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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS (ICHS) MESTRADO EM SOCIOLOGIA RENATO ALFREDO LOHMANN

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS (ICHS)

MESTRADO EM SOCIOLOGIA

RENATO ALFREDO LOHMANN

A REDE SOCIAL DRS DO BANCO DO BRASIL Os laços que sustentam a estratégia negocial DRS

CUIABÁ - MT 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS (ICHS)

MESTRADO EM SOCIOLOGIA

RENATO ALFREDO LOHMANN

A REDE SOCIAL DRS DO BANCO DO BRASIL Os laços que sustentam a estratégia negocial DRS

Dissertação apresentada ao Departamento de Sociologia e Ciência Política do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT como requisito parcial para a obtenção do título de MESTRE em Sociologia, sob a orientação do Prof. Dr. Joel Paese.

CUIABÁ - MT 2018

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DEDICATÓRIA

A Marineusa, minha companheira, amiga, esposa, que sempre me apoiou, incentivou e, principalmente, soube segurar as pontas nesse período em que estive mergulhado no objetivo de tentar tornar-me um mestre em Sociologia.

As minhas filhas Naiade e Lohaine, que sempre me apoiaram e incentivaram nessa jornada. E a quem espero ter inspirado. A Dona Melita Lohmann e seu Albino Lohmann (in memorian), meus pais, que me ensinaram os valores morais e éticos que moldaram meu caráter e norteiam a minha caminhada e que não cansavam de afirmar que estudar sempre valia a pena.

Aos meus netos Felipe e Manuela e meu genro Rafael.

Aos meus irmãos Lili, Semilda e Erno, pelo apoio e incentivo. As minhas cunhadas, cunhado e concunhados: Maria José, Sales (in memorian), Márcia, Vicente, Ronaldo, Marlene.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu professor, orientador, e que no transcorrer desta dissertação, também tornou-se uma espécie de psicólogo, sempre me incentivando e estimulando, mesmo naqueles momentos em que a vontade de desistir era enorme. Obrigado Joel Paese.

Ao coordenador do PPG em Sociologia da UFMT que no meio da jornada transformou-se em amigo, também sempre me incentivando a continuar a jornada e não esmorecer. Valeu Xavier.

Aos colegas da primeira turma do PPG em Sociologia da UFMT, turma 2016/1: Ana Carla, Arieh, Beatriz, Daniela, Danielle, Janaina, Fredson, Marlene e Sebastião Carlos, que foram “cúmplices” nessa caminhada. Um abraço especial ao amigo Sebastião Carlos e as amigas Ana Carla e Marlene que sempre se prontificaram em auxiliar no que pudessem no sentido de me ajudar na conclusão dessa dissertação. Valeu Carlos, Ana e Marlene.

A todo o corpo docente do PPG em Sociologia da UFMT: Joel, Xavier, André, Telmo, Marinete, Marlene, Hildeberto, Silvana. Obrigado pelos ensinamentos, dicas e orientações.

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RESUMO

O objetivo desta dissertação é entender como transcorreu o processo de criação e implementação da estratégia negocial de Desenvolvimento Regional Sustentável do Banco do Brasil no seio de uma comunidade que foi assistida por essa estratégia. A partir das teorias do Ator-Rede (Callon, Latour e Law, principalmente) e da teoria da Força dos Laços Fracos (Granovetter) buscamos explicar a criação da rede social DRS e como se constituíram os laços sociais entre os atores que constituíram a rede e foram os responsáveis pelo êxito da mesma junto a Comunidade do Imbê, município de Poconé – MT. A formação dos vínculos sociais, tendo como alicerce os aspectos: tempo de relacionamento, intensidade emocional, confiança mútua e reciprocidade foram suficientes para criar laços fortes? E os laços fracos, qual sua importância para a rede? Os conflitos, sempre presentes nas relações sociais, tiveram impacto nos vínculos sociais entre os atores da rede social DRS e “quebraram” alguns desses vínculos? São respostas que buscamos responder ao longo da pesquisa, mas que ao final nos mostrou um desfecho não previsto inicialmente, a respeito da teoria da força dos laços fracos e sua linearidade. Baseado no estudo de uma rede social DRS com comprovado êxito buscamos esse entendimento sobre o processo de criação e implementação de uma rede social baseada nos princípios apresentados pela estratégia negocial DRS do BB que trás no seu cerne a questão da sustentabilidade, onde o sucesso de um empreendimento deve atender as questões econômicas, sociais, ambientais e culturais, em outras palavras, deve ser economicamente viável, socialmente justo, ambientalmente correto e respeitando a diversidade cultural. Descobrimos que o ator central da rede, papel esse que se supunha inicialmente, ser exercido pelo BB, não se consolidou. Da mesma forma verificamos que a rede social DRS do Imbê foi criada com laços fortes e que os conflitos não conseguiram mudar essa dinâmica. Mas a nosso ver, o grande ponto deste estudo foi uma descoberta sobre o aspecto “tempo de relacionamento” tido como fundamental na teoria de Granovetter e que percebemos não ser um elemento indispensável para a determinação da força de um vínculo social.

Palavras-chave: Rede Social. Laços Fortes e Laços Fracos. Sustentabilidade. Análise de Redes Sociais.

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ABSTRACT

The objective of this dissertation is the meaning as transcurrent of the process of creation and implementation of the regional development strategy. From the theories of the Actor-Network (Callon, Latour and Law, mainly) and the theory of the Laudes Fracas, they seek a creation of the social network DRS and how they constitute the social bonds between the actors that constitute a network and were carried out by the same community of the community of Imbê, municipality of Poconé - MT. The formation of social bonds, targeting the time of relationship, emotional intensity, motivation and autonomy to create strong bonds? And the weak ties, how important is it to the network? Do the conflicts, always present in social relations, have a greater impact on the social ties between the DRS social network actors and have "broken" some of these links? The final answers throughout the research, but in the end we were somewhat predicted, with respect for the strength of weak ties and their linearity. Based on a social network DRS with comprovated the case of the actions and actions of social social based in the consumer strategy by NEGOCIAL DRS of the BB that back your heart of your sustainability issue, where the success of hum The entrepreneurship must attend, like economic, social, environmental and cultural issues, in other words, socially just, environmentally sound and related to cultural diversity. Discover the central actor of the network, which is the role initially, be exercised by BB, did not consolidate. In the same way that we verified a social network DRS of Imba was created with great wishes and the systems were not able to change this dynamic. But our aim, the great point of view was a discovery on the aspect of "relationship time", which had as its founder the theory of a large number of people and which is not an indispensable element for determining the strength of a social bond .

Keywords: Social Network. Strong Ties and Weak Ties. Sustainability. Analysis of Social Networks.

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LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 1 Tensões na criação e implementação 80

Quadro 2 Tensões de natureza política 81

Quadro 3 Tensões de natureza econômico-financeiras 82

Quadro 4 Tensões de natureza social 83

Quadro 5 Tensões de natureza ambiental 84

Quadro 6 Tensões de natureza privada/particular 85

Quadro 7 Tensões de natureza legal (legislação) 86

Quadro 8 Demais tipos de tensões não descritas anteriormente 87

Tabela 1 Desenvolvimento Regional Sustentável 21

Tabela 2 Rede DRS Imbê – Tempo de Relacionamento 97

Tabela 3 Rede DRS Imbê – Intensidade do Relacionamento 98

Tabela 4 Rede DRS Imbê – Intimidade (Confiança) 98

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LISTA DE GRÁFICOS E FIGURAS

Figura 1 Esquema da força de um vínculo social (percepção nossa) 94

Figura 2 Novo esquema da força de um vínculo social (2ª percepção nossa) 95

Figura 3 Grau de Centralidade 104

Figura 4 Grau de Intermediação 105

Figura 5 Grau de Proximidade 106

Gráfico 1 Rede DRS Imbê – Tempo de relacionamento 99

Gráfico 2 Rede DRS Imbê – Intensidade do relacionamento 100

Gráfico 3 Rede DRS Imbê – Intimidade (Confiança) 101

Gráfico 4 Rede DRS Imbê – Reciprocidade 102

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANT Actor-Network Theory

ARS Análise de Redes Sociais

BB Banco do Brasil

CC Cartografia das Controvérsias

COMPRUP Cooperativa Mista de Produtores Rurais de Poconé CTS Ciência, Tecnologia e Sociedade

