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Dinâmica da habitação social: estudo sobre o impacto do uso e da adaptação na habitabilidade da edificação

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Academic year: 2023

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1 GIANNA MONTEIRO FARIAS SIMÕES

Dinâmica da Habitação Social: estudo sobre o impacto do uso e da adaptação na habitabilidade da edificação

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Paraíba, como requisito para a obtenção do Grau de Doutora em Arquitetura e Urbanismo.

Área de Concentração: Qualidade do Ambiente Construído.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Solange Maria Leder

João Pessoa 2022

(3)

2 Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

E-mail da autora: gianna_farias@hotmail.com

SIMÕES, Gianna Monteiro Farias. Dinâmica da Habitação Social: estudo sobre o impacto do uso e da adaptação na habitabilidade da edificação. Tese de doutorado - Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Paraíba.

Aprovado em: 02/12/2022 Banca examinadora:

Prof.ª Dr.ª Solange Maria Leder (Orientadora – PPGAU/UFPB)

Prof. Dr. Felipe Tavares da Silva (Avaliador Interno - PPGAU/UFPB)

Prof. Dr. Luiz Bueno da Silva (Avaliador Interno – PPGAU/UFPB)

Prof. Dr. Aldomar Pedrini (Avaliador Externo - UFRN)

Prof. ª Dr.ª Lucila Chebel Labaki (Avaliadora Externa - UNICAMP)

João Pessoa-PB - 2022

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3

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4 Dedico à Lívia, meu maior combustível.

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5 Agradecimentos

À minha orientadora por estar sempre presente e ser tão cuidadosa em cada etapa do meu trabalho; ao meu esposo pela grande ajuda na coleta de dados de campo e com os cuidados com Lívia; à minha família que me ajudou ficando com Lívia, muitas vezes, para eu estudar um pouco mais; à minha sogra e minha cunhada Diana por terem ajudado com Lívia para eu poder coletar os dados finais em campo; à minha cunhada Fran pelas dúvidas respondidas; aos moradores entrevistados por me permitirem entrar na privacidade dos seus lares; à Erivaldo Lopes por sempre responder minhas dúvidas com a estatística; à banca pela gentiliza de ler meu trabalho em pouco tempo e sugerir tantas melhorias; à professora Lucila Labaki pelo carinho e incentivo de sempre; à CAPES / FAPESQ-PB; à ENERGISA – João Pessoa-PB pelos dados fornecidos.

Agradeço à minha filha, Lívia, por me ensinar que a vida não é um cronograma. Sua chegada me deu um propósito muito maior. Foi por você, filha, que virei tantas noites estudando, não sabia mais diferenciar semana e fim de semana. Muitos dias exaustivos, mas eu sabia que podia ir além.

(7)

6 Um menino sonhava em ter um lar,

Um lar como aparecia nos seus sonhos, Com quarto e muito espaço para brincar.

Na cozinha poderia sua mãe cozinhar,

E chamar toda família para no sábado festejar.

Um lar bonito com terraço e quintal, Grandes janelas para o vento entrar,

E não podia faltar o local para a reciclagem guardar.

Após um dia de muito trabalho nas ruas, A coleta era a única forma de dinheiro ganhar.

O menino vivia com medo da chuva, E do barranco despencar,

Nos dias de chuva, o rio logo enchia, E inundava tudo próximo de lá.

Nas casas, a água entrava e o esgoto se misturava, Deixando toda a casa molhada e sem móvel para usar.

Nesses dias os seus pais não podiam descansar, Passavam a noite tirando a água que insistia em entrar.

Um dia veio um moço, disse que era das “Prefeituras”, Que iríamos ganhar um novo lar para morar.

Animados ficamos com a notícia de ganhar, Uma casa nova num local melhor perto de lá.

Um tanto menor que a anterior,

Agora tinha paredes de tijolos, piso e paredes pintadas, Mas o moço não contou que somos muitos para morar.

Por isso, mais um quarto precisamos criar, Para diminuir o aperto e conseguir abrigar.

Na pequena cozinha,

Minha mãe não conseguia instalar, Móveis e trecos que precisava arrumar;

Daí mandou aumentar,

E para sua máquina de lavar conseguir usar.

Mas seu moço, devo confessar, Depois da reforma e da casa ampliar, Não sentimos mais o vento entrar.

A luz do sol só lá fora se mostra, Porque aqui dentro o suor é de pingar.

O calor é na casa toda,

E o ventilador é um santo remédio, Para dentro suportar.

As janelas já não existem como antes, A ferrugem corroía sem permitir mais usar,

E foram saindo pouco a pouco enquanto a casa crescia.

Agora, muros deixam o céu mais difícil de avistar.

Seu moço, devo confessar,

Minha casa ainda precisa melhorar, Mas queira Deus que não chegue o dia, Que na minha casa não consiga ficar.

Que dormir não seja uma difícil tarefa,

E ter que procurar outro lugar para descansar.

Seu moço, eu ainda sonho,

Que minha casa se transforme no lar, Naquele que sempre sonhei em morar.

Que seja grande, seguro e bonito,

Que possa chamar de meu, de meu lar. Foto: Arquivo da autora, 2022.

Autora. Versos livres. 6

(8)

7 ABSTRACT

5

A redução do déficit habitacional do país não pode se limitar a suprimir a demanda, sem compromisso com a qualidade. Assim, esse estudo visa fornecer informações sobre o processo de adaptação da população vulnerável à habitação seriada, a partir de uma análise multidimensional: a baixa qualidade da habitação e a falta de espaço, a condição de desconforto térmico e insalubridade e a pobreza de energia. Os objetivos delineados do estudo foram: 1- avaliar o impacto das modificações realizadas em habitações sociais na habitabilidade e, 2- identificar os principais fatores comportamentais e ambientais, na habitação social, associados ao consumo de energia. Para isso, um conjunto de métodos foram utilizados, baseados em pesquisa de campo detalhada, para investigação da habitação social, tomando como objeto empírico 4 tipos arquitetônicos com programa mínimo de uso recorrente. A aplicação do questionário resultou em uma amostra com 156 pessoas entrevistadas. Os principais resultados em destaque são: a) o número de ampliações nas moradias é elevado e são mais frequentes no piso térreo; b) a necessidade de mais espaço é confirmada pelas casas que cresceram mais de 45,0% do seu tamanho original; c) as reformas têm um impacto negativo na habitabilidade das moradias, quanto mais a casa é expandida, menor é o percentual de abertura e piores os resultados nas variáveis térmicas analisadas; d) no geral as unidades habitacionais apresentaram temperaturas superiores às recomendações de conforto; e) além do desconforto térmico, muitos ambientes apresentam sinais de insalubridade; f) o percentual de insatisfação dos usuários com o calor no interior da moradia é elevado (75,0%) e com a baixa velocidade do ar (65,3%); g) o consumo de energia elétrica verificado apresenta um comportamento crescente e com reduzida possibilidade de aproveitamento do desconto oferecido pelo Estado (Tarifa Social Nacional) - 4,7% dos moradores usufruíram do desconto máximo de 65,0%; h) o consumo de energia das famílias em alta vulnerabilidade econômica é similar ao consumo dos domicílios em situação de segurança energética; i) há uma relação direta entre a posse de eletrodomésticos antigos, famílias com presença de crianças e o consumo de energia elevado; j) metade da amostra relatou optar pela restrição na compra de alimentos e outras contas, para não ter os serviços energéticos cortados. A principal conclusão é que as reformas comprometem a habitabilidade e o consumo de energia da habitação.

Palavras-chave: Habitação social; Reformas; Conforto térmico; Pobreza de energia;

Comportamento dos ocupantes.

RESUMO

7

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8 The reduction of the country's housing deficit cannot be limited to suppressing demand, without commitment to quality. Thus, this study aims to provide information on the adaptation process of the vulnerable population to serial housing, based on a multidimensional analysis:

poor housing quality and lack of space, thermal discomfort and unhealthy conditions, and energy poverty. The objectives outlined in the study were: 1- to evaluate the impact of modifications carried out in social housing on habitability and, 2- to identify the main behavioral and environmental factors, in social housing, associated with energy consumption.

