H
isfória
w w w .h is to ria v iv a .c o m .b rto m o a Inglaterra
indústria e construiu o maior imbério de tc
í / ■ , ; ' \
INGLESES NO BRASIL
Influência britânica substitui domínio português
HEGEMONIA NO ORIENTE
A conquista da índia e a humilhação da China
SENHORES DOS MARES
Poder da Marinha garante supremacia global
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
IMPÉRIO
■jtí-ÍJ
■1 - .•■oáfeá r % * . *& ■ „V, tf -’ •* H. -4 ^-Ã f 'f. . ê1’-"ST? *S m • - ; *'. * >:• " w": D ona absòltiia dos'^im
1 -:■■■ - - r •• <- • ’
J
J ‘ J *mares, pioneira da ^f)
• i - • i • ‘ > ^ z i " t i • ■ iá f t « ? » » - >n .-r* — '«TV ? " « «. / , / / • 7 « V » ’ ; ’-líder ao cofnerao ; ■
-v
m undial rio século
:' * í t
JIÉ È
, , " <••-', * $ '* & * íís ® fâ a ^ s ^
XIX, a Inglaterra _
dom inou um a
r
extensão territorial
-■v. : m aiòr do d u é à /
SS-j * • . • * f ?"• > S ' ' «• - â 1 "V . . *í -* :' \ r é r \ ^ h ~ ■-, < - • * ~, i l -í* ’ Ul, & -%J 'V-< ->*■*fer;', conquistada p o r '
''%Q;àiiãlqÜémuira-,, .
v *.* " * ***■ ’* -•{ ' 7'-*-v . ~ , e^>i ÍJ. * ^ ç .í7*.áSSS£3P
& ^ ^ ID E S y E M A S M M P E R l d BRITÂNICO • v0 16“ Batalhão de LançeirosReais avançando
a galope, tela que retrata a presença militar
britânica na fronteira entrevi índia e a China
e da Rússia sao os nossos campos, dè^trí®ti ;íi
s~it •
wncago e (Jdessa, os nossos celafos; o ^ a n a d a ^ o » , Báltico tfsao' ridssas HofístaS:iÉ ^ ® H fá s; á,AustráüK,í ‘ abriga nossas fazendas de carneiro^ e 'naíArgln^^T**
p ^-- pradarias daAinéficaxlb Noçt&estãó 'óimfíssSÊ
nns nfeMMnowwwni nos manda-sua nrata®lKiffl
Oficiais britânicos promovem leilão de objetos obtidos na pilhagem do palácio real de Mandalay, em Burma (1885)
Discursos semelhantes a esse são mui to freqüentes nas três primeiras décadas da era vitoriana - um período que se es tende de 1837, ano da coroação da rainha Vitória, até a crise econômica de 1870, quando a supremacia da Grã-Bretanha em escala global começou a ser contestada por potências rivais. Naquelas décadas douradas, o “império onde o sol nunca se põe” impunha à Pax Britannica por todos os continentes, com um a m arinha de guerra acima de qualquer desafio, a lide rança absoluta na indústria, no comércio e nas finanças - e, para completar, a firme convicção de que esse destino glorioso representava, nada mais, nada menos, que a vontade de Deus.
A Grã-Bretanha não era apenas o co ração de um império maior, em extensão territorial, do que qualquer outro, em
qualquer época — o Romano, o Persa, o Chinês, o Espanhol, o Otomano. A hegemonia britânica era exercida, suposta mente, para o bem de todos, dominantes e dominados. A idéia de que a competição econômicá constitui o grande princípio regulador das sociedades hum anas se apresentava, na retórica imperial, como um a verdade científica. N a era vitoriana, as teorias do biólogo Charles Darwin sobre a seleção natural eram apropriadas pelos propagandistas do império para justificar o domínio colonial sobre os povos “menos aptos” e, portanto, menos habilitados a um a sobrevivência digna.
Vantagem de ser ilha
A expansão imperial da Grã-Breta nha, a partir do século XVI, foi possível graças a dois fatores que a diferenciavam
dos seus rivais, de início mais fortes do que ela. Sua primeira vantagem compa rativa foi a supremacia naval. A Grã-Bre tanha foi favorecida pelo fato de ser ilha. O m ar constituía um a defesa natural contra eventuais invasores: Nos séculos XVI e XVII, os ingleses assistiram de camarote às sangrentas guerras terrestres entre as potências continentais européias - a Holanda, a França e a Espanha - sem se preocupar com a defesa das fronteiras, conforme explicou o historiador Giovan ni Arrighi.