DRS Desenvolvimento Regional Sustentável

EMPAER Empresa Mato-grossense de Pesquisa Assistência e Extensão Rural

EPA Environmental Protection Agency

ESCT Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia

EUA Estados Unidos da América

GEF Global Environmental Facility

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

MT Mato Grosso

ONG Organizações Não Governamentais

ONU Organização das Nações Unidas

PAA Pontos de Atendimento Avançado

PPO Ponto de Passagem Obrigatória

RE Relações Existentes

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Sema Secretaria do Meio Ambiente

TA-R Teoria do Ator-Rede

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TE Teoria da Estruturação

TI Tecnologia de Informação

UNEP Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 13

1.1. O surgimento da estratégia negocial DRS no BB 17

1.2. Conhecendo a Estratégia DRS 18

1.3. O DRS na prática, em números. 20

2. AS TEORIAS SOBRE REDES 22

2.1. TA-R – Teoria do Ator-Rede 22

2.1.1. Surgimento 22

2.1.2 Tradução dentro do conceito da TA-R 31

2.1.3. A caixa-preta no contexto da TA-R 34

2.2. A Teoria da Força dos Laços Fracos 36

2.2.1. A ideia central 37

2.2.2. Sobre Laços Fracos 40

2.2.3. Sobre Laços Fortes 41

2.2.4. Laços Fracos X Laços Fortes 42

2.2.5. Sobre a análise das redes sociais 44

2.2.6. A Teoria de Granovetter e a relação com o DRS 46

3. AS TEORIAS SOCIAIS 49

3.1. Teoria da estruturação 49

3.1.1. O que é “agente” e “agência” segundo Giddens 49

3.1.2. Relação entre Agência e Poder 51

3.2. A teoria do conflito 52

3.2.1. O Conflito e a TAR 55

3.3. Sustentabilidade 55

3.3.1. Desenvolvimento sustentável - Um pouco de história 57

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4. METODOLOGIA 67

4.1. Cartografia das Controvérsias 67

4.2. Ferramenta para Análise de Redes Sociais 71

4.3. A coleta de dados 72

4.4. O roteiro da entrevista semiestruturada 73

4.5. A Comunidade do Imbê 75

5. ANÁLISE DOS DADOS 78

5.1. Análise de Dados – Eixo tensões 79

5.1.1. Tensões na criação e implementação 79

5.1.2. Tensões de natureza política 80

5.1.3. Tensões de natureza econômico financeiras 81

5.1.4. Tensões de natureza social 82

5.1.5. Tensões de natureza ambiental 84

5.1.6. Tensões de natureza privada/particular 85

5.1.7. Tensões de natureza legal (legislação) 85

5.1.8. Demais tensões ou conflitos 86

5.2. Os dados analisados à luz das teorias 87

5.2.1. A rede social DRS do Imbê a partir da TE de Giddens 87 5.2.2. A rede social DRS do Imbê a partir da TC de Simmel 88 5.2.3. A rede social DRS do Imbê a partir da TS de Sachs 90 5.2.4. A rede social DRS do Imbê a partir da SA de Hannigan 91

5.3. Análise de Dados – Eixo Relacionamento 93

5.3.1. Dados e gráficos sobre os vínculos sociais 97

CONSIDERAÇÕES FINAIS 108

REFERÊNCIAS 112

ANEXO 1 118

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13

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos muito se escreve, discute, fala, estuda, sobre desenvolvimento sustentável, desenvolvimento econômico, meio-ambiente, redes sociais (aqui não tem o contexto de redes virtuais, da grande rede de computadores, mas sim redes de relacionamento inter e intrapessoais), desigualdades econômicas e sociais. São assuntos palpitantes e que não oferecem fórmulas mágicas visando solucionar todos os problemas inerentes a esses temas.

Não podemos negar, contudo, que muito se avançou ao longo das últimas décadas, em especial em virtude dos constantes estudos acadêmicos que são produzidos a respeito desses temas. Desses estudos, muitas iniciativas foram implementadas, colocadas em prática, quer por ação de órgãos ligados a governos das três esferas (federal, estadual e municipal), quer através de organizações não-governamentais ou mesmo por empresas da iniciativa privada. Uma dessas iniciativas foi a estratégia negocial Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS) do Banco do Brasil (BB), que foi implementada em muitos dos municípios brasileiros onde o banco possuía agências bancárias.

Os poucos estudos que encontramos a respeito da estratégia negocial DRS do BB, em sua grande maioria, abordam a questão conceitual da estratégia e sua metodologia e outras estudam o reflexo econômico da estratégia no espaço territorial onde as mesmas foram implantadas. No presente estudo, que não encontramos similar, até o presente momento, buscamos descrever e entender como se procedeu a instalação dessa rede social e a relação entre os diversos atores envolvidos, tendo como elemento motivacional a ousadia em tentar comprovar empiricamente a teoria desenvolvida por Mark Granovetter sobre a importância dos laços fracos para o êxito das redes sociais.

Como já mencionamos, esse estudo possui característica de ser inovador, ao menos no que se refere a estudar a relações sociais entre os atores da estratégia negocial DRS do BB. No levantamento bibliográfico sobre o tema verificamos muitos estudos que versam sobre o desempenho econômico do DRS e das atividades econômicas por ele apoiadas, porém não identificamos nenhum estudo com o foco nas relações sociais entre os parceiros do DRS e os laços fortes e fracos oriundos dessas relações.

Considerando o alcance pretendido pelo Banco do Brasil quando do lançamento da estratégia, considerando a importância do BB para o país, entendemos que o nosso estudo seja de interesse tanto para o meio acadêmico como também para o universo empresarial.

(16)

14 Acreditamos que poderemos contribuir com nosso trabalho para lançar luz, em um tema pouco explorado - as relações sociais dentro das redes sociais - estudando sua dinâmica e identificando seus laços fortes e fracos e o papel que cada uma dessas relações desempenhou no interior da rede.

Esperamos que esse estudo possa servir de parâmetro no futuro para que outras instituições empresariais possam identificar pontos positivos levantados bem como contribuir para mudar outras ações, tendo em vista que nem todas as redes DRS obtiveram resultados exitosos.

No tocante a motivação pessoal, que normalmente está presente nos estudos de natureza acadêmica, existe o fato de termos trabalhado no Banco do Brasil durante o período de 1993 a 2015 sendo que nesse período, por doze anos exercemos a função de administrador em diversas agências. As agências onde trabalhamos estão localizadas nos estados de Rondônia, Mato Grosso e Paraná.

O Banco do Brasil, como agente financeiro do Governo, ao longo dos seus mais de 200 anos de existência e história, esteve presente em muitas ações e programas que visam o desenvolvimento, a diminuição das desigualdades sociais, a sustentabilidade, em especial nas regiões mais carentes do país. Como administrador de agências do BB tivemos a oportunidade de participar de diversos programas e ações que visavam atingir esses objetivos, mas um programa em particular nos entusiasmou mais: O DRS.

Outro fator de natureza pessoal que contribuiu para realizarmos o presente estudo está relacionado a nossa formação acadêmica em Ciências Econômicas. Em virtude dessa formação toda estratégia lançada pelo BB que pretendia fomentar o desenvolvimento econômico e social para regiões mais inóspitas e carentes do Brasil, mereciam especial atenção de nossa parte.

A estratégia negocial DRS do BB, inicialmente não foi pensada como sendo uma meta a ser atingida pelas agências. Era mais um chamamento do Governo Federal que percebia a necessidade de levar desenvolvimento a regiões mais carentes do país e via no Banco do Brasil, e em seu corpo funcional, as prerrogativas para levar adiante uma iniciativa dessa magnitude.