For this, a set of methods were used, based on detailed field research, for the investigation of social housing, taking as an empirical object 4 architectural types with a minimum program of recurrent use. The application of the questionnaire resulted in a sample of 156 people interviewed. The main highlighted results are: a) the number of expansions in the houses is high and they are more frequent on the ground floor; b) the need for more space is confirmed by houses that grew more than 45.0% of their original size; c) the reforms have a negative impact on the habitability of the houses, the more the house is expanded, the smaller the opening percentage and the worse the results in the analyzed thermal variables; d) in general, the housing units presented temperatures higher than the comfort recommendations; e) in addition to thermal discomfort, many environments show signs of unhealthy conditions; f) the percentage of users' dissatisfaction with the heat inside the house is high (75.0%) and with the low air velocity (65.3%); g) verified electricity consumption shows a growing behavior and with reduced possibility of taking advantage of the discount offered by the State (National Social Tariff) - 4.7% of residents took advantage of the maximum discount of 65.0%; h) the energy consumption of families in high economic vulnerability is similar to the consumption of households in a situation of energy security; i) there is a direct relationship between the ownership of old appliances, families with children and high energy consumption; j) half of the sample reported choosing to restrict the purchase of food and other bills, so as not to have their energy services cut off. The main conclusion is that the reforms compromise the habitability and energy consumption of housing.

Keywords: Social housing; Modifications; Thermal comfort; Fuel energy; Occupants’

behavior.

ABSTRACT

8

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9

1.0 INTRODUÇÃO ... 10

2.0 REVISÃO DA LITERATURA ... 14

2.1 Adaptação espacial na HS ... 14

2.2 Conforto térmico na HS ... 18

2.3 Adaptação comportamental ... 20

2.4 Pobreza de energia ... 23

3.0 METODOLOGIA ... 28

3.1 Características do objeto de estudo ... 29

3.2 Levantamento de campo ... 31

3.3 Tratamento e análise dos dados ... 35

4.0 RESULTADOS ... 43

4.1 Caracterização da amostra ... 43

4.2 Problemas de adequação do material e baixa qualidade ... 47

4.3 Adaptação espacial (reformas) ... 62

4.4 Conforto térmico interno ... 85

4.5 Adaptação comportamental_ ... 98

4.6 Pobreza de energia ... 101

4.6.1 Parte 1 [G+T] ... 101

4.6.2 Parte 2 [TNV1+TNV2 e, algumas análises TNV1+G+T+TNV2]... 112

4.7 Síntese ... 121

5.0 CONCLUSÃO ... 122

REFERÊNCIAS ... 125

APÊNDICE ... 137

Questionário 1 [G, T] ... 137

Questionário 2 [TNV1, TNV2] ... 137

Artigos publicados [1, 2, 3, 4, 5]... 141

SUMÁRIO

(11)

10 1.0 INTRODUÇÃO

Conjuntos habitacionais de baixa renda são construídos como garantia de melhores condições habitacionais e de qualidade de vida para a população (FERREIRA, BATISTA, BARBOSA, 2021). Contudo, a observação da ocupação de conjuntos habitacionais de baixa renda tem evidenciado a fragilidade desse entendimento (SIMÕES, 2018). Diversos problemas como: o tamanho inadequado da habitação, a falta de segurança, a dificuldade na relação de convivência entre os moradores, entre outros, são comumente associados à inadaptação dos moradores à sua nova condição e podem desencadear a decisão de repasse1 da edificação (PALERMO et al., 2007; PEQUENO, ROSA, 2015; DEBNATH, BARDHAN, SUNIKKA-BLANK, 2019a;

SUNIKKA-BLANK, BARDHAN, HAQUE, 2019).

1O repasse da edificação ocorre quando o morador beneficiário ganha a habitação, mas com pouco tempo aluga a moradia, troca ou vende.

1.0 INTRODUÇÃO

(12)

11 Sem orientação técnica, moradores adaptam a moradia às suas necessidades, mas geralmente comprometem o desempenho do edifício (ABIKO, ORNSTEIN, 2002; ROMERO, ORNSTEIN, 2003; FISCHER, 2003; SIMÕES, 2018). Há poucas discussões sobre a Habitação Social (HS) no que tange ao comprometimento das condições de conforto devido às reformas realizadas sem orientação técnica e o próprio tipo arquitetônico que não favorece expansões necessárias.

Esse cenário de reformas é pouco discutido e muito menos os seus impactos no conforto térmico das moradias e no consumo energético.

Alguns comportamentos adaptativos exigem grande uso de energia para resfriamento dos ambientes na tentativa de amenização do desconforto térmico interno (ABDULKAREEM, AL- MAIYAH, COOK, 2018; ADAJI et al., 2019). Dada a importância do custo da energia para as famílias com rendimentos mais baixos, o consumo de energia pode onerar muito o orçamento familiar, e as famílias podem não ter energia suficiente para sua subsistência, conforto e lazer (WINKLER et al., 2011; MPHOLO et al., 2020, NASIR, NGUYEN, 2021).

Esse trabalho trata de uma análise de pobreza multidimensional: a baixa qualidade da habitação e a falta de espaço, a condição de desconforto térmico e a insalubridade e o custo elevado da energia. Os objetivos delineados do estudo foram: 1- avaliar o impacto das modificações realizadas em habitações sociais na habitabilidade e, 2- identificar os principais fatores comportamentais e ambientais, na habitação social, associados ao consumo de energia. Para isso, um conjunto de métodos foram utilizados, baseados em pesquisa de campo detalhada, para investigação da habitação social, tomando como objeto empírico 4 tipos arquitetônicos com programa mínimo de uso recorrente.

Esse trabalho trata de uma análise de pobreza multidimensional: a baixa qualidade da habitação e a falta de espaço, a condição de desconforto térmico e insalubridade e a pobreza de energia.

Para isso, um conjunto de métodos foram utilizados com pesquisa de campo detalhada para investigação de vários aspectos da habitação social (conjuntos de reabilitação de assentamentos de risco2), tomando como objeto 4 tipos arquitetônicos com programa mínimo culturalmente aceito e replicado em massa.

No início esperava-se fazer comparativos entre grupos de casas originais e reformadas, mas ao longo da pesquisa ficou claro que casas originais são muito pontuais, o que prevalece são casas bastante reformadas ao longo dos anos de ocupação. Esse comparativo poderia evidenciar maiores disparidades nos resultados entre os grupos de casas originais e reformadas, porém,

2 Conjuntos de reabilitação de assentamentos de risco = conjuntos habitacionais construídos para população de baixa renda que reside em área de risco ou em casas precárias. Moradias repassadas a custo zero.

(13)

12 diante do real cenário de ocupação, a pesquisa precisou delimitar grupos de casas mais reformadas e menos reformadas.

O estudo visa fornecer informações detalhadas sobre o processo de adaptação de população vulnerável em habitações seriadas que podem resultar em recomendações para os formuladores de políticas públicas de redução do déficit habitacional do país. A pesquisa tem um caráter inédito por reunir quatro grandes grupos de análise de variáveis da HS, ampliando a compreensão dos diversos elementos que compõe a vida cotidiana dessas famílias.

A tese compila os principais resultados de artigos científicos publicados ao longo da pesquisa (5 artigos publicados, ver anexo). O trabalho é estruturado em 5 seções: Introdução, Revisão da literatura, Metodologia, Análise dos resultados e discussão e Conclusão.

(14)

13

Foto – Autora, 2022.

Figura 1 – Colagem - Produção em massa.

(15)

14 2.0 REVISÃO DA LITERATURA

Essa seção trata dos principais temas pesquisados e desenvolvidos nessa pesquisa, que são:

Adaptação espacial na HS, Conforto térmico na HS, Adaptação comportamental e, Pobreza de energia.

2.1 Adaptação espacial na HS

A produção em massa dos projetos de Habitação Social, em muitos casos, resulta em habitações que não atendem parte das necessidades dos residentes. A produção brasileira de unidades habitacionais para população de baixa renda utiliza projetos padronizados constituindo paisagens monótonas, com carência de inovação, baixa qualidade na construção, inadequação quanto ao contexto local e climático (MENDES, 2014; TUBELO et al., 2018).

Quando o abrigo não é adequado, os usuários optam por alterar a habitação ou não se fixam no local (ELKADY, FIKRY, ELSAYAD, 2018). Por isso, destaca-se a necessidade de abrigar adequadamente os variados perfis das famílias, com critérios mínimos de conforto e privacidade (GIVISIEZ, OLIVEIRA, 2013). As normativas europeias, direcionadas para HS,

2.0 REVISÃO DA LITERATURA

(16)

15 recomendam entre 15,0 e 18,0 m² de área mínima residencial por membro familiar (PETKOVIĆ-GROZDANOVIĆ et al., 2017). No Brasil, a casa padrão de habitação social apresenta aproximadamente 35,0 m². Essa área, para abrigar uma família de 4 membros, correspondente à 10,0 m² por pessoa.

