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Academic year: 2021

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(1)1. ARTHUR MAZZUCATTO DE LIMA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Comunicação e Artes GESTCORP. PROPAGANDA DE GUERRA: Uma arma de Comunicação em Massa. São Paulo – SP, 2009.

(2) 2. ARTHUR MAZZUCATTO DE LIMA. PROPAGANDA DE GUERRA: Uma arma de Comunicação em Massa. Monografia apresentada ao Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, em cumprimento parcial às exigências do curso de Pós-Graduação Lato Sensu, para obtenção do titulo de Especialista em Gestão Estratégica em Comunicação. Organizacional a. a. e. Relações. Públicas,. orientação da Prof Dr Mariângela Furlan Haswani.. São Paulo – SP, 2009. sob.

(3) 3. “Guerra é paz, Liberdade é escravidão, Ignorância é força”. Trecho do livro 1984 (George Orwell).

(4) 4. LISTA DE ILUSTRAÇÕES. Figura 1 –. Your Country Needs You. 26. Figura 2 –. I Want You for U.S. Army. 26. Figura 3 –. Diferentes representações da Batalha aérea durante invasão. 27. Alemã no Reino Unido Figura 4 –. Pôster da animação Der Füher’s Face de Walt Disney. 28. Figura 5 –. Cartaz informativo britânico. 30. Figura 6 –. “Esta é a felicidade que eles estão trazendo”. 37. Figura 7 –. Cartaz de protesto contra a guerra do Iraque. 40. Figura 8 –. Cartaz de protesto contra o interesse de grandes corporações na guerra do Iraque. 41. Figura 9 –. Cartaz de protesto contra o Presidente George W. Bush.. 41. Figura 10 –. Cartaz de recrutamento da campanha “Army Strong”. 45. Figura 11 –. Cartaz de recrutamento da campanha “Army Strong”. 45. Figura 12 –. Stand do “Army Experience” em shopping dos EUA. 49. Figura 13 –. Simulador de veículo de combate em stand do “Army Experience” 49. Figura 14 –. Cartaz Britânico incentivando a economia de recursos durante a Segunda Guerra.. 51.

(5) 5. SUMÁRIO INTRODUÇÃO. 07. CAPÍTULO I - COMUNICAÇÃO E PODER. 11. 1. Em busca do poder. 11. 2. O funcionalismo norte-americano como instrumento do poder. 14. 3. Características do funcionalismo norte-americano em comunicação. 15. 4. A comunicação Pública e Estatal. 17. CAPÍTULO II - COMUNICAÇÃO PARA A GUERRA. 21. 1. A comunicação como estratégia. 21. 2. A máquina de propaganda dos Estados Unidos. 29. 2.1.. Relações Públicas e a manipulação da mídia. 30. 2.2.. Surgimento da Internet: todos unidos contra a guerra. 39. CAPÍTULO III – NOVAS TECNOLOGIAS DE PROPAGANDA 1. O caso do Exército norte-americano 1.1.. Criação de um conceito: Army Strong. 1.2.. Comunicação Integrada: O uso das mídias digitais como ferramenta de propaganda. 44 44 44. 46. IV – CONSIDERAÇÕES FINAIS. 51. V – REFERÊNCIAS. 54.

(6) 6 RESUMO O trabalho aborda a utilização de técnicas de comunicação como forma de estratégia de guerra. Através da propaganda ideológica o Estado é capaz de mobilizar recursos humanos, financeiros e produtivos para sustentar sua guerra, ao mesmo tempo em que tenta desmoralizar e desestabilizar o exército inimigo. Para compreender os mecanismos que permitem alcançar estes objetivos, o trabalho analisa as teorias de poder e comunicação, exemplificando com casos que mostram como a propaganda foi usada ao longo da História e como está sendo empregada, atualmente, pelos Estados Unidos, através dos meios digitais, para o recrutamento e melhoria da imagem do Exército.. Palavras chaves: Propaganda Ideológica; Estratégia de Guerra; Poder; Comunicação.. ABSTRACT This paper approaches the usage of communication techniques as war strategy. Through ideological propaganda, the State is capable to mobilize human, financial and productive resources to found war and, at the same time, tries to demoralise and destabilise the enemy’s army. To comprehend the mechanisms that allow reaching these objectives, this paper analyses the theories of power and communication, exemplifying with cases that show how propaganda was used through History and how it is being employed nowadays by the USA, using digital media, to recruitment and image improvement of the US Army.. Key Words: Ideological Propaganda; War Strategy; Power; Communication. RESUMEN Este trabajo aborda la utilización de las técnicas de comunicación como parte de la estrategia de guerra. A través de la propaganda ideológica el Estado es capaz de movilizar recursos humanos, financieros y productivos para sustentar su guerra, al mismo tiempo que intenta desmoralizar y desestabilizar al ejército enemigo. Para comprender los mecanismos que permiten alcanzar estos objetivos, el trabajo analiza las teorías del poder y comunicación, ejemplificando con casos que indican cómo la propaganda fue usada al largo de la historia y cómo está siendo empleada actualmente por los Estados Unidos, a través de los medios digitales, para el reclutamiento y mejora de la imagen del Ejército.. Palabras. llaves:. Propaganda. Ideologica;. Estrategias. de. Guerra;. Poder;. Comunicación..

(7) 7. INTRODUÇÃO Na Segunda Guerra Mundial, aproximadamente 70 milhões de pessoas foram mortas. Destas, 25 milhões eram militares. Sabemos que em muitos países o alistamento é voluntário, ou seja, várias das pessoas que estavam nos campos de batalhas escolheram participar da maior guerra que a humanidade jamais presenciara, por livre e espontânea vontade. O que levou estas pessoas a enfrentarem uma situação potencialmente mortal, a saírem de suas casas, deixarem suas famílias e muitas vezes, viajarem milhares de quilômetros de distância para enfrentar um inimigo que eles nunca haviam visto o rosto? O que mobilizou multidões de jovens para que estes largassem seus estudos e empregos e saíssem à busca de um rifle para lutar? E por qual motivo eles lutavam? São estas as questões que me levaram a me interessar por este tema. Sabemos que a maioria das guerras são travadas entre nações, geralmente por motivos territoriais, econômicos ou ideológicos. Assim como as empresas tentam vender um produto ou serviço, os Estados têm utilizado diversas técnicas para convencer a população sobre ideologias e assim ganhar suporte político, financeiro e de recursos humanos para sustentar suas guerras.. OBJETIVO:. Com esta monografia tenho o objetivo de me aprofundar em como a Comunicação e técnicas de Propaganda são usadas para garantir os interesses do Estado. Para isto, pretendo responder as seguintes questões: •. Como o Estado utiliza estratégias de comunicação como arma para mobilizar milhares de pessoas em momentos de Guerra e Paz?. •. Como fazer com que toda uma população de um país suporte uma guerra, apoiando através de recursos financeiros, humanos e produtivos?. •. Quais são as técnicas de comunicação empregadas para sensibilizar e desmoralizar o inimigo?.

