MESTRE TONI VARGAS
Salve Obaluaiê
Salve Obaluaiê, Salve Obaluaiê Que é meu santo protetor Me cubra com suas palhas E a nada terei temor Faça de mim instrumento De harmonia e de amor Que eu seja um bom capoeira Sem medo no coração Que meu gunga toque forte Carregado de emoção Afastai meu inimigo Aproximai meu irmão Que não me falte humildade Que não me falte saúde
Que eu partilhe o que é verdade Não fique com o que me ilude Que eu cuide dos meus alunos Me dê forças pre ensinar Salve Obaluaiê
Meu Guia meu Orixá
Veneno do cobra
Se o veneno da cobra se espalhou E o caboclo não morre viciou Se o veneno da cobra se espalhou
Viva Rony
Viva Rony
Meu Mestre sempre serás
Quero que escute este canto no lugar onde estás Quero dizer obrigado por tudo que fez por mim E dizer que seu trabalho, não merreu não teve fim Dizer que eu não esqueço como tudo começou E que seu canto guerreiro muitas vezes me embalou E que sem a capoeira eu não seria quem eu sou Obrigado meu amigo, meu mestre, meu guardião Um dia nos encontraremos nas rodas da imensidão Deus lhe dê sossego e luz
Eu lhe dou essa canção Em sinal de meu respeito E da minha gratidão
Chorou
Chorou na senzala o negro
Chorou
O negro chorou de dor O negro humilhado No canto acorrentado
O negro é calente mas chorou Na senzala acuado
No canto desprezado Quando o chicote estalou
Guerreiro escravizado por ser desrespeitado Mas depois se libertou
Navio negreiro
Navio negreiro Tumba flutuante Terra mãe distante Dor e desespero
Navio negreiro
Segue a nau errante Singrando saudades África distante Ouça meus cantares
Navio negreiro
Mãe que perde o filho Rei perde rainha Povo perde o brio Enquanto definha
Misturou
Berimbau chorou no terreiro Sinhazinha correu pra escutar Berimbau falou de um guerreiro Que os negro ia libertar
Ele vem vestido com a noite As estrelas à lhe iluminar
Tem a força do mar nas entranhas E o poder dado por orixás
Sinhazinha tremeu assustada Sem saber se ainda ficava ali Berimbau então silenciou E no terreiro apareceu Zumbi
Foi Zumbi
Sinhazinha tombou de joelhos O rei negro então a possuiu A noite fez-se fogo e o negro Assim como veio partiu Deixou a semente da raça No ventre da terra Brasil Misturou, misturou
Quem pensar que é só branco se enganou
Misturou, misturou
Branco, negro e índio misturou
Misturou, misturou
A semente da raça misturou
Misturou, misturou
No Brasil foi que tudo misturou
Dois gigantes
Dois gigantes se confrontam
Um feito de carvão e outro de bronze De fundo um berimbau e um pandeiro Cruzando o ar tal qual espadas
Fortes pernas, olhares se cruzando, se buscando Em meio a rodopios e negaças
Enquanto um voa o outro beija o solo De fundo um berimbau e um pandeiro E de repente um talho, outro talho O sangue irriga a terra e a ira A perna sai mais forte o corpo gira E vai ao chão um bravo capoeira O outro triunfante e cansado Se chega para o pé do berimbau E canta ladainha de vitória
E pronto a inspirar mais uma história Olha ao redor com ar de desafio De fundo um berimbau e um pandeiro
Mestre Touro
Ao Mestre Touro Dedico essa ladainha Por tudo que me ensinou Tudo que me fez sentir
Oxalá que derrame suas bênçãos Sobre o Grupo Corda Bamba Onde tanto eu aprendi Fo lá na Penha
Bem lá na Leopoldinense Que muitos bambas conheci
Seu Mentirinha, Mestre Silas e Paulão Dentinho, Mestre Zé Pedro