“A canalização das energias e recursos britânicos para a expansão marítima, enquanto as energias e recursos de seus concorrentes europeus eram retidos em lutas perto de casa, gerou um processo de causa-eféitb circular e cumulativo”, es creveu Arrighi. “Os sucessos britânicos na
expansão marítima aumentaram a pressão sobre as nações da Europa continental. Mas esses sucessos também forneceram à Grã-Bretanha os meios necessários para administrar o poder na Europa continen tal. Com o tempo, esse círculo virtuoso colocou a Grã-Bretanha num a posição em que ela pôde eliminar da expansão marítima todos os seus concorrentes e, ao mesmo tempo, tornar-se a senhora incon testável do equilíbrio de poder na Europa.”
A partir da Batalha de Trafalgar, em 1805, quando a esquadra do almirante Nelson destroçou os navios da França napoleônica, a Marinha Real Britânica se tornou a dona absoluta dos mares. Naque la época, a força naval britânica equivalia, em potencial de combate, à soma das três ou quatro marinhas de guerra que a seguiam. Esse poderio era totalmente mobilizado em favor da expansão co mercial, tal como, ainda no século XVI,
havia profetizado sir Walter Raleigh, in trodutor do tabaco dos índios americanos nas cortes européias: “Quem comanda o mar comanda o comércio; quem co manda o comércio comanda a riqueza do mundo e, portanto, o próprio mundo”.
A segunda fonte do poderio britâ nico se situava dentro de suas fronteiras - a capacidade inigualável da Coroa de financiar a máquina de guerra e os em preendim entos ultram arinos. “A G rã-B retanha sempre foi a potência mais forte porque, em tempos de crise, conseguia levantar grandes quantidades de dinheiro sem recorrer a cobranças adicionais de impostos”, escreveu o histo riador Lawrence James. Enquanto os reis da França se viam obrigados a espremer o bolso dos súditos para enfrentar os custos da luta global pela supremacia, a m onarquia britânica vendia títulos da dívida pública aos aristocratas e aos comerciantes. Esses ingleses não faziam isso por patriotismo, é claro, mas porque tinham muito interesse na supremacia militar que abria fabulosas possibilida des de lucro no exterior. O Parlamento inglês estava repleto de mercadores, de banqueiros, de proprietários de estaleiros e de industriais. Eles apoiavam as polí ticas agressivas da Coroa no ultramar e, como recompensa, ganhavam generosas oportunidades de negócio nas terras anexadas. O rei George III enfatizou esse ponto num discurso dirigido aos parlamentares em 1762: “Meus territó rios aumentam sem cessar e novas fontes estão sendo abertas para o comércio e as manufaturas”.
Im pério por acaso?
Em sua primeira fase, iniciada no século XVII, a expansão britânica voltou seu foco para o Adântico e a Ásia. Os ingleses, ainda sem poder de fogo para enfrentar o Império Espanhol, hegemô nico no momento, lançaram os alicerces de sua influênüa de modo discreto. Co-, 2 __
i g meçaram a se infiltrar nas beiradas dos I domínios espanhóis - as ilhas do Caribe
A expansão imperialista foi movida por setores
da sociedade inglesa ávidos por oportunidades
que aumentassem lucros e prestígio
A divisão internacional do trabalho implantada
pelos britânicos deu origem à atual defasagem
entre países centrais e periféricos
e o litoral da América do Norte, onde fundaram suas primeiras colônias. N o mundo asiático, a presença britânica foi impulsionada pela Companhia das índias Orientais, que estabeleceu entrepostos a partir dos quais m antinha um próspero comércio com a C hina (chá) e a índia (tecidos e seda).
A conquista da hegemonia marítima e o avanço do capitalismo doméstico aceleraram o im pulso expansionista da Grã-Bretanha. N a índia, as forças britânicas p artiram d a instalação de entrepostos para a ocupação militar de enclaves no interior, num a escalada que culm inou com a dominação total do subcontinente, no século XIX. O comér- ,cio com a C hina também cresceu, assim como o cultivo de cana-de-açúcar no Caribe e o lucrativo tráfico de escravos da/ África para as Américas. O Pacífico e o
índico foram desvendados pelas grandes expedições de James Cook, entre 1768 e 1779. Os interesses embutidos nessas descobertas já não envolviam apenas os comerciantes, mas tam bém os grupos religiosos, que organizavam associações de missionários dedicados a propagar a fé cristã nos novos territórios.
