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12º Encontro da ABCP 19 a 23 de outubro de 2020 Evento online. Área Temática: 05 Estado e Políticas Públicas

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12º Encontro da ABCP 19 a 23 de outubro de 2020

Evento online

Área Temática: 05 – Estado e Políticas Públicas

AÇÃO AFIRMATIVA NA PÓS-GRADUAÇÃO: MUDANÇA INSTITUCIONAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS NO INGRESSO DE GRUPOS VULNERÁVEIS

Anna Carolina Venturini

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2 Resumo

O artigo apresenta resultados preliminares de uma pesquisa em andamento, a qual visa analisar se as ações afirmativas e as modificações feitas nos processos seletivos contribuíram para o ingresso de mais estudantes de determinados grupos em cursos de pós-graduação. A pesquisa se baseia na tipologia da mudança institucional desenvolvida por Mahoney e Thelen (2010) e dá continuidade a uma pesquisa prévia. Para analisar os resultados relativos ao ingresso via ação afirmativa, foi criado um índice de preenchimento de vagas (IPV), o qual corresponde à relação entre o número de aprovados e o número de vagas reservadas. O texto apresenta dados de programas acadêmicos de universidades públicas e se baseia (a) em uma análise de documentos oficiais e (b) dados sobre os estudantes que se candidataram via ação afirmativa e foram aprovados em cada ano e curso. Os dados preliminares parecem sugerir que programas com graus de mudança alto conseguem preencher um maior número de vagas destinadas às ações afirmativas e apresentam em média, IPVs superiores do que os programas com baixo grau de mudança.

Palavras-chave: ação afirmativa; pós-graduação; universidade; mudança institucional; preenchimento de vagas.

Abstract

The article presents preliminary results of ongoing research, which aims to analyze whether the affirmative actions and the changes made in the selection processes contributed to more students' entry from certain groups in graduate courses. The research is based on the typology of institutional change developed by Mahoney and Thelen (2010) and continues with previous research. A vacancy filling index (BTI) was created to analyze the program's affirmative action admission results. BTI which corresponds to the relationship between the number of approved and the number of reserved places. The text presents data from academic programs at public universities. It is based on (a) an analysis of official documents and (b) data on students who applied via affirmative action and were approved each year and course. Preliminary data suggests that programs with high degrees of change can fill a more significant number of vacancies for affirmative action and have, on average, higher BTI than programs with a low degree of change.

Key words: affirmative action; graduate studies; university; institutional change; filling vacancies.

Introdução

Nas últimas décadas, o sistema brasileiro de ensino superior passou por diversas transformações, principalmente relacionadas à criação de políticas de ações afirmativas e à ampliação do acesso de alunos de escolas públicas, de baixa renda e autodeclarados pretos,

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pardos e indígenas aos cursos de graduação (Feres Junior et al., 2018; Heringer, 2014; Lázaro, 2018; Lima, 2010, 2011; Lima e Ramos, 2017).

A despeito de ser usualmente associada à reserva de vagas ou cotas, a ação afirmativa é conceituada de forma ampla pela literatura, podendo referir-se a uma série de políticas e iniciativas que promovem benefícios do bem-estar social e de direitos civis, políticos e culturais aos mais variados grupos sociais que são ou foram objeto de discriminação (Feres Junior et al., 2018). Assim, a ação afirmativa engloba grupos diferenciados socialmente em razão de raça/cor, gênero, sexo, casta, local de moradia, região de origem, religião, deficiência, condição socioeconômica e outras condições de vida (Jenkins; Moses, 2014).

Apesar da falta de dados sistemáticos sobre a composição racial do corpo pesquisadores das universidades públicas brasileiras, nota-se que o sistema é marcado por desigualdades regionais, étnico-raciais e econômicas (Artes, 2016; Paixão et al., 2010; Rosemberg, 2013; Venturini, 2019a). José Jorge de Carvalho (2006) menciona que o acesso à pós-graduação era ainda mais proibitivo para estudantes negros. Em uma análise sobre a situação dos docentes e pesquisadores negros nas universidades brasileiras, o autor (2003, p. 186) mostra que, à época, menos de 1% dos docentes das universidades públicas brasileiras eram. Em sua visão, a exclusão de negros da pós-graduação pode ter relação com o mecanismo de ingresso nesses cursos, já que a admissão era sujeita geralmente às preferências individuais dos membros das bancas de seleção, inclusive na etapa da entrevista, quando muitos estudantes negros costumam ser eliminados (Carvalho, 2003).

Os dados do Censo Demográfico do IBGE de 2000 e 2010 revelam também a exclusão dos negros desse ambiente acadêmico. De acordo com relatório de pesquisa da Fundação Carlos Chagas, os negros (pretos e pardos) representam apenas 15,2% dos doutores titulados e 19,3% dos mestres, o que corresponde a uma média de 18,1% do total de titulados na pós-graduação (Artes, 2016; FCC, 2015), percentuais estes que estão longe de se aproximar da composição racial da população brasileira, o que é essencial para a redução das desigualdades raciais e promoção da igualdade de oportunidades (Feres Júnior, 2006; Rawls, 1971; Silva, 2006).

