• Nenhum resultado encontrado

Solubilidade de cimentos de ionômero de vidro indicados para o Tratamento Restaurador Atraumático

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Solubilidade de cimentos de ionômero de vidro indicados para o Tratamento Restaurador Atraumático"

Copied!
7
0
0

Texto

(1)

S

olubilidade de cimentos de ionômero

de vidro indicados para o Tratamento

Restaurador Atraumático

Solubility of Glass Ionomer Cements Indicated

for Atraumatic Restorative Treatment

Recebido em: jul/2015 Aprovado em: ago/2015

Mario Fernando de Goes - Professor titular do departamento de Odontologia Restauradora, área Materiais Dentários, da Faculdade de Odontologia de Piraci-caba (FOP/Unicamp)

Adriano Luis Martins - Mestre em Ciências pelo CENA/USP - Biólogo supervisor do Centro de Microscopia e Imagens da FOP/Unicamp

Cristiana Godoy Sartori - Doutora em Materiais Dentários pela FOP/Unicamp

Mario Alexandre Coelho Sinhoreti -

Professor titular do departamento de Odontologia Restauradora, área Mate-riais Dentários, da FOP/Unicamp

Autor de correspondência:

Mario Fernando de Goes - FOP/Unicamp Av. Limeira, 901

Piracicaba - São Paulo - SP 14414-903

Brasil

degoes@unicamp.br

RESUMO

O objetivo deste estudo foi avaliar e comparar a solubilidade de quatro cimentos de ionômero de vidro disponíveis comercialmente e indicados para a técnica do Tratamento Restaurador Atraumático (ART), quando expostos ao meio ácido (tampão lactato) e neutro (água). Para cada cimento de ionômero de vidro, 8 corpos-de-prova foram obtidos em matrizes plásticas com dimensões especificadas pela ISO 7849. Dois corpos-de-prova suspensos por fios de aço inoxidável dentro de cada frasco “pesa filtro”, foram imersos em 50 mL de água deionizada ou 50 mL de solução tampão lactato (pH 2,74), preparada segundo as re-comendações da ISO 9917. Para cada série de experimento, outro frasco “pesa filtro” contendo apenas os 50mL de solução tampão lactato ou água destilada foi usado como controle. Nestas condições, os frascos “pesa filtro” foram armazenados sob temperatura de 37oC, durante 23 horas. O conteúdo solúvel para cada

par de corpos-de-prova, em porcentagem, foi calculado seguindo a especificação da ISO 7849. O cimento de ionômero de vidro Ketac Molar Easymix apresentou valor percentual de solubilidade significantemente (p< 0,05) menor tanto no tampão lactato (8,70%) como em água (0,06%), em relação aos demais mate-riais Vitro Molar (12,17% e 0,10%), Vidrion R (13,29% e 0,26%) e Maxxion R (30,07% e 1,85%). Os quatro cimentos de ionômero de vidro foram significativamente mais solúveis em meio ácido do que em água e o material Ketac Molar Easymix apresentou menor solubilidade em ácido e água.

Descritores: materiais dentários; propriedades físicas e químicas; solubilidade

ABSTRACT

This study evaluated and compared the solubility of four commercially available glass ionomer ce-ments indicated for Atraumatic Restorarative Treatment (ART), after immersion in acid and water environ-ments. Eight specimens for each brand were obtained using a plastic ring mold with dimensions specified by ISO 7849. Two specimens of the same material were suspended by a platinum wire inside weighing bottles containing 50 mL of water or a lactate buffer solution (pH=2.74) prepared according to ISO 9917. Simultaneously, a clean weighing bottle with either lactate buffer or distilled water was used as a blank estimation for each specimen pair. The weighing bottles were stored at 37oC for 23 hours. The leachable

content of each specimen pair in acid or water was calculated as a percentage by mass, according to ISO 7849. Ketac Molar Easymix revealed the statistically lowest solubility in acid (8.70%) and neutral water environments (0.06%) compared to Vitro Molar (12.17% and 0.10%), Vidrion R (13.29% and 0.26%) and Maxxion R (30.07% e 1.85%). All glass ionomer cements showed statically higher solubility in acid compa-red to water. Ketac Easy Mix cement presented the lowest solubility in both environments.