Contudo, como existiam muitas metas para as agências cumprirem, voltadas para a geração de lucro, a grande maioria das agências acabou não priorizando a implementação da estratégia negocial DRS nos municípios onde atuava. Inferimos, baseado em conversas junto a funcionários e outros gerentes de agência a época apresentação da estratégia ao corpo funcional (2005), que nas agências onde a iniciativa foi implementada inicialmente o processo

(17)

15 foi fruto do comprometimento e interesse pessoal dos gerentes e demais funcionários das agências, que entendiam ser a estratégia DRS uma solução para a população carente dos inúmeros municípios brasileiros que amargavam baixos índices de desenvolvimento econômico e social, refletido nos Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e índice de GINI, apurados periodicamente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Após a implementação da estratégia negocial DRS nas primeiras comunidades, localizadas nos estados da Região Norte, Nordeste e Vale do Jequitinhonha e Vale do Mucuri em Minas Gerais, parte da Diretoria do BB percebeu os primeiros sinais de que a estratégia poderia efetivamente mudar a vida das pessoas naquelas localidades. Diante disso a direção central do BB decidiu estender a estratégia negocial a todas as demais agências do país e incentivar a implementação da estratégia DRS nos municípios onde o banco possuía agências, sendo essa estratégia colocada como uma meta no seu programa de acompanhamento de desempenho das agências.

Nosso estudo não contempla a efetividade dessa medida adotada pela direção geral do BB e tampouco buscou pesquisar se essa medida levou ao desestímulo da estratégia, culminando com sua descontinuidade a partir de 2016. Não conseguimos apurar o motivo da descontinuação da estratégia. O fato é que a partir do momento que a estratégia DRS passa a ser “obrigatória” (por ser meta), percebemos que o interesse por parte dos administradores e funcionários das agências perdeu a característica motivacional para ajudar as comunidades e passou a ser vista como “mais uma meta a ser cumprida”.

Nosso objetivo nessa pesquisa, reforçando, foi identificar como as redes sociais DRS foram construídas e como eram as relações (laços) entre os atores dessas redes para entender a dinâmica das mesmas.

A criação das redes sociais destinadas à implantação da estratégia negocial de DRS do BB é o foco da pesquisa que realizamos. O presente estudo foi efetuado junto a Comunidade do Imbê, localizada no município de Poconé MT, por ter sido uma atividade que mostrou-se exitosa, tendo inclusive sido premiada pela Fundação Banco do Brasil.

O foco da estratégia negocial foi levar o desenvolvimento sustentável (economicamente viável, socialmente justo, ambientalmente correto, observando a diversidade cultural da comunidade) e a redução de desigualdades sociais. A ideia inicial do BB foi implantar a estratégia negocial DRS em comunidades com baixo IDH, em cidades localizadas nos estados das regiões Norte, Nordeste, cidades localizadas no Vale do Jequitinhonha e Vale do Mucuri, estes dois últimos situados no estado de Minas Gerais.

(18)

16 Posteriormente a ação foi estendida às demais regiões do país, a pedido de governadores e prefeitos que perceberam que a estratégia DRS do BB poderia mudar a realidade econômica e social em cidades ou comunidades com baixos índices de IDH.

Para executar a estratégia negocial DRS o BB precisou contar com a colaboração de outros atores locais, visto que o programa previa uma série de ações que não poderiam ser executadas somente pelo corpo funcional do banco. O banco denominou esse processo de sensibilização do seu corpo funcional e dos parceiros que poderiam auxiliar na implantação da rede social DRS de “Concertação”. O objetivo era identificar, junto à sociedade, parceiros, que através de sua atuação poderiam auxiliar na implantação do desenvolvimento sustentável, visando reduzir as desigualdades sociais e econômicas nos municípios ou comunidades onde seria implementada a estratégia DRS.

A meta do BB era, de início, identificar aliados existentes nas cidades ou comunidades onde seria implantado o DRS e convidá-los para participar da iniciativa. Foram escolhidos parceiros que, na visão do BB, poderiam auxiliar no projeto. Entre os parceiros previamente elencados, como sendo importantes, estavam: prefeitura, câmara de vereadores, sindicatos de classe, sindicatos patronais, outras instituições financeiras, instituições de fomento, instituições de pesquisa, associações, cooperativas, instituições religiosas.

Esse processo de sensibilização dos atores, ou “Concertação” como o BB denominou, possui o mesmo princípio da teoria do ator-rede onde os atores formam alianças e “aliciam” outros atores para participarem do processo de construção da rede social e assim fortalecerem as relações entre os diversos atores. Considerando que os atores “aliciados” pertencem a grupos distintos de pessoas, com vínculos em diferentes empresas e organizações, é de se supor que as redes a serem criadas serão redes com conotação bastante heterogênea, constituída de humanos e não humanos. Contudo, uma vez constituídas as redes, elas adquirem vida própria, ou em outras palavras, são autônomas (Callon, M. e Latour, B. 1981).

Dada essa similaridade observada na metodologia da estratégia DRS do BB, o referencial teórico a ser adotado para a análise da implantação da rede social DRS será analisada pela Teoria do Ator-Rede, proposta por Callon (1986), Latour (2012), Law (1986), em que, segundo seus idealizadores, os atores humanos e não-humanos assumem identidades de acordo com a sua estratégia de interação, e os diferentes atores vão construindo e se construindo pela criação de laços, mais ou menos estáveis.

(19)

17 Uma vez observadas as conexões que são criadas no interior das redes sociais DRS, que são o ponto central de estudo do nosso trabalho, buscamos uma teoria que pudesse nos oferecer subsídios para explicar como essas relações são vivenciadas no dia a dia de uma rede. Encontramos no trabalho desenvolvido por Mark Granovetter, a respeito dos laços fortes e laços fracos, os elementos fundamentais para a construção das nossas hipóteses, adiante elencadas, sobre a dinâmica interna de uma rede social e quais seriam os elementos que manteriam a rede em funcionamento ou que fossem os responsáveis pela dissolução dessa rede. As conexões (ou relações), de acordo com a perspectiva de Granovetter (1973), podem ser consideradas “laços fortes” ou “laços fracos”.

Segundo o autor, são na verdade os “laços fracos” que permitem ao conhecimento fluir em direção a todos os sentidos, ao possibilitar maior propagação do conhecimento. Eles são a força das redes sociais. É nessa perspectiva que pretendemos desenvolver nosso estudo e buscar o teste da teoria de Granovetter, no caso específico do DRS, para nosso estudo.

1.1.O surgimento da estratégia negocial DRS no BB

O Banco do Brasil, consciente do seu papel junto à sociedade brasileira, e alinhado as discussões mundiais e nacionais que ocorriam a partir da década de 1970, sobre a preocupação com questões ambientais, e diante do agravamento das desigualdades sociais, mobilizou seu quadro de colaboradores e em 2003 elaborou a Estratégia Negocial de Desenvolvimento Regional Sustentável. De acordo com a instituição,

O momento político era favorável, com a priorização do Programa Fome Zero, pelo Governo Federal, o apoio à agricultura familiar e à reforma agrária e o desenvolvimento de ações voltadas para a inclusão social e a geração de trabalho e renda. Nesse contexto, aumentou a cobrança, por parte do Governo Federal, por atuações mais efetivas das empresas estatais nessas áreas, com foco em trabalhos que contribuíssem para o desenvolvimento de regiões menos assistidas (Banco do Brasil, 2008, p.84).

Os pontos que balizaram o surgimento da estratégia negocial de DRS do BB foram: i) necessidade de ampliação da carteira de crédito do banco voltada ao investimento produtivo do país; ii) aumentar a base de clientes do banco, sendo que uma das estratégias seria buscar a bancarização de parcela da população e iii) preocupação com o eventual aumento dos níveis de inadimplência.

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18 Surgiu assim a: Estratégia Negocial de Desenvolvimento Regional Sustentável do Banco do Brasil, tendo como desafio a mobilização dos mais diversos e diferentes agentes econômicos, políticos e sociais, visando alavancar o desenvolvimento sustentável nas regiões brasileiras onde os indicadores sociais e econômicos eram mais baixos (região Norte, Nordeste, Vale do Jequitinhonha e Vale do Mucuri ambos no estado de Minas Gerais).

A estratégia DRS do BB – inicialmente concebida para alavancar o crescimento daquelas regiões acima referidas –, por demanda das demais unidades da federação (quer seja por pressão de autoridades políticas ou pela sociedade civil), foi estendida a todo o país em 2005.

