o consumidor a escolher entre vários produtos, não significa que, tendo à disposição, o consumidor vá ser automaticamente atraído para utilizá-la com esse fim (Bialkova et al., 2014). O comportamento humano é dependente da interação entre dois sistemas: o intuitivo e o racional. A diferente medida que cada pessoa usa e depende de cada um destes sistemas tem implicações diferentes na recetividade de algumas mensagens. Mensagens que transmitem emoções ou que apelam a experiências pessoais surtem um maior efeito em pessoas que preferencialmente utilizam a intuição nas suas opções de compra,

(28)

15 contrariamente às mensagens que utilizam factos e argumentos lógicos que captam a atenção preferencialmente àqueles que agem de forma mais racional nas suas escolhas (Ares et al., 2014). Com a mesma opinião, Aschemann-Witzel et al. (2013) alertam que estas técnicas de apresentação de informação de forma simplificada podem não provocar qualquer efeito benéfico. A presença da informação nutricional e o diferente formato dos rótulos FOP ou presença de elementos interpretativos não influencia a motivação do consumidor para fazer escolhas saudáveis, uma vez que o consumidor prefere os produtos de acordo com o seu gosto pessoal e não pela quantidade ou tipo de nutrientes que contêm. No que diz respeito à compreensão, tem-se verificado que os consumidores interpretam melhor os valores das doses diárias de referência do que as tabelas nutricionais da parte de trás da embalagem, apesar de não haver evidências de que essa interpretação mais acessível os faça escolher de forma saudável. No entanto, já têm sido apontadas críticas a este modo de apresentação, uma vez que é possível para o produtor apresentar o valor das porções ditas recomendadas para cada refeição inferior àquele que efetivamente se ingere, dando uma percentagem calórica inferior mas que não representa as quantidades realmente ingeridas, e assim, fazem o produto parecer mais saudável do que é na verdade. Para além disso, os consumidores assumem que lhes é difícil fazer comparações entre produtos quando os valores são representados por porção e as porções têm tamanhos diferentes, o que dificulta a interpretação do consumidor. Uma outra desvantagem apontada para o uso de rótulos simplificados, neste caso relacionado com aos logotipos de conotação saudável, é ludibriar o consumidor, destacando os aspetos saudáveis do alimento em detrimento de outros menos saudáveis. Por exemplo, no caso dos cereais, em produtos que levam doses excessivas de alguns nutrientes prejudiciais, como o açúcar, estas podem ser mascaradas pela presença dum logotipo com conotação de saudável, que demonstra a presença de fibra em grandes quantidades, logotipo esse que transmite a sensação de se tratar dum alimento saudável quando na verdade incorpora níveis elevados de açúcar pouco recomendados (Hodgkins et al., 2012).

As informações nutricionais apresentadas na frente da embalagem distinguem-se quanto à tipologia em:

Diretas (Directive)  Aquelas representadas sob a forma de logotipos que por si só

representam um conceito;

O logotipo “escolha saudável” (Figura 1) é utilizado em produtos alimentares que cumpram os critérios de classificação da Fundação Internacional de Escolhas e tem como

(29)

16 objetivo identificar as escolhas alimentares mais saudáveis. Os critérios seguem as recomendações alimentares da OMS e devem ser revistos a cada 2 anos (EUFIC, 2014).

Figura 1: Logotipo “Escolha Saudável” (EUFIC, 2014)

Semi-diretas (Semi-directives)  Aquelas cujas cores representam conotações mas que

podem envolver alguma interpretação dos valores escritos, uma vez que apresentam a quantificação dos nutrientes, como no caso dos rótulos que apresentam os valores de nutrientes e que com o auxílio de cores dos sinais luminosos de trânsito (Semáforo nutricional) facilitam a sua interpretação (GDA policromático) (Figura 2).

Figura 2: Exemplo de informação da dose de referência duma embalagem de bolachas (Anónimo, 2015a)

Indiretas (Non-directive)  Aquelas que apresentam apenas o valor quantitativo dos

nutrientes (Dose diária recomendada) que constituem o produto, sem o auxílio das cores (GDA monocromático) (Bialkova. et al.,2014).