Descriptors: dental materials; physical and chemical properties; dental enamel solubility

RELEVÂNCIA CLÍNICA

A baixa solubilidade apresentada pelo cimento de ionômero de vidro Ketac Molar Easymix, tanto em meio ácido como em água, minimiza o risco de degradação da restauração e favorece a ampliação das vantagens sociais obtidas com o uso da técnica ART.

(2)

INTRODUÇÃO

O cimento de ionômero de vidro convencional é uma classe de material com mais de 40 anos de história. Desde o desenvolvimen-to, em 19721, tem sido extensamente usado clinicamente como

liner ou base de restaurações em resina composta ou amálgama de prata ou como material restaurador.2 É composto por um pó

vítreo de alumínio-silicato-cálcio com alto conteúdo de fluoreto e uma solução aquosa de ácido poliacrílico.3 Após a mistura, a presa

do material inicia-se por reação ácido-base entre os íons lixiviáveis contidos no vidro e o ácido poliacrílico para formar uma massa homogênea constituída por polissais.4

Oferece a vantagem de se unir ao esmalte e dentina e liberar íons flúor à estrutura dental e para o meio bucal.5,6,7 Além

dis-so, o cimento de ionômero de vidro pode ser recarregado com aplicações de fluoreto ou pela escovação diária com dentifrícios fluoretados para manter a capacidade cariostática.8,9,10,11 Estas

ca-racterísticas singulares tem sido responsáveis pelo uso clínico do cimento de ionômero de vidro como material restaurador em den-tes decíduos e permanenden-tes de pacienden-tes com lesões de cárie ativa ou alto risco à cárie.8,12

O cimento de ionômero de vidro também tem sido indicado como material preventivo e restaurador no método de terapia da cárie denominado Tratamento Restaurador Atraumático (ART).13

Originalmente, esta técnica foi desenvolvida para prover trata-mento dental restaurador em regiões onde não existe disponibili-dade ou acesso ao tratamento dentário tradicional. A técnica ART requer mínima intervenção clínica, não depende de equipamentos elétricos e consiste somente na remoção do tecido cariado por meio de instrumentos manuais e posterior restauração da cavida-de com o cimento cavida-de ionômero cavida-de vidro.13,14,15

Entretanto, o sucesso clínico de qualquer material restaurador também depende das propriedades físicas que facilitam o procedi-mento de manipulação e a técnica de aplicação, além de dar con-dições para suportar as forças funcionais da mastigação e resistir à dissolução e desintegração produzida pela ação do meio bucal. Neste sentido, o cimento de ionômero de vidro indicado para res-tauração é o tipo de material que tem causado mais controvérsia. Isto porque esta classe de material apresenta baixa propriedade mecânica e índice de solubilidade que limitam o desempenho clí-nico ao longo do tempo16, especialmente em meio ácido.17,18

No meio bucal, os cimentos de ionômero de vidro estão su-jeitos às condições ácidas decorrentes da ingestão de alimentos ácidos ou por degradação de polissacarídeos ou ação da placa bacteriana por produzirem ácido lático em áreas onde o alimento fica estagnado ao redor da restauração.17 Nestas condições, o valor

do pH cai para níveis abaixo de 7 e degrada o cimento de ionômero de vidro.19 Além disso, o ácido lático (pH=4,9) também é o

compo-nente prevalente na lesão de cárie ativa.17,18

Na área específica da Odontologia restauradora, particularmen-te para o uso da técnica ART, a seleção de um maparticularmen-terial com proprie-dades preventivas e restauradoras envolve produtos quimicamente estáveis quando expostos ao meio bucal. Dessa forma, a habilidade do cimento de ionômero de vidro em resistir à desintegração quan-do exposto ao meio aquoso e ao áciquan-do lático é também um

impor-tante requerimento para avaliar o desempenho clínico e prevenir a solubilidade e perda precoce do material restaurador.

Em função disso, este estudo avaliou e comparou a solubi-lidade de quatro cimentos de ionômero de vidro convencionais disponíveis para uso clínico e indicados para a técnica ART, quando expostos ao meio ácido (tampão lactato) e à água. A hipótese a ser testada é que a massa, em porcentagem, de solubilidade dos cimentos de ionômero de vidro restauradores não é diferente, in-dependente do meio em que estão imersos.

MATERIAIS E MÉTODOS

Quatro cimentos de ionômero de vidro disponibilizados co-mercialmente como material restaurador foram avaliados neste estudo. Os detalhes como nome, composição, número de lote e os fabricantes dos materiais estão listados na Tabela 1.

