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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ DANIEL JACOB NODARI

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Academic year: 2021

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DANIEL JACOB NODARI

GUERRA E PAZ: A PREOCUPAÇÃO DO INTELECTUAL ANDRÉS BELLO COM OS

NOVOS PAÍSES DA AMÉRICA NO INÍCIO DO SÉCULO XIX

CURITIBA 2008

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GUERRA E PAZ: A PREOCUPAÇÃO DO INTELECTUAL ANDRÉS BELLO COM OS

NOVOS PAÍSES DA AMÉRICA NO INÍCIO DO SÉCULO XIX

Monografia apresentada ao Departamento de História do Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná, como requisito para a obtenção do grau de Licenciada e Bacharel em História.

Orientadora: Prof. Drº. Carlos Alberto Medeiros Lima

CURITIBA Novembro/2008.

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Gostaria de agradecer primeiramente a minha família que sempre esteve ao meu lado e me apoiou em todos sentidos. Minha mãe, meu pai e meu irmão. Além disso minha avó Zelinda e minha tia Sandra por sempre me paparicarem.

Também queria agradecer aos meus amigos, começando pelos de Cascavel, Fabiano, Ronaldo, Rodrigo, Marcos, Taborda, Dayane, entre outros, pois foram fundamentais para minha formação como pessoa. Aos amigos de Quedas também, Danielle, Kengo, Boligon, Claudia.

Obviamente aos muitos amigos que fiz em Curitiba, e que possibilitaram a minha melhor estadia nessa cidade. Principalmente Orlando e Fabiano por compartilhar idéias muitos semelhantes e uma pequena paixão pela América Latina. Ao Gladisson, Karina, Fernanda, Danielle, Carol, Juliano, Thays, Rafaela, e todos aqueles que me ajudaram e que me alegraram.

Gostaria de agradecer a todos os meus professores por suas aulas, por suas conversas e por todo o conhecimento que me possibilitaram durante esses quatro anos. Especialmente gostaria de agradecer duas pessoas que foram fundamentais durante esta minha vida na Universidade. Ao professor Lima e a Day. O primerio por todo o conhecimento, paciência, e amizade. A segunda por me agüentar, e me ajudar em horas difíceis e me fazer feliz quando mais precisava.

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Este trabalho monográfico tem como objeto de analise o intelectual venezuelano Andrés Bello, mais especificamente sua obra Principios de Derecho Internacional. Este intelectual esta inserido no contexto das independências da América Hispanica, e no momento posterior, onde o continente americano vive um momento de instabilidade política causada pela disputa entre os grupos políticos, e pela tentativa de consolidação dos novos Estados. Neste sentido este trabalho tem como objetivo entender a percepção de Bello a respeito da construção dos estados através de seu livro. Para tanto partimos das idéias apresentadas por José Carlos Chiaramonte a respeito da construção das nações na América. Desta forma percebemos que a obra de Bello se propõem a legitimar as novas nações que estão surgindo na América no inicio do século XIX. Essa idéia fica mais evidente na primeira parte da obra. Já a segunda parte onde o autor escreve sobre a guerra, temos alguns indícios de sua discordância com as idéias homogêneas que existiam na Europa nesse período, principalmente em relação a Thomas Hobbes. Desta forma surgiram alguns questionamentos a partir da segunda parte, principalmente quando entendemos o intelectual Andrés Bello a partir da idéia de conservadorismo de Karl Mannheim.

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INTRODUÇÃO………....………...……….………..……….…06

1. O Homem 1.1 A Vida de Andrés Bello...10

1.2 Contexto onde Andrés Bello está inserido...16

1.3 Idéias a Respeito do Pensamento de Andrés Bello...20

2.

A paz e a Nação 2.1 Princípios de Direito de Internacional...23

2.2 O que é nação?...24

2.3 Nação na América Latina...27

2.4 O Estado de Paz...31

3. A Guerra e o Conservadorismo 3.1 Guerra na América Latina...37

3.2 A Guerra e suas interpretações...40

3.3 A Guerra para Andrés Bello...44

3.4 Conservadorismo...47

CONCLUSÃO...51

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho, como a maioria dos estudos dos historiadores, acredito eu, partiu de um questionamento pessoal, o meu a respeito da América Latina. A América Latina que parece algo tão próximo, e geograficamente isso é uma verdade, podemos pegar um ônibus em Curitiba, e entre 40 e 50 horas podemos estar a 4 mil metros do nível do mar, na cidade de La Paz, uma das capitais da Bolívia, a outra é Sucre.

Contudo, isso parece ser algo inimaginável para a imensa maioria dos brasileiros, a América Latina parece se reduzir a alguns casos, o futebol da Argentina, as muambas do Paraguai, nos últimos tempos ao “Ditador” Hugo Chaves, e ao louco Evo Morales. Tudo parece tão perto, porém esta muito longe.

Nosso imaginário sobre a América é restrito, conhecemos Che Guevara, porém todo o mundo conhece Che Guevara. Não sabemos quem é Simon Bolívar, San Martí, Diego Rivera, acho que isso já seria demais. Não sabemos quem são os bolivianos, ou como são os chilenos, ou mesmo os paraguaios.

A América se apresentou para mim ao mesmo tempo em que para o Brasil, a alguns anos, mais exatamente quando Hugo Chávez tomou posse do governo da Venezuela. Incrível, a Venezuela era para mim, até o momento, o pior time da Copa América, contudo aquela eleição mexeu com isso, pois a mídia passou a dar uma ênfase mais que o normal a esse país que fica ao norte do Brasil.

Quando Evo Morales ganhou, também foi um baque. Um índio na presidência? Como um índio podia tornar-se presidente? Tudo isso me fazia perguntar o que existe por traz desses noticiários, o que os jornalistas não mostravam, o que é esse negócio chamado América Latina? Quem são essas pessoas? O quanto são parecidos conosco? Será que são apenas pessoas calientes devido ao sangue Latino? Ou será que isso é apenas uma idéia construída sobre eles?

Diversas questões se passaram na minha cabeça, os questionamentos sobre esse mundo aumentavam a cada dia. Fazer o curso de história não surgiu da idéia de estudar a América, pelo contrario. Decidi fazer história por outros motivos, obviamente todos utópicos na época, entre eles entender o mundo.

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Contudo, uma coisa se ligou a outra, estudar história e entender a América, parecia ser uma idéia perfeita, alias, não parecia, foi uma idéia perfeita. Entretanto essa idéia foi se alterando no decorrer da faculdade. Estudar a América atual parecia ser o mais normal, uma coisa palpável que estava acontecendo, que eu lia todo o dia no jornal, a qual eu estava familiarizado, mesmo que de forma superficial.

Para contribuir com esse sonho me deparo com pessoas, colegas, que se tornaram grandes amigos, e que partilhavam das mesmas preocupações, o que obviamente me fez se interessar mais ainda pelo tema. O inicio do estudo, do entendimento, a respeito da América me fez perceber que faltava algo, uma coisa importante que eu não sabia, mas compreendia que deveria saber.

Esse questionamento me levou a retroceder, no sentido temporal, sai do século XX, para entrar no mundo do século XIX, possivelmente o período da humanidade em que aconteceu. E já de inicio descobri o que me faltava, se eu queria entender os países da América, enfim, a América de uma forma geral, fui ao tempo certo. O século XIX se mostrou o grande ponto de partida para entender esse maravilhoso continente, que agora parecia estar muito mais próximo para mim.

Para tanto, entender todo esse grande continente é impossível, assim o ponto de partida para esse estudo foi um intelectual caraquenho nascido no final do século XVIII Andrés Bello. A partir dele procurarei entender algumas questões importantes no que diz respeito a América.

Desta forma meu trabalho se dividirá em três capítulos. No primeiro, o objetivo é fazer uma reconstituição da vida desse intelectual, passando por sua formação na Venezuela, onde já demonstra um grande apego ao conhecimento, depois, por sua longa estadia na Inglaterra, país onde teve grandes dificuldades, e por fim pelo Chile, país ao qual passou a maior parte de sua vida e no qual faleceu.

