Acúmulo de Nitrato na Alface Americana “Lucy Brown” em Diferentes
Métodos de Cultivo.
Dulcimara C. Nannetti1; Cleber A. Barbosa1; Amanda Fernandes2; José Honorato2;
Fabrício Assis2; Leandro Amorim2
1ESCOLA AGROTÉCNICA FEDERAL DE MACHADO, Rodovia Machado-Paraguaçu, km 07, Bairro Santo Antônio, Machado-MG, CEP 37.750-000; e-mail: dulcimara@axnet.com.br; 2Estudantes da EAF Machado.
RESUMO
Determinou-se o acúmulo de nitrato, a matéria fresca total e comercial em alface americana, “Lucy Brown”, em função de diferentes métodos de cultivo: hidropônico, convencional e orgânico. O experimento foi conduzido na Escola Agrotécnica Federal de Machado, Minas Gerais, em ambiente protegido. As plantas foram colhidas após 75 dias de cultivo, foram pesadas inteiras e sem as folhas externas (comercial). Folhas internas foram retiradas de cada amostra com o objetivo de se efetuar a determinação do nitrato. Observaram-se diferenças significativas para o acúmulo de nitrato, sendo que o cultivo hidropônico propiciou os maiores teores deste nas folhas, seguidos pelos cultivos convencional e orgânico. A maior produção de matéria fresca foi observada para os cultivos convencional e orgânico, sem diferenças estatísticas entre eles, mas que suplantaram o cultivo hidropônico.
Palavras-chave: Lactuca sativa L., cultivo hidropônico, cultivo convencional, cultivo
orgânico.
ABSTRACT
Accumulation of nitrate in american lettuce “Lucy Brown” in different growing methods.
The nitrate accumulation, total and commercial fresh material were determined in american lettuce “Lucy Brown”, in terms of different growing methods: hydroponics growing, normal growing, organic growing. The experiment was carried out at the Escola Agrotécnica Federal de Machado, Minas Gerais, in protected environment. The plants were harvested after 75 days, were weighed with and without external leaves (commercial). Internal leaves were sampled to determine the nitrate level. It was observed expressive differences at the nitrate accumulation. The hydroponics growing provided the highest amounts of nitrate in the leaves followed by the normal growing and organic growing. The highest production of fresh material was observed at the normal and organic growings, with no statistical differences between each other, but they exceeded the hydroponics growing.
Keywords: Lactuca sativa L., hydroponics growing, normal growing, organic growing.
As hortaliças folhosas são plantas que possuem o maior risco de acumular teores de nitrato nocivos ao consumidor. Os nitratos e nitritos ingeridos pelo homem
contribuem para a formação endógena de N-nitrosaminas, compostos potencialmente cancerígenos, que além disto são capazes de transformar a hemoglobina do sangue em ferriemoglobina, processo que leva ao impedimento do transporte do oxigênio dos alvéolos pulmonares para os tecidos ( Rath et al., 1994).
Andriolo (1999) afirma que na planta o nitrogênio é dirigido preferencialmente para as partes fotossinteticamente mais ativas (folhas). Estas contribuem com 70 % da ingestão diária de nitrato pelo ser humano (Pomerening et al., 1992). Dentre as folhosas a alface (Lactuca sativa L.) é considerada a hortaliça mais importante na alimentação dos brasileiros. O acúmulo normal do nitrato nas folhas desta hortaliça é incrementado devido a adubação nitrogenada excessiva, mineral ou orgânica (Richardson e Hardgrave, 1992), normalmente efetuada pelos olericultores.
Somam-se a estes problemas o cultivo em ambiente protegido, com “mulching” plástico e irrigação localizada, muitas vezes com o uso de fertirrigação diária, aumentando o potencial do acúmulo do nitrogênio no solo e por conseqüência na planta a níveis muitas vezes prejudiciais à saúde humana.
No cultivo hidropônico o problema do acúmulo de nitrato normalmente se acentua em função do nitrogênio estar sempre disponível na solução nutritiva e prontamente assimilável pela planta, além do nitrato ser encontrado normalmente em maior quantidade nas soluções nutritivas utilizadas na produção comercial de hortaliças. Com uma suplementação abundante, a absorção pela planta pode exceder sua redução e assimilação, levando ao seu acúmulo. A alface americana por sua vez acumula N-NO3- nas folhas internas, (Krohn et al., 2003), pois recebem menor
intensidade luminosa, com menor atividade fotossintética e conseqüente acúmulo de nitrato nos vacúolos, e estas são justamente as folhas utilizadas para a comercialização e ingestão humana.
