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BULLYNG NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: A HOMOSSEXUALIDADE EM FOCO

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Academic year: 2021

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BULLYNG NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA:

A HOMOSSEXUALIDADE EM FOCO

Ana Patrícia da Silva1 José Guilherme de Oliveira Freitas 2 Michele Pereira de Souza da Fonseca3

Que espécie de valores sociais interiorizará uma criança que é sistematicamente alvo do gozo dos companheiros sem a interferência dos adultos? E, do mesmo modo que espécie de valores adquirirá a criança que maltrata os companheiros sem a advertência e a repreensão dos adultos. Dan Olweus, 1994.

INTRODUÇÃO

Este artigo tem como objetivo discutir as questões de bullying no âmbito da escola, em especial nas aulas de Educação Física e mais particularmente o bullying sofrido por alunos homossexuais ou que apresentem qualquer indício de homossexualidade.

Para fins de melhor compreensão das discussões aqui propostas, este artigo foi organizado em duas seções distintas.

A primeira trata da conceituação do Bullying, bem como dos sérios problemas advindos desta prática discriminatória, desta violência e a segunda trata do reconhecimento do Bullying (como vítima ou agente da violência), ambas associadas aos dados coletados na pesquisa através de um questionário. Faremos uma discussão entre os dados coletados e o reconhecimento dos agentes da pesquisa no contexto do Bullying escolar especificamente nas aulas de Educação Física.

1

Doutoranda em Educação – UFRJ. Mestre em Educação – UFRJ. Licenciada em Educação Física. Pesquisadora do Laboratório de Pesquisa, Estudos e Apoio à Participação e à Diversidade em Educação – LaPEADE. E-mail:

uaisoperala@ig.com.br

2

Doutorando em Educação – UFRJ. Mestre em Educação – UFRJ. Licenciado em Física. Pesquisador do Laboratório de Pesquisa, Estudos e Apoio à Participação e à Diversidade em Educação – LaPEADE. E-mail:

jguilherm@uol.com.br

3

Mestre em Educação - UFRJ. Licenciada em Educação Física – UFRJ. Pesquisadora do Laboratório de Pesquisa, Estudos e Apoio à Participação e à Diversidade em Educação – LaPEADE.

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Escolhemos as aulas de Educação Física porque consideramos que a sala de aula do professor de Educação Física funciona como uma vitrine, uma vez que não tem a falsa proteção das paredes da sala de aula tradicional. Nesse espaço de cultura corporal do movimento também existe contato físico e os alunos ficam mais próximos, se sentem mais a vontade e muitas vezes se esquecem que estão dentro do espaço físico da escola.

Trata-se de uma pesquisa exploratória, que teve como objeto de estudo 34 estudantes do 1° e 3° ano do Ensino Médio de uma escola da Rede Estadual do Rio de Janeiro que responderam a um questionário fechado. O anonimato dos respondentes foi garantido e a análise interpretativa dos dados caracterizou a pesquisa como qualitativa, pois, [...] trabalhar qualitativamente implica, necessariamente, por definição, em entender/ interpretar os sentidos e as significações que uma pessoa dá aos fenômenos em foco (TURATO, 2003, p. 168).

Nesse sentido Denzin e Lincon (2006, p.34) complementam que toda pesquisa é interpretativa; é guiada por um conjunto de crenças e de sentimentos em relação ao mundo e ao modo como este deveria ser compreendido e estudado.

VOCÊ SABE O QUE É BULLYING?

Perguntamos aos respondentes da pesquisa a seguinte questão: Você sabe o que é bullying? Dos 34 alunos respondentes, 26 alunos (76%) responderam que não, 05 alunos (15%) responderam que sim e 03 alunos (09%) não responderam a questão. As respostas supracitadas não chegam a nos assustar, principalmente pelo fato do termo bullying não ser um termo comum na nossa cultura. Se ao invés de bullying tivéssemos perguntado se eles já tinham sofrido algum tipo de violência dentro da instituição escolar acreditamos que poderíamos ter outras respostas.

O termo BULLYING4 compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder. Portanto, os atos repetidos entre iguais (estudantes) e o desequilíbrio de poder são as características essenciais, que tornam possível a intimidação da vítima.