(8) 8 •. Como se dá a manipulação da opinião pública mundial e quais são os impactos que a imprensa pode ter sobre os interesses do Estado?. •. Como os Estados Unidos empregou técnicas de comunicação durante os conflitos armados dos séculos XX e quais são as novas estratégias empregadas atualmente?. HIPÓTESE:. O que quero comprovar com este trabalho é que a Comunicação pode sim ser considerada uma das armas mais importantes para a obtenção e manutenção do poder pelo Estado, favorecendo as classes dominantes e os seus interesses. Podemos ver este exemplo reproduzido incontáveis vezes durante toda a História, por diversos grupos que levavam nações inteiras à guerra, por interesses políticos e ganhos financeiros próprios. Um exemplo recente são os Estados Unidos. Em 1961, o então presidente dos EUA, Dwight D. Eisenhower, em seu discurso de despedida ao deixar o cargo, tentou alertar sua nação sobre o rumo que o país tomava. Após o final da Segunda Guerra, os EUA passaram a ser uma superpotência, com um vasto poderio bélico e de influência mundial. Eisenhower sabia que, para manter esta hegemonia, o futuro desta República corria um grande risco. “Nós fomos compelidos a criar uma indústria militar de vasta proporção" declarou para milhares de telespectadores “nós reconhecemos a necessidade imperativa para este desenvolvimento, porém não podemos falhar em compreender suas graves implicações”. Ele tentava alertar sobre a formação indevida de alianças entre a indústria, militares e governo, sendo o primeiro a utilizar a expressão “complexo Industrial-Militar”. Esta aliança poderia ser extremamente prejudicial ao aliar motivações políticas das organizações militares com as da Indústria, fazendo que as políticas públicas passassem a ser praticadas de maneira a favorecer aqueles que estavam no poder, em detrimento às necessidades do povo (JARECKI, 2008, p.28, tradução nossa). Conforme veremos ao longo deste trabalho, parece que a premonição do ex-presidente dos EUA acabou se concretizando: na segunda metade do século XX e início do XXI, os Estados Unidos estiveram envolvidos em centenas de.

(9) 9 conflitos armados e gastaram uma quantia desproporcional do tesouro nacional com o orçamento militar. Mais uma vez, surge a pergunta: se os EUA é um país democrático, e as pessoas que definem as políticas públicas são eleitas pelo próprio povo, por que são mantidas no poder quando estas advogam por interesses próprios, mantendo seu país em constante guerra com um alto custo financeiro e em número de vidas? O que faz com que o povo acredite que estas guerras devam ser apoiadas? Em 1942, o General George Marshall, ao traçar sua estratégia para derrotar o Eixo na Segunda Guerra Mundial percebeu que precisava reforçar o seu contingente, e para isso, teria que transformar milhares de civis em um poderoso Exército. Para esta missão, Marshall recrutou Frank Capra, um dos maiores diretores de Holywood no início do século passado, para produzir uma série de documentários chamados Why We Fight, que explicavam aos soldados os motivos pelos quais eles estavam participando desta guerra. Marshall declarou para Frank Capra que “muitos destes garotos nunca viram uma arma” e “estavam sendo tirados de sua vida civil e jogados nos campos de treinamento, e o motivo ainda não estava muito claro para eles”. Era papel de Capra esclarecer estes motivos, e para isto, ele lançou mão de técnicas de comunicação e pesquisa para desenvolver as mensagens contidas nos documentários. De acordo com Marshall: “para ganhar esta guerra, antes precisamos ganhar a batalha pela mente destes homens”.. METODOLOGIA:. Para desenvolver esta monografia, realizei pesquisas bibliográficas e consultas a obras de autores que tratam da relação da comunicação com o poder, Relações Públicas, História das Guerras e também de material multimídia que mostram as práticas de propaganda na atualidade, através da análise da mais nova campanha de comunicação do Exército dos Estados Unidos. Para compreender os motivos que levam uma nação à guerra, no primeiro capítulo deste trabalho são abordados conceitos básicos sobre o poder, assim como a utilização da comunicação como ferramenta de obtenção e manutenção deste poder. Ainda neste.

(10) 10 capítulo, apresento alguns modelos teóricos de comunicação e sua aplicação na Comunicação Pública. O segundo capítulo mostra como as teorias de comunicação estão relacionadas às estratégias de guerra, assim como sua utilização nos principais conflitos armados nos séculos XX e XXI. Também veremos como o surgimento da Internet mudou o cenário da propaganda ideológica, através do ativismo online e a possibilidade de qualquer indivíduo omitir sua opinião e gerar informação, sem a censura da indústria da cultura. No terceiro e último capítulo, farei um breve estudo de caso, mostrando como o Exército dos Estados Unidos tem utilizado a propaganda, através de uma campanha de comunicação integrada, para aumentar o número de recrutamentos e recuperar-se de uma queda de prestígio ocasionada pela sua imagem abalada após os conflitos do Iraque e Afeganistão..

(11) 11. CAPÍTULO I – COMUNICAÇÃO E PODER Já não é novidade que a informação é uma ferramenta de poder. Porém, antes de começar a falar sobre como a comunicação pode ser utilizada como “arma” para mobilizar populações em tempo de guerra, ou até mesmo mudar o rumo de batalhas, temos que entender melhor como isto acontece e, para isto, faz-se necessário definir alguns conceitos sobre o “poder” e como ele pode ser obtido através da informação. Neste capítulo apresento também modelos teóricos de comunicação e algumas teorias de comunicação pública.. 1.1 – Em busca do poder Em seu livro Tratado de comunicação organizacional e política, Gaudêncio Torquato dedica um apêndice inteiro para discutir sobre o poder, começando com um pensamento do filósofo inglês Bertrand Russel:. O poder, juntamente com a glória, permanece como a mais alta aspiração e recompensa do gênero humano”. Para ele isto define o poder como: “a capacidade de fazer com que as coisas aconteçam. É uma definição mais forte do que a do sociólogo alemão Max Weber, que viu o poder sob a perspectiva do resultado, sendo, assim, a possibilidade de alguém impor a vontade sobre a conduta de outras pessoas. (TORQUATO, 2004. p.21). Estes pensamentos mostram que a busca pelo poder é algo inerente à nossa vida em sociedade. O poder é um meio de obtenção de nossos objetivos, mesmo que contrários aos de outras pessoas. Porém, Karl Deustch, em Política e Governo, descreve o poder como ambos, meio e fim, através da metáfora da rede e do peixe:. Consideremos o poder como o instrumento por meio do qual se obtêm todos os outros valores, qual rede usada para apanhar peixe. Muitas pessoas consideram, também, o poder um valor em si mesmo: na realidade, para alguns é, não raras vezes, o peixe capturado. Já que o poder serve ao mesmo tempo de meio e de fim, como rede e peixe, é um valor-chave em política. No entanto, é um valor-chave apenas no.