Além disso, o Chile é tido como o grande responsável pelo intelectual que Bello se tornou. Foi neste país que escreveu e publicou suas maiores obras, além de ter sido uma grande influência e ter participado ativamente da política.

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Toda essa primeira parte, é baseada nas obras de dois de seus biógrafos, Iván Jaksic e Rafael Caldera. O primerio escreveu seu livro no final do século XX, enquanto o segundo publicou seu estudo de Bello na década de 1930.

Contudo, entender um intelectual e sua produção só é possível a luz dos acontecimentos que o cercam. Esse é tema da segunda parte do primerio capítulo. Onde procuraremos demonstrar qual o contexto em que Bello vivia, e de que forma isso influenciou em seus escritos e em sua vida.

Esse contexto é marcado pela independência da América e pela constituição dos novos Estados. É um momento muito turbulento e problemático para os novos países. Por fim o primerio capítulo é encerrado com uma breve discussão a respeito do pensamento de Andrés Bello.

O segundo capítulo, se concentra num primeiro momento em fazer uma discussão a respeito da obra de Bello que vamos analisar, Principios de Derecho

Internacional, para depois entrarmos em uma discussão teórica a respeito do

conceito de nação.

Rapidamente vamos falar sobre a historiografia desse tema e depois entender o pensamento de um historiador sobre o conceito de nação. O historiador escolhido, entre os diversos que falam sobre esse tema, foi Eric Hobsbawm. Contudo não vamos nos deter muito nas idéias dele, o objetivo aqui é apenas iniciar o debate.

A parte importante é a discussão que o historiador argentino José Carlos Chiaramonte faz a respeito desse conceito na América, de que forma podemos entender a nação na América Latina. Seus estudos sobre esse tema são inovadores, e é a partir deles que vamos nos basear para analisar a obra de Andrés Bello.

Desta forma, ainda no segundo capítulo iniciamos a análise de Principios

de Derecho Internacional. Primeiramente vamos analisar alguns conceitos

existente nessa obra. Principalmente, nação, estado, soberania, independência, entre outros. Assim procuraremos entender, a partir do contexto e das idéias de

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Chiaramonte qual é o objetivo de Bello com esse livro, e de que forma ele trabalha esses conceitos.

O terceiro e último capítulo desse trabalho monográfico é uma interpretação da segunda parte da obra de Bello, intitulada “Estado de Guerra”. Nesse capítulo o objetivo é compreender de que forma o autor entende esse tema, e a partir disso buscar perceber o objetivo dele em falar sobre isso. Também buscaremos contrapor sua idéia sobre esse assunto com outros pensadores, e desta forma tentar perceber se sua concepção de guerra nos possibilita uma abordagem mais ampla a respeito de outros assuntos.

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1. O HOMEM

1.1. A Vida de Andrés Bello.

Andrés Bello nasceu em Caracas, na Venezuela, em 29 de novembro de 1781. Seu pai era advogado, e segundo Rafael Caldeira, sua família não era abastada, mas, boa cultura e intensa vontade espiritual1. Sua primeira educação foi com um religioso, onde teve a possibilidade de se dedicar ao estudo de clássicos castelhanos, entre eles Miguel de Cervantes, também, nessa época, teve aulas de latim.

Nesse primeiro momento da vida de Bello, Caracas e a região onde hoje é a Venezuela, estava, conforme seu biógrafo Iván Jaksic, vivendo um momento de muita prosperidade, devido a diversas medidas tomadas pela Coroa Espanhola2. Dessa

forma, imperava, no primeiro momento da vida de Bello, uma estabilidade política, econômica e social, o que Jacksic aponta como fundamental, pois esse fato teria influenciado Bello na busca por uma estabilidade política, em seus escritos posteriormente.

Cursou a universidade de Caracas onde se formou em Direito e Filosofia. Já nessa época traduziu um livro de Voltaire. Durante sua vida universitária teve contato com muitos autores franceses e também escoceses, leu pensadores como Descartes, Leibniz, Berkeley, Locke e Condillac, os quais, eram os mais estudados na universidade de Caracas no final do século XVIII3.

Além da Universidade, Bello mantinha uma relação com diversas pessoas importantes da cidade de Caracas e também com os intelectuais da região. Fazia parte de um salão literário que existia nesta cidade, o qual funcionava na casa da família Ustariz, família importante e tradicional da região. Neste salão, participavam pessoas ilustres, como Simon Bolívar, entre outras, os quais Bello mantinha uma relação de amizade.

1 CALDERA, Rafael. Andrés Bello. Caracas : Instituto Nacional de Cultura y Bellas Artes, 1965. pág 19. 2 JAKSIC, Iván. Andrés Bello: Lá pasión por el orden. Santiago : Editorial Universitaria, 2001. p. 30 3 Ibid, p. 34

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Contudo, Bello obteve um grande aprendizado, segundo seus biógrafos, na relação que desenvolveu com o importante naturalista e explorador alemão, Alexander Von Humboldt, o qual promoveu uma expedição pela América entre os anos de 1799 e 1804. Bello manteve contato com Humboldt quando este passou por Caracas, todavia, essa relação foi além das conversas. Bello participou de alguns estudos feitos por Humboldt na região de Caracas. Esta breve convivência com o naturalista alemão, segundo alguns estudiosos, gerou uma grande influencia em Bello, principalmente na sua literatura.

Bello ministrava aulas particulares com o objetivo de ganhar alguma renda, entre seus alunos estava Simon Bolívar. Porém seu primeiro emprego significativo foi um cargo administrativo no governo Colonial, era um funcionário da Coroa Espanhola. Além disso, com a invasão de Napoleão à Espanha, criou-se em Caracas a Gazeta de

Caracas, jornal que tinha como intuito transmitir informações a respeito dos

acontecimentos que estavam ocorrendo na Espanha. Com isso Bello foi nomeado redator do jornal, pois já era visto com bons olhos pelo governo e por todos da cidade de Caracas, pelo fato de se dedicar muito aos estudos e ser muito chegado às letras4.

Andrés Bello, desde seu primeiro emprego sempre esteve ligado ao governo, neste primeiro momento à Coroa Espanhola, trabalhava na Secretaria do capitão Geral, depois se tornou Comissário de Guerra. Além de ser ligado ao governo, é importante observar que desde o início de sua carreira esteve relacionado com a área de relações exteriores.

Quando Napoleão invadiu a Espanha em 1808, iniciou-se um período turbulento na América Espanhola, o que desencadeou no ano de 1810 na formação de juntas de governo por parte dos criollos, numa tentativa de manter a ordem na América. Porém deve-se esclarecer que estas Juntas mantiveram-se, num primerio momento, fiéis ao rei Fernando VII5.

Na junta de governo formada em Caracas, Bello ocupou um cargo de destaque, que segundo Jaksic, ocorreu pelo fato deste ter enorme amizade com os criollos

4 JAKSIC, Iván, op. cit. p. 41

5 BUSHNELL, David. A independência da América do Sul Espanhola. In: BETHELL, Leslie (org.). História

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importantes desta cidade6, os quais foram responsáveis pela formação da junta. Ademais, Bello já era uma figura muito conhecida e respeitada na cidade de Caracas. Este cargo na junta de governo ofereceu a oportunidade de Bello viajar para a Inglaterra com intuito de manter relações com aquele governo. Sua viajem ocorreu ainda em 1810 e um dos seus dois companheiros de viajem era Simon Bolívar.

A viajem de Bello para a Inglaterra durou mais que o esperado, e não foi muito satisfatória para ele. Segundo seus biógrafos, a sua situação no país europeu foi difícil, não somente por estar longe de sua terra, mais também por ter passado muitas dificuldades devido à falta de recursos.

