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Migração e deficiência: apontamentos para o debate sobre migrações internacionais e internas

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Academic year: 2021

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Migração e deficiência: apontamentos para o debate sobre migrações internacionais e internas

RESUMO

Este trabalho se insere numa agenda de pesquisa voltada para a relação entre migração e deficiência. Relatórios recentes da Organização das Nações Unidas e da Organização Mundial de Saúde apontam para a expressividade do número de pessoas no mundo que convivem com algum tipo de deficiência e a gravidade da sua “invisibilidade” em termos de políticas e acesso a direitos. Na literatura dos estudos migratórios, a mesma “invisibilidade” em relação à deficiência é constatada. O objetivo do presente trabalho é fornecer um quadro da relação entre migração e deficiência em três contextos: migrações internacionais no contexto internacional, migrações internacionais no contexto nacional e migrações internas no contexto nacional. As fontes de informação são as convenções, estatutos e leis referentes aos direitos humanos, às migrações e à questão das pessoas com deficiência. Considera-se que a inserção da dimensão da deficiência nos estudos migratórios representa uma contribuição importante para a maior compreensão da complexidade inerente ao fenômeno migratório.

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Migração e deficiência: apontamentos para o debate sobre migrações internacionais e internas1

Resumo

Este trabalho se insere numa agenda de pesquisa voltada para a relação entre migração e deficiência. Relatórios recentes da Organização das Nações Unidas e da Organização Mundial de Saúde apontam para a expressividade do número de pessoas no mundo que convivem com algum tipo de deficiência e a gravidade da sua “invisibilidade” em termos de politicas e acesso a direitos. Na literatura dos estudos migratórios, a mesma “invisibilidade” em relação à deficiência é constatada. O objetivo do presente trabalho é fornecer um quadro da relação entre migração e deficiência em três contextos: migrações internacionais no contexto internacional, migrações internacionais no contexto nacional e migrações internas no contexto nacional. As fontes de informação são as convenções, estatutos e leis referentes aos direitos humanos, às migrações e à questão das pessoas com deficiência. Considera-se que a inserção da dimensão da deficiência nos estudos migratórios representa uma contribuição importante para a maior compreensão da complexidade inerente ao fenômeno migratório.

Introdução

No relatório da Organização das Nações Unidas (ONU)5, de 2016, a

organização chamava a atenção, com base em estudo divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que, no ano de 2011, cerca de 1 bilhão de pessoas apresentavam algum tipo de deficiência, cujo montante equivale a 1 em cada 7 pessoas no mundo conviviam, naquele momento, em condição de deficiência.

A ONU alertava ainda para o fato de que a ausência de informações e estatísticas a respeito dessa parcela da população contribuía para a “invisibilidade”

1 Este trabalho se insere no Projeto Observatório das Migrações de Londrina, que recebe financiamento do CNPq (Projeto no. 409343/2016-1).

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vivenciada por essas pessoas, tanto no acesso a direitos de uma forma geral, como no processo de formulação de políticas públicas. Situação agravada no contexto dos países em desenvolvimento que, segundo o mesmo relatório, concentraria mais de 80% dessa população.

Esse quadro geral compõe e reforça a justificativa do presente trabalho, cujo objetivo principal volta-se para uma temática também “invisível” no campo dos estudos migratórios, que se refere à relação entre migração e deficiência. Trata-se de uma agenda de pesquisa bastante instigadora, cujo desenvolvimento depende da construção de um diálogo entre diferentes áreas do conhecimento.

Para essa comunicação, o objetivo foi, por um lado, o de destacar o quadro da normatização institucional no cenário internacional, o qual afeta mais diretamente as migrações internacionais e, por outro, apontar alguns desafios dessa relação entre migração e deficiência no contexto das migrações internas.

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Métodos

A elaboração dos apontamentos apresentados aqui se baseou em parte de um sistemático levantamento de leis, convenções e estatutos, no plano internacional e nacional e de uma bibliografia selecionada em diferentes áreas de conhecimento e pesquisa.

Para o presente trabalho, apresentaremos alguns apontamentos e reflexões sobre leis e estatutos levantados até o momento e apresentaremos um quadro provisório do trabalho e análise e sistematização da legislação nacional.

Resultado e Discussão

Nas reflexões a partir da literatura levantada e sistematizada até o momento com a finalidade de contemplar a relação entre migração e deficiência, uma das primeiras observações a serem feitas refere-se, aqui também, à “invisibilidade” da dimensão da deficiência nos estudos migratórios.

Nesse sentido, destaca-se que, desde os estudos clássicos, como de Ravenstein (1895) e Lee (1966), a figura do migrante aparece desprovida de qualquer qualificação subjetiva, embora esteja implícito que o “tipo ideal” considerado seria o do migrante “apto ao trabalho” e, em contraposição a isso, o migrante com deficiência

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seria o “inválido”, “não apto” ao trabalho. Se isso é válido para a migração interna, ganha maior força para as migrações internacionais.

Diante disso, um dos pontos dos nossos estudos é avaliar o quanto e de que forma o quadro institucional de normatização das migrações internacionais (que inclui tanto convenções, tratados e estatutos supranacionais, como as políticas migratórias nacionais) atuaria como “obstáculos intervenientes” na migração internacional de pessoas com deficiência.