É curioso observar que o expansio- nismo britânico se deu, até certo ponto, de forma desorganizada. Muitas vezes, eram os próprios colonos que tomavam a iniciativa de iniciar guerras e fincar, orgulhosos, a Union Jack, como é conhe cida a bandeira britânica, nas terras que ocupavam na marra. A ausência de um planejamento estatal centralizado serviu de argumento para o famoso aforismo “a Grã-Bretanha construiu seu império num momento de distração”. É um a idéia con fortável, que até hoje alivia o sentimento de culpa de um a parte da sociedade inglesa incomodada com os horrores do colonialismo, mas totalmente enganosa. A expansão imperial beneficiou os indi víduos e as classes sociais que enxergavam na política imperialista oportunidades de obter lucro no comércio, na indústria e nas finanças, de pilhar as riquezas dos
povos dominados, de conseguir empregos e postos de prestígio que na metrópole seriam inatingíveis. E a verdade é que, em momento algum, nenhum cidadão britânico, civil ou militar, foi punido por agir por conta própria na ampliação das fronteiras do império.
Ofensiva liberal
A independência das 13 colônias am ericanas, entre 1776 e 1783, foi um golpe devastador para o orgulho
britânico. Mas o império se recompôs rapidamente. O foco da sua expansão se deslocou para o Oriente e o Pacífico. A Austrália substituiu a América do Norte como destino preferencial da população branca que se tornou “excedente” na metrópole devido à introdução do ca pitalismo no campo e à substituição do artesanato pelas máquinas da Revolução Industrial. E a cobiça dos comerciantes, já de posse dos tesouros da índia, voltou- se para a China, com seu mercado de
milhões de consumidores em potencial. Muito mais do que a reposição das perdas territoriais, a grande proeza da Grã-Bretanha no início do século XIX foi reinventar suas relações com o resto do mundo. Já não lhe interessava mais a manutenção do monopólio comercial de tipo mercantilista. Os ricos investidores de Londres precisavam, agora, de duas coisas - mercados e matérias-primas. A Revolução Industrial, um empreendi mento 100% britânico, criou as bases para um a nova ordem internacional - um sistema que os economistas John Gallagher e Ronald Robinson batizaram de “imperialismo de livre-comércio”.
As teses econômicas liberais expressas por Adam Smith no clássico A riqueza das nações já influenciavam os estrate gistas ingleses, mas, até a virada entre os séculos XVIII e XIX, a Grã-Bretanha era um a cidadela protecionista. Seu co mércio se realizava, no essencial, com as próprias colônias e com áreas de influên cia ao alcance dos canhões da marinha real, como as cidades litorâneas da China e a submissa monarquia portuguesa. O crescimento vertiginoso da produção industrial demandava o fim do sistema, de regulamentos e barreiras comerciais erguido pelo m ercantilism o. Com o observa o historiador Eric Hobsbawm, a Grã-Bretanha se tornou “o único país industrial a abraçar, de imediato, a causa do comércio livre e irrestrito”. A palavra de ordem do Império Britânico foi, a par tir da Revolução Industrial, a circulação ampla das mercadorias, sem barreiras de nenhuma espécie. E, se alguém teimasse em impor obstáculos, a m arinha real, presente em todos os oceanos, estava pronta a derrubá-los com o fogo dos seus canhões.