(12) 12 contexto de outros valores, pois os homens não vivem regidos por um valor único. (apud TORQUATO, 2004. p.21). Independente de considerarmos o poder como o meio para se atingir um objetivo ou simplesmente o objetivo em si, ambos os conceitos mostram que a busca pelo poder é algo que faz parte do comportamento humano. Isto é mencionado na teoria das reações de comportamento de Tchakhotine, onde este faz referência ao exemplo das amebas para explicar os reflexos humanos. A ameba foge do perigo, absorve alimentos e multiplica-se. As pessoas, como as amebas, procuram evitar o perigo e preservar sua espécie. Torquato explicita estes dois mecanismos da seguinte maneira:. Para conservar-se, o indivíduo se vale de dois instintos fundamentais: o instinto de defesa ou combativo e o instinto de nutrição. Ou seja, a pessoa, para se conservar, luta contra o perigo, defende-se, ataca, procura afastar as ameaças, prevenir-se contra a morte. Ampara-se no instinto combativo. Mas precisa, também, sobreviver, garantindo o equilíbrio biológico, a satisfação do estômago; vale-se do instinto alimentar. Esses são os impulsos básicos de conservação do indivíduo. No caso da perpetuação da espécie, entram em ação dois outros mecanismos: o impulso sexual, responsável pela reprodução da espécie, e o impulso paternal, mais limitado e que abriga o conjunto de sentimentos e valores emotivos. Os impulsos constituem, na verdade, os mecanismos que explicam as reações e os reflexos das pessoas. É aquilo que I.P. Pavlov, o pai da escola russa, que desenvolveu a famosa teoria dos reflexos condicionados, chamada de automatismos. Em suas experiências, Pavlov mostrou que se podem obter reflexos associados ou condicionados, por meio dos impulsos, seja o nutritivo (a experiência da salivação do cachorro), sejam os outros – o combativo, o sexual ou maternal. Os estados relativos a cada tipo de impulso abrangem, por exemplo, o medo, a angustia, a depressão, a raiva, a coragem, a agressividade, o entusiasmo. Em resumo, a luta pelo poder e a luta pela dominação – do homem contra o homem, do homem contra a natureza, do homem contra os sistemas institucionais – estão na base da luta pela sobrevivência e se amparam nas necessidades mais profundas do ser humano de se conservar e de preservar a espécie. Como as amebas. Portanto essa é a visão do poder sob a perspectiva dos impulsos humanos. (TORQUATO, 2004. pp.22-23). E como a força da comunicação está ligada com o poder? Torquato mostra que os discursos políticos são extremamente poderosos se construídos sobre abordagens.

(13) 13 expressivas que traduzem os mecanismos fundamentais de conservação do indivíduo e preservação da espécie:. O princípio do discurso é o de provocar uma reação emotiva de interesse. Para tanto, há de despertar atenção. E a intensidade da atenção vai depender do teor das mensagens, do interesse efetivo que a mensagem provoca no ouvinte e em seus estados físico e psicológico. Como se sabe, a palavra, como já dizia Pavlov, “entra em relação com todas as excitações externas e internas que chegam aos hemisférios cerebrais, assinala-as, substitui-as e, por esta razão, pode provocar as mesmas reações que as suscitadas por esses mesmos excitantes”. [...] Em suma, o discurso político leva em conta o ânimo social – a natureza do estado coletivo – e a tipologia comportamental dos cidadãos, agindo, com maior ou menor intensidade, sobre os mecanismos sensoriais de cada um. O discurso político é um agente poderoso de poder. (TORQUATO, 2004. p.24). Torquato ainda descreve como estes discursos podem ser construídos através do uso de reflexos condicionados:. Na construção do discurso de massa e do discurso grupal, há algumas alavancas que devem ser consideradas. Elas formam os eixos do poder. A alavanca da adesão, por exemplo, faz com que se aceite ou se rejeite uma pessoa ou uma idéia, associando-as a coisas e símbolos. Quando se fala em democracia, pátria, cidadania, liberdade, justiça, estamos falando de conceitos considerados positivos e bons. Ou alguém não concorda que esses conceitos são positivos? A alavanca de rejeição, que é o contraponto, procura convencer o interlocutor, o grupo ou a massa, a rejeitar pessoas, coisas ou idéias, associando-as a símbolos negativos, como guerra, morte, fome, imoralidade, fascismo, corrupção. Hitler construiu seu discurso em cima das alavancas da adesão e da rejeição, usando-as de maneira irrestrita, sofismando, ameaçando, prometendo força, poderio e riqueza, falando da possibilidade do aços e da destruição. O terceiro tipo de alavanca é a da autoridade. Representa também uma manifestação do poder. Deus traduz a síntese desse conceito. Outras figuras da História também exprimem a idéia, como Gandhi, o próprio Hitler, e Jânio Quadros, no Brasil. Por último, a alavanca da conformização, a solidariedade, a união a irmandade. A Alemanha hitlerista foi conceituada a partir dessa alavanca. “Alemanha acima de tudo” era o lema. “A união faz a força” traduz, com propriedade, o conceito. [...] Todas as alavancas embutem valores e significados, como segurança individual, segurança coletiva, propriedade, riqueza, crescimento econômico e progresso, combatividade, sexualidade, fraternidade, amizade, carinho, amor. As alavancas funcionam como reflexos.

(14) 14 condicionados. Os mecanismos do inconsciente, em certos momentos, disparam seu funcionamento, tornando-os mais ou menos intensos, de acordo com as circunstâncias e necessidades das pessoas”. (pp.24-25). Todos estes autores mostram que a busca pelo poder é algo inerente ao instinto humano. Enquanto existir o convívio social, um indivíduo ou grupo de indivíduos sempre estarão buscando o domínio através do poder. Vimos também que este poder pode ser obtido através da comunicação, manipulando os instintos mais básicos do ser humano, ao gerar estímulos de acordo com os efeitos que os emissores desejam que sejam produzidos nos receptores das mensagens.. 1.2 – O funcionalismo norte-americano como instrumento do poder. Muito criticado pelos pesquisadores alemães da Escola de Frankfurt, o modelo do funcionalismo norte-americano tem como sua principal característica o uso da comunicação como uma forma de controle e poder para a manutenção do sistema. Através do domínio técnico e midiático, as sociedades capitalistas e industrializadas esmagam o livre arbítrio de seus integrantes, usando mensagens massivas e produzidas em larga escala, o que passa a ser chamado de “dialética do esclarecimento” e “indústria da cultura” por Adorno e Horkheinmer (apud POLISTCHUK; TRINTA, [s.d.], p.111). Estes meios massivos geralmente são parciais, estão concentrados na mão de conglomerados que propagam suas ideologias às classes populares, para garantir a proteção de seus interesses, agendando a sociedade para assuntos convenientes, persuadindo, manipulando e criando falsas necessidades de consumo:. Em uma passagem de seu livro A ideologia alemã, Karl Marx afirma que, em um sistema capitalista, a “classe social” detentora dos meios de produção material igualmente mantém controle sobre a produção e a difusão das idéias que são as de seu tempo. Entre outras prerrogativas, “classes dominantes” desfrutam de poder midial, o que lhes permite veicular, valorizar e fazer prevalecer “sua ideologia”, isto é, seus modos.

(15) 15 próprios de representar a realidade, e, por tal via e de tal modo, exercer sua “dominação”. (POLISTCHUK; TRINTA, [s.d.], p.118). Marilena Chauí, em Simulacro e Poder: Uma Análise da mídia, complementa a idéia sobre a utilização da mídia como forma de manutenção do poder de quem detém o controle destes meios, fazendo uma dura crítica ao sistema funcionalista americano:. Podemos focalizar a questão do exercício do poder pelos meios de comunicação de massa sob dois aspectos principais, quais sejam, o econômico e o ideológico. Do ponto de vista econômico, os meios de comunicação são empresas privadas, mesmo quando, como é o caso do Brasil, rádio e televisão são concessões estatais, pois estas são feitas às empresas privadas; ou seja, os meios de comunicação são uma indústria (a indústria cultural) regida pelos imperativos do capital. Tanto é assim que, sob a ação da forma econômica neoliberal ou da chamada globalização, a indústria da comunicação passou por profundas mudanças estruturais, pois “num processo nunca visto de fusões e aquisições, companhias globais ganharam posições de domínio na mídia”. Além da forte concentração (os oligopólios beiram o monopólio), também é significativa a presença, no setor das comunicações, de empresas que não tinham vínculos com ele nem tradição nessa área. O porte dos investimentos e a perspectiva de lucros jamais vistos levaram grupos proprietários de bancos, indústria metalúrgica, indústria elétrica e eletrônica, fabricantes de armamentos e aviões de combate, indústrias de telecomunicações a adquirir, mundo afora, jornais, revistas, serviços de telefonia, rádios e televisões, portais de internet, satélites etc. (CHAUI, 2006, pp.72-73). 1.3 - Características do funcionalismo norte-americano em comunicação: Dentre os diversos modelos teóricos existentes, utilizaremos como base para este estudo o funcionalismo norte-americano, já que muitos dos exemplos e casos que analisaremos se referem às propagandas e comunicações públicas dos Estados Unidos. Segundo Ilana Polistchuk e Aluízio Ramos Trinta, em Teorias da Comunicação: O pensamento e a prática da Comunicação Social [s.d.], os EUA podem ser considerados.

