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Título Original: A Long Trail Rolling Copyright 2017 por Lizzi Tremayne Copyright da tradução 2021 Leabhar Books Editora Ltda.

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Título Original: A Long Trail Rolling Copyright©2017 por Lizzi Tremayne

Copyright da tradução©2021 Leabhar Books Editora Ltda.

Tradução: Francine Cunha Revisão: Ricardo Marques Diagramação: Jaime Silveira Todos os direitos reservados.

Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização por escrito do

proprietário dos direitos autorais.

Todos os direitos reservados, no Brasil e língua portuguesa, por Leabhar Books Editora Ltda.

CP: 5008 CEP: 14026-970 - RP/SP - Brasil E-mail: leabharbooksbr@gmail.com

www.leabharbooks.com

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C AP TULO 1

ABRILDE 1860, ECHO CANYON, TERRITÓRIO DE UTAH, ESTADOS UNIDOS. E cheiro de sangue.

Seu sabor metálico assaltou seus sentidos antes de ser ofuscado pelo fedor da morte. Recuando para examinar a parede íngreme do penhasco que se erguia diante dela, sua respiração ficou presa na garganta e um soluço escapou.

Finalmente o encontrara.

Uma bota preta surrada e um casaco de pele apareciam na neve, seu corpo preso na parte inferior de uma fenda a um metro acima da cabeça dela. Olhou para o topo do penhasco, de onde ele deve ter caído, mas não viu ninguém.

Encontrando apoios onde não havia, Aleksandra Lekarski escalou a parede enquanto seu coração se apertava no peito. Ela puxou o corpo frio e rígido de seu pai para o chão, dando graças por ele estar fora do alcance dos lobos cujas pegadas cobriam a neve onde ela estava agora. Seu mundo turvou quando caiu de joelhos e abraçou a cabeça sem vida em seu colo, embalando-o. Lágrimas incessantes escorreram pela túnica de pele de veado.

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Com uma dor entorpecente em sua mente, ela correu as mãos trêmulas sobre o corpo, procurando respostas. O que poderia ter feito um caçador experiente como Krzysztof Lekarski cair de um penhasco e sucumbir a uma morte típica de um novato?

Isso não podia estar realmente acontecendo.

Há apenas sete dias, ele se despediu dela com um beijo e olhos brilhantes.

— Mantenha o fogo aceso no defumadouro desta vez, está bem, Aleks?

— Claro, papai, eu prometo. Volte logo. Vou sentir sua falta.

— Vou voltar antes que sinta a minha falta e então iremos vender as peles do inverno passado na feitoria.

Nunca mais iremos para a cidade juntos.

Aleksandra sentou-se sobre os calcanhares e colocou as mãos em sua cabeça, que girava, os dedos puxando seu cabelo até doer, então choramingou e voltou sua atenção para seu pai.

Se encolheu com o que restou de seus olhos… e estava feliz por ele estar na fenda estreita, pequena demais para grandes predadores. Os besouros estiveram lá, ou algum roedor, talvez até um falcão. O cheiro de decomposição era um forte contraste com a mordida limpa da neve fresca.

Tentando não respirar pelo nariz, ela engoliu em seco, o estômago revirando.

As mãos de Aleksandra congelaram quando seus dedos encontraram uma crosta dura de sangue. Seu coração parou completamente ao ver o corte ensanguentado de quase três centímetros de comprimento em seu colete de pele de gamo, que se repetia em sua parede torácica. Ela o virou.

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Uma laceração do mesmo tamanho saía do couro macio que cobria suas costas.

Papai não tinha simplesmente caído no penhasco. Nada além de uma espada faria um ferimento desses.

Os ouvidos de Aleksandra começaram a zumbir, seu mundo se estreitando em uma pequena lacuna, enquanto lutava contra o pânico crescente.

Não podia ser… Vladimir não poderia ter nos encontrado.

Não depois de mais de duas décadas, dois continentes e o Oceano Atlântico.

O chão rodou enquanto ela se curvava sobre a forma imóvel de seu pai.

Fechando os olhos para parar o movimento, se lembrou das palavras que seu pai repetia sem parar, para que ela sempre se lembrasse:

— Ele vai nos perseguir. Vladimir virá atrás do segredo e devemos estar preparados para esconder isso dele, a todo custo, sempre.

Mas que custo.

Apesar de todo o seu ser desesperado para desmoronar pela perda de sua única família remanescente, os anos de treinamento de seu pai para proteger seu segredo a impediram. Lutando para puxar o ar para seus pulmões, ela olhou ao redor da base do penhasco. Sua visão clara agora mostrava mais sinais de lobo: arranhões na parede abaixo do corpo e a neve branca escurecida pelo sangue ao lado de manchas amarelas fedorentas.

Deixar seu corpo aqui, sabendo que os necrófagos voltariam, seria a coisa mais difícil que ela já fez, mas Aleksandra sabia o que seu pai exigiria que fizesse.

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Com o coração apertado, ela caiu no chão da floresta ao lado dele e respirou fundo o vento frio que assobiava vale acima. Fechando os olhos, tocou os lábios no topo da cabeça em seu colo. Com as mãos trêmulas e as lágrimas fluindo novamente, Aleksandra ergueu a tira de couro da bolsa de remédios shoshone com contas do pescoço de seu pai e puxou o anel de sinete de seu dedo. Beijando-o mais uma vez, ela o cobriu com folhas secas e neve, suplicando aos espíritos da floresta que cuidassem dele com amor, se não conseguisse voltar.

Levantou-se e se virou para sair, mas em meio à miséria enevoada em seu cérebro, lembrou-se de verificar as ferramentas do trabalho de seu pai.

A bainha da espada de caçador estava vazia e seu rifle havia desaparecido.

A arma de fogo estava perto, meio coberta por um galho cheio de neve, mas mesmo depois de procurar por minutos preciosos, seu shashka não estava em lugar algum. Com uma pontada de arrependimento, ela desistiu de buscar a espada cossaca. Colocou seu próprio rifle no ombro e olhou de volta para o homem que amava mais que a própria vida, seu coração apertado, com uma promessa e uma oração por sua alma. As lágrimas secaram frias e grudadas em seu rosto enquanto olhava além do cadáver em decomposição para o coração de seu pai. Voltou mais uma vez para afastar as folhas congeladas e dar um beijo de despedida nele.

Seus olhos percorreram a clareira de álamos na luz brilhante da manhã.

Ninguém a observava. Com o silêncio e a velocidade do kwahaten, o antílope, seu nome para o povo shoshone que acolhera sua família como deles, ela correu para seu pônei.

— Agora somos só nós dois, Dzień — disse, sufocando enquanto o desamarrava e pendurava o rifle nas costas. Saltando enquanto ele disparava em um galope, voaram de volta para a cabana, o pônei indiano parecendo sentir a urgência e a obstinação de sua dona. Retardando-o para uma

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caminhada furtiva enquanto se aproximavam da cabana, ela deslizou das costas de Dzień, sinalizando para ele esperar. Depois aproximou-se da cabana. Diante da porta aberta, papéis espalhados sob uma leve camada de neve, tremulando com a brisa fria. As portas abertas do celeiro balançaram lentamente para frente e para trás.

Agora o garanhão de seu pai deveria estar destruindo o estábulo e o campo, mas Rogan se fora. Ela esperou, forçando todos os músculos em busca de qualquer som, mas apenas o silêncio encontrou seus ouvidos, exceto o rangido das dobradiças. Contornou o perímetro do quintal na ponta dos pés em seus suaves mocassins de pele de veado, mantendo-se nas sombras das árvores como fazia com seus amigos shoshone enquanto brincavam. Escondida nas sombras, Aleksandra foi até a janela na parte de trás da cabana e olhou para dentro.

Prendeu o ar diante da destruição. Um intruso havia virado a cabana de cabeça para baixo e deve ter redesenhado o local com uma espada. A maciez branca dos colchões de penas cortadas cobria todas as superfícies e as roupas de cama estavam amarradas com fitas e espalhadas sobre as tábuas do assoalho, mas não havia movimento. Ela abriu a porta e deslizou para dentro, a mão no punho de seu próprio shashka.

As portas do armário de carvalho, presente de Krzysztof para a mãe de Aleksandra pouco antes de sua morte, há dois invernos, estavam abertas.

Quase chorou ao ver suas gavetas atiradas desordenadamente e os papéis espalhados.

Utensílios vagavam entre louças quebradas e panelas de ferro fundido.

Em algum recanto obscuro de sua mente, percebeu que os zakwas e as panelas de fermento ainda estavam em sua prateleira atrás do fogão, bem acima do caos.

