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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC - SP Mário Pereira Roque Filho

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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

PUC - SP

Mário Pereira Roque Filho

Da lógica global à valorização local: transformações econômicas e sociais na vida da população rural. Um estudo exploratório na região sul

do Estado de Minas Gerias

Doutorado em Ciências Sociais

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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

PUC - SP

Mário Pereira Roque Filho

Da lógica global à valorização local: transformações econômicas e sociais na vida da população rural. Um estudo exploratório na região sul

do Estado de Minas Gerias

Doutorado em Ciências Sociais

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial a obtenção do título de Doutor em Ciências Sociais, sob orientação da Professora Doutora Noêmia Lazzareschi.

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Banca Examinadora

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Autorizo exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

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AGRADECIMENTOS

Há quatro anos comecei algo que agora apresento a vocês. Ao apresentá-lo sinto-me aliviado!

Senti que brinquei com minha imaginação, meu conhecimento, minha capacidade. Posso afirmar que tive muitos momentos difíceis até alcançar meu objetivo final: a tese.

Em todo esse tempo arrisquei-me em uma nova área de estudos, em um novo trabalho, conheci novas teorias, novos colegas e muitos professores.

Aprendi que pesquisar é difícil, surpreendente, mas que certamente todo o esforço vale a pena! Sim, hoje eu sei!

Hoje eu sei que uma das coisas mais importantes da vida é a aprendizagem. Ah! e como existem coisas a serem aprendidas! E por isso serei sempre um aprendiz. Estou me lembrando agora do meu primeiro dia de aulas no (antigo) primário. Que saudades...

Creio que esta sessão de agradecimentos é uma tarefa difícil, pois muitas vezes cometemos injustiças e, por esquecimento, não mencionamos nomes de pessoas que também contribuíram para o trabalho.

Nada na vida conquistamos sozinhos. Sempre precisamos de outras pessoas para alcançar os nossos objetivos. Muitas vezes um simples gesto pode mudar tudo e contribuir para o sucesso.

Primeiramente, devo agradecer a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP e especialmente a estrutura da biblioteca que nos possibilitou realizar diversas pesquisas (e foram várias).

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Aos membros da banca do exame de qualificação: Professora Doutora Carla Cristina Garcia e Doutor Joaquim Gonçalves de Pádua por terem aceitado participar da avaliação inicial deste trabalho e por suas sugestões.

Um agradecimento especial deve ser feito à Professora Doutora Mariluci Alves Martino, Diretora da Fatec, que sempre me auxiliou e contribui muito ao disponibilizar tempo para confecção deste trabalho, bem como para as reuniões e compromissos demandados para escrever esta tese.

Aos meus pais, Mário e Ilda, que me deram não somente a vida, mas principalmente a minha educação e condições de estudo. Também os meus familiares (todos) que sempre me apoiaram e sempre torceram por mim.

Eu dedico esta tese e agradeço à Mônica pelo seu amor, por sempre estar disposta a me ajudar em qualquer situação e principalmente pelo seu apoio que me conforta e me deixa mais forte para superar meus (nossos) desafios.

À Prefeitura Municipal de Tócos do Moji na figura do atual Prefeito Antônio Rosário Pereira e aos Vereadores da Câmera Municipal que, gentilmente nos atenderam e contribuíram com seus depoimentos.

Aos produtores de morango e comerciantes do município de Tócos do Moji e particularmente dos sediados no Distrito de Fernandes que responderam a pesquisa e ajudaram a compor a metodologia desta tese.

À EPAMIG pelo apoio técnico de seus pesquisadores nos congressos e encontros que participei.

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RESUMO

O objetivo desta tese é investigar e analisar as transformações econômicas e sociais em um município no sul do Estado de Minas Gerais. Selecionou-se para estudo a agricultura de produção da cultura do morango, relevante no contexto local, e que demanda políticas públicas, de organização do trabalho e comércio por sua função significativa na cadeia alimentar e comercial do país. A pesquisa privilegiou a complexidade inerente à configuração do trabalho e comercialização dos agricultores no município de Tócos do Moji. Foram investigadas, dentre outros aspectos, as peculiaridades da produção e a comercialização do morango, as inovações técnicas na forma de produzir, a revalorização das práticas sociais tradicionais no meio rural, assim como a ampliação dos riscos para o pequeno produtor. Diante do cenário mais amplo de precarização das relações de trabalho, a reflexão concentrou-se nas formas de organização do trabalho e em seus reflexos no modo de vida das pessoas, que trabalham direta ou indiretamente com a cultura agrícola do morango; e, adicionalmente, nas formas de organização caracterizadas como projetos de produção constituintes de duplo direcionamento - o da produção e o da orientação para resultados econômicos. Mais especificamente, pretendeu-se investigar as consequências e desafios dessas mudanças na vida da população do município, atentando para a configuração atual do trabalho lá desenvolvido. O resultado da investigação confirmou nossa hipótese: a inserção de uma cultura agrícola pode mudar a vida econômica e social de uma população caso haja sinergia, vontade política e organização dos atores envolvidos.

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ABSTRACT

This work has as its main objective to investigate the social and economical transformations in a South city of Minas Gerais. In this research the agriculture of strawberry production has been selected because it is an important activity in the local context. This kind of strawberry production involves public politics of work organization and trade and it is significant in the country food politics. The thesis has focused on the complexity organization of work and trade developed by the farmers in the city of Tocós do Moji. It has been investigated, among other aspects, the particularities of strawberry production and trade, the technical innovations in the production, the revaluation of social and traditional practices in the rural area and the increase risks to the small farmer. In wider scenery of improvised work relations the reflection has been concentrated in the ways of work organizations and their

reflections of the way of people‟s living. These people can be direct or indirectly

involved with the strawberry culture which can focus on the production or the economical results. The specific intention of this research was to investigate the

consequences and challenges in the peoples‟ way of living. The investigation

result has confirmed our hypothesis. It is possible that an agricultural culture changes the economical and social life of the people if there is synergy, political

will and involved actors‟ organization.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 1

Objetivo do Trabalho e Delimitação do Problema ... ..1

Problema de Pesquisa e Hipótese ... ....7

Justificativa e Delimitação do Tema ... ....8

Metodologia da Pesquisa ... ..11

Delimitação do Universo e Carcterização dos Sujeitos da Pesquisa ... ..13

Estrutura do Trabalho ... ..15

CAPÍTULO I BRASIL: O CELEIRO DO MUNDO ... 16

1.1 A Agricultura no Brasil ... 17

1.2 Sobre a Modernização da Agricultura ... 18

1.3 O Agronegócio no Brasil... 28

1.4 Sistemas de Agricultura Intensiva ... 36

1.4.1 A Preparação das Áreas Aptas ... 38

1.4.2 Desafios a Serem Enfrentados ... 39

1.4.3 Benefícios Proporcionados ... 40

1.4.4 Reorganização do Espaço: do Global ao Local ... 42

CAPÍTULO II – O TRABALHADOR E O TRABALHO AGRÍCOLA ... 46

2.1 O Modo de Trabalho Rural ... 47

2.1.1 O Modo de Trabalho Rural: O Modelo Brasileiro ... 47

2.2 A Origem da Cultura Exploratória: Uma Herança do Passado ... 53

2.3 A Modernização da Reprodução do Capital no Campo ... 56

2.4 As Questões Agrícolas e Agrárias ... 59

2.5 A Noção de Desenvolvimento Rural ... 60

2.6 As Transformações no Mercado de Trabalho Rural no Brasil ... 63

2.7 O Empreendedor e o Desenvolvimento Rural ... 65

CAPÍTULO III AGRICULTURA FAMILIAR E A CULTURA AGRÍCOLA DO MORANGO: A HISTÓRIA DE UM ENCONTRO ... 69

3.1 A Agricultura Familiar em Foco ... 69

3.2 Perspectivas Para a Agricultura Familiar... 76

3.3 Novos Espaços Produtivos ... 78

3.4 A Cultura Agrícola do Morango ... 82

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CAPÍTULO IV O UNIVERSO DA PESQUISA ... 89