Para cada cimento de ionômero de vidro, oito corpos-de-prova foram obtidos em matrizes plásticas, em forma de anel, com di-mensões especificadas pela ISO 784920 (20 mm de diâmetro

inter-no por 1,5 mm de altura). Em uma das faces da matriz foi feito um pequeno corte para inserir um fio de aço inoxidável com 0,25 mm de diâmetro e 10 cm de comprimento. Os fios de aço foram pesados em balança analítica com precisão de 0,01 mg (OHAUS AP250D, Florham Park, NJ, USA) e identificados individualmente. A massa de cada par de fios foi nomeada como m1.

Para a confecção dos corpos-de-prova, a proporção pó e li-quido (1:1) de cada um dos cimentos de ionômero de vidro fo-ram determinados de acordo com as instruções dos fabricantes e aglutinados sobre uma placa de vidro, durante 30 segundos, sob temperatura de 23± 2o C e umidade relativa do ar de 50 ±10%.

Com o auxílio de uma espátula plástica, a mistura foi transferida para o interior da matriz plástica posicionada sobre uma lâmina de vidro revestida com um filme de polietileno. Sobre a matriz foi colocado outro filme de polietileno e outra lâmina de vidro e, então pressionados por três minutos para comprimir o cimento. Após a geleificação inicial, os excessos de cimento foram remo-vidos e os corpos-de-prova armazenados em 100% de umidade relativa à temperatura de 37o Celsius por uma hora. Em seguida, os

corpos-de-prova foram retirados das matrizes plásticas e possíveis resíduos ou partículas soltas foram removidos. O fio de aço inoxi-dável previamente pesado (m1) foi colocado na matriz plástica no momento da inserção do cimento.

Imediatamente após a confecção, os corpos-de-prova foram suspensos por meio do fio de aço inoxidável em frascos de vidro tipo “pesa filtro”, com peso estável e conhecido (m2). Dessa for-ma, os frascos “pesa filtro” contendo os corpos-de-prova junta-mente com o fio foram pesados em uma balança analítica OHAUS AP250D, com precisão de 0,01mg. A massa de cada corpo-de-pro-va (m3) foi obtida pela equação: m3 – (m2 + m1). Em seguida, dois corpos-de-prova suspensos pelos fios de aço inoxidável dentro de cada frasco “pesa filtro”, de forma a não tocarem o fundo ou a parede do frasco, foram imersos em 50 mL de água deionizada ou 50 mL de solução tampão lactato a 0,1M e pH 2,74 preparada no momento do experimento, segundo as recomendações da ISO 9917.21 A solução tampão lactato foi preparada a partir das

(3)

solu-Feito isso, cada frasco “pesa filtro” foi pesado em balança ana-lítica e a massa de cada frasco foi nomeada m4, e o ganho de peso do frasco controle, m5. O conteúdo solúvel (S) para cada par de corpos-de-prova, em porcentagem, foi calculado pela equação:

S é o conteúdo solúvel; m1, peso do fio de aço inoxidável; m2, peso do frasco “pesa filtro”; m3, peso do frasco “pesa filtro” e do corpo-de-prova; m4, peso do “pesa filtro” e da massa residual; m5, ganho de peso do frasco “pesa filtro” controle.

Os valores de solubilidade, em porcentagem, foram tabulados e sub-metidos à análise de variância sob dois fatores (cimento de ionômero de vidro e solução) e ao teste de Tukey, em nível de 5% de significância.

S= m4-(m5+m2) x100

m3-(m2+m1)

Cimentos de

Ionômero de vidro Composição Lote Cor Fabricante

Vidrion R

PÓ: Fluorsilicato de sódio cálcio e alumínio, sulfato de bário, ácido poliacrílico liofilizado, pigmentos.

Liquido: Ácido tartárico, água.

PÓ: 90508 e 50308 Líquido: 60608 e 20208

U Janeiro, RJ, Brasil. SS White, Rio de

Maxxion R

PÓ: Vidro de aluminio flúor silicato, fluoreto de cálcio. Líquido: ácido carboxílico, água.

180608 e

290808 A3 FGM, Joinville, SC, Brasil.

Ketac Molar Easymix

PÓ: Vidro de flúor silicato de aluminío, Lantânio e cálcio. Líquido: Ácido poliacrílico, ácido tartárico, ácido sorbico, ácido benzóico.