O Entretanto com o governo venezuelano no início era difícil, e com a tentativa de retomada da Venezuela pelo governo Espanhol ficou pior. Contudo, a partir da independência a situação não se modificou muito, e a vida de Bello na Inglaterra continuava complicada.

Todavia, nesse período Bello manteve contato com Miranda, o precursor da luta pela independência da Venezuela, este ofereceu hospedagem para Bello em sua casa por um tempo. Mas o principal contato de Bello na Inglaterra, como afirma Jaksic foi um espanhol chamado José Maria Blanco y Crespo, o qual trocou diversas cartas com Bello, as quais mostraram as dificuldades deste no país estrangeiro7. Joseph Blanco

Whithe como era conhecido este seu amigo, participava de um círculo liberal o qual era a favor das independências das colônias da América Espanhola, além de ter uma ligação com o governo inglês.

Nos momentos de dificuldades Bello chegou a pedir para o governo argentino uma passagem para o país platino. Porém antes disto, seu amigo Blanco White conseguiu uma ajuda financeira do governo britânico a Bello. Além disso, o venezuelano conseguiu diversos empregos temporários, como professor de espanhol, tradutor de livros, entre outras atribuições.

Em 1821 iniciou contato com Antonio Jose de Irisarri, um representante do governo Chileno, o qual convidou Bello para participar de uma revista publicada em

6 JAKSIC, Iván, op. cit. p. 47 7 Ibid, p. 65

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Londres, que era editada em castelhano8. Além do mais, Bello foi convidado para trabalhar para a delegação chilena na capital britânica.

Jaksic assevera que no momento em que Bello viajou para a Inglaterra seu pensamento era de que estava em missão representando uma Junta a qual era fiel a Fernando VII. Porém com a restauração do poder pelo Rei de Espanha e a repreensão deste aos Criollos, além de sua convivência de com pessoas que apoiavam a liberdade das colônias Espanholas, Bello aceitara que não havia outra possibilidade para América senão as independências9.

Além disso, o convívio com Miranda também teria influenciado essa mudança de opinião do nosso intelectual, como também a convivência com James Mill, pai do John Stuart Mill, o qual era a favor das independências10.

Contudo, se Bello já entendia as independências como uma certeza, ainda, segundo algumas cartas trocadas com amigos, acreditava que a monarquia constitucional era a única forma de governo possível para a América Espanhola. Pois, nesse momento era o único meio de manter uma ordem, segundo Jaksic11.

Entretanto, com o passar do tempo, e o fato dos ingleses apoiarem qualquer forma de governo nos novos países americanos, além dos acontecimentos na América, levaram Bello a mudar de idéia e se dedicar a estudar meios para implantar uma república12.

Nesse período em que viveu na Inglaterra Bello, continuou seus estudos, entre os diversos que desenvolveu, o mais importante foi sobre o poema espanhol El Cid, o qual Bello dedicou vários anos. Para Jaksic, esse estudo era fundamental para Bello, pois em suas palavras “Una manera concreta em que la unidad linguistica ayudaria a la

8 Ibid, p. 70 9 Ibid, p. 72 10 Ibid, p. 73 11 Ibid, p. 74 12 Ibid, p. 76

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consolidacion de la nacion era o acceso que ella permitiria a las mejores tradiciones legales, como se encontraba heroicamente ejemplificado em el Cantar de Mio Cid”13

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No país europeu, Bello entrou em contato e conviveu com diversos hispano-americanos, de diversas regiões, mas, foi o chileno Antonio Jose de Irisarri, que tornou-se tornou-seu grande amigo. Este, além de convidar Bello para trabalhar na delegação chilena, convidou o caraquenho para trabalhar no Chile, pois sabia do potencial de Bello e de sua experiência, além do fato dele estar passando por dificuldades na Inglaterra. Assim através de Irisarri, Andrés Bello no ano de 1829 desembarcou no Chile.

Sua chegada ao Chile foi muito comentada na época, alguns jornais desconfiavam de Bello por ser venezuelano. Entretanto, logo no início, Bello conseguiu criar um grande número de relações, com diversas pessoas de diferentes correntes políticas.14 Sua chegada ocorreu em um momento crucial na história do Chile, em 1829 estava acontecendo uma disputa entre os liberais, que estavam no poder, e os conservadores, os quais conseguem derrubar os liberais, e proclamar Portales presidente.

Segundo Jaksic, apesar de Bello ter sido contratado por um governo liberal, este continuou seu trabalho durante o governo de Portales, ainda mais pelo fato de este ter uma grande admiração por Bello15. Se antes, Bello já havia escrito obras importantes,

foi no Chile que produziu seus escritos mais relevantes.

Já em 1832 escreveu, Principios de Derecho de Gentes, que depois sofreu algumas revisões e passou a se chamar Principios de Derecho Internacional, além disso ajudou a produzir a constituição de 1833, também escreveu o Código Civil chileno. No mais, escreveu obras importantes sobre a língua castelhana, como,

Gramática Castellana, um livro de filosofia, denominado Filosofía Del Entendimento. No

campo da literatura foi publicada sua obra, História de La Literatura.

Sua obra se estendeu por diversos ramos, direito, literatura, lingüística, entre outras temáticas, além do mais, escreveu muito em jornais, onde encontram-se suas

13 Ibid, p. 84 14 Ibid, p. 130 15 Ibid, p. 132

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impressões sobre a política e diversos assuntos. Mas, o feito que marcou sua passagem pelo Chile, foi à fundação da Universidade do Chile, a qual tornou-se o primeiro reitor. Seus escritos sobre educação também foram vastos. Tinha uma enorme preocupação com este tema, o qual acreditava ser essencial para os novos países.16

No Chile trabalhou desde o início no governo, primeiro como Funcionário superior no Ministério das relações Exteriores, também foi Senador, e conselheiro do governo, era responsável por escrever mensagens presidenciais e diversos tipos de comunicados.17

A vida de Bello no Chile foi extremamente produtiva, e no mais, conseguiu grande respeito, não apenas das pessoas ligadas ao governo, mas também de vários setores da sociedade. Era muito respeitado e, segundo Caldera, no final de sua vida era considerado uma instituição18.

Sua vida se prolongou por 84 anos, faleceu em 1865. Andrés Bello, além de deixar diversos escritos, sobre os mais variados temas, também deixou vários discípulos, pessoas que foram seus alunos e que compartilhavam de suas idéias, dos quais muitos tornaram-se importantes na sociedade chilena.

Entender o pensamento de um intelectual só é possível a partir do contexto ao qual este está inserido, com Andrés Bello não é diferente. Ainda mais pelo fato de sua obra, segundo seus biógrafos, ser profundamente voltada para o contexto.

Em um primeiro momento de análise, percebe-se que Bello era um intelectual preocupado com o momento em que vivia e que buscava através da escrita, da análise e do estudo, não simplesmente entender o que estava ocorrendo, mas, mais do que isso, procurava interferir nesse contexto através da formulação de idéias que levavam a prática política, e que possibilitavam a modificação e a solução dos problemas que estavam ocorrendo.

Essa perspectiva torna-se importante pelo fato de Bello estar vivendo um contexto extremamente conturbado e ao mesmo tempo inovador. As mudanças que

16 JAKSIC, Iván. La República Del Orden: Simón Bolívar, Andrés Bello y Las Transformaciones del

Pensamiento Político de la Independencia. Historia (Santiago), ago. 2003, vol.36. p. 216

17CALDERA, Rafael, op.cit. 35

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ocorreram no período em que esse intelectual escreveu são de uma grandeza imensurável. Não somente o Chile esta vivia essas mudanças, tendo em vista que foi no Chile que Bello produziu seus escritos mais importantes, como também toda a América Hispânica. Todos os países passaram por um momento importante e totalmente novo no qual as incertezas eram enormes.

As incertezas que percorrem todo o continente eram a grande preocupação de Bello. Apesar de ter vivido no Chile e este país ser fundamental em sua carreira neste não é possível analisar seus escritos sem entender toda a América Hispânica daquele período.