Guimarães (2009, p. 174) nos lembra que “a sobrerrepresentação de pessoas com uma mesma característica ‘naturalizada’, em qualquer distribuição de recursos, deve ser investigada, não porque seja anormal, mas porque ‘sexo’, ‘cor’, ‘raça’ e ‘etnia’ são construções sociais, usadas, precisamente, para monopolizar recursos coletivos”. A baixa participação de pretos e pardos em cursos de pós-graduação está relacionada a um processo histórico de exclusão no sistema de ensino superior do país. É importante ter em mente o quanto a desigualdade racial contribui para a trajetória da desigualdade em geral no Brasil e o quanto o acesso ao ensino superior (graduação e pós-graduação) contribuem para produção de desigualdades (Lima e Prates, 2015).

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Ações afirmativas já vem sendo adotadas para o ingresso em alguns cursos de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) de universidades públicas. Entretanto, tais medidas são pouco conhecidas e sofrem com a falta de análise por parte da literatura acadêmica, havendo apenas alguns poucos estudos dedicados às experiências de programas específicos (Fiori, De et al., 2017; Goldman e Banaggia, 2017; Santos, 2010; Souza, 2017; Venturini, 2017, 2018, 2019b) e universidades (Diniz Filho et al., 2016). A literatura sobre ação afirmativa para a pós-graduação no Brasil raramente analisa como as políticas foram estruturadas pelos tomadores de decisão e como elas funcionam na prática1.O processo de

formulação das políticas e tomada de decisões (Capella, 2007; Souza, 2006) fornece insumos importantes sobre as dinâmicas institucionais e processos de mudança em prol da redução de desigualdades.

A pesquisa original (Venturini, 2019) analisou os programas de pós-graduação acadêmicos (mestrado e doutorado) de universidades públicas com notas 3 a 7, totalizando 2.763 programas de pós-graduação. Os dados coletados indicaram que, em janeiro de 2018 já havia 737 programas acadêmicos com algum tipo de ação afirmativa, o que representava 26,4% de todos os programas. Algumas políticas decorreram de decisões dos próprios programas, enquanto outras foram criadas por determinação de leis estaduais ou de resoluções do Conselho Universitário válidas para todos os cursos de pós-graduação de uma determinada universidade. Entre os 737 programas de pós-graduação com políticas afirmativas analisados, 67,2% aplicam exclusivamente o sistema de cotas, no qual um percentual das vagas disponíveis é reservado para determinados grupos. Além da modalidade de cota, outros programas optaram por criar vagas suplementares, as quais são reservadas para candidatos que preenchem os requisitos exigidos entre outras modalidades.

A diversidade é um forte argumento em favor de ações afirmativas na pós-graduação. Ou seja, que um corpo discente mais diversificado beneficia a qualidade da pesquisa2, o

treinamento de futuros professores e pesquisadores e o aprimoramento da ciência (Gurin et

al., 2002; Nature, 2014; Posselt, 2014, 2016). Nos Estados Unidos, por exemplo, diversas

universidades passaram a adotar políticas de ação afirmativa em seus processos de admissão na graduação e na pós-graduação, tendo como objetivo promover a diversidade e os

1 Destaca-se, por exemplo, o caso recente em que o ex-Ministro da Educação – Abraham Weintraub – publicou a

Portaria 545/2020 revogando a Portaria Normativa 13/2016, que versava sobre ações afirmativas na pós-graduação. O episódio foi marcado pela desinformação e diversos veículos de imprensa afirmaram erroneamente que o Ministro havia acabado com as ações afirmativas na pós-graduação. Sobre isso, vide:

https://www.folhape.com.br/colunistas/blogdafolha/portaria-editada-por-weintraub-que-revoga-cotas-na-pos-graduacao-e-alvo-de-acoes-no-stf/18658/

https://www.otempo.com.br/brasil/weintraub-acaba-com-cotas-para-negros-e-indigenas-na-pos-graduacao-1.2350659

2 Em 2014, as revistas Nature e Scientific American lançaram uma edição especial conjunta sobre diversidade, na

qual todos os artigos apontavam a existência de estudos evidenciando que “abraçar” a diversidade é fundamental para que se possa fazer uma boa ciência. Vide: Editorial, 2014.

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benefícios educacionais dela decorrentes (Garces, 2012; Orfield e Kurlaender, 2001; Palmer, 2001, p. 49; Posselt e Garces, 2014)

Ademais, a pesquisa analisou como a criação de ações afirmativas resultou na mudança do processo de seleção tradicional realizado pelos programas de pós-graduação, com base na tipologia da mudança institucional desenvolvida por Thelen (2003, 2009) e outros (Hacker, Pierson e Thelen, 2015; Mahoney e Thelen, 2010; Streeck e Thelen, 2005).