As adaptações espaciais são necessárias para abrigar todos os núcleos familiares e melhor adequar o ambiente construído às reais necessidades das famílias. O atual cenário de reformas mostra que a grande maioria das unidades residenciais são alteradas com acréscimo de área, há comprometimento dos ambientes originais e tendência de expansão total do lote (SIMÕES, 2018).

No Brasil, diversas pesquisas destacam o significativo número de HS que tiveram suas características iniciais alteradas ao longo do uso (FISCHER, 2003; MARROQUIM, 2007;

BRANDÃO, 2011; LOGSDON, AFONSO, OLIVEIRA, 2011; IMAI, 2013; ONO et al., 2017; LUZ, RODRIGUES, SILVEIRA JUNIOR 2018; MONTEIRO, MIRON, 2018). As alterações nas habitações não se limitam a ampliações da área construída, algumas revelam transformações radicais, com grandes áreas demolidas e reestruturadas (SZUCS, 2013).

Em estudo realizado na região Sudeste do Brasil, Kowaltowski et al. (2005) associam o grande número de modificações feitas na casa após a ocupação como parte de um processo de autoconstrução. Mohit, Ibrahim e Rashid (2009) enquadraram a iniciativa dos moradores da cidade de Kuala Lumpur (Malásia) de melhorar suas próprias condições de vida através de reforma, ou seja, adequar suas casas às suas necessidades e reduzir a insatisfação. No entanto, essas famílias precisam de informações adequadas sobre as alternativas de remodelação, bem como recursos financeiros.

Essencialmente, poucas moradias mantêm sua forma original, sem alterações (SZUCS, 1998;

ROMERO, VIANNA, 2002; ROMERO, ORNSTEIN, 2003; LARCHER, 2005; BRANDÃO, 2011;

LOGSDON, 2012; SZUCS, 2013; IMAI, 2013; REIS, LAY, 2013; SILVA, 2015; LEMOS, 2015, SIMÕES, 2018). As pesquisas citadas trazem à tona a tendência de ocupação de todo o lote, fazendo com que a unidade como um todo perca suas características originais. Em todos esses aspectos, Fischer (2003) relata que os usuários ampliam suas unidades, embora muitas vezes piorem as condições iniciais de habitabilidade, de forma que as moradias acabam transmitindo apenas as condições mínimas de habitabilidade e bem-estar para seus residentes (COHEN et al., 2007; OLIVEIRA, 2013).

Adaptações espaciais não são exclusivas da HS. No estudo realizado no Brasil em edifícios residenciais multipavimentos de classes média e alta, foi identificado que essa prática também é recorrente (GRIZ et al., 2016). Os autores observaram intervenções como a redução da

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16 área ou supressão de alguns ambientes (quarto de empregada) para ampliar a área de outros (geralmente do setor social ou da suíte principal). Uma prática também frequente é o fechamento do terraço com a aglutinação do mesmo ao ambiente adjacente (sala ou dormitório), sendo esta prática lesiva ao desempenho térmico da edificação, especialmente no clima quente e úmido (GRIZ et al., 2016).

Na HS multipavimento as adaptações espaciais são mais limitadas. Na pesquisa brasileira de Luz, Rodrigues e Silveira Junior (2018) foram identificadas as seguintes alterações:

ampliações no térreo, implantação de coberta nas vagas de estacionamento e instalação de gradil e toldos nas janelas. Tais mudanças, promovidas pelos usuários, ocorrem sem padronização.

O número de HS com adaptações inadequadas é significante, com especial prejuízo à habitabilidade da edificação (LARCHER, 2005), assim como, perdas na funcionalidade dos espaços (LUDOVICO, BRANDÃO, 2018). Existem casos, nos quais a residência é totalmente descaracterizada, não sendo possível a identificação do projeto original (BRANDÃO, 2011; IMAI, 2013; LUDOVICO, BRANDÃO, 2018).

Adaptações inadequadas também podem comprometer a qualidade do espaço público e das edificações adjacentes (SIMÕES, 2018). Recuos e afastamentos são completamente ocupados, passeios e áreas verdes são invadidos, tendo como consequência a redução da privacidade e da ventilação natural (SIMÕES, 2018). O conforto ambiental, apesar da importância, não é considerado nessas intervenções (SILVA, 2015).

Quando as moradias não possibilitam reformas e ampliações, parte dos proprietários se mudam (ELKADY, FIKRY, ELSAYAD, 2018). Segundo Monteiro e Miron (2018), os principais motivadores da decisão de abandonar uma moradia estão relacionados com problemas de inadequação dos espaços às necessidades das famílias.

Dois princípios deveriam ser norteadores nos projetos de arquitetura social: a flexibilidade e a habitabilidade. A flexibilidade se refere à ideia de multifuncionalidade, ao grau de liberdade de espaço interior e à capacidade de acomodar mudanças ao longo do tempo (ELKADY, FIKRY, ELSAYAD, 2018; PARIS, 2018), já a habitabilidade está associada às características mínimas do ambiente construído para obter qualidade de vida, bem-estar e saúde das comunidades (SARKARB, BARDHANA, 2020).

A flexibilidade de uma unidade habitacional está relacionada com a capacidade e a liberdade da mesma em acomodar múltiplas funções e mudanças ao longo do tempo (ELKADY, FIKRY, ELSAYAD, 2018; PARIS, LOPES, 2018). No entanto, a HS, na forma como tem sido produzida atualmente, não possibilita a expansão da unidade, os arranjos não são

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17 flexíveis e inviabilizam ampliações, a não ser por meio de grandes e antieconômicas intervenções (BRANDÃO, ABREU, 2010).

A habitação flexível é fundamental para que os moradores adaptem aos seus desejos e às necessidades sem grandes obras ou investimentos financeiros, pois quanto mais fácil e menos oneroso for o processo de adaptação e ampliação, mais qualidade terá a habitação (DIGIÁCOMO, 2004). É fundamental a flexibilidade para facilitar a inevitável customização3 das unidades residenciais (GRIZ et al., 2016).

A habitabilidade é um dos aspectos frequentemente criticados na HS no país. A habitabilidade afeta os mais vulneráveis, (injustiça ambiental) quando a habitação de má qualidade gera implicações de desigualdades de saúde (ADDO, 2015). A mesma autora acrescenta que viver em pobreza concentrada aumenta as desigualdades. A habitação com ventilação deficiente, exposição ao ruído e poluição do ar, e falta de luz natural reflete na saúde física, mental e social.

Considerações similares a estas foram realizadas em estudos conduzidos por Sarkarb e Bardhana (2020) quando reforçam a importância da exploração do efeito do ambiente construído nos indicadores de habitabilidade física como a qualidade do ar, ventilação e conforto térmico, pois afeta diretamente a saúde do ocupante e é vital. Os mesmos autores argumentam que há uma degradação do bem-estar de comunidades de população deslocada, chamada de habitabilidade sócio-física, que está associada aos domínios do ambiente saudável, respiratório, relacionado ao estresse térmico e saúde mental.

As habitações originais muitas vezes apresentam problemas relacionados com o desempenho térmico e luminoso, notadamente no tocante à ventilação natural e à iluminação natural.

Assim, as adaptações físicas podem comprometer ainda mais o desempenho da edificação.

Com as ampliações, as condições iniciais de habitabilidade da moradia são alteradas e comprometidas (ABIKO, ORNSTEIN, 2002; FISCHER, 2003; ROMERO, ORNSTEIN, 2003), sobretudo a funcionalidade e os fluxos do ar, gerando condições de insalubridade com riscos à saúde dos moradores (DIGIÁCOMO, 2004; OLIVEIRA, 2009).

3O termo usado pelos autores foi customização, mas acreditamos que eles confundiram com personalização. Considerando as diferenças entre os conceitos de customização e personalização, Noguchi (2004) afirma que esses dois conceitos ocorrem em momentos diferentes, em que a customização ocorre até o momento da entrega do produto, enquanto a personalização é feita pelo cliente após a entrega do produto.

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18 2.2 Conforto térmico na HS

O conforto térmico - um grande determinante nas avaliações globais de vida (DE DEAR et al., 2013) - é imediatamente afetado pela construção e, consequentemente, impacta diretamente seus ocupantes. Nas residências, condições mínimas de conforto são essenciais, principalmente quando se considera que, para a população de baixa renda, o desconforto térmico acarretará elevados gastos energéticos na tentativa de minimizar seus efeitos (SAMPAIO, 2005; TABLADA et al., 2009; CORREIA, 2010; CUNHA, 2010; ORMANDY, EZRATTY, 2012; SILVA, 2015; COSTA et al., 2016; BRITO et al., 2018).