1.2. O Contexto onde está inserido Andrés Bello

As independências na América Latina, que ocorreram no início do século XIX, não originaram os resultados esperados pelo grupo que liderou a guerra. Diversos problemas caracterizaram os primeiros anos dos novos estados independentes, dificuldades que foram causadas por diversos motivos.

Para Túlio Halperin Donghi a primeira explicação sobre o motivo de não surgir uma nova ordem no pós-independência seria devido à guerra, pois, o poder militar ainda era forte e causava instabilidade política19. De fato, ainda segundo Donghi, não era apenas este o problema, no entanto, fica claro que as guerras de independência não conseguiram suprir as expectativas que haviam no seu início, não causando um rompimento definitivo com o período colonial.

Contudo, Safford assinala que no momento após a independência, apesar de haver várias questões comuns aos novos estados, as situações eram diferentes entre as regiões que haviam se libertado da Espanha20. No México, a Igreja Católica saiu

19 DONGHI, Túlio Halperin. História da América Latina . Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975. p. 81

20 SAFFORD, Frank. Política, ideologia e sociedade na América espanhola do pós-independência. In:

BETHELL, Leslie (org.). História da América Latina: Da Independência a 1870, Vol 3. São Paulo: Edusp, 2004. p. 330

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fortalecida, o que gerou no momento posterior, uma enorme influência desta, na política daquela região.

Se diferenciando um pouco de Donghi, Safford coloca que houve locais onde manteve-se o caráter militar no período posterior as guerras que levaram a independência, e assim o exército passou a ter uma importância da nova política, porém, nem em todos os lugares ocorreu a sobrevivência do exército, o Chile, segundo Safford, se destacou pelo poder do governo civil21.

Assim sendo, percebe-se uma diferença entre as regiões que compõem no período posterior a liberdade. Contudo, apesar dessas diferenças uma coisa torna comum todas as regiões no período imediatamente posterior as guerras, a desordem e os problemas políticos.

Talvez o Brasil por sua singularidade e o não rompimento com o sistema político, após a independência manteve uma monarquia, tenha se diferenciado dos demais. Entretanto, é evidente que os novos países entraram em um período de dificuldade política.

Este contexto que ficou caracterizado pelos problemas políticos na América ocorreu devido à forte ligação com o período colonial22. As guerras de independência

não foram capazes de romper o vínculo com o passado, como era esperado, contudo, houve diversas tentativas de se diferenciar e de romper definitivamente com o período anterior.

Uma parte dos políticos dos novos países, os denominados liberais, acreditavam que para dissolver a relação que ainda havia com o passado colonial, era necessário formular novas constituições e implantar um estado republicano liberal inspirado na revolução francesa e nos Estados Unidos da América.

Num primeiro momento isso foi feito pelos liberais, segundo Frank Safford, as constituições proclamavam a igualdade de todos os cidadãos, com direitos iguais através do voto, além de uma divisão dos poderes, onde o executivo era o mais frágil23.

21 Ibid. p. 331

22 DONGHI, Túlio Halperin. Op.cit. p. 81 23 SAFFORD, Frank. Op.cit. p. 340

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Porém, essa tentativa de implantar uma república democrática logo após as independências, ocasionou diversos problemas aos novos estados que haviam surgido. As novas leis que previam a liberdade a igualdade de direitos não eram respeitadas, os diferentes grupos políticos de cada região manipulavam eleições e não cumpriam o que as constituições estabeleciam.

Os grupos de oposição sempre buscavam, mesmo por meios ilegais, retirar do poder os governantes. Diversos golpes de estado foram promovidos nesses primeiros anos, as constituições tornaram-se leis mortas24. Safford salienta que havia grande

dificuldade de implementar essas idéias européias na América espanhola, onde a cultura política era muito diferente da França, EUA ou mesmo da Inglaterra.

Essas disputa entre os grupos políticos – na maior parte da América Espanhola, haviam dois partidos políticos principais, os liberais e os conservadores, sendo que os primeiros eram os mais favoráveis a implantação de uma república aos moldes norte-americanos e franceses – causou muita instabilidade e desorganização.

Para Safford, havia uma incapacidade dos grupos políticos de restabelecer a legitimidade de poder que a coroa espanhola tivera, além disso, esses grupos políticos tinham como único objetivo determinar quem dominaria o Estado e conseqüentemente seus recursos25.

Para constar, além da questão política, havia também um problema econômico, o qual afetava a maioria dos novos estados, e que de diferentes maneiras contribuía para essa instabilidade política dos novos Estados.

Ainda segundo Safford, a política na America Espanhola pode ser compreendida de forma geral, como uma hegemonia liberal num primeiro momento, após isso uma reação e domínio dos conservadores, e por meados do século XIX um retorno dos liberais ao poder26.

24 Ibid. p. 332 25 Ibid. p. 369 26 Ibid. p. 336

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Apesar de a América Hispânica estar vivendo essa situação de instabilidade, havia um país que se diferenciava desse quadro político e econômico. Justamente, é para este país que Andres Bello vai após sua estadia na Inglaterra.

Desde a época posterior a independência o Chile já se diferenciava dos outros países da América hispânica, o que era evidente para o governo chileno e para a sociedade que enfatizava esse aspecto27. Enquanto a instabilidade permaneceu por um longo período nos demais países, já no início da década de 1830 o Chile começou a ter a política estabilizada.

Esta estabilidade tem diversas explicações, Simon Collier aponta para algumas delas. Primeiramente a existência de um território compacto, com uma população compacta e homogênea. A economia também favoreceu, diferentemente do outros países, o Chile já na década de 1820 iniciou um comércio internacional onde sua principal fonte de renda era os minérios. Apesar disso, sua economia era majoritariamente agrária, e a maior parte da população vivia no campo28.

Para além dessas questões econômicas, no Chile, como na maioria dos países independentes, o primeiro governo pós colonial foi liberal, e assim como outros adotou o modelo republicano. Contudo, o governo liberal de Ramon Freire foi rapidamente combatido pelos opositores, o que gerou na década de 1820 uma guerra civil.

Essa reação ao governo liberal acabou, por fim, instituindo um governo conservador, liderado por Diego Portales, que a partir da década de 1830 instalou um governo, que apesar de democrático e autoritário, criou, segundo Collier, um sistema político onde ocorreu uma fusão entre o autoritarismo colonial e o constitucionalismo do século XIX29. Aliás, a constituição criada no governo de Portales em 1833 talvez seja o

maior símbolo dessa estabilidade, pelo fato de ter sido utilizada por um longo período. Continuando a idéia exposta, o governo conservador chileno, utilizou de diversos mecanismos para manter essa estabilidade, além de ser bastante autoritário e de ser um governo extremamente presidencialista, concentrou o poder em Santiago.

27 COLLIER, Simon. O Chile da Independência à Guerra do Pacífico. In: BETHELL, Leslie (org.) História

da América Latina: Da Independência a 1870, Vol 3. São Paulo: Edusp, 2004. p. 591

28 Ibid. p. 603 29 Ibid. p. 595

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Além do mais, outra questão que permeia a história do Chile nesse período, é a guerra. Essa, segundo Collier, e também Mario Góngora, um dos grandes historiadores chilenos, teve um papel de destaque na construção do Estado e da nacionalidade chilena.

Góngora afirma que o Chile é uma terra de guerra, e coloca esse fator como um grande responsável para entender a estabilidade do governo de Portales, tendo em vista que além da guerra de independência e a interminável guerra contra os Araucanos a guerra do Chile contra a confederação peru-bolivina favoreceu enormemente a estabilidade política no governo de Portales30.

A partir desses acontecimentos e dessa análise, é flagrante a importância que o Chile representa para a obra de Andrés Bello. Como aponta Caldera, no Chile, Bello encontrou um campo fecundo para a sua produção31. Jaksic também reitera essa idéia, e destaca o Chile como fundamental para entender Bello, além disso, a estabilidade existente no Chile favoreceu a sua produção intelectual.