Com base na análise dos editais de seleção, nota-se que há modelos distintos de adoção das cotas ou vagas suplementares na pós-graduação. Na maioria dos programas, não há alteração ou exclusão das fases tradicionais do processo de admissão de estudantes. Por outro lado, há programas que têm considerado as barreiras enfrentadas pelos diversos grupos no acesso à pós-graduação quando da formulação de políticas e realizaram alterações em seus processos seletivos, tais como redução das notas de corte, isenção de fases para candidatos indígenas, aplicação de novos critérios para comprovação da proficiência em idiomas, entre outros.

Esses dois modelos colocam a importância de entender as fontes e os diferentes tipos de mudança gerados pelas políticas afirmativas nos processos seletivos da pós-graduação. Se essas políticas têm por objetivo final incluir indivíduos de grupos desfavorecidos, alguns desses procedimentos tradicionais têm alto potencial de exclusão e podem afetar sua efetividade (Santos, 2010). Argumenta-se, por exemplo, que estudantes carentes ou indígenas são comumente eliminados nas primeiras fases dos processos em razão da exigência de proficiência em línguas estrangeiras (Marques et al., 2017; Santos, 2010). O problema é abordado por Santos (2010) ao discutir o processo de criação da área de concentração em Direitos Humanos pela Faculdade de Direito da USP e a aplicação de cotas. No processo seletivo do programa, a primeira etapa, eliminatória, consiste em um teste de proficiência em línguas estrangeiras. O autor exemplifica que no primeiro processo de seleção após a criação da área de concentração e das cotas, 61 alunos se candidataram às vagas reservadas, mas apenas 4 obtiveram aprovação no teste de idioma.

Em vista disso, é necessário investigar se a criação de cotas sem a modificação de outros critérios dos processos seletivos é suficiente para proporcionar a inclusão pretendida pelos programas.

Ações Afirmativas e Mudanças Institucionais

Esta pesquisa se propõe investigar as ações afirmativas na pós-graduação trazendo a perspectiva da mudança institucional. Sua tipologia foi desenvolvida por Kathleen Thelen e James Mahoney (2010) e nos permitirá classificar as mudanças que a criação de ações afirmativas gera nos processos de admissão de estudantes pelos programas de pós-graduação. A literatura sustenta que o processo de mudança institucional pode ser o resultado

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de choques externos ou internos, bem como de choques abruptos ou incrementais (Baumgartner, 2009; Falleti, 2009; Marques, 2013; Thelen, 2003).

As ações afirmativas afetam diretamente os programas de pós-graduação e seus processos de admissão de estudantes, já que têm o poder de influenciar a escolha de pessoas que farão parte do quadro de pesquisadores e futuros professores do país, espaço atualmente ocupado por uma maioria em termos étnico-raciais, sociais e regionais (Artes, 2016; Carvalho, 2003, 2006).

Para identificar os tipos de mudança institucional foram analisados os editais de seleção dos 137 programas de pós-graduação que criaram ações afirmativas por iniciativa própria3, de modo a verificar se além das cotas ou vagas adicionais foram criadas outras

medidas em prol dos grupos beneficiários.

Assim, primeiramente foram listadas as principais características das seleções de cursos de pós-graduação (nota de corte, prova dissertativa, prova oral, proficiência em idiomas, projeto de pesquisa, arguição de projeto, entrevista, carta de recomendação, aceite de orientador, etc.). Em seguida, foram criados códigos para identificar as características que foram objeto de modificação em prol de determinados grupos e aquelas que permaneceram iguais e aplicáveis a todos os candidatos. Subsequentemente, foi estabelecido o grau de mudança (GM) com base na razão entre o número de mudanças (m) e número de características do processo seletivo (c), o qual varia de 0,1 a 1. Ao analisar a distribuição dos graus de mudança, nota-se que a proporção de programas que efetuaram mudanças mais significativas é bastante baixa. Nota-se que 65,7% dos programas apresentam mudanças de grau 1, o que significa que apenas criaram cotas ou vagas suplementares reservadas. A proporção de programas que efetuaram mudanças mais significativas e superiores a 40% é bastante baixa (10,9%).