Visando dar apoio aos mais de cinco mil pontos de atendimento do BB espalhados pelo Brasil, à época, foi necessário a criação de todo um estafe de profissionais para regulamentar, divulgar, e implementar a estratégia país afora. Assim, ainda em 2005, foi criada a Gerência Executiva de Desenvolvimento Regional Sustentável, órgão do BB vinculado diretamente à presidência da instituição, dada importância que se atribuiu a estratégia, tanto internamente como externamente.

1.2. Conhecendo a Estratégia DRS

O BB ao elaborar sua Estratégia DRS começa por fazer uma distinção entre projeto ou programa e estratégia. Segundo o BB,

Projetos e programas [...] diferem de estratégias, principalmente, pelo fato de que os primeiros são temporários e exclusivos, enquanto as estratégias definem “rumos” para um empreendimento ou para uma instituição, entidade ou região (Banco do Brasil, 2008, p. 90).

Mesmo pensando na perenização da estratégia, descobrimos, ao longo desta pesquisa, que a Estratégia Negocial DRS foi descontinuada pelo BB no ano de 2017, sem maiores explicações a respeito.

A elaboração da Estratégia Negocial DRS, em 2003, estava alinhada a cultura organizacional da instituição. Para corroborar com essa afirmação basta analisar o Planejamento Estratégico do BB. No tópico destinado a missão da empresa essa informava que pretendia: “Ser a solução em serviços e intermediação financeira, atender às expectativas

(21)

19 de clientes e acionistas, fortalecer o compromisso entre os funcionários e a Empresa e contribuir para o desenvolvimento do País” (Banco do Brasil, 2008, p. 91, grifo nosso).

Ainda dentro do planejamento estratégico do BB, da época, 2003, observa-se no item que trata sobre as “Crenças” que o BB tinha compromisso com o desenvolvimento das comunidades e do País e preocupação com a responsabilidade socioambiental. Em sua “Visão de Futuro”, o BB imaginava ser visto como uma instituição financeira que presava por apoiar empreendimentos baseados em negócios sustentáveis e com responsabilidade socioambiental. Existiam orientações, dentro do planejamento estratégico, sobre ampliação de acesso ao crédito de forma consciente (bancarização), fortalecer a atuação do banco em cadeias de valor, ampliação e fortalecimento na atuação de negócios, sendo o agente de desenvolvimento do país em bases sustentáveis; promover o acesso ao microcrédito; criar relações duradouras com clientes de menor renda (Banco do Brasil, 2008, p.91 e 92).

O DRS é uma estratégia negocial que “busca impulsionar o desenvolvimento sustentável das regiões onde o BB está presente, por meio da mobilização de agentes econômicos, sociais e políticos...”. (Banco do Brasil, 2008, p. 93).

A proposta do DRS era promover a inclusão social, através da geração de emprego e renda, a democratização do acesso ao crédito por meio da bancarização, incentivar o cooperativismo e o associativismo, auxiliar na melhoria dos indicadores sociais e econômicos e, continuar na prestação de auxilio financeiro para micro e pequenos produtores rurais e urbanos, formais ou informais, através das linhas de crédito operadas pelo BB (Banco do Brasil, 2008, p.93).

A forma como o BB oferecia apoio era através da oferta de crédito às atividades produtivas, privilegiando aquelas onde houvesse a visão de cadeia de valor.

A metodologia do programa, ou como prefere a instituição, a estratégia negocial, era através da:

sensibilização, mobilização e capacitação de funcionários do BB e de parceiros e ainda a elaboração de um amplo diagnóstico, sendo abordada a cadeia de valor das atividades produtivas e identificados pontos fortes e pontos fracos, oportunidades e ameaças. Com base no diagnóstico, é elaborado o Plano de Negócios DRS, no qual são definidos os objetivos as metas e as ações para a implementação desse Plano. A metodologia prevê, ainda, o monitoramento das ações definidas nos Planos de Negócios DRS e a avaliação de todo o processo (Banco do Brasil, 2008, p.94).

(22)

20 Ainda segundo a instituição o sucesso que se imaginava e se creditava a essa estratégia negocial era devida ao:

[...] princípio participativo e construtivista de sua metodologia, que se baseia no processo de “concertação”. “Concertação”, com o sentido de orquestração, é um processo que aglutina os diversos agentes econômicos, sociais e políticos envolvidos com a cadeia de valor de atividades produtivas selecionadas – sociedade civil, empresários, associações, cooperativas, governos, universidades, entidades religiosas, ONGs, entre outros (Banco do Brasil, 2008, p.94).

1.3. O DRS na prática, em números.

O DRS do BB foi objeto de análise de diversos organismos internacionais, entre eles o Banco Mundial, a ONU, o Fundo Monetário Internacional (FMI), dada a importância da instituição no contexto da América do Sul e mesmo em termos mundiais.

No documento intitulado “Relatório Anual de 2010”, produzido pelo BB para divulgação de números e dados a respeito de suas atividades, a fim de serem repassados ao mercado, aos acionistas, clientes e população em geral, a instituição fez questão de fazer mencionar trecho de relatório produzido pela Universidade das Nações Unidas, onde esta faz menção do DRS:

No nosso conhecimento, a Estratégia DRS é a primeira iniciativa realizada por uma instituição financeira que inclui princípios de desenvolvimento sustentável na base da sua metodologia e prática de implementação e os segue sistematicamente. (...) O BB comprovou que combinar rentabilidade econômica legítima com alto nível de responsabilidade social representa uma nova, sólida e definitivamente necessária maneira de fazer negócios. (...) O Programa merece ser continuado e reforçado e, na nossa opinião, contém elementos e adquiriu experiência que poderiam ser aplicados com sucesso em outros países (Banco do Brasil, 2010, p. 10)

Ainda segundo o Relatório Anual 2010 do BB, “a Estratégia DRS se apresenta como uma revolução pacífica e silenciosa, que contribui para reduzir a pobreza e promover o desenvolvimento de forma sólida e sustentável” (Banco do Brasil, 2010, p. 11).

De acordo com o mesmo relatório, ao final do ano de 2010 o DRS contava com 3,8 mil planos de negócio em fase de implementação os quais deveriam beneficiar cerca de 1,2 milhões de pessoas em quase 4 mil municípios brasileiros, em todas as cinco regiões geográficas do Brasil, com um aporte de créditos previstos na ordem de R$ 5,1 bilhões, destinados a financiar investimentos, custeio e capital de giro, de ações ligadas a estratégia.

(23)

21 Os números são grandiosos.

A visão do mercado, dos acionistas, da população em geral, recebendo essas informações não poderia deixar de se entusiasmar com a Estratégia DRS do BB, lançada em 2003. A priori a estratégia estava cumprindo com seu papel de gerar emprego e renda em regiões com menores indicadores de qualidade de vida. Estava, da mesma forma, contribuindo para a redução das desigualdades sociais e, principalmente, fazendo tudo isso de forma sustentável, ou seja, economicamente viável, ambientalmente correto, socialmente justo e respeitando a diversidade cultural.

Abaixo listamos a tabela 1, onde podemos observar o desempenho do DRS do BB a partir do ano de 2006 até o ano de 2010.

Tabela 1. Desenvolvimento Regional Sustentável

(1)

Período

Agências

habilitadas

(2)

Treinamentos

em DRS

(3)

Famílias/Beneficiários

atendidos

(4)

Atividades

Produtivas

(5)

2006

2.502

6.052

230.939

70

2007

3.998

13.507

725.450

100

2008

4.028

14.974

1.211.368

100

2009

4.073

16.886

1.094.086

155

2010

4.176

18.507

1.167.997

143

Fonte: Relatório Anual 2010

(1) - Posição acumulada para o quarto trimestre de cada ano;

(2) Agências habilitadas: são todas as agências/PAAs habilitados a operar a estratégia de DRS (Rede Varejo). Para estar habilitada, deveria estar treinado em DRS o gerente da agência e mais um funcionário;

(3) Treinamentos em DRS: é a quantidade de treinamentos realizados pelos funcionários nos cursos corporativos do BB sobre Desenvolvimento Regional Sustentável;

(4) Famílias atendidas: quantidade de famílias beneficiadas (Pessoa Física) por alguma ação constante dos Planos de Negócios DRS em implementação (Rede Varejo). Em 2010 houve mudança de metodologia de famílias atendidas (quantidade de famílias beneficiadas) por beneficiários DRS (pessoas físicas e jurídicas envolvidas diretamente na atividade produtiva apoiada e beneficiadas por ações do Banco ou dos parceiros nos Planos de Negócios de DRS); (5) Atividades produtivas: são todas as atividades produtivas definidas pelas equipes de trabalho e registradas no aplicativo DRS em Planos de Negócios em implementação.