Considerando-se o alto consumo da alface pela população, a fertilização normalmente rica em adubos nitrogenados, contribuindo para o acúmulo de nitrato nas folhas, e o potencial cancerígeno deste para o homem, desenvolveu-se este trabalho com o objetivo de avaliar o efeito de diferentes métodos de cultivo, hidropônico, convencional e orgânico, nos teores de nitrato nas folhas e na produção da alface americana Lucy Brown.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no Setor de Produção de Olerícolas, na Escola Agrotécnica Federal de Machado, no sul de Minas Gerais, no período de 05 de
setembro a 18 de novembro de 2003. Utilizou-se a alface do tipo americana, cultivar
Lucy Brown, produzida em diferentes métodos de cultivo.
Os cultivos hidropônico, convencional e orgânico, todos conduzidos em cultivo protegido, constituíram três tratamentos. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, com sete repetições.
As mudas para os cultivos convencional e orgânico foram produzidas em bandejas de poliestireno expandido, de 200 células, utilizando-se substrato constituído de vermiculita, casca de madeira carbonizada e terra de turfa. Após 25 dias foram transplantadas para canteiros cobertos por “mulching” plástico preto, utilizando-se o espaçamento de 25 cm x 30 cm, em ambiente protegido.
A adubação utilizada para o cultivo convencional foi a sugerida por Fontes (1999). Os fertilizantes utilizados para o plantio foram o superfosfato simples (200 kg de P2O5 / ha), sulfato de amônio (40 kg de N / ha) e cloreto de potássio (50 kg de K2O /
ha), segundo a análise de solo, além de adubação orgânica com esterco de curral (60 t / ha). A adubação de cobertura foi realizada com sulfato de amônia (60 kg de N / ha), e foi efetuada aos 30 e 45 dias após o transplantio.
A adubação de plantio no cultivo orgânico foi realizada com composto orgânico (40 t / ha) e com esterco de curral (40 t / ha). As adubações de cobertura foram realizadas aos 30 e 45 dias após o transplantio, com vermicomposto, (1,4 t / ha).
A irrigação foi feita por gotejamento e demais tratos culturais foram realizados no sentido de se aproximar ao máximo o cultivo experimental do efetivamente realizado por produtores de alface americana.
As mudas para o cultivo hidropônico foram produzidas no próprio sistema NFT, utilizando-se bandejas de poliestireno expandido de 200 células, o substrato utilizado foi a vermiculita. Utilizou-se a solução nutritiva descrita por Furlani et al. (1999), tanto para a produção de mudas quanto para o desenvolvimento da cultura. Demais tratos culturais realizados são os mesmos dispensados às culturas hidropônicas. Foram realizadas pulverizações semanais com produto à base de Iprodione (Rovral) para controle de alta infestação com míldio e com Deltamethrine (Decis) para o controle de pulgões.
As alfaces foram colhidas após 75 dias de cultivo, cortadas no colo da planta e levadas ao laboratório para determinação da matéria fresca total (com todas as folhas) e matéria fresca comercial (retirando-se as folhas externas). Em seguida foram retiradas as folhas internas para análise, as que efetivamente são utilizadas no consumo humano. Estas foram acondicionadas em sacos de papel e levadas para estufa de circulação de ar forçada, à 65ºC por 72 horas, para obtenção da matéria
seca. Em seguida este material foi moído em moinho tipo Willey, peneira de 40 mesh, retirando-se amostras de 1 g para determinação de N-NO3, de acordo com a
metodologia proposta por Tedesco et al. (1995).A determinação do nitrato foi realizada no Laboratório de Fisiologia Vegetal da Universidade Federal de Lavras - MG, com absorbância de 450 nm.
Figura 1. Estufa com alface americana “Lucy Brown”, cultivos orgânico e convencional, Setor de Olericultura. EAF, Machado-MG, 2003.
Figura 2. Estufa com alface americana “Lucy Brown”, cultivo hidropônico, Setor de Olericultura. EAF, Machado-MG, 2003.
Figura 3. Alunos fazendo pesagem e separando partes da alface para análise, Agroindústria de Café. EAF, Machado - MG, 2003.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As maiores produções de matéria fresca total e comercial foram obtidas com o cultivo convencional, médias de 671,0 g e 502,0, e com o cultivo orgânico, médias de 655,0 g e 451,0 g, respectivamente, não diferindo estatisticamente entre si, de acordo com o teste de Tukey, 1% de probabilidade (Tabela 1). O cultivo hidropônico obteve matéria fresca total e comercial estatisticamente inferiores aos outros cultivos (Tabela 1), contrariando o que se observa na literatura, onde as plantas hidropônicas normalmente alcançam pesos maiores em tempo normalmente inferior. Este resultado pode ser justificado devido à alta incidência de doença fúngica (míldio) e de insetos-praga (pulgões) no cultivo hidropônico, o que prejudicou o pleno desenvolvimento da cultura, o que não ocorreu com os demais cultivos.