336779 A3 3M ESPE, St. Paul, MN, USA

Vitro Molar

PÓ: Silicato de bário e alumínio, ácido poliacrílico desidratado e óxido de ferro.

Liquido: Ácido poliacrílico, ácido tartárico, água destilada.

336779 A3 DFL, Rio de Janeiro, Brasil.

TABELA 1

Descrição da composição, lote, cor e fabricantes dos cimentos ionoméricos avaliados no estudo

ções de ácido lático 85% P.A. (Synth, Diadema, SP, Brasil) e lactato de sódio (Synth, Diadema, SP, Brasil) a 50%, armazenadas por 18 horas antes do uso. Para cada série de experimento, outro fras-co “pesa filtro” fras-contendo apenas os 50mL de solução de lactato ou água destilada, foi usado como controle. Nestas condições, os frascos “pesa filtro” foram armazenados a temperatura de 37o C,

em estufa (FANEM, 002 CB, SP, Brasil), durante 23 horas.

Decorrido o tempo de armazenamento, os corpos-de-prova foram removidos e a água destilada ou a solução tampão lac-tato foram evaporadas dos frascos “pesa filtro” em estufa (FA-NEM, 315 SE, SP, Brasil) a 100o C. Logo após, os frascos “pesa filtro” foram desidratados à temperatura de 150o C, durante

24 horas para estabilização do peso e resfriados até atingir a temperatura ambiente em dessecador contendo sílica-gel ativa por uma hora, conforme a especificação da ISO 748920. O ciclo

de desidratação do frasco “pesa filtro” a 150o C e posterior

res-friamento em dessecador foi repetido sempre que a diferença da pesagem fosse superior a 0,5mg.

(4)

RESULTADOS

O percentual médio de solubilidade dos quatro cimentos de ionômero de vidro indicados para restauração depois de imersos durante 23 horas em água ou tampão lactato está descrito na tabela 2 e ilustrado nas figuras 1 e 2. Os qua-tro cimentos de ionômero de vidro foram significativamente mais solúveis em tampão lactato do em água deionizada. Quando imersos na solução tampão lactato, o cimento de ionômero de vidro Ketac Molar Easymix apresentou valor percentual de solubilidade (8,70%) significativamente me-nor (p<0,05) que os materiais Maxxion R (30,07%), Vidrion R (13,29%) e Vitro Molar (12,17%). Na mesma solução, o ci-mento de ionômero de vidro Maxxion R apresentou o maior percentual de solubilidade em relação aos demais materiais e foi estatisticamente diferente (p<0,05) quando comparado com Vidrion R e o Vitro Molar que não diferiram entre si (P>0,05). A mesma significância estatística se repetiu quan-do os quatro cimentos de ionômero de vidro foram avaliaquan-dos após a imersão em água. A principal diferença em relação ao meio ácido foi o menor valor percentual da massa solubili-zada para todos os materiais avaliados. Mesmo assim, o ci-mento de ionômero de vidro Maxxion R apresentou o maior valor percentual de material solubilizado (1,85%), seguido pelo Vidrion R (0,26%), Vitro Molar (0,10%) e Ketac Molar Easymix (0,06%).

DISCUSSÃO

Quatro cimentos de ionômero de vidro de mesma classe e indicados como material restaurador (Tipo II) e também para a técnica ART foram submetidos ao meio neutro (água) e ao meio ácido (solução tampão lactato com pH 2,74) e comparados en-tre si, utilizando a ISO 7489.20 Como os quatro cimentos de

ionômero de vidro apresentam a mesma dinâmica na reação de presa, o teste de solubilidade pode ser usado como indicação da susceptibilidade precoce à água e ao meio ácido.22

Com 23 horas de imersão, o percentual de material solu-bilizado em tampão lactato foi significantemente maior em relação à solubilidade em água para todos os cimentos de io-nômero de vidro avaliados. Prévios estudos também relataram que a solubilidade de cimentos de ionômero de vidro é maior quando imersos em meio ácido.17,18,19,23,24 No entanto, o cimento

de ionômero de vidro Ketac Molar Easymix foi definitivamente menos propenso a degradação em meio ácido, sendo estatisti-camente diferente quando comparado com os cimentos Vitro Molar, Vidrion R e Maxxion R (Tabela 2 e Figura 2).

