• Nenhum resultado encontrado

ENTRE O EDUCAR E O SER EDUCADO: A EXPERIÊNCIA DA UNIVERSIDADE ABERTA PARA A TERCEIRA IDADE

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "ENTRE O EDUCAR E O SER EDUCADO: A EXPERIÊNCIA DA UNIVERSIDADE ABERTA PARA A TERCEIRA IDADE"

Copied!
7
0
0

Texto

(1)

ENTRE O EDUCAR E O SER EDUCADO: A EXPERIÊNCIA DA UNIVERSIDADE ABERTA PARA A TERCEIRA IDADE

Rita de Cássia OLIVEIRA, Paola SCORTEGAGNA, Flávia da Silva OLIVEIRA Universidade Estadual de Ponta Grossa

Faculdades União Resumo

No contexto atual, o Brasil apresenta um grande contingente de idosos, em torno de 9,7% da população possui mais de 60 anos. Através do fortalecimento do fenômeno da longevidade, a sociedade deve mobilizar-se, proporcionando a esse segmento, uma melhor qualidade de vida. Para tanto, são necessárias políticas públicas voltadas à terceira idade, como o Estatuto do Idoso, Lei 10741/03, que prescreve no capítulo V, direto à cultura, lazer, esporte, educação e a necessidade da criação de universidades abertas para a terceira idade. As Instituições de Ensino Superior, voltadas à sua função extensionista e a responsabilidade social, oferecem programas educativos aos idosos. A Universidade Estadual de Ponta Grossa oferece desde 1992 a Universidade Aberta apara a Terceira Idade, com o objetivo de valorizar o idoso, integrá-lo na sociedade, promover a atualização e aquisição de conhecimentos e possibilitar o relacionamento intergeracional. Essa pesquisa buscou estabelecer o perfil dos idosos que freqüentam a UATI/UEPG e as melhorias que o curso proporcionou na vida dos mesmos. Realizou-se uma pesquisa documental, descritiva e interpretativa utilizando questionários e entrevistas. Os resultados foram altamente positivos, de reconhecimento, tanto por parte dos idosos como pela população, evidenciando a necessidade de mais ações educativas para esse segmento da população.

Palavras-chave: Educação permanente, terceira idade, universidade, políticas públicas. 1. Introdução

O fenômeno da longevidade apresenta-se atualmente como uma tendência mundial que pode ser evidenciada em diferentes países.

No contexto atual, o Brasil apresenta em sua demografia social um avanço significativo dessa faixa etária da população e, a tendência é ampliar mais, devido a longevidade que constitui uma realidade incontestável.Atualmente apresenta um grande contingente de idosos, 9,7% da população possui 60 anos ou mais, sendo 15 milhões. Segundo projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil no ano de 2025 terá cerca de 15% da sua população constituída por idosos, em torno de 34 milhões de pessoas.

Segundo Oliveira [1, p.131]

Percebe-se que o envelhecimento populacional do Brasil ocorre em razão de alguns aspectos: aumento da expectativa de vida, diminuição da taxa de fecundidade, atribuída em grande parte aos avanços da medicina, e a busca de oferecer melhores condições de vida à população em termos de moradia, saneamento básico, alimentação, transporte, embora ainda exista muito o que fazer.

Como afirma Oliveira [1, p.123] “[...]o envelhecimento da população é um fenômeno global que traz importantes repercussões nos campos social e econômico, especialmente nos países em desenvolvimento.”

(2)

Essa pesquisa teve como objetivos: identificar o perfil dos idosos beneficiados pelo Curso da Universidade Aberta para a Terceira Idade; relacionar as modificações de comportamento e benefícios que a UATI proporcionou na vida dos idosos que freqüentaram o curso.

Realizou-se uma pesquisa documental, descritiva e interpretativa utilizando questionários e entrevistas.

2. Políticas Públicas e o envelhecimento na sociedade brasileira

Diante do fenômeno da longevidade, o tema envelhecimento e velhice tem despertado interesse entre estudiosos e estimulado mais pesquisas.

A velhice constitui uma fase da vida do ser humano que merece respeito e atenção e, pelo crescimento dessa parcela da população, se faz necessário estudos para um constante redimensionamento dos direitos e obrigações dessa faixa etária e do compromisso da sociedade política e civil com relação a ela, possibilitando uma vida digna e de boa qualidade.

O envelhecimento e a velhice enquanto etapa da vida não constitui um processo unicamente biológico, mas constituí uma construção social. Dentro dessas perspectivas muitas são as teorias sociológicas que procuram estudar essa etapa.