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Ela começou a suar ao ver as tampas do fogão em profundas ranhuras negras no piso de madeira da cabana. Tampas quentes o suficiente para queimarem as tábuas de cedro significavam que ela perdera por pouco a visita do intruso quando deixara a cabana para encontrar seu pai.

Ela congelou. Nada de valor parecia ter sido levado. Fora apenas uma busca. Seu coração afundou ainda mais ao ver o vestido de musselina desbotado pelo sol em seu cabide no canto ao lado da cama, sem dúvida informando ao visitante indesejável, agora quase certamente o russo Vladimir, que alguém além de Krzysztof morava aqui.

Aleksandra subiu na mesa e olhou para o beiral. As caixas forradas de veludo de seu pai ainda estavam no devido lugar. Ela ergueu as tampas e quase sorriu, então saltou e saiu pela porta. Contornando o quintal novamente, abriu silenciosamente a porta dos fundos do celeiro e espiou para dentro. O cheiro de verão de feno novo atingiu suas narinas quando entrou e avaliou os danos. O invasor também passou um bom tempo aqui.

Arreios e ferramentas de construção estavam espalhados pelo chão de terra, o conteúdo da sala de jantar e a pilha de feno espalhados.

Bem, isso explica o cheiro.

A carroça e o docar ainda permaneciam lá, mas os trilhos do portão da cocheira de Rogan estavam onde haviam sido jogados. O esterco da cocheira estava seco, com vários dias.

Ela olhou ao redor dos cantos escurecidos do celeiro e do quintal lá fora mais uma vez antes de voltar a pressionar a mão no esconderijo secreto atrás da caixa de ração do potro. Enquanto seus dedos esfriavam com o toque da dúzia ou mais de frascos de vidro frios e da caixa ao lado deles, seus lábios se torceram em um sorriso agridoce. Pela primeira vez em dias,

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a melancolia de chumbo se dissipou de seus ombros, embora só um pouco.

Apesar da destruição, Vladimir não encontrou o que veio buscar.

E agora? Aleksandra ruminou, balançando a cabeça, depois respirou fundo.

Dzień trotou ao ouvir seu apito, e ela resolutamente enxugou as lágrimas em sua crina, depois o abraçou pelo pescoço com um sorriso fraco.

— O segredo de papai está seguro, Dzień. Podemos trazê-lo para casa

— murmurou, pressionando o rosto em seu pescoço peludo. Dando a volta, acariciou seu traseiro em resposta e Aleksandra se virou para beijá-lo em sua estrela branca. Ela puxou o saco de dormir e as bolsas da sela e o levou até o travois dentro do celeiro. Ajustou as duas longas estacas, amarradas com tiras de couro cru trançado, depois cobriu a parte mais larga da maca com um tapete de búfalo. O transporte de seu pai estava pronto.

Na longa caminhada de volta ao penhasco, pensou no toque amoroso de seu pai, sua presença constante em sua vida, seu sorriso doce, seus olhos cintilantes. Não os teria mais. Espiralando para baixo novamente, a ideia de se afogar no vazio era quase bem-vinda, mas ela cerrou os dentes e afastou os pensamentos. O foco agora estava em sobreviver. Aleksandra suspeitava que Vladimir não sabia a natureza exata do que procurava, mas, ainda assim, ele voltaria. Ela precisaria estar pronta. Melhor ainda, precisaria ter partido.

Aleksandra não se enganou. Seu pai, um sobrevivente da ocupação da Polônia pelos austro-húngaros, passou incontáveis horas ensinando autodefesa aos filhos. Infelizmente, as habilidades de Aleksandra com um shashka nem se comparavam às de seu pai… e ainda menos com as do próprio professor dele, Vladimir. O russo era, de acordo com seu pai, insuperável com a curta espada cossaca russa.

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— É uma boa espadachim, Aleks, mas sua impetuosidade a coloca em apuros — papai sempre dizia, balançando a cabeça enquanto a desarmava, mais uma vez. Da última vez, ele acrescentou: — ... quer esteja lutando com shashkas ou tentando tricotar pela memória de sua mãe, que Deus a tenha, que tentou reconciliá-la com sua feminilidade.

Aleksandra sorriu em meio às lágrimas. Um tricô que sempre terminava em um monte de pontos desiguais e caídos – inevitavelmente jogado em um ataque de raiva em um conjunto de chifres no alto da parede da sala de estar.

C do penhasco, Dzień levantou a cabeça e cutucou as orelhas, farejando a brisa, em seguida, dirigiu-se para a pilha de folhas que cobria Krzysztof. Parou a dois metros de distância.

Aleksandra deu-lhe uma palmadinha no pescoço e tentou sorrir, mas não conseguiu. Soltou a cabeça do pônei para ajustar o travois. Respirando profundamente pelas narinas dilatadas, Dzień deu um passo em direção a Krzysztof. Ele balançou sua crina, em seguida, acariciou o corpo sem vida, derrubando as folhas enquanto verificava o corpo inteiro do homem. Bateu nele com o casco dianteiro, então bufou e se virou, mostrando o branco dos olhos enquanto olhava para o homem imóvel com o canto do olho. O estômago de Aleksandra se contraiu.

O sangue latejava em sua cabeça enquanto lutava para arrastar a estrutura de um metro e oitenta de Krzysztof para a maca improvisada.

Dzień esticou o pescoço para observar, o focinho e a pele ao redor dos olhos ficaram rígidos e tensos.

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O pônei respondeu ao pedido gentil de Aleksandra e levou Krzysztof para casa uma última vez. Ela iria enterrá-lo com sua amada esposa e filhos em seu cemitério superpovoado, depois determinar como escapar de Vladimir e sobreviver.

— Não podemos proteger nosso segredo se estiver morta, moje drogie córki. — As palavras de seu pai voltaram à sua mente, em seu inglês com forte sotaque, mas preciso.

"Minha querida filha."

Engolindo em seco, ela agarrou a bolsa de remédios de seu pai e sufocou mais lágrimas, percebendo que nunca mais ouviria essas palavras.

Com o corpo rígido como uma corda de arco, Aleksandra manteve um olhar atento na floresta ao redor deles enquanto se aproximavam de casa e do cemitério. Rangendo os dentes, arrancou o corpo da maca e, em seguida, implorando por paciência, seguiu Dzień até o celeiro e soltou o travois. Na baia dele, tirou o freio de sua cabeça, depois esfregou o cavalo cansado enquanto ele saboreava sua aveia e rasgava o feno doce da campina do verão passado. Havia trabalhado duro por cinco dias inteiros em busca de Krzysztof. No meio de sua refeição, ele ergueu a cabeça, olhou para a baia de Rogan e relinchou suavemente antes de sacudir a cabeça e retornar à alimentação. Aleksandra o deixou em seu descanso e caminhou para a casa, a neve sendo esmagada sob seus pés, para aplacar sua própria fome por comida e consolo.

A mistura de carne, sebo e frutos silvestres que os índios chamavam de pemmican a mantiveram viva na trilha na semana anterior, mas agradeceu que os potes de milho ainda estavam onde os havia deixado quando saiu para encontrar seu pai. Secos e envelhecidos depois de cinco dias na grade de resfriamento, eram um manjar dos deuses com xarope de bordo e

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kielbasa fatiada. Com a fome saciada, Aleksandra olhou com ânsia para o fogão a lenha, mas o pensamento de acender um fogo à luz do dia com um assassino em algum lugar próximo enviou um arrepio em sua espinha. A noite cairia em breve. Ela esfregou as mãos geladas até que começaram a descongelar. Pegando o rifle, a picareta e a pá do pai, partiu para enterrá-lo com o coração dolorido.

Cavando o chão congelado, memórias de seu papai, mamãe e irmãos inundaram sua mente, mas manteve a cabeça baixa e continuou o trabalho.

Há algo que estou esquecendo, algo importante.

O pensamento voltou quando acrescentou uma cruz áspera ao monte de terra e caiu ao lado dela, lágrimas, suor e cabelos soltos fluindo sobre o último lugar de descanso de seu pai.

Lamento que não haja flores para o senhor, papai. Elas voltaram para a terra também.

Ficou sentada imóvel, mal percebendo os flocos de neve caindo, até que seu nariz e mãos ficaram frios demais para permanecer ali.

Entrando no celeiro para verificar Dzień, a mente de Aleksandra continuou, inexoravelmente... água e comida para Dzień... levar as peles para a feitoria em breve...

Mas para quê?

Desde que conseguia se lembrar, o trabalho de cada ano culminava em um vagão cheio de peles deliciosamente macias e bronzeadas para trocar por ferramentas e sementes, ração, produtos secos, tecidos, fios para roupas e arreios, bem como guloseimas para a família. As coisas eram diferentes agora.