(16) 16 um dos principais representantes da sociedade moderna e berço do paradigma funcionalista-pragmático. Diversos fatores colaboraram para que as bases da modernidade prosperassem naquela região. Ao contrário dos países europeus, que também contavam com tecnologia e economia desenvolvidas, os Estados Unidos foram o primeiro país capitalista que não teve em sua história uma organização feudal, além de contar como base religiosa o Protestantismo que, ao contrário do catolicismo, pregava que o trabalho era uma virtude, favorecendo o desenvolvimento econômico e a obtenção de lucro. Outros fatores também tiveram grande influência neste cenário. A ciência positivista, o movimento racionalista, os processos de industrialização, urbanização e a democracia ajudaram a sustentar o capitalismo, base econômica da modernidade. Deste contexto social e econômico surgem diversos estudiosos que desenvolvem teorias de administração, cujo objetivo é estudar formas de organização que enfatizem a precisão, a rapidez, a clareza, a regularidade, a confiabilidade e a eficiência, atingidas através da criação de uma divisão de tarefas, supervisão hierárquica e regulamentos. São organizações criadas para otimizar ao máximo os recursos disponíveis para poder chegar no fim que justifica sua existência: a obtenção de lucro. Ainda de acordo com Polistchuk e Trinta, é desta perspectiva mecanicista da administração que surge o funcionalismo norte-americano que tem em sua comunicação organizacional o reflexo destes modelos, usada como meio para garantir que as organizações funcionem de uma maneira eficiente, como uma engrenagem ou célula que facilita o bom andamento da máquina administrativa, ou seja, é concebida como uma ferramenta para o controle, onde o comportamento pode ser mensurado, previsto e padronizado, para que se consigam reações desejadas dos indivíduos através de estímulos pré-concebidos. A segmentação do público que deve ser atingindo é uma característica funcionalista. Denomina-se público um conjunto de pessoas que será alvo de uma mensagem midiática, no qual se espera causar um efeito em resposta a este estímulo. Segundo Paul Lazarsfeld (apud POLISTCHUK; TRINTA, [s.d.], pp.90-94), este público procura um meio de comunicação que tenha um conteúdo compatível às suas idéias e expectativas. Este professor também afirma que as mensagens transmitidas pela mídia.

(17) 17 nem sempre atingem o público de forma direta, sendo que estas podem ser influenciadas de uma maneira informal por “formadores de opinião”, processo este denominado como two-step flow of communication. Estas e outras teorias são derivadas do funcionalismo sociológico que parte do princípio que todo elemento não pode ser compreendido fora da totalidade de que ele faz parte, onde a ordem social é concebida pela integração mútua de suas partes. Para isso, os funcionalistas passam a estudar em detalhes a influência que cada um destes estímulos podem causar num determinado público receptor da mensagem, de acordo com o meio utilizado: O modelo da agulha hipodérmica punha em extrema vantagem a fonte emissora, regalando o receptor a uma condição de integral passividade. Pensa-se em uma ‘massa’, na qual os indivíduos não possuem rosto e na qual as individualidades se diluem. Por sua simplória concepção, esse modelo de entendimento considerava a mídia como uma ‘seringa’, injetando informações, inoculando idéias, minando resistências e submetendo vontades à vontade. Cá embaixo, multidões de indivíduos inermes e sugestionáveis. A mídia podia exercer o seu poder sobre esse público, ainda pouco definível como tal, mas que se deixava impressionar e se mostrava receptiva a toda sorte de manipulação ideológica. (...) Para se aproximar o funcionalismo dos estudos de Comunicação, basta lembrar que, também aqui, um dado conjunto se compõe menos de coisas ou de substâncias do que de funções. Isso quer dizer que cada realidade existente se define por uma função, isto é, pela atividade que lhe cabe em um conjunto cujas partes são necessariamente solidárias. O funcionalismo supõe que o desenvolvimento dos meios de comunicação corresponda a novas necessidades sociais e, sendo esse o caso, a tais meios compete proporcionar satisfações a expectativas de um público – parte da população total que se acha exposta à ação dos referidos meios. (POLISTCHUK; TRINTA, [s.d.], pp.84-85).. 1.4 - A comunicação Pública e Estatal Conforme apresentado, a comunicação é um instrumento chave para a obtenção e manutenção do poder. Como já dito também, os grandes interessados pela manutenção deste poder são as classes dominantes, detentoras dos meios de produção e mídiaticos, e consequentemente o Estado. Antes de qualquer coisa, é preciso identificar as diferenças entre o público e o privado. Para Sandra Jovchelovitch “[...] a noção de esfera pública só pode ser entendida.

(18) 18 em relação ao seu contrário, isto é, à esfera privada. É, portanto, dentro dessa relação que algo como um espaço público toma corpo” (apud HASWANI, 2006, p.29). Haswani (2006, p.29) ainda cita Habermas, em Mudança Estrutural na Esfera Pública, que aponta a cidade–Estado grega e a Europa entre os séculos XVII e XIX como marcos histórico-conceituais da noção de esfera pública. Na pólis, a esfera privada era a domiciliar; ali as pessoas viviam juntas para atender às necessidades vitais, dos ciclos do nascimento à morte, visando tudo o que dissesse respeito às necessidades biológicas da vida. Também é citada Jovchelovitch, que trata deste mesmo conceito ao afirmar que “a vida pública existe precisamente para enfrentar questões de interesse coletivo que não podem ser resolvidas através de caminhos que contêm apenas verdades singulares, radicadas em interesses privados” (apud HASWANI, 2006, p.29). Hanna Arendt define o termo público da seguinte maneira: [...] em primeiro lugar, ele quer dizer que o que é público pode ser visto e escutado por todos e possui a maior publicidade possível; segundo, o termo se refere ao próprio mundo enquanto algo que é comum a todos os seres humanos e se diferencia do lugar privado que cada pessoa ocupa nele. O mundo, entretanto, não deve ser entendido como a terra ou como a natureza em estado puro; ao contrário, o mundo é resultado da fabricação de mãos humanas – ou seja, ele se relaciona com o artefato humano e com as questões que se põem para aqueles que vivem neste espaço. O que caracteriza essencialmente o viver partilhado dos seres humanos no mundo é que existe um mundo de objetos entre aqueles que coletivamente o dividem. (apud HASWANI, 2006, p.30). Haswani demonstra ainda que os conceitos distintos de publicus e privatus, herdados dos gregos pelos romanos, não encontraram espaço na Europa medieval: O que se encontrava, nas sociedades do período, eram as relações de dominação centradas na casa do senhor, capazes de abranger tudo o que existia, inclusive a organização do trabalho social. Para Habermas (1984: 17), a representação pública medieval estava imediatamente vinculada à existência do senhor. Não havia uma noção do poder público. A legitimidade do governo era dada pelos atributos pessoais derivados da propriedade da terra ou da linhagem aristocrática. Quando tem início a polarização que antecede a luta da burguesia para firmar-se como alternativa à ordem feudal, lentamente essa visão de público esmaece, dando lugar, no final do século XVIII, à divisão em elementos públicos e privados por parte das autoridades feudais – a Igreja, os príncipes e a nobreza. (p.30).