4.1 A Região Sul do Estado de Minas Gerais ... 89

4.1.1 História do Desenvolvimento Regional do Sul de Minas Gerais ... 90

4.1.2 As Transformações Recentes no Estado de Minas Gerais – Batata, Morango e Industrias de Confecções ... 98

4.1.3 A Cultura Agrícola do Morango no Estado de Minas Gerais ... 101

4.1.4 Uso Controlado do Agrotóxico ... 103

4.1.5 Um Tipo de Cultivo para Cada Região ... 104

4.2 Ambientes da Pesquisa e a Caracterização do Local onde a Coleta de Dados se Concentrou ... 106

4.2.1 O Municipio de Tócos do Moji: Indicadores Sociais, Ocupação e Atividade Agrícola ... 107

4.3 Pesquisa de campo - Como os Dados Foram Obtidos ... 114

4.4 As Transformações Econômicas e Sociais Percebidas Pelos Atores Locais .... 116

4.4.1Análises e Conceitos Introdutórios ... 120

4.5 A Impressão dos Produtores Rurais ... 124

4.6 As Impressões dos Comerciantes ... 156

4.7 As Impressões das Autoridades Locais (Prefeito e Vereadores). Potencialidades e Limites da Ação Pública ... 165

4.8 As Impressões do Representante Técnico da EMATER ... 175

4.9 Impressão da Representante da Escola Estadual ... 181

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 184

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ÍNDICE DE FIGURAS

FIGURA 1 - Raio “X” agrário. Levantamento anual do agronegócio...30

FIGURA 2 - Desempenho do agronegócio no ano de 2009...30

FIGURA 3 - Mapa da região Sul do Estado de Minas Gerais.....106

FIGURA 4 - Infográfico do Município de Tócos do Moji...108

FIGURA 5 Dificuldade na produção de morango...133

FIGURA 6 –Tubogotejadores...138

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ÍNDICE DE TABELAS

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ÍNDICE DE IMAGENS

IMAGEM 1 - Morango in natura.........83

IMAGEM 2 - Plantação de morangos em Tócos do Moji...83

IMAGEM 3 - Localização da área de estudo no Estado de Minas Gerais...97

IMAGEM 4 - Cartaz convite para palestra sobre o cultivo de morangos...102

IMAGEM 5 - Vista aérea do Município de Tócos do Moji...108

IMAGEM 6 - Finanças públicas de Tócos do Moji...109

IMAGEM 7 - Docentes do município de Tócos do Moji...110

IMAGEM 8 –Alunos matriculados por série....110

IMAGEM 9 Festa da padroeira....131

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INTRODUÇÃO

Objetivo do Trabalho e Delimitação do Problema

Das diversas formas de relação entre o homem e o meio geográfico, a vida rural, assim como a vida da população urbana que trabalha em atividades agrícolas, é a mais diversificada. Moreira e Sene (1999, p. 62) esclarecem que os países desenvolvidos e industrializados intensificaram a produção agrícola por meio da modernização das técnicas empregadas, ao utilizar cada vez menos mão-de-obra. Nos países considerados subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, existem regiões agrícolas que abastecem o mercado externo e que passaram por semelhante processo de modernização das técnicas de cultivo e colheita. Por outro lado, todas as regiões em que se utilizam métodos tradicionais de produção, principalmente nos países pobres, ainda buscam meios de associar um modo de vida rural extremamente rudimentar às incertezas climáticas, na tentativa de evitar o flagelo e as adversidades da migração.

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degrada os recursos naturais, não gera crescimento econômico e tampouco o desenvolvimento sustentável. Neste trabalho compartilhamos desse ponto de vista e o entendemos ser fundamental para a contextualização desta pesquisa. Há também que se considerar os aspectos sociais, que fazem parte da natureza do homem. Pádua (2010) esclarece que antigamente a vida rural era extremamente isolada, sem energia elétrica e meios modernos de comunicação. Esses aspectos provocavam a migração para as cidades, processo conhecido como êxodo urbano1.

Para Ramos e Reidon (1995, p. 245), nos países em que existe o predomínio do trabalho agrícola, utilizando mão-de-obra rural, o papel do Estado na regulamentação das relações de trabalho, do acesso à propriedade da terra, da política de produção, do financiamento e dos subsídios agrícolas, assume importância fundamental no combate à pobreza. As atuais políticas mundiais de reforma agrária visam a integração dos trabalhadores agrícolas e dos pequenos e médios proprietários às modernas técnicas de produção, e não apenas distribuir terras aos camponeses e abandoná-los à concorrência com produtores rurais altamente capitalizados, sejam eles do próprio país ou do exterior. No mundo todo, a teoria da reforma agrária não é mais sinônimo de expropriação ou estatização das propriedades rurais para distribuí-las aos camponeses, mas, principalmente em países subdesenvolvidos, trata-se de reformar a estrutura fundiária e as relações de trabalho, buscando o estabelecimento de propriedades na produção. Em primeiro plano, visa o abastecimento do mercado interno de consumo e, num segundo momento, as outras metas compõem o abastecimento de matérias primas às indústrias, o aumento do ingresso de capital através das exportações e a criação de uma legislação que impeça a especulação sobre a propriedade da terra.

1

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No Brasil, segundo estudos de Sene e Moreira (2009), atualmente, observa-se a tendência à penetração do capital agro-industrial no campo, tanto nos observa-setores voltados ao mercado externo quanto ao mercado interno. Assim, a produção agrícola tradicional tende a especializar-se, não para concorrer com o mais forte, porém para produzir a matéria prima utilizada pela agroindústria. Dependendo da ação do Estado como agente regulador, essa penetração pode levar à democratização econômica dos envolvidos neste setor. Na visão de Pádua (2010), a economia rural, de certa forma, comanda as atividades urbanas. O que se verifica é uma interdependência entre o campo e as cidades com a intensificação cada vez maior das atividades agrícolas e utilização de máquinas, insumos, agrotóxicos, tecnologia, fatores concebidos e produzidos nas cidades industriais, que aumentaram substancialmente a produtividade, o que garante o sustento de uma crescente taxa populacional e pode, por consequinte, ter melhorado a vida do trabalhador rural. Por outro lado, os alimentos produzidos no campo abastecem as cidades e justificam a interdependência citada anteriormente, pois o consumo destes alimentos é o que provem o dinheiro para os trabalhadores do campo. Uma crise pode desestabilizar este equilíbrio e prejudicar toda a cadeia produtiva. Como exemplo verificamos os protestos atuais no Norte da África e no Oriente Médio. Em muitas das marchas, os manifestantes empunhavam pães ou agitavam cartazes queixando-se do aumento dos preços de comida. O nível recorde dos preços globais dos alimentos, divulgado por comunicado da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) ajudou a reforçar protestos no mundo árabe desde o mês de janeiro de 2011.

Segundo dados do IBGE de 2006 – 2007 (até o momento é o último senso agropecuário realizado no Brasil pelo IBGE2), 16,6 milhões de pessoas trabalham em atividades agrícolas, sendo que a agropecuária é responsável por 8% do produto interno bruto. Se considerarmos que grande parte dos trabalhadores agrícolas mora na periferia das cidades e se desloca diariamente ao campo para trabalhar em

2 O último censo agropecuário realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no Brasil foi em 1996. Neste

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modernas agroindústrias, percebemos que a modernização, verificada nas técnicas de produção em regiões onde a agroindústria se fortaleceu, ajudou a vida do trabalhador rural.