Não tinha mais família.

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Ela se abraçou com força, ombros curvados, enquanto as faixas ao redor de seu coração se apertavam ainda mais. Com a respiração irregular, olhou ao redor do celeiro para as peles na plataforma elevada e parou em seu caminho.

— Ah, meu Pai do céu, as peles.

Cobrindo o rosto com as mãos cheias de bolhas, ela esfregou os olhos.

Lutando para lembrar a data, contou os dias enquanto seu coração afundava.

O agente da Hudson's Bay Company, em sua viagem anual de compras, já teria deixado a feitoria. Se, por um milagre, ele tivesse se atrasado, ainda poderia encontrá-lo. Correndo para a casa, tirou as peles de gamo imundas e colocou o vestido de musselina, uma lã por cima e depois o longo casaco de pele. Disparou para o celeiro, lembrando-se no último minuto de arrancar o chapéu do gancho.

— Sinto muito, Dzień — murmurou quase como uma carícia —, mas precisamos ir ao posto, agora, meu querido.

Enrugando o focinho e inclinando a cabeça, ele a olhou enquanto ela jogava a sela do arnês sobre suas costas e agilmente subia na garupa. O pônei obedeceu quando ela ofereceu o freio, embora franzisse os olhos, depois olhou para trás para o jantar quando ela o conduziu entre as hastes da carroça carregada às pressas, cheia de peles e uma sacola de ração para o pônei sitiado.

O e rodas de carroça rangendo fez Xavier Arguello se levantar. Pegou seu rifle, preparado para um ataque. Pés correndo soaram

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na varanda e a porta se abriu, batendo contra a parede quando uma garota de cabelo dourado voou para dentro da feitoria. Ela parou como se tivesse levado um tiro, então olhou descontroladamente ao redor da sala.

— Ele já foi? — soltou ela.

Xavier soltou um suspiro enquanto abaixava o cano de sua arma e a colocava no balcão, observando a garota. Lágrimas rolaram por seu rosto avermelhado e sujo.

— Perdi o agente? — Tinha olhos grandes e a boca trêmula, mechas de cachos rebeldes escapando de sua longa trança. Um chapéu amassado pendurado por laço nas costas.

Ela disparou passando por ele em direção ao abraço de Scotty e se agarrou ao proprietário da feitoria como se nunca mais fosse soltá-lo.

— Não, moça, dinna fash. — O grande escocês deu uma risadinha, dando-lhe um abraço paternal, depois segurou-a com o braço estendido. — Ele está lá atrás, preparando o cavalo, mas qual é o problema, a nighean, minha querida?

Ela assentiu silenciosamente e deu alguns passos para trás, os olhos selvagens, o peito subindo e descendo rapidamente.

— Por que as lágrimas, mo nighean bhan? — Ele estendeu a mão para enxugá-las de sua bochecha empoeirada, então olhou para trás dela e franziu a testa. — Onde está seu pai? — A cor do rosto dela sumiu com a pergunta e ficou pálida como a morte. Os dois homens a seguraram quando ela caiu no chão.

— Deixa comigo, Scotty. — Xavier ergueu a garota inconsciente e observou seu rosto pálido enquanto o homem mais velho jogava um manto de búfalo sobre a bancada. Ele a deitou sobre a pele grossa e colocou os

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dedos sobre o pulso rápido e forte em sua garganta. Suas sobrancelhas se estreitaram. — Ela sempre desmaia assim?

— Nem sabia que isso era possível. Ela geralmente é uma diabinha durona — gritou ele por cima do ombro ao sair pela porta. Depois voltou, balançando a cabeça, os lábios franzidos. — O pai dela não está aqui. Está sozinha — As sobrancelhas de Scotty quase se tocaram.

— Quem é ela? —Xavier olhou de soslaio brevemente para Scotty do lado da garota.

— O nome dela é Aleksandra. Ela e o pai são caçadores, lá pra cerca de uma hora nas montanhas Wasatch. Moram lá há anos. — As sobrancelhas de Scotty estavam abaixadas, os lábios apertados sob o bigode, enquanto ele distraidamente enxugava o whisky que tinha derramado no balcão quando o furacão loiro soprou pela porta.

Xavier sentiu seu pulso novamente e pegou um tapete indígena para cobri-la.

— O que será que aconteceu com o pai dela?

Ambos os homens ficaram em silêncio, olhando para Aleksandra.

Muita coisa poderia acontecer com um caçador no rio Weber, no território de Utah. Se um acidente ou uma doença não o atingisse, índios selvagens ou um salteador de estrada poderiam resolver a questão.

— Também não faço a mínima ideia. O pônei dela está exausto e nunca vi Dzień nem mesmo suar a cabeça. — Ele fechou os olhos e esfregou o antebraço na testa suada. — Não gosto nada disso.

— Quando os viu pela última vez? — O olhar de Xavier deslizou do rosto de Aleksandra para o de Scotty.

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— Eles estiveram aqui há cerca de um mês. Pro jantar — disse ele, voltando sua atenção para a forma imóvel da garota. — Ela não é linda?

— Acho melhor eu cuidar do cavalo dela, como disse que era o nome dele, mesmo?

— É Dzień, algo entre "gin" e "jean". É "dia" em polonês.

— Polonês, entendi — Xavier ergueu uma sobrancelha e começou a caminhar para a porta.

— Obrigado, Xavier, mas deixa comigo. — Scotty respirou fundo e saiu pela porta, balançando a cabeça. — Ela não trata o cavalo assim.

Nunca vi isso — murmurou, descendo os degraus até onde o comprador de peles estava olhando para a carroça com suas pilhas de peles, o vapor subindo do corpo gotejante do pônei.

A tensão na mandíbula de Xavier diminuiu quando o pulso de Aleksandra desacelerou e se fortaleceu sob seus dedos, sua cor retornando a um rosa saudável. Balançando a cabeça, ele deu um longo suspiro. Tinha seus motivos para sempre se manter distante das pessoas. Essa garota, com todos os seus encantos, não mudaria isso. Ele escovou o cabelo para trás com os dedos enquanto seus pensamentos voavam.

Xavier se sentou próximo para impedi-la de cair se acordasse. Com o passar do tempo, a parede ao redor de seu coração começou a se abrir um pouco. Aleksandra parecia ter passado por maus bocados. Seu rosto e pescoço tinham queimaduras de sol e quando ele virou sua mão suja, a parte inferior estava avermelhada e com bolhas. Parecia ser jovem também. Não poderia ter mais de dezessete anos, cinco anos mais nova que ele. Tinha curvas sensuais e lábios carnudos. Suspirou novamente. Já estava longe de mulheres há um bom tempo. Talvez tempo demais.

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Controle-se, hombre. Ela está desmaiada.

Fechando os olhos, ele balançou a cabeça enquanto brigava consigo mesmo.

Não preciso dessa garota, nem de qualquer outra, na minha vida.

Ainda assim, algo sobre ela tocou seu coração.

S de se despedir do agente e colocar Dzień para fora. Erguendo as sobrancelhas, sorriu ao ver Xavier ainda sentado em uma banqueta perto dela, lubrificando seu rifle enquanto cantava baixinho em espanhol, seu torso musculoso a fazendo parecer minúscula. Acordar ao lado de Xavier poderia ser exatamente o que o médico receitou para a jovem e selvagem Aleksandra.

Quando este jovem californiano tranquilo e confiante chegou na semana passada vindo do oeste em seu magnífico cavalo espanhol cinza, Scotty aceitou com gratidão seu pedido de trabalho. A hora foi perfeita, coincidindo fortuitamente com a visita do agente da Hudson's Bay Company. Caçadores de quilômetros de distância convergiam para a feitoria para esse evento anual, carregando grandes pilhas de peles para trocar pelos suprimentos do próximo ano.

Normalmente desesperado, Scotty gostou da visita do comprador de peles pela primeira vez em anos. Xavier, com mais de um metro e oitenta, fez sua parte, e mais um pouco, manuseando os sacos de carvão mais pesados como se estivessem cheios de algodão. Scotty se perguntou sobre o jovem espanhol cortês, que falava uma linguagem culta raramente ouvida

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por aqui. Parecia não ter uma história ou mesmo um plano. Não demorou muito para o escocês aprender que compartilhar confidências não estava no vocabulário de Xavier.

Mas não importa. Todo mundo tem segredos. Pelo menos fora do oeste, aqui nós deixamos as pessoas ficarem com eles!

V C os olhos do aceno hipnotizante das orelhas de sua égua castanha.

Havia outra pessoa morando lá.