Fonte: Relatório Anual 2010 – Banco do Brasil

Conforme podemos comprovar, a Estratégia DRS do BB é uma estratégia robusta, de números grandiosos. É exatamente em função da grandiosidade dos números envolvidos no DRS, da possibilidade real que se vislumbrava pela estratégia em gerar emprego e renda e melhorar a distribuição de renda em regiões com baixo IDH, com atuação pautada pela sustentabilidade, pelo desenvolvimento sustentável, que iniciamos nossa pesquisa.

(24)

22

2. AS TEORIAS SOBRE REDES

Nosso objeto de trabalho foi entender, sob a ótica da relação entre os atores envolvidos, como foi constituída uma rede social de DRS do BB. Como foram escolhidos os atores? Quais as relações sociais entre os atores? Quais os laços existentes entre os atores? São essas questões que movem nossa pesquisa.

Para entender uma rede social de DRS do BB fomos buscar auxílio na literatura sobre temas diretamente envolvidos com a Estratégia de DRS do BB. Assim, realizamos uma pesquisa bibliográfica a respeito de temas que estão presentes na Estratégia DRS.

O foco do nosso estudo são as relações, as conexões entre os diversos atores e membros de uma rede social. Queremos entender como foram formadas as conexões entre os atores, como foram conduzidas as tensões e conflitos dentro da rede. Nesse sentido encontramos a Teoria do Ator-Rede (TA-R) que irão nos ajudar a entender a dinâmica de uma rede de atores sociais.

2.1. TA-R – Teoria do Ator-Rede 2.1.1. Surgimento

Após extensa pesquisa bibliográfica, podemos dizer que a Teoria do Ator-Rede (TA-R) teve a sua origem em estudos realizados no campo da Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). As primeiras obras a tratarem sobre a TA-R são encontrados mais especificamente ao final da década de 1970 e o inicio dos anos 1980. Os primeiros autores a estudarem a TA-R e ainda hoje os principais referenciais da teoria são: Michel Callon, Bruno Latour e John Law. Obviamente muitos outros autores abordam e abordaram a TA-R ao longo das últimas quatro décadas, mas para efeito desta pesquisa iremos nos concentrar nos estudos desses três autores, havendo uma ou outra contribuição externa.

As primeiras teorias atribuídas a TA-R surgem de uma crítica feita por Callon e Latour a obra de Thomas Hobbes, “O Leviatã”. Nessa crítica Callon e Latour dão os primeiros passos nos conceitos sobre “inscrição” e “caixas pretas” descritas mais adiante.

Para a maioria dos autores que realizam estudos sobre CTS e também para Callon, Latour e Law, o conhecimento é tratado como um processo de construção permanente e em constante transgressão as fronteiras entre o que normalmente de estuda e se escreve sobre o

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23 técnico e o social. Para os autores que representam a TA-R bem como os que realizam estudos sobre CTS há que se entender o conhecimento além das fronteiras que o que tido como social e o que é visto como técnico. Para essa corrente de pensadores, o conhecimento é muito mais o resultado de um produto social do que um conhecimento produzido através de um método científico. O conhecimento é algo que incorpora diversas formas materiais e ao mesmo tempo utiliza peças do social, do técnico, do conceitual, do textual, concretizando-se assim em um conhecimento que reúne aspectos bastante heterogêneos.

Por essas características pode-se dizer que a TA-R é uma teoria de cunho pós-estruturalista e também como pós-humanista uma vez que entende que o conhecimento deveria tratar da mesma forma elementos humanos e não-humanos e tampouco deveria fazer distinção do social e do natural.

Em um dos primeiros trabalhos desenvolvidos sobre a TA-R, Callon e Latour (1981) deram uma ideia de como os atores (indivíduos) formam alianças e “aliciam” outros atores para fortalecer estas alianças, criando dessa forma, redes heterogêneas feitas de humanos e elementos não-humanos. Uma vez que estas redes, segundo os autores, agem de forma autônoma as mesmas passas a ser conhecidas como redes-de-atores.

Considerando que ator, segundo os autores pode ser um elemento humano ou não-humano, pode ser definido como “qualquer elemento capaz de fazer com que a sua presença seja sentida pelos demais atores” (CALLON, LATOUR, 1981, p. 123). A nós parece que um dos objetivos centrais da rede DRS do BB é exatamente essa: ser uma rede DRS, ou o próprio BB, um ator que passe a ser percebido pelos demais atores da arena em que o BB está inserido.

Os atores são participantes que possuem interesses diversos podendo promover ou inibir a aceitação de uma tecnologia. Nesse sentido a metodologia desenvolvida pelo BB para a sua estratégia negocial DRS parece ter usado a TA-R, mesmo que isso não esteja explicito na bibliografia da estratégia negocial DRS, como a teoria que da sentido à referida estratégia, visto a similaridade entre uma e outra.

A TA-R é uma rede formada por elementos heterogêneos, humanos e não-humanos (equipamentos, máquinas, software, manuais, colegas, etc), composta por parceiros que possuem interesses variados mas que convergem para um objetivo comum. As redes não

(26)

24 têm como objetivo específico crescer, mas elas podem crescer tanto em tamanho quanto em força à medida que mais atores são adicionados (aliciados) na rede.

A TA-R se ocupa em descrever e compreender os universos heterogêneos em sua dinâmica, olhando não apenas o estado presente de uma área num momento particular, mas também seguindo o seu desenvolvimento e identificando algumas das dinâmicas das associações que produz. Esse é o grande objetivo de nosso estudo, identificar como se desenvolveu a dinâmica entre os atores da rede DRS a partir da sua criação e ao longo do seu desenvolvimento, identificando as tensões e relações que foram construídas, desconstruídas e reconstruídas ao longo do tempo.

Para Latour (1999), a rede é uma entidade em circulação, em movimento, viva, contendo diferentes escalas – do global para o local e vice-versa – onde cada local pode ser visto como um retrato, uma fotografia, um resumo, não podendo ser definida por categorias preestabelecidas, mas pela dinâmica das associações que produz. Não deve partir de hipóteses preestabelecidas. As redes baseadas na TA-R devem ser estudas observando-se e analisando-se analisando-seu comportamento e deanalisando-senvolvimento ao longo do tempo.

Segundo John Law, toda rede é:

[…] um processo de “engenharia heterogênea”, no qual elementos do social,

do técnico, do conceitual e do textual são acoplados e, então, convertidos (ou “traduzidos”) em um conjunto de produtos científicos igualmente também heterogêneo. Isto acontece na ciência. Mas eu também já afirmei que a ciência não é muito especial. Logo, o que é verdadeiro para a ciência, também pode sê-lo para outras instituições. Assim, a família, a organização, os sistemas computacionais, a economia e as tecnologias – toda a vida social – podem ser delineados de modo similar. Todos são redes organizadas de materiais heterogêneos cuja resistência foi superada. Este é o movimento crucial feito pelos autores da teoria ator-rede: a sugestão de que o social não é nada mais do que redes de materiais heterogêneos (LAW, 1992. p.26). No início da década de 1970 Latour e Woolgar (1997) iniciaram um novo tipo de pesquisa: a etnografia de laboratório. Para esses autores os pesquisadores das ciências humanas não dispendem a atenção devida às práticas científicas ao estudar fenômenos sociais. Com o objetivo de oferecer uma nova alternativa ao estudo das ciências sociais Latour buscou inovar e trazer para o estudo dos fenômenos e fatos sociais o modelo etnográfico e etnológico que a muito tempo vêm sendo usado na Antropologia por ocasião dos estudos a respeito de sociedades primitivas. De acordo com Latour:

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25

Ao ler a literatura dos antropólogos e ao falar com eles, percebi seu cientificismo. Eles estudam outras culturas e outras práticas com um respeito meticuloso, mas com um fundo de ciência. Perguntei-me então o que dizer do discurso científico se ele fosse estudado com o cuidado que os etnólogos têm quando estudam as culturas, as sociedades e os discursos pré, para ou extracientíficos. A “dimensão cognitiva” não estaria, aí também, amplamente exagerada? (LATOUR, WOOLGAR, 1997, p.12-13).