Quando analisamos a modernização da agricultura, é comum pensarmos na modernização das técnicas e, por vezes, deixamos de observar quais são as suas consequências nas relações sociais de produção e na qualidade de vida da população.

Cerca de 80% da força de trabalho agrícola são encontradas em pequenas e médias propriedades, as quais utilizam mão-de-obra familiar. Será que todos vivem nas mesmas condições? É óbvio que não. O que se verifica, na prática, são realidades de vida muito diferentes. O exemplo a seguir é ilustrativo: uma família que tenha uma propriedade rural próxima a um grande centro urbano e produza alimentos de forma intensiva para serem vendidos na cidade ou forneça matéria-prima para as indústrias alimentícias, têxteis, farmacêuticas, etc., terá uma rentabilidade muito maior do que uma família que tenha a propriedade em uma área de difícil acesso e pratique agricultura de subsistência.

Seguindo-se a mesma linha de raciocínio, ainda segundo o IBGE3, no Brasil verificou-se até fins dos anos 90 um enorme crescimento da área cultivada com produtos agro-industriais de exportação, principalmente grãos, em detrimento de cultivos voltados ao abastecimento interno. Atualmente, produtos do mercado interno apresentam significativo aumento de produção, explicado, em parte, pela prática da associação de culturas em grandes propriedades. Em algumas áreas do país, sobretudo no interior do Estado de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, houve um grande fortalecimento da produção agro-industrial e da organização cooperativista que, de forma geral, melhorou a vida da população, tanto rural quanto urbana. Entretanto, as regiões Norte e Nordeste do Brasil não acompanharam o ritmo de modernização e organização do Centro-sul por razões

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históricas, como o amplo predomínio de latifúndios e a falta de investimentos estatais em obras de infraestrutura.

A outra faceta da modernização das técnicas compõe a valorização e a subsequente concentração de terras, a plena subordinação da agropecuária ao capital industrial, além da intensificação do êxodo rural em condições precárias. O mais comum é que caso um agricultor se recuse ou não tenha as condições financeiras de comprar os fertilizantes fornecidos pelas indústrias não conseguirá vender sua produção, mas, quem quiser ver sua produção exposta em gôndolas de supermercados ou nas barracas das feiras livres tem de utilizar produtos industriais ou se submeter aos intermediários para escoar sua produção, daí a chamada dependência do campo em relação à cidade. (SENE e MOREIRA, 2009).

Nessa situação, os pequenos agricultores se vêem obrigados a recorrer a empréstimos bancários para se capitalizar e ter condições de cultivar a terra dentro dos padrões exigidos. É comum, e infelizmente facilmente observado, que depois de acumular dívidas por alguns anos seguidos, vemos os produtores rurais serem obrigados a vender seu pedaço de terra, que ficou penhorado no banco quando contraiu o empréstimo, para evitar a quitação da dívida através de leilão. Pádua (2010) contribuiu com este trabalho revelando que, além da análise feita anteriormente, solos de áreas tropicais quando submetidos às adversidades climáticas se desgastam rapidamente e tornam-se mais pobres para o cultivo agrícola, ficando à mercê de defensivos e substratos agrícolas para aumentar a sua produtividade. Esse fato, aliado à cultura de exploração da terra, empobrece mais ainda o solo a ser cultivado, o que resulta em menor produção por área cultivada. Vale ressaltar a fala recorrente dos pequenos produtores em conversa informal no

evento denominado “1o. Encontro de Trabalhadores Rurais na Fruticultura do Sul de

Minas Gerais: trabalhadores rurais e suas perspectivas socioeconômicas para o

desenvolvimento de uma região”, realizado em dezembro de 2008 na cidade de

Pouso Alegre - MG, do qual tive a oportunidade de participar como ouvinte. Vejamos:

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porteira para fora [“...]”. Fica claro, nesse caso, a preocupação do produtor com o

escoamento de seu produto e a sensação de incapacidade de ação diante do mercado em que atua. Segundo Pádua (2010), neste momento de nossa análise, há a necessidade de considerarmos a questão cultural dos campesinos, principalmente a resistência oferecida e a desconfiança em associar-se, isto é, trabalhar em grupos formando associações. É sabido que, no caso das associações, existe uma linha de crédito disponível, bem como assistência técnica. A comercialização dos produtos poderá ser realizada com uma série de vantagens. No entanto, o campesino reluta e resiste a tudo isso. Resiste em ampliar, aperfeiçoar e ampliar seus conhecimentos que lhe é oferecido gratuitamente. Pádua (2010) tem como hipótese principal para a afirmação anterior a questão cultural. Assim, o pesquisador ressalta que há de se respeitar esse fato, mas que, em contrapartida, isso dificulta enormemente a ação do Estado que poderia ajudá-lo de forma mais eficaz. A prestação de ajuda individualizada não é um meio eficaz de atuação por parte do Estado.

De forma geral, a produção é obtida em pequenas e médias propriedades ou parcelas de grandes latifúndios, com utilização de mão-de-obra familiar e técnicas tradicionais e rudimentares. Por falta ou pouca assistência técnica e de recursos, segundo dados da EMATER- MG4, não há preocupação com a conservação do solo, as sementes utilizadas são de qualidade inferior, não se investe em fertilizantes e, portanto, a rentabilidade, a produção e a produtividade são baixas. Após alguns anos de cultivo, há uma diminuição da fertilidade natural do solo, geralmente exposto à erosão. Dessa forma, ao perceber que o rendimento da terra está diminuindo, a família desmata uma área próxima e pratica a queimada para acelerar o plantio, dando inicio à degradação acelerada de uma nova área que também será brevemente abandonada. Vale ressaltar que, na região sudeste e sul do Brasil, este fato citado dificilmente ocorre devido às fiscalizações do IBAMA5.

4 EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural. Atua como um dos principais instrumentos do Governo de

Minas Gerais para a ação operacional e de planejamento no setor agrícola do Estado, especialmente para desenvolver ações de extensão rural junto aos produtores de agricultura familiar. Acesso em 04/03/2008.

5 IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente. Órgão que tem, também sob sua responsabilidade, a fiscalização e o controle

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Em regiões economicamente menos desenvolvidas do Brasil, a chamada agricultura de subsistência está voltada às necessidades imediatas de consumo alimentar dos próprios agricultores e a produção destina-se à subsistência das famílias, que se alimentam praticamente daquilo que plantam.

Não há excedente de capital que lhes permita buscar uma melhoria nas técnicas de cultivo e aumento de produtividade. Esse tipo de agricultura é comum em áreas distantes dos grandes centros urbanos onde a terra é mais barata em função das grandes dificuldades de comercialização da produção. Nesse sistema, predominam as pequenas propriedades cultivadas em parceria. Estariam, portanto, o Brasil rural e os trabalhadores dessas regiões destinados a sofrer as consequências da situação apresentada anteriormente? Neste trabalho optamos pela investigação inversa.

Problema de Pesquisa e Hipótese

Pode a inserção de uma nova cultura produtiva agrícola modificar a estrutura econômica e social de uma região? Vamos deixar claro desde já. Este é o nosso problema de pesquisa.