(19) 19. Para Habermas é a partir dessa transformação social que vemos a ruptura entre o público e o privado:. O público passa a ser o Estado, revestido de uma existência objetiva em relação à pessoa que o governa. O segundo refere-se à distinção entre público e privado que aparece na Europa, definindo privat (alemão), private (inglês) e privé (francês) como “sem função pública ou oficial”, de onde se desenvolve o conceito de “sociedade civil”. O terceiro é o de esfera pública, em que indivíduos privados se reúnem para discutir questões de interesse público e são capazes de construir e sustentar uma discussão política de caráter crítico. (p.30). A nova esfera pública trazida pela revolução burguesa tem como princípio a participação política e a relação entre Estado e sociedade. Os cidadãos passam a buscar participação política por meio do diálogo racional sobre as questões de seu interesse. “A partir da vitória da burguesia sobre os Estados absolutistas, firmaram-se os objetivos deste novo público de mediar a relação entre Estado e sociedade, fazendo com que o Estado prestasse à sociedade contas do que fazia, por meio da publicidade disponível”. (p.30) Para Jovchelovitch (apud HASWANI, 2006, p.30), esta prestação de contas requeria que a informação relativa à ação do Estado deveria ser sujeita ao escrutínio da opinião pública. Além disso, também era necessário que os interesses gerais da sociedade fossem transmitidos a agentes do Estado através de canais legalmente institucionalizados, como a liberdade de imprensa, de palavra e de direito à reunião. A partir da revolução liberal, a idéia de público torna-se intimamente ligada à concepção de Estado e do exercício de sua autoridade (p.30). Portanto, é de extrema relevância olhar com mais profundidade as teorias da comunicação dentro da esfera pública e estatal. Para definir o campo da comunicação pública Roberto Grandi (apud HASWANI, 2006, p.34) utiliza o conhecido postulado de Laswell: Quem diz o quê, em que canal, a quem e com que efeito? •. Quem – a comunicação da instituição pública é aquela realizada pela administração pública;.

(20) 20 •. Diz o quê – divulga a produção normativa, as atividades, a identidade e o ponto de vista da administração;. •. Por meio de que canais – todos os meios disponíveis, preferencialmente de maneira integrada;. •. A quem – aos cidadãos e organizações, quando feita a comunicação de maneira direta; aos meios de comunicação de massa, quando quer se dirigir aos cidadãos e organizações que sejam audiência destes meios; e ao público interno, em forma de comunicação interna;. •. Com que efeitos – garantir aos cidadãos o direito de informação; construir e promover a identidade do ente público; oferecer aos cidadãos a possibilidade de exprimir de maneira ativa os direitos de cidadania; produzir mudanças na administração pública, dentre outros.. Vemos nesta análise que a comunicação pública utiliza-se das mesmas ferramentas que a comunicação mercadológica e institucional, tendo em sua mensagem a dupla missão de informação (serviços, deveres e direitos) e formação (de opiniões, atitudes, comportamentos) (p.35). Stefano Rolando (apud HASWANI, 2006, p.35) completa a abordagem de Grandi em função dos segmentos dos destinatários, dos conteúdos, dos meios utilizados, das dimensões econômicas, do tempo de duração e da extensão espacial, apontando dezoito tipos de comunicação institucional para a área pública, depois sucessivamente reagrupados por ele até se resumirem em cinco frentes de atuação: •. A publicidade institucional (aquela obrigatória, dever do Estado);. •. A publicidade de normas e leis;. •. A publicidade dos serviços públicos novos ou específicos;. •. A publicidade das atividades ou do funcionamento da estrutura [...];. •. A publicidade de imagem e de promoção (ligada ao turismo, cultura e identidade corporativa). Ao analisarmos as comunicações públicas feitas nos períodos de guerra, veremos que todas acabam também se encaixando nestas cinco frentes de atuação definidas por Rolando, sendo esta definição válida para tempos de paz ou conflito..

(21) 21. CAPÍTULO II – COMUNICAÇÃO PARA A GUERRA 1 – A comunicação como estratégia Agora que já vimos como o poder pode ser obtido através da comunicação, fica fácil imaginar que este poder é ainda maior quando usado em conjunto com outro tipo de poder: o bélico. Governos, organizações militares ou grupos armados utilizam-se de técnicas e conceitos estudados em comunicação para desestabilizar o seu inimigo, mobilizar a opinião pública e gerar recursos humanos, bélicos e financeiros. Torquato (2004) novamente dedica um apêndice inteiro de seu livro Tratado de Comunicação Organizacional e Política, para tratar sobre as estratégias e artimanhas de comunicação utilizadas na política e nas guerras. Ele faz um apanhado sobre como o poder, política e a guerra estão intimamente ligados aos pensamentos que amparam os alicerces da comunicação: “Os conceitos de guerra e suas estratégias [...] são úteis para a compreensão do fenômeno político e do modo como os homens agem para dominar seus semelhantes” (p.227). Um dos primeiros a ser citado é Karl von Clausewitz, um filósofo da guerra. Era um soldado profissional que viveu as atrocidades das guerras Napoleônicas. Seu livro, Da Guerra, foi publicado em 1832. Para Clausewitz, se o homem é um animal político, segundo Aristóteles, trata-se de um animal político que guerreia. Segundo Torquato: “A base mais conhecida de seu pensamento é: a guerra é a continuação da política por outros meios. Era a forma que ele tinha para expressar o compromisso estabelecido pelos Estados que conhecia”. (pp.238-239) Para Clausewitz, que escreveu seu livro num contexto onde o uso da força absoluta era permitido e praticado, a guerra não era apenas vista como um ato político, mas também como um autêntico instrumento político, uma continuação do comércio político, um modo de fazer política, mas por outros meios (TORQUATO, 2004, p.239). Esta linha de raciocínio foi adotada por outros líderes guerreiros, conforme escreve Torquato: Para muitos, Hitler deve ser considerado o líder guerreiro mais perigoso para a civilização, pois conseguia juntar três conceitos, três crenças que.

(22) 22 se completavam de maneira selvagem: tecnologia militar, o ethos guerreiro e a filosofia clausewitziana de integração dos fins militares aos políticos. [...] adotava Clausewitz como seu inspirador: considerava a guerra como uma continuação da política. Tanto o admirava que, nos momentos finais, ao fazer o testamento político o único nome que citou foi o de Clausewitz. Hitler elevou a guerra a um patamar de violência jamais visto. Desenvolveu-se assim, a mais pérfida experiência de dominação psíquica do século XX. (p.207). Outro pensador sobre as estratégias de guerra citado por Torquato (p.243) foi Gasil Henry Liddel Hart, ex-capitão e conselheiro do Gabinete inglês, que é considerado um dos maiores teóricos militares do século XX. Hart é o grande cultor da estratégia indireta. Fez críticas às idéias de Clausewitz, defendendo que a finalidade da guerra é assegurar uma paz em melhores condições. Para ele, as vitórias militares que ocorreram ao longo da História, nem sempre atendem aos objetivos políticos, como afirmava Clausewitz:. Para ele, a ação indireta é a estratégia mais valiosa por ser infinitamente mais ampla. Nesse sentido, cultua a informação de Napoleão de que na guerra “o moral está para o físico como três para um”. Até Shakespeare entra em sua análise, como o pensamento: “Por meios indiretos descobrir direções para atuar” (Hamlet, ato II, cena I) (p.241). Como estratégia indireta, entendemos as ações que visam diminuir a força do inimigo e fazê-lo evitar ou chegar desmoralizado num confronto direto. É neste momento que a comunicação entra com mais força dentro das estratégias militares:. “Buscar, todo o tempo, minar as bases morais do adversário, arrefecendo suas forças. [...] a estratégia militar pode dispensar as forças do adversário e lhe quebrar o moral, produzir incapacidade de ação e falta de motivação; antecipar e prever o modo de conseguir o resultado favorável no confronto; e impedir movimentos subseqüentes do adversário”. (p.244). A idéia da estratégia indireta não é nova. Sun Tzu, um general chinês que escreveu seu livro A arte da guerra há mais de 2500 anos, antes de qualquer teoria sobre comunicação e propaganda de guerra. Para ele, uma batalha deve ser decidida muito antes de começar o combate:.