David Bloor um dos expoentes da Escola de Edimburgo (1998), em parceria com outros estudiosos, desenvolveu um programa que ficou conhecido como Programa Forte. Esse Programa Forte inovou ao colocar em relação de simetria tanto o erro quanto o sucesso. Os mesmos tipos de causa deveriam explicar tanto o sucesso como o fracasso. Para Latour e Woolgar (1997), essa questão da simetria deveria ser levada a sério na investigação da produção científica. De acordo com Latour, na relação entre natureza e sociedade, uma não deve prevalecer sobre a outra. Ao contrário, ambas devem ser tratadas nos mesmos termos, da mesma forma.

Segundo seus autores, a TA-R não representa simplesmente uma reflexão sobre o social e o tecnológico. É mais do que isso, visto que possibilita uma abordagem sobre as conexões e relacionamentos com elementos sociais e não sociais também. Permite com isso, analisar casos onde a distinção entre humanos e não-humanos não é tão precisa e onde os atores assumem variadas formas. Práticas e ações sociais são constituídas por pessoas, objetos e instituições, mostrando-nos que é necessária uma análise mais simétrica e integrada desses fenômenos complexos.

Para Latour (1994) os povos modernos veem a natureza e a sociedade como dois polos distintos e perfeitamente separados. Cada um deles tem as suas próprias regras, suas ciências e os seus cientistas, e não precisariam preocupar-se uma com a outra. Contudo, de acordo com o autor, isso é uma mera ilusão que criamos para nós mesmos, visando justificar nossos pensamentos e nossas práticas. Para Latour (1994), natureza e sociedade estão completamente misturadas e só é possível separá-las por meio da abstração. Sobre isso o autor nos diz:

Reais como a natureza, narrados como o discurso, coletivos como a sociedade, existentes como o Ser, tais são os quase objetos que os modernos fizeram proliferar, e é assim que nos convém segui-los, tornando-nos simplesmente aquilo que jamais deixamos de ser, ou seja, não modernos (LATOUR, 1994, p. 89).

(28)

26 Em função dessas discussões, a TA-R é vista como uma teoria alternativa tanto ao determinismo tecnológico quanto ao determinismo social, pois busca entender os processos pelos quais coisas e relações sociais são construídas, ou seja, como sendo o resultado de associações entre elementos heterogêneos, humanos e não-humanos.

Nesse sentido, Callon, Latour e Law desenvolveram uma abordagem que atendia a essa necessidade de uma nova teoria social, capaz de se ajustar aos estudos sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), lidando com os objetos, materiais, equipamentos, etc., de uma maneira inovadora, peculiar e diferente (LATOUR, 2012).

A TA-R percebe o social “como um movimento peculiar de reassociação e reagregação” (LATOUR, 2012, p. 25). Nas palavras de Latour, o social:

não designa um domínio da realidade ou um item especial; é antes o nome de um movimento, um deslocamento, uma transformação, uma translação, um registro. É uma associação entre entidades de modo algum reconhecíveis como sociais no sentido corriqueiro, exceto durante o curto instante em que se confundem. (LATOUR, 2012, p. 99).

Segundo a percepção de Latour (2012), os sociólogos das ciências apontam que os não-humanos (máquinas, equipamentos, lugares, manuais, colegas, etc.) têm importante participação na construção de toda e qualquer solidez. Já a maioria dos cientistas sociais concebe o social como um conjunto homogêneo.

De acordo com Latour (2005) o social deve ser compreendido através do movimento e das associações que se estabelecem entre elementos heterogêneos que estão presentes numa rede de relações traduzindo as relações entre as pessoas e materialidades presentes no nosso dia a dia e no meio em que vivemos. A ideia principal da TA-R é buscar uma nova maneira de entendermos a ciência do social. Para o autor, o social é um movimento de associações e reunião de elementos.

Além disso, outro ponto diferencial da TA-R é o fato de aceitar, “como atores completos, entidades que foram, explicitamente banidas da existência coletiva por mais de um século de explicações sociais” (LATOUR, 2012, p. 105). Ou seja, um princípio fundamental da TA-R é a inclusão simultânea de humanos, de coisas e de seus híbridos na análise sociológica. Para enfatizar esse princípio metodológico, muitas das abordagens fundamentadas na TA-R empregam a palavra actante no lugar do vocábulo ator, pois o último lembra o termo “ator social”, que é tradicionalmente utilizado na sociologia com uma

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27 conotação bastante diferente, se restringindo à indivíduos e grupos tidos como puramente humanos (LATOUR, 2012).

O conceito de ator, na TA-R é redefinido como actante. Latour (1996) define actante como sendo alguma coisa/pessoa que atua e que cuja atividade é reconhecida por outros actantes. Um actante em uma rede na TA-R pode ser definido como qualquer entidade, elemento, coisa, pessoa ou instituição que age sobre o mundo e sobre si, sendo capaz de ser representada. Latour afirma então que “não há uma rede e um actante sobre a rede, mas sim há um actante que sua definição de mundo traça, delineia, descreve, arquiva, lista, recorta, marca ou pontua uma trajetória que é chamada de rede” (LATOUR, 1996, p. 8).

Para Latour, o mais importante na TA-R não é o fato de a rede ser uma representação ou uma “coisa”, um pedaço da sociedade, um capítulo de um livro ou algo presente na natureza. O que de fato importa é o que move a rede e como esse movimento é percebido e registrado. Para Latour, tudo são redes e diante disso o ponto central passa a ser entender como as redes se conectam (ou não) e quais as influências e dinâmicas que essas conexões proporcionam. De acordo com o autor não existe uma rede mais importante ou maior que outra. O que existe na realidade são redes que são mais extensas do que outras ou com conexões mais intensas entre seus atores. Aqui percebemos mais uma vez a similaridade entre a TA-R e o conceito por trás da estratégia negocial DRS do BB. Percebemos ao longo do tempo em que trabalhamos no BB, acompanhando no dia a dia algumas redes DRS, que as mesmas, apesar de serem igualmente criadas, “produzidas” ou “gestadas”, elas ao mesmo tempo divergiam em extensão (com mais ou menos parceiros ou atores) e também divergiam em intensidade, em relações mais ou menos intensas, mais fortes ou mais fracas, nos projetando a estudar sobre a questão dessas relações fortes ou fracas, ou, de acordo com Granovetter, “laços fortes” e “laços fracos”.

De acordo com Latour, um dos objetivos principais da TA-R é instigar nos pesquisadores a questão de não observar somente os elementos humanos presentes nos estudos, mas também observar e analisar os movimentos e a agência dos elementos não-humanos. Reforçamos aqui mais uma vez que o grande mérito da TA-R é a inclusão de elementos não-humanos nas análises sociais. Segundo a TA-R, os elementos não-humanos (materiais e/ou biológicos) passam a ter “agência” e como tal participam das ações do cotidiano e muitas vezes podem provocar transformações nesse cotidiano, mudando com isso a constituição do social.

(30)

28 Mas é preciso deixar claro que humanos e não-humanos não são iguais. Justamente por isso podemos afirmar que as redes baseadas na TA-R são redes de caráter heterogêneo.

Já para outro autor da TA-R, as redes nada mais são do que as materialidades heterogêneas, ou seja, realizações inacabadas e parciais em constante ordenação, na medida em que a ordem é um efeito, sendo produzida pela estabilização parcial de significações heterogêneas (LAW, 1994). Nesse sentido, os processos de ordenação são obtidos através de “translações”. E os atores ao longo do processo modificam, deslocam ou transladam seus diversos e muitas vezes, contraditórios interesses, no intuito de através dessa translação torna-los comuns para os atores da rede.