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Justificativa e Delimitação do Tema

Na agricultura brasileira, segundo análise de Sene e Moreira (2009, p.121),

“existe o predomínio de utilização de mão-de-obra familiar (agricultura familiar) em pequenas e médias propriedades de agricultura de subsistência, espalhadas pelo

país”. No caso de uma família obter bons índices de produtividade e de rentabilidade,

a qualidade de vida de seus membros pode vir a melhorar e a tendência é que eles não sintam necessidade de complementar a renda com outras atividades. Mas, afinal, o que vem a ser uma agricultura familiar? Em que ela é diferente do campesinato, do agricultor de subsistência, do pequeno produtor, categorias que, até então, circulavam com mais frequência nos estudos especializados? Este trabalho tem como ponto de partida e eixo norteador secundário, a hipótese de que a agricultura familiar é um conceito genérico, que incorpora uma diversidade de situações específicas e particulares. O campesinato corresponde a uma dessas formas particulares da agricultura familiar, que se constitui enquanto um modo específico de produzir e de viver em sociedade, e a agricultura familiar que se reproduz nas sociedades modernas deve se adaptar a um contexto sócioeconômico próprio dessas sociedades, que as obrigam a realizar modificações importantes em sua forma de produzir e em sua vida social tradicionais. Tais transformações do chamado agricultor familiar moderno, entretanto, não produzem uma ruptura total e definitiva com as formas “anteriores”, gestando, antes, um agricultor portador de uma

tradição camponesa, que lhe permite, precisamente, adaptar-se às novas exigências da sociedade.

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trabalho que está associado ao sistema de produção. Ela exige, com efeito, um trabalho intensivo, que só os membros da família se dispõem a aceitar; por outro lado, a multiplicidade de tarefas que implica requer muita leveza na organização do trabalho, da mesma forma que uma grande diversidade de competências. Essa é a caracterização dos agricultores que trabalham com o cultivo de morango e também uma situação identificada por nós no sul do Estado de Minas Gerais.

O Brasil destaca-se no mercado mundial como exportador de alguns produtos agrícolas - café, açúcar, soja e suco de laranja, mas, para abastecer o mercado interno, há a necessidade de produção de alguns produtos que irão rapidamente suprir a demanda dos grandes centros consumidores (TOCCHETTO, 2008). Destarte, conforme indicado anteriormente, ao longo da história do Brasil, a política agrícola tem dirigido maiores subsídios aos produtos agrícolas de exportação, cultivados nas grandes empresas agrícolas, em detrimento à produção do mercado interno, obtida em pequenas e médias propriedades. Não obstante, segundo dados do IBGE6, a partir do ano de 2005, houve uma inversão de rumos e os produtos que receberam os maiores incentivos foram os das pequenas propriedades, os quais, por consequinte, passaram a apresentar significativo aumento da área cultivada e da produção obtida.

Dessa forma, como pano de fundo deste estudo, elegemos o trabalhador rural que trabalha com o cultivo do morango, acreditando que esta cultura agrícola poderá contribuir para a melhoria de vida (econômica e social) dos trabalhadores do Sul de Minas Gerais, ao fortalecer a economia e o desenvolvimento da região. O estado de Minas Gerais, com mais de 750 hectares ocupados por morangos e produção anual de 52,6 mil toneladas7, lidera o ranking nacional, seguido de São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O morango é característico de regiões com baixa temperatura, como é o clima da região do Sul de Minas Gerais. Na época de alta safra (abril à setembro) a média de temperatura8 nos locais do plantio fica

6

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. www.ibge.gov.br. Acesso em 14/08/2008.

7

Ibid. Acesso em 19/08/2008.

8

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entre 6 e 24 °C positivos considerada, pelos institutos especializados9, ótima para o desenvolvimento do fruto. Em alguns municípios, a produção média por hectare alcança 46 mil kg e os municípios que mais produzem nesta região são Estiva, Senador Amaral, Tócos do Mogi e Bom Repouso. Vale ressaltar que, além de atender ao consumo na região, o produto (morango) é transportado aos grandes mercados atacadistas do próprio Estado de Minas Gerais, além de Rio de Janeiro, São Paulo e a outros mercados distintos como Belém e Manaus.

Diante do exposto, este trabalho de pesquisa tem como foco as transformações econômicas e sociais ocorridas na vida dos produtores em uma determinada região com o advento do cultivo do morango. Procedemos à coleta de dados junto aos trabalhadores, comerciantes e autoridades locais da região conhecida como sul do Estado de Minas Gerais sobre as principais mudanças em suas vidas na contramão de grande parte da população rural do país. O município faz parte do circuito verde do sul de Minas. É a cidade de Tócos do Moji, município com cerca de 3.945 habitantes10 que, em nosso entendimento, enquadra-se como local ideal para realização de uma pesquisa deste teor. A escolha deste município deu-se devido a vários fatores. No início, a motivação foi de ordem pessoal. Apesar de ser natural de São Paulo – SP, conheço a região em função de meus pais serem oriundos de lá e terem migrado para outra cidade em busca de oportunidades e melhoria de vida. Nos anos de 1950 e 1960, o então distrito municipal de Tócos do Moji oferecia precariamente subsistência econômica, fato este que levou grande parte de sua população, principalmente jovens, a buscar novas oportunidades em outras regiões, dentre elas as mais procuradas eram os Estados de São Paulo e Paraná: a chamada fuga do campo.

Outro fator determinante foi uma observação empírica dos hábitos de consumo dos habitantes da cidade. Por possuir imóvel rural naquela região, e freqüentar a cidade constantemente, observei que mudanças positivas estavam

9 EPAMIG Empresa de Pesquisas Agropecuárias de Minas Gerais.

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acontecendo ao verificar que os adolescentes com carros e motocicletas novas frequentavam festas populares da região e consumiam alimentos, bebidas e outros bens em larga escala, diferente do que anteriormente acontecia. Essa rotina havia se tornado um fator cotidiano da cidade.

Os acessos às informações também facilitaram e motivaram a confecção deste trabalho naquele município. No entanto, o desafio maior de provar a nossa hipótese, bem como a satisfação pessoal em poder atuar em um projeto tão próximo à realidade da população do município, indubitavelmente deram um impulso maior na escolha da cidade de Tócos do Moji. A expectativa é que vejamos exemplos de determinação dos produtores rurais e todos os envolvidos na cadeia produtiva na busca de alternativas e mudanças nas condições de vida. É o Brasil que dá certo: Um município onde os produtores buscam lutar por algo melhor. Segundo Pádua (2010), esse comportamento não ocorre nos demais municípios e regiões onde há sempre um comodismo, acompanhado de inércia, de resistência à mudança e inovações.

Nosso objetivo é realizar entrevistas diretas com os trabalhadores rurais, comerciantes, autoridades, técnico agrícola e representante escolar da região para que, a partir da percepção destes atores, possamos tirar conclusões sobre as mudanças decorrentes da formulação de nossa hipótese.

Metodologia da Pesquisa

A escolha do modelo de pesquisa qualitativa diretiva foi inspirada por sua

característica principal que, segundo Rudio (1999, p. 67), “[...] em uma pesquisa

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Reafirmando nossa escolha, Giovenazzo (2001, p. 4) destaca:

A pesquisa qualitativa tem se mostrado uma alternativa bastante interessante enquanto modalidade de pesquisa numa investigação científica. É útil para afirmar conceitos e objetivos a serem alcançados e dar sugestões sobre variáveis a serem estudadas com maior profundidade. Os métodos qualitativos trazem contribuição ao trabalho de pesquisa, pois apresentam uma mistura de procedimentos de cunho racional e intuitivo, os quais são capazes de dar melhor compreensão do fenômeno.