A tipologia mudança institucional de Thelen e Mahoney (2010) permitiu classificar as modificações que a criação de ações afirmativas gerou nos processos de admissão de estudantes pelos programas de pós-graduação. Notou-se a presença de duas formas de mudança institucionais nos programas de pós-graduação: a substituição e as camadas. A substituição ocorre quando as regras e práticas antigas são removidas e substituídas por novos modelos previamente desconhecidos ou ignorados (Mahoney e Thelen, 2010; Streeck e Thelen, 2005). Esse tipo de mudança pode ser abrupta e implicar em uma mudança súbita e a substituição por novas regras, ou pode ser um processo lento e gradual, quando novas regras são introduzidas e competem com regras mais antigas ou invés de suplementá-las. No caso em análise, a modalidade de substituição (displacement) ocorre nos casos em diversas

3 Foram excluídos da amostra os programas que criaram em cumprimento a leis estaduais e resoluções dos

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regras e critérios do processo de seleção são modificadas com o objetivo de torna-lo mais inclusivo e se adequar às necessidades e barreiras enfrentadas por certos grupos, como os indígenas. Foram considerados processos de substituição aqueles apresentam um grau de mudança igual ou superior a 0,7, já que estes são os que mais se aproximam da criação de processos seletivos quase ou totalmente novos em favor de determinados grupos. Apenas 3,6% dos programas analisados possuem graus de mudança superior a 0,7, sendo todos da área de Ciências Humanas.

O restante dos programas (96,4%) passou por processos de mudança em camadas, em que ocorre um processo de crescimento diferenciado (Streeck, Thelen, 2005, p. 23), no qual pequenas modificações são introduzidas e coexistem com práticas antigas (Mahoney e Thelen, 2010, p. 15). Diferentemente da substituição, o processo de layering não envolve a criação de regras totalmente novas, mas está relacionado à ocorrência de alterações, revisões e acréscimos às regras existentes. No caso das ações afirmativas, esse processo de mudança se manifesta em casos em que o procedimento de seleção anterior é mantido e coexiste com novas regras de natureza inclusiva. Trata-se, em geral, dos programas cuja única mudança foi a previsão da reserva de vagas ou vagas suplementares para determinados grupos.

Os dados indicam que o processo de mudança institucional decorreu de processos endógenos e incrementais, os quais proporcionaram as modificações mais profundas (Venturini, 2019). A maioria das universidades públicas e programas apresenta baixos graus de mudança, havendo poucos casos (3,6%) em que ocorreu a alteração quase completa dos processos de seleção com o objetivo de reduzir as barreiras enfrentadas por determinados grupos. Apesar dos incentivos institucionais dados pelo Estado nos últimos anos, tais como a Portaria Normativa 13/2016, os programas apresentaram mudanças circunstanciais e semelhantes àquelas vislumbradas para os cursos de graduação.

Mas o que explica a ocorrência de mais casos de mudança em camadas? Como

Thelen (1999, p. 397) aponta, instituições fundamentam-se em um conjunto de bases ideacionais e materiais que abrem ou não possibilidades de mudança. Ademais, como ressalta Marques (2013, p. 37), a importância das instituições está relacionada ao fato dos agentes e funcionários estatais terem autonomia e se constituírem como reais atores de dinâmica e ação social, bem como terem identidades, interesses e recursos de poder próprios, o que afeta todo o processo de produção de políticas públicas.

Os dados coletados na pesquisa original dão algumas pistas sobre fatores que contribuíram para a aprovação das ações afirmativas e também para a alteração de critérios do processo seletivo. Um dos fatores é a área do conhecimento em que o programa está inserido. Os dados apontam que as mudanças mais significativas foram feitas por programas da área de Ciências Humanas. Nota-se a predominância da área em todos os graus de mudança e todos os programas com grau igual ou superior a 0,6 são dessa área.

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A predominância da área de Ciências Humanas parece estar relacionada à sua proximidade com temáticas de desigualdades sociais, étnico-raciais e de gênero. Além disso, em geral, os programas das Humanidades viam o ingresso de alunos com diferentes perfis como algo benéfico do ponto de vista de melhoria da pesquisa científica, para novos problemas e novas abordagens metodológicas fossem apresentados e pesquisados, algo que não foi considerado por programas de áreas mais duras como Engenharias, Ciências Agrárias e Ciências Exatas e da Terra. Para docentes desses programas, as cotas deveriam ter como critério apenas a renda e não a identidade étnico-racial dos candidatos, uma vez que as desigualdades no Brasil são sociais e não raciais, de modo que não seria adequado considerar a raça dos candidatos. Warikoo (2016, p. 47) aponta que crenças sobre desigualdades raciais de pessoas brancas são influenciadas por seu grau de exposição à diversidade racial. Como apontado por Ribeiro e Schlegel (2015), o aumento do número de pretos e pardos acessando à universidade se deu de forma desigual, havendo maior participação desse grupo em áreas como Humanidades e Ciências Sociais Aplicadas em comparação às áreas duras. Portanto, tais posicionamentos podem estar relacionados à menor exposição de docentes dessas áreas a estudantes de diferentes perfis étnico-raciais, mas é necessário compreender como a inclusão é pensada em outras áreas do conhecimento. A predominância de baixos graus mudança aponta uma tendência para continuidade e manutenção dos mesmos critérios e procedimentos de seleção, os quais são vistos como suficientes para alcançar os resultados desejados pelos atores e a manutenção dos recursos alocados para os programas. Ademais, foi identificada a ocorrência de isomorfismo4