Figura 3: Exemplo de informação da dose de referência duma embalagem de barras de cereais (Anónimo, 2015b)

(30)

17 Kiszko et al., (2014), avaliaram uma série de estudos, concluindo que alguns grupos em particular teriam diminuído a quantidade de calorias que ingeriam desde a existência de tabelas nutricionais, tais como mulheres, cidadãos residentes em vizinhanças saudáveis, pessoas em dieta, entre outros. Ainda assim, vendo a população como um todo, não verificaram que a ingestão de calorias tivesse diminuído desde que passaram a existir rótulos com a declaração nutricional (Helfer e Shultz, 2014). Embora vários estudos sugiram que as escolhas saudáveis possam ser incentivadas pela otimização da rotulagem nutricional, há que ter em conta que a literatura se baseia na capacidade de compreensão da informação por parte dos consumidores quando submetidos a uma exposição forçada aos rótulos, o que não simula um ato voluntário. Numa situação real, sabe-se apenas que a rotulagem nutricional influencia a capacidade de atrair a atenção do consumidor, assunto que ainda está pouco estudado (Bialkova. et al.,2014).

Os elementos interpretativos podem despertar a atenção dos consumidores para o caso de alguns nutrientes pouco saudáveis, como no caso da cor vermelha dos semáforos, mas isto não se correlaciona com a mudança de comportamentos. A grande vantagem da sua utilização é saber-se que o consumidor percebe esta informação e que sabe escolher, se essa for a sua vontade, e assim detetar qual o produto mais saudável (Aschemann-Witzel et al., 2013).

Bialkova et al. (2014) concluíram que a informação do valor das doses de referência mono e policromática atraem mais atenção por parte do consumidor, o que parece encorajar o consumidor a processar a informação lá descrita, levando ao aumento do impacto que a informação nutricional pode ter na escolha. Por outro lado, esse aumento de atenção pode ser explicado pela necessidade acrescida de tempo necessário para a interpretar antes que esta possa ser usada para a tomada de decisão. Constataram que, inicialmente, este tipo de rótulo atrai a atenção devido às cores que apresenta e que, seguidamente, exige tempo para a sua interpretação, o que pode desmotivar alguns consumidores. No caso do logotipo de escolha saudável, a presença deste representa por si só um conjunto de requisitos cumpridos o que diminui significativamente o tempo necessário para a sua interpretação. Os rótulos que continham os valores da dose de referência recomendada (mono e policromáticas) seriam mais atrativos, resultando num aumento da atenção do consumidor quando comparados com o logotipo de conotação saudável. No entanto, no que dizia respeito à escolha do consumidor, este preferia optar pelos produtos cujo logotipo estava presente do que os que continham a informação das doses. Mais uma vez, há que ter em atenção que, numa situação experimental, a motivação do consumidor para escolher acertadamente é mais forte do que numa situação real, que está influenciada pela pressão

(31)

18 causada pela falta de tempo e pelas escolhas habituais. Numa dessas situações reais, o estímulo atrativo existe igualmente mas é rapidamente travado pelo consumidor assim que este entende que interpretar as informações lhe leva mais tempo. Nesse sentido, um logotipo de escolha saudável poderia ter mais efeito num ambiente de compra em tempo real.

2.4. Os rótulos da carne e dos produtos cárneos

No caso particular da carne e dos produtos cárneos, os rótulos são meios importantes para apresentar ao consumidor as qualidades e atributos do produto e, no que diz respeito aos produtos cárneos transformados, são especialmente importantes porque uma inspeção visual não permite discriminar tão facilmente os diferentes componentes como no caso da carne fresca. A rastreabilidade e autenticidade dos produtos cárneos são informações de importância extrema para os consumidores da sociedade moderna, como se pôde verificar na recente crise anunciada sobre a adulteração de produtos cárneos com carne proveniente de espécies não declaradas no rótulo, neste caso de cavalo, o que demonstra o quão importante é para os consumidores ter à sua disposição informação clara e fiável sobre aquilo que comem (Bernués et al., 2003; Sentandreu e Sentandreu, 2014).

A pressão do consumidor para uma produção sustentável de produtos cárneos e o interesse crescente em preocupações relacionadas com a saúde humana e de bem-estar, levou ao aumento da inovação na indústria do sector (Ramachandraiah et al., 2015). O canal mais privilegiado para o agente económico comunicar essas inovações, as suas vantagens ou interesse, ao consumidor é o rótulo do alimento. São vários os fatores que influenciam as escolhas dos consumidores. Crenças religiosas, estilo de vida, preço e preocupações de saúde são alguns dos exemplos que explicam a variabilidade das prioridades nessas escolhas. Esses fatores aumentam o interesse dos consumidores em determinados produtos, criando pressões ao nível do mercado, que se vai adaptando a essas condicionantes que o mercado determina, e que comunica com ele fundamentalmente através da rotulagem, fornecendo ao consumidor informações sobre a especificidade do alimento que esse nicho de mercado procura. Como exemplo temos a procura crescente de produtos tradicionais ou regionais que são vistos pelos consumidores como produtos de qualidade elevada ou mesmo a certificação de produtos, que garante ao consumidor o cumprimento de requisitos específicos (exemplo: certificação Halal que significa que a elaboração dos produtos e seus respetivos processos de produção seguem as condições exigidas pela lei islâmica) (Instituto Halal de Portugal, 2015; Sentandreu e Sentandreu,