Os motivos por trás de tam anho fervor liberalizante são óbvios. A Grã- Bretanha era, ao mesmo tempo, o maior exportador de produtos industrializados, o maior importador de alimentos e de matérias-primas e o maior fornecedor de serviços financeiros. A hegemonia
britâ-nica foi acompanhada — e impulsionada - pelo aumento espetacular do comércio transcontinental, com melhorias em grande escala nos transportes e nas co municações. Como observa o historiador Paul Kennedy, a Revolução Industrial melhorou extraordinariamente a posição de um país que já tinha sido muito bem- sucedido nas disputas mercantilistas do século XVIII. De acordo com Kennedy, em 1860 a Grã-Bretanha, sozinha, era res ponsável por mais de dois quintos do co mércio mundial de bens manufaturados. A imensa defasagem entre a me trópole industrial e a periferia subde senvolvida mudou a face do planeta de forma irreversível, com conseqüências que atravessaram todo o século XX. Nos impérios anteriores, como o dos turcos e até mesmo o dos romanos, a diferença tecnológica entre colonizadores e colonizados era relativamente pequena - e o intercâm bio comercial entre as duas partes, relativa- mente fraco. N a interpretação do historiador M arc Ferro, a Revolução Industrial provocou um alargamento da desigual dade global num a dim ensão sem precedentes. Do ponto de vista dos países periféricos, foram duas as principais conseqüências dessa mudança: a desindustriali- zação e a especialização agrícola. Como exemplo emblemático da primeira mudança, Ferro cita o caso dos produtos têxteis da ín dia. N o século XVII, os tecidos leves de algodão representavam 60% a 70% das exportações indianas. C om a introdução de m áquinas no processo de produção, a Inglaterra passou a produzir com maior rapidez e menores custos tecidos que, exportados sem tarifas para o
Metralhadoras foram usadas pelos ingleses em 1882 na repressão a manifestantes
egípcios em Alexandria
mercado indiano, destruíram as m anu faturas locais. “O processo de desindus- trialização se repetiu em várias outras colônias”, escreve Ferro, “junto com a especialização exagerada da agricultura.” Nesse esquema, os países periféricos dão preferência aos produtos consumidos pelas metrópoles, como único meio de obter as divisas necessárias para importar manufaturados. O modelo econômico colonial ou sem icolonial se im põe, assim, como um a camisa-de-força que asfixia qualquer tentativa de desenvolvi mento autônomo, eternizando o atraso.
O início do fim
O que não se eternizou foi a suprema cia da Grã-Bretanha. Em sua expansão avassaladora ao redor do globo, o impe rialismo britânico - com suas inovações técnicas e valores ideológicos - plantou as sementes da sua própria destruição. A
T t » Olarias» Owpe) ef Cltriít.
fase final do século XIX, a partir de 1870, é marcada por três novidades: um a
. A * /♦
nova potência europeia, a A lem anha unificada; as renovadas am bições im periais da França; e, sobretudo, a ascensão, do outro ládo do Adântico, de um novo gigante militar e industrial, os Estados Unidos. A Grã-Bretanha
m antinha sua posição de hegemonia inconteste, mas sua superioridade já não era mais tão absoluta quanto nas déca das douradas do laissez-faire. Embora cada vez mais rico, o Império Britânico passou a enfrentar a rivalidade de países que também conseguiram usar a indus trialização em seu próprio benefício.' De certa forma, a difusão das inovações tecnológicas nivelou as perspectivas de progresso econômico, favorecendo os países com melhores chances de utilizar suas riquezas naturais e extensão terri torial para erguer florescentes parques industriais e, em seguida, im itar os passos da Grã-Bretanha na expansão além-fronteiras.
Imagem publicada em capa de revista dirigida a missionários ingleses, em 1866
Inaugurou-se, assim, no final do século, um a corrida entre potências imperialistas novas e antigas pela divisão dos espaços do planeta que ainda não estavam sob domínio das metrópoles ocidentais. Entre 1876 e 1915, conforme assinala Hobsbawm, cerca de um quar to da superfície continental do globo foi distribuído ou redistribuído, como colônias, entre meia dúzia de Estados. A Grã-Bretanha, sozinha, aumentou a área sob seu controle direto em cerca de 10 milhões de km 2, mais que o atual território brasileiro.
O utras potências tam bém aboca nharam fatias suculentas no banquete colonial. A França, já instalada na Argélia
e no Marrocos, conquistou a Indochina e espalhou suas colônias em toda a parte central e ocidental da África. A Rússia, que já havia desafiado o leão britânico na Ásia Central até sua derrota na Guerra da Criméia (1854-1856), levou sua expansão terri torial até a fronteira com o Afeganistão - um país sob controle informal britânico. E, para aumentar a preocupação dos estrategistas de Londres, o Império Russo coroou a in vestida com a construção de uma ferrovia no sul do continente asiático que podia levar o exército do czar até a fronteira da índia, sem maiores empecilhos. Enquanto isso, a Alemanha e a Itália incorporavam os territórios remanescentes da África como colônias e os EUA deslocavam, pouco a pouco, a influência predomi nante da G rã-B retanha na Am érica Latina, ao pôr em prática seu projeto de hegemonia hemisférica expresso, no início do século XIX, pela Doutrina Monroe.