Talvez eu devesse ter esperado mais – ainda não consegui descobrir o segredo de Krzysztof.

A carta no armário endereçada ao Sr. K Lekarski dizia que ele estava na cabana certa, mas por três dias ele esperou lá e vasculhou o lugar, sem encontrar nada. Ele suspirou profundamente e apertou os dentes.

As pegadas de um cavalo menor apareciam no celeiro. Podem ser da montaria de Krzysztof, ainda amarrado em algum lugar da floresta, ou podem pertencer a um cavalo de mulher, pelo vestido esfarrapado pendurado na cabana e pela aparência geral do lugar. Havia três túmulos atrás do pomar, então quem poderia saber se ainda estava viva neste deserto esquecido por Deus.

Morte – parece estar sempre ao meu redor.

Ele estremeceu. Finalmente encontrar Krzysztof depois de quase duas décadas, e então matá-lo, era algo que um mestre de armas cossaco deveria ter evitado. Fechou os olhos com força e forçou a mandíbula a relaxar.

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Depois de ter chegado tão longe, era inconcebível perder o objetivo de sua vida e de todos que ele amava com um deslize minúsculo.

A , a paciência de Xavier foi recompensada quando Aleksandra se mexeu, abrindo lentamente os olhos da cor de um céu azul claro. Mas rapidamente ficaram nublados e brilharam quando ela lançou a mão ao quadril. Pensando que cairia do balcão, Xavier largou o rifle e a agarrou, falando com ela como faria com uma potranca assustada.

— Calma, mi cariño, calma.

Ele se acalmou quando o metal frio, afiado e brilhante à luz do sol que entrava pela janela, tocou a pele de seu pescoço.

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C AP TULO 2

— S ! A , ! — Aleksandra ouviu Scotty bradar e depois continuar em voz baixa e firme. — Eu não me mexeria, se eu fosse você, Xavier. O pai dela foi treinado como cossaco e parece que ela também. — Scotty riu baixinho.

Xavier aliviou seu aperto, mas não a soltou, apesar da lâmina em seu pescoço.

— Agora, a nighean — Scotty a advertiu —, Xavier é a charaid, um amigo. Ele cuidou de você durante a maior parte da tarde.

Ela relaxou o aperto mortal em seu shashka, removendo a ponta da garganta de Xavier. Seu olhar encontrou os olhos suaves de cor de chocolate emoldurados por longos cílios negros, rugas de riso aparecendo em seus cantos. O benfeitor de pele bronzeada de Aleksandra tinha a aparência de um moreno lorde espanhol.

— A raposa tem dentes — disse Xavier com um sorriso.

Aleksandra deu a ele menos que um sorriso fraco, depois franziu a testa para as mãos dele ainda sobre ela. Cicatrizes brancas cruzavam a direita e os nós dos dedos. Ele a soltou e se afastou.

— Bem, Aleks, está se sentindo melhor depois de seu pequeno descanso? — Scotty se aproximou com cautela e removeu a espada de sua

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mão trêmula. — Que tal um copo de água? — Ele pegou uma caneca cheia.

— Já está pronta para conversar?

Ela assentiu lentamente, os olhos ainda em Xavier.

— Cadê seu pai, Aleks? — A sobrancelha de Scotty se enrugou, sua voz tenra.

O coração de Aleksandra afundou enquanto ela lutava para se sentar.

Pegando a xícara oferecida, bebeu lentamente. A frieza do líquido acalmou seus lábios rachados e sua garganta seca. Devolvendo a louça, ela se envolveu com os braços com força, queixo contra o peito. Quando balançou novamente, vagamente percebeu Xavier se aproximando.

E não se importou com sua proximidade tão familiar.

Que estranho…

Ela balançou a cabeça, então se concentrou nas palavras de Scotty e seus olhos começaram a se encher de lágrimas.

— Papai está descansando — respondeu, tão baixinho e com tanta hesitação que eles tiveram que se aproximar, inclinando a cabeça em sua direção —, com mamãe e meus irmãos. — As lágrimas turvaram sua visão antes de correrem frias por suas bochechas.

— Oh, Aleks — murmurou Scotty. Seus braços foram bem recebidos ao redor dela, quentes, segurando-a com força até que estivesse pronta para falar novamente.

— Ele saiu há uma semana para verificar as armadilhas ao longo do rio Weber. Ficaria fora por apenas dois dias, mas quando ele não voltou depois de três, eu fui procurar. Parece que cobri todo Utah e metade do Território de Washington nos últimos cinco dias. — Ela balançou a cabeça. — Nunca

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esperei encontrá-lo a apenas dois vales da cabana. Nem pensei em verificar o pequeno penhasco escarpado.

— Pobrezinha! — Scotty enxugou as lágrimas com um lenço encardido.

— Devíamos vir aqui e vender as peles quando ele voltasse para casa.

— Ela soltou um soluço, respirou fundo e continuou.

Aleksandra olhou para baixo. Estava agarrada à mão de Xavier firmemente. Quando olhou para o rosto dele, as piscinas profundas de seus olhos encontraram os dela e ela parou de falar. O sorriso dele fluiu por todo o caminho até seu coração, aquecendo um pequeno ponto em sua alma muito fria. Ela engoliu em seco e fechou os olhos.

— Papai disse que Vladimir nos encontraria. — Aleksandra engoliu em seco e continuou. — Ele me fez prometer. — Sua voz se elevou para um lamento no final.

— Quem? Quem os encontraria? Prometer? — O olhar confuso de Scotty teria sido cômico se isso não fosse um pesadelo. — Quem iria querer matar seu pai?

Aleksandra fechou a boca com força e balançou a cabeça, sentindo que poderia explodir.

Quase revelara o segredo do pai. Depois de todo esse tempo…

— Aleksandra, sabe quem matou seu pai? — As palavras de Xavier vieram suavemente, mas afiadas como aço.

Aleksandra respirou fundo, sua mente correndo atrás de uma explicação, e se endireitou.

— Há muitos anos, na Polônia — finalmente disse —, Vladimir Chabardine jurou encontrar meu pai. Deve ter sido ele. Ele destruiu a casa,

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procurando... — ela parou, com o coração apertado no peito.

Não, tome cuidado.

Ela olhou para os homens e começou de novo.

— Ele rasgou tudo que conseguiu encontrar com seu shashka — disse, então olhou para o chão, em silêncio por um momento novamente, sem encontrar os olhos de Scotty. — Oh sim, e Rogan se foi — adicionou rapidamente e olhou diretamente para Scotty.

— Rogan? — Xavier olhou-a de soslaio, as sobrancelhas juntas.

O canto dos lábios de Scotty se contraiu em um sorriso relutante.

— O jovem garanhão de Krzysztof. — Os olhos de Scotty brilharam enquanto ele compartilhava um olhar divertido com Aleksandra, apesar de tudo.

— Ele vai dar trabalho para ser capturado. — Ela meio que riu, meio que soluçou.

— O potro é um terror — murmurou ele para Xavier. — Aposto que está feliz que tenham deixado ele para trás. — Ele olhou para Aleksandra e ficou sério.

— Onde está Krzysztof agora, Aleksandra? — Scotty tocou sua bochecha com os nós dos dedos rugosos, e ela se encostou nele.

— Enterrado em nosso cemitério.

Xavier a encarou com a boca aberta.

— O enterrou pessoalmente? Neste frio congelante?

— Não tive outra escolha. — Aleksandra ergueu uma sobrancelha para ele. — Não muito fundo, mas sim.

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— Uau, não me admira que suas mãos estejam com bolhas! — Scotty revirou os olhos. — Poderia ter vindo atrás de mim, a nighean, sabe que eu teria ajudado.

— O Dzień me ajudou.

— Um belo pônei, admito — Xavier sorriu para ela —, mas não tenho certeza de quão bom ele é com uma pá.

Estreitando os olhos em sua direção, ela cerrou os dentes e puxou a mão da dele.

Scotty ergueu os olhos de onde estivera examinando o chão.

— Lamento que tenha tido que enfrentar isso sozinha. Seu pai era um dos melhores homens que tive o prazer de conhecer. — Sua voz tremeu e seus olhos brilharam, não exatamente chorando.

Xavier começou a murmurar condolências, então fechou a boca quando ela o encarou.

— E agora, Aleks? — Perguntou Scotty, depois de um longo silêncio, sua testa franzida. — É bem-vinda aqui. Poderia me ajudar a cuidar da loja.

Daríamos conta direitinho. — Ele balançou a cabeça vigorosamente e sorriu para ela.