(32)

19 2014). Particularmente no norte da Europa existe uma preocupação acentuada relacionada com o bem-estar dos animais de produção e, nas últimas décadas, esta temática tem constituído uma preocupação política e tem-se procurado legislar em função da proteção do bem-estar animal. Neste sentido, rótulos que transmitam informação relacionada com o bem-estar animal representam interesse político, uma vez que se acredita que possam incentivar o consumidor a adquirir em maior escala estes produtos assinalados (Heerwagen et al., 2014; Vanhonacker e Verbeke, 2013).

Questionados vários consumidores, as informações que consideraram mais importantes nos rótulos de produtos cárneos foram a data até à qual se deve consumir (considerado um atributo de frescura e segurança) e o local de origem da carne (considerado um atributo de qualidade) embora alguns consumidores tenham referido que informações sobre o processo produtivo também sejam de elevada importância. Como fatores de importância reduzida apontaram a marca do produto e as recomendações de confeção. Verificou-se ainda um interesse crescente dos consumidores nos aspetos relacionados com o bem-estar animal, o impacto ambiental e a segurança alimentar dos produtos. No entanto, o grau de importância das informações é variável na opinião dos respondentes. Existe uma diversidade de opiniões consoante a sua nacionalidade: para consumidores italianos e franceses, os fatores mais importantes dizem respeito ao sistema de produção, rastreabilidade e controlo de qualidade; para os escoceses e britânicos, os rótulos, na sua generalidade, não lhes desperta interesse a não ser no que diz respeito à origem da carne; em relação aos cidadãos espanhóis, fatores que consideram importantes dizem respeito à informação sobre maturação e nutrição, igualmente como a origem e o prazo de consumo do produto (Bernués et al., 2003).

Os consumidores tornaram-se mais exigentes relativamente aos atributos de qualidade dos produtos que adquirem (Ramachandraiah et al., 2015). Os atributos em causa não se revelam ser relativos às propriedades intrínsecas da carne, mas sim a fatores extrínsecos, como consequência da crescente preocupação dos consumidores sobre segurança, saúde, conveniência, localidade, fatores éticos, entre outros. Esses atributos relacionam-se com o processo produtivo e não propriamente com as características da carne por si só e muitas vezes não há dados sobre essas condições que estejam disponíveis para o consumidor (Bernués et al., 2003).

(33)

20

2.5. O rótulo e a sustentabilidade

Nas últimas três décadas, instituições públicas e privadas começaram a lançar informações acerca da sustentabilidade dos alimentos, com a introdução de logotipos e rótulos dessa natureza. Acredita-se que o consumo de alimentos e as escolhas alimentares contribuem largamente para o cumprimento de desafios ambientais e espera-se que as escolhas informadas, tal como previsto na rotulagem nutricional, sejam um incentivo para que se consuma de forma mais sustentável. No entanto, constata-se que o uso dos rótulos é bastante menor do que aquele que se esperava. O uso está relacionado com a motivação do consumidor para tal e, quanto mais preocupados estiverem os consumidores acerca da sustentabilidade, maior será o uso da informação contida nos rótulos para esse fim (Grunert et al., 2014; Katajajuuri et al., 2014).

O consumo de alimentos é uma das áreas mais importantes para a melhoria da sustentabilidade ambiental, uma vez que é responsável por um terço do impacto ambiental provocado pelos agregados familiares. Ainda assim, muitos são os consumidores que dedicam pouco tempo dos seus pensamentos a questões de sustentabilidade ambiental relacionadas com a produção de alimentos. Mudanças no comportamento do consumo alimentar seriam armas poderosas na redução do uso de recursos naturais (Vlaeminck et al., 2014).

Para além das informações sobre esta temática nos rótulos, também se verifica o aumento de iniciativas que promovem as escolhas sustentáveis, mas a falta de compreensão dos rótulos, aliada ao excesso de informação que estes contêm, tem levado à confusão do consumidor, o que limita o seu uso. Ainda assim, não se pode afirmar que os consumidores estejam pouco preocupados com a sustentabilidade. Pelo contrário, quando questionados, os consumidores afirmam que o seu nível de preocupação relativo a esta matéria de sustentabilidade em produtos alimentares é moderadamente alto mas, mais uma vez, a falta de compreensão é um dos fatores que motiva o desuso. Mas não é só esse o motivo para não adquirirem produtos mais sustentáveis porque, quando se trata de escolher alimentos, nem sempre se escolhem os melhores em termos de sustentabilidade, uma vez que este fator compete diretamente com as características sensoriais do produto e com as características nutritivas do mesmo, o que influencia a intenção de compra (Grunert et al., 2014; Halloran et al., 2014).