A teoria do retraimento ou da desvinculação elaborada por Elaine Cummings e Wuliam Henry em 1961 [2] analisa o envelhecimento como um processo onde o decréscimo é inevitável na interação entre a pessoa que envelhece e as demais pessoas do meio social. Dentro dessa teoria, o indivíduo é estudado como um sujeito que sofre deterioração nos aspectos biológico, psíquico e social e em contrapartida o indivíduo participa cada vez menos da vida em sociedade e em decorrência a própria sociedade lhe oferece cada vez menos oportunidades de participação. Dessa maneira, constata-se um retraimento recíproco da sociedade e do indivíduo. Esse retraimento conduz a sérias conseqüências psicológicas e sociais para a pessoa idosa.

Socialmente, é necessário que o idoso sinta-se integrado, fazendo parte do todo social que constituí a vida de cada um.

No aspecto psicológico, a pessoa volta-se cada vez mais para si mesma diminuindo o interesse por outras pessoas e pela sua própria vida em sociedade. Seguindo a esse retraimento, como conseqüência social percebe-se a diminuição da interação entre os idosos e outras pessoas da rede social, ficando o contato restrito aos familiares ou ao seu cuidador.

Existe, portanto, uma desvinculação progressiva da pessoa idosa, e esse afastamento recebe apoio da sociedade onde com o retraimento do idoso, surge um maior espaço para ser ocupado pelos jovens.

A esse afastamento convergem as políticas públicas e sociais evidenciando a força dos jovens e menosprezando a dos idosos, diminuindo seu potencial criativo, de empreendedor. Atribui-se também essa visão a falta de integração entre as gerações e o pouco valor e respeito ao idoso, como um segmento que muito contribuiu para a sociedade e que precisa da valorização e reconhecimento social.

Segundo Atchley (1976) a desvinculação não é um fenômeno natural e nem algo inevitável. A desvinculação é prejudicial para a velhice, fortalecendo a idade como um fator de discriminação entre as pessoas, favorecendo a segregação ou a indiferença aos idosos [3].

Em oposição a essa teoria delineia-se a Teoria da Atividade, formulada por Havighurst, em 1963 [4], onde a atividade passa a apresentar valor inestimável, porque a “ausência da atividade supõe a apatia, a depressão e o pessimismo” [3, p.55]

A teoria da atividade parte do pressuposto de que só o indivíduo ativo pode sentir-se feliz e satisfeito. A pessoa deve ser produtiva e útil dentro do contexto em que vive, no aspecto material e profissional, físico e psicológico.

Na velhice, compete a cada um dar continuidade as atividades que anteriormente desenvolvia ou desenvolver outras que lhe causem prazer, auto realização e participação na sociedade.

(3)

Enquanto o idoso desenvolve alguma atividade, realiza-se, torna-se satisfeito, melhorando sua auto estima, a imagem de si mesmo e ocupa diferentes papéis sociais.

A medida em que o indivíduo envelhece existe uma modificação significativa dos papéis sociais que desempenha carecendo até certo ponto de uma definição mais objetiva, de propósito e de identidade. Esses papéis precisam ser constantemente substituídos, caso contrário, o idoso interioriza uma anomia tornando-se alienado de si mesmo e da sociedade.

Outro aspecto que reforça essa teoria, como afirma Oliveira [3, p.56] refere-se ...

a valorização da velhice, atribuindo aos idosos novos papéis socialmente valorizados, talvez acompanhados de uma forma de remuneração, o que garante em primeiro lugar um complemento econômico e depois porque a sociedade atualmente valoriza as atividades vinculadas ao dinheiro, desmerecendo o trabalho gratuito. Os processos educativos, nas sociedades industriais, deveriam valorizar o capital cultural e as atividades do idoso, porém isso não ocorre.

Através do fortalecimento do fenômeno da longevidade, a sociedade deve mobilizar-se, proporcionando a esse segmento, uma melhor qualidade de vida.

Paralelamente a esse panorama real, lentamente se iniciou uma preocupação com relação as políticas públicas voltadas para essa faixa etária. Em especial no Brasil, em 1994, foi aprovada a Lei 8.842/94 que estabelece a Política Nacional do Idoso. Infelizmente apesar de preconizar alguns aspectos favoráveis para essa faixa etária pouco foi contemplada na prática.