— Meu querido Scotty, — ela tocou sua bochecha — obrigada pela oferta. Agradeço, mas posso cuidar de mim mesma. Eu vou para Newe. Os shoshone agora são minha única família e serei amada lá como se fosse uma filha.

Os homens trocaram olhares sobre sua cabeça.

— Aleksandra, isso é seguro? Sabe da confusão entre os Pah-Utes e o exército dos colonos, não sabe? — Xavier afastou o cabelo do rosto com a mão, a luz refletindo no anel de sinete em seu dedo médio.

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Ela fez uma careta para o moreno californiano.

— Meu pai é irmão por pacto de sangue do chefe Shoshone. — Ela virou a cabeça para ele. — Claro que serei bem-vinda em sua aldeia.

O rosto de Xavier sombreado e seus lábios se apertaram em uma linha fina.

— A morte é certa. — Ele se afastou e se moveu para ficar do lado de fora da porta, olhando para longe.

— Crianças, crianças — Scotty murmurou baixinho e balançou a cabeça. — Aleks, me desculpe por lembrá-la dele, mas quem é esse

"Vladdie"? Precisamos espalhar a notícia para que possamos levá-lo à justiça.

Ela arrastou o olhar de volta para Scotty de onde estavam concentrados, examinando os ombros largos e quadris estreitos do estranho bonito em calças de couro confortáveis.

— Esse é o problema, Scotty — fez uma pausa e olhou para Xavier.

Apesar de seu aborrecimento, tinha que admitir que ele era um homem muito bonito, com cabelo preto azulado passando da gola de sua camisa de pele de gamo e olhos castanhos brilhantes, quase negros quando ela os viu ao acordar…

Ela balançou a cabeça e voltou a se concentrar, depois se voltou para Scotty.

— Vladimir Chabardine. Mestre de armas cossaco, servo do Czar – armado e extremamente perigoso. Inimigo de papai. — Ela olhou para o chão, parando até que sua voz retornasse.

— Ah tá… — Scotty arriscou, as sobrancelhas levantadas. — Como vamos reconhecê-lo?

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— Infelizmente, não sei como ele é. Sei que é russo ou ucraniano.

Papai disse que tinha cabelos loiros, provavelmente grisalhos agora, e um sotaque forte. É dez anos mais velho que papai. Estará em um cavalo e terá um shashka como um cossaco, mas além disso, não sei nada — disse, baixando os olhos para o chão.

F clima neste deserto, a sensação incomum de inépcia estava levando Vladimir a contornar a curva. Estava se tornando imprudente e isso não era sábio.

Da cabana de Krzysztof, ele desceu a montanha, entrando em uma grande trilha de carroças que levava ao oeste quando alcançou as planícies abaixo. Uma hora depois, chegando a um pequeno povoado, puxou a aba do chapéu para baixo e examinou-o, mordendo a parte interna da bochecha.

Não havia como contornar as edificações próximas como estavam entre os penhascos vermelhos salientes e as margens do rio, então conduziu os cavalos por sua única rua tão rápido quanto se atreveu. Soltou a respiração quando passaram pelo último casebre do assentamento e continuaram para o oeste.

Logo depois de deixar a aldeia, a trilha de carroças cruzou o rio em um vau. Uma carroça, carregada até a amurada com peles, estava saindo da água e passou por eles quando entraram.

— Não sabe onde está, homem? Ora, é a Trilha do Emigrante! — disse o condutor, rindo enquanto Vladimir lutava para arrastar o potro louro para as águas profundas.

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Infelizmente, nem ele nem ninguém que Vladimir conheceu naquele dia tinha visto um viajante sozinho com um pequeno cavalo. A julgar pelos olhares de esguelha e a velocidade com que fugiam, sua evasão quanto ao nome e sexo daquele que procurava deve ter feito com que pensassem que ele ficara no sol por muito tempo. Não podia culpá-los. Frustrado com a falta de sucesso em encontrar o companheiro de Krzysztof, ele também queria fugir.

— C é só isso? — Scotty ergueu as sobrancelhas para Aleksandra.

Por que tenho a sensação de que ela está me escondendo algo?

— Bem, Rogan está desaparecido, — Aleksandra desviou os olhos e um rubor espalhou-se por suas bochechas — então eu imagino que ele o tenha levado — murmurou e depois hesitou. Um minuto depois, ela olhou para cima novamente. — Ele é um cavalo incomum para esta região, não acha? — Os olhos de Aleksandra pareciam conter um desafio, e desta vez ela não desviou o olhar.

Scotty inclinou a cabeça para o lado e franziu os lábios.

— O que mais, garota?

Aleksandra se contorceu silenciosamente puxando sua trança.

Quando Scotty finalmente balançou a cabeça e se virou para terminar a limpeza, ela entrou em ação e girou em direção à porta.

— Bem, Scotty, obrigada pelo descanso, mas vai anoitecer antes de eu chegar em casa, então é melhor eu ir andando — disse ela, então parou

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bruscamente.

— Oh, não, as peles... e Dzień — lamentou e se virou para encará-lo.

— Dinna fash, mo nighean. Eu segurei o comprador aqui desde ontem porque sabia que estava vindo. Ele pagou por suas peles e foi embora. — Scotty bagunçou o cabelo dela.

Ela soltou um suspiro enorme e sorriu em agradecimento.

— E aquele pônei tem um coração de ouro. Não precisa ir, sabe, seu pequeno está no estábulo, mastigando com o meu velho castrado.

Aleksandra o abraçou novamente.

— O que eu faria sem você, Scotty?

— É o mínimo que posso fazer por você e seu pai, certo? — Scotty comentou, sua voz vacilante. Sua visão turvou enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas.

— Papai não teria gostado de ver Dzień sendo explorado dessa forma, mas não podia fazer mais nada. Ele nem mesmo diminuiu a velocidade. — Ela olhou para o chão.

— É, mas ele é durão. — Scotty sorriu.

— Papai ficaria muito feliz de saber que chegamos a tempo e que o trabalho de todo nosso ano não foi em vão.

— Está certa, jovem. — Scotty sorriu com a impressão do brilho normal da garota aparecendo em seus olhos, embora por baixo dos cílios molhados. Ergueu as sobrancelhas para ela. — Agora, quer que eu guarde um pouco do dinheiro para que não seja assaltada na estrada?

— Obrigada, Scotty. Guarde tudo aqui, por favor. Não preciso dele ainda.

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— Certeza de que precisa ir hoje? — Scotty não estava convencido. — Está ficando muito tarde e podíamos preparar uma cama para você.

Os olhos de Aleksandra se estreitaram para o homem moreno ainda de pé na porta.

— Prefiro encarar os salteadores e os animais selvagens por esta noite, obrigada — respondeu asperamente. — Tenho meu shashka e o arco.

Houve um som de engasgo na entrada, então Xavier murmurou algo sobre verificar os cavalos e desapareceu do lado de fora. Scotty se virou e tossiu para esconder sua risada do par.

X Dzień à carroça quando Aleksandra saiu.

— Posso fazer isso sozinha — retrucou ela, correndo para o lado do pônei, seus olhos azuis gelados e as bochechas rosadas. Xavier sorriu enquanto ela corria para o outro lado do pônei para terminar.

— Tenho certeza disso, cariño, mas fico feliz em ajudar — respondeu, enrolando uma alça de culatra em volta do eixo e prendendo-a com firmeza.

— Obrigada — agradeceu ela, com os lábios apertados, desviando o olhar enquanto suas mãos deslizavam pela garupa de Dzień em direção à alça traseira.

— Alguma possibilidade de me dizer por que ficou loca comigo lá?

As sobrancelhas de Aleksandra baixaram enquanto olhava para uma alça que acabara de prender com força demais. Seus lábios se apertaram ainda mais enquanto a reajustava. Finalmente respondeu.

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— Não quero saber de pessoas que insultam meus amigos.

— Como, o quê? — Ele balançou a cabeça e piscou para ela.

— Meus amigos, Dzień e os Shoshones. Os únicos amigos que me restaram vivos, além de Scotty — finalizou com os dentes cerrados, e então caiu, soluçando, contra o cavalo.

Cauteloso com sua espada de aparência muito eficaz, Xavier lentamente se aproximou. Deslizou o braço em volta de seus ombros e puxou-a contra ele, atento a qualquer movimento rápido da parte dela, não se importando se as lágrimas ensopassem sua camisa. Quanto tempo ficaram assim, ele não sabia nem se importava. Uma vez que seus soluços diminuíram, ele deslizou os dedos sob seu queixo, levantando seu rosto para olhar nas profundezas aquosas de seus olhos azuis.

— Tudo bem, cariño?