A saúde, a produtividade e o conforto dos ocupantes são todos afetados pelas más condições ambientais internas (SILVA et al., 2017; ANDARGIE, TOUCHIE, O’BRIEN, 2019; DEBNATH, BARDHAN, SUNIKKA-BLANK, 2019a). Silva et al. (2017) destacam os sintomas comuns (sinusite, cansaço, pele seca, dor de cabeça, olhos secos) relacionados à Síndrome do Edifício Doente; os sintomas desaparecem quando os usuários estão fora do prédio. Em Mumbai, Bardhan et al. (2018) estudaram as correlações entre o comportamento dos residentes de busca de tratamento da saúde e o frescor do espaço interno em casas de baixa renda. Seus resultados mostraram que 29,0% dos ocupantes procuraram consulta de saúde seis vezes nos três meses anteriores ao estudo, 48,0% correspondendo a doenças respiratórias. Isso é explicado pela má qualidade da ventilação em casa, o uso de combustíveis poluentes para cozinhar, mofo, crescimento de fungos nas paredes, pouco ou falta de saneamento, obstruções às correntes de vento naturais e falta de luz solar nos espaços habitáveis.

Outros estudos apontam para o fato de que as más condições ambientais internas na habitação afetam a qualidade do sono dos ocupantes e o desempenho no dia seguinte (LOMAS, KANE, 2013; STRØM-TEJSEN et al., 2015). Haque, Rana e Patel (2020) afirmam ainda que a exposição a moradias e condições de vida precárias afetam não apenas a saúde dos residentes e o desenvolvimento de seus filhos, mas também sua empregabilidade e possibilidades de renda.

Na pesquisa de conforto térmico, a maioria dos estudos enfoca a aceitação dos ocupantes de seu ambiente térmico. Tais estudos se concentram na análise de como diferentes variáveis como sexo, idade, peso, cor da pele, permanência prolongada em ambientes naturalmente ventilados ou condicionados artificialmente, história térmica, experiência térmica ao passar de um clima para outro, hábitos pessoais, fatores sociais e outros podem influenciar diretamente a experiência térmica.

Em estudo sobre habitação social, Tubelo et al. (2018) sugeriram uma faixa de conforto mais tolerante de 18,0 - 29,0 °C para o Brasil - ASHRAE 55 (2017) sugere 26,0 °C como a temperatura

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19 interna desejável para conforto térmico de longa duração - uma vez que edifícios residenciais são normalmente ventilados naturalmente e podem ser adaptados a diferentes condições.

Outros estudos afirmam que a capacidade dos residentes de enfrentar o calor é maior do que os valores fornecidos pelas Normas ASHRAE 55 (2017) e questionam sua adequação (DE DEAR, KIM, PARKINSON, 2018; LU et al., 2018; ADAJI et al., 2019). Também há muitas discussões a respeito da chamada “Neutralidade Térmica” (corresponde ao voto médio de neutro na escala da sensação térmica – ASHRAE-55), apontam que não é necessariamente uma condição ideal, visto que ocupantes podem preferir as sensações de quente e frio (BUSCH, 1990, 1992; HOOF, 2008; SOUSA, 2018; SHAHZAD et al., 2018; SHAHZAD, RIJAL, 2019).

A preferência térmica dos usuários está diretamente relacionada a quanto tempo eles ficam expostos a ambientes com ventilação natural ou com ar-condicionado (DE VECCHI, CÂNDIDO, LAMBERTS, 2016). Ao usar ventilação natural, os ocupantes parecem ser mais tolerantes a altas temperaturas e, portanto, podem preferir estratégias adaptativas mais simples (FRONTCZAK, WARGOCKI, 2011; LU et al., 2018). Por outro lado, a exposição a ambientes com ar-condicionado aumenta a probabilidade de o indivíduo preferir uma estratégia de resfriamento idêntica (DE VECCHI, CÂNDIDO, LAMBERTS, 2016).

A aceitação térmica entre diferentes grupos econômicos apresenta particularidades significativas. Thapa et al. (2018) apontam que grupos de baixa renda normalmente aceitam faixas maiores de temperatura de conforto do que grupos de alta renda. Luo et al. (2018) corroboram que as pessoas que vivem em ambientes internos de alta qualidade têm expectativas mais altas, enquanto aqueles que vivem em ambientes internos “mais variáveis”

de qualidade inferior inconscientemente reduzem sua expectativa térmica por meio da adaptação. Devido ao encargo financeiro de pagar pelo ar-condicionado, ocupantes pertencentes a grupos de baixa renda também tendem a usar a ventilação natural para mitigar o desconforto térmico, o que pode levar a níveis mais baixos de satisfação (ANDARGIE, TOUCHIE, O’BRIEN, 2019).

Normalmente, a ventilação natural e a iluminação em unidades residenciais populares são precárias. Consequentemente, devido ao uso contínuo de ventiladores e iluminação artificial durante o dia, o resultado é um maior consumo de energia (SIMÕES, 2018; ELKADY, FIKRY, ELSAYAD, 2018). Debnath, Bardhan e Sunikka-Blank (2019a) argumentam que contas de eletricidade mais altas são devido à maior propriedade / uso de eletrodomésticos, enquanto o desconforto está associado a projetos de moradias de baixo custo em favelas e à falta de áreas sociais. A falta de ventilação natural dentro da casa leva ao uso de ventiladores quase continuamente, para promover a circulação do ar viciado; este é o principal recurso para

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20 proporcionar conforto térmico nessas condições (THAPA et al., 2018, DEBNATH, BARDHAN, SUNIKKA-BLANK, 2019a).

Quanto ao uso crescente de ar-condicionado em residências, Gou, Lau e Lin (2017) descobriram que em três tipos de habitação em Hong Kong: habitação pública para aluguel, habitação pública para venda subsidiada e habitação construída pelo setor privado, o consumo de energia nas residências públicas com venda subsidiada é o mesmo que nas residências do setor privado.

Segundo os autores, os residentes em residências públicas alugadas (com rendimentos mais baixos) tendem a ter hábitos mais econômicos (para reduzir os gastos com energia) do que usar continuamente o ar-condicionado, que pode custar mais do que o dobro no verão. Kowaltowski e Granja (2011) afirmam que a conta de energia para famílias de baixa renda representa um fardo pesado.

Para as populações de baixa renda, o desafio é melhorar as condições de conforto sem comprometer o orçamento familiar com elevados gastos com energia; mas a própria casa não oferece soluções, induzindo os residentes a implementar outras medidas.

2.3 Adaptação comportamental

O princípio adaptativo afirma que quando uma mudança ocorre produzindo desconforto, as pessoas reagem para restaurar seu conforto (NICOL, HUMPHREYS, 2002). Para mitigar o desconforto térmico, o ocupante aproveita todas as oportunidades disponíveis para se adaptar, começando com sistemas de conforto pessoal que lhes permitem atender às suas próprias necessidades únicas (DE DEAR et al., 2013).

Quanto maior o controle pessoal do ambiente, maior o impacto positivo. Por meio de abordagens adaptativas psicológicas e comportamentais, qualquer pessoa pode aumentar sua satisfação com o ambiente térmico (LUO et al., 2018). Um estudo com foco na satisfação residencial identificou que um dos mais fortes preditores de satisfação é o ambiente térmico adequado, seguido por conforto visual, segurança, áreas de estar e dormir em ambientes com tamanhos adequados (IBEM, ADUWO, 2013).

A capacidade dos ocupantes em modificar espaços termicamente desconfortáveis é percebida a medida que podem empregar soluções vinculadas à edificação, tais como: abrir ou fechar as portas e janelas, operar elementos da edificação como cortinas e toldos, uso de equipamentos eletrônicos como ventilador e ar-condicionado, ou ainda, adotar estratégias individuais como alterar a vestimenta, consumir comida quente/fria ou bebidas quentes/frias (FERIADI, 2004; DE VECCHI, CÂNDIDO, LAMBERTS, 2016; COLEY et al., 2017; BALVEDI et al., 2018).

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21 Os ocupantes modulam seus hábitos e suas atitudes para neutralizar o desconforto em seu sistema físico, social, comportamental e psicológico (DEBNATH, BARDHAN SUNIKKA- BLANK, 2019a). Em um estudo com HS em Mumbai, Índia, a ausência de ventilação natural resultou no uso frequente de ventiladores ao longo do dia (6 a 10 horas), além disso, observou-se que 99,0% das unidades habitacionais analisadas possuíam ventiladores para a regulação do conforto térmico (DEBNATH, BARDHAN, SUNIKKA-BLANK, 2019b). O relato desses usuários é de que, com a necessidade de uso de equipamentos elétricos para a promoção do conforto, a tarifa de energia teve um acréscimo de 40,0% em relação à habitação anterior. O que resultou, para muitos, em uma situação de insolvência financeira, obrigando-os a abandonar a unidade habitacional (DEBNATH, BARDHAN, SUNIKKA-BLANK, 2019a).