(DiMaggio; Powell, 1991a, p. 67–69) e dependência da trajetória (path dependence)5 (Pierson,

2004, p. 21–23) no desenho das políticas, visto que há uma tendência à imitação do modelo de reserva de vagas (cotas) utilizado com êxito na graduação ao invés do desenvolvimento de outras soluções desenhadas especificamente para a pós-graduação. Após criadas, as instituições são difíceis de mudar, visto que muitas vezes a rigidez é incorporada em seu

design para reduzir a incerteza e aumentar a estabilidade (Pierson, 2004, p. 43).

A incerteza a respeito dos impactos que as ações afirmativas poderiam gerar na avaliação da CAPES e, consequentemente, na quantidade de recursos e financiamentos disponíveis para pesquisa e no status do programa no meio acadêmico também parece contribuir para mudanças pouco substantivas e adoção apenas da reserva de vagas. Como

4 Isomorfismo é o processo que força uma organização a se assemelhar a outras organizações que enfrentam o

mesmo conjunto de condições (DiMaggio; Powell, 1991a, p. 66). DiMaggio e Powell (1991, p. 70) sustentam que as organizações têm uma tendência a utilizar como modelos as práticas de outras organizações de seu campo que elas percebem como mais legítimas ou bem-sucedidas.

5 Dependência de trajetória (path dependence) é a ideia de que os arranjos institucionais estabelecidos em um

determinado momento se tornam enraizados em razão de sua capacidade de moldar os incentivos, visões de mundo e recursos dos atores e grupos afetados pela instituição.

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outras instituições, os programas de pós-graduação e seus processos seletivos possuem regras que geram implicações para a alocação de recursos e, portanto, estão envolvidos em diversas tensões relacionadas a sua distribuição. A concessão de fomento pela CAPES está vinculada à avaliação e serve de referência para as demais agências de fomento nacionais: quanto maior a nota do programa, maior a quantidade de bolsas de estudos e recursos para investimento em laboratórios, passagens, eventos, publicações, entre outros. Em vista disso, eventual redução da nota pode impactar a quantidade de bolsas e financiamentos para pesquisas.

Ademais, Mahoney e Thelen (2010) propõem uma estrutura que avalia estratégias em que agentes mantêm regras antigas no curto prazo a fim de permitir mudanças mais substanciais em longo prazo. Os autores indicam a existência de quatro agentes básicos de mudança, que são definidos pela busca da preservação das regras existentes ou pela alteração das regras institucionais: insurgentes (insurrectionaries), simbiontes (parasitas ou mutualistas), subversivos e oportunistas. Cada tipo de agente estaria associado a um modo particular de mudança institucional, bem como a uma estratégia preferencial específica para efetuá-la na medida em que diferentes tipos de agentes emergem em diferentes contextos institucionais e promovem diferentes padrões de mudança. Em vista disso, é importante identificar os tipos de agentes de mudança e as principais estratégias de ação adotadas.

Em suma, a pesquisa original apenas traçou um panorama geral das mudanças decorrentes de ações afirmativas, sendo necessária uma investigação em profundidade sobre o grau de inclusão proporcionado por cada tipo de mudança.

Diante de um fenômeno complexo da relação entre os programas de pós-graduação e a criação de uma política inclusiva recente e cujos resultados ainda são desconhecidos, espera-se contribuir para a literatura sobre políticas públicas e mudanças institucionais.

Dado o caráter recente dessas políticas, há uma ausência de dados relacionados aos impactos que as diferentes modalidades e modificações dos processos seletivos podem gerar em termos de inclusão de grupos vulneráveis. Enquanto na graduação já existem estudos relacionados aos resultados das políticas e dos percentuais de alunos ingressantes (Senkevics e Mello, 2019), na pós-graduação ainda não foram coletados dados a esse respeito.

Portanto, pretende-se apresentar os principais resultados das políticas adotadas por programas com diferentes graus de mudança, de modo que a compreender se apenas a criação de cotas (graus baixos de mudança) é suficiente para proporcionar a inclusão de grupos vulneráveis ou se modificações mais substantivas são mais efetivas para essa finalidade. Os resultados e os dados sobre dinâmicas institucionais podem contribuir para que os programas tenham mais insumos ao discutir a alternativas no processo de formulação dessas políticas e do aperfeiçoamento de políticas já existentes.

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10 Metodologia

A pesquisa (ainda em andamento) está sendo feita a partir de documentos oficiais disponibilizados pelos programas de pós-graduação (editais, portarias, entre outros) e dados relativos ao ingresso de estudantes em seus processos de seleção.