Figueira (2002) em sua dissertação de mestrado intitulada “BULLYING – O Problema de Abuso de Poder e Vitimação de Alunos em Escolas Públicas do Rio de Janeiro” aponta em seu estado da arte que o bullying tem se tornado recentemente foco de pesquisas psicológicas

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(OLWEUS, 1991,1993; PEPLER & CRAIG, 1995; STEPHENSON & SMITH, 1989; TATTUM, 1989 ). E, que estes estudos indicam que uma grande proporção de crianças estão envolvidos em atos agressivos na escola (BESAG, 1989; OLWEUS, 199 1,1993; PERRY, KUSSEL & PERRY, 1988 ). Estima-se que em torno de 7% a 34% de crianças em idade escolar estão envolvidas, de alguma forma, em atos agressivos na escola; e em todos, ambas as capacidades de agressor e vítima são potencialmente verificados (BESAG, 1989. OLWEUS, 1987; PERRY ET AL, STEPHENSON & SMITH.,ZIEGLER& PEPLER, 1989).

Nas palavras de Figueira (2002) diversos são os fatores que contribuem para o desenvolvimento do comportamento agressivo, a saber: (a) características individuais do agressor e da vítima; (b) associação do processo entre o próprio agressor e a vitima; (c) a presença de pares; (d) o contexto em que o comportamento do agressor se desenvolve. (CAIRNS & CAIRNS; COIE & JACOBS, 1993).

O nosso trabalho se apóia nessas diversas pesquisas, que definem o bullying como sendo uma forma de comportamento agressivo com um desnível de poder entre o agressor e a vítima, em que sujeito(s) dominante(s) intencionalmente e repetidamente causam sofrimento por tormentos verbais e físicos em seus alvos, com a intenção de magoar ou provocar desconforto, especificamente àqueles que têm características de homossexualidade, na escola em geral, e especificamente nas aulas de Educação Física.

Este comportamento agressivo pode ser expresso fisicamente (batendo, empurrando, etc.) ou verbalmente (xingando); pode ainda ser de maneira direta ou indireta. Para Figueira (2002) a agressividade direta refere-se ao ataque direto a vitima — batendo, punindo, provocando, zombando, maltratando e intimidando (FARRINGTON, 1993, OLWEUS, 1991). A agressividade indireta refere-se ao isolamento social, exclusão, mexericos, fofocas (OLWEUS, 1991, 1993, ROLAND, 1989).

Por não existir uma palavra na língua portuguesa capaz de expressar todas as situações de bullying possíveis, relacionamos algumas ações que podem estar presentes: colocar apelidos, ofender, zoar, encarnar, humilhar, fazer sofrer, discriminar, excluir, isolar, ignorar, intimidar, perseguir, assediar, aterrorizar, amedrontar, tiranizar, dominar, agredir, bater, chutar, empurrar, ferir, roubar, quebrar pertences.

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Quando perguntamos aos respondentes se eles já sofreram bullying, 19 alunos (56%) responderam que sim e 15 alunos (44%) responderam que não.

Lamentavelmente, as práticas de intimidação (Bullying) ainda são realidade nas escolas. Em virtude disto, é necessário que algumas atitudes sejam tomadas para que estas práticas diminuam e deixem de existir.

Neste sentido, questionamentos que nos possibilitem algumas reflexões, são de fundamental importância. Um destes questionamentos é se existe uma visão compartilhada entre os membros da escola, pais/responsáveis, gestores e alunos, sobre o que são práticas de intimidação.

A partir deste questionamento podemos admitir que o estar consciente de um fato é de primordial importância, pois alguns fatos discriminatórios são tão banalizados que se inserem na normalidade do cotidiano. Aquele velho hábito de caçoar deste(a) ou daquele(a) aluno(a) por vários dias, meses e anos seguidos já pode ter virado uma coisa banal, uma rotina, e o pior, ser aceito com naturalidade por todos em volta. Por isso, o esclarecimento do que vem a ser o bullying e suas conseqüências devem ser divulgadas e, sua prática combatida, principalmente nas escolas.

Levando em consideração este fato supracitado as intimidações poderiam ser vistas como um aspecto que potencialmente acompanha as relações de poder e estão ligadas à violência verbal, emocional e também física.