A diferença nos valores percentuais de solubilidade parece estar relacionada com a composição de cada um dos cimentos. Como os materiais usados no estudo são aprovados pelo gover-no (Anvisa) e distribuídos comercialmente, o fabricante é res-ponsável pelo tipo de partícula vítrea de flúor alumino silicato e cálcio e pela proporção entre Al203/Si02 usado na composição

Cimentos de Ionômero de vidro

Soluções

Água Lactato

Ketac Molar Easymix 0,06 (0,04) A,a 8,70 (5,46) A,b

Vitro Molar 0,10 (0,06) B,a 12,17 (8,43) B,b

Vidrion R 0,26 (0,05) B,a 13,29 (7,64) B,b

Maxxion R 1,85 (0,21) C,a 30,07 (7,41) C,B

Letras maiúsculas (coluna) e minúsculas (linha) iguais não diferem entre si pelo teste de Tukey (p>0,05).

TABELA 2

(5)

FIGURA 1

Ilustração gráfica dos valores médios do percentual (%) de solubilidade dos cimentos de ionômero de vidro imersos em água (meio neutro). As colunas unidas pela barra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (p>0,05)

FIGURA 2

Ilustração gráfica dos valores médios do percentual (%) de solubilidade dos cimentos de ionômero de vidro

(6)

do pó. Assim, deve ser considerado que o maior conteúdo de óxido de alumínio (Al203) tem influência direta na reatividade da partícula vítrea e na propriedade física do material.25 Com

base nas informações dos fabricantes, o pó vítreo é composto pelos três constituintes principais, dióxido de silício(Si02), óxi-do de alumínio (Al203) e fluoreto de cálcio (CaF2). Outros íons como bário e lantânio também foram descritos na composição e estão relacionados com a radiopacidade do material. Dessa forma, a constituição do pó vítreo de todos os produtos ava-liados aparentemente tem composição parecida. Entretanto, o cimento de ionômero de vidro Ketac Molar Easymix apresenta diferenciação na obtenção do pó vítreo. As partículas vítreas são mais homogêneas e a superfície recebeu um tratamento para reduzir o ângulo de contato e propiciar maior capacidade de umedecimento do componente líquido. Esta característica aumenta o índice de umedecimento da superfície do pó pelo liquido gerando facilidade, rapidez na mistura pó/líquido e ve-locidade na reação resultando em elevadas propriedades físico--mecânicas, na primeira hora.26 Esta diferença na reatividade

da partícula vítrea provavelmente seja uma das razões pela qual o cimento Ketac Molar Easymix apresentou menor percen-tual de solubilidade tanto em água quanto em tampão lactato quando comparado com os demais cimentos de ionômero de vidro, neste estudo. A formação de uma resistente e insolúvel matriz de poliacrilato de alumínio nos períodos iniciais após a reação de geleificação, provavelmente garantiu maior proteção ao cimento contra a ação tanto da água como do tampão lac-tato. Por outro lado, os maiores valores percentuais de solubi-lidade dos cimentos Vidrion R, Vitro Molar e Maxxion R tanto em água como em tampão lactato, indicou provável formação de uma matriz altamente solúvel de poliacrilato de cálcio no período inicial após a geleificação do material.27,28 Nestes casos,

tem sido recomendada a proteção da superfície do cimento de ionômero de vidro com vernizes à base de nitrocelulose ou por produtos recomendados pelo fabricante para evitar a solubili-dade precoce da matriz do cimento.29 A proteção com

produ-tos insolúveis permite a continuidade da reação ácido-base e a formação de uma matriz de poliacrilato de alumínio que é mais estável no meio bucal.

O componente líquido dos cimentos de ionômero de vidro é baseado em copolímeros do ácido carboxílico, particularmente os provenientes do ácido acrílico. De acordo com a composição dos produtos descrita na tabela 1, todos os cimentos incluem como componente líquido o ácido poliacrílico. No entanto, duas diferenças significativas são perceptíveis nos componentes lí-quidos dos materiais estudados. A primeira está relacionada ao processo de liofilização do ácido poliacrílico e incorporação ao pó, como no caso do cimento de ionômero de vidro Vidrion R e Vitro Molar. A segunda está na adição do ácido tartárico no componente líquido tanto do Vidrion R e Vitro Molar como do Ketac Molar Easymix. Nestas condições, a viscosidade do liqui-do é menor para estes cimentos quanliqui-do comparada ao mate-rial Maxxion R que é composta apenas pelo ácido carboxílico.22