Analisando os conceitos por trás da estratégia DRS do BB, temos aqui mais uma similaridade entre TA-R e DRS: a questão de tratar os diferentes interesses entre os atores integrantes da rede e objetivando fazer com que todos passem a ter um interesse, um objetivo em comum.

Para Callon, outro “fundador” da TA-R, o inicio de uma rede, é um processo bastante complexo, visto que os diversos atores, representados por seus porta-vozes, com seus interesses muitas vezes antagônicos, podem muitas vezes fazer com que a rede se desarticule e a mesma seja dissolvida ou esquecida.

Outro aspecto bastante interessante verificado na dinâmica das redes é entendê-las como uma estrutura ou mecanismo de governança, capaz de integrar múltiplos “portadores de interesse”. A esses conjuntos articulados “em forma de rede”, são conferidos, a priori, inúmeros atributos ou propriedades emergentes: flexibilidade, horizontalidade, cultura democrática, entre outros. No processo de “concertação” proposto pela estratégia negocial DRS do BB, este ponto também é muito discutido, visto que buscava “ouvir”, ou “dar voz” a todos os atores/parceiros que foram “aliciados” para compor a rede DRS, mas ao mesmo tempo o próprio BB buscava a convergência de todos para o interesse do objeto de apoio, ou para a atividade a ser apoiada pela rede DRS.

O pontapé inicial para as análise sobre a TA-R não se referem a ordem instituída, mas sobre a incompletude e pluralidade dos processos pelos quais a ordem é constituída. Conforme Law (1994) trata-se de uma sociologia de verbos (em ação, em movimento) e não de uma sociologia de nomes.

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29 De acordo com Latour (2007), o ator não é uma fonte de ação, quer seja ele um indivíduo, um grupo ou uma organização. O ator só existe através de um conjunto de associações, estabelecidas entre agentes humanos e não-humanos, conectados entre si por meio de diferentes processos de tradução. E nesse sentido, a TA-R funciona como uma ferramenta que permite seguir determinadas cadeias de tradução.

Outro ponto que gera muitas controvérsias na análise da TA-R é o fato de que os elementos do mundo material não são apenas mobilizados pelos humanos, mas participam efetivamente da ação.

Em relação a TA-R e sua crescente utilização em trabalhos acadêmicos relacionados a temas como agricultura, sustentabilidade e outros relativos ao mundo rural acreditamos que este fato deva-se à forma como o conceito de rede, nos termos propostos pela TA-R, influencia a percepção do espaço como uma dimensão analítica, possibilitando uma nova leitura das relações que se estabelecem entre o local e o global, as redes e o território, o agrícola e o rural. A ação das redes constrói também o espaço, que passa a ser compreendido, cada vez mais, como um espaço político.

Ao longo das pesquisas sobre a estratégia negocial DRS percebemos que a mesma foi muito usada pelo BB no seu relacionamento com órgãos das administrações municipais e estaduais. Um dos objetivos negociais presentes na estratégia DRS era a conquista de negócios junto às prefeituras e governos estaduais, buscando manter ou conquistar serviços como, por exemplo, pagamento dos salários dos servidores. Em outras palavras, conquistar ou manter a folha de pagamento das administrações municipais e estaduais, que sempre foram objeto de disputa entre as instituições bancárias pelo interesse em ofertar todo o portfólio de produtos bancários aos servidores públicos.

Outro aspecto extremamente complexo da TA-R é o fato da mesma não se constituir em um campo unificado e estável de conhecimento. Ao contrário a TA-R é constantemente revisada e estendida, sendo, portanto, uma das características principais da TA-R a amplitude de seu uso em diferentes contextos e situações, não obedecendo a delimitações artificialmente produzidas pelos campos do conhecimento (LATOUR, 1999; LAW 1999).

A TA-R, além de possibilitar a integração analítica do relacional com o estrutural permite também proporcionar uma análise conjunta das dimensões econômicas, social e

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30 política e seus eventuais imbricamentos. Assim o é a questão da estratégia DRS, que prevê no seu marco conceitual a questão do “ambientalmente correto, socialmente justo, economicamente viável, respeitando a diversidade cultural”. Destes aspectos e seus respectivos imbricamentos percebe-se que a estratégia DRS, apesar de não tratar da dimensão política especificamente, entende que há os desdobramentos naturais nessa dimensão, ou seja, ao se tratar das dimensões econômicas, sociais, um imbricamento quase que natural é a dimensão política, implícita nas duas anteriores. Com isso, através da TA-R é possível abordar as organizações contemporâneas a partir de uma compreensão de como elas realizam a agilidade e a flexibilidade de aparências que querem exibir.

Ao enveredarmos para o lado metodológico do tema, percebemos que tanto os estudos em CTS quanto os estudos embasados nas teorias da TA-R não trabalham nem com dedução nem com indução. Seu propósito é seguir pistas e dar voz aos atores que configuram as redes sociotécnicas. Dessa forma não faz sentido preestabelecermos hipóteses e tampouco definir métodos de pesquisa. Segundo os autores da TA-R e os estudos sobre CTS, todo o processo de conhecimento deve ser construído durante a observação do objeto de pesquisa. Contudo, considerando que o objeto de pesquisa foi o de estudar a rede DRS do BB na Comunidade do Imbê, município de Poconé (MT), utilizamos a técnica de estudo de caso aliado a entrevistas semiestruturadas, para descrever as parcerias ocorridas, as relações e tensões observadas na rede estudada.

Sobre o aspecto metodológico presente na TA-R, mais adiante abordaremos a questão da “Cartografia das Controvésias”. No momento ainda iremos continuar nos desdobrando no sentido de mostrar a riqueza de olhares e análises que a TA-R nos oferece.

De acordo com Callon, outro expoente da TA-R, o trabalho dos cientistas e engenheiros não é somente fazer descobertas, mas também arregimentar aliados (etapa de sensibilização e capacitação dentro da estratégia DRS) e estabelecer atores-rede, os quais são inscritos em artefatos técnicos e fatos científicos.

Para Latour (1996), a TA-R não trata sobre redes que foram traçadas, e sim sobre a atividade de traçar redes. É nesse aspecto que reside uma das grandes riquezas da TA-R, ou seja, o que possibilita analisar as organizações como um processo inacabado, em constante estado de transformação. É nesse sentido que esse trabalho foi realizado. Por mais que no processo de formação acadêmica sejamos impelidos a indicar as hipóteses e a metodologia da nossa pesquisa, é na TA-R que buscamos os conceitos para defender que nosso estudo sobre a

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31 estratégia DRS tentou não antever nada, mas ao contrário deixar o próprio estudo conduzir o trabalho. Estudamos assim, uma rede na sua conceituação, criação, dinâmica e posteriormente analisar os resultados obtidos a partir das observações e entrevistas realizadas. Diante disso, abandonamos nossas hipóteses para não entrarmos em conflito com a metodologia que passamos a adotar.

É por isso que a TA-R é uma teoria que entende ser a ciência um objeto em ação, em processo de construção, tratando de estudar os processos coletivos humanos e não-humanos.

2.1.2 Tradução dentro do conceito da TA-R

Em nossa pesquisa exploratória a respeito da TA-R, muitas vezes observamos que a mesma é referenciada como sinônimo ou como sendo a própria Sociologia da Tradução. Um dos textos mais importantes sobre a sociologia da tradução é o estudo realizado sobre o estabelecimento de relações de poder em uma comunidade de pescadores na Baía Saint Brieuc, França, onde três biólogos marinhos tentaram desenvolver uma estratégia de conservação de vieiras (CALLON, 1986).

Callon (1986) ao estudar o trabalho de cientistas na criação de vieiras no sul da França buscou explicitar o processo de negociação e consenso que surgiu entre os diversos atores da pesquisa, entre eles cientistas, pescadores e as próprias vieiras (elemento não-humano). Tal trabalho apresentou os conceitos de Tradução, Ponto de Passagem Obrigatório (PPO) e Simetria generalizada.