Os níveis de preocupação com assuntos relacionados com a sustentabilidade variam consoante fatores sociodemográficos. As mulheres estão mais preocupadas com o assunto do que os homens e usam, efetivamente, mais os rótulos, embora o nível de compreensão

(34)

21 pareça ser semelhante para ambos os sexos. As pessoas duma faixa etária mais velha têm demonstrado maior preocupação mas também um menor entendimento/compreensão dos rótulos. No caso das classes socias mais altas, demonstrou-se um uso maior de rótulos sustentáveis mas não uma maior preocupação ou maior entendimento da informação. Ao contrário do expectado, as famílias com crianças não demonstraram graus de preocupação superiores. Nos cidadãos com educação superior demonstraram-se níveis mais elevados de compreensão e uso da rotulagem mas não de preocupação acerca da sustentabilidade. Os consumidores diziam estar dispostos a pagar mais 10% do que o valor do produto para ter assegurado que são produtos de comércio justo mas, quando questionados sobre os inconvenientes de comprar este tipo de produtos, referem os preços elevados, o que ainda constitui um entrave na comercialização de produtos deste tipo (Vanhonacker e Verbeke, 2013). Este estudo permite demonstrar os níveis de preocupação elevados e que a intenção em termos de ética dos consumidores caminha para a valorização dos produtos ditos sustentáveis mas demonstra igualmente que tudo isso não se reflete na compra efetiva desses produtos (Grunert et al., 2014).

Vlaeminck et al. (2014) refere ainda que uma série de estudos revela que o consumidor está disposto a pagar mais por produtos ecológicos, mas que a venda de produtos ecológicos ainda continua muito baixa dentro das vendas totais. Existe, portanto, uma lacuna entre a atitude de comprar produtos mais ecológicos e o comportamento de fazê-lo. A atitude do consumidor traduz uma maior correspondência na compra de produtos mais sustentáveis quando a informação sobre essa matéria está descrita de forma mais acessível.

Grunert et al. (2014) citam Kimura et al. (2012) que explicam que as escolhas sustentáveis não estão só relacionadas com fatores intrínsecos às mesmas, como a motivação para agir de forma ética, mas também por questões extrínsecas, neste caso sociais, com a preocupação de como o consumidor será julgado pelos demais no caso de consumir ou não este tipo de produtos. Em suma, os resultados não significam que não existe um futuro para os rótulos sustentáveis. Apenas mostram que, no presente, o seu uso na Europa é limitado, apesar de existirem diferenças notáveis entre países, mesmo após serem controladas as diferenças na interpretação e motivação para o uso dos rótulos. Os níveis elevados de preocupação refletem-se mais em atitudes/comportamentos em alguns países do que noutros mas de forma insuficiente, no geral.

Imagem

Figura 1: Logotipo “Escolha Saudável” (EUFIC, 2014)
Figura 4:Percentagem de inqueridos que indica ler os rótulos aquando da escolha entre dois  produtos do mesmo tipo
Figura 5: Duração da leitura dos rótulos por parte do consumidor Não lê 24% < 30s 22% 30s a 1 min 40% > 1 min 14%
Figura 7: Esquema dos motivos apontados pelos consumidores participantes no estudo para não  lerem os rótulos
+4

Referências

Documentos relacionados

From this information it is concluded that being attended to by front office staff, and characteristics related to waiting time and the variety of services

Foram realizadas vivências em ins tuições históricas e que con nuam em funcionamento, tais como: Santa Casa de Misericórdia; Hospital Psiquiátrico São Pedro

complexa. De fato, o pensamento cartesiano opera a partir de causalidades simples. Assim, as políticas públicas apenas detectam uma variável e, com isso, tendem a perder

29 Table 3 – Ability of the Berg Balance Scale (BBS), Balance Evaluation Systems Test (BESTest), Mini-BESTest and Brief-BESTest 586. to identify fall

Dos docentes respondentes, 62,5% conhe- cem e se sentem atendidos pelo plano de carreira docente e pelo programa de capacitação docente da instituição (que oferece bolsas de

As análises serão aplicadas em chapas de aços de alta resistência (22MnB5) de 1 mm de espessura e não esperados são a realização de um mapeamento do processo

Starting out from my reflection on the words cor, preto, negro and branco (colour, black, negro, white), highlighting their basic meanings and some of their

Os instrutores tiveram oportunidade de interagir com os vídeos, e a apreciação que recolhemos foi sobretudo sobre a percepção da utilidade que estes atribuem aos vídeos, bem como