Além disso, a presença do ácido tartárico prolonga o tempo de

trabalho e atrasa o início da viscosidade na formação da massa de cimento durante a aglutinação, sem, no entanto aumentar o tempo de geleificação.30,31,32 Estas particularidades

facilita-ram a incorporação e aglutinação do pó ao liquido do cimento Vidrion R, Vitro Molar R e Ketac Molar Easymix, que resultou em melhor resistência à ação tanto da água como do tampão lactato com redução significativa no percentual de material solubilizado em relação ao cimento Maxxion R. Resultados si-milares de solubilidade foram descritos previamente para estes mesmos cimentos de ionômero de vidro restauradores26,

in-dicando que os valores percentuais de solubilidade em meio neutro (água) estão abaixo do limite de 0,7% estabelecido pela ISO 784920, com exceção do cimento Maxxion R, de acordo os

resultados deste estudo. Quando a solubilidade dos materiais foi avaliada em tampão lactato, os cimentos Vidrion R e Vitro Molar apresentaram maior percentual solubilizado em relação ao cimento Ketac Molar Easymix, confirmando assim os resul-tados prévios obtidos em testes por erosão ácida.26

No meio bucal dois fatores contribuem para a constância da acidez ou baixo pH. Primeiro, a localização da restauração em áreas de estagnação de alimentos17 e, segundo, a

pre-valência do ácido lático (pH=4,9) nas lesões de cárie ativa (88,8±8,3%).18 Assim, imerso no ambiente bucal úmido e

áci-do, o cimento de íonômero de vidro começa a se degradar pela ação dos ácidos orgânicos na matriz do material que provoca o deslocamento do ácido poliacrílico dos polissais de cálcio e alumínio e substituição pelo ácido lático.33 Durante o

processo é formado o lactato de cálcio que é solúvel em água e a erosão química se estabelece.34 Dessa forma, a degradação

química em ácido lático é considerada a maior desvantagem do cimento de ionômero de vidro e talvez a razão por apre-sentar, clinicamente, resultados bem sucedidos em cavidades com apenas uma face restaurada.35

Entretanto, a degradação da matriz ionomérica causada pelo ataque do ácido lático no meio bucal também resulta na formação de uma solução complexa constituída por íons de cálcio, lactato, alumínio, poliacrilatos, além de moléculas de ácido lático e ácido poliacrílico que produz o tamponamento da região restaurada.34 Com isso, o pH de 4,9 registrado em

lesões de cárie ativa se altera em 30 segundos a partir do contato inicial do ácido lático com o cimento ionomérico, para valores de aproximadamente 5,7 que é suficiente para prevenir o ataque pelo ácido lático e impedir a desminera-lização do dente ou progresso da lesão de cárie.18,33,34 Assim,

o efeito tampão produzido durante a degradação da restau-ração de ionômero de vidro é também um importante meca-nismo para proteção contra cáries recorrentes quando estes materiais são usados clinicamente.

Dessa forma, dois mecanismos pelo quais os cimentos de ionômero de vidro são capazes de proteger o dente do ata-que por ácidos orgânicos, in vivo, podem ser postulados.34

Primeiro, por meio da liberação de fluoretos que é maior em ambiente ácido e altera o pH do meio externo.36,37 Segundo,

(7)

associado à solubilidade do material.

Dessa maneira, sob o ponto de vista clínico, a solubilidade do cimento de ionômero de vidro tem função importante na capacidade de tamponar o ácido lático proveniente das bac-térias cariogênicas ou da degradação de polissacarídeos que, em teoria, é capaz de proteger o dente restaurado do ataque por ácidos orgânicos. Por outro lado, altos percentuais de mas-sa solubilizada na primeira hora também comprometem o de-sempenho das propriedades físico-mecânicas e aumentam o risco de degradação e fraturas precoces da restauração. Nestas condições, os cimentos de ionômero de vidro dos diferentes fa-bricantes não podem ser considerados equivalentes, conforme os resultados deste estudo, e as hipóteses foram rejeitadas. O cimento de ionômero de vidro Ketac Molar Easymix foi o mate-rial que mostrou a menor susceptibilidade à solubilidade tanto em meio ácido como em meio neutro (água) em relação aos demais materiais avaliados. Esta condição se aproxima mais das necessidades dos cimentos de ionômero de vidro especificados para a técnica ART e favorece na ampliação das vantagens so-ciais com a indicação restauradora em cavidades com múltiplas faces. No entanto, seria importante conduzir trabalhos clínicos

para validar os estudos de laboratório. CONCLUSÃO

1. Os quatro cimentos de ionômero de vidro comerciais foram mais solúveis em meio ácido (tampão lactato) do que em água.

2. Os valores percentuais de solubilidade apresentados em meio neutro (água) pelos cimentos de ionômero de vidro ficaram abaixo do limite de 0,7% estabelecido pela ISO 7849, com exceção do cimento Maxxion R.