— Tão bem quanto possível, eu acho. — Ela baixou a cabeça novamente. — Os Shoshone têm sido uma família para mim, especialmente desde que mamãe morreu — murmurou na camisa dele.

— Tem certeza de que não quer ficar aqui? Posso dormir no estábulo se isso a deixar mais feliz.

Ela fechou os olhos e ficou imóvel.

— Não, está tudo bem. Me desculpa, Xavier. Estou chateada, mas isso não justifica minha grosseria. Obrigado por isso. — Ela acenou com a cabeça em seu peito manchado de lágrimas.

De nada. Sem problemas. — Ele sorriu. — Posso pelo menos acompanhá-la até sua casa?

— Não, é sério, eu estou bem. Obrigada de novo. É melhor eu me despedir do Scotty. Está ficando tarde.

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— Se tem certeza… — Xavier balançou a cabeça e seguiu Aleksandra de volta para dentro.

— S , é isso? — Aleksandra piscou para a nota pregada na parede ao lado da porta da feitoria:

A Central Overland California e a Pikes Peak Express Company contratam:

Rapazes jovens, magros e resistentes com menos de dezoito anos.

Condutores experientes e dispostos a arriscar a vida todos os dias.

De preferência órfãos. Pagamento: 25 dólares por semana.

— Ah, sim. O Sr. Egan, o Supervisor de Área de Salt Lake House, veio na semana passada para nos contar sobre seu novo serviço de correio. Estão propondo enviar mensagens telegrafadas da costa atlântica para St. John, que serão levadas por mensageiros, por todo o caminho até São Francisco em dez dias…

— Dez dias? — Ela o encarou.

Se me deixar terminar, garota. — Ele olhou para o céu. — Cada cavalo vai cerca de trinta e dois quilômetros ou mais. Dá pra acreditar nisso? Estão comprando os 400 melhores cavalos que encontrarem.

Aleksandra sorriu. Sua fala engrossava quando ele estava animado.

— Parece impossível, mas ainda… — A tristeza de Aleksandra diminuiu quando ela leu novamente. — Eu poderia fazer isso — murmurou baixinho.

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Scotty a olhou de soslaio.

— Não arrume ideia, mocinha. Eles só aceitam meninos e não se parece com nenhum menino que eu tenha visto ultimamente, e mais, seu pai iria me esfolar vivo só por deixa-la ver esse anúncio.

— Verdade. — Ela olhou para seu vestido amarrotado, seu coração apertando novamente. — Bem, Scotty, preciso ir embora.

— Cuidado, aquele canalha ainda está nas redondezas e está nevando de novo. Não quero te ver presa numa nevasca. — Balançando a cabeça, ele a abraçou com força. — Vou pensar em você e em seu pai.

— Sim, vou tomar cuidado. Obrigada os dois por tudo.

Subindo na caixa da carroça, ela afagou a cabeça de Dzień, e ele começou a andar. De seu assento, Aleksandra olhou por cima do ombro para a testa franzida de Xavier e sorriu.

— Vejo os dois em breve — gritou.

Dirigindo pelo Echo Canyon, Aleksandra examinou as formações rochosas de siena que revestiam os lados íngremes do desfiladeiro bem acima dela, delineado contra a última luz da noite, então fez uma curva ao lado de um riacho sinuoso em um grande vale em direção ao norte. Estava totalmente escuro quando alcançou a íngreme trilha de carroça para sua cabana.

Aleksandra ficou ouvindo sobre a cabeça de Dzień por longos minutos quando se aproximaram da clareira da casa, até que teve certeza de que ninguém estava esperando. A exaustão e a miséria a envolveram enquanto esfregava o pônei. Ela se enrolou em um cobertor e se sentou na palha aos seus pés, agarrando-se a ele para se consolar.

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V a duvidar de sua sabedoria em pegar o enorme potro louro. Conhecendo o gosto de Krzysztof para cavalos, não ficou surpreso ao descobrir que a obediência e o porte do jovem cavalo eram incomparáveis a qualquer outro que já vira neste país. Olhando para as pilhas de peles no celeiro, deduziu que Krzysztof não ia à cidade havia algum tempo. Com sorte, tempo suficiente para que ninguém conhecido reconhecesse o potro de três anos em crescimento.

Ele se levantou.

Sua mente está divagando, Vladimir.

O fato é que, nesta parte selvagem do mundo, é normal roubar o que precisa para sobreviver. Por suas ações, no entanto, ele se transformara em ladrão de cavalos, além de assassino.

Por favor, Deus, deixe-me encontrar o companheiro de Krzysztof e seu segredo antes que quem quer que seja legalmente reconhecido aqui me encontre.

E um sonho com olhos castanhos brilhantes e cabelos negros com o hálito quente de Dzień na nuca… e memórias da devastação que fora o dia de ontem. Apesar disso, quase sorriu com o sol da manhã entrando pela porta aberta. Seu abençoado pônei não moveu um músculo a

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noite toda. Ambos os braços ainda estavam em volta de suas patas dianteiras felpudas.

O focinho inquisitivo do Mustang e o vapor subindo dos raios do sol no solo congelado aqueceram o coração de Aleksandra. Ela se levantou e se espreguiçou, depois conduziu Dzień ao pomar para comer os brotos do início da primavera. Sua garganta se apertou e as lágrimas começaram a fluir novamente quando passou pelo solo recém-acumulado no cemitério.

Desviando os olhos da nova cruz, ela de alguma forma se arrastou de volta para a casa.

Entrando na cabana, fez um esforço para arrumá-la e depois fez um lanche de kielbasa e o último dos potes de milho petrificados. Embalou alguns alimentos e o essencial nos alforjes, selou Dzień e partiu para a aldeia indiana.

Entrando serpenteando nas montanhas, a paz purificadora do ar puro e fresco da manhã e a vida abundante em torno de si acalmaram a alma de Aleksandra. Enquanto subiam, uma corça se virou para observá-la, acompanhada pela gloriosa cacofonia de pássaros e esquilos no alto.

O riacho caindo em seu leito rochoso lembrou Aleksandra do dia nevado de março em que conhecera Dancing Wolf. Ela e papai haviam encontrado um indiozinho agarrado a um galho de árvore no rio gélido e cheio, enquanto caçavam, muitos anos atrás. Procuraram na aldeia indígena e devolveram o jovem Dancing Wolf para seu pai, o Chefe Golden Hawk dos Shoshone. Naquele dia, foi estabelecida entre Krzysztof, o Chefe e seus dois filhos uma amizade que durou uma década.

Kwahaten! Kwahaten! — Crianças gritando correram em sua direção quando ela entrou na grande campina. Os cães mais velozes, curvando-se e sorrindo, foram os primeiros a cumprimentá-la, seguidos

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pelas crianças, com os dedinhos nervosos e os queridos rostinhos redondos, que a arrastaram pelas duas mãos até o aglomerado de moradias.

Mulheres que trabalhavam do lado de fora interromperam suas tarefas e acenaram para Aleksandra. Ela ergueu a mão em resposta, mas estava preocupada, dividida entre as boas-vindas entusiásticas das crianças e suas memórias dos tempos que passara aqui com seu pai.

Alto e majestoso, Dancing Wolf caminhou até ela. Seus belos olhos castanhos estavam sombreados com tristeza.

— Meu coração está feliz em vê-la viva, Kwahaten. Ontem encontrei a nova sepultura, mas ninguém na sua cabana. — Ele passou os braços em volta dela e a abraçou forte.

— Foi o papai. — Suas mãos agarraram sua camisa de camurça e as lágrimas voltaram a fluir.

— Tive medo de que fosse isso. Segui seus rastros de travois até o penhasco. Havia manchas de sangue antigas e sinais de luta nos penhascos acima. Temi por você.

Ela permaneceu em silêncio, o coração na garganta, sem saber o que dizer.

— Estávamos saindo agora para procurá-la — disse Dancing Wolf, levando-a para a cabana de seu pai. — Nossos guerreiros se reuniram para fazer uma busca. — Ele olhou para o enorme grupo de homens que esperavam.

— Por favor, agradeça a eles, Dancing Wolf. — Ela olhou para o bando reunido com admiração e acenou com a cabeça em agradecimento aos guerreiros.

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Dancing Wolf acenou para eles novamente e eles se dispersaram em silêncio. Os homens normalmente familiares pareciam enormes e ferozes em seus trajes armados de guerra. Ela se virou e abaixou a cabeça sob o arco de arbustos da porta, depois desceu para a casa submersa.

Aleksandra contou sua saga para o Chefe Golden Hawk e seu filho enquanto faziam uma refeição ao redor do fogo. O líder foi atingido pela morte de seu irmão de sangue.