Segundo Fernandes [5] se a sociedade brasileira proporcionasse aos cidadãos mais velhos um tratamento e a consideração dispensada aos adultos, eliminar-se-ia os estatutos especiais para os idosos.

Dessa maneira, a luta em prol do idoso continuou e foi aprovada em 2003 a Lei 11.742/03 - Estatuto do Idoso, que veio resgatar, os princípios constitucionais que garantem aos cidadãos idosos direitos que preservem a dignidade da pessoa humana, sem discriminação de origem, raça, sexo, cor e idade.

Essa Lei mobilizou muitas discussões em diferentes segmentos da sociedade, levantando a bandeira da discriminação e da marginalização da qual o idoso, em diferentes situações, estava sendo vítima. A preocupação com essa faixa etária, não pode ser restrita apenas a sociedade política, mas deve ser um compromisso de toda a sociedade civil, através de uma conscientização do processo de envelhecimento.

O Estatuto do Idoso (Lei 10.741/03) prevê em seu capítulo V, artigo 20, ter o idoso o direito à educação, e, em seu artigo 21 rege que o Poder Público criará oportunidades de acesso do idoso à educação, adequando currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais a ele destinados.

Embora esse segmento etário, não por raras vezes, seja revestido de estereótipos negativos e infundados, entre eles: a impotência sexual, a incapacidade para o trabalho, a incapacidade de aprender, a solidão, inutilidade, isolamento, entre outros, a educação permanente reforça a possibilidade do indivíduo aprender ao longo da vida, respeitando sua individualidade, seu ritmo, porém, aproveitando sua experiência e sabedoria de vida.

A educação deve ser considerada como manifestação do compromisso maior da sociedade que busca quebrar barreiras sociais, possibilitando uma real democracia, igualdade e participação, exercício da cidadania de todos os indivíduos, sob a ótica da responsabilidade social.

Ressalta-se que a Educação permanente é um conjunto de experiências educativas apresentando-se como hipótese para o futuro diante das mudanças sociais, econômicas, culturais que se apresentam à nossa sociedade, integrando os diferentes meios de instrução e formação. Constitui como uma necessidade de ampliar a participação dos indivíduos na vida social e cultural, visando a melhoria nas relações interpessoais, qualidade de vida, compreendendo o mundo e tendo esperança de futuro.

(4)

Segundo Gadotti [6] a educação permanente é a necessidade de uma educação que se prolonga durante toda a vida, uma necessidade de continuar constantemente a formação individual.

Complementando, Garcia [7] ressalta que a idéia de totalidade é a que melhor exprime o ponto de partida da educação permanente, na medida em que focaliza o homem em toda a sua dimensão, imerso em uma realidade social.

O fenômeno educativo deve ser entendido como uma prática social situada historicamente em uma realidade total; dependendo do projeto de homem e de sociedade que se deseja construir, a educação pode ser trabalhada dentro de uma perspectiva ingênua ou crítica, dentro de uma perspectiva que vise alienar ou libertar os seres nela envolvidos, surgindo como instrumento eficaz na criação do tipo de homem e de sociedade idealizada [1].

Dentro dessa perspectiva da educação permanente e sendo a universidade um lugar por excelência para o aprimoramento, a pesquisa, a busca do conhecimento e também a democratização do saber, timidamente surge em seu âmago um espaço educacional para essa clientela.

As universidades ampliam sua função social, “buscando integrar aqueles que se encontram à margem do processo de desenvolvimento” [1, p.240].

3. A Universidade Aberta para a Terceira Idade na Universidade Estadual de Ponta Grossa Os diferentes programas oferecidos pelas Instituições de Ensino Superior são formas alternativas de atendimento ao idoso, visando além da valorização dessa clientela, maior conscientização da sociedade em geral a respeito do processo de envelhecimento da população do nosso país que é uma realidade [8].

Com a inserção do idoso na comunidade universitária, a integração entre gerações ocorre necessariamente, fomentando debates sobre as questões que envolvam essa faixa etária, analisando preconceitos e discriminações ora sustentados socialmente e que se apresentam sem fundamentação científica.

O próprio idoso, ao se conscientizar de seu espaço na sociedade, terá de si mesmo uma visão mais otimista, considerando-se produtivo, útil, capaz de muito ainda colaborar para a sociedade na qual está inserido.

A Universidade Estadual de Ponta Grossa, por se constituir um lugar de produção e socialização de conhecimentos, amplia o seu compromisso e responsabilidade social acolhendo esse segmento da população, em um projeto extensionista.