Tabela 1. Matéria fresca total e comercial da alface americana Lucy Brown, cultivo hidropônico, convencional e orgânico. Setor de Olericultura. EAF, Machado-MG, 2003.
Hidropônico Convencional Orgânico
Matéria fresca total (g/pl.) Matéria fresca comercial (g/pl.) Matéria fresca total (g/pl.) Matéria fresca comercial (g/pl.) Matéria fresca total (g/pl.) Matéria fresca comercial (g/pl.) 454,3 b* 317,6 b 671,0 a 502,1 a 654,9 a 451,1 a CV (%) - Peso Fresco Total: 12,28 CV (%) - Peso Fresco Comercial: 17,18
*Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem significativamente entre si, a 1% de probabilidade, pelo teste Tukey.
O acúmulo de nitrato nas folhas internas da alface americana foi maior no cultivo hidropônico, seguido pelo cultivo convencional e orgânico, sendo que os últimos não diferiram estatisticamente entre si, segundo teste de Tukey a 1 % de probabilidade, apesar da tendência do cultivo convencional a acumular mais nitrato que o orgânico, (Tabela 2). Este resultado segue a tendência de outros trabalhos científicos já realizados com várias cultivares de alface como Cavarianni et al. (2000) os quais encontraram maiores teores de nitrato em plantas cultivadas em sistema hidropônico em relação a plantas cultivadas em solo a céu aberto e cultivo protegido. Tabela 2. Quantidade de nitrato em alface americana Lucy Brown, cultivo hidropônico, convencional e orgânico. Setor de Olericultura. EAF, Machado-MG, 2003.
Hidropônico Convencional Orgânico
N-NO3 -( mg . kg-1 de MS) N-NO3 -( mg . kg-1 de MS) N-NO3 -( mg . kg-1 de MS) 318,3 b* 172,6 a 124,8 a CV (%): 19,58
*Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem significativamente entre si a 1% de probabilidade pelo teste Tukey.
Existem na literatura diferentes relatos de teores de nitrato em alface e observa-se a grande variabilidade destes em função da cultivar, pois a capacidade de acúmulo de nitrato pelas plantas é de caráter genético. Bonnecarrère et al. (2000 a) encontraram valores (mg de N-NO3-. kg-1 de matéria seca) variando de 465 a 646 para
as cultivares de alface lisa, 600 a 889 para as crespas e de 538 para as do tipo americana. Já Bonnecarrère et al. (2000 b) constataram valores (mg de N-NO3-. kg-1 de
matéria seca) de 272 a 308 para as cultivares de alface lisa e de 243 a 346 para as crespas. Cavarianni et al. (2000) também avaliando diversas cultivares, encontraram valores (mg de N-NO3-. kg-1 de matéria seca) de 1545 a 1963 para alface lisa, de 1242
a 1536 para as crespas e de 1030 a 1965 para a do tipo americana. No entanto Cavarianni et al. (2000) verificaram valores de 546 a 1466 para cultivares de alface lisa, de 1475 a 1661 para as crespas e de 694 a 1942 para as do tipo americana. Por fim Pilau et al. (2000) observaram valores 101 a 250 para cultivares de alface lisa e de 91 a 273 para as crespas.
Comparando-se estes dados com os observados neste trabalho, o acúmulo neste último não foi elevado. Em trabalho realizado por Cavarianni et al. (2000), a cultivar Lucy Brown acumulou valores (mg de N-NO3-. kg-1 de matéria seca) de 1965,0
acumulou 1356,67 em cultivo hidropônico e 453,67 em casa de vegetação. O limite aceito pela comunidade européia é de 3.500 mg de N-NO3-. kg-1 de matéria fresca no
verão e de 4.500 mg no inverno (McCall e Willumsem, 1998).
Sabe-se que os teores de nitrato são também influenciados por outros fatores como intensidade luminosa, temperatura, umidade do solo e do ar (Grazia et al., 2001), sistema de cultivo (Rezende et al., 2000), adubação ou composição da solução nutritiva (Sanches et al., 2001), época de cultivo e hora da colheita (Faquin et al., 1994).
Os resultados encontrados neste trabalho reforçam os já observados na literatura e demonstram a tendência de maior acúmulo de nitrato no cultivo hidropônico, seguido pelo cultivo convencional e orgânico, apesar dos teores de nitrato se encontrarem muito aquém dos prejudiciais.
LITERATURA CITADA
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