Diferentemente do que ocorre em pesquisas sobre cursos de graduação, nos quais cada universidade divulga anualmente um edital único com as regras do processo seletivo de todos os seus cursos, na pós-graduação cada programa é responsável por publicar seus editais de seleção, cuja periodicidade e data de publicação é bastante variável6. Assim, a

pesquisa se restringe aos programas de pós-graduação acadêmicos (mestrado e doutorado) de universidades públicas, uma vez que estas são sede da maior parte dos programas e são centrais na discussão pública sobre inclusão e desigualdades. Por fim, a análise se limita aos programas credenciados e recomendados pela CAPES na última avaliação quadrienal, que são os programas com notas 3 a 77, o que se justifica pelo fato destes se situarem em um

ambiente de incentivos institucionais, incluindo a avaliação e a distribuição de recursos. Para analisar os resultados relativos ao ingresso de grupos vulneráveis à pós-graduação, primeiramente foi necessário solicitar os dados aos programas, visto que não há uma base de dados com informações sobre o ingresso de estudantes na pós-graduação. Os programas selecionados foram contatados, de modo a solicitar informações a respeito do número de estudantes inscritos e ingressantes nos últimos anos.

Para verificar o impacto nas mudanças no ingresso de grupos vulneráveis, estão sendo analisados programas que implementaram as políticas no período de 2002 a 2017, de modo que seja possível ter dados de, no mínimo, 3 anos. Ademais, serão analisados programas de diversos grau de mudança, áreas do conhecimento8 e notas da CAPES (3 a 7). Com relação

ao grau de mudança, os programas serão separados em 3 níveis: (a) alta mudança (graus de mudança superiores a 0,7); (b) média mudança (graus 0,3 a 0,6) e (c) baixa mudança (graus 0,1 a 0,2).

Em razão da pandemia e do fechamento das universidades, não foi possível obter os dados de um número expressivo de programas, razão pela qual os dados aqui apresentados são preliminares e têm por objetivo discutir a metodologia utilizada, para que, nos próximos meses, seja possível ampliar o número de observações (N). O objetivo não é proporcionar

6 Há programas que realizam apenas um processo seletivo anual, enquanto outros realizam até duas seleções por

ano.

7 Os programas de pós-graduação são submetidos a uma avaliação pela CAPES a cada 4 anos e recebem notas

distribuídas entre 1 e 7, sendo que “os programas que receberem notas 1 e 2 têm canceladas as autorizações de funcionamento e o reconhecimento dos cursos de mestrado e/ou doutorado por ele oferecidos”.

8 A CAPES organiza o conhecimento em nove grandes áreas: Ciências Exatas e da Terra, Ciências Biológicas,

Engenharias, Ciências da Saúde, Ciências Agrárias, Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Humanas, Linguística, Letras e Artes e a área Multidisciplinar.

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conclusões generalizáveis a todos os programas do país, mas fazer uma análise aprofundada das mudanças nos processos seletivos.

A segunda etapa consistiu na criação de um índice de preenchimento de vagas

(IPV), o qual corresponde à razão entre o número de pessoas aprovadas via ação afirmativa

(a) e número de vagas destinadas à ação afirmativa (vaa), o qual varia de 0,1 a 1, conforme a fórmula abaixo:

𝐼𝑃𝑉 = 𝑎 𝑉𝑎𝑎

sendo:

IPV: índice de preenchimento de vagas

a: número de pessoas aprovadas via ação afirmativa Vaa: número de vagas destinadas à ação afirmativa

Em outras palavras:

Programa

Número de pessoas aprovadas via ação

afirmativa (a) Número de vagas destinadas à ação afirmativa (Vaa) 𝒂 𝑽𝒂𝒂 Índice de Preenchimento de Vagas (IPV) Y 5 5 5 5 1 Z 1 5 1 5 0,2

Destaca-se que o Índice de Preenchimento de Vagas (IPV) não é, por si só, suficiente para analisar os resultados relativos ao ingresso de estudantes vulneráveis nos programas de pós-graduação, uma vez que ele não capta questões relativas ao número de inscrições efetuadas e outras variáveis que influem na aprovação dos candidatos. No entanto, o IPV nos mostra se as vagas destinadas às ações afirmativas estão ou não sendo preenchidas pelos programas de pós-graduação e pode ser utilizado como uma das variáveis para identificação de barreiras no acesso de determinados grupos aos cursos. Tendo em vista o cenário atual e a dificuldade de obtenção das informações com os programas de pós-graduação, serão apresentados dados de 4 programas para explicitar a metodologia utilizada e algumas considerações que os dados suscitaram.