(23) 23 “Trata da preparação dos planos, da guerra efetiva, da espada embainhada, das manobras, da variação de táticas, do exército em marcha, do terreno, dos pontos fortes e fracos dos inimigos e dos exércitos [...] Como precursor dos recursos estratégicos, Sun Tzu já ensinava que a maior habilidade de um chefe está em conquistar as tropas inimigas sem luta, no que é amplamente endossado por estrategistas contemporâneos como Liddell Hart” (TORQUATO, 2004 pp.227 - 228). Outro registro antigo, que trata sobre o uso da comunicação como forma de poder é o livro Manual dos Inquisitores (apud Torquato, 2004, p.231), escrito pelo frei Nicolau Eymerick em 1376.. É um manual sobre a lógica inquisitorial contendo truques,. manipulações, pressões, ameaças e demais armas psicológicas para neutralizar os hereges. Torquato faz um paralelo desta obra com a habilidade dos políticos em mudar o sentido das palavras, discursar sem dizer absolutamente nada de concreto e escapar de perguntas embaraçosas. Também podemos utilizá-la como referência para as propagandas nos períodos de guerra, onde os governos e instituições militares distorcem informações, omitem fatos e utilizam-se de técnicas psicológicas em suas comunicações a fim de manipular a opinião pública. Para ilustrar como estas técnicas são utilizadas, podemos lançar mão de outro trecho do livro Tratado de Comunicação de Torquato, sobre a propaganda de Hitler:. A propaganda não tinha como meta a educação, mas a indicação de fatos às massas. E os reflexos condicionados das massas eram reavivados, consolidados, por meio da organização de ações diretas: greves, ocupações de fábricas, pilhagens, combates de ruas. Portanto, a propaganda dava vazão às ações. E simplificava as idéias complicadas. Em Minha Luta, livro de Hitler, diz-se que escrito por Goebbels, lê-se: “É necessário baixar o nível intelectual da propaganda, tanto mais quanto maior for a massa dos homens que se deseja atingir”. A repetição, os slogans transformavam a mentira em verdade. O exagero era muito comum, principalmente na indicação das quantidades presentes nos comícios. A teoria racista dava o tom. O alvo eram os judeus. [...] O endeusamento do ditador, transformado em herói, enfeixava a ginástica revolucionária. A intimidação, o temor, impregnava o discurso. “Se algum dia decidir atacar um inimigo, não o farei como Mussolini: não entrarei em entendimentos e não me prepararei durante meses, mas farei o que sempre fiz na minha vida – precipitar-me-ei sobre o adversário como o raio da noite”, assim falava Hitler. Jamais falar na condicional. “Só a afirmação indicativa ou imperativa conserva a psicose do poder nos amigos, a psicose do terror nos inimigos”, apregoava. Jamais pedir ou esperar, sempre prometer e.

(24) 24 afirmar. E repetir sempre que os nazistas são vencedores e vencerão. Os adversários não tinham símbolo nem métodos e acreditavam que podiam revidar com provas lógicas, tentando expor Hitler ao ridículo. (p.204). Torquato observa que tanto na propaganda nazista quanto na propaganda mussolinista e nas técnicas usadas para combatê-las, se utiliza técnicas e processos que manipulam as massas, induzindo-as ao embrutecimento mental e psicológico, assim como podemos observar em práticas religiosas dos selvagens e de grupamentos místicos:. Hitler, particularmente, tinha necessidade de lidar com as massas em um nível inferior, quando, trabalhando sobre as condições fisiológicas, fazia as multidões mergulharem em estados quase hipnóticos. Dominava as massas pela violência psíquica, um estupro. Ou seja, a propaganda nazista nada mais era do que a exploração da doutrina de Pavlov sobre os reflexos condicionados. Não que Hitler e Goebbels tenham estudado a ciência pavloviana. Usaram-na empiricamente, intuitivamente. Nas experiências de Pavlov, no laboratório, para que os reflexos condicionados pudessem se formar nos cães e surtir efeitos, era preciso que certas condições se efetivassem: o meio biológico, o lugar, o tempo, as características hereditárias dos indivíduos sujeitos às experiências. Da mesma forma, a cultura nazista abriga muitos componentes e fatores. É certo que Hitler encarnava certos complexos profundos do povo alemão. Um povo submetido aos fenômenos da inibição e da excitação, fenômenos que, nos laboratórios, provocam nos cães salivação, inquietação, uivos, reações violentas, tranqüilidade ou dormência.[...] (p.206). Quem também reforça a idéia de manipulação de massas é Manuel Carlos Chaparro (apud DUARTE, 2006, p.43), que cita Serge Tchakhotine, analisando as técnicas e a lógica da propaganda de Hitler em A mistificação das massas pela propaganda política: Quais eram, então, os meios de influenciar as massas? Dissemos que havia dois grupos de pessoas; por conseguinte, deviam existir duas formas de propaganda: uma dirigindo-se aos dez por cento, as pessoas bastante seguras de si para resistir à sugestão brutal; a outra, aos 90 por cento, aos passivos ou hesitantes, que tinham seus mecanismos psíquicos acessíveis à sugestão emocional (...). Essas duas formas de propaganda, que se dirigiam a esses dois grupos de pessoas, diferiam então em principio: a primeira agia por persuasão, por raciocínio; a segunda por sugestão e deflagrava ora medo, ora o seu complemento positivo – o entusiasmo, o delírio, tanto estático como furioso..

(25) 25 É importante destacar que as inovações tecnológicas na arte e veículos de comunicação proporcionaram novas técnicas de manipulação. Antes da invenção da câmera, em 1826 (Heliografia de Niepce e Diorama de Daguerre, na França), a guerra se documentava através de pinturas (normalmente solicitadas pelas pessoas no poder) que geralmente a representava como um ato heróico e de honra. De acordo com o Prof. Lauro Ávila Pereira, existem referências diferentes sobre a primeira vez que foi utilizada para documentar batalhas: em “Uma História Crítica do Fotojornalismo Ocidental”, Jorge Pedro de Souza (Editora Grifos, 2000) afirma na p.26 que “A guerra AmericanoMexicana” de 1846-1848 foi (...) a primeira guerra para onde os jornais enviaram correspondentes, tendo mesmo um daguerreotipista anônimo realizado uma série de fotos de oficiais e soldados.” Pode-se considerar que é um fato pontual, até porque o fotógrafo era anônimo. Mas entre 1854/1855 o The Ilstrated London News envia o fotógrafo oficial do Museu Britânico, Roger Fenton, para cobrir a participação Britânica na Guerra da Criméia. Nesta situação pode ser identificada uma das primeiras manipulações de informações de cobertura de guerra. As fotos enviadas por Fenton eram de soldados britânicos posando, sem mortes. Entretanto, os registros fotográficos feitos durante a Guerra Civil Americana mostravam imagens dos campos de batalha, repleto de soldados mortos e violência, permitiam acercar-se da realidade de uma guerra, que não se pareciam nada com a idealização dos conflitos bélicos que as pessoas estavam acostumadas a ver (LAMPERT apud MANN JR, 2003, p.06). Com a divulgação de cenas reais dos fronts, no início do século XX, uma crescente atitude anti-bélica e o baixo índice de alistamento registrado na Primeira Guerra Mundial, fizeram que os governos intensificassem suas campanhas de propaganda. Para isto, desenvolveram cartazes de recrutamento militar tanto na Europa como nos Estados Unidos. Na Inglaterra, o cartaz com o slogan Your Country Needs You (Seu país necessita de você), de Alfred Leete, ou a versão americana com os dizeres I Want You for U.S. Army (Eu quero você para o Exército dos Estados Unidos), com a figura do Tio Sam apontando diretamente para o expectador, tentando coagi-lo, mostrando sua obrigação de servir ao Estado. Estes cartazes foram impressos em tiragens entre dez mil e um milhão de exemplares, que inundaram as cidades americanas..