1.3. Idéias sobre o pensamento de Andrés Bello

Apesar de Bello ter vivido por quase vinte anos na Inglaterra, a maior parte de sua vida ele esteve na América, e foi sobre este continente que escreveu muitos de suas obras, além de que, a América foi uma das grandes preocupações desse intelectual. Seu pensamento foi importante não apenas para o Chile, onde produziu a maioria de suas obras, mas também para parte do continente americano.

Bello inseria-se num cenário onde diversos intelectuais pensavam a respeito dos acontecimentos que ocorriam na América, e esse conjunto de intelectuais e políticos, que preocupavam-se com os novos rumos que a América estava tomando, formaram um pensamento próprio desse período e muito especifico.

30 GONGORA, Mario. Ensayo Histórico sobre la noción de estado em Chile em los siglos XIX y XX.

Santiago: Editorial Universitária, 1986. p. 71

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Donghi aponta para o fato de no século XIX já existir uma produção de idéias específica na América Latina, produção essa que começou no início do século, a partir das independências dos países americanos perante as metrópoles.

Isso não ocorreu anteriormente por que durante o período colonial havia diversos obstáculos que impossibilitavam a formação de um pensamento próprio32. A produção de um pensamento específico se acentuou com a necessidade de formação e estabilização das novas nações que estavam surgindo.

Para compreender a produção do pensamento latino americano Halperin demonstra que a especificidade das idéias hispano-americanas é fruto de uma ideologia buscada no ultramar, contudo, devido às diversas modificações que ocorreram no continente americano no período pós-independência, e as grandes diferenças entre os dois contextos, o europeu e o americano, essas ideologias foram modificadas, sempre buscando abarcar as novas situações nas quais a América Latina se encontrava.

Um exemplo utilizado por Halperin para evidenciar essa situação de modificação na ideologia que vem do ultramar é o embate entre liberais e os conservadores, nos anos pós-independência. Os primeiros, logo após a vitória, buscaram implantar um sistema político liberal igual ao francês, o que gerou diversas complicações e uma reação por parte dos conservadores, os quais tomaram o poder em diversos países33, contudo, somente no Chile, por diversos motivos, ocorreu uma estabilização política a partir do governo de Portales, como já foi exposto.

A acelerada reação dos conservadores contra os liberais ocorreu devido às rápidas e drásticas modificações políticas aplicadas pelos últimos. Segundo Halperin, os conservadores viam nessa maneira de modificar a política um problema e não uma solução para os novos países que estavam nascendo, pois a situação não era propícia para mudanças drásticas.

Para ilustrar essa questão, Halperin utiliza o exemplo de Bolívar, que logo no início da independência tinha um discurso bastante liberal, mas devido aos diversos

32 DONGHI, Túlio Halperin En busca de la especificidad del pensamiento político hispanoamericano, In:

Estudios Interdisciplinarios de América Latina y el Caribe, Tel-Aviv, vol. 8, n° 1, 1997. p. 31

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problemas que encontrou ao aplicar suas idéias, percebeu que elas não eram apropriadas para aquela situação, desta maneira, enxergava numa política autoritária a solução para situação a qual se encontrava.

Portanto, Halperin conclui que as ideologias vindas do ultramar juntamente com a realidade local da América levam os intelectuais latino-americanos a formularem idéias que não são totalmente novas, por serem importadas, porém, não são simplesmente uma copia que é aplicada a uma determinada realidade. Essas novas idéias têm como objetivo serem adequadas à situação local34.

Nesta análise de Donghi, ele incluiu entre os diversos intelectuais da época Andrés Bello, e afirma que o pensamento deste confirma sua análise. Desta forma, podemos entender o pensamento de Bello a partir de uma especificidade.

Iván Jaksic, também procurou entender o pensamento de Andrés bello, a biografia que escreveu a respeito desse intelectual, não busca tratar apenas da vida, publica ou privada de Bello, mas sim fazer uma interpretação de seu pensamento.

O título do livro já demonstra qual é a grande questão do pensamento de Bello segundo Jaksic. Andres Bello: La pasión por el orden. Desta forma Jaksic procura demosntrar ao longo de seu livro que Bello sempre teve uma preocupação com a situação da América. E sua grande busca seria por uma Ordem, uma vez que a América naquela época vivia em um caos político.

Assim, Jaksic afirma que Bello procurava em seus escritos encontrar uma solução para o caos e um meio de implantar uma ordem, como já foi afirmado nesse capítulo, Bello entendia que a monarquia era uma solução para os novos países, contudo essa opinião foi se modificando no decorrer do tempo.

Essa busca pela ordem, segundo Jaksic está relacionada a vários motivos, entre eles o inicio da vida de Bello na Venezuela, onde havia uma relativa estabilidade, devido as melhorias causadas pela Coroa. Outro fator muito importante foi sua chegada ao Chile, país onde a estabilidade política começou a existir a partir de 1830.

(23)

2. A PAZ E A NAÇÃO

2.1. Princípios de Direito de Internacional

Andrés Bello, como já exposto por seus biógrafos, tem um papel fundamental, se não na América Hispânica, pelo menos no Chile. Sua participação na política chilena é evidente, e sua contribuição ocorreu em diversos níveis. Uma de suas contribuições a esta nação foi em relação à construção do Estado chileno, que teve sua consolidação e sua estabilidade a partir do governo de Portales, o qual Bello fazia parte

A participação de Bello nesse acontecimento não se deu apenas pelo fato de trabalhar no governo, no Ministério de relações exteriores, ou como senador e conselheiro dos presidentes. Uma de suas obras, ao que tudo indica, foi essencial para a materialização do Estado chileno. Principios de Derecho Internacional, apesar de ser uma obra jurídica, foi utilizada politicamente, e essa questão é o que nos interessa e será analisada.

Essa obra, é dividida em quatro partes: Derecho internacional - Nociones preliminares, Estado de Paz, Estado de Guerra, e Derechos y funciones de los agentes diplomáticos. Cada uma dessas partes com um objetivo especifico, contudo, constituem um tratado de dirtio internacional.

Analisaremos, especialmente as duas partes do meio. A primeira, a qual trata da, Paz será analisada neste capítulo, pois concentra questões sobre a idéia de nação e Estado, que são nesse capitulo nossa preocupação. Contudo, esta primeira parte é bem mais complexa, trata de temas como a economia, por exemplo, a qual, aliás, é muito presente. Entretanto, buscaremos focar nas questões referentes ao conceito de Nação e Estado.

A terceira parte, referente à Guerra, apesar de também, ser composto por diversos temas, entre eles o comércio, também não será analisada de forma geral, somente os elementos que tratam da guerra no sentido político.

Compreender de que forma a guerra, a qual Andrés Bello se refere, permite pensar o contexto, ou seja, entender o que motivou o intelectual a escrever isso e perceber nesse texto a relação da guerra com os acontecimentos relacionados não

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apenas ao Chile, e sim toda a América hispânica, que passa por um momento novo, como já mencionado.

Este livro se constitui como um conjunto de normas fundamentais de direito internacional, que segundo o próprio Bello foi escrito com base nas obras de diversos autores, entre eles Grocio, Puffendorf e principalmente Vattel. Este último, foi o mais utilizado por Bello, pois encontramos referencias a ele ao longo de todo o texto.

Faz-se necessário complementar que o tratado de Vattel, Le Droit des Gens, é tido como uma das obras mais importantes do século XVIII, a qual foi responsável por uma nova etapa no direito internacional, sendo amplamente divulgado, traduzido e utilizado pelas diversas nações e estadistas35.