O uso de uma única temperatura do ar para representar a temperatura preferida de um grupo de ocupantes é inválido no caso de edifícios com ventilação natural, pois os ocupantes têm a capacidade de ajustar seu ambiente, por exemplo, com alteração dos níveis de roupas e abrindo janelas (COLEY et al., 2017). Os estudos de conforto térmico não podem ignorar a complexa interação entre o ocupante e o ambiente, o que pode afetar seu conforto (AKANDE, ADEBAMOWO, 2010).

Comportamentos adaptativos pessoais refletem as maneiras pelas quais os ocupantes podem se adaptar ao ambiente (GUNAY et al., 2014; JI et al., 2017; RIJAL, HUMPHREYS, NICOL, 2019). Baruti, Johansson e Åstrand (2019) definem a adaptação comportamental como um tipo de ajuste ao meio ambiente que inclui troca de roupa, nível de atividade, postura, movimento no espaço e dieta. Sousa (2018) complementa que esses ajustes comportamentais podem acontecer de forma consciente ou não, onde modifica-se o ambiente, alterando o balanço térmico do corpo. Esses ajustes podem ser divididos em ajuste pessoal (alteração de variáveis pessoais), ajuste tecnológico ou ambiental (alteração das variáveis térmicas do ambiente) e ajustes culturais (como códigos de vestimenta) (SOUSA, 2018).

O ambiente interno em edifícios naturalmente ventilados depende muito do clima local e da forma como os controles ambientais são usados (INDRAGANTI, 2010). Os estudos de Rijal, Humphreys e Nicol (2019) identificaram que os comportamentos adaptativos estavam altamente relacionados com a temperatura do ar exterior, quando a temperatura do ar externo diminuía, o isolamento das roupas e a proporção com uso de aquecimento aumentaram.

Desde que haja possibilidades adequadas de ajuste, as pessoas agirão para se sentirem confortáveis no ambiente através do uso de inúmeras estratégias, pois não são recipientes inertes do ambiente (INDRAGANTI, 2010; MISHRA, RAMGOPAL, 2013; HUMPHREYS, NICOL, ROAF, 2016). Por isso, é necessário conceber soluções de controle do ambiente interior que

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22 maximizem o conforto dos utilizadores do edifício através do ajuste do ambiente às suas necessidades (FRONTCZAK, WARGOCKI, 2011; SHAHZAD et al., 2018). Já a falta de controle sobre as condições higrotérmicas em um espaço pode resultar em menos tolerância para condições de desconforto (PATIÑO et al., 2018).

Ao sentir desconforto térmico, os ocupantes tentarão alterar primeiro o seu ambiente (abrir portas ou janelas, ligar ventilador), depois usar métodos que afetam sua pessoa (trocar de roupa, tomar banho, tomar mais bebidas frias ou quentes) e, finalmente, movendo-se para regiões mais confortáveis no edifício (FERIADI et al., 2003; MISHRA, RAMGOPAL, 2013).

O desconforto é muitas vezes causado por restrições excessivas impostas a esses processos de escolha e ajuste, e não apenas pela temperatura ambiente (HUMPHREYS, NICOL, ROAF, 2016). Então, o conforto térmico não deve ser visto principalmente como uma questão da fisiologia da regulação do calor e da ciência do vestuário, mas sim como uma ampla e inteligente resposta adaptativa comportamental ao clima (HUMPHREYS, NICOL, ROAF, 2016).

As pessoas se adaptam positivamente ao ambiente sem ar-condicionado ao abrir janelas para aumentar a ventilação, ligar ventiladores e vestir ou tirar roupas extras (LU et al., 2018). A abertura da janela é atraente em termos de facilidade, eficácia e economia de uso e, em situações em que os ocupantes têm flexibilidade em seu padrão de vestir, a variação de roupas é vista como uma maneira fácil, econômica e eficaz de se adaptar ao ambiente (MISHRA, RAMGOPAL, 2013). O nível de roupa é um fator chave que afeta o conforto térmico e a aceitabilidade térmica, e em um ambiente residencial os ocupantes têm maior liberdade para alterar seus níveis de vestuário com base em suas atividades (ANDARGIE, TOUCHIE, O'BRIEN, 2019).

Uma maior adaptabilidade é associada à usuários no ambiente doméstico do que em escritório, com a possibilidade de ocorrer diversas respostas adaptativas (FERIADI et al., 2003; LOMAS, KANE, 2013; MISHRA, RAMGOPAL, 2013; SOEBARTO, BENNETTS, 2014). Nas suas próprias residências as pessoas são livres para se vestir de acordo com a temperatura ambiente, sem as restrições que podem ser aplicadas no escritório (RIJAL, HUMPHREYS, NICOL, 2019). Os trabalhadores de escritório recebem oportunidades de adaptação restritas principalmente devido ao uso compartilhado do espaço e organização cultural na qual trajes formais de negócios normalmente são obrigatórios (DE DEAR et al., 2020).

Apesar dos limites de conforto serem mais flexíveis em espaços domésticos em comparação com escritórios (SÁNCHEZ, MAVROGIANNI, NEILA, 2017), os ocupantes ainda podem experimentar problemas de saúde e conforto em suas residências devido às más condições

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23 ambientais que podem resultar em adaptações que podem aumentar o consumo de energia nos edifícios (ANDARGIE, TOUCHIE, O'BRIEN, 2019).

2.4 Pobreza de energia

O baixo desempenho da edificação resulta no aumento do consumo de energia, com o aumento da demanda pelos sistemas artificiais como climatização, ventilação e iluminação (MORENO, 2017; TUBELO et al., 2018; ELKADY, FIKRY, ELSAYAD, 2018). O consumo de energia para população de baixa renda pode representar um fardo enorme no orçamento familiar (HERNÁNDEZ, BIRD, 2010; KOWALTOWSKI, GRANJA, 2011; BRUNNER, SPITZER CHRISTANELL, 2012; HERNÁNDEZ, 2015; DREHOBL, ROSS, 2016; RAY et al., 2019), fazendo com que muitas famílias não sejam capazes de comprar energia suficiente para suas necessidades de subsistência, conforto e lazer (WINKLER et al., 2011; MPHOLO et al., 2020).

Os estudos sobre consumo de energia doméstico têm focado em diversos aspectos: consumo diferenciado para idosos e crianças (CHEN, WANG, STEEMERS, 2013; MECHLENBORG, GRAM-HANSSEN, 2020; COOK et al., 2008; HERNÁNDEZ, ARATANI, JIANG, 2014; WHITE, SINTOV, 2019); diferenças no consumo por gênero e entre grupos de renda (SOVACOOL, 2011); grau de vulnerabilidade entre inquilinos e proprietários (HERNÁNDEZ, BIRD, 2010; RAY et al., 2019); consumo energético atrelado ao tamanho da casa (ALDOSSARY, REZGUI, KWAN, 2015); acessibilidade energética e níveis de eletrificação (DAVIDSON, MWAKASONDA, 2004;

WINKLER et al., 2011); transição de combustíveis tradicionais para energia limpa (PACHAURI, JIANG, 2008; RODRIGUES, GONÇALVES, 2018; CHOUMERT-NKOLO, MOTEL, ROUX, 2019); o papel da mulher no consumo (JOHNSON, GERBER, MUHOZA, 2019; SUNIKKA- BLANK, BARDHAN, HAQUE, 2019) eficácia de programas sociais e tarifas (HERNÁNDEZ, 2010; WALKER et al., 2013; SUN, LIN, 2013; HERNÁNDEZ, ARATANI, JIANG, 2014;

DREHOBL, ROSS, 2016); comportamento do consumidor com medidor pré-pago (O’SULLIVAN, HOWDEN-CHAPMAN, FOUGERE, 2015); efeitos de feedback sobre eletricidade para reduzir o consumo (ABRAHAMSE et al., 2005, FISCHER, 2008; SCHLEICH et al., 2013; CSOKNYAI et al., 2019; TROTTA, 2020), posse e uso de eletrodomésticos (WU, 2008; KHANNA, GUO, ZHENG, 2016), reciclagem e recuperação de eletrodomésticos (ATASU, VAN WASSENHOVE, SARVARY, 2009; LUO et al., 2019), relação entre energia e saúde (PACHAURI, JIANG, 2008;

LIDDELL, MORRIS, 2010; BRUNNER, SPITZER, CHRISTANELL, 2012; HERNÁNDEZ, 2013;

WHITE, SINTOV, 2019) consumo energético após retrofits (AHRENTZEN, ERICKSON, FONSECA, 2015; FÖLDVÁRY et al., 2017), entre outros. Dentre os trabalhos citados, os principais aspectos destacados, são: Pobreza energética; Consumo de energia crescente e uso de eletrodomésticos e, Políticas Públicas de proteção.