3. O cimento de ionômero de vidro Ketac Molar Easymix apre-sentou menor solubilidade tanto em meio ácido como em água quando comparados com os demais materiais.

APLICAÇÃO CLÍNICA

Os cimentos de ionômero de vidro comerciais (Ketac Molar Easy-mix, Vitro Molar e Vidrion R) apresentaram percentuais de solubili-dade em meio neutro (água) abaixo do limite estabelecido pela ISO 7849 e podem ser indicados como material preventivo e restaurador de dentes decíduos e permanentes de pacientes com lesões de cárie ativa ou alto risco à cárie, além da aplicação na terapia da cárie pelo método do Tratamento Restaurador Atraumático (ART).

1. Wilson JA, Kent BA. A new translucent cement for dentistry: The glass ionomer cement. Br Dent J 1972; 132:133-135.

2. Mount GJ. Colour atlas of glass-ionomer cements, 2nd ed. London: Martin Dunitz, 1994. 3. Mclean JW. Glass ionomer cements. Br Dent J 1988; 164: 293-300.

4. Mclean JW, Nicholson JW, Wilson AD. Proposed nomenclature for glass-ionomer dental cements and related materials. Quintessence Int 1994; 25:587-9.

5. Hosoya Y, Garcia-Godoy F. Bonding mechanism of Ketac-molar aplicap and Fuji IX GP to enamel and dentin. Am J Dent 1998; 11: 235-239.

6. Skartveit L, Tveit SB, Todal B, Ovrebo R, Raadal M. In vivo fluoride uptake in enamel and dentin from fluoride-containing materials. ASDC J Dent Child 1990; 57:97-100. 7. Serra M, Cury JA. The in vitro effect of glass-ionomer cement restoration on enamel

subjected to a demineralization and remineralization model. Quintessence Int 1992; 23:143-7.

8. Forsten L. Fluoride release and uptake by glass-ionomer and related materials and its clinical effect. Biomaterials 1998; 19: 503-508.

9. Forsten L. Fluoride release and reuptake by glass ionomers. Scand J Dent Res 1991;99:82-90. 10. Benelli EM, Serra M, Rodrigues AL Jr., Cury JA. In situ anticariogenic potential of glass

ionomer cement. Caries Res 1993; 27:280-4.

11. Souto M, Donly KJ. Caries inhibition of glass ionomers. Am J Dent.1994; 7:122-4. 12. Tyas MJ. Cariostatic effect of glass ionomer cement: a five year clinical study. Aust Dent

J 1991; 36: 236-239.

13. Frenken JE, Pilot T, Songpaisan Y, Phantumvanit P. Atraumatic restorative treatment (ART): rationale, technique, and development. J Public Health Dent 1996; 56:135-40; 161-3. 14. FRENCKEN JE, MAKONI F, SITHOLE WD. Atraumatic restorative treatment and

glass--ionomer sealants in a school oral health programme in Zimbabwe: evaluation after 1 year. Caries Res 1996; 3:428-33.

15. Yip HK, Smales RJ. Glass ionomer cements used as fissure sealants with the atraumatic res-torative treatment (ART) approach: review of literature. Int Dent J 2002; 52(2):67-70. Review. 16. Kent BE, Lewis BG, Wilson AD. The properties of a glass-ionomer cements. Br dent J.

1973; 135:322-326.

17. Crisp S, Lewis BG, Wilson AD. Characterization of glass ionomer cements. A study of erosion and water absorption in both neutral and acid media. J. Dent 1980; 8: 68-74. 18. Hojo S, Takahashi N, Yamada T. Acid profile in caries dentin. J dent Res 1991;70:182-6. 19. Wilson AD, Groffman DM, Powis DR, Scott RP. A study of the variables affecting the

impin-ging jet methods for measuring the erosion of dental cements. Biomaterials 1986; 7: 217-20.

20. International Organization for Standardization. Specification for dental water-based cements. ISO 7849, 1986.

21. International Organization for Standardization. Specification for dental water-based cements. ISO 9917, 2003.

22. Prosser HJ, Powis DR, Wilson AD. Chracterization of glass-ionomer cements 7. The phy-sical properties of current materials. J Dent 1984;12:231-240.