O livro a ser utilizado é uma edição de 1946 publicada na Argentina, o qual foi organizado por Rafael Caldera, um venezuelano, professor da Universidade de Caracas na época. O professor Caldeira faz nesta edição um estudo preliminar sobre Andrés Bello, que posteriormente seria publicado como livro, o qual foi traduzido para o português

A discussão a respeito da importância desse tratado de direito internacional, ou como também podemos chamar, do direito de gentes, é discutido pelo historiador argentino José Carlos Chiaramonte em diversos de seus trabalhos a respeito da formação das nações da América hispânica.

Contudo, antes de iniciarmos um diálogo com a as idéias de Chiarmonte, se faz necessário uma discussão a respeito do conceito de Nação, o qual permeia, não apenas as idéias do historiador argentino, como também do intelectual Andrés Bello. Além do fato de que esse tema é ponto de partida para pensarmos a nossa fonte.

2.2. O que é nação?

Nos últimos anos, houve por parte da historiografia uma grande preocupação em rever o conceito de nação. Nas últimas três décadas, os trabalhos sobre esse tema

35 RANGEL, Vicente. Prefácio à edição Brasileira. In: VATTEL, Emer. O Direito das Gentes. Brasília:

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acabaram se multiplicando, e abarcaram os mais diversos aspectos, e regiões. Entre estes diversos estudos, talvez os mais conhecidos sejam o de Benedict Anderson,

Comunidades imaginadas, e de Eric Hobsbawn, Nação e nacionalismo desde 1780. E

foi a partir dos pressupostos levantados por estes e outros autores que, iniciou-se, também na América Latina, uma revisão a respeito do tema nação em relação aos países desse continente.

Desta forma, antes de iniciarmos a discussão a respeito da América, vamos nos ater rapidamente na analise de um desses autores a sobre o conceito nação num âmbito geral.

Hobsbawm não propõem em seu livro, Nação e nacionalismo desde 1780, buscar uma resposta definitiva sobre o conceito de nação, pelo contrário, busca demonstrar a complexidade desse termo. Para tanto, afirma que essa idéia, no sentido moderno, como significado político, é muito recente. Desta forma demonstra as diversas formas que este conceito foi moldado, ainda no final do século XVIII, como na Revolução Francesca, ou para os liberais.

Segundo ele, nesse primerio período havia três características básicas que caracterizavam as nações. A primeira era, a associação histórica com um Estado de passado recente, ou um Estado existente, a segunda, uma elite cultural estabelecida e por ultimo, a capacidade para conquista36.

Entretanto nesse período, “nações e nacionalismos não eram [...] problemas domésticos maiores para as entidades políticas que tinham alcançado o status de ‘Estado-nação’”37

. Todavia, Hobsbawm se pergunta, o que leva um grupo de pessoas a

querer se imaginar parte de uma nação, tendo em vista que essa, segundo Benedict Anderson, é uma comunidade imaginada que pode preencher o vazio causado pela falta de uma comunidade real?

Para ele, uma das repostas pode estar no fato de o Estado ou os movimentos nacionais poderem “mobilizar certas variantes do sentimento de vinculo coletivo já

36 HOBSBAWM, Eric. Nações e nacionalismos desde 1780. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. p. 49 37 Ibid. p. 54

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existente”38

. Segundo Hobsbawm existem dois tipos de vínculo, o primerio, seriam

formas locais de identificação e o segundo laços e vocabulários políticos.

Depois, o autor faz diversas análises sobre aspectos que poderiam levar a uma nação, como a língua, a etnicidade, ou ainda a religião. Contudo, entende que esses aspectos não capazes de constituir uma nação. Desta maneira aponta para o Estado, como sendo um, mas não somente, o responsável por conseguir consolidar o que ele chama de um protonacionalismo, algo que antecede o nacionalismo, pois, este pode agir sobre a consciência das pessoas.

Ao pensar o Estado como fundamental para a formação das nações Hobsbawm aponta para algumas questões que levam a isso. O estado no inicio do século XIX tinha acesso a todas as pessoas de seu território, através de vários meios39.

Segundo ele, a constituição do estado gerou receio do governo em relação a população, com isso buscou-se conectar esta população com o governo através de uma maquina administrativa. Além disso, o interesse do estado começava a depender do cidadão40.

Assim, o estado buscou criar uma “religião cívica”, que seria um patriotismo, como meio de conectar a população ao estado. Todavia, patriotismo se diferencia de nacionalismo, que foi algo que surgiu paralelamente, e disputava o cidadão com o Estado.

Desta forma, no século XIX o Estado buscava através de diversos meios agrupar as pessoas ao seu redor, para isso realizou uma democratização, pensando em gerar um apego ao estado. Também se utilizou da educação, empregando uma lingua única que contribuísse para propósitos práticos. Além disso, uma grande preocupação do estado passou a ser a fusão entre o patriotismo e o nacionalismo.

2.3. Nação na América Latina

38 Ibid. p. 63 39 Ibid. p. 103 40 Ibid. p. 104

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A partir do exposto, podemos compreender melhor a idéia de nação na América latina. Contudo, é necessário nos atermos para a historiografia recente do continente, a qual se empenha em desmistificar algumas idéias a respeito desse conceito. No que concerne a América Latina, as primeiras idéias sobre esse conceito foram criadas ainda no século XIX, e permaneceram por um longo período presentes ao imaginário a respeito das nações latino americanas.

Essas idéias surgiram logo após as conquistas de Independência, e se perpetuaram pelo século XIX e também pelo XX. Uma dessas idéias a respeito das nações, é que essas, como nós conhecemos hoje, surgiram em num momento anterior as independências, ou seja, as guerras que buscaram libertar a América da Espanha foram fruto desse sentimento nacional, ou dessa nacionalidade que existia antes mesmo das nações41.

Como já afirmado anteriormente, um dos historiadores empenhados nessa nova análise é o argentino José Carlos Chiaramonte, que num primeiro momento procurou fazer essa discussão a respeito do conceito de nação sobre a Argentina, contudo, percebeu que em toda a América Latina havia, de diferentes maneiras, uma situação parecida.

Nos estudos de José Carlos Chiaramonte, a formação das nações é a questão central. Reitera que as independências não ocorreram a partir de um ideal nacionalista, como afirmava alguns historiadores, ou a partir de um sentimento nacional, pois “em tiempos de las independencias no existían las actuales naciones iberoamericans, ni las correspondientes nacionalidades”42.

Os Estados da América hispânica, como existem nos dias atuais, se formaram a partir de uma construção histórica, que ocorreu no período posterior às independências, como destaca Chiaramonte, “a la nación no um fenômeno natural sino um producto histórico, transitório, que no siempre existió”43.

41 CHIARAMONTE, José Carlos. Fundamentos iusnaturalistas de los movimientos de Independência. In:

Boletín del Instituto de Historia Argentina y Américana E. Ravignani, tercera serie, n°22, 2000, p 33

42 Idem 43 Ibid. p. 37

(28)

Essa prática dos historiadores de afirmar a existência de um sentimento nacional que teria levado as independências seria, segundo Chiaramonte, anacrônica, pois os historiadores levaram para a época da independência uma idéia que se formou no final do século XIX. Chiaramonte denominou isso como “mito das origens da nação”, pois, ocorreu com objetivo de legitimar a criação das nações44.

Em contra oposição a essa idéia de nação, Chiaramonte ao analisar a formação do estado argentino, afirma que este se formou a partir de compromissos políticos que ocorriam entre os diversos organismos soberanos (cidades), os quais eram produtos do período colonial, ou seja, da administração da Coroa que envolvia uma ampla rede jurídica e diversas autoridades hierarquizadas. Ou seja, na época das independências haviam apenas cidades independentes, as quais não estavam conectadas45.

Essa idéia tem o objetivo de revisar a historiografia que afirmava não haver organismos políticos estáveis na época da independência, mas apenas o poder dos caudilhos. Conforme Chiaramonte, a formação dos estados nacionais ocorreu através desses organismos independentes, e foi similar no restante da América espanhola.