Luiz Malhado e Corvão E tantos outros
Que jamais vou esquecer Obrigado Mestre Touro Eu devo muito a você Lembro do Axé
Do ritmo da brincadeira Do orgulho de pertencer
Ao Grupo Corda Bamba de Capoeira Iê viva Seu Touro
No Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro O subúrbio tem seu lugar
É escola de bambas Aprendi tanta coisa lá
No Rio de Janeiro O subúrbio tem seu lugar
Tem muita capoeira
Ninguém vai querer duvidar
No Rio de Janeiro O subúrbio tem seu lugar
Cantadores, poetas E o berimbau a tocar
No Rio de Janeiro O subúrbio tem seu lugar
No Grupo Corda Bamba Seu Touru vai lhe ensinar
Sem tradicão Sem tradicão Eu não quero Sem ritual
Não vai dar
Perde o Axé
Camarada
Não vou jogar Sem berimbau Sem emoção Perde o Axé Eu não vou lá Com confusão Com traição Perde o Axé Melhor parar
Sem poesia Sem hierarquia Perde o Axé
O que é que vai sobrar
Faz tremer
Quando eu canto meu canto empolgado E o coro responde com toda emoção O berimbau revira ritmado
E a turma animada na palma de mão Quando o atabaque e o pandeiro Vêm sem desespero dando a marcação E o caboclo jogando bonito
Com força e magia Treme até o chão
Faz tremer, faz tremer
A mandinga é que faz o chão tremer
Palma de terreiro
Solte seu corpo bata palma de terreiro
Prá manter a tradiçao Aqui do Rio de Janeiro
Solte seu corpo, bata palma de terreiro
Prá mostrar que a capoeira É um brinquedo mandinguero
Solte seu corpo, bata palma de terreiro
Pois por aqui
Palma não é um, dois, três Vamos lá bata de novo Vamos mostrar pra vocês
Essa palma Carrega a tradição Do negro e sua cultura E não é errada não
Sinta o swing
Sinta o seu corpo tremer Bata palma com vontade Para o ritmo acender
O Mestre Bimba
Não falou que tava errado Ele fez de um outro modo E foi mal interpretado
Relaxa amigo
Sinta toda essa energia Capoeira não tem regra Tem mandinga e tem magia
Quando quer fica menor
Meu mestre é pequenininho Quando quer fica menor Pode ser seixo miúdo Ou ter o brilho do sol Que te cega
Tu procura, procura não acha Se "tu vem" por baixo ele voa Se "tu vem" voando ele abaixa Meu mestre é pequenininho Cuidado tu pode nem vê Que quando ele abre a ginga Derrama na roda mandinga E fica maior que você camará Ié o mestre é bom
Desapareceu no ar
A roda tava repleta Todo mundo estava lá Eu no gunga estava alerta Pois meu Mestre ia jogar
E quando meu mestre joga Meu coração joga também Eu vou quando ele vai E venho quando ele vem
Berimbau tava arretado O clima tava perfeito Tudo muito organizado Tudo bem, tudo direito
Os movimentos do Mestre Eram poemas no ar Era um artista jogando A arte de se jogar
De repente veio um raio Sem aviso do trovão Engasguei no berimbau Traído pela emoção
Numa fração de segundos Eu vi meu Mestre no chão É que o olhar de aluno É lento pra acompanhar
Meu Mestre tinha sumido Desapareceu no ar Reapareceu sorrindo Que é do jeito que ele faz
Era um negro roubando A alma do capataz Esse momento jamais Vai sair da minha memória
Eu vi meu Mestre assinando O seu nome na história Vi Peixinho transformado A maldade em brincadeira
Muito mais do que jogando Sendo a própria capoeira
Procura
Procura, procura ele não tá lá Foi ali já volta já
Procura, procura ele não tá lá
Me leva morena
Eu que já lhe fiz inveja Hoje só lhe causo pena Perdi tudo que já tive Pelo amor de uma morena
Me leva morena me leva Me leva pro teu bangalô