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ID do Programa

Faixa do Grau de

Mudança Área do Conhecimento

Nota da CAPES

Programa 1 Alta Mudança Ciências Humanas9 5

Programa 2 Média Mudança Ciências Humanas 4

Programa 3 Baixa Mudança Ciências Sociais Aplicadas10 5

Programa 4 Baixa Mudança Ciências Humanas 5

Programa 1

O Programa 1 adota uma política de ação afirmativa na modalidade de vagas adicionais reservadas para estudantes negros e apresenta um alto grau de mudança, uma vez que modificou diversas etapas do seu processo de seleção para torná-lo mais inclusivo. O processo seletivo envolve (a) pré-seleção de projetos; (b) avaliação de projeto de pesquisa e currículo; (c) prova escrita; (d) proficiência em idioma(s) estrangeiro(s) e (e) entrevista. Uma das modificações do processo seletivo relacionada à criação de ações afirmativas é a determinação de que, ao menos 25% dos candidatos aprovados em cada fase do processo seletivo deverão ser optantes pelas políticas afirmativas.

Ademais, caso não haja um número suficiente de optantes com nota igual ou superior à nota de corte para compor este percentual, a comissão de seleção deverá aprovar os candidatos via ação afirmativa que tiverem obtido as maiores notas inferiores à nota de corte, até que se atinja o coeficiente de 25%.

Com relação à proficiência em idiomas estrangeiros, para optantes pela ação afirmativa a prova de proficiência não é eliminatória e os candidatos não aprovados nos exames terão até a data de agendamento do exame de qualificação para apresentar um certificado de proficiência.

Com relação ao IPV, o Programa 1 preencheu todas as vagas de ação afirmativa destinadas a candidatos negros em 3 seleções (2 de doutorado e 1 de mestrado) e apresenta um índice médio de 0,8 nos 4 anos. Ademais, no período, o programa apresentou uma média de 2,5 candidatos por vaga de ação afirmativa, sendo que apenas em um ano havia apenas 1 candidatos para 2 vagas de doutorado.

9 A grande área de Ciências Humanas inclui especialidades como Filosofia, Teologia, Sociologia, Antropologia,

Arqueologia, História, Geografia, Psicologia, Educação e Ciência Política.

10 A grande área de Ciências Sociais Aplicadas inclui especialidades como Direito, Administração, Turismo,

Economia, Arquitetura e Urbanismo, Desenho Industrial, Planejamento Urbano e Regional, Demografia, Ciência da Informação, Museologia, Comunicação e Serviço Social.

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Tabela - Número de vagas de ação afirmativa, inscrições homologadas e aprovados nas seleções Ano do Processo Seletivo Nível Nº de vagas Inscrições homologadas Aprovados Relação candidato/vaga Índice de Preenchimento de vagas 2017 Mestrado 3 10 2 3,3 0,7 Doutorado 2 5 2 2,5 1,0 2018 Mestrado 3 9 3 3,0 1,0 Doutorado 2 4 1 2,0 0,5 2019 Mestrado 3 9 2 3,0 0,7 Doutorado 2 6 2 3,0 1,0 2020 Mestrado 3 8 2 2,7 0,7 Doutorado 2 1 1 0,5 0,5

Fonte: Elaboração própria de acordo com dados fornecidos pelo programa.

Programa 2

O Programa 2 adota uma ação afirmativa na modalidade de cotas para negros e vagas suplementares reservadas para indígenas e pessoas com deficiência e possui um grau de mudança médio. As vagas reservadas são divididas entre as áreas de concentração do programa e são submetidas a dois editais distintos.

O processo seletivo regular, o qual prevê a reserva para pessoas negras, é composto por: (a) prova dissertativa (apenas para mestrado), (b) avaliação do projeto ou plano de pesquisa, (c) avaliação do currículo e (d) arguição sobre o projeto e trajetória do(a) candidato(a). Os editais estabelecem que, caso não haja pessoas negras aprovadas em número suficiente para as vagas reservadas, estas serão revertidas para a ampla concorrência e serão preenchidas em ordem decrescente de nota final.

Já o processo seletivo para pessoas indígenas e com deficiência é composto por: (a) avaliação de memorial; (b) avaliação de plano de trabalho e (c) arguição sobre o plano e a trajetória do candidato. Caso não haja pessoas indígenas e/ou com deficiência aprovadas em número suficiente para o preenchimento das vagas adicionais, estas serão desconsideradas.

Com relação à comprovação de idiomas estrangeiros, o programa segue uma normativa da universidade, a qual permite que as pessoas aprovadas na seleção deverão comprovar o conhecimento de idiomas no prazo máximo de 12 meses (mestrado) e 24 meses (doutorado) contados da matrícula no curso.

No que se refere ao IPV, nas 4 seleções realizadas, o programa apenas conseguiu preencher todas as vagas reservadas em 1 delas e em outras duas conseguiu preencher parcialmente (0,8 e 0,7). O IPV médio no período é de 0,7. Ademais, nota-se que na seleção para a turma de mestrado com início em 2020, o programa tinha 7 vagas destinas às ações afirmativas, mas apenas 1 pessoas se candidatou e foi aprovada. A média é de um candidato por vaga no período.