Dessa forma, entendemos que a pesquisa qualitativa é mais utilizada quando se possui pouca informação ou informações que necessitam de um viés exploratório, em situações em que o fenômeno deve ser observado ou em que se deseja conhecer um processo, determinado aspecto psicológico complexo, ou um problema difícil, sem muitos dados de partida. Alguns problemas de pesquisa requerem abordagem mais flexível, e nestas circunstâncias entendemos que aplicações de técnicas qualitativas em nossa pesquisa sejam recomendadas.

A população e o universo de pesquisa ficam restritos ao município de Tocos do Moji, e os indivíduos foram escolhidos aleatoriamente entre: produtores (agricultores), comerciantes e autoridades (prefeito e vereadores), técnico agrícola e representante escolar. Dada a quantidade de sujeitos em potencial para a pesquisa na região, denominamos de população e construímos uma amostra.

O autor Stevenson (2001, p. 221) define população e amostra da seguinte forma:

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A amostragem é um procedimento que permite estudar uma dada população sem que haja uma abordagem em sua totalidade, isto é, separa-se uma parte que deve refletir as características do todo.

Delimitação do Universo e Caracterização dos Sujeitos da Pesquisa

Iremos restringir nosso universo de pesquisa ao Município de Tocos do Moji por entendermos ser este o município que possua as características fundamentais, a saber, notadamente transformações importantes de hábitos e comportamento de seus habitantes, já expostos na introdução do trabalho.

Na escolha dos sujeitos de pesquisa, levamos em consideração o contexto geral da população economicamente ativa e que está direta ou indiretamente envolvida com a cultura agrícola do morango. Conforme recomendação da Profª. Drª. Carla Cristina Garcia, no exame de qualificação desta tese, delimitamos que o sujeito social estudado por nós será o pequeno e médio produtor rural, ou seja, aquele que produz e que também comercializa seus produtos para distribuidores e que, em um segundo momento, transporta o produto até os grandes centros. Ressalva-se que esses indivíduos não são grandes proprietários de terras nem agroindustriais, mas pessoas que vivem de sua produção e normalmente são donos de suas terras, tampouco podem ser classificados como grandes produtores rurais. Em contrapartida, as autoridades locais, políticos e comerciantes também serão entrevistados, pois entendemos ser fundamental realizar a análise em um contexto geral na visão de vários atores envolvidos com a produção, gestão e comercialização do morango a qual, em nosso entendimento, irá sustentar nossa pesquisa de campo na busca da análise das possíveis transformações verificadas, por nós, em nossa tese. Os indivíduos estão definidos, como expostos a seguir:

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Agricultores: pequenos e médios produtores rurais. Pessoas, homens e mulheres que trabalham no plantio e comercialização do fruto morango; Comerciantes: proprietários e funcionários de estabelecimentos comerciais

no município de Tocos do Moji que comercializam produtos para os agricultores;

Autoridades: Prefeito Municipal e Vereadores do Município de Tocos do Moji;

Engenheiro agrícola da EMATER11 responsável pela assistência técnica no local de nossa pesquisa.

Corpo gestor escolar: Coordenadora pedagógica da Escola Estadual José Tomaz Cantuária.

Essa escolha viabiliza a análise, pois utilizaremos indivíduos que representam a maioria dos atores envolvidos no processo agrícola de plantio, comércio e geração de empregos do município estudado. Entendemos que estudar as possíveis transformações econômicas e sociais, com foco exclusivo na visão dos membros citados anteriormente irá gerar amostras representativas em grau de aplicação considerável e que, possivelmente, irá responder ao nosso problema de pesquisa.

De maneira geral, solicitamos aos sujeitos de pesquisa autorização para divulgação de suas falas, resultado de questionários e depoimentos escritos citando seus respectivos nomes (se autorizado) e atividade profissional.

Para melhor entendimento do leitor e organização desta tese, iremos subdividir este trabalho da seguinte maneira:

11

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Estrutura do Trabalho

Na introdução são apresentados o objetivo e a delimitação do problema motivador do estudo, a justificativa da proposta de pesquisa, a hipótese e a metodologia.

O primeiro capítulo será dedicado à história da agricultura no Brasil, destacando suas especificidades, desenvolvimento tecnológico, e o agronegócio. Dada a necessidade de embasar teoricamente nossa pesquisa.

O segundo capítulo será dedicado ao estudo dos trabalhadores rurais e sua interação como meio em que vivem e trabalham.

No terceiro capítulo revisaremos os aspectos da agricultura familiar, a cultura agrícola do morango e sua implicação produtiva e econômica no Brasil e, em especial, na região geográfica de nossa pesquisa.

No quarto capítulo iremos apresentar a metodologia de pesquisa deste trabalho onde, além de identificar e delimitar este estudo à região da cidade de Tocos do Moji em Minas Gerais, iremos também verificar, na opinião de trabalhadores rurais, comerciantes, autoridades da região, técnico agrícola e representante escolar, as supostas mudanças econômicas e sociais com o advento da cultura do morango.

Por fim, nossas considerações finais decorrentes da análise dos dados coletados.

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CAPITULO 1: BRASIL: O CELEIRO DO MUNDO

No momento em que inicio este texto, o IBGE12 acaba de confirmar o índice populacional do Brasil. O Brasil apresenta atualmente 183,9 milhões de habitantes. No mundo, uma nova gripe cria estado de atenção diante do desconhecimento e perigo de pandemia. O Brasil anuncia o inicio da exploração de uma nova bacia petrolífera no litoral de São Paulo (pré-sal) e a economia mundial dá sinais de retomada após o advento da chamada crise mundial.

Noticias e fatos diversos me remetem à minha infância na década de 1970 em pleno regime militar. Uma frase recorrente em meu cotidiano de vida e imposta

na escola pelos (as) professores (as) era que: “o Brasil será o país do futuro”. Além

disso, ouvíamos frases de políticos e governantes do período citado que ressaltavam a vocação agrícola do Brasil e que, por essa razão, iriam lutar para transformar o Brasil no celeiro do mundo. Mas o futuro chegou, pelos menos para mim, e as coisas não mudaram como se imaginava. Em que Brasil vivemos hoje? Obviamente, um trabalho acadêmico não daria conta de responder à questão e nem é este nosso objetivo. Este trabalho está delimitado na pesquisa sobre as transformações econômicas e sociais devido à introdução de uma nova cultura agrícola em uma determinada região do Brasil, o sul do Estado de Minas Gerais. Iremos neste capítulo revisar informações sobre a agricultura no Brasil a partir da segunda metade do século XX destacando, entre outros fatores, a modernização agrícola, as questões sociais e a estrutura das fazendas-empresa existentes hoje. A relevância desta parte do trabalho dá-se pelo fato de buscarmos entender melhor se realmente estamos em uma posição de destaque no cenário mundial e qual a estratégia e resultados utilizados e obtidos pelos governos na condução da política agrícola no Brasil.

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1.1 A Agricultura no Brasil

Até o início do século XX, as relações sociais de produção no Brasil gravitavam em torno da agricultura de exportação, com destaque para produtos como café e o açúcar. Essas atividades agrícolas possibilitaram a acumulação de capital necessária para o posterior desenvolvimento capitalista graças à política de substituição de importações. O incremento da indústria foi aos poucos mudando as feições do país, concentrando as riquezas nas áreas urbanas e deslocando as populações do campo para as cidades. (SZMRECSÀNYI, 1998, p. 88).

O capitalismo no Brasil surgiu das entranhas da economia agroexportadora. As oligarquias rurais operaram uma metamorfose surpreendente ao conduzir o processo de industrialização. A indústria e o espaço urbano firmaram-se como ideal de vida da população e o campo foi marginalizado como o lugar de atraso13, da ignorância, dos empecilhos para o desenvolvimento e em contraposição, a cidade se firmou como o espaço da racionalidade, do saber, da produção de valor e do progresso (PÁDUA, 2010).