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24 Um aspecto fundamental no consumo de energia é a renda. Geralmente, as famílias gastam mais em energia à medida que a renda aumenta (WINKLER et al., 2011). Porém, as famílias vulneráveis financeiramente gastam uma proporção maior de sua renda mensal em energia (JAMASB, MEIER, 2010; WINKLER et al., 2011; MPHOLO et al., 2020; TIAN, CHANG, 2020), embora, gastem menos em energia no geral (DREHOBL, ROSS, 2016).

O aumento das tarifas de eletricidade tem como resultado a ampliação do número de pessoas incapazes de comprar eletricidade (MPHOLO et al., 2020). Nesse contexto, as famílias de baixa renda possuem maior probabilidade de reduzir o consumo de eletricidade nas situações de elevação da tarifa (DREHOBL, ROSS, 2016; MPHOLO et al., 2020), além de serem forçadas a buscar outras fontes de energia, de menor custo, como lenha, carvão, biomassa, parafina, velas, entre outros (PACHAURI, JIANG, 2008).

Famílias em condição de vulnerabilidade financeira possuem altos níveis de dependência de combustíveis de baixo custo, como lenha e resíduos de animais, especialmente para a cozinha, e querosene como fonte de iluminação (RODRIGUES, GONÇALVES, 2018; CHOUMERT- NKOLO, MOTEL, ROUX, 2019). A substituição por combustíveis de maior custo (tecnologia agregada) é impulsionada, principalmente, pelo aumento de renda e status (LOUW et al., 2008;

RODRIGUES, GONÇALVES, 2018; MAZURKIEWICZ, LIS, 2018; CHOUMERT-NKOLO, MOTEL, ROUX, 2019).

Quando o gasto de energia é elevado e está associado à dificuldade de alcançar um padrão de vida decente, a família se encontra em uma condição de “pobreza energética”, um problema social com impactos econômicos e implicações de solidariedade (MEYER et al., 2018). Os mesmos autores defendem que muitos que vivem em pobreza energética, não se reconhecem como pobres em energia.

O alto consumo de energia vai comprometer o orçamento familiar, que pode representar pobreza energética (SANTAMOURIS et al., 2007; BOUZAROVSKI, PETROVA, 2015; SUNIKKA-BLANK, BARDHAN, HAQUE, 2019; LUEKER et al., 2019; CSUTORA, ZSOKA, HARANGOZO, 2021). A definição mais amplamente aceita de uma família pobre em energia é aquela que precisa gastar mais de 10,0% de sua renda com uso de energia para condicionar sua casa a um padrão adequado de conforto térmico (WINKLER et al., 2011; PAPADA, KALIAMPAKOS, 2016; MEYER et al., 2018; SÁNCHEZ, GONZÁLEZ, AJA, 2018; ROBINSON et al., 2018; RAY et al., 2019;

MPHOLO et al., 2020).

Essa regra dos 10,0% foi adotada pelo governo do Reino Unido no ano 2000, mas desde então já houve duas substituições por apresentar várias fraquezas, por exemplo, algumas famílias sem problemas econômicos foram incluídas no grupo de “pobres em combustível” e outros

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25 agregados familiares pobres em combustível não se enquadravam nesta definição (LLORCA, RODRIGUEZ-ALVAREZ, JAMASB, 2020). Diante disso, em 2013 foi criado o indicador LIHC (Low Income High Costs) que indicava que uma família era pobre em combustível quando o gasto com combustível era maior que o gasto médio (SÁNCHEZ, GONZÁLEZ, AJA, 2018; LIN, OKYERE, 2020; LLORCA, RODRIGUES-ALVAREZ, JAMASB, 2020; GOVERNMENT UK, 2022). Em 20214 o LIHC foi substituído pelo novo indicador LILEE (Low Income Low Energy Efficiency) como medida da pobreza de combustível na Inglaterra, composto por famílias de baixa renda que, após os gastos com energia ficam com renda residual abaixo da linha de pobreza, além da baixa eficiência energética da habitação, com classificação de eficiência energética de banda D ou abaixo (GOVERNMENT UK, 2022). Essa classificação de eficiência energética da habitação compreende a faixa de G (mais baixa) a A (mais alta), cuja avaliação é voltada para o desempenho energético da edificação, sistema de aquecimento e de iluminação (GOVERNMENT UK, 2014).

A pobreza energética pode ter impactos significativos na saúde humana, seja com exposição da poluição interna com uso de biomassa e perigo de incêndio (CHOUMERT-NKOLO, MOTEL, ROUX, 2019; MPHOLO et al., 2020), excesso de calor ou frio – e problemas de insalubridade (SÁNCHEZ, MAVROGIANNI, NEILA, 2017; MAZURKIEWICZ, LIS, 2018), problemas na saúde respiratória (LIDDELL, MORRIS, 2010; BRUNNER, SPITZER, CHRISTANELL, 2012;

HERNÁNDEZ, 2013; RODRIGUES, GONÇALVES, 2018), e mortalidade de idosos (DEAR, MCMICHAEL, 2011; ANDERSON, WHITE, FINNEY, 2012). Robinson et al. (2018) destacam a relação entre vulnerabilidade à pobreza energética e a falta de conforto térmico.

Os altos custos com energia domiciliar podem levar a consequências como privações e redução do padrão de vida familiar (BRUNNER, SPITZER, CHRISTANELL, 2012), insegurança alimentar com auto racionamento de comida (COOK et al., 2008; BRUNNER, SPITZER, CHRISTANELL, 2012; ANDERSON, WHITE, FINNEY, 2012; HERNÁNDEZ, 2013), além de estresse associado as faturas e atrasos (HERNÁNDEZ, 2010; BRUNNER, SPITZER, CHRISTANELL, 2012;

DREHOBL, ROSS, 2016). Ray et al. (2019) complementam que contas de serviços públicos representam uma ameaça oculta ao desconforto de uma família, imprevisível de um mês para o outro, diferente da realidade dos “muito ricos” que usam energia para sinalizar riqueza (SOVACOOL, 2011).

O uso da energia está associado às necessidades elementares da existência, mas também a aspectos relativos ao autodesenvolvimento, tais como: educação, comunicação, participação na

4A pobreza de combustível no País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte é atualmente calculada usando um indicador de 10,0%

em oposição ao indicador LILEE na Inglaterra, para determinar a proporção de pobres em combustível nessas nações (GOVERNMENT UK, 2022).

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26 vida social (MAZURKIEWICZ, LIS, 2018). As principais práticas que demandam consumo de energia em residências estão relacionadas à limpeza, conforto, cozimento de alimentos, alimentação, iluminação, sono, entretenimento e comunicação (CARLSSON-KANYAMA, LINDÉN, ERIKSSON, 2005).

O consumo energético para operação de eletrodomésticos e eletrônicos apresenta uma demanda contínua de crescimento (EIA, 2013). Ainda que alguns aparelhos, sujeitos aos padrões federais de eficiência, como geladeiras e lavadoras de roupa, tenham se tornado mais eficientes, o aumento do número de aparelhos que consomem energia nas residências compensou esses ganhos de eficiência (EIA, 2013).

As residências de famílias de baixa renda tendem a ter aparelhos e equipamentos mais antigos e menos eficientes (HERNÁNDEZ, BIRD, 2010; BRUNNER, SPITZER, CHRISTANELL, 2012;

EIA, 2013; CLUETT, AMANN, OU, 2016). Famílias pobres e em risco de pobreza fazem parte de uma cultura de segunda mão (CLUETT, AMANN, OU, 2016). Porém, as doações de aparelhos usados podem acarretar o aumento do consumo de energia como um efeito colateral negativo (BRUNNER, SPITZER, CHRISTANELL, 2012; CLUETT, AMANN, OU, 2016).

Quando a renda cresce e cruza um certo limite, as famílias passam a comprar mais eletrodomésticos, e a utilidade derivada do uso desses equipamentos impulsiona o bem-estar doméstico, reduzindo o tempo e esforço nas tarefas domésticas (exemplo, máquina de lavar), além de melhorar os resultados de saúde (geladeiras) e aumentar o tempo de lazer (televisão) (DHANARAJ, MAHAMBARE, MUNJAL, 2018).