Desde o ano de 1992, a Universidade Estadual de Ponta Grossa, através da sua Universidade Aberta da Terceira Idade(UATI), tem trabalhado a fim de resgatar o idoso para o convívio e integração sociais através de uma atualização cultural e assim, valorizar o idoso e melhorar sua qualidade de vida a partir do momento em que contribui para que eles compartilhem seus sonhos, idéias e retomem a prática de construir projetos de vida, conquistando assim de volta uma posição importante no seio da família e da comunidade. Volta-se também para a promover a atualização e aquisição de conhecimentos e possibilitar o relacionamento intergeracional.

A UATI, fundamenta-se na concepção de educação permanente e auto realização do idoso, na modalidade não formal. Esse curso possibilita a inserção cultural da pessoa idosa à medida que proporciona a aquisição de conhecimentos, atualiza através de informações e possibilita o desenvolvimento das potencialidades e habilidades pessoais.

O curso pretende dinamizar reflexões sobre o processo de envelhecimento e sobre as questões da terceira idade, analisando constantemente a problemática do idoso nos diversos aspectos; biopsicológicos, filosóficos, político, espiritual, religioso, econômico e sóciocultural. Preocupa-se em proporcionar ao idoso melhor qualidade de vida, tornando-o mais ativo, alegre, participativo e integrado à sociedade. Estrutura-se com abordagem mulltidisciplinar, priorizando o processo de valorização humana e social da terceira idade. Contribui também para a ampliação de pesquisas nessa área ao mesmo tempo em que desenvolve a função universitária de ensino, pesquisa e extensão, voltada à atenção e à promoção humana, na fase do envelhecimento.

(5)

Basicamente a UATI estrutura-se em disciplinas teóricas e práticas, totalizando 240 horas, ao longo de três semestres letivos, seguindo o calendário universitário.

As disciplinas teóricas abordam as diferentes dimensões humanas e sociais, apresentadas por diferentes profissionais em suas áreas específicas, entre elas: sociologia, filosofia, psicologia, direito, previdência social, história, geografia, relações humanas, educação, esoterismo, política, economia, medicina, fisioterapia, odontologia, nutrição, jornalismo, turismo, educação física e meio ambiente. As disciplinas práticas envolvem diferentes atividades, como: dança de salão, natação, hidroginástica, biodança, relaxamento e alongamento, atividades esportivas, informática, francês, espanhol, inglês, oficina da comunicação, pintura, teatro, artesanato e seresta.

O currículo é organizado de maneira interativa, conforme as opções dos próprios idosos, sendo as disciplinas teóricas de caráter obrigatório e as práticas de caráter optativo.

O Estágio realizado na UATI, constitui o último semestre letivo do Programa, onde são programadas atividades como visitas a diversas instituições, entre elas: hospitais, asilos, creches, grupos de convivência de idosos. São realizadas entrevistas para detectar as reais necessidades de cada local e depois desenvolvem-se atividades filantrópicas, assistenciais, recreativas, visando uma socialização e integração.

As atividades desenvolvidas atualmente, assumem as características de Projetos e são brevemente descritas a seguir:

- Resgate Cultural de brincadeiras e cantigas: foi realizado um trabalho de pesquisa, em equipe, na qual resgatou-se as principais cantigas de rodas e brincadeiras de infância, elaborando um álbum descritivo. Realizou-se uma apresentação demonstrativa para os próprios alunos da UATI e depois saíram em diferentes locais previamente agendados, fazendo as devidas apresentações. Todos os alunos estavam caracterizados e realizaram atividades interativas, convidando as pessoas a participarem das brincadeiras e das cantigas.

- Contador de Histórias; os alunos receberam orientações e em equipes, organizaram um teatro representando diferentes histórias infantis clássicas, com as devidas caracterizações dos personagens. Primeiramente apresentaram para o próprio grupo de colegas e depois foram distribuídos em diferentes locais para realizar as apresentações.

- Memorial – História de Vida: Esse projeto foi desenvolvido individualmente pelos alunos. Cada um relatava sua história, registrando os fatos mais marcantes ao longo da vida, com ilustrações, fotografias, cartas, poemas, enfim o que era mais significativo, registrando e elaborando um álbum. Posteriormente, foi marcado um dia onde todos apresentaram a sua produção e cada um contou alguma passagem de sua vida que mais lhe seria marcante, pela tristeza ou pela alegria.