Além da hegemonia cultural, os grandes centros urbanos passaram a concentrar os recursos produzidos em conjunto pela nação brasileira, e consequentemente, o desenvolvimento do capitalismo no Brasil tornou-se altamente concentrador em várias dimensões. A primeira delas refere-se à concentração de renda de forma geral, ou seja, o acúmulo de riquezas ao longo do século XX levou o Brasil a ser um dos países mais desiguais em termos de distribuição de renda. A segunda diz respeito à concentração de renda do ponto de vista geográfico e criou enormes disparidades regionais e, por fim, tivemos a concentração de riquezas no

13 Na análise de Joaquim Gonçalves de Pádua, o preconceito ao trabalho rural e a vida rural levaram muitos a mudarem para a

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setor industrial em detrimento da agricultura, como regra geral no desenvolvimento capitalista (FURTADO, 2007, p. 222).

Até a primeira metade do século XX, a agricultura brasileira foi uma atividade bastante rudimentar, pois desde meados do século XIX, com o fim do tráfico de escravos, já havia uma tímida política governamental de incentivo à introdução de novas culturas e, também, de implementação da pesquisa no setor agrícola, todavia, somente com a crise do capitalismo no início do século passado, segundo Hobsbawn (1995, p. 150), drasticamente sentida no Brasil através da crise de 1929, foram possíveis investimentos na industrialização brasileira com a estratégia de substituição das importações. Naquele momento, os argumentos da vocação agrícola do país deram lugar à realidade da crise do modelo nacional baseado na agricultura de exportação.

Na década de 1960, teve início a denominada modernização da agricultura brasileira, considerada modernização conservadora, pois privilegiou as grandes propriedades agrícolas e a agricultura de exportação em detrimento da agricultura familiar, na análise de (OLIVEIRA, 1997). Esta modernização ocorreu de forma diferenciada segundo as regiões do país e foi mais intensa no Sul e no Sudeste e muito menos nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Ela serviu para redirecionar parte do capital acumulado para o setor agrícola, contudo atingiu diretamente apenas uma pequena parcela da população rural, pois a maioria da produção agrícola para consumo interno ainda hoje continua sendo produzida pelas pequenas e médias propriedades rurais.

1.2 Sobre a Modernização da Agricultura

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O Banco do Brasil foi o órgão responsável pela alocação de recursos para a agricultura através de financiamentos, uma vez que os bancos privados não se sentiam atraídos para a referida atividade.

A partir de então, verificou-se profunda transformação na agricultura brasileira, principalmente em decorrência da incorporação de novas tecnologias14

aos processos produtivos. Essas tecnologias proporcionaram sensíveis aumentos de produção e produtividade, además de grandes modificações nas relações de trabalho em determinadas regiões, uma vez que a modernização atingiu de forma diferenciada o meio rural, ao mesmo tempo em que incorporou inúmeros produtores e trabalhadores ao moderno processo de produção, mas causou a exclusão de um enorme contingente de pessoas do processo produtivo que a ela não tiveram acesso (SANTOS e SILVA, 2009).

Oliveira (1981, p. 51), em especial, desenvolveu estudos fundamentais para se compreender o desenvolvimento tecnológico da agricultura no Brasil enfocando as suas conseqüências políticas, econômicas e sociais para os trabalhadores rurais e camponeses. Foge aos nossos objetivos principais desenvolver tal discussão no momento, mas concordamos com a tese de que os avanços tecnológicos da agricultura brasileira na última metade do século passado atingiram negativamente trabalhadores rurais e camponeses de forma geral e beneficiaram apenas os grandes produtores rurais, o que reforça a condição de modernização conservadora, conceito também utilizado pelos autores citados acima e diferente do momento atual.

Para Porto (1990, p. 105), a modernização da agricultura brasileira só pode ser compreendida integralmente no bojo da racionalidade do sistema capitalista como um todo, inclusive da divisão internacional do trabalho, de maneira que ela significa não apenas busca de racionalidade interna, mas também respostas às exigências de acumulação do capital de forma mais ampla. Na obra de Moreira (1999) verificamos que, a partir da década de 1950, a mudança fundamental pela

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qual passara a agricultura brasileira foi a subordinação progressiva aos interesses do capital.

Assinalamos, adicionalmente, que o processo de modernização da agricultura brasileira tem na tecnologia uma de suas dimensões fundamentais. A tecnologia neste contexto é entendida como um conceito que transcende sua dimensão econômica e é fundamentalmente um recurso social e historicamente produzido que, portanto, traz consigo o conjunto das contradições inerentes à sociedade da qual é fruto. Os recursos tecnológicos utilizados no processo de modernização da agricultura no país são frutos de um conjunto de relações estabelecidas entre os principais atores sociais envolvidos no processo produtivo no campo. São eles: os trabalhadores rurais, os pequenos produtores rurais, os grandes produtores, os proprietários de indústrias ligadas ao setor e o Estado.

No Brasil, de forma geral, restam para os trabalhadores as opções da migração para os grandes centros ou a submissão a condições degradantes de trabalho no campo. A proletarização do homem do campo foi realizada no Brasil com a agravante da ausência de um mínimo de garantias sociais vigentes nos centros urbanos. Para Pádua (2010), talvez neste ponto a construção de agrovilas pelo Estado poderia ter resultados finais bem melhores.

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Justamente por terem sido privilegiados pelos financiamentos estatais para a agricultura de exportação, os grandes produtores rurais foram os maiores beneficiários da modernização da agricultura brasileira desencadeada a partir da década de 1950, denominada modernização conservadora e, assim, gerando os

financiamentos estatais que privilegiaram a agricultura de exportação, típica dos grandes produtores, em detrimento dos produtos agrícolas de primeira necessidade, típicos da pequena produção agrícola.

As indústrias ligadas ao setor agrícola, tanto as produtoras de máquinas e insumos, quanto as do ramo alimentício, beneficiadoras de produtos agrícolas, foram também beneficiadas com a modernização. A oferta de crédito gerou enorme demanda de máquinas e implementos agrícolas, a partir da década de 1960, proporcionando significativo crescimento do setor e igual aumento da produtividade em decorrência da mecanização, ocasionando o aumento da oferta de produtos para a indústria alimentícia, outro setor que se expandiu a partir das políticas de modernização da agricultura. As opções pela agricultura de exportação e suas consequências foram de responsabilidade da aliança entre os grandes proprietários de terras e o capital industrial, avalizado pelo Estado conforme relato de (MOREIRA, 1999, p. 92).

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Tabela 1: Indicadores de evolução do número de estabelecimentos rurais, pessoal ocupado por estabelecimento e mecanização da agricultura no Brasil, de 1920 até 1970.

INDICADORES 1920 1930 1940 1950 1960 1970

N° de Estabelecimentos Rurais 648 1276 1905 2065 3338 4924

Pessoas Ocupadas por

Estabelecimento 10 7 6 5 5 4

N° de Estabelecimentos por Arados 1,0 1,4 1,7 1,7 1,8 1,9

Área Total por Trator (1000 ha) 102,6 72,2 56,4 27,7 4,1 1,8

Pessoal Ocupado por Trator 3782 3513 3357 1314 255 106

Fonte: Támas Swmrecsányi, 1998, p.77.

Ao desagregá-los por Estado, os dados fornecidos permitem verificar o aumento do número de estabelecimentos, principalmente em regiões de fronteira agrícola, como a da região Norte e Centro-Oeste. Em alguns momentos ocorreu, na região Sudeste mais significativamente durante o período, tendência em que se manteve praticamente em todas as regiões, com exceção da região Sul do País, onde esteve constante por mais tempo.