Nesse sentido, a sistematização e análise de documentos internacionais elaborados e disponibilizados pela ONU e de material referente ao tratamento adotado por alguns países, no caso EUA e Canadá, frente à pessoa com deficiência no contexto da política migratória, já apontam para questões importantes para os nossos propósitos, como o não reconhecimento do direito de ir e vir, de livre circulação entre os espaços e territórios, em relação à pessoa com deficiência.

Considerações similares podem ser feitas a respeito dos diferentes momentos da política migratória no Brasil, desde o seu período imperial até o momento mais recente, na vigência do Estatuto do Estrangeiro. Encontram-se em andamento os trabalhos de sistematização e análise desse quadro institucional das leis nacionais, sendo exposta no quadro 1 uma versão provisória da sistematização das leis do período republicano, no qual observamos diferentes formas nas quais as pessoas com deficiências tiveram impedida ou dificultada sua entrada no Brasil.

Quadro 1: Quadro provisório das leis migratórias do Brasil – 1890-1980

ANO ATO EMENTA DESTAQUE

1890 Decreto no. 528 de 28 de junho

Regulariza o serviço de introdução e localização de imigrantes na República dos Estados Unidos do Brasil

Art. 1o. É inteiramente livre a entrada, nos portos da

República, dos indivíduos válidos e aptos para o trabalho (...)

1907 Decreto no. 6.455 de 19 de abril

Aprova as bases

regulamentares para o serviço de povoamento do solo nacional

Art. 2o. Serão acolhidos como imigrantes os estrangeiros menores de 60 anos, que, não sofrendo de doenças

contagiosas, (...) nem sendo reconhecidos como criminosos, desordeiros, mendigos, vagabundos, dementes ou inválidos. 1911 Decreto no.9.081

de 03 de novembro

Dá novo regulamento ao Serviço de Povoamento

Art. 2o. [...] serão acolhidos como imigrantes os estrangeiros menores de 60 anos, que, não sofrendo de doenças

contagiosas, (...)nem sendo reconhecidos como criminosos, desordeiros, mendigos, vagabundos, dementes ou inválidos. 1921 Decreto no. 4.247

de 06 de janeiro

Regula a entrada de estrangeiros no território nacional

Art. 1o. É lícito ao Poder Executivo impedir a entrada no território nacional: [...]. 2º, de todo estrangeiro mutilado,

aleijado, cego, louco, mendigo, portador de moléstia incurável ou de moléstia contagiosa grave.

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4 1934 Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil Título IV - Da Ordem Econômica e Social

Art. 121, § 6: A entrada de imigrantes no território nacional sofrerá as restrições necessárias à garantia da integração étnica e capacidade física e civil do imigrantes [...]. 1938 Decreto-Lei no.

406 de 04 de maio

Dispõe sobre a entrada de estrangeiros no território nacional

Art. 1o. Não será permitida a entrada de estrangeiros, de um ou de outro sexo:

I - aleijados ou mutilados, inválidos, cegos, surdos-mudos; 1945 Decreto-Lei no.

7.967 de 18 de setembro

Dispõe sobre a imigração e colonização

Art. 11o. Não se concederá visto ao estrangeiro:

III - que não satisfaça as exigências de saúde prefixadas; 1980 Lei no. 6.815 de 19

de agosto

Define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil, e dá outras providências

Art. 7o. Não se concederá visto ao estrangeiro:

V - que não satisfaça às condições de saúde estabelecidas[...].

Fonte: Leis e decretos federais levantados em IOTTI (2001), BASSANEZI et.al (2008) e acervo do Senado Federal Brasileiro [Elaboração próprio].

Por fim, o plano das migrações internas, no contexto nacional, apresentam pontos comuns e divergentes à abordagem das migrações internacionais, no que diz respeito à relação entre migração e deficiência. Por um lado, não apresenta um quadro legal que regule a circulação interna das pessoas, mas, por outro, na literatura corresponde, também se observa a “invisibilidade” da deficiência nos estudos dos processos migratórios e também está subjacente o tipo ideal do migrante como aquele “apto ao trabalho”.

Referências Bibliográficas

BASSANEZI, Maria Silvia C.B.; SCOTT, Ana Silvia V.; BACELLAR, Carlos A.P.; TRUZZI, Oswaldo M.S.; GOUVEA, Marina. Repertório de legislação brasileira e

paulista referente à imigração. São Paulo: Editora UNESP, 2008.

IOTTI, Luiza H. (Orga.) Imigração e colonização: legislação de 1747-1915. Porto Alegre: Assembleia Legislativa do Estado do RS. Caxias do Sul: EDUCS, 2001.

LEE, Everett S. [1966]. Uma teoria sobre a migração. In: MOURA, H. (Org.).

Migração interna: Textos selecionados. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil

S.A., 1980.

RAVENSTEIN, E. G.[1895] As leis da migração, in: MOURA, H. (Org.). Migração

VIEIRA, Maria Fernanda B.; BALTAR, Cláudia S. Migrantes portadores de

deficiência: a necessidade de deslocamento para grandes centros urbanos. In: V SIPECS – Seminário Integrado de Pesquisa em Ciências Sociais, 2016, Londrina, PR. Anais... Londrina, PR: Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais/UEL, 2016. Disponível em:

http://www.uel.br/eventos/ppgsoc/pages/arquivos/V%20SIPECS_ANAIS%20V_16%2

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