Seguindo essa idéia, deve-se resaltar que na maioria dos novos países existe uma cidade soberana, a qual conseguiu agrupar outras cidades ao seu redor, como Buenos Aires na Argentina, Santiago no Chile46.

Outra questão referente a esse tema é o fato de não haver no primeiro momento após a independência uma preocupação com uma nacionalidade, mas sim, com a formação de uma nação ou estado no sentido mais racional, nas palavras de Chiaramonte, “constituir uma nación era organizar um estado mediante um proceso de negociaciones políticas tendientes a conciliar las conveniências de cada parte”47.

44 SCHEIDT, Eduardo . Debates historiográficos acerca de representações de nação na Região Platina.

Revista Eletrônica da ANPHLAC, v. 5, p. 3, 2006. p.

45 CHIARAMONTE, José Carlos. Fundamentos iusnaturalistas de los movimientos de Independência.

Op.cit. p. 40

46 CHIARAMONTE, José Carlos. La formación de los Estados nacionales en iberoamérica. In: Boletín del

Instituto de Historia Argentina y Américana E. Ravignani,. Terceira serie, n. 15, 1º. Semestre de 1997. p. 150.

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Contudo, para haver uma conciliação entre os diversos grupos políticos, era necessário haver algo em que eles pudessem apoiar-se, nesse caso era o Direito natural e de Gentes. E essa idéia tornou-se a força necessária para dar legitimidade ao governo e aos novos estados nacionais que estavam surgindo.

Com isso, é necessário fazer uma discussão a respeito da idéia de direito natural e de gentes para, a partir disso, podermos analisar Principios de Derecho Internacional, uma vez que a obra de Bello trata desse tema. Também é importante lembrar que seu primeiro título foi Principios de Derecho de Gentes, além do fato de Bello afirmar isso durante todo o texto.

Desta forma, para Bello, “el Derecho internacional o de gentes es la colección de las leyes o reglas generales de conducta que las naciones o Estados deben observar entre sí para su seguridad y bienestar común”48.

Se na Europa a discussão sobre a organização dos estados, das nações, estava centrada nas idéias dos iluministas, da Revolução Francesa, ou de Thomas de Hobbes, este não é o caso da América no início do século XIX, segundo Chiaramonte, os líderes da independência pautaram-se nos escritos de pensadores como Grocio, Pufendrof e Wolff, os quais escreveram ainda no século XVII e XVIII, e que representam o direto natural e de gentes.

É esta a idéia que norteia as discussões sobre os novos estados na América no início do século XIX, “los fundamentos de la accíon política estaban dados por derecho natural e de gentes”49. Ou seja, era nessa idéias e não na revolução francesa que os

políticos estavam pensando. Para Chiaramonte

la cita de um autor prestigioso podia servir como apoyo, refurerzo, de lo sostenido, em razón de algo que no era outra cosa que uma forma Del viejo principio de autoridade. Em cambio, la invocación Del derecho natural era fuente indiscutida de legitimacíon de lo sostenido. [...] El derecho natural era incuestionable por todas las partes50.

48 BELLO, Andrés. Principios de Derecho Internacional. Buenos Aires: Editorial Atalaya, 1946. p. 141 49 CHIARAMONTE, José Carlos. Fundamentos iusnaturalistas de los movimientos de Independência.

Op.cit. p. 51

(30)

Ainda segundo Chiaramonte, o direito natural e de gentes apesar de não estar presente na frança durante o século XIX, esteve presente na Espanha dos Bourbons. Neste país, foi amplamente estudado nas suas Universidades, local a partir do qual começou a ser difundido. Acabou chegando até os jornais, os quais recomendavam os estudos a respeito do direito de gentes51.

É a partir disso que o direto natural chega a América, e é adotado com objetivo de legitimação.

A construção dos estados nacionais e a legitimação do poder dos novos governos, foram baseados em livros que estavam presentes na vida política da América Latina. Um dos autores mais utilizados pelos governos dos novos Estados era Emmer Vattel52, que escreveu um tratado de direito internacional ainda no século XVIII, o qual teve enorme importância nas relações diplomáticas de diversos países. Seu livro Le

Droit des Gens tornou-se um marco nesta área do direito, alem de ser utilizado pelas

nações, influenciou muitos estudos sobre este tema posteriormente, entre eles os escritos de Andrés Bello.

A afinidade de Andrés Bello com as relações internacionais foi construída ao longo de sua vida. Desde seu primeiro emprego, ainda na Venezuela, já estava lidando com assuntos de caráter externo, e esse fato foi um dos responsáveis por sua viajem a Inglaterra, em nome da Junta de governo que se formou em 1810.

Naquele país europeu continuou seu trabalho com relações internacionais, dando assessoria a diversos países do continente americano. Na sua volta ao Chile não foi diferente, este ocupou um cargo de extrema importância dentro do governo chileno, era um dos responsáveis pela política externa deste país, além de participar das obras legislativas chilenas.

Percebe-se assim que Bello acumulou uma grande experiência a respeito deste tema, o que possibilitou a ele escrever várias obras jurídicas, algumas com objetivo didático, como também defender o ensino de Filosofia do Direito na universidade do

51 Ibid. p. 56

52 Sobre a biografia, RANGEL, Vicente. Prefácio à edição Brasileira. In: VATTEL, Emer. O Direito das

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Chile, além de ministrar aulas desta matéria na Universidade, com o nome de direito natural, o qual foi, segundo Caldera, um grande defensor.53

Contudo, deve-se ressaltar que uma de suas maiores contribuições jurídicas foi o tratado de Direito Internacional, que tornou-se um marco nas relações externas, não apenas do Chile, mas também da América Latina. Para Jaksic, “el conocimiento de los princípios básicos de derecho internacional, pensaba, (Bello) era necesario para las instituciones e indivíduos encargados de La política internacional, principalmente em um país costeño como Chile que dependia em gran medida Del comercio exterior”54.

Como colocado por Chiaramonte, a legitimação das novas nações dependia de alguns instrumentos, entre eles estava o direito natural e de gentes. Desta forma, pode-se tentar entender o porquê Bello escreveu este tratado.

Como foi apontado por Jaksic, o intelectual estava vivendo em um contexto muito sugestivo, como também participava ativamente do governo chileno. Isto demonstra que Andrés Bello tinha um objetivo muito evidente ao escrever Principios de Derecho

Internacional, pois apesar de haver outros trabalhos parecidos, como o de Vattel, este

não representa a realidade específica das novas nações da América.

Continuando nessa perspectiva, Jaksic afirma que esse tratado tinha como objetivo legitimar internacionalmente as novas nações que acabaram de passar pelo processo de Independência.55

2.4. O Estado de Paz

A primeira parte da obra, intitulada estado de Paz, é destinada a explicar, de forma geral, quais são os direitos e os deveres de uma nação nos tempos em que está não esta guerreando. Para tanto no início desta primeira parte Bello procura fazer uma conceituação de nação. E logo no primeiro parágrafo já nos deparamos com uma

53 CALDERA, Rafael, op.cit. 126 54 JAKSIC, Iván, op. cit. p.136 55 idem

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questão muito relevante, a qual já foi interpretada por Chiaramonte56. Não existe diferença entre Estado e Nação para Bello. “Nación o Estado es una sociedad de hombres que tiene por objeto la conservación y felicidad de los asociados; que se gobierna por leyes positivas emanadas de ella misma, y es dueña de una porción de território”57.

Desta forma, percebemos uma característica dos intelectuais e do governo dessa época. Eles não se preocupavam com a idéia de nacionalidade, ou seja, no primeiro momento não havia interesse em criar uma afeição da população com o seu país. Pelo contrário, essa falta de distinção entre os dois conceitos, aponta para o fato de haver uma preocupação com a consolidação do Estado, do governo, mais do que isso, como demonstra Bello no decorrer da primeira parte, uma preocupação com a soberania.