Nesse contexto, a utilização de arados na agricultura brasileira segue uma tendência ascendente nas seis décadas analisadas. O crescimento médio parece pouco significativo, contudo, em números percentuais pode chegar à ordem de 40%. A média esconde também a realidade geral: uma agricultura um pouco tecnizada no Sudeste/Sul e uma de caráter bastante rudimentar no resto do país.

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utilização de insumos industrializados, de técnicas mais modernas de correção do solo, assim como de crédito agrícola, indicadores de uma agricultura integrada ao mercado, seguiu praticamente a mesma tendência (SZMRECSÀNYI e RAMOS, 1997, p. 227).

É lugar comum a afirmação de que o início da década de 1960 foi um período de fundamental importância para a história brasileira. Para os objetivos deste trabalho, cabe observar que alguns analistas consideram a aprovação, em 1963, do Estatuto do Trabalhador Rural (ETR) um momento decisivo para as relações aqui tratadas (SANTOS, 1986, p.32).

O mesmo autor afirma que essa interpretação se contrapõe à idéia de que

“forças exógenas ao setor agrícola predominaram, seja na explicação dos motivos da

sua não modernização, até meados dos anos de 1960, seja na explicação dos

motivos que detonaram sua modernização a partir deste período”.

Como observou (MUELLER, 1976, p.767):

O que se pode dizer é que a adoção de processos mecanizados depende, além do preço do produto e dos fatores de produção, da produtividade destes últimos nas duas alternativas à disposição do fazendeiro, entre outras coisas. Sabe-se também que, via de regra, a mecanização aumenta de forma substancial a produtividade da mão-de-obra.

Ou, como afirmou (RANGEL, 2000, p.99):

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No Brasil, o colonato15 já vinha se apresentando como um obstáculo à

continuidade do processo de mecanização e expansão das principais lavouras comerciais (café, cana, algodão, laranja), e cujo fato se encontra devidamente

tratado na obra de Stolcke (1986), no capítulo intitulado “A transição dos anos 60: de colonos a trabalhadores assalariados eventuais”. A autora destaca que a

mecanização parcial das lavouras inviabilizava a permanência dos colonos ou trabalhadores permanentes nas fazendas, ou seja, aflorou, com o passar dos anos, uma contradição entre as transformações técnico/produtivas e a disponibilidade de mão de obra.

Considerando o processo pelo lado dos colonos e recorrendo aos comentários da pesquisadora Stolcke (1986, p. 310), a autora destaca que o abandono das fazendas pelo colono em São Paulo era visto, [...]“sobretudo como uma diminuição do controle dos trabalhadores sobre a subsistência, devido à sua crescente submissão ao mercado de alimentos ”[...].

Portanto, fica evidente que não foi o E.T.R. que criou uma nova situação quanto à ocupação e condições de vida dos trabalhadores rurais do Brasil: ele deve ser visto não como causa, mas como manifestação de um processo, embora possa tê-lo acelerado. Cabe observar que, segundo Prado Junior (1979, p. 12), mesmo mostrando-se surpreso com a forma como tramitou no Congresso Nacional o projeto de lei e mesmo tendo feito críticas aos seus dispositivos, acabou manifestando otimismo quanto à contribuição do ETR para a alteração da estrutura fundiária no

Brasil, pois esperava uma “liberação de terras”.

O argumento que se aprofunda, após 1960, a substituição de trabalhadores permanentes por trabalhadores temporários na agropecuária brasileira carece de devida comprovação empírica, já que os dados não podem ser tomados (diretamente) como tal. Sabe-se que os proprietários rurais, em desrespeito à lei e/ou

15 O colonato é uma forma de organização econômica e social rural na qual o trabalhador arrenda uma porção de terra de outro

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para diminuição de custos, transferiram a intermediários a maior parte da contratação de mão de obra temporária, o que provoca uma grande distorção nas proporções relativas.

Dados apresentados por Oliveira (1981) mostram que, entre 1965 e 1969, de nove bens componentes da alimentação básica dos trabalhadores, apenas dois (sal e açúcar) não apresentaram elevação de custo de aquisição, medido em minutos de trabalho. Os censos agropecuários só captam os empregados temporários contratados diretamente pelo estabelecimento e, mesmo assim, dados apresentados por Rezende (2000, p. 179), de diversos estados do país mostram que predominou queda da participação dos empregados temporários entre 1960-1970 e elevação entre 1970-1980. Kageyama (2004, p. 12) fez uma estimativa do número total de trabalhadores temporários na agricultura brasileira em 1975, incluindo os contratados pelas empreiteiras, que chegou a quase 3,3 milhões, sendo que a taxa de crescimento do número desses trabalhadores, entre 1970-1975, teria sido de 6,5% ao ano.

Esse estado de coisas apenas começou a mudar no Brasil após 1984, quando os juízes trabalhistas obrigaram os proprietários a arcar com a indenização dos direitos dos trabalhadores arregimentados pelos “gatos16”. Um indicador da

generalização do uso de trabalhadores eventuais/temporários na agricultura brasileira é o ocorrido com a população rural após 1960, de forma que nas macroregiões do país verifica-se que a sua taxa de crescimento anual apresentou pela primeira vez número negativo (-1,88%) no Sudeste entre 1960 e 1970. Para o país como um todo, caiu pela primeira vez o número absoluto de tal população (de 41,1 para 38,6 milhões) de 1970 para 1980, o que, por sua vez, gerou a busca de sobrevivência em novas áreas, considerada a causa principal para que o Norte tenha apresentado uma alta taxa anual (3,71%) de crescimento nesta última década, conforme mostram os dados compilados por (BACHA, 1986, p. 114).

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O último componente da consolidação das estruturas que convém mencionar é a institucionalização do Sistema Nacional de Crédito Rural, em 1965, que ampliou sobremaneira os financiamentos rurais da Carteira de Crédito Agrícola e Industrial (CREAI) do Banco do Brasil, criada em 1937 e, conforme observado pelos autores Szmrecsanyie e Ramos (1997, p. 222), após 1969, os créditos passaram a beneficiar os maiores produtores e, principalmente, após 1974, com as elevações das taxas anuais de inflação, passaram a embutir um subsídio via taxas negativas de juros, o que perdurou até 1986.

Assim, barateou-se tanto o capital constante como o variável, pois o salário mínimo foi submetido a um achatamento em nome do controle do processo inflacionário, no mesmo período em que a maioria esmagadora dos trabalhadores da agropecuária não tinha mais a alternativa de produzir parte significativa de sua alimentação e muito menos de gerar renda complementar (ou principal) nas terras dos produtores rurais. Para os trabalhadores brasileiros a terra tornou-se ainda mais cara e inacessível.

Nesse contexto, não se pode concordar com a explicação dos analistas que se fundamentaram no modelo de inovação induzida, segundo o qual tudo se resume a distorções dos preços de mercado dos fatores de produção, seja em decorrência dos mencionados subsídios ao capital, seja pela fixação de um salário mínimo legal, como se houvesse uma situação ideal, a de pleno e livre funcionamento da lei da oferta e da procura, atrapalhado pela intervenção governamental. Como observou (REZENDE, 2000, p. 199):

O ponto básico aqui é que independentemente da relação quantitativa (disponibilidade relativa) entre a terra e a mão-de-obra, enquanto fatores de produção (em sua forma natural, por assim dizer), o que tem sido crucial é a forma social assumida pelo trabalho e pela terra. Esta forma social passa, como se sabe, pela questão do poder.