(26) 26. Figura 1- Your Country Needs You. Figura 2 - I Want You for U.S. Army. Para a criação destes cartazes utilizaram-se todas as técnicas de publicidade moderna e uma linguagem própria das sociedades de consumo. Porém, em lugar de vender um produto, se vendia uma guerra. O efeito que se perseguia, independente da linguagem empregada, era transformar a guerra em algo familiar e próximo, através de mensagens emocionais e referencias à cultura popular. Em muitos cartazes de recrutamento, a idéia de defesa da nação se misturava com a idéia de defesa da família. Os cartazes representavam as mulheres e crianças implorando aos homens que lutassem, fazendo alusão ao conceito dominante de uma masculinidade protetora e uma feminilidade indefesa (p.06). Aqui vemos um claro exemplo da teoria das reações de comportamento de Tchakhotine, citadas anteriormente, onde são utilizados os conceitos de preservação do indivíduo e da espécie com o objetivo de gerar adesão a uma idéia. Estas técnicas também foram empregadas em cartazes para desumanizar e desmoralizar o inimigo. Estas imagens costumavam representar os inimigos como monstros, ladrões ou assassinos. Também foram criados cartazes para incentivar a compra de bônus de guerra ou doação de dinheiro e jóias pela causa, entre outros. Em seu livro World War II in Cartoon, Mark Bryant (2006) mostra a importância que a comunicação teve na Segunda Guerra Mundial, desta vez, através do papel que as charges e cartunistas tiveram neste conflito. Segundo ele, deve-se levar em conta que no.

(27) 27 período que aconteceram as duas grandes guerras, as únicas fontes visuais de informações eram o cinema, cartazes, jornais e livros – a grande maioria em preto-e-branco. Para um público ávido por notícias – muitas vezes analfabetos – o rádio era uma opção, porém apenas os cartoons políticos eram capazes de expressar mensagens que só a combinação de imagens e textos podem passar. Também considero importante ressaltar que nesta época, sem programas de computadores e de edição de imagens, eram os grandes ilustradores os responsáveis pelas artes gráficas da maioria das propagandas e publicidade. Bryant reforça este ponto ao destacar que os propagandistas da época sabiam da importância destes profissionais, de forma que seus serviços eram contratados em troca de verdadeiras fortunas. Um exemplo disto foi o artista soviético, Boris Efimov, que chegou a ganhar mais de quatro vezes o valor do salário do próprio Stalin. Inúmeros artistas criaram ilustrações para jornais e propaganda, gerando um grande impacto e ajudando a construir a opinião pública. É interessante ver os distintos pontos de vistas do mesmo conflito, sob a ótica dos cartoons produzidos nas mídias de cada um dos lados envolvidos – tanto entre os países do Eixo quanto dos Aliados – ambos os lados sempre retratavam as suas batalhas como vitoriosas e os inimigos como monstros e ditadores.. Figura 3 – Diferentes representações da Batalha aérea durante invasão alemã no Reino Unido (Contraste do Cartoon Britânico, à esquerda, com o Alemão, à direita)..

(28) 28. O papel destes artistas não ficava restrito apenas às propagandas direcionadas aos adultos, também foram criados diversos filmes de animação por grandes estúdios da época, como por exemplo, o desenho do Pato Donald chamado Der Füher’s Face que ganhou um Oscar para a Walt Disney em 1942 e a versão do Tex Avery da história dos Três Porquinhos, The Blitz Wolf, no mesmo ano (onde Hitler era o Lobo Mau), assim como diversas publicações de histórias em quadrinhos para crianças. Figura 4 – Pôster da animação Der Füher’s Face de Walt Disney. Todas estas técnicas e teorias de propaganda foram amplamente aplicadas nas batalhas que aconteceram após a Segunda Guerra Mundial, inclusive continuam sendo praticadas nas guerras que acontecem hoje em dia. Atualmente, existem diversos conceitos de propaganda, como o descrito por Neusa Demartini Gomes (2001, p.053):. Tecnicamente, existe uma grande diferença entre Propaganda e Publicidade: Propaganda vem de Propaganda Fidae, ou propagação da fé, campanha realizada pela Igreja Católica, a partir do século XVI. Mas é tão antiga quanto o homem, já que existe desde quando existem relações de poder entre dominantes e dominados. Destas remotas origens, quando não havia produtos comerciais, e da apropriação da Igreja Católica para sua ação doutrinadora, hoje se aplica o termo ao conjunto de regras e técnicas empregadas para propagar idéias. Já a Publicidade é o conjunto de regras e técnicas empregadas para divulgar produtos e serviços. É um fenômeno do nosso século, posterior à revolução industrial e ligada diretamente à sociedade de consumo.. Entretanto, para o contexto deste trabalho, os conceitos de propaganda e técnicas de comunicação que melhor se aplicam à realidade militar são os definidos atualmente pela OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte): Propaganda:.

(29) 29 “Qualquer informação, idéia, doutrina ou apelações especiais disseminadas para influenciar a opinião, emoções, atitudes ou comportamento de qualquer grupo específico com o objetivo de beneficiar o patrocinador, direta ou indiretamente” (Atual definição da OTAN) Operações Psicológicas: “Atividades psicológicas planejadas em períodos de paz ou guerra, direcionadas ao inimigo, aliados ou audiências neutras cujo objetivo é influenciar as atitudes e comportamentos com fim de alcançar objetivos políticos e militares”. (Atual definição da OTAN) Dissimulação: “A manipulação, distorção ou falsificação de evidências endereçadas a uma audiência inimiga e o uso de quaisquer canais de comunicação que forem considerados apropriados para apresentarem manipulações, distorções e falsificações como verídicas, o objetivo é induzir o inimigo a reagir de uma maneira que seja prejudicial aos seus interesses”. (Atual definição da OTAN). (apud TAYLOR, 1999, p.XIV, tradução nossa). 2. A máquina de propaganda dos Estados Unidos. Desde o início do século XX, com a popularização dos meios de comunicação em massa, diversos países passaram a empregar as técnicas de comunicação com objetivos estratégicos militares, tanto em períodos de guerra quanto de paz. Destes países, podemos destacar quatro grandes potências que utilizaram a comunicação em uma escala nunca antes vista, são eles: Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e a antiga União Soviética. Todos estes países fizeram campanhas de propaganda ideológica muito eficientes, capazes de mobilizar multidões e propagar ideais, desde a Primeira Guerra Mundial, passando pela Segunda Guerra e a Guerra Fria. Por que foram citados estes quatro países? Como já mencionada diversas vezes, a Alemanha teve um planejamento de comunicação extremamente bem executado, fazendo com que todo um país apoiasse uma ideologia racista e violenta, gerando uma das guerras mais sangrentas da História. A Inglaterra também foi extremamente eficaz em sua propaganda ideológica, porém teve um grande destaque em sua comunicação informacional, alertando a população inglesa sobre como agir em meios aos ataques à Londres, informando procedimentos em caso de bombardeios, mobilizando voluntários para controle de incêndio e para a evacuação das crianças que estavam na zona de.