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Tabela - Número de vagas de ação afirmativa, inscrições homologadas e aprovados nas seleções Ano do Processo Seletivo Nível Nº de vagas (AA) Inscrições homologadas Aprovados Relação candidato/vaga Índice de Preenchimento de vagas 2019 Mestrado - Regular 3 4 3 1,3 1,0 Mestrado - Suplementar 3 5 3 1,7 1,0 Doutorado - Regular 2 3 2 1,5 1,0 Doutorado - Suplementar 2 1 1 0,5 0,5 2020 Mestrado - Regular 4 1 1 0,3 0,3 Mestrado - Suplementar 3 0 0 0,0 0,0 Doutorado - Regular 4 6 2 1,5 0,5 Doutorado - Suplementar 2 3 2 1,5 1,0

Fonte: Elaboração própria de acordo com dados fornecidos pelo programa.

Programa 3

O Programa 3 adota uma política de ação afirmativa na modalidade de cotas para negros (pretos e pardos) e pessoas com deficiências e vagas adicionais reservadas para pessoas indígenas. Trata-se de um programa com baixo grau de mudança, visto que apenas estabeleceu a reserva de vagas.

O processo seletivo engloba as seguintes etapas: (a) prova escrita (apenas para mestrado); (b) avaliação do projeto (apenas para doutorado), (c) avaliação de currículo (apenas para doutorado) e (e) entrevista. A proficiência em idiomas estrangeiros é um requisito da seleção e deve ser comprovada no ato da inscrição mediante apresentação de certificados ou declaração de proficiência de outro programa da universidade.

No processo, caso não haja pessoas negras aprovadas em número suficiente para as vagas reservadas para negros e pessoas com deficiência, estas serão revertidas para a ampla concorrência.

Com relação ao IPV, nota-se que em apenas 1 seleção o programa preencheu todas as vagas reservadas via ação afirmativa. Nos últimos 3 anos, o programa apresenta um índice médio de 0,6 e uma média de 2,3 candidatos por vaga reservada.

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Tabela - Número de vagas de ação afirmativa, inscrições homologadas e aprovados nas seleções Ano do Processo Seletivo Nível Nº de vagas (AA) Inscrições homologadas Aprovados Relação candidato/vaga Índice de Preenchimento de vagas 2017 Mestrado 8 23 6 2,9 0,8 Doutorado 4 7 2 1,8 0,5 2018 Mestrado 7 22 2 3,1 0,3 Doutorado 4 7 1 1,8 0,3 2019 Mestrado 5 17 5 3,4 1,0 Doutorado 3 3 2 1,0 0,7

Fonte: Elaboração própria de acordo com dados fornecidos pelo programa.

Programa 4

O Programa 4, por sua vez, adota uma política de ação afirmativa na modalidade de cotas para negros (pretos e pardos), pessoas com deficiências e indígenas. Trata-se de um programa com baixo grau de mudança, visto que apenas estabeleceu a reserva de vagas.

O processo seletivo é composto por 4 etapas eliminatórias: (a) análise da documentação para inscrição; (b) análise do projeto de pesquisa e do currículo Lattes; (c) prova escrita e (d) entrevista. No processo, caso o número de pessoas inscritas via ação afirmativa seja inferior ao número de vagas reservadas, a diferença será revertida para a ampla concorrência. Destaca-se que o programa não exige a comprovação de proficiência em idiomas estrangeiros na seleção.

No que se refere ao IPV, o programa apresentou um índice de 0,3 no ano analisado, de modo que uma grande parte das vagas reservadas não foi preenchida.

Tabela - Número de vagas de ação afirmativa, inscrições homologadas e aprovados nas seleções Ano do Processo Seletivo Nível Nº de vagas (AA) Inscrições homologadas Aprovados Relação candidato/vaga Índice de Preenchimento de vagas 2020 Mestrado e Doutorado 80 104 23 1,3 0,3

Fonte: Elaboração própria de acordo com dados fornecidos pelo programa.

Considerações preliminares

Os dados preliminares parecem sugerir que programas com graus de mudança alto (Programa 1) e médio (Programa 2) conseguem preencher um maior número de vagas destinadas às ações afirmativas (cotas ou vagas adicionais reservadas), uma vez que estes apresentaram, em média, IPVs superiores do que os programas com baixo grau de mudança.

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ID do Programa Relação

candidato/vaga

Índice de Preenchimento de Vagas (IPV)

Programa 1 2,5 0,8

Programa 2 1,0 0,7

Programa 3 2,3 0,6

Programa 4 1,3 0,3

Trata-se de uma conclusão preliminar, já que é necessário analisar os dados de um maior número de programas com diferentes graus de mudança e de diferentes áreas do conhecimento.

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