De acordo com nossa pesquisa exploratória a respeito do tema, a sociologia da tradução pressupõe três princípios metodológicos básicos, quais sejam: i) agnosticismo: explicado como sendo o aspecto relacionado a imparcialidade do observador com relação aos atores engajados na controvérsia, ou no objeto de pesquisa/estudo. Não deve haver nenhum tipo de privilégio a nenhum ponto de vista em particular; ii) simetria generalizada: entendida como sendo a parte referente ao comprometimento do observador na busca em explicar os pontos de vista conflitantes nos mesmos termos. Requer o uso de um único repertório para descrevê-los. Os atores, tanto humanos como não-humanos devem ser tratados da mesma forma; e iii) livre associação: refere-se ao fato do observador precisar abandonar todas as distinções pré-estabelecidas entre os fenômenos naturais e sociais. Ele deve rejeitar a hipótese de uma fronteira definitiva que separa os dois elementos.

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32 Para Callon (1987), a tradução é um mecanismo de convergência entre os diversos elementos heterogêneos (humanos, não-humanos, econômicos, políticos, etc.) em uma rede sociotécnica.

A tradução também é entendida como a mobilização de atores em torno de um objetivo comum, o Ponto de Passagem Obrigatório (PPO), o qual estabelece a ligação na rede de atores. Callon observa que os cientistas estabeleceram um PPO e formularam identidades para os pescadores, vieiras e comunidade científica, tornando-se, portanto, porta-vozes desses grupos. Esse é um aspecto também presente na estratégia negocial DRS do BB. A ideia da rede DRS é levar todos os atores/parceiros, através da fase de sensibilização, a “abraçarem” a mesma causa, o mesmo objetivo em comum a ser perseguido, alcançado.

Para Callon (1987)os processos de tradução estão divididos em quatro etapas: 1. Processo de problematização: que envolve a identificação dos atores e estes buscam se tornar indispensáveis aos outros através da definição de problemas e sugerem que estes sejam superados por meio de PPO. Nessa etapa, o ator central define um problema de tal forma que os outros reconhecem este problema como sendo deles também e começa a haver uma tentativa de se encontrar uma proposta para resolvê-lo. Procura também definir identidades, os objetivos e as necessidades. Em outras palavras, o ator central define um PPO pelo qual todos tem de passar para satisfazer seus interesses;

2. Processo de atração (ou interessamento ou persuasão): é a etapa que se configura em uma série de processos através dos quais os atores buscam “aprisionar”, reter, outros atores em seus respectivos papéis propostos. Esta etapa engloba o mapeamento das preferências e alianças dos atores e suas possíveis ligações com o PPO. É nesse momento que o ator central busca convencer os demais atores definidos na etapa anterior a aceitar a sua visão do problema. Para isso, o ator central se vale de vários artifícios (negociações) visando manter a participação dos demais atores e então, construir uma aliança. Os atores nem sempre participam diretamente das negociações, mas sim os seus porta-vozes ou representantes. Para exemplificar melhor: um fornecedor de produtos relacionados a Tecnologia de Informação (TI) fala em nome de um sistema, e o sindicato dos produtores rurais fala em nome dos produtores/proprietários de terras. Porém, é de se esperar que não haja garantia de que os atores (sistema ou produtores rurais) irão necessariamente agir conforme os acordos fechados pelos seus porta-vozes. Este fenômeno é conhecido na literatura sobre a Sociologia da Tradução como “traição”.

(35)

33 3. Processo de envolvimento (ou engajamento ou alistamento): é a etapa onde ocorre uma sucessão de estratégias a partir das quais os atores buscam definir e inter-relacionar os vários papéis que foram designados aos demais. Esse processo tenta evitar possíveis desacordos e assim permitir a construção de um sistema de alianças estáveis, identificados por Granovetter como sendo os “laços fortes”. Essa etapa envolve as negociações para eventuais alterações das preferências dos atores da rede na direção do PPO. Essa etapa só irá ocorrer se a anterior tiver obtido êxito. Nesta etapa os papéis são definidos e aceitos pelos atores. Contudo, como o envolvimento não é necessariamente definitivo, pode ocorrer também nesta etapa o que já nos referimos anteriormente, ou seja, a “traição” de um aliado (ator alistado).

4. Processo de mobilização: é a etapa onde se percebe o uso de uma sequência de métodos utilizados pelos atores para garantir que o porta-voz por eles nomeado seja capaz de representar a coletividade, sem riscos de traição em período subsequente. Engloba as ações dos atores para que o objetivo seja alcançado. É aqui que a rede “transforma” os atores em entidades representativas do interesse coletivo e leva a designação de porta-vozes oficiais. Estes representantes mobilizam os atores tornando as suas proposições aceitas e indiscutíveis. Muitas vezes, como parte do processo de mobilização, ocorre a “inscrição”, isto é, uma vez alcançado o acordo entre os atores, este compromisso precisa ser registrado socialmente através de uma inscrição. Como exemplo de “inscrição” podemos citar a criação de textos (criação de um manual de rotinas a serem observadas) ou artefatos técnicos (como sistema informática para acompanhar o processo de produção de leite nas propriedades rurais).

Portanto, a tradução ocorre quando os atores/parceiros passam por essas quatro etapas e alternam suas preferências para o PPO, criando uma unicidade de objetivos o qual será posteriormente inscrito em artefatos materiais.

A nosso ver, a tradução não se configura como sendo um conceito funcionalista, haja visto que a tradução não é perene. Assim, as tensões que ocorrem entre os diversos e diferentes atores/parceiros podem levar ao desfazimento da rede que havia sido previamente estabelecida. Isto é, segundo Callon (1986), o PPO inicialmente estabelecido pode não mais atrair os interesses dos atores e a rede sofrer um processo de descontinuidade.

Já na visão de Latour a tradução corresponde à “interpretação dada pelos construtores de fatos aos seus interesses e aos das pessoas que eles alistam” (LATOUR, 2000, p.178). Tradução (ou translação) de interesses significa adaptar o objeto de tal maneira que ele atenda aos interesses explícitos dessas pessoas, cedendo e deixando-se alistar por elas,

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34 deslocando-se do interesse explícito, fazendo desvios de rota e tornando-os invisíveis de tal forma que o grupo alistado ainda acredite estar percorrendo uma linha reta (sem abandonar seus próprios interesses), remanejando e deslocando interesses e objetivos e inventando novos grupos, associando-os a novos e inesperados aliados. Nesse ponto podemos fazer um paralelo com a teoria de Granovetter a respeito da força dos laços fracos. Segundo Granovetter (2000), são os laços fracos que permitem que o conhecimento flua para outras redes. São os atores/parceiros que constituem os laços “fracos” os responsáveis por retransmitir o conhecimento para outras redes que eventualmente participem (família, escola, trabalho, etc.).

Latour atenta também para duas formas de interpretação da palavra tradução. Do ponto de vista linguístico, traduzir significa transpor de uma língua para outra e, no sentido geométrico, significa transpor de um lugar para outro. Assim, “transladar interesses significa, ao mesmo tempo, oferecer novas interpretações desses interesses e canalizar as pessoas para direções diferentes” (LATOUR, 2000, p.194).

Em função do exposto podemos dizer que o conceito de tradução é um elemento se suma importância com vistas ao entendimento da TA-R. Resumidamente podemos dizer que traduzir significa, principalmente, atribuir a um elemento de uma rede de atores/parceiros “uma identidade, interesses, um papel a ser representado, um curso de ação a ser seguido e um projeto a ser posto em prática” (CALLON, 1986, p.24).

Ao abordar os métodos de tradução, Latour destaca a figura do porta-voz. Para o autor o porta-voz é um agente indispensável para o desenvolvimento de uma tradução bem sucedida. Este agente “é aquele que fala em lugar do que não fala” (LATOUR, 2000, p.119). Em síntese, é este o ator da rede que representa os interesses de seus pares, sendo, portanto, a voz de um grupo.

Latour nos trás ainda outra contribuição importante. A questão das modalidades positivas e modalidades negativas. O sociólogo francês faz uma diferenciação entre modalidades positivas (sentenças que afastam o artefato de sua condição de produção) e modalidades negativas (argumentos que conduzem o artefato para sua condição de produzido). Tais modalidades não se situam apenas no campo da política, mas no campo do tecnológico também. São processos de tradução.

Referências

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