23. Wilson AD. Specification test for the solubility and disintegration of dental cements: A critical evaluation of its meaning. J Dent Res 1976; 55:721

24. Yoshida K, Tanagawa M, Atsuta M. In-vitro solubility of three types of resin and conven-tional luting cements. J Oral Rehabil 1998; 25: 285-291.

25. Kent BE, Lewis BG, Wilson AD. Glass ionomer formulations. I. The preparation of novel fluoroaluminosilicate glasses high in fluorine. J Dent Res 1979; 58: 1607-1619. 26. Peez R, Frank S. The physical-mechanical performance of the new Ketac Molar Easymix

compared to commercially available glass ionomer restoratives. J Dent 2006; 34: 582-587. 27. Crisp S, Wilson AD. Reactions in glass-ionomer cements: III. The precipitation reaction. J

Dent Res 1974; 53: 1420-1424.

28. Wilson AD, McLean JW. Glass-ionomer cement.1a ed. Chicago: Quintessence, 1988: 43-54. 29. Garcia RCMR, De Goes MF, Del Bel Cury AA. Influence of protecting agents on the

solu-bility of glass ionomers. Am J Dent 1995; 8: 294-296.

30. Wilson AD, Crisp S, Ferner AJ. Reactions in glass-ionomer cements. IV. Effect of chelating co-monomers on setting behavior. J Dent Res 1976; 55: 489-495.

31. Crisp S, Wilson AD. Reaction in glass ionomer cements. V. Effect of incorporating tartaric acid in the cement forming liquid. J Dent Res 1976; 55: 1023-1031.

32. Prosser HJ, Richards CP, Wilson AD. NMR spectroscopy of dental materials. II. The role of tartaric acid in glass-ionomer cements. J Biomed Mater Res 1982; 16: 431-445. 33. Patel M, Tawfik H, Myint Y, Brocklehurst D, Nicholson JW. Factors affecting the ability of

dental cements to alter the pH of lactic acid solutions. J Oral Rehab 2000; 27: 1030-1033. 34. Nicholson JW, Aggarwal A, Czarnecka B, Limanowska-Shaw H. The rate of change of pH of lactic acid exposed to glass-ionomer dental cements. Biomaterials 2000;21: 1989-1993. 35. Yip HK, Smales RJ. Tay FR. Chu FCS. Selection of restorative material for the atraumatic

restorative treatment (ART) approach: a review. Spec Care Dentist 2001; 21: 216-221. 36. Davies EH, Sefton J, Wilson AD. Preliminary study of factors affecting the fluoride

rele-ase from glass-ionomer cements. Biomaterials 1993:14:636-639.

37. Gandolfi MG, Chersoni S, Acquaviva GL, Piana G, Prati C, Mongiorgi R. Fluoride release and absorption at different pH from glass-ionomer cements. Dent Mater 2006; 22: 441-449.

Referências

Documentos relacionados

Além de os números representarem algo inédito dentro do mercado audiovisual brasileiro, buscamos interpretar, pelo viés da inovação, como a propriedade intelectual Kondzilla

Sistema - elementos ago-20 Sistema Elemento do Sistema Elemento do Sistema Elemento do Sistema Um sistema é composto de um conjunto de elementos que interagem ..para atingir

Há a construção da ponte São Franscisco, (hoje Ponte José Sarney )ligando o centro à orla, o que contribuiu para retirar o. (hoje Ponte José Sarney )ligando o centro à orla, o

A função básica desse sistema é distribuir o sangue pelo organismo.O sangue transporta oxigênio e nutrientes às células que impulsionado pelo coração, percorre todo o organismo.

(2002), há quatro tipos de cimentos para cimentação final comercialmente disponíveis: cimento de fosfato de zinco, cimento de ionômero de vidro, cimento de

Como o material ainda está sem sua resistência final e a união à dentina ainda é muito tênue, esse corte deverá ser realizado no sentido da restauração para o dente e não

94 (2001) salientam a importância de algumas características destes materiais: disponibilidade e custo, facilidade de uso, menor sensibilidade à técnica, condições

Notícia sobre um serviço especializado do Hospital São Lucas em avaliação cognitiva, especialmente voltado para quem tem queixas relativas à memória, foi sucesso no Facebook