O elemento mais inquiétante nessa era de expansão agressiva do capital
A “ M ISSÃ O C IV IL IZ A T O R IA ”
A ilu straç ão ao lado revela os p re c o n c e ito s racistas q u e .m a rc a ra m o co lon ialism o . N e la , a d elicad eza do ro s to da m u lh e r b ran ca é co m p arad a às feições toscas dos re p re s e n ta n te s “ m o n gó is” , “a m e rín d io s ” , “ rriálaios” e “e tío p e s ” (em sentido horário, a p a rtir do alto, à esquerda). A suposta s u p e rio rid a d e dos eu ro p eu s e seus descendentes fo rn e c e u um c o n v e n ie n te p re te x to p ara a d om in ação e c o n ô m ic a e p o lítica: O p o e ta inglês R udyard Kipling, um d e fe n s o r entusiasta d o im p eria lism o , é a u to r d e versos fa m o s o s s o b ré “o fa rd o d o h o m e m b ra n c o ” — tal c o m o ele qualifica a missão d e “ c iv iliza r” os dem ais povos “ O q ue ap ro xim ava franceses, ingleses e o u tro s c o lo n iz a d o re s ” , escreve o h is to ria d o r M a fc F e rr o ,“ e ra a con vicção d e q ue encarnavam a ciência e a técnica, . e d e queíesse sa b e r perm itia;às:sociedad es p o r.e le s - :
subjugadas.progredir.” - ' *' ' ■ ilústráçãò do livro e s c q la ri^ fo c é s o f men, de 1877 - ' ^sfc§
internacional - o chamado “novo impe rialismo” - é que o projeto colonial já não era, essencialmente, um a iniciativa das empresas privadas, e sim um empreen dimento nacional, levado a cabo pelos Estados mais poderosos do mundo. O diapasão ideológico já não provinha de liberais como Adam Smith, mas de aven tureiros truculentos como Cecil Rhodes, que expandiu os domínios britânicos na África meridional, onde fundou um a colônia com seu nome, a Rodésia. Para “pôr fim a todas as guerras”, dizia ele, seria necessário “pôr a maior parte do mundo sob as nossas leis”.
As políticas protecionistas, que a maré liberal do período anterior parecia ter aposentado para sempre, ressuscita ram, mais fortes do que nunca, como instrumentos defensivos dos países de in dustrialização tardia, como a Alemanha e os EUA, que não confiavam na “mão invisível” do livre-comércio. Por toda parte, surgiu um novo discurso de justifi cação do imperialismo - uma retórica em
que o interesse econômico do lucro era igualado à preocupação estratégica com a segurança. Para tornar o cenário m un dial ainda mais sombrio, as potências emergentes se lançaram a um a frenética expansão naval. Ameaçada, a Grã-Bre tanha tratou de ampliar também a sua m arinha de guerra, mas não teve meios de preservar o monopólio marítimo. Em 1897, as frotas da França, Alemanha, Japão, Itália e EUA, somadas, possuíam 97 navios dé guerra, em comparação com os 62 da Real M arinha Britânica.
O pesadelo de um a guerra total entre as potências, outrora encarado como al tamente improvável, voltou a assombrar o mundo - e se tornou um a trágica rea lidade com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, um conflito que os líderes da esquerda revolucionária da época, como Lênin, atribuíram às rivali dades entre as metrópoles imperialistas. O Império Britânico, que atingiu seu apogeu com o triunfo das idéias liberais, começou a estremecer na medida em que os ventos
da guerra sacudiam os alicerces do livre- comércio. Sobreviveu à Primeira Guerra M undial, mas nunca mais recuperou a prosperidade e a autoconfiança. Seus esforços de restauração da glória imperial prosseguiram nas primeiras décadas do século XX, até o impacto devastador da Segunda Guerra Mundial e, na sua seqüência, o ato político que marcou o do bre de Finados do colonialismo britânico: a independência da índia, em 1948. □
IGOR FUSER é pesquisador do C entro Interdisciplinar de Pesquisa (CIP) da Faculdade Cásper Libero, mestre em relações internacionais pelo Programa de Pós-Graduação Santiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC-SP) e doutorando em ciência política da USP
PARA CONHECER MAIS
A e r a dos im p é r io s - 1 8 7 5 -1 9 1 4 . Ene J. Hobsbawm. Paz e Terra, 1988.
H i s t ó r i a d a s c o lo n iz a ç õ e s . M arc F e rro
Companhia das Letras, 1994. j
A scensão e q u é d à das g ran d es po tên cias. 1 Paul Kennedy. Editora Campus, 1989. j