Existe ainda o Grêmio da universidade Aberta para a Terceira Idade (GUATI), com regulamento próprio e diretoria organizada que, sob a coordenação do Programa, organiza viagens e festas ao longo do ano. Entre as principais festividades registram-se: Festa dos Calouros, Festa do Dia das Mães, Festa Junina, Festa da Primavera e Festa Natalina.

O programa é constantemente avaliado pela coordenação, pelos docentes e pelos idosos e reformulado conforme as necessidades e sugestões apresentadas. Os alunos recebem certificados de conclusão de cursos.

Num esforço de desenvolver estratégias para melhor atender estes estudantes, a Universidade Aberta para a Terceira Idade visa com este projeto de pesquisa, coletar, organizar e atualizar dados da instituição com relação a seus alunos, para que dentro deste processo de auto-avaliação, identifique como está seu funcionamento e como pode melhorá-lo.

No transcorrer dos 16 anos de atividades da UATI, anualmente são aplicados questionários a todos os alunos matriculados, para que se possa realizar um resgate do perfil dos idosos que freqüentam o referido curso. Desde a primeira turma até a XVI turma, já foram aplicados 863 questionários. Também foi realizado durante este período entrevistas com alunos, totalizando 60 entrevistados.

(6)

Os resultados foram altamente positivos, de reconhecimento, tanto por parte dos idosos como pela população, evidenciando a necessidade de mais ações educativas para esse segmento da população.

O Curso da Universidade Aberta para a Terceira Idade (UATI) nos seus mais 16 anos de existência já beneficiou 863 idosos. Atualmente cerca de 250 idosos freqüentam o referido Curso.

Com o objetivo principal de melhor conhecer o idoso que freqüenta a UATI, buscou-se o perfil dos alunos de 1992 até 2007 e coletar depoimentos e relatos sobre as mudanças de comportamento por eles identificados após freqüentarem o Curso.

No período de matrículas levantado nesta pesquisa, 1992-2007, o total de alunos envolvidos no Curso Universidade Aberta para a Terceira Idade da Universidade Estadual de Ponta Grossa foi de 863, sendo que 351 idosos, representando 40,7% possuem entre 61 a 70 anos, seguido da faixa etária compreendida entre 51 e 60 anos, com 310 idosos, representando 35,9%.

Quanto à escolaridade, 39,5%, ou seja, 340 cursistas, quase a metade, apresentou ensino fundamental incompleto - antigo ensino primário. Em seguida, representando 223 cursistas possuem o ensino médio completo, sendo um percentual de 26% do total.

Com relação ao estado civil dos cursistas, percebe-se que 45,4%, 392 idosos são casados, seguidos por 308 idosos, representando 35,7% que são viúvos. Analisando a atividade profissional, 439 idosos são aposentados, representando 50,9%, ou seja, mais da metade. Outro percentual, de 32,8%, correspondendo a 283 idosos desenvolvem trabalhos no lar.

Foram coletados depoimentos de 60 idosos, através de entrevistas, no sentido de captar a repercussão da UATI na vida de cada um. Os alunos foram escolhidos aleatoriamente, conforme a disponibilidade e interesse em participar da pesquisa. Alguns aspectos podem ser identificados nas falas a seguir:

-“Devo muito para a UATI porque ela me devolveu a vontade de viver e me fez esquecer de tomar tantos remédio. Meu médico disse que estou muito bem porque estou feliz” ( Maria – 73 anos)

-“A melhor coisa que fiz na vida foi entrar aqui, agora consigo fazer coisas que antes eu não fazia como cantar, o artesanato e a dança.” ( Ana- 68 anos)

- “Eu não vou deixar nunca isso aqui, é muito bom, fiz muitas amigas e acho tudo maravilhoso”. (Joana- 82 anos).

- “As ginásticas me ajudam a fazer algumas coisas que antes eu não conseguia como andar mais rápido e colocar minhas meias. Isso é muito bom e quero que todos venham estudar aqui.” (Carla-77 anos).

- “Minha vida melhorou muito porque agora como melhor, faço tudo com mais disposição e durmo mais gostoso. Tudo graças a UATI”. (Cristina, 75 anos)

As diferentes considerações apresentadas pelos sujeitos da pesquisa no que tange a inserção social, reforçaram sempre a mudança do próprio comportamento referente principalmente a uma melhor integração no âmbito familiar e social, uma maior participação em diferentes atividades, mais informações e conhecimentos o que também favorecem uma melhor adaptação à sociedade que hoje evolui rapidamente, a medida em que são instrumentalizados com conhecimentos e técnicas.