Para aliviar a carga da taxa do serviço mensal de energia para usuários de baixa renda, políticas públicas são promovidas visando diminuir a injustiça energética através de programas de subsídio, seja com descontos, proteção contra desligamentos, campanha de troca de eletrodomésticos, e melhorias na eficiência energética da habitação. No Brasil, a tarifa social beneficia a população de baixa renda com desconto progressivo por faixas de consumo energético (65,0% de desconto para consumo ≤30,0 kWh a 10,0% para consumo >100,0 kWh e ≤220,0 kWh) (ENERGISA, sd). Mpholo et al. (2020) acreditam que tarifas com foco no consumo são consideradas as mais eficazes e defendem que 50,0 kWh ao mês atenderia adequadamente às necessidades básicas de energia das famílias pobres e levaria a uma melhoria no padrão de vida.

Na África, após a implementação de subsídio para consumo entre 20,0 - 50,0 kWh, vários benefícios diretos para os pobres foram percebidos: poluição interna reduzida devido à substituição de combustível, capacidade de usar mais aparelhos elétricos, uso da eletricidade durante todo o mês, crianças em idade escolar capazes de estudar por períodos mais longos

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27 com melhor iluminação e, uso do recurso economizado (com eletricidade) para a alimentação (DAVIDSON, MWAKASONDA, 2004).

A avaliação dos impactos potenciais do combate à pobreza de combustível a partir de programas de baixa renda, pode não refletir seu valor total, pois também existem benefícios além da economia de energia (benefícios não energéticos), como a melhoria na qualidade de vida, saúde e segurança; redução do risco de aumento das tarifas dos serviços públicos; redução dos custos associados a atrasos e desligamento, entre outros (DREHOBL, ROSS, 2016; CLUETT, AMANN, 2016).

Para reduzir o consumo de energia e as emissões totais no setor doméstico são adotadas campanhas de eletrodomésticos em que se aplicam descontos financiados pelo governo para troca de equipamentos antigos por novos com maior eficiência energética (BRUNNER, SPITZER, CHRISTANELL, 2012; YU, ZHANG, FUJIWARA, 2013; LUO et al., 2019). Por outro lado, Louw et al. (2008) afirmam que, com o esquema de eletrodomésticos subsidiados, pode ser que a quantidade de eletricidade consumida aumente drasticamente.

No Brasil, o Programa de Eficiência Energética denominado ‘‘Nossa Energia” do Grupo Energisa (Companhia Elétrica), substitui as lâmpadas antigas por lâmpadas mais econômicas e geladeiras antigas por novas (GRUPO ENERGISA, sd).

Por fim, Atasu, Van Wassenhove e Sarvary (2009) destacam ganhos indiretos com a troca por equipamentos mais eficientes – os eletrodomésticos antigos podem ser encaminhados para a reciclagem. Assim, há uma redução do impacto ambiental, além da reciclagem possibilitar aproveitamento de materiais, há também uma quantidade menor de produtos sendo depositados em aterros, especialmente aqueles com baterias.

Pela observação dos aspectos analisados, ressalta-se a importância de reunir todos eles em um estudo de campo na habitação social. Assim, variáveis inter-relacionados foram observadas:

reformas/adequações com o conforto térmico, com estratégias comportamentais e com o consumo de energia. Os grupos de variáveis de análise serão apresentados em detalhes na próxima seção, metodologia da pesquisa.

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28 3.0 METODOLOGIA

A abordagem quanti-qualitativa da pesquisa experimental foi composta por quatro grupos de variáveis observadas e mensuradas nas habitações em estudo: 1- adaptação espacial (reformas), 2- conforto térmico, 3- adaptação comportamental, 4- pobreza de energia (Figura 2).

Cada grupo de variável é composto por vários tipos de dados: 1- adaptação espacial (dados do mapeamento das reformas – levantamento físico, registro fotográfico e captação aérea com drone), 2- Conforto térmico (medições térmicas na sala de estar, entrevista semiestruturada com morador representante, registro fotográfico), 3- adaptação comportamental (registro fotográfico das estratégias adaptativas, entrevista semiestruturada com morador representante e, comparativo das estratégias adaptativas citadas em 33 pesquisas selecionadas), 4- pobreza de energia (dados do consumo energético ao longo de 7 anos de ocupação, registro fotográfico dos eletrodomésticos, entrevista semiestruturada com morador representante) (Figura 2).

3.0 METODOLOGIA

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29 3.1 Características do objeto de estudo

A pesquisa compreende três conjuntos habitacionais, nomeadamente5: Taipa Nova Vida (TNV1 e TNV2), Gadanho (G) e Timbó (T), na Cidade de João Pessoa, estado da Paraíba, região Nordeste do Brasil (Figura 3). Os conjuntos habitacionais foram concluídos em 2013 pela Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP) em parceria com o Governo Federal6 para atender uma população de baixa renda residente em habitações precárias ou em área de risco – deslizamentos de terra e inundações de rios.

A distinção do tipo arquitetônico (casas geminadas um lado, geminadas em fita, e variações de duplex) é bastante relevante por diversos aspectos: análises dos diferentes tipos de reformas dependendo do tipo arquitetônico, grau de flexibilidade, compreensão de padrões, distintas formas de relação de ocupação do espaço e conflitos existentes em cada tipo e, estratégias adaptativas mais recorrentes.

5 Ao longo de todo o trabalho serão utilizadas as siglas para nomear os diferentes tipos arquitetônicos e facilitar a compreensão dos dados. As siglas fazem referência aos nomes dos conjuntos habitacionais, que, às vezes, coincide com o nome do bairro onde está localizado o conjunto.

6 PSH (Programa de Subsídio à Habitação de Interesse Social) e PMCMV (Programa Minha Casa Minha Vida).

Figura 2 – 4 grupos de variáveis de análise.

Fonte – Autora, 2022.

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30 As variações nos tipos arquitetônicos apresentam a área útil7 com programa mínimo culturalmente aceito de dois quartos, uma pequena sala de estar, cozinha, banheiro e lavanderia: sala (TNV1=11,4 m², G=12,2 m², T=9,4 m², TNV2=11,0 m²), dois quartos (TNV1=6,7 m² cada, G=7,0 m² cada, T=6,7 m² cada, TNV2=6,7 m² cada), cozinha (TNV1=5,1 m², G=4,0 m², T=5,6 m², TNV2=4,0 m²), banheiro (TNV1=1,95 m², G=2,1 m², T=2,0 m², TNV2=1,6 m²) e lavanderia descoberta (Figura 4) 8.

7 A área útil contabiliza a área efetiva de utilização do ambiente, exclui as paredes.

8 O material gráfico em 2d (planta baixa de implantação, planta baixa da unidade, cortes, fachadas) dos conjuntos habitacionais estudados foi repassado no software Autocad pela Secretaria de Habitação da Cidade. Com isso, foi possível calcular as áreas dos ambientes e fazer a modelagem em 3d no software Revit de todos os tipos arquitetônicos.

Figura 3 – Recorte espacial.

Fonte – Mapa base PMJP. Mapa adaptado por Thuany Guedes e diagramação da autora 2022.

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31 3.2 Levantamento de campo

A análise inicial compreendeu o estudo de dois tipos arquitetônicos (G e T)9, depois a pesquisa foi ampliada para mais dois tipos (TNV1 e TNV2). Dois estudos pilotos foram realizados para verificar a necessidade de eventuais ajustes no questionário (questionário 1 – realizado no Timbó em 2017), e devido à inclusão de novas questões relacionadas, principalmente, à posse de eletrodomésticos e estratégias de economia de energia (questionário 2 – realizado em Taipa Nova Vida em 2020) (apêndice). A pesquisa foi submetida ao comitê de ética da UFPB (CAAE 79611417.0.0000.5188 e CAAE 51750221.0.0000.5188).

9 Dados coletados durante a realização do Mestrado da autora (Simões, 2018).

Figura 4 – Tipos arquitetônicos HS estudados.

Fonte – Autora, 2022.

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32 Por se tratar de uma pesquisa de campo (Figura 5) desenvolvida durante um longo período de investigação, houve 3 momentos de coleta de dados:

 1° (fevereiro-abril de 2017) (tipos G e T) - levantamento das adaptações espaciais de todas as casas (n = 181) + estudo no interior das casas da amostra (n = 99) e, entrevista com um morador representante por domicílio (n = 99);

 2º (outubro de 202010) (tipos G e T) - levantamento das adaptações espaciais de todas as casas (n = 181) para entender a evolução das modificações após cerca de quatro anos + registro da numeração dos medidores de energia elétrica das casas da amostra;

 3º (dezembro de 2021 a fevereiro de 2022) (tipos TNV1 e TNV2) - levantamento das adaptações espaciais de todas as casas (n = 114) + estudo no interior das casas da amostra (n =5 7) e, entrevista com um morador por domicílio (n = 57) + registro da numeração dos medidores de energia elétrica das casas da amostra.