Será que a ameaça de perda de uma amizade e os comentários e comportamentos racistas, machistas, contra homossexuais e deficientes também seriam vistos como aspectos de intimidação? Quando estes comentários acontecem entre os membros da escola entre si, entre eles e alunos, entre eles e os pais/responsáveis, e entre os alunos, qual seria a atitude adequada a ser tomada? Se houver práticas de intimidação neste sentido, existiriam políticas claras sobre práticas de intimidação que delineassem em detalhes os comportamentos aceitáveis e inaceitáveis na escola e a linguagem destas políticas seriam compreendidas pelos membros da escola, por estudantes e pais/responsáveis?

A preocupação sobre este assunto se estende de tal forma que poderíamos questionar se existem na escola pessoas disponíveis, com quem meninos e meninas possam discutir problemas de intimidação e sentirem-se apoiados e se estes alunos sabem a quem recorrer em caso de experimentarem assédio.

Outra questão é se a escola, exercendo o seu papel educativo, promove estratégias para prevenir e minimizar as práticas de intimidação e mantém registros claros sobre incidências de

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Qualquer mudança na escola e no espaço da educação física, deve ser feita tendo em conta as opiniões, os sonhos e as necessidades dos alunos. As formas de bullying devem ser bem detectadas e combatidas explicitamente com cautela e habilidades necessárias, mostrando a todos que o problema da violência não pode ser valorizado e que a sua difusão causa problemas a todos sem exceção.

Segundo (FIGUEIRA, 2002),

Desenvolver a democracia na escola através das distribuições de responsabilidades nas tarefas de cada um, compreendendo que a verdadeira democracia não se faz pela igualdade de poderes e sim pelo equilíbrio de poderes é um bom começo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todos devem ser responsáveis e culpados pelos problemas de maus tratos na escola. Portanto, todos devem estar envolvidos na sua redução. No âmbito escolar, especificamente nas aulas de Educação Física, em que os corpos ficam mais em evidência, vários são aqueles alvos do bullying, a saber: os alunos que se destacam pela altura ou pela baixa estatura, os que têm orelhas de abano, os que usam óculos, os gordos, os muito magros, o negro, o menino mais delicado, dentre outros.

Queremos evidenciar, no entanto, que quando se trata do aluno homossexual, muitas ações discriminatórias são aplicadas a eles, que na maioria das vezes se retraem, sofrem e até abandonam a escola. Neste caso, a exclusão é explícita tendo em vista, segundo Jodelet (2006), a exclusão tende a induzir sempre uma organização específica de relações interpessoais ou intergrupos, de alguma forma material ou simbólica. O que acontece no bullying no ambiente escolar é que os praticantes, que na maioria das vezes não sofrem nenhum tipo de represália, continuam a fazê-lo e as testemunhas com medo destes, permanecem em silêncio, aumentando o seu poder.

Segundo o Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes, desenvolvido pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (ABRAPIA) 5, quando não há intervenções efetivas contra o bullying, o ambiente escolar torna-se totalmente contaminado. Todas as crianças, sem exceção, são afetadas negativamente, passando a experimentar sentimentos de ansiedade e medo. Alguns alunos, que testemunham as situações de bullying quando percebem que o comportamento agressivo não traz nenhuma conseqüência a quem

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o pratica, poderão achar por bem adotá-lo, nesse sentido faz-se necessário a interferência do professor e conseqüentemente sua formação em serviço.

REFERENCIAS

ABRAPIA. Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência.

Disponível em: http://www.abrapia.org.br/homepage/portugues/portugues.htm Acesso em: 10 de julho de 2009.

DENZIN, Norman; LINCON, Yvonna. O Planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens. Porto Alegre. Artmed. 2006.

FIGUEIRA, Silva Israel. BULLYING – O Problema de Abuso de Poder e Vitimação de Alunos

em Escolas Públicas do Rio de Janeiro. Dissertação de mestrado. Universidade Técnica de

Lisboa, mestrado em desenvolvimento da criança. 2002.

TURATO, Egberto Ribeiro. Tratado da metodologia da pesquisa clinico - qualitativa:

construção teórico metodológica, discussão comparada e aplicação nas áreas da saúde e humanas. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2003.

Referências

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