(30) 30 conflito. Os países comunistas também realizaram um bom trabalho de comunicação durante as Grandes Guerras Mundiais, mas merece destaque pela incrível propaganda ideológica feita durante a Guerra Fria, tanto internamente quanto para o resto do mundo. No entanto, um país merece um destaque especial pelo emprego de técnicas de comunicação em períodos de conflito. Além de terem sido o berço das teorias funcionalistas em comunicação, os EUA devem ser analisados em mais profundidade, por ser um país que, com sua propaganda ideológica, mobilizou Figura 5 – Cartaz informativo. milhares de combatentes para os fronts de batalha que. britânico: Orientação para que os. aconteceram durante todo o século passado, assim como. cidadãos sempre carregassem suas. milhões de cidadãos a produzirem, financiando sua. máscaras de gás.. campanha bélica através do American Way of Life.. 2.1- Relações Públicas e a manipulação da mídia nos EUA Diplomacia Pública: “Diplomacia pública – a troca aberta de idéias e informações – é uma característica inerente das sociedades democráticas. Sua missão central é focada em (...) política externa. E isto se mantém indispensável para (...) os interesses, ideais e o papel de liderança [dos EUA] no mundo”. (US Advisory Commission on Public Diplomacy, 1991 Report) (apud TAYLOR, 1999, p.XIV, tradução nossa). A negociação, política, manipulação de informações e manutenção de interesses são encontradas nas mais antigas civilizações humanas. No entanto, as Relações Públicas passam a ser institucionalizadas e desenvolvidas dentro da modernidade, que teve como principal palco a democracia norte-americana. Segundo Paulo Nassar (2007), as Relações Públicas nasceram primeiro como um instrumento de manipulação, através da divulgação de informações parciais por meios de.

(31) 31 comunicação controlados pelos grandes capitalistas da época e pela onipresença do Estado nesta sociedade, com o objetivo de manter sob controle os sindicatos de trabalhadores, comunidade, imprensa, etc. É neste contexto que, em 1914, o famoso magnata americano John Rockefeller contrata o jornalista Ivy Lee – que depois será considerado como o pai das Relações Públicas - para atuar como conselheiro, visando melhorar a relação do magnata e suas empresas com os jornalistas e trabalhadores. Com isto, Lee criou a primeira agência de Relações Públicas do mundo, especializando-se em zelar a imagem de empresas. Porém, as estratégias usadas por Lee logo passaram a ser alvos de críticas e muitos estudiosos a enxergavam como uma atividade manipuladora e interesseira. Luiz Amaral (apud DUARTE, 2006, p.88) reforça que as Relações Públicas, no início do século passado, nos EUA, eram uma maneira de manipulação da mídia, ao citar Odegard:. Para se ter uma idéia do fortalecimento da posição dos assessores de imprensa na segunda década do século passado (nos EUA), vejamos alguns números: o jornalista Silas Bent disse que pelo menos 147 das 255 matérias publicadas pelo New York Times no dia 29 de dezembro de 1926 foram por eles originadas, assim como 75 das 162 publicadas pelo New York Sun no dia 14 de janeiro do mesmo ano (Bent, 1927, p.134). John Jessup, editor das revistas Fortune e Life, lembra que quando trabalhou para a agência de publicidade J. Walter Thompson, no início da década de 1930, ficou impressionado quando soube que 60% das matérias do New York Times eram inspiradas pelos assessores de imprensa (entrevista pessoal a Michael Schudson em 1977). E em 1930 o cientista político Peter Odegard estimou em 50% a proporção das noticias fornecidas pelas agências de relações públicas. Conclusão, segundo ele: hoje muitos repórteres são pouco mais do que intelectuais mendicantes que vão de um agente de publicidade ou de uma assessoria de imprensa a outra em busca de assistência.. Por mais que, ao longo do século XX, a prática das Relações Públicas tenha se profissionalizado e fincado raízes teóricas em outras ciências sociais, como a psicologia e sociologia - principalmente quando aplicadas à comunicação organizacional de empresas privadas - parece que o Governo dos Estados Unidos manteve a prática manipuladora iniciada por Ivy Lee..

(32) 32 Com a popularização dos televisores na metade do século passado, agora o Estado tinha uma mídia ainda mais poderosa para compor seu arsenal de comunicação e manipulação de massa. Arbex Jr. (2003, p.11) comenta que a televisão adquiriu um enorme poder de transformar quase tudo em show, espetáculo, diversão. As câmeras de televisão chegaram aos locais de combate antes dos soldados. Para quem assiste tudo pela televisão, se tem a impressão de estar testemunhando “a” verdade dos fatos, e não apenas “uma” verdade, isto é, uma simples versão que alguém filmou, editou e veiculou. Diferente dos outros meios de comunicação que a população norte-americana tinha acesso, que eram principalmente os rádios e os jornais, a televisão tinha a capacidade de mostrar fatos deturpados como uma realidade, minando ainda mais a capacidade crítica do público. Esta “criação” de fatos também é indicada por Luiz Amaral (apud DUARTE, 2006, p. 62), chamando-a de pseudo-evento:. Outro acréscimo ao léxico do jornalismo ocorreu em 1961, quando o historiador Daniel Boorstin sugeriu o termo pseudo-evento para referirse a acontecimento planejado com o “propósito imediato de ser transmitido ou reproduzido”. Um pseudo-evento, explicou ele, pode ser provocado para convencer, mas sua lógica é bem diferente da propaganda. Ele disse que um acidente de trem é um acontecimento real, mas uma entrevista é um pseudo-evento. E mostrou a diferença entre o pseudo-evento e a propaganda: “Enquanto a propaganda substitui opiniões por fatos, os pseudo-eventos são fatos sintéticos que influenciam indiretamente as pessoas, fornecendo a base ‘factual’ sobre a qual elas supostamente compõem as suas mentes”. (...) Os Jornalistas queixaram-se da política posta em prática pela administração de manipulação da noticia e criação de pseudo-eventos, mas não chegaram a tomar uma posição firme a respeito. Alguns ficaram chocados com as mentiras em relação aos vôos do U-2 (avião de espionagem norte-americano) sobre a União Soviética nos anos 60. Outros ficaram perturbados com o grau de tolerância do New York Times com a administração Kennedy, aliviando o acelerador na cobertura da iminente invasão da Baía dos Porcos (Cuba) em 1961, e com a posição do Pentágono na administração Kennedy e Johnson. O porta-voz da Casa Branca Arthur Sylvester declarou “No mundo em que vivemos, a geração de notícias de medidas tomadas pelo governo tornou-se uma arma numa situação de dificuldade. Os resultados justificam os métodos que usamos.” Um mês depois, falando no capítulo de New York da Sigma Delta Chi, fraternidade honorária em jornalismo, ele completou: “Penso que é um direito inerente do governo mentir – mentir para salvar-se quando confrontado com um desastre nuclear – é básico, é básico.” (...).

Referências

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