Outro aspecto relevante diz respeito a uma ampliação do círculo de amizades e também a uma elevação da auto estima, e muitos dos idosos passam a fazer propaganda positiva e indicar o Curso para outros indivíduos da mesma faixa etária. É visível também, através dos depoimentos, a melhoria na qualidade de vida registrada pelos idosos que freqüentam a UATI.

Além dos idosos que freqüentam o Curso, a repercussão também é positiva registrada por diferentes familiares e pela comunidade pontagrossense. Através dos depoimentos dos idosos que foram coletados, constata-se a unanimidade quanto a repercussão positiva que o Curso tem representado na vida de cada um, principalmente quanto a melhoria na realização de atividades diárias, na

(7)

qualidade de vida, na inserção familiar e social, tornando-os pessoas mais alegres, otimistas, com vontade de viver.

4. Considerações Finais

A educação esboça a possibilidade da construção de uma representação social do idoso como um novo sujeito, com uma nova identidade social, um sujeito psíquico existente, manifestando seus sonhos, desejos, esperanças e com novas necessidades psicológicas, sociais, éticas e políticas. Mas a sociedade não pode agir e reformular essa visão da velhice sem a participação do próprio idoso. O idoso também possui papel significativo e deve contribuir para emergir essa nova concepção de velhice. O idoso deve se pensar sujeito do tempo em que está vivendo, não viver de memória, do passado, mas integrado a atualidade.

Com essas iniciativas ainda tímidas, o idoso está sendo trazido para a cena social, exigindo atenção e cuidados anteriormente inexistentes, acabando por receber um reconhecimento simbólico referente ao lugar social e cultural que não lhes tem sido atribuído. Negar a existência de valores negativos relativos é tão nocivo quanto os aceitar passivamente, porque implica em assumir posições hipócritas e silenciar a imagem inscrita pela modernidade para a velhice.

Portanto, é imprescindível o início da transformação progressiva do lugar social da terceira idade, o reconhecimento da velhice e do idoso como sujeito psíquico existente e como agente social, permitindo uma outra maneira de redimensionamento e da inserção do idoso na ordem da temporalidade, delineando a possibilidade de dimensão de futuro.

5. Referências

[1] OLIVEIRA, R. C. S. “Terceira Idade: do repensar dos limites aos sonhos possíveis”. Campinas: Papirus, 1999.

[2] MISHARA & RIEDEL. “El proceso de envejecimiento”. Madrid: Morata, 1986.

[3] OLIVEIRA, R.C.S. “A Universidade Aberta para a Terceira Idade na Universidade Estadual de Ponta Grossa”. Tese de Doutorado: Santiago de Compostela, 1998.

[4] BAZO, M. T. “La sociedad anciana”. Madrid: CIS, 1990.

[5] FERNANDES, F. “As pessoas idosas na legislação brasileira”. São Paulo: LTr, 1997. [6] GADOTTI, M. “A educação contra a educação”. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984. [7] GARCIA, A. “Educación y envejecimiento”. Barcelona: PPU, 1994.

Referências

Documentos relacionados

Um histórico mais detalhado pode ser obtido no Primeiro Inventário Nacional de Emissões Atmosféricas por Veículos Automotores Rodoviários, publicado em Janeiro de 2011

Com a estabilidade econômica alcançada em todo o país ao longo dos anos 2000, o Ceará diminuiu as entradas e permaneceu arrefecendo as saídas, surgindo a seguinte conclusão: quando

Para as polpas produzidas foram avaliados o aumento de produção, a carga alcalina para cozimento, o teor de sólidos do licor negro, o custo do branqueamento, a viscosidade das

São considerados na tabela, somente os entrevistados que fazem parte da PIA (População entre 10 e 65 anos de idade), podendo-se afirmar que do total de 3.574 entrevistados,

As pesquisas LIESPPDeficiência (Fase I – 2004) e LIESPDeficiência (Fase II – 2008) foram propostas ao CEPES pelo Conselho Municipal da Pessoa Portadora de Deficiência

Compreender os direitos das crianças e jovens do mundo, percebendo de que maneira os mesmos estão sendo respeitados e de que forma eles atuam ativamente

atenção básica. - BRASIL: Ministério da Saúde. Departamento de Atenção Básica. Revista Brasileira de Saúde da Família. - BRASIL: Ministério da Saúde. Departamento de

As admissões e as aberturas de evacuação de ar devem estar dimensionadas no seu conjunto para o mesmo caudal total, determinado de acordo com a secção 6.2. As passagens de