Em resumo, os tipos G e T foram estudados nos dois primeiros momentos (2017 e 2020) obtendo 99 casas da amostra. Os outros dois tipos (TNV1 e TNV2) foram estudados em 2021/2022 e 57 casas foram incluídas na amostra. Somando as amostras, a pesquisa obteve 156 habitações com um representante entrevistado.

Foi utilizada a técnica de amostragem não probabilística por conveniência, justificada pela dificuldade de acesso no interior de todas as moradias. Foi explicado aos moradores sobre a natureza acadêmica do estudo para evitar que esperassem reformas gratuitas nas casas ou algum ganho financeiro. O consentimento foi dado verbalmente (pessoalmente). Todas as unidades foram abordadas; no entanto, vários moradores não aceitaram participar, assim, nem todas as unidades dos conjuntos analisados estão incluídas na amostra.

10 Apesar do período ter sido durante a Pandemia de Covid-19, o mapeamento das casas se deu à nível de fachada, não adentrando nas habitações, e fazendo o registro da numeração dos medidores de energia elétrica instalados no muro do acesso principal. No terceiro momento, após a vacinação contra a Covid-19, a pesquisa no interior das habitações voltou a acontecer.

(34)

33 A coleta de dados de campo foi realizada no período mais crítico em relação ao conforto (verão), das 13h às 17h da tarde11. Para a coleta de dados foi utilizado um conjunto de técnicas de investigação:

 Entrevista com profissional da Secretaria Municipal de Habitação Social (SEMHAB) da cidade de João Pessoa para compreender sobre o processo de construção dos Conjuntos de reabilitação estudados;

11 As casas da amostra foram estudadas no período da tarde, o que configura uma faixa de período de medição.

Figura 5 – Colagem - Pesquisa de campo.

Fonte – Autora, 2022.

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34

 Observação participante e percursos ao longo dos Conjuntos Habitacionais para fotografar a dinâmica de atividades e rotinas diárias dos indivíduos;

 Participação de rodas de conversa de moradores nas calçadas e registro de relatos sobre a temática investigada (satisfação com a moradia, problemas da habitação, convivência, conforto térmico, entre outros);

 Mapeamento das modificações das casas da amostra e fora da amostra (ao nível de fachada) e das apropriações ilegais (área privatizada fora do limite do lote);

 Captação aérea com drone (Veículo aéreo não tripulado - VANT DJI Phantom 4 Advanced - guiado por profissional especializado) na Comunidade TNV devido à grande dificuldade de mapear as ampliações realizadas pelos moradores (existência de muros altos). Nas demais comunidades o mapeamento foi possível através de fotografias de campo utilizando os quintais vizinhos, fotografias obtidas a partir de janelas de unidades do pavimento superior e pontos externos com visibilidade das áreas internas dos lotes;

 Aplicação de questionários aos moradores que aceitaram participar do estudo: um morador por domicílio foi submetido a uma entrevista semiestruturada. Foi garantido aos entrevistados o anonimato;

Foi utilizado o modelo de conforto adaptativo da ASHRAE. Para a percepção e preferência térmica dos usuários, foi empregada a escala de conforto térmico de 7 pontos da ASHRAE, com a utilização de uma linguagem de fácil compreensão adaptada aos entrevistados. Por exemplo: o estudo piloto mostrou que o termo “neutro” não foi bem compreendido, portanto, substituímos por “bem, nem quente nem frio”, entre outros ajustes para abordar o contexto populacional de baixa renda;

 Relatos orais dos moradores foram coletados12 ao longo das entrevistas semiestruturadas (relatos sobre a baixa qualidade da habitação, a percepção do conforto térmico, relação com a vizinhança, posse de eletrodomésticos, entre outros). Os relatos foram considerados por poderem auxiliar e conduzir a algumas conclusões, além das discussões não previstas no questionário;

 Caracterização das condições térmicas nas unidades através de monitoramento automático na sala de estar (local da entrevista) – registros em intervalos de 1 min para um total de 10 min (total de 10 registros para cada variável coletada). Os sensores foram instalados na

12 Entre uma resposta e outra do questionário (respondido na forma de entrevista realizada pelos arquitetos), os moradores se aprofundavam mais sobre o assunto do que foi perguntado, ou traziam novas discussões. Por isso, áreas livres da folha do questionário eram preenchidas com as falas dos moradores.

(36)

35 altura de uma pessoa sentada – 0,60 m – considerando o uso do local pelos moradores. A escolha da sala de estar justifica-se por ser o local onde a família permanece a maior parte do tempo (FARIAS, 2015). As variáveis ambientais coletadas foram: temperatura do ar (Tar), velocidade do ar (Vel) e umidade relativa (UR) (Tabela 1).

Variáveis 1 minuto de intervalo para um total de 10 minutos - total de 10 registros para cada variável coletada = 4.680 medições

Equipamento Precisão e calibração

Temperatura do ar (Tar) Umidade relativa (RH)

Hobo ONSET U12 datalogger

Precisão: Temperatura +/- 0,35°C; RH +/- de 2,5%

a 3,3%

Calibração: Utilizou-se um equipamento calibrado como referência e foram realizadas 26.737 medidas.

Para cada sensor foram geradas equações lineares, exponenciais, logarítmicas, polinomiais (de 2 a 6) e de linha de tendência de potência; em seguida, foram calculados o R², o erro absoluto médio (MAE), o erro quadrático médio (MSE) e o erro percentual absoluto médio (MAPE).

Velocidade do ar (Vel) Anemômetro de fio quente TAFR-180

Instrutherm

Precisão: 3,0%.

Calibração: A calibração original de fábrica do equipamento ainda era válida.

 O consumo doméstico de energia (2013 – 2020) das casas da amostra (G e T) foi informado pelo fornecedor regional de eletricidade (ENERGISA-PB), já os dados solicitados de TNV1 e TNV2 (apesar de inúmeras solicitações) não foram disponibilizados.

3.3 Tratamento e análise dos dados

Para a modelagem 3d dos conjuntos habitacionais foi utilizado o software Revit e criada planilha Excel para o tratamento dos dados.

No levantamento físico das reformas e adaptações construtivas, foram coletadas as modificações espontâneas realizadas pelos moradores de todas as habitações – inclusive fora da amostra13. Vídeos e, principalmente, imagens áreas do drone auxiliaram no registro das reformas em TNV1 e TNV2:

1- Com o drone posicionado, aproximadamente, a 90° do piso, capturava-se fotografias aéreas de trechos e quarteirões de casas;

13 Casas fora da amostra tiveram apenas a modelagem 3d das reformas realizada para compor a modelagem 3d de todo o conjunto (o que foi possível observar ao nível de fachada, através dos recuos das casas, janelas de pavimento superior, ou drone). Nas casas da amostra era possível saber quais ambientes foram construídos, detalhes construtivos, materiais, entrevistar morador, fotografar toda a habitação, fazer medições, entre outros.

Tabela 1 – Informação dos instrumentos.

Fonte – Autora, 2022.

ampo.

(37)

36 2- No software Autocad as imagens foram inseridas em escala utilizando medida de

referência (a dimensão original da fachada da habitação);

3- Com as imagens dimensionadas, cotas, aproximadas, das intervenções nas habitações foram calculadas;

4- De posse das informações de cada cota, a intervenção era modelada em 3d no software Revit;

5- Imagens 3d foram renderizadas.

Através de mapeamento espacial, as modificações foram caracterizadas quanto ao nível de alteração (Figura 6) e ao tipo de expansão (Figura 7). Para avaliação da alteração, foram definidos 3 níveis: (n1) original – sem intervenção construtiva; (n2) pequenas alterações, como substituição de abertura e troca de revestimento do piso; e (n3) ampliação arquitetônica, podendo ter realizado também alterações (n2) (Figura 6).

Sobre os tipos de expansão – fechada, semiaberta e aberta: a) expansão ‘‘aberta” significa a construção apenas de um telhado (sem fechamentos verticais adicionados); b) expansão

“semiaberta” significa um telhado mais fechamentos verticais que não tocam o telhado, há um espaço de comunicação com o exterior; c) expansão ‘‘fechada’ significa que o fechamento vertical cobre todo o perímetro do telhado adicionado; comunicação com o exterior existirá apenas se uma janela ou porta for instalada no novo ambiente (Figura 7).

Figura 6 – Níveis de alteração.

Fonte – Autora, 2022.

Referências

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