Me leva e com um beijo me cala Que eu sou da Senzala
Sou seu professor
Me leva morena me leva Me leva pro teu bangalô
Me leva morena querida Que eu dou minha vida Pelo teu amor
Me leva morena me leva Me leva pro teu bangalô
Me leva morena não esquece Que o dia amanhece
O galo já cantou
Me leva morena me leva Me leva pro teu bangalô
Me leva de noite e de dia Eu faço poesia
Eu te falo de amor
Me leva morena me leva Me leva pro teu bangalô
Me leva depressa, ligeiro Que eu sou prisioneiro Desse teu amor
Me leva morena me leva Me leva pro teu bangalô Leva me leva Me leva morena Que eu vou O sorriso
O sorriso dela é como a lua Derramado sobre o mar Faz o coração da gente De contente se acalmar Sorriso de feiticeira Querendo me enfeitiçar Mas, eu sou bom capoeira Isso não posso deixar Se eu ficar nesse sorriso Nunca mais saio de lá
Morena bonita chega aqui pertinho
Me dá um cheirinho Que eu vou lhe mostrar Em jogo arretado
Um S-dobrado, um macaco voado Você vai me amar
Morena bonita chega aqui pertinho
Me dá um cheirinho Que eu vou lhe cantar
Lindas ladainhas, versos e corridos Quadras tão bonitas
Você vai gostar
Morena bonita chega aqui pertinho
Me faz um carinho Que eu vou te contar Histórias de mestres De Bimba e Pastinha
Jogo da vida
Morena, no jogo da vida Tô perdendo pra você
Seu beijo é muito mandingueiro É certeiro não dá nem pra ver Seu abraço é feito uma rasteira Faz o chão desaparecer
Eu caio ferido Eu tombo rendido
No calor do seu dendê
Vem cá
Se você tá em casa tão triste Não tem como se expressar Uma dor apertando o seu peito A vontade sem jeito de chorar Eu vou lhe dizer uma coisa O remédio que vai lhe curar
Vem cá, vem jogar capoeira
Vem cá
É luta brasileira
Capoeira é a melhor coisa que há
Ela á brincadeira
Capoeira é cultura popular
Vem jogar capoeira
É uma luta maneira
Capoeira é o remédio que vai lhe curar Toco berimbau Eu sou poeta Tocador e cantador Eu tenho orgulho
De cumprir minha missão Vou no caminho
Que a capoeira me ensinou E que um dia
Marcou no meu coração
Se eu vou sozinho
Toco o berimbau Se é duro o caminho Toco berimbau Se tem espinhos Toco berimbau Mas vou É cantador
Ele estava sozinho Quase sem alunos Não esmoreceu O seu canto guerreiro Subiu pelos ares E não se perdeu
Pois quem canta prá poucos Não está preocupado Em quem vai esctar É cantador
Enquanto tiver voz vai cantar
É cantador
Enquanto tiver voz vai cantar
Eu tenho axé
A vida não é só dinheiro A vida não é só aqué Tem a força Tem mandinga Tem axé Eu tenho axé Eu tenho axé Na cabeça, no peito Na mão e no pé Eu tenho axé Eu tenho axé
Tô falando seu moço Eu tenho axé
Meu santo é de palha E eu tenho axé
Sou aluno do Peixe Eu tenho axé
Eu sou da Senzala Eu tenho axé
Berimbau bem tocado Segura o axé
Calma rapaz
A violência é uma falta de recurso É quando o homem faz mau uso De todo o seu potencial
Fica longe de Deus Da tradição, da capoeira Fecha o coração
Só faz besteira Acaba se dando mal Calma, calma rapaz Capoeira é de negro Não de capataz
Calma, calma rapaz Capoeira é amor Harmonia e paz Lembre só de você A um tempo atrás Vamos lá devagar Que assim não se faz
Jogando
Ô moleque onde é que tú tava
Já faz tanto tempo que eu tô te chamando Ô mainha eu já tava vindo
Eu tava na Ribeira jogando Eu tava na Ribeira Jogando No pé de ladeira Na roda da feira Tava na capoeira