As nações ou Estados como coloca Bello, são segundo este, iguais aos homens, e portanto como estes são naturalmente iguais entre si, as nações também são iguais entre elas.

Mais do que isso, é evidente no primeiro momento da obra a preocupação do intelectual com as novas nações. Em sua primeira edição ainda em 1832, os países da América Hispânica enfrentavam problemas graves, e obviamente eram frágeis em relação a outras potências. Contudo, elas estavam seguras, pois se respaldavam no direito de gentes, que afirma: “La República más débil goza de los mismos derechos y está sujeta a las mismas obligaciones que el imperio más poderoso”58.

Porém aponta Bello, o que torna essa nação igual às outras é ela ser realmente uma nação, o que por sua fez ocorre somente se está for independente e soberana. A partir desse momento, esses dois conceitos são amplamente utilizados por Bello. “La

independencia de la nación consiste en no recibir leyes de otra, y su soberanía en la

existencia de una autoridad suprema que la dirige y representa”59

.

56 Ver artigo CHIARAMONTE, José Carlos. La formación de los Estados nacionales en iberoamérica. In:

Boletín del Instituto de Historia Argentina y Américana E. Ravignani,. Terceira serie, n. 15, 1º. Semestre de 1997.

57 BELLO, Andrés. op.cit. p.141 58 Idem

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Este pequeno trecho demonstra de forma clara as idéias de Bello a respeito de independência e soberania. O primeiro conceito, nos remete ao próprio trabalho do intelectual, uma nação só é independente se não recebe leis de outra, assim necessita criar as suas próprias leis, pois, a partir disso não necessita sujeitar-se as outras nações. Esta questão nos leva a biografia do autor, e a sua grande preocupação com as leis, as quais sempre foram importantes em sua visão, tanto que escreveu um tratado de direito internacional, livros sobre direito, um código civil, ajudou na elaboração de uma constituição.

Já o segundo conceito é novamente tratado por Bello mais adiante, e com algumas complementações interessantes. Ele afirma que:

El poder y autoridad de la soberanía se derivan de la nación, si no por una institución positiva, a lo menos por su tácito reconocimiento y su obediencia. La nación puede transferirla de una mano a otra, alterar su forma, constituirla a su arbitrio. Ella es, pues, originariamente, el soberano60.

Se Bello aponta que a soberania de uma nação consiste na existência de uma autoridade, agora complementa que originariamente esta nação é o soberano. Pois, esta autoridade como ele assinala, pode ser modificada, uma nação tem o total direito de escolher seu soberano, que pode ser uma monarquia absolutista, uma república ou uma monarquia constitucional, isso deriva da vontade dos cidadãos.

Dando continuidade a seu conceito de nação, Bello congrega a essa idéia inicial de a nação ser independente e soberana devido as questões internas, a necessidade de a nação ser soberana também internacionalmente, e é para isso, segundo ele, que existe um tratado de direito internacional. Pois, retornando a imagem da nação como uma pessoa, esta precisa dialogar com as outras, sob a égide do direito de gentes.

Desta forma Bello afirma que existem duas soberanias, a inmanente e a

transeunte, a primeira trata de questões internas e a segunda de questões externas. Só

a sua relação com as outras nações torna uma nação um verdadeiro corpo político. Diante disso afirma Bello, “toda nación, pues, que se gobierne a sí misma, bajo

(34)

cualquiera forma que sea, y tiene la facultad de comunicar directamente con las otras, es a los ojos de éstas un Estado independiente y soberano”61.

Assim, percebemos a preocupação desse intelectual venezuelano em dois pontos fundamentais, remetendo-se a seu biografo Jaksic, e a idéia de Ordem. Existe para Bello a necessidade de uma ordenação interna, obviamente baseada nas leis, entretanto, isso não é suficiente para uma nação. As relações externas também se fazem necessárias para promulgar um país como independente e soberano, e tanto a questão interna como externa, são inexoravelmente complementares, uma possibilita a consolidação da outra.

Esta interpretação da obra de Bello não é inovadora, ela já foi detectada por seu biografo Ivan Jaksic. “Insisti em que para que los países pudieran lograr La estabilidad política interna, necesitaban suscribir y cumplir ciertas reglas internacionalmente reconocidas”62

.

Ao se referir a relações externas entre as nações, Bello demonstra mais uma vez a preocupação com os novos Estados, agora no que diz respeito as suas independências. Escreve sobre o reconhecimento de uma nação por outra, em que momento esse reconhecimento pode ocorrer e a sua validade.

Si se presenta pues un Estado nuevo [...] por la desmembración de un Estado antiguo, a los demás Estados sólo toca averiguar si la nueva asociación es independiente de hecho, y ha establecido una autoridad que dirija a sus miembros, los represente, y se haga en cierto modo responsable de su conducta al universo. Y si es así, no pueden justamente dejar de reconocerla, como un miembro de la sociedad de las naciones63.

Nitidamente, Bello se remete as guerras de independência, buscando legitimá-las, e novamente essa legitimação se dá em duas frentes, como comentado anteriormente, interna e externamente. Quando um país surge, desmembrando-se de outro Estado, para ser aceito pelos outros, necessita de uma autoridade, e caso isso ocorra nada impede que seja reconhecido.

61 Ibid. p .143

62 JAKSIC, Iván. La República Del Orden: Simón Bolívar, Andrés Bello y Las Transformaciones del

Pensamiento Político de la Independencia. op.cit. p. 212

(35)

Além disso continua Bello:

En el caso de separarse violentamente de una antigua nación y constituirse en Estados independientes una o más de las provincias de que estaba aquélla compuesta, se ha pretendido que las otras naciones estaban obligadas a respetar los derechos de la primera, mirando a las provincias separadas como rebeldes y negándose a tratar con ellas. Mientras dura la contienda entre los dos partidos, no hay duda que una nación extraña puede abrazar la causa de la metrópoli contra las provincias, si lo cree justo y conveniente, así como la de las provincias contra la metrópoli en el caso contrario. Pero una vez que el nuevo Estado o Estados se hallan en posesión del poder, no hay ningún principio que prohíba a los otros reconocerlos por tales, porque en esto no hacen más que reconocer un hecho y mantenerse neutrales en una controversia ajena64.

Esse trecho deixa claro a situação colocada acima, ficando evidente sua posição perante as nações da América, utilizando o termo “separações violentas”, e reitera, a necessidade de a nova nação ou Estado deter o poder, ou ter uma autoridade para ser reconhecida.

Para dar mais ênfase a liberdade conquistada pelos países da América em relação à Espanha, e legitimidade a estes países, apontando que já tem uma autoridade e um poder próprio, Bello utiliza como exemplo uma nota do governo inglês ao representante da Espanha na Inglaterra, com os motivos que levaram este países a reconhecer as novas nações.

Ao pensar de que forma surgem as Nações, ou Estados, fica explicito a intenção de Bello. Intenção que devemos entender como necessidade de um contexto que, como colocado por José Carlos Chiaramonte, é o da construção das nações na América, e Bello, como já foi colocado, faz parte dessa conjuntura, além de participar ativamente dela.

Para além de como se formam as nações, o que são, a primeira parte ainda tem uma infinidade de temas que poderiam ser explorados, contudo vamos nos ater as conseqüências imediatas das independências e da soberania das nações.

Segundo Bello,

De la independencia y soberanía de las naciones se sigue que a ninguna de ellas es permitido dictar a otra la forma de gobierno, la religión, o la administración que ésta deba adoptar; ni

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llamarla a cuenta por lo que pasa entre los ciudadanos de ésta, o entre el gobierno y los súbditos65.

Desta forma, cada nação tem o direito de escolher sua forma de governo, suas leis, e tem a possibilidade de resolver seus problemas internos sem a interferência de outra nação. Nenhum Estado tem o direito de interferir nos assuntos internos de outro. Os atos internos que são permitidos à nação, que é independente e soberana, podem ser diversos, contudo não podem extrapolar os direitos de outras nações.

Referências

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