Com os olhos baixos, ela desamarrou a tira de couro da bolsa de remédios Shoshone do pai do pescoço.

— Papai gostaria que ficasse com isso. — Entregou a Golden Hawk.

— Não, Aleksandra, isso é seu. — Ele fechou os olhos e suspirou profundamente. — Que isso a proteja melhor do que protegeu seu pai.

Ela a apertou contra o peito, sentindo o cheiro do pai. A bolsa de pele de veado, com seu aroma familiar, era uma parte de seu pai que ainda podia segurar e seu coração iluminou-se por tê-la de volta. Colocou o anel de sinete dentro dela e ficou feliz por tê-lo. Papai sempre disse que algum dia seria dela.

Mas esse dia chegara cedo demais.

O cordão de contas no peito de Golden Hawk subia e descia a cada respiração profunda. Ele acenou com a cabeça em direção ao filho:

— Este jovem valente pediu sua mão a seu pai no ano passado, Kwahaten, mas Krzysztof acreditava que era muito jovem para se casar.

Aleksandra se assustou e olhou através do fogo para Dancing Wolf, que a encarou com intensidade. A sala girou ao seu redor por um longo momento até que ela se lembrou de respirar novamente.

Por que papai não lhe contara nada?

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— Ele ainda a deseja como esposa. Como é filha de meu irmão, quero que more com nosso povo, agora que o resto de sua família se foi… — o sábio ancião curvou a cabeça em tristeza e fez um gesto para que seu filho continuasse.

Seu mundo agitado caiu ainda mais com as palavras seguintes do jovem.

— No entanto, meu pai decidiu, filha-de-seu-irmão-de-sangue — continuou Dancing Wolf formalmente — que não pode permitir que fique conosco, por mais que gostemos de você. Seria um insulto ao espírito de Krzysztof mantê-la aqui, sabendo que nosso povo logo estará em guerra com o seu. Os Pah-Utes estão pressionando as tribos para se juntarem a eles na guerra contra os colonos. Desejamos mantê-la aqui conosco — sua voz se quebrou por um momento —, mas nossa aldeia não poderá garantir sua segurança quando as outras tribos vierem.

Aleksandra apertou as mãos trêmulas. O vazio e a desolação ameaçaram dominá-la, mas ela cerrou os dentes e fechou os olhos, tentando controlar sua mente turbulenta.

Agora eu realmente não tenho ninguém.

Ela queria gritar e arrancar os cabelos, mas baixou a cabeça em aquiescência. Eles realmente não podiam fazer mais nada. Golden Hawk a protegeria da melhor maneira que pudesse, mas todos sabiam que sua vida seria tirada se ela ficasse na vila, fosse casada com o filho de Golden Hawk ou não. O chefe estendeu os braços em sua direção, e ela se aproximou para um último abraço antes de deixar a lareira.

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A ̃ mais nenhuma esperança, seu coração em farrapos em algum lugar no fundo de seu peito vazio, enquanto ela e Dzień vagavam montanha abaixo em direção à sua cabana.

Como eu pude perdê-los?

Ela entendeu que a cisão cada vez mais profunda entre os colonos e os indígenas não a deixaria viver em segurança no meio deles, mas e o Dancing Wolf? Como pôde não perceber seus sentimentos cada vez mais profundos por ela, quando eram tão próximos como dois irmãos?

Aleksandra se sentia atraída por ele, mas acostumada apenas às manifestações de afeto entre sua família, o crescente distanciamento dele para com ela à medida que amadureciam a cegou para a verdade. Balançou a cabeça tentando clareá-la e sorriu ao pensar em sua despedida.

Dancing Wolf a acompanhou desde a aldeia e parou no antigo ponto de encontro dos dois. O jovem alto desmontou de seu Mustang malhado e, apenas pela segunda vez desde que eram crianças, passou os braços em volta dela e a abraçou enquanto ela sentava seu pônei, em silêncio, por longos minutos.

Kwahaten, tem sido a parte mais especial da minha vida e um grande pedaço do meu coração está indo contigo. Pela sua segurança, não posso ter o que meu coração mais deseja, você ao lado da lareira, sob minhas peles — ele parou, corou e pigarreou —, cavalgando ao meu lado para sempre. Precisa ir para o seu próprio povo — finalmente conseguiu dizer. — Eu a estarei esperando. Se precisar, sabe como me encontrar.

Aleksandra acenou com a cabeça.

— Eu entendo, mas sinto que toda a minha família realmente morreu agora. Contigo, também deixo uma grande parte do meu coração. Que possamos nos encontrar novamente em breve, meu querido. — Ela beijou o

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topo da cabeça dele, apoiada contra seu peito. Ele ergueu o rosto para ela, seus olhos poços profundos de escuridão, procurando em sua alma. Seus lábios se encontraram em um primeiro beijo, a intensidade de seu toque chocou Aleksandra, e ela se afastou por um momento. Os lábios dele continuaram quentes e insistentes contra os dela enquanto ele passava os braços ao seu redor. Ela suspirou e se derreteu contra ele, seus braços se movendo ao redor de seu pescoço por sua conta própria enquanto inalava seu cheiro almiscarado. Uma forte tensão disparou em sua barriga enquanto ele aprofundava o beijo e ela respirava fundo. Ele se afastou lentamente, seus olhos escureceram até ficarem pretos, então sorriu e balançou a cabeça lentamente, soltando o fôlego. Tirando os fios de cabelo soltos de seu rosto e pegando suas mãos, ele a beijou suavemente nos lábios mais uma vez, e olhou para suas mãos entre as dele.

— O que poderíamos ter tido… — começou, depois fez uma pausa.

— ...não é mais possível, meu querido — completou Aleksandra no silêncio —, mas sempre me lembrarei. — Ela tentou sorrir, olhando para ele com os olhos turvos. Suas mãos ainda tremiam, mas pelo menos seu coração parecia como se alguém tivesse acendido um pequeno fogo por dentro, e estava quente.

— Vá agora, querida do meu coração, minha Kwahaten. Não pode ser minha, mas sempre estarei aqui para ajudá-la. — Sorrindo, ele montou em seu pônei enquanto Aleksandra virava o seu próprio Mustang e cavalgava montanha abaixo.

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D rápido quando entraram na clareira de sua casa e se dirigiram para o celeiro. Deslizando cansada da sela, Aleksandra tropeçou ao atingir o solo. Tirando a cilha e puxando a sela, ela soltou a trava de pescoço e deslizou a testeira sobre as orelhas dele. Ele cuidadosamente passou por cima dos trilhos abaixados de sua cocheira e vasculhou seu compartimento de ração, olhando para ela interrogativamente quando o encontrou vazio.

— Pelo menos algumas coisas nunca mudam, Dzień. — Ela sorriu. — Obrigada pelo seu trabalho árduo esta semana, foi maravilhoso — murmurou contra o nariz aveludado enquanto entregava as espigas de milho. Ele fungou em agradecimento na mão dela e desapareceu com sua cesta de alimentos. Recostando-se nos trilhos, ela o observou mastigar por um momento, e então se virou para planejar seu próximo movimento.

Hesitou antes de acender o fogo. A ideia de Vladimir encontrá-la fez seu coração apertar, mas estava realmente frio esta noite. O mero fato de ter que raciocinar essa escolha alertava Aleksandra de que estava sem opções.

Não era seguro para ninguém viver a vida de um caçador solitário nestas montanhas – especialmente uma jovem com um perseguidor assassino. Porém, o mais importante é que ela não apenas precisava sobreviver, mas também proteger o segredo de Krzysztof. Saber do pedido de casamento de Dancing Wolf e seus sentimentos por ela não ajudou a melhorar essa confusão, mas não havia nada que pudesse fazer quanto a isso. Ela endureceu o coração contra os pensamentos que surgiram.

Precisava sobreviver, de qualquer forma que pudesse. Realisticamente, sua melhor opção era aceitar a oferta de Scotty e dividir uma torta simples com Xavier.

Xavier…

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Outro motivo para voltar à feitoria. Aonde isso poderia chegar? Seu rosto esquentou, ela afastou o pensamento – era aquecedor, mas ainda assim desconcertante. “Eu realmente não tenho ninguém”, pensou ao deixar a aldeia indígena. Talvez fosse verdade, mas, então…

Talvez não fosse.

Olhos castanhos sorridentes, cabelos negros e um sotaque espanhol se intrometiam em seus pensamentos. Ela engoliu em seco e suspirou.

Talvez eu só precise crescer e parar de sentir pena de mim mesma.