Nessa perspectiva, não se pode menosprezar a importância da estrutura

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anos, não são as distorções da estrutura agrária, nem a falta de espírito inovador empresarial, de parte dos proprietários rurais, grandes ou pequenos, que farão da

agricultura o „calcanhar de Aquiles‟ do desenvolvimento econômico brasileiro” afirma

(NICHOLLS, 1992, p. 169). Este autor termina o parágrafo remetendo a culpa à

“incapacidade do Governo brasileiro em oferecer serviços adequados de infraestrutura rural, os quais são mais que suficientes para evitar tal acontecimento”.

Cabe lembrar que a atuação do Governo e a institucionalidade são, em última

instância, resultados da “luta de classes”, embora por mais que isso queira ser

esquecido por alguns ou desprezado por outros, nas análises sobre a história econômica do Brasil, tal fator aparece como de grande relevância.

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transformações positivas aparentemente ocorridas naquele Estado e que será objeto de nosso capítulo da metodologia.

Até este momento neste trabalho foi mostrado que o processo de modernização da agricultura se deu por meio de mudanças técnicas, políticas e estruturais, poupando o uso de fatores abundantes no Brasil, terra e trabalho. Dada a estrutura agrária que prevalece na agricultura brasileira, a continuação da utilização das mesmas políticas que orientaram tal processo de modernização há de ser bastante questionada. Vejamos agora o modelo de agronegócio no Brasil.

1.3 O Agronegócio no Brasil

O historiador Prado Junior (1979, p. 132) esclarece que, durante a ditadura do Estado Novo, entre 1937 e 1945, o ex- presidente do Brasil, Getúlio Vargas, gostava de utilizar em seus discursos a expressão "celeiro do mundo" para traduzir a idéia de que o Brasil estava destinado a se transformar num gigante dos negócios do campo. Essa imagem, segundo o autor “sempre soou como mais um dos arroubos ufanistas da era Vargas”, nunca fez tanto sentido quanto agora. O Brasil é, atualmente, um dos grandes países do mundo de área agrícola em termos de produtividade e emprego de alta tecnologia, além de possuir um grande potencial de evolução. Essa posição privilegiada é reconhecida por vários especialistas internacionais, como o ex-secretário de Estado americano Colin Powell, em entrevista à imprensa brasileira17

que descreveu o Brasil como “a nova superpotência agrícola”, e o agrônomo

americano Norman Borlaug, em visita ao Brasil em março de 2010, prêmio Nobel da Paz em 1970 em reconhecimento à sua contribuição ao processo conhecido como "revolução verde", que permitiu triplicar o plantio de alimentos nas últimas cinco décadas. Numa visita ao Estado de Mato Grosso do Sul, Borlaug surpreendeu-se com a grandeza das plantações e declarou não haver dúvida sobre qual nação tem atualmente vocação para liderar o agronegócio mundial. "O Brasil pode representar

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um papel tão importante no cenário da agricultura quanto os Estados Unidos nessa área durante o século 20", afirmou18.

Por qualquer ângulo que se analise o mercado, o tamanho que o Brasil adquiriu no campo do agronegócio é bastante significativo. Neste trabalho entendemos ser de grande importância ressaltar este aspecto, pois é a outra face da moeda agrícola do Brasil. O país é líder mundial de exportação de açúcar, café, suco de laranja e soja19. Assumiu também a primeira posição no ranking nos segmentos

de carne bovina e frango, depois de ultrapassar tradicionais concorrentes, como Estados Unidos e Austrália. Existe uma tendência a afirmar que estas posições devem consolidar-se ainda mais nos próximos anos. Segundo alguns analistas financeiros, até 2015 a participação nacional no mercado internacional de soja deve crescer dos atuais 36% para 46%20. Nas áreas em que o Brasil ainda tem uma fatia pequena do comércio mundial, as evoluções devem ser muito maiores. Na suinocultura, por exemplo, de acordo com previsões dos técnicos da EMBRAPA, o Brasil deve quadruplicar sua participação, conquistando metade do mercado internacional. "Num futuro próximo, a suinocultura será tão importante para a balança comercial do país quanto são hoje o frango e a carne bovina", declara o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (ABIPECS)21.

As vantagens do Brasil no campo da agricultura são enormes. Nenhum outro lugar do mundo tem a mesma conjunção de vantagens naturais, como clima favorável, água e terras em abundância para a utilização agrícola. De acordo com estudo da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO)22, o país possui 60 milhões de hectares de terrenos utilizados em algum tipo de atividade no campo, e outros 300 milhões de hectares ainda disponíveis. Entre os países avaliados pela pesquisa da FAO, a Rússia é o segundo país com maior

18 Jornal do Brasil de 21/03/2010. Caderno de economia.

19 Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias. www.embrapa.gov.br. Acesso em 28/09/2009. 20 Ibid. Acesso em 29/09/2009.

21 ABIPECS - Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína. www.abipcs.org.br. Acesso em

28/09/2009.

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estoque de terras disponíveis, com 160 milhões de hectares. Os Estados Unidos, por sua vez, possuem "apenas" 150 milhões de hectares para a expansão de sua atual fronteira agrícola.

Figura 1 - Fonte: EMBRAPA

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Além das vantagens naturais, existe uma conjuntura muito favorável para os negócios do Brasil no campo nos próximos anos. Segundo pesquisas da EMBRAPA23, em um cenário de curto prazo, o país deve beneficiar-se da alta de preços de algumas das principais commodities agrícolas no mercado internacional,

como café, açúcar e soja. A tendência de valorização varia de 10% a 15%, dependendo da cultura. Essa inflação vem sendo ocasionada por quebras de safras de importantes países produtores e pelo aquecimento da demanda por alimentos provocada pela evolução da população mundial. Essa pressão deve tornar-se ainda maior no futuro. Com taxa de crescimento demográfico mundial estimada em 30% até 2020, proporcionada em sua maior parte por China e Índia, haverá um impulso grande para o aumento da produção de alimentos. "O Brasil é a nação que tem as melhores condições para suprir essa necessidade", segundo informação obtida no Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (ÍCONE) 24.

A atual posição do Brasil no mercado agrícola mundial deve-se, essencialmente, à capacidade empreendedora dos agricultores. Conforme citado anteriormente, a grande evolução tecnológica e de produtividade obtida nas últimas décadas representa uma das mais bem-sucedidas histórias de empreendedorismo do capitalismo brasileiro. Porém, observamos que nem sempre o setor esteve sintonizado com a modernidade. Até o início da década de 1980, conforme estudos do anuário da EMATER25, essa área era vista como uma das mais atrasadas, capaz de sustentar-se apenas com ajuda estatal, por exemplo, pela via de créditos subsidiados, concedidos por instituições como o Banco do Brasil. Neste período, o país produzia pouco mais de 50 milhões de toneladas por safra. Depois de um tempo, o crédito subsidiado acabou e os produtores tiveram de se virar por conta própria. Boa parte resolveu investir na profissionalização da gestão e em melhorias de técnicas de plantio, área em que a ajuda dos técnicos da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa) revelou-se fundamental, como a soja no cerrado. Como

23 Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias. www.embrapa.gov.br. Acesso em 28/09/2009 24 ICONE Instituto de estudos do comércio e negociações internacionais.

Imagem

Figura 2 - Fonte: EMBRAPA
Figura 4 - Infográfico de Município Tócos do Moji: Fonte IBGE
Tabela 2: Levantamento da Produção Agropecuária e Leiteira do Município de Tocos do Moji  Fonte: Emater/Prefeitura Municipal de Tócos do Moji
Figura  –  5 - Dificuldade na produção de morango identificadas por  agricultores familiares em Tócos do Moji
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