De repente com fome, com o coração e o corpo implorando por socorro, Aleksandra pegou o zakwas e começou a preparar um pote de żurek. Semelhante ao fermento biológico usado pelos pioneiros para fermentar seus pães, os zakwas viravam żurek, a comida caseira tradicional polonesa, um sabor único quando cozido com kielbasa grelhada, bacon, batatas, cogumelos e creme de leite. Ela mordiscou pedaços crocantes da salsicha aromática enquanto cozinhava e suspirou de prazer ao empilhar os vegetais picados no forno holandês. Quase começou a sorrir de novo quando o ensopado parcialmente pronto borbulhou.

Examinando a cabana com uma caneca de tisana de ervas restauradoras à mão, Aleksandra começou a juntar pertences para levar consigo. O kit cirúrgico e a caixa de remédios do papai, depois os utensílios de cozinha, as panelas de ferro fundido e os sacos com produtos secos: centeio, trigo, sal e pemmicano. Scotty e Xavier, sem dúvida, também receberiam de bom grado as frutas e vegetais armazenados na adega e as carnes em conserva sob os beirais.

Alguns minutos com uma agulha e linha repararam um colchão de penas, a vítima menos danificada do ataque de shashka de Vladimir. Este colchão, junto com seu saco de dormir, um manto de búfalo quente e dois

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cobertores indígenas, iriam mantê-la aquecida durante todo o inverno. O arco e as flechas de Aleksandra, os rifles de seu pai e suas facas de esfolar completaram a pilha. Ela tentou encher os pulmões enquanto dedilhava o bem mais precioso de mamãe, o armário de carvalho, cada coluna, fenda e gaveta tão lindamente torneada e acabada. Foi a única lembrança física do estilo de vida szlachta de sua mãe e da família que ela havia perdido na Polônia. Cada vez que Aleksandra via a peça, seu coração doía. Sua mãe morrera tão cedo.

Aleksandra não conseguia mover o enorme mobiliário, o que era bom porque não teria coragem de vendê-la.

Virando-se resolutamente, guardou suas roupas e o último presente de papai, um pedaço de grama com ramos de alfazema, em seu baú de roupas e depois acrescentou as roupas velhas e botas do irmão para o trabalho sujo.

Com uma última olhada ao redor da casa, se dirigiu ao celeiro.

Aleksandra escolheu o docar em vez da pesada carroça. O corpo leve e duas rodas grandes facilitariam o trabalho de Dzień nas estradas lamacentas e esburacadas. Lembrou-se de quando ela e o pai o levaram pela última vez a um piquenique com a família de índios em um dos prados altos no verão passado, e suas lágrimas voltaram a brotar.

Não adianta pensar nisso agora.

Aleksandra cerrou os dentes e voltou a agir, pensando nas palavras de seu pai.

“A maioria dos acidentes de transporte podem ser evitados.”

Verificou o docar com cuidado, engraxou e apertou os eixos, em seguida, deu uma volta extra em alguns parafusos soltos nas ferragens do

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eixo, depois o carregou com ferramentas e equipamentos, ferragens, sacos de aveia e milho, arreios extras e tachinhas no espaço entre os assentos.

E para Aleksandra como algo tão simples como comida poderia confortá-la, considerando tudo que passara. Sorriu quando o żurek quente e espesso encheu sua barriga e alma até estourar. Ficou satisfeita com seus esforços do dia e sentou-se no degrau da frente, ao sol, para pensar no que faria depois. Poderia demorar muito até que retornasse.

Mordeu o lábio e olhou para o pomar, onde Dzień pastava, então sorriu.

Iriam dar um passeio.

Ao ouvir seu assobio, a cabeça do Mustang se ergueu e ele espichou as orelhas, depois caminhou pelo pomar. O pônei felizmente mordeu o freio oferecido e ficou parado como uma pedra enquanto ela subia. Passaram uma tarde tranquila vagando pelas trilhas e prados que os viram crescer juntos desde que eram apenas um potro e uma menininha. O sol já havia sumido quando ela alimentou e escovou Dzień em seu estábulo.

Aleksandra olhou ao redor das paredes da sólida casa de toras que papai e mamãe construíram, seu coração apertado. Enxugando as lágrimas com as costas da manga, cuidou do fogo e comeu outra tigela fumegante de żurek, depois se aninhou na cama pela última noite em sua antiga casa.

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O ̃ brilhou nas últimas manchas de neve derretida no quintal enquanto Aleksandra puxava o docar para a porta da cabana.

Embalou o baú de viagem sob a caixa do vagão com os bens da casa que juntou e deixou um rifle e uma faca ao alcance fácil, em seguida, amarrou uma lona sobre o resto.

Quebrando o gelo da água da banheira, Aleksandra estremeceu enquanto se lavava, depois colocou o vestido de musselina com um avental limpo por cima das peles. Em respeito à mamãe, sempre esperançosa de que seu jovem rufião algum dia se tornasse uma dama, Aleksandra amarrou um chapéu engomado sob o queixo.

Por fim, triste, mas decidida, sentou-se ao lado das sepulturas e prometeu à mãe, ao pai e aos irmãos que cuidaria de si mesma e sempre pensaria neles. Com o coração partido, Aleksandra se virou e chamou suavemente Dzień, que cochilava em sua campina. O pônei a seguiu até o celeiro, onde ela o atrelou ao docar, desculpando-se pelo peso.

Verificando o campo de visão das portas e da janela do celeiro com cuidado, Aleksandra voltou ao esconderijo atrás da manjedoura. Puxou cinco frascos de vidro pela abertura estreita e os embrulhou com cuidado, depois os colocou em uma bolsa de pele de gamo. Passou o cordão pela cabeça e a bolsa deslizou, para caber confortavelmente entre seus seios. Se assustou com o som de um pássaro voando para dentro do celeiro, então respirou fundo enquanto cobria o esconderijo novamente.

Dzień aninhou-se em sua direção quando ela foi até a cabeça dele para ajustar os antolhos.

— Bem, Dzień, esta viagem deve ser um pouco mais quente do que a última. — Aleksandra sorriu fracamente enquanto vestia o grande sobretudo e as luvas de condução do pai. Subindo na caixa, sentou-se no

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manto de búfalo que colocara no assento e descansou os pés calçados com mocassins nos tijolos quentes enrolados em suas peles. Estavam partindo, a caminho da feitoria, buscando segurança, e Xavier.

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C AP TULO 3

— O dizer com ele se foi? Para onde? — Aleksandra olhou ao redor da feitoria e depois fixamente para Scotty.

— Não sabia? — Scotty balançou a cabeça, com a testa e os lábios franzidos — Acabou que o nosso Xavier é filho de um desses fidalgos espanhóis chiques dono de um grande rancho na Califórnia.

— Ele te contou isso? — Aleksandra ergueu uma sobrancelha para ele.

— Não, ele estava dizendo para um dos caras da Overland Stage Company, aquele Bolivar Robert de Carson que o sr. Egan trouxe, que está procurando por guardiões de estação. O mesmo Sr. Egan que colocou o pôster que estava lendo antes de sair da última vez.

— Mas para onde ele foi? — Persistiu, tentada a continuar revistando a feitoria.

— Com eles. Contratado como um guardião de estação em uma de suas Estações Principais ao longo da linha. Estação Camp Floyd da Pony Express. Parece que ele sabe tudo sobre como cuidar de bons cavalos e animais, além de ser aprendido em contabilidade. Eles já começaram a rota, mas ainda faltava um guardião. — Scotty suspirou e olhou sem destino ao redor da feitoria.

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— Ele realmente se foi, não é? — Ela se sentou fortemente em um barril e olhou para Scotty.

— Ele foi embora há apenas um dia e já estou sentindo saudades — admitiu o escocês, puxando o bigode.

Aleksandra desabou. O vazio profundo em seu peito a fez querer se enrolar em uma bola e hibernar, mas sabia que não mudaria nada. Então se forçou a se levantar.

— Bem, Scotty, — Virou-se para ele e se encaminhou para a porta. — Vim aceitar sua oferta. Aparentemente, bem na hora. — Sorriu com mais entusiasmo do que sentia.

— Ah, é?

— Mas só para que saiba — Ela franziu a testa — só vou ficar se puder ganhar apenas o suficiente para me sustentar. Eu não quero ficar em dívida contigo.

— Bem, para mim está ótimo.

— Para melhorar o acordo — disse ela por cima do ombro —, as peças que eu trouxe de casa devem manter o estoque abastecido por um bom tempo.

A ̃ de Vladimir de que deveria ter ficado mais tempo na cabana do Krzysztof se repetia. Estava ansioso para voltar para o pequeno casebre na clareira. A viagem de volta foi mais rápida, uma vez que Vladimir soltou as rédeas do jovem garanhão e o deixou buscar os

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